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ousar integrar - revista de reinserção social e prova | n.º 4, 2009: 2..

- artigo

Perfis criminais e crime de abuso sexual de crianças


Caracterização de uma tipologia para a realidade portuguesa
Cristina B. Soeiro *

RESUMO - O presente estudo insere-se no âmbito da investigação de variáveis associadas ao crime de abuso sexual de
crianças e à definição de uma tipologia representativa da realidade portuguesa. Trata-se de um estudo exploratório,
cujo principal objectivo é identificar diferentes perfis criminais associados ao crime de abuso sexual de crianças,
considerando variáveis como características dos agressores, das vítimas e do respectivo comportamento criminal. A
recolha dos dados foi efectuada a partir do Questionário para Investigação do Agressor Violento-Versão para o Crime
de Abuso Sexual de crianças (QIPAV-ASC, ISPJCC, 2000). Foram analisados 131 casos de abuso sexual de crianças
investigados pela Secção de Crimes Sexuais pelas Directorias de Lisboa e Vale do Tejo, Centro e Sul, da Polícia
Judiciária, entre 2000 e 2007. Os dados foram analisados através dos procedimentos estatísticos de análise de
correspondências múltiplas (ACM), a partir dos quais foram identificados quatro perfis distintos que definem a existência
de diferentes tipos de agressores: 1. Perfil criminal Intra-familiar - Inadequado; 2. Perfil criminal Extra-familiar -
Regressivo; 3. Perfil Criminal Intra-familiar - Agressivo; 4. Perfil Criminal Extra-Familiar - Sedução.
Palavras-chave - abuso sexual de crianças, pedofilia, agressores sexuais, tipologias, perfis criminais

ABSTRACT - The present study is integrated in the research of the variables associated with child sexual abuse crime
and the definition of a typology which is characteristic of the Portuguese society. It is an exploratory study, whose main
purpose is to identify different criminal profiles associated to the crime of child sexual abuse, taking into account
variables like the offenders' characteristics, victims and their criminal behaviour. The data collection was gathered
using the Research Questionnaire for the Violent Offender - crime of child sexual abuse version (QIPAV-ASC; ISPJCC,
2000). 131 cases of child sexual abuse were investigated by the Section of Sexual Crimes of the Directories of Lisbon and
Tejo Valley, Centre and South - Polícia Judiciária, between 2000 and 2007. The data was analysed using the statistical
procedure multiple correspondence analysis (ACM), and thru them, four different profiles were identified and they define
the existence of different types of offenders: 1. Criminal Profile Intra familiar - inadequate; 2. Criminal Profile Extra
familiar - Regressive; 3. Criminal Profile Intra familiar - Aggressive; 4. Criminal Profile Extra familiar - Seduction.
Keywords - sexual child abuse, paedophilia, sexual offenders, typologies, criminal profiles

RÉSUMÉ - Le présente étude se place dans le quadre de la recherche de variables liées au crime d'abus sexuel d'enfants et
à la définition d'une typologie représentative de la réalité portugaise. Il s'agit d'un étude exploratoire, dont l'objectif
principal consiste à identifier des différents profils criminels associés au crime d'abus sexuel d'enfants, en considérant des
variables comme caractéristiques des agresseurs, des victimes et du comportement criminel respectif. La collecte des données
est été exécutée à partir de l'Enquête pour l'Investigation de l'Agresseur Violent - Version destiné au Crime d'Abus Sexuel
d'Enfants -(QIPAV-ASC , ISPJCC, 2000). Ils ont été analysés 131 cas d'abus sexuels d'Enfants examiné par le Département
de Crimes Sexuels par le Directorat de Lisboa et Vale do Tejo, Centre et Sud - Polícia Judiciária, entre 2000 et 2007. Les
données ont été examinées en utilisant des processus statistiques sur l'analyse de correspondances multiples (ACM), à
partir desquels on a identifié quatre profils distincts qui présentent l'existence des plusieurs modèles d'agresseurs ; 1. Profil
criminel intra familial - Inadéquat ; 2. Profil criminel extra.- familial - Régressif. 3. Profil Criminel Extra Familial - Séduction.
Mots-clés - abus sexuel d'enfant, pedophilie, agresseurs sexuels, typologies, profils criminels

1. INTRODUÇÃO consentimento consciente (por exemplo, Schechter


& Roberge, 1976). Especificando mais detalha-
Procurando definir o que se entende pelo contexto damente os vários aspectos do problema,
do abuso sexual de crianças, pode dizer-se que este nomeadamente na perspectiva do agressor na sua
problema corresponde ao envolvimento de crianças relação com a vítima, o National Center of Child
e adolescentes dependentes, imaturos em Abuse and Neglect (1978) define como aspectos
actividades sexuais que não compreendem centrais na definição de abuso sexual de crianças
totalmente e sobre as quais não deram o seu todos os contactos e interacções entre uma criança

* Doutorada em Psicologia da Justiça. Especialista Superior na Escola de Polícia Judiciária. Docente no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz/
Centro de Investigação Interdisciplinar Egas Moniz (cristina.soeiro@pj.pt).

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e um adulto, quando este (o agressor) usa a criança sexual de crianças e de pedofilia. Alguns autores
para se estimular sexualmente a si próprio, à criança utilizam os dois conceitos como sinónimo, existindo,
ou a outra pessoa. O abuso sexual pode também no entanto, diferenças entre ambos.
ser cometido por uma pessoa menor de 18 anos,
quando esta é significativamente mais velha que a A pedofilia corresponde a um conceito científico com
criança (vitima), ou quando o agressor está numa significado preciso, mas que acabou por ser
posição de poder ou controle sobre a criança. associado, em termos gerais, às situações de abuso
sexual de crianças (Gomes & Coelho, 2003). O
Também Kempe e Kempe (1978, citado por Porter, Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações
1984) definem este tipo de crime como sendo o Mentais- DSM-IV-R (American Psychiatric Association,
envolvimento de crianças e adolescentes dependentes, 2002) define a pedofilia como uma parafilia. A
com um adulto, em actividades sexuais que têm como parafilia é uma perturbação sexual "em que o
objectivo a gratificação ou a estimulação sexual do indivíduo recorre, de uma forma persistente e
adulto. Este tipo de crime engloba uma variabilidade continuada, a um suporte imaginário ou a actos tidos
de comportamentos que passam pela participação por bizarros- que são a forma preferencial, ou a
da criança em actividades de exibicionismo, fotografia forma indispensável, de chegar a excitar-se
ou filmes pornográficos, em comportamentos de sexualmente ou a obter um orgasmo" (Gomes &
masturbação, manipulação digital dos genitais, Coelho, 2003, p.24). Assim, a pedofilia corresponde
contacto oral/genital e contacto genital directo, a um comportamento compulsivo associado a
incluindo penetração ou tentativa de penetração da impulsos ou comportamentos sexualmente excitantes
vagina e/ou ânus ou em práticas sexuais aberrantes e recorrentes implicando a actividade sexual com
e violação (Cunha, 2000; Wolfe, 1999). crianças (Gomes & Coelho, 2003). A pedofilia pode
estar associada a disfunções sexuais ou a
O abuso sexual constitui a forma que o agressor tem perturbações da personalidade e apresenta uma
de aceder e controlar a criança, podendo este tipo de fraca incidência nas mulheres.
comportamento criminal possuir dois tipos de
motivação: natureza sexual e não sexual (Wyatt & A definição de pedofilia não enquadra, por isso,
Powell, 1988, citado por Cunha, 2000). Na verdade, todas as situações de abuso sexual de crianças.
os agressores que abusam sexualmente de crianças Na verdade, nem todos os pedófilos são abusadores
podem apresentar este tipo de comportamentos tendo e nem todos os abusadores podem ser definidos
por base uma preferência sexual exclusiva por crianças como pedófilos. O conceito de abuso sexual de
(parafilia) ou então é a influência de factores de stress, crianças deve ser definido de uma forma mais
associados à sua vida pessoal que os orientam para abrangente e que integra dois tipos de situações
este tipo de agressão. que caracterizam esta agressão sexual. Nesta
perspectiva o abuso sexual de crianças sem um
Trata-se de práticas que violam a lei, os tabus sociais enquadramento de pedofilia identifica uma situação
e as normas familiares e que a criança, dado o seu em que o abusador não tem preferência sexual por
estádio de desenvolvimento, não consegue crianças, correspondendo o abuso a uma
compreender e para as quais não está preparada, substituição ou resposta a um meio familiar
sendo por isso incapaz de dar o seu consentimento desequilibrado (padrões de violência e domínio) ou
informado (Magalhães, 2002). Assim, tal como à perturbação do abusador (Gomes & Coelho,
refere Machado (2002), para se falar de abuso 2003). O abuso sexual enquadrado como pedofília
sexual não é necessário estar perante um contexto corresponde ao grupo de indivíduos que possuem
que envolva o uso de força, ameaças ou coerção. uma preferência sexual por crianças estimulada
O abuso sexual corresponde a uma relação que tem pelos critérios que definem esta parafilia.
por base um diferencial de poder entre um adulto e
uma criança, que, devido à sua imaturidade, é O abuso sexual de crianças corresponde, assim, a
incapaz de se autodeterminar (Machado, 2002). um tipo de crime que envolve uma relação complexa
que se estabelece entre a criança e o seu agressor
Em termos gerais, parece existir alguma dificuldade (por exemplo, Furniss, 1993) e que envolve agressores
em definir a relação entre os conceitos de abuso como motivações e características diferentes. Este

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artigo

artigo procura contribuir para a caracterização dessa ano de duração representam 24.1% das situações
complexidade, apresentando uma definição do ocorridas dentro da família, enquanto que apenas
conceito e as tipologias que lhe surgem associadas. 3.6% dos incidentes extra-familiares atingiam essa
Numa vertente exploratória será apresentada uma duração. Verificou-se ainda que, dos crimes de
proposta de tipologia para a população portuguesa. abuso sexual denunciados às autoridades, cerca
de 85% são vítimas do sexo feminino e que são as
Contextos sociais do abuso sexual de crianças crianças mais velhas e em situação de abuso extra-
familiar que mais denúncias fazem (Fischer &
Segundo Cunha (2000) "os agressores sexuais são McDonald, 1998, citado por Machado, 2002).
maioritariamente do sexo masculino, têm entre 30 e
50 anos, apresentam boa inserção social, aparecem Analisando o impacto da pedofilia nestes dois
associados a todos os estratos socio-económicos, contextos do abuso sexual de crianças, verifica-se que
religiões e grupos étnicos" (p. 6). Os estudos 40% dos agressores de contexto extra-familiar e 25%
desenvolvidos sobre este tipo de agressores mostra, dos agressores de contexto intra-familiar se
no entanto, que os agressores podem diferenciar-se enquadram nos critérios da pedofilia (Marshall, 1997).
na forma como comentem as agressões sexuais.
Em termos gerais, pode considerar-se que a idade de
Os trabalhos de investigação desenvolvidos sobre vitimação se situa entre os 4 e os 12 anos e é na
este tipo de crime permitem identificar, como variável adolescência que o abuso tende a cessar (Wolfe,
relevante para a diferenciação dos vários tipos de 1999), por razões de maior capacidade de resistência
agressores, a análise do contexto social onde ocorre e denúncia da criança, maior desenvolvimento dos
o abuso sexual, podendo o comportamento criminal processos cognitivos e mais informação sobre
destes indivíduos ser influenciado pelo grau de questões sexuais e/ou medo de gravidez.
relacionamento/proximidade que estabelecem com
a criança. Na verdade, podem identificar-se De acordo com os estudos sobre o impacto do sexo
diferenças entre os agressores que abusam da vítima, existe uma maior taxa de vitimização das
sexualmente de crianças, com as quais possuem raparigas, mas a discrepância entre sexos tem
um grau de parentesco (contexto intra-familiar) e tendência a diminuir (Burkhardt, 1995, citado por
os que não apresentam qualquer grau de Machado, 2002). Quanto ao enquadramento sócio-
relacionamento familiar com as suas vítimas económico, o abuso sexual de crianças pode ocorrer
(contexto extra-familiar) (Russel, 1983). nas diferentes classes sociais, embora haja uma
maior taxa de denúncia nos meios desfavorecidos
Num estudo sobre a caracterização das situações (Finkelhor, 1980; Howitt, 1995; Porter, 1984).
de abuso, Fischer & McDonald (1998, citado por
Machado, 2002) verificaram que 44% dos casos O agressor de contexto intra-familiar
de abuso ocorrem no seio familiar e 56% são
perpetrados por elementos exteriores à família. Wolf O abuso sexual intra-familiar corresponde a qualquer
e Birt (1997, citado por Machado, 2002) referem contacto sexual exploratório que ocorra entre
que 10 a 30% das crianças são vitimadas por familiares, independentemente do grau de parentesco.
desconhecidos, 40% por conhecidos e cerca de 30 Esta definição supõe uma afinidade biológica/genética
a 50% por elementos da sua própria família. Num entre o adulto e a criança, integrando igualmente
estudo apresentado por Danni e Hampe (2000), qualquer indivíduo que assuma um papel familiar na
observou-se que, dos 168 abusadores de crianças vida da criança, ou seja, inclui o padrasto e o pai
estudados, 18% eram amigos da família da criança, adoptivo (Russel, 1983).
17,86% eram conhecidos, 17.86% eram pais
biológicos e 16.67% eram padrastos. A Julian, Mohr e Lapp (1980, citado por William &
percentagem de desconhecidos era apenas 2.38% Finkelhor, 1990) realizaram um estudo com 615
da amostra estudada. indivíduos com comportamento incestuosos e
obtiveram os seguintes dados: 54% dos indivíduos
A ocorrência de apenas um incidente é maior nos teriam idades entre os 36 e 45 anos, 85% seriam
casos extra-familiares. Os casos com mais de um brancos e 59% teriam como habilitações o ensino

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secundário ou menos. Num estudo efectuado por parceiros adultos normais. Pesquisas elaboradas
Russel (1986) foi possível verificar que 60% dos abusos concluíram que os pais incestuosos sentem menos
neste contexto são perpetrados pelo pai biológico e excitação sexual com os adultos do que os indivíduos
os restantes pelo padrasto. Contudo, o abuso sexual da população geral ou os abusadores extra-
pode não ser apenas realizado pelo pai ou pelo familiares (William & Finkelhor, 1990). Muitos dos
padrasto, podendo a agressão ser cometida pelo abusadores incestuosos manifestam conflitos e
irmão, tio, primo e avô (Machado, 2002). insatisfação nas suas relações, o que pode levar a
uma incapacidade de se sentirem sexualmente
Atendendo aos dados que mostram a represen- excitados por adultos. Estes conflitos e insatisfações,
tatividade nos pais enquanto agressores sexuais das mesmo na ausência de uma forte afirmação sexual
suas filhas, foram desenvolvidos estudos no sentido dirigida às crianças, podem ser importantes na
de se perceber quais os factores explicativos para interacção sexual com as mesmas.
estes comportamentos inadequados por parte deste
tipo de cuidadores. De uma forma generalizada, Diversos estudos (Olson, 1982, Quinn, 1984,
pode-se afirmar que os pais incestuosos provêm citados por William & Finkelhor, 1990; Saunders,
de lares onde domina a violência física e/ou sexual, McClure & Murphy, 1986) verificaram que as
abuso de substâncias e negligência emocional e famílias dos abusadores estão isoladas e são
são indivíduos com baixa auto-estima. Podem desorganizadas, conflituosas e antagonistas. Importa
apresentar perturbações de personalidade, ainda salientar que, em cerca de 70% dos casos, a
nomeadamente: mãe sabe do abuso e não faz nada para impedi-lo
(Holmes, 1991). Isto não quer dizer que as famílias
1.Psicopatia: Os estudos sugerem uma disponibi- sejam similares, pois diferentes patologias podem
lidade dos pais incestuosos para explorar os outros manifestar sintomas semelhantes, importando dar
e para violar as normas sociais. Porém, estes atenção a estes indicadores como factores de risco
indivíduos não costumam apresentar historial de para um diagnóstico de situações de abuso sexual e
outros delitos, o que sugere uma psicopatia maus-tratos de crianças.
moderada e uma actuação ponderada para
evitarem ser detectados pela polícia. O agressor de contexto extra-familiar

2. Perturbação estado limite da personalidade: As O abuso sexual extra-familiar engloba agressores


pesquisas em contexto clínico sugerem que o pai sem relações familiares com a vítima, cuja
incestuoso é passivo e dependente. Estudos como intimidade com a criança pode ser maior (por
o de Berkowitz (1983, citado por William & exemplo, ama, vizinho, etc.), menor ou inexistente.
Finkelhor, 1990) e de Saunders, McClure e Murphy
(1986) suportam a ideia que os pais abusadores Tingle, Bernard, Robbins e Newman (1986, citado
das suas filhas apresentam uma baixa auto-estima por Holmes, 1991) verificaram que estes
e histórico de consumo de substâncias, onde se agressores, muitas vezes, provêm de lares em que
destaca o consumo de álcool. a mãe domina e em que o pai é passivo ou ausente.
O modo de abordagem mais comum para obter
3. Perturbação paranóide da personalidade: ganho de natureza sexual por parte da criança é a
Clinicamente, os pais incestuosos parecem sedução, mas também pode passar pelo uso de
racionalizar o seu comportamento e colocar a força, pelo suborno e pela ameaça.
responsabilidade no outro, que é percepcionado
como hostil. Este tipo de funcionamento pode Cada agressor sente-se atraído por crianças de um
acentuar-se após a situação de incesto estar determinado sexo e de uma determinada faixa
instalada, devido ao secretismo inerente ou após a etária, sendo raros os que apresentam preferência
revelação, quando estão sob investigação. por ambos os sexos (American Psychiatric
Association, 2002). Este tipo de agressor integra
Uma grande parte dos pais incestuosos apresenta indivíduos que, em termos de orientação sexual,
como padrão mais representativo da sua podem ser heterossexuais, homossexuais e
sexualidade a pouca estimulação sexual com bissexuais e a preferência apresentada pelo sexo

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artigo

das vítimas não reflecte necessariamente a sua engloba indivíduos que têm uma orientação sexual
orientação sexual (Holmes & Holmes, 1996). A adequada à sua idade, mas que a dado momento,
maioria destes agressores não sofre de senilidade e devido a certas circunstâncias da sua vida familiar
ou de problemas de natureza mental. e/ou profissional, regridem ao ponto de se
envolverem sexualmente com crianças. Os
De uma forma geral, o agressor e a sua vítima agressores classificados de fixação, correspondem
conhecem-se antes do início dos seus actos de a um grupo cujos indivíduos apresentam um
natureza sexual e, quando estes surgem, vão-se interesse sexual primário que se dirige
intensificando consoante a sua relação se torna exclusivamente a crianças.
mais próxima.
Russel (1983) apresentou uma tipologia, para o
Tipologias para o comportamento criminal agressor de tipo intra-familiar, composta por três
de abuso sexual de crianças sub-tipos: 1. O introvertido, indivíduo que possui
uma fraca auto-estima, fracos recursos ao nível da
Uma das tipologias mais divulgadas relativamente capacidade de estabelecer relações interpessoais,
ao crime de abuso sexual de crianças foi desenvolvida aspectos que determinam a sua eventual procura
por Burgess, Groth e Holmstrom (1978, citado por das crianças, no seu contexto familiar, como
Holmes & Holmes, 1996), que distingue agressores parceiros sexuais. Este tipo de comportamento está
situacionais dos agressores preferenciais. igualmente associado a contextos culturais de
pobreza. 2. O psicopata, possuidor de uma
O grupo dos agressores situacionais não apresenta tendência para uma promiscuidade indiscriminada
um verdadeiro interesse sexual por crianças (por exemplo, pode sentir atracção tanto pela
(Dunaigre, 2001), mas realiza este tipo de contacto mulher como pelos filhos). 3. O pedófilo, indivíduo
quando determinados factores de stress são possuidor de uma imaturidade psicossexual e social.
introduzidos na sua vida. Este facto faz com que Este tipo de agressores sente atracção pelos filhos
este tipo de indivíduos moleste não apenas crianças, e por outras crianças. A sua preferência sexual por
mas também pessoas que se mostrem vulneráveis crianças distingue-os dos outros tipos de agressores.
(idosos ou indivíduos com problemas mentais, etc.).
É pois, um tipo de abuso que possui uma motivação Danni e Hampe (2000) apresentam uma outra
de cariz não sexual (Salter, 2003). tipologia com o objectivo de definir a complexidade
inerente aos agressores associados ao crime de
Quanto ao grupo dos preferenciais, este tipo de abuso sexual de crianças: agressores pedófilos
agressores é aquele que, de um modo geral, provoca (pedophiles), agressores hebofilos (hebophiles) e
os danos mais graves nas suas vítimas. Corresponde agressores incestuosos (incest). Os agressores
a um conjunto de comportamentos que se pedófilos procuram agradar às suas vítimas a partir
enquadram na forma convencional da pedofilia, de comportamentos de sedução (presentes,
envolvendo o desvio sexual que pode surgir desde a dinheiro, atenção). As suas vítimas integram o
fase da adolescência (Dunaigre, 2001). Este agressor grupo mais jovem e a relação que estabelecem com
prefere sexualmente as crianças aos seus pares, e ela é progressiva. Os agressores classificados como
elas funcionam como objecto de prazer, a própria hebofilos tendem a envolver-se com crianças mais
vitimização é um estilo de vida e a pornografia infantil velhas (adolescentes), o seu comportamento é
faz parte da fantasia (Salter, 2003). impulsivo e episódico, o que aumenta a
probabilidade de revelação do crime. Estes
De forma mais específica podem ainda ser indivíduos procuram uma relação sexual recíproca
identificadas tipologias que permitem diferenciar e satisfatória com estas crianças, que podem ser
sub-tipos tendo presente o contexto de ocorrência suas filhas, e com quem se sentem mais seguros.
do abuso sexual. Assim, Groth, Hobson e Gary Este tipo de comportamentos ocorre quando o
(1982), tipificam o comportamento criminal dos agressor é sujeito a factores de stress externos como
abusadores de contexto extra-familiar em dois problemas financeiros, uso de substâncias
grupos distintos: o agressor regressivo e o agressor problemas laborais ou familiares (Danni & Hampe,
de fixação. O grupo dos agressores regressivos 2000). Por último, os agressores incestuosos

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apresentam como base para o seu comportamento grupo dos 16 aos 25 anos (20.7%) e dos grupos
sentimentos de revolta e raiva, que pode estar dos 26 aos 35 anos (19%) e dos 36 aos 45 anos
relacionada com a sua relação com a sua mãe ou (19%); finalmente, com 18.3%, surge o grupo etário
esposa, podendo mesmo ser fisicamente abusivos dos 46 aos 55 anos.
para outros membros da família.
As vítimas possuem idades compreendidas entre
Tendo presente o conjunto de orientações recolhidas os 2 e os 16 anos de idade (M=10.02; dp=4.46),
da análise da literatura, importa agora definir o 72.5% são do sexo feminino e 27.5% são do sexo
objectivo do presente artigo. Este trabalho procura masculino. Quanto à distribuição da idade por
identificar uma tipologia dos abusadores sexuais grupos, verifica-se que 37.2 % das crianças vitimas
de crianças, através da análise dos indicadores integram o grupo dos 8 aos 12 anos de idade,
recolhidos, tendo presentes as variáveis relativas ao seguindo-se o grupo com mais de 13 anos (31.8%).
comportamento criminal/agressão sexual, No grupo das crianças mais jovens (2 aos 7 anos
características do agressor, características da vitima de idade), identifica-se 31% da amostra estudada.
e impacto da agressão sexual nas vitimas. De uma
forma mais específica, pretende-se analisar: 1. Se Instrumento
existem diferenças no comportamento criminal,
tendo presente o contexto intra e extra familiar; 2. A recolha dos dados foi efectuada a partir do
Identificar padrões de comportamento violento Questionário para Investigação do Agressor
associados ao contexto intra familiar; 3. Definir Violento-Versão para o Crime de Abuso Sexual de
como mais frequente o padrão de vítimas do sexo Crianças (QIPAV-ASC, ISPJCC, 2000). Este
feminino; 4. Obter perfis criminais específicos deste instrumento foi originalmente construído pela
tipo de crime (por exemplo, Burgess, Groth e Unidade de Ciências Comportamentais do FBI para
Holmstrom, 1978; Danni & Hampe, 2000; Russel, a construção de perfis criminais para crimes como
1983). Procura-se, deste modo, identificar os perfis o homicídio e a agressão sexual. Este instrumento
criminais específicos, que podem geram no futuro foi adaptado por Garrido (2003) para a realidade
indicadores pertinentes para a prevenção e criminal espanhola. Foi a partir desta versão que
intervenção neste tipo de casos. foi desenvolvido, pelo Gabinete de Psicologia e
Selecção da Escola de Polícia Judiciária, o
questionário utilizado na presente investigação, no
2. METODOLOGIA âmbito do Projecto "Construção de uma Base de
Dados para a elaboração de Perfis Criminais para
Participantes o Contexto da Criminalidade Violenta".

Para operacionalizar os objectivos deste estudo, O questionário é constituído por três partes
foram estudados 131 casos de abuso sexual de distintas. A primeira parte detalha informação sobre
crianças investigados pelas Secções da Polícia a forma como foi cometido o crime (por exemplo,
Judiciária da área dos Crimes Sexuais. Estes dados actos delituosos associados ao crime, hora do acto
englobam informação proveniente do Centro e Sul delituoso, dia da semana, local do delito, tipo de
do país (Coimbra, Leiria, Lisboa e Faro), recolhida lesões apresentadas pela vitima, tempo que
entre 2000 e 2007. decorreu até a vitima ser encontrada, violência
associada ao acto criminal, motivação do crime,
Os 131 indivíduos que cometeram o crime de premeditação, outros participantes). A segunda
abuso sexual de crianças apresentam idades parte refere-se aos dados da vítima (por exemplo,
compreendidas entre os 16 e os 74 anos de idade idade, etnia, relação entre a vítima e o agressor,
(M=41.33; dp=15.94), 98.5% são do sexo comportamentos que ocorreram durante o crime,
masculino e 1.5% são do sexo feminino. Analisando objectos utilizados na agressão, utilização de
a distribuição por grupos etários, aspecto preservativo, tipo de lesões que a vítima apresenta,
importante para este estudo, verifica-se que o grupo número de participantes na agressão,
com maior frequência corresponde aos indivíduos comportamentos depois da agressão, se já foi vitima
com mais de 55 anos de idade (23%), seguido do de outras agressões anteriormente). A última e

6
artigo

terceira parte refere-se aos dados a recolher no % possui os 2º/3º ciclos, 17.2 % possui o secundário,
interrogatório ao presumível agressor (por exemplo, 16.2 % são iletrados, 11 % possui o 1º ciclo e 7.1%
idade, profissão, antecedentes criminais, tipo de possui formação universitária.
antecedentes criminais, abuso de substâncias,
antecedentes psiquiátricos e tipo de diagnóstico). Dados socio-demográficos-vítimas

Procedimento Quanto às vítimas, importa salientar que, também


aqui, se observam limitações na obtenção de
O preenchimento do instrumento de medida é informação válida para todos os casos estudados.
efectuado em três fases distintas. Numa primeira Não foi possível obter informação para as variáveis
fase, é efectuada uma análise de toda a informação etnia e nacionalidade. No que concerne ao tipo de
disponível sobre cada caso de abuso sexual de estrutura familiar em que a vítima se encontra
crianças que foi seleccionado para integrar o integrada, os dados mostram que 50% das crianças
estudo. A selecção dos casos é efectuada pelas vive com os pais, 26.2% integra uma família
brigadas de investigação criminal que investigam monoparental, 5.4% vive com os avós, 3.1% integra
este tipo de crime. Numa segunda fase, é familiar reconstituídas e 2.3% vivem em instituições.
preenchido o referido instrumento com base na Quanto à escolaridade da vítima, apenas foi possível
informação que se recolheu a partir da fase anterior. analisar 127 casos. O grupo mais frequente
E, numa última fase, é realizada uma entrevista integra as crianças que frequentam os 2º/3º ciclos
com os Inspectores que tiveram a seu cargo a (54.3%), seguido do grupo das crianças que estão
investigação de cada caso, com o objectivo de em amas ou infantários (23.6%), surgindo, com
recolher informação que não tenha sido identificada 12.6%, o 1º ciclo e, por ultimo, o grupo do
nas fases anteriores e que se revela essencial para secundário, com 9.2%.
a compreensão deste tipo de crime.
Dados psicológicos-agressor

3. RESULTADOS No que se refere às variáveis psicológicas do


agressor, foi recolhida a variável diagnóstico de
Com o objectivo de caracterizar os agressores e doença mental estabelecido. Os dados aqui
respectivas vítimas, em seguida, procede-se, à apresentados apenas consideram a informação
descrição dos dados socio-demográficos, formal que constava nos registos consultados. O
psicológicos, jurídico - penais e criminais. facto de 75.4% não apresentarem qualquer registo
de história clínica pode significar apenas que o
Dados socio-demográficos - agressores indivíduo não foi alvo de qualquer diagnóstico pelo
sistema de saúde mental. Desta forma, os dados
No que respeita a variável etnia, salienta-se que a devem ser analisados tendo presente este tipo de
maioria dos agressores era caucasiana (83 %), constrangimentos.
seguindo-se o grupo dos africanos (17 %).
Relativamente à nacionalidade dos agressores Quanto aos casos que apresentavam um
estudados, destacam-se 82 % de portugueses e diagnóstico definido, os registos indicam que 11.5%
13.3 % de indivíduos oriundos de países africanos. possui um quadro psicopatológico diverso (por
No que concerne à profissão, destacam-se os exemplo, depressões, perturbações da personalidade),
seguintes grupos: 31.4% de trabalhadores não 10.8% histórico de consumos de substâncias e
qualificados, 18.2 % de trabalhadores qualificados, 1.5% registo de disfunção eréctil.
14% de profissionais da área dos serviços. Verifica-
se ainda que 12.4% de indivíduos estavam Considerando agora a variável estado civil do
desempregados no momento em que cometeram agressor, apenas foi possível estudar 108 casos da
os crimes e 4.1% estavam já reformados. Na análise amostra total. Verifica-se que 48.1% dos agressores
da variável escolaridade, foi possível apenas analisar são casados ou vivem em união de facto, 36.1%
99 casos, visto nos restantes a informação não se são solteiros, 11.1% são divorciados/separados e
encontrar disponível. Dos 99 casos estudados, 48.5 4.6% são viúvos.

7
ousar integrar - revista de reinserção social e prova | n.º 4, 2009

Dados jurídico-penais penetração, 9.9% a penetração oral e 7.6% a


penetração anal.
Quanto aos dados jurídico-penais do agressor, dos
117 indivíduos de que se possui informação acerca Quanto à premeditação, 62% dos abusos sexuais
da presença de antecedentes criminais, a maioria foram premeditados e planeados pelo agressor e
não possuía qualquer registo de delitos previamente 38 % não foram premeditadas.
ao crime de abuso sexual de crianças (75.2 %). A
análise dos casos que já possuem antecedentes A análise do grau de relacionamento entre a vítima e o
criminais mostra que 21.4% possuíam antecedentes agressor permite identificar que 51.1% dos agressores
por outros tipos de delitos, dos quais se destaca o possuíam uma relação familiar com a criança, 42%
roubo, e que 3.4% possuíam antecedentes criminais são conhecidos da vítima e 6.9% são seus
pelo mesmo tipo de crime. desconhecidos. Quanto ao tipo de relacionamento,
para o contexto extra-familiar destaca-se 35.4% de
Dados do comportamento criminal vizinhos ou conhecidos da família e que 4.9% integram
o grupo dos cuidadores da criança (por exemplo,
Relativamente ao comportamento criminal, a análise professor). No contexto intra-familiar, o pai representa
da variável estratégia de abordagem utilizada pelo 18.5% dos casos, 11.5% são tios da vítima, 8.5% são
agressor para comunicar com a vítima, mostra que padrastos ou companheiros das mães e 6.9% são avô
67.9% não recorrem a estratégias de sedução. ou companheiro da avó. Um grupo mais diversificado
Verifica-se ainda que 26% dos agressores recorrem a que integra os irmãos e primos ou amigos representa
estratégias de sedução tangíveis (por exemplo, 6.2% da amostra.
dinheiro, roupa, telemóveis) e que apenas 18.5%
tentam uma relação sexual "consentida" pela criança. Quanto ao grau de violência exercida durante o
Quanto ao comportamento do agressor face à acto de abuso sexual, importa salientar que, dos
possível resistência da vítima, destaca-se que 42% casos em que foi possível apurar a informação, se
fazem uso da força para obrigar a criança a observa que 64.9% dos agressores recorreram a
comportar-se como ele deseja, 21.4% desistem da comportamentos de violência estritamente
agressão e 13.7% ameaçam a criança e 5.3% utilizam necessários ao controlo da vítima, 9.9% utilizaram
força excessiva, provocando danos físicos na criança. um grau de violência definida como excessiva e com
lesões físicas para a vítima superior à necessária
Considerando a variável local onde foi cometida o para o controlo da vítima e 1.5 % recorreram a
abuso sexual, esta revela a seguinte distribuição: comportamentos de violência extrema, tortura.
33.6% na casa do agressor, 22.1% na casa da
família, 14.5% em espaços públicos, 11.5 % em Quanto às lesões causadas nas vítimas, a informação
casa da vítima ou locais diversos. Apenas 3.1% dos que foi possível apurar refere-se à componente física.
abusos sexuais são cometidos na viatura do agressor. Assim, 55.7% da amostra não apresenta lesões físicas
Quando ao período do dia em que a agressão é após a agressão, 35.1% possui lesões genitais e anais,
cometida, verifica-se que 39.2% são cometidas 4.6% apresenta lesões variadas, 3.1% feridos e
durante a tarde, 20.8% são cometidas no período queimaduras e 1.5% outro tipo de problemas (por
da noite, 17.5 % são cometidas tendo presente o exemplo, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez).
critério oportunidade, 14.2% são cometidas durante
a manhã e 8.3% durante a madrugada. Tipologia do crime de abuso sexual
de crianças
A análise relativa à agressão sexual indica que, em
45% dos casos, as práticas sexuais não envolveram Para a análise dos dados, foram estudadas as
a penetração, integrando antes comportamentos variáveis do comportamento criminal que possuem
como toques em várias partes do corpo e relevância estatística para gerar uma tipologia
comportamento de masturbação no agressor e na descritiva do comportamento criminal no abuso
vítima. Nos casos em que ocorreu a penetração sexual de crianças. No Quadro 1 são apresentadas
sexual, observa-se que 22.1% correspondem a as variáveis que possuem relevância estatística e a
penetração vaginal, 14.5% a várias formas de sua respectiva categorização.

8
artigo

Quadro 1 - Indicadores associados ao comportamento criminal e respectiva categorização

Variáveis/Indicadores Categorias

1. Período do dia em que ocorreu a agressão Madrugada; Manhã; Tarde; Noite

2. Lesões físicas provocadas na vítima Sem lesões; Feridas e queimaduras; Lesões genitais/anais; Outros

3. Manipulação da vítima através de meios Sim; Não


tangíveis e iatingíveis

4. Violência com danos físicos para a vítima Sim; Não

5. Tipo de relacionamento agressor/vítima Desconhecido; Namorado; Vizinho/conhecido/amigo da família; Ama/


professor; Pai; Padrasto/companheiro da mãe; Avô/companheiro da avó; Tio;
Irmão/amigo/primo

6. Premeditação da agressão por parte do agressor Sim; Não

7. Onde estava a vítima antes da agressão Espaço público; Própria casa; Casa do agressor; Escola/imadiações; A passear
com o agressor; Outros

8. Traramento cordial para com a vítima Sim; Não

9. Ameaça a vítima Sim; Não

10. O agressor começa com preliminares Sim; Não


antes de passar ao acto

11. Houve agressão física Sim; Não

12. Ameaçou voltar a atacar Sim; Não

13. Pediu para não contar a ninguém Sim; Não

14. Amável Sim; Não

15. Reacção do agressor à resistência da vítima Desiste das suas intenções; Negoceia alternativas; Ameaça; Utiliza força
excessiva; Utiliza força necessária para submeter a vítima; Não faz nada

16. Agressor utilizou preservativo Sim; Não

17. Distância a que o agressor vive da vítima Mesma casa; Local próximo; Local distante

18. Penetração Sim; Não

19. Tipo de penetração Sem penetração; Vaginal; Oral; Anal; Várias formas

20. Toques diversos Sem toques; Órgãos genitais; Ânus; Seios; Vários toques; Beijos;
Exibicionismos e vários toques

Para analisar a relação entre as variáveis de identificar grupos homogéneos (perfis)


seleccionadas e procurar definir uma tipologia para (Carvalho, 2004, 2008).
o comportamento criminal, utilizou-se a análise de
correspondências múltiplas (ACM), um método de Foram identificadas duas dimensões que explicam
análise multivariada, aplicado quando se pretende a complexidade dos dados analisados, com valores
estudar a relação entre múltiplas variáveis nominais. de inércia de .288 para a dimensão 1 e.261 para
Este procedimento estatístico permite descrever e a dimensão 2. No Quadro 2, estão indicadas as
interpretar as correspondências múltiplas que medidas de discriminação para cada uma das
podem existir entre as categorias, na perspectiva variáveis estudadas, tendo presentes as dimensões

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ousar integrar - revista de reinserção social e prova | n.º 4, 2009

Quadro 2 - Discriminação dos indicadores A partir da análise da ACM foi possível definir quatro
do comportamento criminal de abuso sexual de crianças perfis diferentes, associados ao comportamento
Dimensões criminal de abuso sexual de crianças. Para construir
1 2 M uma tipologia, foi, no entanto, necessário recorrer
à análise de clusters, já que este procedimento
Período da agressão .032 .607 .320
multivariado permite definir grupos homogéneos
Lesões físicas .417 .104 .260
Manipulou a vítima através de meios
(grupos de variáveis relacionadas entre si) (Carvalho,
tangíveis e intangíveis .071 .695 .383 2004; Oliveira & Carvalho, 2002). A conjugação
Violência com danos físicos para a vítima .391 .039 .215 da análise de clusters hierárquica (método do
Tipo de relacionamento agressor/vítima .282 .170 .226 vizinho mais afastado) e análise de Clusters K-
Premeditação da agressão da parte Means confirma a existência de quatro grupos
do agressor .066 .237 .151 distintos e permite identificar em que cluster cada
Onde estava a vítima antes da agressão .238 .370 .304 caso se situa. Cada um dos quatro clusters obtidos
Tratamento cordial da vítima .348 .014 .181 irá corresponder a um perfil criminal específico, que
Ameaça a vítima .571 .010 .290
irá definir a tipologia para o crime de abuso sexual
Agressor começa meigamente com
de crianças. Na Figura 1 estão identificados os
abraços e beijos até passar ao acto .002 .694 .348
Houve agressões físicas .447 .046 .247
respectivos clusters, conjuntamente com as
Ameaçou que voltava a atacar .667 .009 .338 categorias das variáveis estudadas.
Pediu para não contar a ninguém .030 .693 .361
Amável .529 .052 .290 Foram realizados novos procedimentos estatísticos
Reacção do agressor à resistência (ACM), com o objectivo de estudar o impacto das
da vítima .549 .467 .508 variáveis passivas ou de caracterização do
Agressor utilizou preservativo .012 .693 .353 comportamento criminal (variáveis socio-
Distância a que o agressor vive da vítima .306 .033 .169 demográficas da vitima e do agressor, variáveis
Tipo de penetração ou de tentativa
psicológicas, variáveis jurídico-penais). Estes
de penetração .375 .040 .208
procedimentos permitiram acrescentar à configu-
Penetração .340 .008 .174
Toques diversos do agressor .078 .239 .159
ração topológica do comportamento criminal
Cluster Number of Casea 1.003 .962 .982 características relativas ao agressor e à vítima e sua
Total variáveis activas 5.752 5.218 5.485 relação, fundamentais para a construção dos perfis
a.
Variável suplementar
criminais (Carvalho, 2004). No Quadro 3, são
apresentados os resultados obtidos a partir deste
procedimento estatístico.
seleccionadas. A primeira dimensão diferencia
aspectos do comportamento do agressor durante O perfil 1 foi designado por Intra-familiar -
a agressão e as consequências desses mesmos Inadequado, já que as características dos
compor-tamentos para a vítima. A segunda agressores que contribuem para gerar este grupo
dimensão diferencia as estratégias apresentadas revelam um inadequado cumprimento do papel
pelo agressor para cometer a agressão, onde se parental em relação à vítima. Este grupo é
destacam comportamentos como período do dia representado por 28 casos, o que corresponde a
para cometer a agressão, comporta-mentos de 21.37% da amostra estudada.
manipulação, premeditação e tipo de
comportamento sexual. A análise da distribuição Este perfil integra pais e padrastos, com idades
das categorias das variáveis, combinadas nas duas compreendidas entre os 26 e os 55 anos de idade,
dimensões obtidas, permite identificar uma tipologia que possuem profissões não qualificadas e
para os casos em estudo. habilitações baixas (Quadro 3). Podem apresentar
antecedentes criminais, mas por outro tipo de crime
Assim, a análise da Figura 1 permite definir uma e possuem registo formal relativamente à
configuração topológica do espaço relativo às variáveis dependência de consumo de substâncias. O
do comportamento criminal (variáveis activas), e que comportamento criminal engloba características
remete para uma distribuição dos casos segundo como a premeditação e um comportamento sexual
quatro tipos ou perfis criminais distintos. com nível de severidade elevado em termos de

10
artigo

Figura 1 - Configuração da tipologia do comportamento criminal: abuso sexual de crianças

consequências para as vítimas (penetração vaginal possuem registo de problemas de disfunção eréctil.
e anal). As agressões são cometidas na casa do O comportamento criminal engloba características
agressor/vitima. As vítimas são do sexo feminino e como a manipulação da vítima com recurso a
pertencem aos grupos etários dos 8-12 anos e dos estratégias de sedução e a agressão sexual e engloba
13 aos 16 anos. comportamentos de exibicionismo associados a
outro tipo de toques de natureza sexual. Quando a
O perfil 2 foi designado por Extra-familiar- criança resiste à agressão sexual, o agressor não
Regressivo, já que as características dos agressores executa a agressão. O crime é cometido quando o
que contribuem para gerar este grupo revelam o agressor tem acesso à vitima, sendo o mais frequente
recurso a estratégias de sedução para chegar à ir passear com a vitima. A análise das características
agressão sexual, quer através de comportamentos da vítima apenas diferencia informação relativa à
de suporte emocional (meios intangíveis) quer sua estrutura familiar: crianças institucionalizadas
através de dinheiro ou outros bens (meios tangíveis). ou que integram famílias reconstituídas.
Este grupo é representado por 27 casos, o que
corresponde a 20.61% da amostra estudada. O perfil 3 foi designado por Intra-familiar-Agressivo,
já que o comportamento destes agressores possui
Este perfil integra agressores que pertencem à rede indicadores de grande agressividade, com graves
de conhecimentos da criança-vizinhos/conhecidos. consequências para as vítimas. Este grupo é
São indivíduos com baixas habilitações, reformados representado por 14 casos, o que corresponde a
e sem registo criminal prévio (Quadro 3). Analisando 10.69% da amostra estudada e é o perfil com
a informação relativa a problemas no âmbito da menor expressão quando se analisam os 131 casos
saúde mental, verifica-se que alguns destes indivíduos da presente amostra.

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ousar integrar - revista de reinserção social e prova | n.º 4, 2009

Quadro 3 - Tipologia que representa os quatro perfis criminais


que definem os casos de abuso sexual de crianças estudados
Tipologia Características
Relação vitima agressor: pai, padrasto, na maior parte dos casos. Profissão do agressor: trabalhador não qualificado.
Habilitações do agressor: iletrados e 2º/3º ciclos. Estado civil: casados/comunhão de facto e divorciados/separados.
Idade do agressor: entre os 26 e os 55 anos de idade. Antecedentes criminais: por outro tipos de crimes (por
Perfil 1 exemplo, roubo). Perturbações psicológicas: história de efeito associado ao consumo de substâncias. Comportamento
(Intrafamiliar) criminal: apresenta estratégias de premeditação. Penetração anal e vaginal. As agressões são cometidas na casa do
Inadequado agressor ou agressor/vítima. Características da vítima: Idades: 8-12 anos e mais de 13 anos; sexo feminino;
habilitações literárias 2º/3º ciclos; integram famílias biparentais e um grupo mais reduzido vive em famílias de
acolhimento. Lesões/consequências para a vitima: destaque para situações de gravidez e doenças sexualmente
transmissíveis.

Relação vitima agressor: Conhecidos/vizinhos. Profissão do agressor: reformado; Habilitações do agressor: 1º


ciclo. Estado civil: viúvo. idade do agressor: sem prevalência. Antecedentes criminais: sem antecedentes criminais.
Perfil 2 Perturbações psicológicas: registo de problemas de disfunção eréctil. Comportamento criminal: recorre a estratégias
(Extrafamiliar) de manipulação das vítimas com recurso a sedução através de meios tangíveis ou intangíveis; apresenta toques
Regressivo diversos e comportamentos de exibicionismo, as agressões são cometidas quando o agressor passeia com a vítima;
pede à vítima para não contar nada; perante a resistência da vítima o agressor não executa a agressão. Características
da vítima: integram famílias reconstituídas ou podem estar institucionalizadas.

Relação vítima-agressor: pai e padrastos/companheiros da mãe. Profissão do agressor: integram profissões da área
dos serviços. Neste grupo podem identificar-se quadros psicopatologicos diversos e possuem antecedentes criminais
Perfil 3
pelo mesmo tipo de crime. Comportamento criminal: envolve comportamentos que recorrem à ameaça, força,
(Intrafamiliar)
mesmo quando a vitima apresenta resistência. As vítimas apresentam vários tipos de lesões, onde se englobam as
Agressivo
lesões genitais e anais. As agressões são cometidas na casa onde vivem. Em termos de estrutura familiar as vítimas
vivem com os pais e são crianças com idade inferior a 7 anos de idade.

Relação vitima agressor: vizinho/amigo da família, professores e desconhecidos, na maior parte dos casos. Profissão
do agressor: trabalhador qualificado ou desempregado. Habilitações do agressor: secundário e formação superior.
Estado civil: solteiro. Idade do agressor: 18-25 anos e mais de 55 anos de idade. Antecedentes criminais: sem
Perfil 4 registo formal. Perturbações psicológicas: sem registo formal. Comportamento criminal: comportamento não
(Extrafamiliar) premeditado; sem penetração, toques sexuais diversos; não ameaça a vitima e apresenta uma postura amável;
Sedução perante a resistência da vítima o agressor desiste da agressão. As agressões são cometidas em espaço público,
escola ou imediações. Características da vítima: Idades: 2-7 anos; sexo masculino tem maior prevalência; habilitações
literárias infantário; integram famílias monoparentais ou instituições. Lesões/consequências para a vitima: a criança
não apresenta lesões físicas.

Este perfil integra pais e padrastos, com profissões a sua procura para estabelecer uma relação de
da área de serviços e, em termos de história clínica, proximidade com a criança, que seja atractiva para
registo formal de quadros psicopatológicos diversos a vítima e que permita uma gratificação sexual para
(por exemplo, depressão, perturbações da personalidade). o agressor. Este grupo é representado por 62 casos,
Possuem antecedentes criminais pelo mesmo tipo de o que corresponde a 49% da amostra estudada e
crime (Quadro 3). A análise do comportamento é o perfil com maior expressão quando se analisam
criminal permite observar que este tipo de agressor os 131 casos da presente amostra.
recorre a comportamentos como a ameaça, força,
mesmo quando a vítima apresenta resistência. As Este perfil integra como agressores vizinho/amigo
vítimas apresentam vários tipos de lesões, onde se da família, professores e desconhecidos, na maior
englobam as lesões genitais e anais. As agressões parte dos casos. Em termos profissionais, os
são cometidas na casa onde vivem. Em termos de agressores são trabalhadores qualificados,
estrutura familiar, as vitimas vivem com a família podendo estar desempregados; são geralmente
nuclear e tendem a pertencer a um grupo etário mais solteiros, com idades compreendidas entre 18-25
jovem (até aos 7 anos de idade). anos e mais de 55 anos. Em termos de habilitações
literárias, correspondem ao grupo com índice mais
O perfil 4 foi designado por Extra-familiar-Sedução, elevado: secundário e formação superior. Não
já que o comportamento destes agressores revela apresentam registo formal de antecedentes criminais

12
artigo

ou perturbações psicológicas. A análise do atendendo às características dos agressores e à


comportamento criminal permite identificar um estrutura disfuncional das famílias onde as crianças
comportamento não premeditado, sem história de se encontram inseridas (por exemplo, Olson, 1982,
penetração e com registo de toques sexuais Quinn, 1984, citados por William & Finkelhor, 1990;
diversos; não ameaçam a vítima e apresentam uma Saunders, McClure & Murphy, 1986).
postura amável; perante a resistência da vítima, o
agressor desiste da agressão. As agressões são A análise do grau de relacionamento entre a criança
cometidas em espaço público, escola ou e o seu agressor replica, na generalidade, os dados
imediações. Este tipo de agressão sexual não está apresentados na literatura. No contexto extra-
associado a lesões físicas para a vítima. As vítimas familiar, o grupo mais representativo de agressores
possuem idades entre os 2 e os 7 anos e as são os vizinhos e conhecidos, o menos representativo
crianças do sexo masculino tem maior prevalência. é o dos desconhecidos (por exemplo, Danni &
Estas crianças integram famílias monoparentais ou Hampe, 2000, Wolf & Brit, 1997, citado por
vivem em instituições. Machado, 2002).

Os dados relativos aos agressores permitem


4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES identificar que o grupo etário mais significativo varia
entre os 36 e os 55 anos de idade, aspecto que se
Considerando os objectivos do presente trabalho, aproxima dos trabalhos apresentados por Cunha
importa agora salientar quais os principais (2000) e Russel (1983). Importa salientar que esta
contributos que podem ser apontados a este estudo amostra revela alguma heterogeneidade relativa-
exploratório sobre a caracterização do fenómeno mente ao grau de habilitações dos agressores e ao
do abuso sexual de crianças. tipo de profissões que desempenham, existindo aqui
um grupo minoritário, mas significativo, de
A análise dos dados obtidos permitiu replicar os indivíduos com profissões qualificadas e com
dados obtidos na literatura relativos à diferenciação habilitações de nível superior.
do comportamento criminal, tendo presente o
contexto intra-familiar e o extra-familiar para o Quanto aos antecedentes criminais, verifica-se que
crime de abuso sexual de crianças (Russel, 1983). a maior parte dos agressores não possui registo
Verifica-se que a maior parte da amostra possui criminal. Por sua vez, o grupo que apresenta história
uma relação familiar com a vítima e o tipo de criminal prévia integra, na maior parte dos casos,
relação que apresenta mais impacto é a do pai condutas delitivas noutros tipo de crime, onde se
biológico, seguido dos grupos compostos pelo grau destaca o roubo.
de parentesco de tio, padrasto/companheiro da
mãe e avô/companheiro da avó. Estes dados Não se podem generalizar, a partir destes dados,
apontam para uma percentagem de casos de conclusões objectivas sobre questões de
abuso sexual no interior da família um pouco reincidência criminal para este tipo de agressores,
superior aos apresentados na literatura para este já que este crime envolve aspectos muito específicos.
grupo. Na verdade, os estudos de Fischer & As características das vitimas, que devido aos
McDonald (1998, citado por Machado, 2002) e constrangimentos resultantes do processo de
de Danni e Hampe (2000) apresentam valores desenvolvimento possuem maior dificuldade em
ligeiramente superiores para o grupo de conhecidos denunciar as situações, os contextos onde ocorrem
e vizinhos em relação ao grupo dos familiares. as agressões sexuais e, por último, as características
heterogéneas dos agressores tornam difícil analisar,
O estudo dos indicadores de violência associados na presente investigação, o impacto da variável
ao comportamento criminal permitiu verificar que reincidência criminal.
os indicadores de maior agressividade se encontram
associados ao contexto intra-familiar, tal como seria A análise das variáveis de natureza psicológica indica
de esperar, tendo presentes estudos prévios que que a maior parte dos agressores não apresenta um
mostram que o abuso cometido no interior da família registo formal de problemas de saúde mental. Esta
envolve padrões de controlo e coação mais elevados, variável, tal como já foi referenciado, necessita de um

13
ousar integrar - revista de reinserção social e prova | n.º 4, 2009

estudo mais detalhado para se perceber, de forma Referências


objectiva, qual o impacto da variável história de
psicopatologia neste tipo de agressores sexuais. Para American Psychiatric Association (2002). Manual de
ultrapassar este tipo de problema, importa estudar os diagnóstico e estatística das perturbações mentais (4ª Ed.
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criminais que definem o mapa topológico da Finkelhor, D. (1980). Risk factors in the sexual victimization
amostra estudada, podem diferenciar-se dois perfis of children. Child Abuse and Neglect, 6, 265-273.
criminais que integram o grupo de agressores
definidos como situacionais (Perfil 1 - Intra-familiar/ Furniss, T. (1993). Abuso sexual de crianças: Uma
Inadequado e Perfil 2 - Extra-familiar/Regressivo) e abordagem multidisciplinar, manejo, terapia e intervenção
legal integrados. Porto Alegre: Artes Médicas.
outros dois que englobam características que
definem o comportamento dos preferenciais (Perfil Gomes, F. A., & Coelho, T. (2003). A sexualidade traída.
3 - Intra-familiar/Agressivo e Perfil 4 - Extra-familiar/ Abuso sexual infantil e pedofilia. Porto: Ambar.
Sedução) (por exemplo, Burgess, Groth &
Holmstrom, 1978, citado por Holmes & Holmes, Groth, A.N., Hobson, W. F., & Gary, T.S. (1982). The child
1996). Foi ainda possível diferenciar os perfis molester: Clinical observations. In J. Conte, & D. Shore
criminais que distinguem o contexto intra-familiar (Eds.), Social work and child sexual abuse (pp.129-142).
do contexto extra-familiar. No contexto extra- New York: Haworth.
familiar foram obtidos dois perfis criminais que
replicam o agressor regressivo (Perfil 2) e o agressor Holmes, R. M. (1991). Sex Crimes. Newbury Park: Sage.
de fixação (Perfil 4) definidos por estes autores.
Holmes, R. M., & Holmes, S. T. (1996). Profiling violent
crimes: An investigative tool. Newbury Park, CA: Sage.
Os perfis criminais de contexto intra-familiar obtidos
replicam os obtidos por Danni e Hampe (2000): o Howitt, D. (1995). Paedophilies and sexual offences against
Perfil 3 possui características do definido pelos autores children. UK: John Wiley & Sons.
como pedófilo e o Perfil 1 possui características do
grupo definido por agressores incestuosos. Machado, C. (2002). Abuso sexual de crianças. In C.
Machado, & R. Gonçalves (Coord.), Violência e vítimas
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constitui uma outra fonte de informação pertinente para theory. In D.R. Laws, & W. O' Donahue (Eds.), Sexual
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15

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