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OPINIÃO / OPINION

Violência: Pobreza ou Fraqueza Institucional?


Violence: Poverty or Institutional Failure?
Alba Zaluar 1
José C. de Noronha 1
Ceres Albuquerque 1

ZALUAR, A.; NORONHA, J. C. & ALBUQUERQUE, C. Violence: Poverty or Institutional


Failure? Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (supplement 1): 213-217, 1994.
The authors review mortality data by external causes from the Brazilian Ministry of Health from
1981 to 1989, a period in which national mortality statistics are available. Data from the
various States, Metropolitan Areas, and State capitals are examined, particularly on homicide
deaths. Comparisons are made with the distribution of poverty and migration rates. No
association is found between these factors and homicide death rates. If relationships can be
established with crimes against property there is no proof that either poverty or migratory
movements may be related to crimes against life. The authors stress the role of organized crime
and drugs and arms traffic as fundamental factors in structuring metropolitan criminality. This
role is particularly accentuated when the fight against drugs is conducted in an exclusively
repressive way and incorrect institutional and political decisions are made for facing urban
poverty.

Key words: Violence; Poverty; Criminality; temente publicados, não contabilizam as víti-
Migration mas, e sim os registros (num mesmo registro
As estatísticas de mortalidade por causas pode haver várias vítimas), fazendo com que os
externas compiladas pelo Ministério da Saúde dados policiais sobre homicídios estejam subes-
constituem-se em uma importante fonte para o timados.
estudo da violência no Brasil. São dados ofi- Existe, porém, com o uso de dados de
ciais, como os das Polícias Estaduais, e têm a mortalidade, um problema na comparação entre
vantagem de serem centralizados e divulgados os Estados. No Rio de Janeiro, com freqüência,
a cada ano, permitindo uma comparação nacio- muitos médicos têm se omitido a declarar o
nal. homicídio, mesmo quando a ficha policial
Além disso, são baseados em declarações de admite a suspeita, para não se implicarem
óbito, de preenchimento obrigatório, que regis- juridicamente. A atribuição de códigos aos
tram todas as mortes provocadas por meios óbitos por acidentes e violências faz com que
externos ou violentos. O registro policial de muitos homicídios sejam agrupados como
homicídios nem sempre é preciso, pois este mortes por “outras violências e lesões que se
requer uma investigação que nem sempre é ignora se foram acidental ou intencionalmente
feita, especialmente quando a vítima é pobre e infligidas”. Em 1989, o Estado do Rio de
preta. Além disso, os números oficiais, desde a Janeiro registrou 53,64% do total de óbitos
década de 80, inclusive os dados mais recen- classificados nesta rubrica em todo o país. Por
isso, os números de homicídios foram somados
aos de “outras violências”, para fins de com-
1
paração nos comentários e análises que se
Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro. Rua São Francisco Xavier, 524, seguem.
Pavilhão João Lira, 7º andar, Bloco E, Rio de Janeiro, As causas externas ocupam o terceiro lugar
RJ, 20559-900, Brasil. entre os 17 capítulos da Classificação Inter-

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Zaluar, A. et al.

nacional de Doenças da Organização Mundial ticamente, para 55,19. A conclusão óbvia, visto
da Saúde, perdendo apenas para as doenças do que os suicídios são muito poucos, é que os
aparelho circulatório e para as neoplasias. Nos acidentes são mais numerosos nestes dois
anos 90, no Rio de Janeiro, as causas externas Estados, especialmente no último, do que no
já ocupam o segundo lugar. Constata-se, tam- primeiro. São Paulo desce de 91,64 para 35,44;
bém, que essas mortes violentas estão atingindo Alagoas, de 71,38 para 35,19; Mato Grosso do
principalmente homens jovens entre 14 e 29 Sul, de 89,83 para 36,30: Pernambuco, de 79,42
anos, na proporção média de 8 homens para para 49,26; Paraná, de 69,32 para 18,54; Santa
cada mulher em todo o Brasil. No Rio de Catarina, de 71,57 para 13,27. Os lanterninhas
Janeiro, em 1990, esta proporção era de mais continuam sendo os mais pobres e de povoa-
de 10 homens para cada mulher e em alguns mento mais antigo do país, justamente aqueles
municípios da Baixada Fluminense, de 15 que levavam a fama por estarem na região do
homens para cada mulher. É o quadro de um país onde tradicionalmente os conflitos interpes-
país em guerra. soais se resolveriam à moda sertaneja e senho-
O mapa das mortes violentas no país vem a rial da violência costumeira. São eles os Esta-
derrubar vários mitos ainda correntes, que já dos do Maranhão, Bahia, Ceará e Rio Grande
fazem parte daquelas “verdades” que, de tão do Norte.
“sabidas”, nem mais são discutidas. No município do Rio de Janeiro, em 1989,
A primeira refere-se à correlação entre a taxa por homicídios e outras violências cai
pobreza e violência. Em 1989 os três Estados para 77,41 por cada 100.000 habitantes. São
que apresentavam taxas de mortalidade violenta Paulo faz o caminho inverso: a taxa de mortali-
bem acima dos demais, com cerca de 140 dade pelas mesmas causas é maior na Capital,
mortes violentas por cada 100.000 habitantes, onde atinge 45,05. Já a capital de Roraima, Boa
eram Roraima, Rio de Janeiro e Rondônia, dois Vista, apresenta uma taxa ainda mais alta do
deles Estados novíssimos, de ocupação recente que a do Estado líder das mortes violentas,
e crescimento populacional acelerado nos anos indicando que não é tanto no local do garimpo
80 (em torno de 9 pontos); o outro, um dos ou no campo que se dá o conflito, mas na
mais antigos, com um crescimento populacional maior cidade do Estado, onde deveriam funcio-
de apenas 1,13%, um dos menores do país. nar suas instituições democráticas, teoricamente
Num segundo patamar, beirando a taxa de 100 concebidas para evitar que os conflitos interpes-
mortes violentas por cada 100.000 habitantes, soais terminem em violência. Porto Velho,
estavam Mato Grosso, São Paulo, Goiás e Mato capital de Rondônia, volta a se equiparar ao Rio
Grosso do Sul, estados estes que mostraram de Janeiro, com 74,95, o que significa dizer que
maior pujança na agroindústria e no enriqueci- a violência, neste Estado, também tem um
mento por atividades produtivas no país. Junto cenário urbano. As capitais com menores taxas
à média nacional de mortes violentas ficaram são as de Santa Catarina, Amapá, Piauí, Minas
Santa Catarina, Alagoas, Paraná e Acre, dois Gerais, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Paraná e
estados da rica Região Sul de onde partiram Maranhão, com taxas em torno de 20. Entre
muitos migrantes com destino às Regiões estas capitais estão algumas das mais ricas e
Centro-Oeste e Norte, bem como um estado da das mais pobres do país.
pobre Região Nordeste, injustamente famoso As progressivas dificuldades resultantes da
pela violência que nele existiu no passado. Bem crise econômica e da pobreza dela decorrente
abaixo das médias nacionais, para abalar as não poderiam, pois, explicar o destaque adqui-
convicções dos dogmáticos, estão os Estados rido pelo Rio de Janeiro, no cenário nacional,
mais pobres do país: Maranhão, Piauí, Ceará, justamente nas mortes e nos crimes violentos,
Rio Grande do Norte, Pará, Paraíba e Bahia. O ou seja, nos crimes contra a pessoa, os menos
gráfico dos Estados modifica-se quando se explicáveis pela pobreza. A proporção de
excluem os acidentes e os suicídios: Roraima pobres, aliás, só aumentou a partir de 1988,
continua liderando a taxa de mortalidade, com quando os números dos homicídios já haviam
107,30, enquanto o Rio de Janeiro baixa a sua duplicado. A equiparação do Rio de Janeiro
taxa para 94,63 e Rondônia, ainda mais drama- com Roraima e Rondônia sugere que mais

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Violência x Pobreza x Criminalidade x Migração

importante é a existência das frentes de expan- serviu como álibi para que continuassem a agir
são agrícolas e do garimpo, bem como do os responsáveis pelas atividades claramente
tráfico de drogas, cujas atividades estimulam a ilegais e discriminatórias contra aqueles que,
competição individual desenfreada, com pouco estes sim, o Estado deveria defender e tratar em
ou nenhum limite institucional nas conquistas e centros de saúde: os jovens, especialmente os
na resolução dos conflitos interpessoais. No Rio mais pobres, que continuam sendo extorquidos
de Janeiro, “frentes de expansão” artificiais, e criminalizados pelo uso de drogas e que, por
decorrentes de escolhas político-institucionais, isso, acabam nas mãos de traficantes e assal-
apareceram num espaço urbano densamente tantes. Alguns destes jovens foram também as
povoado, através de práticas aprovadas e es- vítimas de chacinas, as quais, quando esclareci-
timuladas pelos governos. A opção pelas in- das, exibiram seus reais motivos: a cobrança de
vasões dos terrenos públicos nas favelas como “dívidas” ou a divisão do butim entre policiais
“política habitacional” criou, nestas, uma ver- corruptos e eles. Mais do que os grupos de
dadeira indústria, assim como um mercado extermínio, são os grupos de extorsão que
imobiliário dos quais poucos se beneficiaram, fazem a festa do crime organizado e criam o
especialmente os que acumularam as funções de ambiente de um autêntico e assustador faroeste
grileiros e cabos eleitorais, transformando e urbano numa metrópole acuada pelo medo e
tensionando as relações sociais dentro de aglo- dividida pelas quadrilhas que se guerreiam entre
merações irregulares cada vez mais compactas. si.
A ocupação das principais ruas da cidade pela A segunda “verdade” refere-se ao impacto da
“camelotagem” informal e ilegal misturou uma migração interna, especialmente para o Sul do
saída para o desemprego com o crime organiza- país, no desencadeamento da violência nas
do, este ainda mais patente nos ferros-velhos e metrópoles brasileiras. Entretanto, entre os
ourivesarias, que viraram centros de receptação movimentos migratórios mais surpreendentes do
e de organização do crime. Mas foi principal- país, e que fazem cair por terra quaisquer
mente o tráfico de drogas e de armas que teorias culturalistas ou racistas para explicar a
penetrou com incrível facilidade no segundo violência, aquele que levou um número es-
principal centro urbano do país, o maior respon- timado de 1,5 milhões de agricultores do inte-
sável pelo sofrimento de todos os seus morado- rior do Estado do Paraná para outros Estados da
res — ricos, remediados e pobres. Um erro de Federação, durante o período 1980-1986, prin-
diagnóstico que apenas repetiu os dogmas de cipalmente em direção a Rondônia, é um dos
teorias sociológicas vulgares da pobreza e da campeões da violência no Brasil. Já a capital do
urbanização acelerada, aliado à incompreensão Estado, Curitiba, que provavelmente recebeu a
dos mecanismos institucionais e societários do maior parcela do outro milhão de pessoas que
crime organizado que atravessa classes e não se deslocou para áreas urbanas do próprio
sobrevive sem apoio institucional das agências Estado, apresentou uma das taxas de homicídio
estatais incumbidas de combatê-lo, iniciou a mais baixas da Federação, indicando que a
catástrofe sanitária na mais internacional explicação para tão inusitado fato pode estar
metrópole brasileira. Num segundo momento, a justamente nas atividades e nos equipamentos
catástrofe continuou, porque confiou-se, sem institucionais encontrados no ponto final da
reformas nem críticas, numa polícia implicada migração, mais do que no movimento migrató-
com o crime organizado e baseada em táticas rio propriamente dito ou na etnia dos migrantes.
repressivas da população pobre já há muito Caem por terra, assim, as explicações repeti-
condenadas. Foram essas escolhas político-insti- das ad nauseam acerca do migrante rural tradi-
tucionais, bem como a facilidade subseqüente cional, miserável e inadaptado às grandes cida-
que as atividades ilegais encontraram para des, epitomizado em livros, novelas e filmes, e
proliferar nesta grande metrópole que a des- ainda hoje parte do imaginário da população do
tacaram entre as outras do país. A corrupção Sul do país, como o personagem central da
policial teve no mesmo dogma a justificativa violência urbana, em especial o morador das
para não ser punida: o problema era sempre e favelas do Rio de Janeiro e o nordestino que
unicamente “social”. Assim, o reducionismo vive em São Paulo. Estamos diante de novos

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Zaluar, A. et al.

fenômenos da criminalidade moderna, e da país — São Paulo, Rio de Janeiro e Recife —,


violência que dela faz parte, muito diferente da mas não as com maiores proporções de pobres,
violência costumeira dos sertões brasileiros, no caso das duas primeiras. Todas as Regiões
onde imperavam um código de honra muito Metropolitanas brasileiras, embora ainda com
claro e conflitos interfamiliares agudos, num altos percentuais de pobres entre seus habitan-
quadro de fraqueza institucional. O mapa do tes, melhoraram sua posição na década de 80.
Brasil, preenchido pelas taxas de morte por As únicas exceções seriam Porto Alegre e Rio
causas externas, demonstra essas afirmações de Janeiro. Porto Alegre, como todas as outras
com grande clareza: os Estados do Nordeste, metrópoles, melhorou sua posição sensivel-
com exceção de Pernambuco, são os que apre- mente em 1986 e piorou quase 4 pontos percen-
sentam as mais baixas taxas desta mortalidade. tuais até 1990. O Rio de Janeiro, que vinha
Todas as Regiões Metropolitanas brasileiras, diminuindo seu percentual de pobres até 1988,
excluindo Belo Horizonte, pioraram as taxas de sofreu, no final da década, um aumento espeta-
mortalidade, seja a que soma homicídios a cular de 10 pontos percentuais em relação aos
“outras violências”, seja a que, além destas números de 1986 (de 23,2 para 32,7 em 1990).
mortes assim classificadas, inclui acidentes de Foi, sem sombra de dúvida, a Região Metro-
transporte. Se Belo Horizonte liderou as taxas politana que mais empobreceu, mas só o fez a
de acidentes de transporte durante toda a déca- partir de 1988, quando sua taxa de homicídios
da, com taxas que variaram de 22 a 32 por cada já havia dobrado. Mesmo assim, continuou a ter
100.000 habitantes, esta foi a única metrópole proporcionalmente menos pobres do que Belém,
que conseguiu diminuir a taxa de homicídios, Fortaleza e Salvador, cidades que mantiveram
mesmo quando se adicionam outras violências, taxas de mortes violentas e homicídios das mais
que cai de 19,3 para 17 durante os anos 80. A baixas entre todas as Capitais do país. Ficou no
Grande São Paulo duplica sua taxa de homicí- mesmo patamar que Belo Horizonte (30,7 em
dios e de outras violências (de 27 para 48,26), 1990), uma metrópole que não aumentou nem
exibindo o maior aumento quando consideram- diminuiu a proporção de pobres, a não ser,
se apenas os homicídios: de 21,64 para 44,30. como todas as outras, em 1986 e 1987, por
O Grande Rio não chega a dobrar a sua taxa de conta do Plano Cruzado, mas que conseguiu
homicídios somados às outras violências, pois diminuir a taxa de mortes violentas e homicí-
já começou a década com uma taxa alta (48), e dios ao longo da década. São Paulo manteve a
termina a década com a taxa de 93,24. Esta mesma proporção de pobres que tinha no
taxa deve estar superestimada, visto que a começo da década, o que não explica o aumen-
Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro calcula to das taxas de mortes violentas e de homicí-
que 50% das outras violências são decorrentes dios nos anos 80. Recife, a Região Metropoli-
de acidentes. Reuniram-se, então, para evitar tana brasileira que tem a maior proporção de
um possível erro, os homicídios aos acidentes e pobres (48,5 em 1990), quatro vezes maior do
às outras violências. Nesta terceira comparação, que a de Curitiba, é a única que pode demons-
o pior desempenho continuou sendo o do Rio trar a correlação entre alta proporção de pobres
de Janeiro. Também aumentaram consideravel- e alta taxa de mortalidade violenta e de homicí-
mente suas taxas as Regiões Metropolitanas de dios. Entretanto, sua proporção de pobres é bem
São Paulo e de Recife. Porto Alegre exibiu menor que a do Rio de Janeiro, que supera
quedas em 1985 e 1988, terminando a década Recife nas taxas de mortes violentas.
ligeiramente pior do que começou. As de Rio de Janeiro, São Paulo e Recife foram as
Salvador e Belo Horizonte continuaram a ter as três metrópoles cuja população menos cresceu
taxas mais baixas entre as metrópoles analisa- na década e as que apresentaram taxas mais
das, com tendência a alta na primeira e estabi- altas de mortes violentas e homicídios. Foi no
lização na segunda. Rio de Janeiro que a periferia menos cresceu
As Regiões Metropolitanas de pior desempe- entre todas as metrópoles brasileiras (1,47).
nho, no que se refere às mortes violentas, são Belo Horizonte, cuja periferia cresceu (4,98 em
indiscutivelmente aquelas onde se encontram os 80/91) bem acima da média nacional para
maiores contingentes de pobres e miseráveis do periferias (3,05), conseguiu diminuir suas taxas

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Violência x Pobreza x Criminalidade x Migração

de mortes violentas. Curitiba, Fortaleza e Salva- comportamentos díspares de um mesmo contin-


dor, as que mais cresceram e também as que gente étnico, como é o caso dos italianos nos
apresentaram elevadas taxas de crescimento Estados Unidos e no Brasil. Hoje existem
populacional em suas respectivas periferias, poucos estudiosos que duvidam da associação
tiveram as taxas mais baixas de homicídios e entre o aumento da violência e o gangsterismo
outras violências. em torno da venda do álcool proibido em
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, a violên- Chicago, já então um dos maiores centros
cia urbana é sobretudo metropolitana, ou seja, industriais daquele país.
é nos municípios que formam a periferia da Não é possível esquecer, portanto, que a
Região Metropolitana, assim como no seu nú- política de repressão às drogas, adotada pelo
cleo, a capital do Estado, que as altas taxas de Brasil no período militar, é um dos principais
mortes violentas e homicídios se encontram. O ingredientes deste círculo vicioso da violência
interior desses Estados não apresenta essas mes- urbana. Num primeiro balanço, ela não nos
mas taxas. As duas maiores metrópoles brasilei- livrou das drogas, mas nos trouxe a guerra.
ras partilharam, nas últimas décadas, os efeitos
acumulados de uma urbanização desordenada,
fruto de ondas desenvolvimentistas intermiten-
tes, aliadas a uma política urbana inexistente ou RESUMO
insuficiente, que destinou aos recém-chegados
e seus descendentes moradias irregulares em ZALUAR, A.; NORONHA, J. C. &
locais sem infra-estrutura urbana. Por outro ALBUQUERQUE, C. Violência: Pobreza ou
lado, as progressivas dificuldades de encontrar Fraqueza Institucional? Cad. Saúde Públ.,
emprego, os baixos salários e as dificuldades de Rio de Janeiro, 10 (suplemento 1): 213-217,
manter empreendimentos econômicos lucrativos, 1994.
fariam destas Regiões Metropolitanas as mais Os autores fazem uma revisão das estatísticas
propensas a confirmar a teoria das poucas de mortalidade do Ministério da Saúde por
oportunidades, só que nos crimes econômicos, causas externas no período de 1981 a 1989,
nas contravenções e nos chamados crimes para o qual encontram-se disponíveis dados
contra o patrimônio, mas não nas mortes e nos nacionais. Examinam seu comportamento nas
crimes violentos, ou seja, nos crimes contra a diferentes Unidades da Federação, áreas me-
pessoa, crimes estes muito menos relacionados tropolitanas e capitais, com ênfase nos óbitos
a dificuldades econômicas. por homicídios. Confrontam esses dados com
É bom lembrar que esta teoria se desenvol- aqueles da distribuição da pobreza no país e
veu nos Estados Unidos, mais especificamente dos fluxos migratórios. Concluem pela
na Escola de Chicago, quando aquele país inexistência de qualquer associação entre as
encontrava-se mergulhado na crise urbana e taxas de mortalidade por homicídios e
criminal dos anos 20, época de proibição do pobreza ou migração. Discutem que, se a
uso de uma substância de amplo uso social: o associação pode ser evidenciada nas
álcool. Os personagens mais visados eram os contravenções e nos crimes contra o
imigrantes italianos, que criaram a máfia local, patrimônio, não há qualquer sustentação para
junto com os imigrantes irlandeses, sendo a sua associação nos crimes contra a vida.
primeira etnia a mesma que é saudada, pela Acentuam o papel do crime organizado, bem
teoria da imigração predominante em São como do tráfico de drogas e de armas, como
Paulo, como a responsável pelo progresso fator predominante na estruturação da
econômico deste Estado. No mínimo, esta criminalidade metropolitana, particularmente
comparação serve para mostrar que não são quando associado a uma política
nem os aspectos raciais nem os culturais do exclusivamente repressiva de combate às
grupo de migrantes que explicam o comporta- drogas e a escolhas políticas e institucionais
mento do mesmo. Ao contrário, são os contex- inadequadas para o enfrentamento da pobreza
tos político e institucional do ponto final da via- urbana.
gem que podem nos oferecer alguma luz sobre
Palavras-Chave: Violência; Pobreza;
Criminalidade, Migração

Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 10 (supl. 1): 213-217, 1994 217

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