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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Departamento de História, FAFICH UFMG

Impérios e Imperialismos antes da ascensão do Ocidente

Professor: Rafael Scopacasa

Aluna: Giovana Souza Guimarães do Nascimento

Belo Horizonte, 2017

Esta casa acredita que é possível dar voz ao bárbaro a partir de fontes de cultura
material.

Sempre dependendo da perspectiva adotada pelo ponto de vista de quem observa,


relata ou se relaciona, o bárbaro é muitas vezes sinônimo de estranho, de inadaptável,
de cultural e humanamente inferior ao seu dessemelhante em questão; porém, não é
pelo fato de não se adequar aos padrões pelo qual acaba sendo analisado que esse
bárbaro não possua seus próprios padrões pelos quais sua sociedade é regida. Não
é como se ele estivesse mudo em meio a tanto barulho vindo de fora. O bárbaro possui
voz e um meio de dar ouvidos a mesma é através da análise das fontes de cultura
material.

Nos dois primeiros capítulos de seu livro intitulado “A Conquista das Américas”,
Tzvetan Todorov discorre sobre a chegada do espanhol, mais especificamente, de
Colombo no atual Peru e de Cortéz no atual México, tendo em vista uma perspectiva
diferente, já que retrata a questão do outro, sendo esse outro o índio nativo. Essa
denominação que o autor traz durante seu texto, pode-se dizer que é um dos melhores
jeitos de definir o termo “bárbaro”. Para o espanhol, o outro era o índio, o bárbaro que
precisava ser catequizado e para o índio, o outro era o espanhol, o bárbaro de
costumes e leis diferentes da sua. Durante toda a história, bárbaros sempre foram
aqueles povos cujos costumes eram diferentes dos da civilização por quem eram
vistos.

Povos bárbaros foram vistos de maneiras diferentes durante o decorrer do tempo:


alguns como passíveis a submissão, outros como cometedores das mais diversas
atrocidades segundo alguns, e ainda puderam ser vistos como semelhantes capazes
de evoluírem ao patamar de seu conquistador, como é o caso do nativo americano
descrito nas crônicas de Colombo; entretanto, todos eles tinham em comum o fato de
serem vistos como diferentes em tantos outros aspectos pelo povo dominante que os
tinha em questão.

Marcelo Rede em seu artigo “História a partir das coisas: tendências recentes nos
estudos de cultura material” traz o que um historiador da arte chamado Jules D. Prown,
em seu livro: “The truth of material culture”, retrata como importante da cultura
material;

The underlying premisse is that human-made objects, reflect, consciously or


unconsciously, direct or indirectly, the beliefs of the individuals who
commissioned, fabricated, purchased, or used them and, by extension, the
beliefs of the larger society to wide these individuals belonged.

Como é possível perceber através dessa definição, cultura material é tudo aquilo que
é feito por mãos humanas e que acaba por refletir traços culturais da sociedade em
que foram produzidos.

A importância das fontes de cultura material consiste exatamente no fato de que se


tratam da expressão humana de uma sociedade, através de objetos que construíam
com determinada utilidade é possível perceber costumes e leis pelas quais uma
sociedade funcionava, ou através de uma cidade inteira em si é possível verificar
inúmeros aspectos histórico-culturais que fontes escritas, por exemplo, não seriam
capazes de descrever com tamanha exatidão. O aprendizado que se pode obter sobre
uma sociedade através de sua cultura material é vasto e único.

Povos considerados bárbaros, assim como qualquer outra sociedade, tinham seus
próprios meios de expressar seus costumes e regras, assim como construíam objetos
grandes e pequenos que fossem ser utilizados no seu dia a dia e, embora na época
de sua contemporaneidade possam ter sido vistos como algo inútil, desprezível ou
digno de destruição por outros povos, hoje, esses mesmos objetos podem vir a se
tornar fontes de cultura material e, assim como toda fonte histórica, muito se tem a
aprender e a dizer com essas fontes que acabam por reproduzir a voz de povos que
a muito estavam calados.

A civilização persa era vista pelos gregos como bárbara, ainda que o império persa
tenha sido um dos maiores de toda a história. Um dos artefatos, por exemplo, da
historia persa é o chamado Cilindro de Ciro que hoje é considerada uma fonte de
cultura material e, ao fazer um estudo e uma análise sobre esse cilindro é possível
identificar inúmeros elementos sobre o modo que essa sociedade era regida, um
desses elementos é a maneira que Ciro, imperador dos persas entre 559 e 530 a.c.,
ao mandar fazerem um cilindro exaltando seus feitos, busca criar um vínculo com a
civilização macedônia, que acabava de ter anexado ao domínio de seu império e de
quem era o costume de moldar cilindros com exaltação dos feitos de seu líder.

Chris Wickham, em seu texto “Crise e Continuidade” discorre sobre o período em que
os vândalos, um povo considerado bárbaro da Idade Média, já se encontra em um
estágio avançado de estabelecimento dentro dos territórios do império romano do
ocidente e como as noções bárbaro versus não bárbaro e romano versus não romano
já estavam tão interligadas entre si, que era uma tarefa difícil tentar separa-las
novamente. Ao se pegar essas cidades onde tais povos bárbaros buscavam local para
se fixar e se analisar a estrutura que ela adquiriu no período pós invasão, além de
ficar evidente que os chamados bárbaros mais ajudaram a perpetuar a tradição
romana do que destruí-la, as características dessa sociedade invasora se mostram
com uma clareza excepcional.

Um povo classificado como bárbaro, embora só tenha ganhado maior espaço durante
o período da expansão marítima, são os piratas. No livro “A República dos Piratas”,
Colin Woodard, um renomado jornalista americano que escreve sobre a pirataria,
conta por meio da história de alguns piratas em particular, como Sam Bellamy ou
Barba Negra, o jeito como toda essa sociedade de foras da lei se organizou em uma
ilha regida politicamente por meio de uma “democracia” dos considerados imorais e
que não se encaixavam no sistema das grandes metrópoles contemporâneas a eles.
É redundante dizer que ao se analisar uma galera ou um saveiro pirata, assim como
a sua república, a voz desse povo tão heterogêneo, uma vez que era composto por
indivíduos de várias nacionalidades, mas de interesses em comum é escutada em alto
e bom tom.

Ainda que as fontes de cultura material sejam únicas e de grande importância por
funcionarem como um fator de comportamento humano, ou pelo menos sejam
largamente influenciados por eles, não se pode ignorar os problemas que a análise
dessas fontes pode acarretar. O artigo já citado de Marcelo Rede traz também algum
desses problemas que merecem atenção sobre o tema e vou utilizar de algum desses.
Assim como o ser humano em si e a sociedade que ele forma, as fontes de cultura
material sofrem mutação através do tempo, não apenas as físicas devido ao
envelhecimento, mas as de cargo significativo e funcional também. Inúmeros objetos
são desenvolvidos dentro de uma sociedade com determinada função, entretanto,
mesmo dentro dela e do período em que foi desenvolvido, esse mesmo objeto pode
ter sua função modificada e essa função além de continuar mudando pode ser mal
interpretada por um historiador.

O problema maior por mim considerado e presente no mesmo artigo “História a partir
das coisas: tendências recentes nos estudos de cultura material” é o de que além da
cultura material ser facilmente passível de especulação histórica, julgo mais até que
qualquer outro tipo de fonte histórica, ela também é vista muitas vezes por um viés
meio fetichista que busca atribuir valores e papeis que muitas vezes a peça em
questão não carrega, mas já que a fonte de cultura material só se torna uma fonte
quando um historiador a escolhe como tal, o problema em questão pode ocorrer
inúmeras vezes.

Chris Wickham, ainda no texto “Crise e Continuidade”, demonstra o interesse que os


povos bárbaros que invadiram o império romano tinham em aderir a cultura dominante
em questão e esse fato serve para exemplificar o ponto anterior de que o papel das
fontes de cultura material são incrivelmente passíveis de mudança. Quantos objetos
da cultura bárbara não adquiriram novas funções com a cisma ocorrida com a cultura
romana? Quantos estruturas romanas não foram mais utilizadas da mesma maneira
após a invasão e conquista bárbara?

Quando se trata sobre cultura material é possível enxergar a ambiguidade que a


mesma reflete, que é, pode-se dizer, uma de suas características principais, e ao ser
tratada pelo ser humano, que também é repleto de suas ambiguidades formadas por
seus valores adquiridos por ser fruto do seu tempo e de sua sociedade, fica evidente
que a relação historiador e fonte material pode sim trazer valioso frutos por meio de
analises e descobertas incríveis, mas também não se pode ignorar os perigos que
essa relação pode trazer.

Outro livro que também retrata sobre o tema bárbaros é “O Espelho de Heródoto”, de
François Hartog, e, assim como Tzvetan Todorov, ele discorre em seu texto sobre a
questão do outro. Enquanto Todorov fala sobre os nativos americanos e seu contato
com o espanhol, Hartog já tende para um lado mais eurocêntrico ao trazer os gregos
e suas populações vizinhas no capítulo “Uma retórica da alteridade”, porém, ambos
apresentam a mesma visão: de que o outro só é o outro quando observado por alguém
de fora e que denominá-lo como outro já é trata-lo como diferente; em como o contato
entre os povos acarreta, por fim. na mistura entre as culturas e também na importância
que era atribuída a descrever, relatar e documentar aquilo que estava sendo visto que
era diferente em comparação com a cultura do observador. Mesmo se tratando de
períodos e civilizações historicamente distantes é possível perceber que o tratamento
com o outro acabou por seguir alguns padrões.

Como espero ter demonstrado no decorrer deste ensaio, a questão do bárbaro é uma
constante no estudo da história, uma vez que existiram sociedades que impunham
sua autoridade e domínio sobre outras e que todas as sociedades se diferem entre si,
mesmo que ligeiramente, sendo ela sua vizinha ou que esteja a mais de um oceano
de distância. Todavia, também é uma constante que através do contato de duas
sociedades distintas, uma tendo a dessemelhante como bárbara, os limites entre
bárbaro e não bárbaro acabam se tornando tão esmaecidos que as vezes a
diferenciação entre ambos é praticamente impossível. Dominique Barthélemy, em seu
texto “Vassalos, Senhores e Santos”, buscando demonstrar as relações feudais que
se estabeleceram no império romano após as invasões bárbaras, explicita o ponto
anterior ao dizer: “Que não faz desaparecer nem a elite nem os valores do mundo
carolíngio, mas os adapta e os faz evoluir”, (BARTHÉLEMY, 2010); mostrando como
o contato entre esses povos modificou a o regimento político local por meio da mistura
de ambas as culturas.

Ainda que a cultura material necessite de algum zelo para ser analisada, assim como
qualquer outro tipo de fonte histórica, o historiador que encontrar relevância suficiente
para que uma peça se torne fonte histórica de cultura material, mesmo com todas as
suas ambiguidades, o conhecimento que dela se pode adquirir e tão válido como o de
qualquer outra. E aqui cito mais uma vez o artigo de Marcelo Rede que demonstra
que a importância da cultura material existe por ela trazer: “o espírito de uma época;
as crenças de uma sociedade ou subgrupo; as experiências de um indivíduo. ”,
(REDE, 1996).

Em minha concepção, a proposição escolhida para esse ensaio está escrita de


maneira errada, ao invés de “é possível dar voz ao bárbaro a partir de fontes de cultura
material” algo semelhante à “é possível ouvir a voz do bárbaro através de fontes de
cultura material” seria mais acertado, pois não é pelo fato de terem sido classificados
como diferentes, ou até mesmo inferiores para alguns, que esses vastos povos, como
estudados no decorrer do semestre, tão cheios de poder e conquistas não possuem
voz histórica. Entretanto, diferenças de sentido deixadas de lado, pela análise da
bibliografia citada, fica evidente que: o uso de fontes de cultura material é um grande
meio de se escutar e se aprender sobre o tão complexo e heterogêneo Bárbaro.

BIBLIOGRAFIA

TODOROV, Tzvetan. A Conquista da América. New York: Harper Torchbooks, 1984.


(Cap. 1 e 2)

REDE, Marcelo. História a partir das coisas: tendências recentes nos estudos de
cultura material. In: Anais do Museu Paulista História e Cultura Material. 1996

ASHERI, David. O Estado Persa: Ideologias e instituições no império Aquemênida.


São Paulo: Perspectiva, 2006. 165 p. (Coleção debates. História; 304).

___ O Cilindro de Ciro. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Cilindro_de_Ciro>. Acesso em 25 de setembro de 2017

WICKHAM, Chris. “Crise e continuidade” (tradução do Cap. 4 – Crisis and Continuity,


400-550). In: The Inheritance of Rome. Illuminating the Dark Ages, 400-1000. New
York: Penguin Books, 2009, p. 201-279 .

WOODARD, Colin. A República dos Piratas. Editora Novo Século. 2014

HARTOG, François. Uma Retórica da Alteridade. In: O espelho de Heródoto- Ensaio


sobre a representação do outro. Editora Ufmg. 2014

BARTHÉLEMY, Dominique. Vassalos, senhores e santos. In: A cavalaria. Da


Germânia antiga à França do século XII. Campinas: Editora da Unicamp, 2010, p. 145-
204.

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