Introdução
1. O direito patrimonial
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objecto desse direito. Não há, por isso, uma coisificação da pessoa,
porque a pessoa é objecto, mas não titular do direito.
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Plano técnico-jurídico:
No plano técnico-jurídico, a distinção faz-se atendendo à
anatomia do direito em causa.
(Note-se, todavia, que um critério que se fundamente no
objecto dos direitos reais ou dos direitos obrigacionais não procede,
porque ambos os direitos pertencem ao direito patrimonial e,
portanto, dirigem-se tipicamente às coisas, quer se situem no
domínio, quer no acesso a essas coisas.)
A distinção no plano técnico-jurídico é feita pela doutrina
através da chamada teoria realista e teoria personalista.
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c) Doutrina dominante
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Toda a relação jurídica tem por objecto um bem, mas bem não
é necessariamente uma coisa. De facto, há bens coisificáveis e bens
não coisificáveis.
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b) As águas;
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apesar de estarem em constante deslocação, são
consideradas como imóveis, porque a sua
imobilidade advém da integração no solo. Daí que
um rio e as suas margens e leito devam ser
considerados, no seu todo, como um imóvel.
Porém, a água ganha carácter móvel quando retirada
de um lençol e colocada num conservatório,
parecendo dever ser qualificada como um fruto, dada
a sua renovação constante.
A propriedade das águas encontra-se regulada nos
arts. 1385º e seguintes CC.
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b) Valores de organização
Correspondem ao estabelecimento comercial. É uma coisa
incorpórea “sui generis”, porque tem no seu núcleo a ideia de
organização, a combinação de factores produtivos utilizados naquela
empresa (pessoas e coisas), mas esta ideia organizatória não
subsiste sem os factores produtivos que a concretizam e que
corporizam o estabelecimento. Trata-se de uma ideia organizatória
plasmada nos próprios factores de produção organizados de
determinada maneira e que só têm existência jurídica concretizada no
“corpus mechanicum”.
O estabelecimento comercial é então uma organização de
factores de produção, como as pessoas e as coisas, não se reduzindo
às coisas corpóreas, mas compreendendo também bens incorpóreos e
valores como a firma, nome do estabelecimento e insígnia (sinais
distintivos do estabelecimento) e, ainda, situações patrimoniais não
autónomas, como a clientela.
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disponente é uma coisa alheia e uma coisa que ele não tem ao tempo
da declaração ou não existe ou, se existe, é alheia.
Este conjunto não é uma coisa una, porque o seu conjunto não
é alvo de um direito real. Só cada coisa isoladamente o será.
A universalidade de facto é então uma coisa que existe apenas
enquanto conjunto de bens ligados por um valor de reunião, bens
esses que, entre si, se encontram numa posição de paridade, tendo o
mesmo valor quer agrupados, quer individualizados.
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f) Frutos e produtos
Art.212º CC: “Diz-se fruto de uma coisa tudo o que ela produz
periodicamente, sem prejuízo da sua substância.”
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− Carácter periódico
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Frutos → Civis
→ Naturais
Frutos naturais:
− Pendentes → ainda não se fez a separação (art.215º nº2
CC)
− Percebidos → já se fez a separação (art.213º nº1 e 215º nº1
CC)
− Percipiendos → podiam ter sido colhidos, mas não o foram
por culpa do detentor da coisa
− Maduros → aptos para a colheita (art.214º CC)
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Frutos ≠ Produtos
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Utilidades que das coisas derivam com carácter eventual
(ao contrário dos frutos que tem um carácter periódico). O produto é
o rendimento que não tem carácter periódico ou, tendo-o, a sua
produção causa prejuízo ao carácter da coisa.
Por outras palavras, produtos são, tal como os frutos,
derivações das coisas, mas que esgotam a sua substância, enquanto
os frutos, sendo colhidos periodicamente, não prejudicam a sua
substância.
Ex. A pedra extraída de uma pedreira não é um fruto, mas um
produto, uma vez que a sua extracção implica, como é óbvio, o
esgotamento do terreno.
g) Benfeitorias
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Capítulo I – A posse
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3. Os sistemas possessórios
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→ Sistema objectivo:
Para a concepção objectiva da posse, à qual se associa o nome
de Ihering, para que haja posse é necessário que exista um poder de
facto sobre determinado bem, bastando, portanto, que se verifique o
corpus. Dispensam-se especiais intencionalidades nesse exercício (o
animus).
→ Sistema subjectivo:
Para a concepção subjectiva, defendida por Savigny, para haver
posse é necessário que se verifiquem os dois elementos: o elemento
externo/fáctico (o corpus), enquanto poder de facto sobre o bem; e o
elemento interno/intencional (o animus), enquanto intenção de
exercer o poder de facto como se fosse titular do direito real
correspondente.
Mas, tal como a posse se adquire quando se reúnem os dois
elementos, a posse também se perde se se perdem os dois
elementos ou, do mesmo modo, se se perde só um deles (pode
acontecer que se perca só o elemento psicológico ou só o elemento
material). Por exemplo: perde-se o elemento material, quando a
coisa fosse é perdida, furtada ou usurpada por terceiro; por outro
lado, perde-se o elemento psicológico nos casos de constituto
possessório (o proprietário de um prédio vende-o, mas convenciona
com o adquirente que continua no prédio como locatário).
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Posse ≠ Detenção
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Art.1253º CC → corresponde ao exercício de um poder de
facto (corpus), sem que lhe corresponda um direito real, mas sim um
direito de crédito. Há um corpus e um animus detinendi. O simples
possuidor ou o possuidor precário não tem o animus possidendi.
Art.1253º CC:
a) Engloba os actos facultativos, em que os poderes de
facto são exercidos pelo detentor em consequência da
inércia do titular do direito ou da inércia do possuidor.
Nestes casos, quem exerce o poder de facto não tem
intenção de agir como beneficiário do direito.
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→ Coisas incorpóreas:
− Estabelecimento comercial → pode ser objecto de
posse, porque o estabelecimento não existe sem um lastro material.
Ele assenta em valores ostensivos, com relevo jurídico-económico
fora do próprio estabelecimento, valores esses, grande parte das
vezes, materiais. Além disso, o poder de facto da posse não tem que
ser um poder físico, pelo que basta que o estabelecimento, enquanto
organização de factores produtivos, se encontre na reserva de
disponibilidade empírica do sujeito. A posse pretende garantir a
exclusividade da disponibilidade destes bens ao seu titular. Logo,
parece não haver nada contra o facto de estes bens incorpóreos
serem passíveis de posse, desde que visem preservar a exploração
económica do estabelecimento comercial (o que constitui um
verdadeiro requisito para a sua classificação como coisa incorpórea).
− Ideias inventivas → também pode haver posse, já
que através desta é possível salvaguardar a exploração económica e
a exclusividade económica do bem, até porque a posse tem que ser
entendida como um poder empírico e não como um poder físico, de
reserva de exclusiva disponibilidade do bem.
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Grande parte da doutrina levanta
problemas quanto à admissão da usucapião destes bens.
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→ No caso de ocupação:
Coisas que nunca tiveram dono → a posse é
titulada.
Coisas perdidas:
o O achador sabe a quem pertence
a coisa → configura um caso de
usurpação: a posse é não titulada
e presume-se de má-fé.
o O achador não sabe a quem
pertence a coisa:
Não anuncia a coisa →
configura um caso de
usurpação: a posse é
não titulada.
Anuncia a coisa → o
achador tem o direito
de retenção da coisa,
ficando, desse modo,
com o direito de
propriedade da coisa.
→ No caso de acessão:
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A violência é, como se disse, uma característica relativa (válida
para o anterior adquirente). Contudo, a posse pode ser pacífica nas
relações imediatas e violenta nas relações mediatas.
Por exemplo, A adquire um bem a B, tendo sobre ele exercido
coacção moral. A, após a compra, continua a exercer ameaças sobre
B. A posse de A é uma posse violenta, porque adquiriu com coacção
moral.
Se o A transmite a coisa a C, sendo a posse de C pacífica e
continuando o A a exercer ameaças sobre B, a posse de C é pacífica
relativamente ao A e violenta relativamente ao B.
A posse de C não é violenta, mas está sob violência.
Aqui há um prolongamento no tempo da violência (coacção ou
ameaças).
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1) Aquisição Originária
A. Acessão
B. Ocupação
C. Usurpação
i. Por Prática Reiterada
ii. Por Inversão do Título de Posse
1. Por Oposição do Detentor
a. Explícita
b. Implícita
2. Por Acto de Terceiro
iii. Por Esbulho
A. Tradição Real
i. Tradição Explícita
1. Material
a. Tradição Directa
b. Tradição à Distância
2. Simbólica
a. Tradição das Chaves
b. Tradição documental
3. Emissão na posse
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2. Constituto Possessório
a. Bilateral
b. Trilateral
B. Tradição Ficta
1) Aquisição Originária
Na aquisição originária da posse, a posse do adquirente surge
“ex novo” na esfera da disponibilidade empírica do sujeito, porque
não depende geneticamente de uma posse anterior, nem quanto à
existência, nem quanto ao âmbito ou conteúdo, nem quanto à
extensão ou área de incidência. A aquisição apenas depende do facto
aquisitivo. A posse não tem causa em nenhuma posse anterior, mas
adquire-se contra ela ou apesar dela.
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prédio for maior do que o valor que este tinha antes, o autor da
incorporação adquire a propriedade dele, pagando o valor que o
prédio tinha antes das obras, sementeiras ou plantações.”
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A lei prevê aqui o critério do valor trazido ao
prédio, pelo que a titularidade do prédio depende do valor anterior do
prédio e do valor que a incorporação lhe trouxe.
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C. Usurpação
Conjunto de todas as formas originárias feitas sem ou contra
a vontade do anterior possuidor.
Reveste três modalidades: prática reiterada, inversão da
titularidade da posse, esbulho.
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a. Explícita
O detentor leva ao
conhecimento do possuidor a declaração de oposição. Por exemplo, o
arrendatário deixa de pagar a renda e declara que não paga, porque
considera que o apartamento é seu.
O acto em si é levado ao conhecimento do anterior possuidor e
é inequívoco quanto à inversão.
A declaração do detentor produz os seus efeitos de acordo com
a teoria da recepção da declaração (art.224º CC).
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b. Implícita
Não há qualquer declaração,
mas o acto do detentor é inequívoco, em si mesmo, de que o
detentor se arroga do direito real. Por exemplo, o arrendatário decide
vender o prédio em que está a morar, já que tem a convicção de que
é seu possuidor.
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Sendo o esbulho um facto
instantâneo, parece haver uma contradição entre a lei e o facto.
Por exemplo, um indivíduo furta um bem a outrem. De acordo
com este artigo, o desapossado, durante aquele ano, não perde a
posse. Todavia, o possuidor também tem a posse, porque é ele quem
tem o corpus e o animus. Estamos, então, perante duas situações
possessórias antagónicas que se excluem mutuamente.
O que este artigo, na verdade, quer dizer é que adquirida uma
posse por esbulho, a posse anterior extingue-se, mas durante um
ano ela goza da tutela possessória e, se for restituída a posse ao
possuidor esbulhado, a restituição retroage ao momento da privação.
2) Aquisição Derivada
A posse transmite-se, no âmbito da aquisição derivada da
posse, pela traditio da coisa, muito embora ela acompanhe o negócio
jurídico. Os negócios jurídicos não transferem a posse.
A aquisição derivada da posse é aquela em que a posse
adquirida se funda ou filia na existência de uma posse que se
encontrava, anteriormente, na titularidade de outra pessoa. A posse
depende jurídico-geneticamente da posse anterior quanto ao
conteúdo, amplitude e existência.
Há duas grandes modalidades:
1. Tradição real → tradição de um bem para a posse de
outrem.
2. Tradição ficta → a tradição é uma ficção legal, já que a lei
ficciona uma tradição da posse que efectivamente não
aconteceu.
A. Tradição Real
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i. Tradição Explícita
A aquisição derivada diz-se explícita, quando existe
um acto exterior que materializa ou simboliza a entrega ou
transmissão da coisa que é objecto de posse.
1. Tradição Material
Art.1263º b) CC: a posse transmite-se
pela entrega da coisa, sendo este acto de entrega, aquele em que se
manifesta a intenção de transmitir e adquirir a posse.
A tradição material pode ser directa ou à distância.
a. Tradição Directa
Há tradição material directa,
quando a coisa passa de mão em mão (coisas móveis) ou quando o
novo possuidor toma contacto directo com a coisa, como, por
exemplo, entrar no prédio (coisas imóveis).
b. Tradição à Distância
Designa-se tradição à distância
ou traditio longa manu, quando a tradição da coisa não é feita
directamente, mas com a coisa à vista. Tem lugar, por regra, em
relação a coisas imóveis.
2. Tradição Simbólica
A tradição é simbólica, quando o objecto
da posse não é transferido, antes se transfere um bem que simboliza
a entrega do objecto da posse. A tradição simbólica pode ser, por
exemplo:
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b. Tradição Documental
Traduz-se na entrega dos
documentos que simbolizam a posse. A entrega dos documentos tem
que conferir poderes empíricos sobre a coisa. Tem lugar em relação a
coisas corpóreas (móveis ou imóveis) e incorpóreas. Prevista, por
exemplo, no art.937º CC.
3. Emissão na Posse
A tradição faz-se por emissão na posse,
quando se realiza através de um conjunto de actos destinados a
colocar o adquirente em condições efectivas de exercer a posse, ou
seja, de poder explorar ou fruir a coisa. Verifica-se relativamente à
transmissão do estabelecimento comercial, em que é necessário o
adquirente tomar conhecimento dos segredos de fabrico, dos clientes,
dos fornecedores, etc.
O conhecimento do bem por parte do novo possuidor
consubstancia-se num conjunto de actos que concorram para o
mesmo fim: a transmissão do domínio de facto sobre o
estabelecimento.
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2. Constituto possessório
É a aquisição da posse sem efectivo
empossamento, isto é, sem entrada na posse e na detenção material
da coisa. Pode ser bilateral ou trilateral.
a. Bilateral
Art.1264º nº1 CC: “Se o titular
do direito real, que está na posse da coisa, transmitir esse direito a
outrem, não deixa de considerar-se transferida a posse para o
adquirente, ainda que, por qualquer causa, aquele continue a deter a
coisa.”
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b. Trilateral
O nº2 do art.1264º CC
consagra o Constituto Possessório Trilateral.
Há dois casos possíveis:
→ A é possuidor e B detentor. A transmite a posse a C (um
terceiro), mas os dois acordam que a detenção continua na
disponibilidade de B (que já era o detentor). Ainda assim considera-
se transmitida a posse para C.
→ A é possuidor e B detentor. A transmite a posse a B (antigo
detentor e novo possuidor), mas os dois acordam que a detenção
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B. Tradição Ficta
Art.1255º CC: “Por morte do possuidor, a posse continua
nos seus sucessores desde o momento da morte, independentemente
da apreensão material da coisa.”
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Trata-se de uma sucessão mortis causa.
A posse adquirida por sucessão mortis causa constitui uma
posse ficta, porque a lei ficciona que há um corpus e um animus.
Com a morte do possuidor, a posse só é adquirida no momento em
que o herdeiro aceita a herança (art.2050º nº1 CC).
Anteriormente, a herança permanece jacente, pelo que não há
qualquer apreensão material da coisa, logo não há corpus. De igual
modo, como o herdeiro não tinha manifestado vontade de adquirir,
não há animus.
A existência e a reunião destes dois elementos apenas se
verificam no momento em que o herdeiro aceita a herança. Logo,
entre a abertura da herança (o momento da morte – art.2031º CC) e
a aceitação não há posse. No entanto, a lei considera que, uma vez
aceite, a posse se adquire desde o momento da abertura da
sucessão, ficcionando assim a posse entre aqueles dois momentos,
isto é, uma vez aceite a posse, ela retroage ao momento da abertura
da sucessão (art.2050º nº2 CC).
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a) Conjunção sincrónica
Trata-se da existência de várias posses no mesmo plano
temporal.
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b) Conjunção diacrónica
Aqui existe uma junção de várias posses situadas em planos
temporais diferentes.
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O adquirente da posse junta
à sua posse a posse do anterior possuidor, desde que
ligadas por um nexo de derivação. A acessão serve, nestes
termos, para facilitar a aquisição do direito real por
usucapião, permitindo ao actual possuidor interessado em
usucapir encurtar o respectivo prazo, através da junção do
tempo de posse do anterior possuidor à sua posse. O
adquirente que adquire a posse acede ao direito real de
forma mais expedita.
Requisitos da acessão:
− Existência de um nexo de derivação entre as duas posses
(a aquisição originária quebra a acessão), desde que
essa derivação seja por título diferente da sucessão
mortis causa. Ou seja, a acessão não se verifica na
sucessão mortis causa, à qual se aplica a sucessão na
posse do art.1255º CC. Além disso, só acontece nas
formas de aquisição derivada da posse (“…sucedido…”).
Só nestes casos faz sentido.
− Só opera entre posses consecutivas, isto é, em relação
ao anterior possuidor (nas relações imediatas).
− A posse do acessor terá de ser pública e pacífica, ou
melhor, não pode ser exercida ou mantida com violência
ou ocultamente, nem estar sob violência ou sob
ocultação. Enquanto a posse do adquirente for violenta
ou oculta, o prazo de posse violenta ou oculta não é
junto. A duração do prazo da posse violenta ou oculta do
anterior possuidor não pode ser aproveitado pelo novo
possuidor.
− A acessão é facultativa e voluntária.
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Meios Extra-Judiciais:
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Meios Judiciais:
Estão aqui em causa as chamadas acções possessórias.
De facto, a posse confere a possibilidade de vir a juízo requerer
determinadas providências, mediante as chamadas acções
possessórias. Nessa medida, pode-se falar aqui de um contencioso
possessório para designar o conjunto destas acções, por oposição ao
contencioso petitório, representado fundamentalmente pelas acções
destinadas a defender a propriedade.
Recorrem-se a estas acções possessórias sempre que há um
facto jurídico-empírico que viola ou ameaça violar a posse, isto é,
quando o facto visa perturbar (“animus turbandi”) ou privar o
possuidor da posse (“animus spoliandi”).
As acções possessórias seguem a forma de processo comum.
Os meios judiciais são:
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alegar que é proprietário, não tendo que o provar. Ele beneficia dos
critérios de repartição do ónus da prova, que vai caber à outra parte,
no caso, o B. Este é que tem que provar que o proprietário não é o A,
mas sim ele.
Ressalta deste exemplo a capital importância desta presunção.
É que pode ser atribuída a propriedade ao possuidor (no exemplo, o
A), não porque este tenha conseguido provar que era o proprietário,
mas antes porque não foi provado que ele não o era.
Decorre daqui que, em situações de dúvida, ela é superada em
favor do possuidor, situações estas onde se espelha a doutrina de
que em igualdades de circunstâncias a posição do possuidor é melhor
(“in pari causa melior est condictio possidentis”).
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NOÇÃO:
Art.1287º CC: “A posse do direito de propriedade ou de outros
direitos reais de gozo, mantida por certo lapso de tempo, faculta ao
possuidor, salvo disposição em contrário, a aquisição do direito a cujo
exercício corresponde a sua actuação: é o que se chama usucapião.”
↓
Desta definição legal da usucapião ressalta a faculdade da
posse de reintegrar a coisa/o bem no seio da ordenação dominial
definitiva, através do instituto da usucapião, pelo qual a posse se
transforma no direito real em termos do qual a posse foi exercida.
Há, portanto, uma correspondência entre a posse exercida e o direito
real adquirido.
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REQUISITOS DA USUCAPIÃO:
a) Decurso do tempo → Varia consoante os bens em causa.
Faz-se a distinção entre bens imóveis e bens móveis. Dentro
dos imóveis temos que considerar as características de boa
e má-fé da posse e a existência ou não de título de registo
aquisitivo ou de registo da posse. Dentro dos bens móveis,
há a considerar se os bens estão ou não sujeitos a registo.
A lei fixa taxativamente o prazo.
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EFEITOS DA USUCAPIÃO:
Referiu-se já que a posse tem como efeito a aquisição de um
direito real.
O que ainda não se disse foi que “invocada a usucapião, os seus
efeitos retrotraem-se à data do início da posse” (art.1288º CC).
A confirmação da retroactividade da usucapião ao momento do
início da posse encontra-se, a respeito do direito de propriedade, no
art.1317º c) CC: “O momento da aquisição do direito de propriedade
é, no caso de usucapião, o do início da posse”.
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Regime da prescrição:
Art.300º CC → os prazos da usucapião são prazos
imperativos, sendo nulos quaisquer actos ou negócios que
visam reduzir ou aumentar os prazos da usucapião.
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Suspensão do prazo:
Verificada qualquer uma das causas que levam à suspensão do
prazo para usucapir, esta dá origem a uma paralisação do prazo e,
por isso, se já tiver decorrido algum, este não fica inutilizado, apenas
não continua a correr.
Tipos de suspensão:
a) de início → as causas da suspensão verificam-se
simultaneamente ao início da posse. Exemplo: art.318º
a) CC – “…não começa…” – se um cônjuge é titular do
direito e o outro é possuidor, o prazo suspende-se (não
começa a correr) enquanto durar o matrimónio. Daí
que no momento em que um dos cônjuges adquire a
posse de um bem de que o outro era titular, o prazo
suspende-se de início.
b) de curso → as causas da suspensão verificam-se
durante o exercício da posse. Exemplo: art.318º a) CC
– “…nem corre…” – se A tem a posse e, posteriormente,
se casa com B, que é o titular do direito, o prazo
suspende-se.
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Interrupção do prazo:
Verificada qualquer uma das causas que leva à interrupção do
prazo para usucapir, esta dá origem à inutilização do prazo. Cessando
o efeito interruptivo, começa a contar-se um novo prazo (art.326º
nº1 CC).
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1. Princípio da coisificação
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2. Princípio da actualidade
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3. Princípio da especialidade
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sobre uma coisa não é o mesmo que incide sobre outra coisa. Será
porventura igual, mas não será certamente o mesmo. Ora, isto não é
mais do que um corolário da ideia de que os direitos reais têm por
objecto coisas certas e determinadas, coisas individualizadas.
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4. Princípio da compatibilidade
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5. Princípio da elasticidade
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Crítica:
A livre criação de direitos reais permite um melhor
aproveitamento da riqueza dos bens.
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2. Princípio da causalidade
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Excepções:
1) Sistema do título:
− Há casos em que além da regularidade é necessário a
transmissão, sendo nesses casos um sistema de título
e de modo (ex. transmissão de bens móveis sujeitos a
registo).
− No caso de usucapião é possível adquirir
independentemente da boa-fé.
− É possível, em certos casos, adquirir quando o título
não é válido (ex. casos de protecção de terceiros de
boa-fé e casos de terceiro para efeitos de registo).
2) Sistema do modo: quando o acto de atribuição do bem, que
antecede a traditio (a entrega do bem) ou o registo for
inválido, gera-se a obrigação de restituição ao abrigo do
enriquecimento sem causa.
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Direito das Coisas FDUP
Regularidade do título:
Tem que ter em conta os vícios que geram a nulidade e/ou
anulação (invalidade).
Para o título ser regular a causa que lhe dá origem e, por
inerência, o próprio título, tem que ser existente, válido e procedente
(art.408º nº1 CC). A transmissão e a aquisição do título dependem
da sua regularidade, isto é, da sua existência, validade e procedência
(os negócios sobre coisas futuras ou indeterminadas não procedem).
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3. Princípio da consensualidade
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4. Princípio da publicidade
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Efeitos do registo:
→ Efeito imediato → Presunção da titularidade do direito – O
registo presume a existência de um direito real e presume
que ele pertence àquele cujo nome consta do registo. É uma
presunção ilidível, porque o registo subjaz com base no
documento que regula a transmissão. Por isso, o registo não
garante que o direito existe, mas garante que se ele existe
tem como titular a pessoa que o registou.
→ Efeito lateral → Tutela de terceiros de boa-fé (art.291º CC)
→ visa proteger aqueles que, encontrando-se numa mesma
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Limites à sequela:
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Excepções:
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que são “jura in re aliena” (direitos sobre coisa alheia) ou, pelo
menos, direitos sobre coisa não própria.
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A propriedade em geral
NOÇÃO:
O direito de propriedade é o poder pleno de uso e gozo de uma
coisa, ou melhor, é o poder pleno de uso, fruição e disposição de uma
coisa. Estes poderes conferidos pelo art.1305º CC podem não
coexistir na sua totalidade.
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− Acessão
− Etc.
DURAÇÃO:
− Perpétua (o direito de propriedade tem um carácter
perpétuo)
Casos excepcionais:
− Temporária ou a termo:
Art.1307º CC → propriedade temporária
Art.2286º CC → propriedade do
fideicomissário
− Resolúvel:
Art.927º CC → venda a retro
Art.960º CC → cláusula de reversão nos
contratos de doação
RESTRIÇÕES:
Art.1305º 2ª parte CC: “…dentro dos limites da lei e com
observância das restrições por ela impostas.”
Por exemplo:
Expropriações (art.1308º CC)
Requisições (art.1309º CC)
Restrições à vizinhança (art.1344º CC)
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− Meios judiciais:
Acção de reivindicação (art.1311º CC) →
manifestação por excelência da defesa da
propriedade. Esta acção é exercida pelo
proprietário não possuidor contra o detentor
ou possuidor não proprietário da coisa – só
pode utilizá-la o proprietário que não está na
posse contra o possuidor não proprietário.
Também se pode designar de acção petitória.
Pode existir também uma acção negatória: o
proprietário que está na posse da coisa
exerce essa acção para que seja repelida a
pretensão de outrem como proprietário da
coisa. Destina-se, portanto, a fazer negar um
outro direito real sobre a coisa, arrogado por
outrem, exercido ou não em termos de
perturbar o gozo da coisa.
Propriedade de imóveis
CONTEÚDO:
A propriedade de imóveis é regulada nos artigos 1344º e segs.
CC.
Esta figura abrange o imóvel rústico ou urbano, o espaço aéreo
correspondente à sua superfície, bem como o subsolo ou tudo o que
nele se contém e não desintegrado do domínio por lei ou negócio
jurídico. Esta ressalva entende-se porque há na CRP normas que
integram o domínio público certas riquezas subterrâneas (jazigos
minerais, águas minero-medicinais, etc.). Esses bens não pertencem
ao proprietário do terreno, porque estão integrados no domínio
público, embora o proprietário tenha uma posição especial
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Direito de compropriedade
NOÇÃO:
A figura da compropriedade apresenta-se-nos “...quando duas
ou mais posses são simultaneamente titulares do direito de
propriedade sobre a mesma coisa”, noção esta que consta do
art.1403º nº1 CC. Ela consiste, então, em vários direitos de
propriedade que incidem sobre quotas ideais ou intelectuais do bem
globalmente considerado.
Estes vários direitos de propriedade são qualitativamente
iguais, mas podem ser quantitativamente diferentes. Não obstante,
na falta de indicação em contrário no título constitutivo, as quotas
presumem-se quantitativamente iguais (art.1403º nº2 CC).
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NATUREZA JURÍDICA:
Este problema é passível de três soluções:
a) De acordo com a doutrina tradicional, perfilhada por Manuel
Rodrigues entre outros, a compropriedade resulta da
coexistência dos direitos de cada um dos contitulares sobre
uma quota ideal ou intelectual do bem. Assim, cada um dos
comproprietários tem direito a uma quota ideal não
especificada do objecto. (Vários direitos ↔ Vários objectos)
b) Segundo uma outra perspectiva apoiada por Luís Pinto
Coelho, não se trata aqui da coexistência de direitos
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REGIME JURÍDICO:
O problema central que aqui se põe é o de saber quais são as
possibilidades de ser praticado um acto sobre a coisa comum,
isoladamente, por um comproprietário ou por um grupo de
contitulares que não represente a totalidade dos contitulares dos
direitos que recaem sobre o objecto.
Quanto à possibilidade que todos têm de, por unanimidade,
praticar quaisquer actos sobre a coisa, ela não suscita dúvidas. O
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EXTINÇÃO DA COMPROPRIEDADE:
A compropriedade pode extinguir-se por via negocial: qualquer
comproprietário pode adquirir as quotas de quaisquer dos outros ou
mesmo de todos os outros.
Além desta, importa ainda referir a forma de extinção prevista
nos arts.1412º e 1413º CC, que estipulam o direito dos
comproprietários a exigir a divisão da coisa comum.
Pode, às vezes, clausular-se, durante um certo número de
anos, a indivisão da coisa. A lei admite essas cláusulas de indivisão,
mas limita a sua validade a cinco anos, podendo depois renovar-se
esse prazo.
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Direito de comunhão
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NATUREZA JURÍDICA:
A propriedade horizontal parece ter uma natureza dualista, ou
seja, ela é integrada por um concurso de dois direitos: direito de
plena propriedade sobre as partes privativas (sobre cada fracção
autónoma) e comunhão sobre as partes comuns.
(Apesar do art.1420º nº1 CC dizer que cada condómino é
“comproprietário das partes comuns do edifício”, deve ler-se aí
“contitulares”.)
Estes direitos estão ligados, de tal forma que na alienação do
direito de propriedade horizontal vão coenvolvidos a propriedade
sobre a parte privada e o direito de comunhão sobre as partes
comuns (art.1420º nº2 CC).
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Direito das Coisas FDUP
MODOS DE CONSTITUIÇÃO:
A propriedade horizontal pode ser constituída por negócio
jurídico, usucapião ou decisão judicial (art.1417º CC).
→ Por negócio jurídico:
Há várias modalidades negociais. Porém, em primeiro lugar, é
necessário que seja lavrado um título constitutivo de propriedade
horizontal por escritura pública. A atribuição de cada uma das
unidades a vários proprietários é que poderá ter lugar por diversas
vias negociais.
a) Pode um indivíduo, proprietário pleno e exclusivo de um
bloco habitacional, recém construído ou mesmo construído há já
muito tempo, constituir o regime de propriedade horizontal sobre
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NOÇÃO:
O usufruto é o direito de gozar – de usar e fruir – uma coisa ou
um direito de outrem, sem, todavia, afectar a substância do objecto
usufruído (art.1439º CC).
Reportando-nos à clássica tripartição dos poderes do
proprietário “jus utendi, jus fruendi e jus abutendi”, constatamos que
o usufrutuário detém apenas os dois poderes primeiramente
referidos: o “jus utendi” e o “jus fruendi”. O usufrutuário não detém,
assim, o “jus abutendi”, o poder de dispor da coisa.
Toda a situação de usufruto implica um concurso de direitos
reais. Onde existe um usufruto, coexiste uma propriedade esvaziada
do “usus” e do “fructus”.
Por esse motivo é esta propriedade classicamente designada
por “nua propriedade” ou propriedade de raiz.
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CARACTERÍSTICAS:
Com base no art.1439º CC podemos alinhavar algumas
características do direito de usufruto:
→ Temporariedade → O usufruto é um direito temporário e, no
comum dos casos, vitalício.
Este carácter resulta da circunstância de o usufruto se extinguir
pelo decurso do prazo, quando no título constitutivo foi estabelecido
um prazo, e da de o usufruto se extinguir igualmente pela morte do
usufrutuário (art.1476º nº1 a) CC).
Assim, desde que não haja prazo estipulado para duração do
usufruto, este extingue-se pela morte do titular desse direito.
Havendo prazo estipulado, o usufruto extingue-se no termo
deste, excepto se, antes de decorrido o lapso de tempo pelo qual foi
constituído, se verificar a morte do usufrutuário. Neste caso, o
usufruto extingue-se antes do decurso do prazo.
É este o regime aplicável às pessoas físicas, regime este em
que se encontra bem vincado o carácter “intuitus personae”. É que,
efectivamente, o usufruto é concedido a alguém durante um
determinado prazo, mas nunca para além da vida do beneficiário
(art.1443º CC).
No que respeita às pessoas colectivas, quer de direito público,
quer de direito privado, o art.1443º CC estabelece que a duração
máxima do usufruto é de trinta anos. Traduz-se aqui a preocupação
do legislador em limitar o usufruto. Se a lei utilizasse o mesmo
critério para a delimitação do prazo do usufruto para as pessoas
colectivas o mesmo critério que utiliza para a delimitação do prazo de
usufruto para as pessoas singulares poderiam surgir usufrutos
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LIMITES:
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DURAÇÃO:
De acordo com o art.1443º CC, a duração do direito de usufruto
não pode exceder a vida do usufrutuário ou, tratando-se de pessoa
colectiva, não pode exceder os 30 anos.
CONSTITUIÇÃO:
A constituição do direito de usufruto é regulada pelo art.1440º
CC. Segundo ele, o usufruto pode ser constituído por contrato,
testamento, usucapião ou disposição da lei.
O elenco apresentado por este artigo é um elenco não taxativo.
→ Contrato → Pode operar-se por duas formas distintas:
a) Constituição “per translationem”, que ocorre quando o
proprietário cria directamente ao terceiro o usufruto, detendo
ele a nua propriedade. Ex. A, pleno proprietário, passa para B
o usufruto, ficando com a nua propriedade.
b) Constituição “per deductionem”, que ocorre quando o
proprietário aliena a nua propriedade, ficando com o
usufruto. Ex. A, pleno proprietário, aliena a nua propriedade
a B, ficando com o usufruto.
Esta dupla possibilidade revela-se, desde logo, no domínio da
prestação de caução pelo usufrutuário. É que, nos termos do nº1 do
art.1469º CC, o usufrutuário está dispensado de prestar caução no
caso de o seu direito ter sido constituído mediante alienação com
reserva de usufruto, ou seja, no caso típico de constituição “per
deductionem”. Daí que o proprietário, se continuar a usufruir a coisa,
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DIREITOS DO USUFRUTUÁRIO:
Relativamente aos poderes do usufrutuário sobre o próprio
usufruto, dissemos já, que o usufrutuário pode alienar ou hipotecar o
seu direito de usufruto; pode defender esse seu direito, exercitando
acções possessórias ou acções do tipo da acção de reivindicação (a
chamada acção confessória do usufruto – “vindicatio usufrutus”).
Já no que toca aos direitos do usufrutuário sobre a coisa
usufruída, cite-se, em primeiro lugar, o art.1445º CC que apela para
o título constitutivo: “os direitos e obrigações do usufrutuário são
regulados pelo título constitutivo do usufruto; na falta ou insuficiência
deste, observar-se-ão as disposições seguintes”.
Significa isto que há uma certa variabilidade do conteúdo do
usufruto, uma vez que é possível estipular-se uma dimensão de
poderes e um conteúdo do usufruto varáveis de caso para caso.
Não existe, por isso, uma configuração rígida do usufruto. O
que acontece, normalmente, é que as partes abstêm-se de estipular,
havendo então lugar à aplicação de normas dispositivas. Nessa altura
o usufruto vê o seu conteúdo delimitado e conformado pelas normas
supletivas.
Esta liberdade de conformação interna do usufruto significa
que, em princípio, o usufruto incide sobre todas as utilidades da
coisa, podendo, porém, excluir-se uma ou outra utilidade da coisa. É
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coisa, ou seja, que o usufrutuário pode usar e fruir a coisa desde que
respeite o seu destino económico.
Daí decorre, “a contrario sensu”, que o usufrutuário não pode
alterar o destino económico da coisa usufruída. Não pode, por
exemplo, transformar um pomar ou prédio rústico num campo de
jogos. O destino económico que a coisa tem deve ser conservado. É
esta vinculação uma expressão da falta do “jus abutendi”, ou seja, da
falta do direito de dispor da coisa.
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→ Casos especiais:
Referimo-nos até agora ao usufruto em geral. Porém, a lei
regula, nos arts.1451º a 1467º CC, o usufruto de certas coisas, de
determinadas categorias de bens. Isto porque era necessária uma
previsão especial do usufruto que incida sobre certos objectos.
É que a natureza e a constituição destes objectos criam
problemas específicos, maxime no que se refere à individualização, à
determinação dos frutos.
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OBRIGAÇÕES DO USUFRUTUÁRIO:
As obrigações do usufrutuário iniciam-se mesmo antes do
começo do usufruto.
O usufrutuário deve, com efeito, nos termos do art.1468º nº1
a) CC, proceder a um inventário, isto é, deve relacionar os bens,
declarando o seu estado, bem como o valor dos móveis se os houver.
De seguida, de acordo com a alínea b) daquele artigo, deve o
usufrutuário prestar caução, se esta lhe for exigida.
Daí resulta que ao proprietário é tão lícito exigir a caução como
adoptar conduta inversa, nada exigindo.
A caução, porém, quando prestada, destina-se a cobrir a
responsabilidade do usufrutuário pela restituição da coisa no termo
do usufruto ou por quaisquer deteriorações que venha a causar na
coisa usufruída.
Ocorrem, todavia, certas situações em que há dispensa de
caução. São os casos previstos no art.1469º CC.
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EXTINÇÃO:
As causas de extinção do usufruto vêm referidas no art.1476º
CC.
→ Morte ou decurso do tempo → Art.1476º nº1 a): “O usufruto
extingue-se por morte do usufrutuário, ou chegado o termo do prazo
por que o direito foi conferido, quando não seja vitalício.”
É esta uma manifestação do carácter pessoal do usufruto. De
facto, sendo este constituído “intuitus personae” é lógico que, falecido
o usufrutuário, se extinga esse seu direito.
Por outro lado, tratando-se de um usufruto constituído por
tempo determinado, o decurso desse prazo acarreta necessariamente
o termo do usufruto.
→ Confusão → Art.1476 nº1 b): “O usufruto extingue-se pela
reunião do usufruto e da propriedade na mesma pessoa.”
Ocorre, aqui, uma situação semelhante à que, no âmbito dos
direitos de crédito, se designa por confusão. Assim, tal como as
obrigações se extinguem pela reunião na mesma pessoa das
qualidades de devedor e credor, também no domínio do usufruto, a
atribuição a um mesmo titular da propriedade de um bem e de um
direito de usufruto sobre esse bem acarreta, logicamente, a extinção
deste. Isto porque não pode haver encargos sobre coisa própria.
→ Não uso → Art.1476º nº1 c): “O usufruto extingue-se pelo
seu não exercício durante vinte anos, qualquer que seja o motivo.”
Assim, se o usufrutuário não exercer os poderes que lhe
competem, durante esse lapso de tempo, o usufruto extingue-se.
Uma nota importante a referir é a não aplicabilidade, neste
domínio, do regime da usucapião, o que implicaria serem aplicáveis
as causas de interrupção ou suspensão que sabemos valerem no
campo daquele regime da usucapião.
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NOÇÃO:
Direito de superfície (art.1524º CC) → Faculdade de construir
ou manter, perpétua ou temporariamente, uma obra em terreno ou
prédio alheio ou de nele fazer ou manter plantações.
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A PROPRIEDADE DO SOLO:
Questão que importa colocar-se a respeito desta matéria é
saber qual o sentido da propriedade do solo. Um indivíduo autoriza
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→ Durante a construção:
A terra que for escavada e separada do solo pertence-lhe, pelo
que poderá dar-lhe o uso que entender. Esta terra não pertence ao
superficiário, mas sim ao proprietário do solo. O mesmo se diga de
quaisquer coisas valiosas, quaisquer achados que sejam encontrados
no solo durante a construção.
→ Depois de feita a construção:
O proprietário continua a ter interesse depois da construção,
v.g., o resultante do art.1533º CC, que reserva para o proprietário do
solo a fruição do subsolo, embora não possa causar prejuízos ao
superficiário. Quer isto dizer que o proprietário pode fazer no subsolo
obras que não prejudiquem o superficiário e isto pode ter um
interesse económico, pois ele poderá aproveitar o subsolo e explorá-
lo (por exemplo, para explorar materiais, garagens, parques de
estacionamento, etc.). Continua a pertencer ao proprietário do solo a
fruição do subsolo, embora limitado a fazê-lo em termos de não
prejudicar o superficiário.
Além disso, o direito de superfície pode caducar, quer porque o
indivíduo não construiu (não uso do direito), quer porque,
construindo, a coisa é destruída e então o superficiário tem o poder
de, nos termos do art.1536º nº1 b) CC, reconstruir a obra ou renovar
a plantação. Mas, se não o fizer dentro do prazo estabelecido no
contrato constitutivo da superfície ou, no máximo, dentro de dez
anos, reconstitui-se a plena propriedade do proprietário do solo.
O proprietário tem, desta forma, sempre uma expectativa de
lhe vir a pertencer novamente a plena propriedade.
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CONSTITUIÇÃO:
Nos termos do art.1528º CC, o direito de superfície pode
constituir-se por contrato, testamento ou usucapião e pode resultar
da alienação de obra ou árvores já existentes, separadamente da
propriedade do solo.
→ Por acto negocial “inter vivos”, gratuito ou oneroso, o dono
do solo confere a outro indivíduo o direito de construir sobre ele.
Quando esse negócio seja oneroso, há uma contraprestação, que
pode ser efectuada de uma só vez ou por uma prestação anual,
temporária ou perpétua, consoante o acordo celebrado pelas partes
(art.1530º CC).
→ Por negócio “mortis causa” pode este direito constituir-se sob
a forma de legado. O testador pode, v.g., deixar o seu terreno a um
legatário e o direito de construir nele a outro legatário.
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EXTINÇÃO:
O direito de superfície extingue-se nos termos do art.1536º CC.
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NOÇÃO:
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Posto o que foi dito, realce-se que o que caracteriza este direito
real é a predialidade. O nosso direito não acolhe servidões pessoais.
↓
A servidão, enquanto aproveitamento das utilidades de um
prédio serviente, pode ser determinada em função das necessidades
económico-subjectivas do prédio dominante e não tendo em conta as
necessidades pessoais dos titulares. Só as necessidades que o titular
retira do prédio é que relevam, só essas é que são obectivo-
económicas. A medida da predialidade é fixada pelas necessidades
económicas decorrentes da exploração económica do prédio.
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CONSTITUIÇÃO:
Art.1547º nº1 CC: “As servidões prediais podem ser
constituídas por contrato, testamento, usucapião ou destinação do
pai de família.” Nº2: “As servidões legais, na falta de constituição
voluntária, podem ser constituídas por sentença judicial ou por
decisão administrativa, conforme os casos.”
→ Contrato → As servidões podem constituir-se por acordo
voluntário das partes.
→ Testamento → As servidões pode, também, constituir-se por
testamento. Será o caso de um indivíduo legar um prédio a alguém,
mas onerando o imóvel com uma servidão a favor de outrem.
→ Usucapião → As servidões podem, também, constituir-se por
usucapião, embora só sejam susceptíveis deste modo de aquisição as
chamadas servidões aparentes.
As servidões não aparentes não podem constituir-se por
usucapião (arts.1548º nº1 e 1293º a) CC). O art.1548º nº2 CC
define-as ao estatuir que “consideram-se não aparentes as servidões
que não se revelam por sinais visíveis e permanentes”.
As razões de ser deste regime é que as servidões não
aparentes, não se revelando por sinais visíveis, confundem-se muitas
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MODALIDADES:
Quanto ao título constitutivo:
→ Legais → Art.1547º nº2 CC: direito potestativo de
constituição coactiva de uma servidão sobre prédio alheio,
mediante pagamento de uma indemnização ao titular deste.
Encontram-se taxativamente previstas na lei. Podem ser
constituídas contra a vontade do titular, isto é,
potestativamente, nomeadamente através de sentença
judicial.
→ Voluntárias → Art.1547º nº1 CC: constituídas por contrato.
Resulta da vontade das partes, sem que exista preceito legal
que a imponha.
Quanto à aparência:
→ Aparentes
→ Não aparentes
Quanto ao conteúdo:
→ Positivas → Traduzem-se na permissão da prática de actos
sobre o prédio serviente. Por exemplo, servidão de
passagem.
→ Negativas → Impõem uma abstenção ao dono do prédio
serviente. Por exemplo, servidão de vistas ou servidão de
estilicídio.
→ Desvinculativas → Propostas por Oliveira Ascensão. O
conteúdo destas servidões é o de libertarem o prédio
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EXERCÍCIO:
O exercício das servidões vem regulado nos arts.1564º e segs.
CC.
A regra geral sobre esta matéria pode enunciar-se dizendo que
as servidões têm a actuação e o modo de exercício definido no título
constitutivo. É, portanto, o título constitutivo que determinará a
extensão e o exercício da servidão respectiva (art.1564º CC).
Se o título não for claro ou for insuficiente aplica-se o art.1565º
CC, que estatui no seu nº1 que “o direito de servidão compreende
tudo o que é necessário para o seu uso e conservação”. No fundo,
verificando-se esta circunstância da falta de clareza do título, há uma
ideia de realizar o equilíbrio de interesses entre o dono do prédio
dominante e do prédio serviente.
Configure-se agora, a título de exemplo, uma hipótese de
constituição de uma servidão de passagem, cujo título não é
suficientemente claro.
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Direito das Coisas FDUP
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MUDANÇA:
À mudança da servidão refere-se o art.1568º CC, que estatui
no seu nº1 que “o proprietário do prédio serviente não pode estorvar
o uso da servidão, mas pode, a todo o tempo, exigir a mudança dela
para sítio diferente do primitivamente assinado, ou para outro prédio,
se a mudança lhe for conveniente e não prejudicar os interesses do
proprietário do prédio dominante, contanto que a faça à sua custa”.
Há aqui a mesma ideia de conciliação de interesses, pois se o
proprietário de um prédio serviente tem conveniência em mudar uma
servidão, v.g., de passagem, sem isso prejudicar os interesses do
proprietário do prédio dominante, é-lhe lícito fazê-lo, desde que o
faça à sua custa.
Em obediência a esta ideia, a lei permite igualmente ao
proprietário do prédio dominante que, às suas custas, faça a
mudança da servidão, se tal lhe for conveniente e não prejudicar o
proprietário do prédio serviente (art.1568º nº2 CC).
EXTINÇÃO:
Os casos de extinção das servidões vêm previstos no art.1569º
CC.
→ Confusão → Art.1569º nº1 a) CC: “As servidões extinguem-
se pela reunião dos dois prédios, dominante e serviente, no domínio
da mesma pessoa”. É um caso de confusão, porque ambos os prédios
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NOÇÃO:
O direito real de habitação periódica aparece regulado no
decreto-lei 275/93, de 5 de Agosto. Ele, habitualmente também é
designado de “time-sharing”.
Ele pretende responder a necessidades turísticas, que se
traduzem no interesse de utilizar locais de residência durante um
curto período do ano.
É um direito real limitado de gozo que confere ao respectivo
titular o poder de habitar uma unidade de alojamento integrada num
prédio alheio (art.1º), destinado a fins turísticos durante um certo
período de tempo.
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DURAÇÃO (art.3º):
O direito real de habitação periódica é, na falta de indicação em
contrário, perpétuo, mas pode ser-lhe fixado um limite de duração
(ele pode ser temporário), que não pode ser nunca inferior a 15 anos
a contar da escritura pública que constitua o direito real (art.6º),
excepto se o empreendimento estiver ainda em construção, situação
na qual o prazo começará a contar a partir da data de abertura ao
público do empreendimento turístico (art.3º nº1).
Sem prejuízo do que acaba de ser dito, o direito real de
habitação periódica cumpre-se em períodos de tempo, que são
fixados em cada ano e que podem variar entre o mínimo de 7 dias
seguidos e o máximo de 30 dias seguidos (art.3º nº2). Relativamente
a este aspecto, atente-se no nº3 e no nº4 deste art.3º, que
estabelecem que os períodos de tempo devem ter todos a mesma
duração e que o último período de tempo de cada ano pode terminar
no ano civil subsequente ao seu início.
O título constitutivo deve mencionar o início e o termo de cada
período de tempo dos direitos (art.5º nº2 p)).
CONSTITUIÇÃO (art.6º):
O direito real de habitação periódica é constituído por escritura
pública (art.6º nº1) e sujeito a inscrição no registo predial (art.8º nº1
– este registo é constitutivo), que emite um título constitutivo deste
direito real.
Este título constitutivo que é emitido pelo registo predial é o
certificado predial, que é regulado nos arts.10º e segs.
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TRANSMISSÃO:
Como se disse supra, sobre a sua constituição, o direito real de
habitação periódica está incorporado num título constitutivo, o
certificado predial.
O regime de transmissão deste título (do certificado predial)
equipara-se ao regime de transmissão dos títulos de crédito (ex.
letras de câmbio, livranças, cheques, etc.). Isto significa que a sua
transmissão se faz por endosso bilateral, donde se conclui que, para
efeitos de transmissão e oneração, este direito real de habitação
periódica é tratado como coisa móvel (art.12º). E isto é assim, não
obstante ele ser considerado uma coisa imóvel nos termos do
art.204º nº1 d) CC.
A transmissão e a oneração do direito real de habitação
periódica está sujeita a registo nos termos gerais (art.12º nº1 in
fine). O registo, para este efeito, não é constitutivo, mas somente
declarativo.
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Art.656º/1 e 2 CC
A consignação de rendimentos é diferente dos outros direitos
reais de garantia porque pode visar o cumprimento da obrigação e
não serve apenas de garantia, isto é, é uma forma de garantia e
cumprimento da obrigação – art.659º e 661º/2. Também se distingue
dos outros direitos reais de garantia porque pode usar o cumprimento
da obrigação e dos juros, ou só o cumprimento da obrigação ou só o
cumprimento dos juros – art.656º/2. O que serve de garantia são os
rendimentos que ficam consignados ao credor e não os bens em si.
Forma
Art.660º/1 “…”;
Art.660º/2 “…” – registo meramente declarativo e não
constitutivo;
Modalidades – art.658º
Voluntária ou judicial. O art.665º faz uma série de remissões
sendo de salientar o art.694º – Pacto Comissário.
3.2. Penhor
Art.666º CC
Art.666º nº1 – o penhor só pode incidir sobre coisas móveis ou
créditos e outros direitos insusceptíveis de hipoteca.
Excluem-se do penhor:
Móveis sujeitos a registo porque podem ser hipotecados;
Universalidade, porque a coisa tem de ser certa;
Coisas acessórias, porque o penhor da coisa principal não
as abrange, salvo convenção em contrário – art.210º/2.
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3.3. Hipoteca
Art.686º CC
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Modalidades da hipoteca
1. Legais – art.704º;
2. Voluntária – art.712º;
3. Judiciais – art.710º;
Pacto Comissório
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Art.733º
Tal como o direito de retenção deriva da lei e se os seus
pressupostos se verificarem actuam de imediato.
Relativamente aos direitos em geral, de fonte legal, são
públicos e, por isso, cognoscíveis de terceiros, e os privilégios
creditórios não precisam de ser registados pelo facto de serem
públicos.
O que distingue os privilégios dos outros direitos é o facto de
serem garantias que se caracterizam pela «causa do credor», isto é,
visam acautelar os titulares de certos créditos.
ESPÉCIES
735º/1(PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS MOBILIÁRIOS) – abrangem
coisas móveis. Podem ser gerais ou especiais (nº 2).
Privilégios Creditórios imobiliários – abrangem coisas imóveis.
São sempre especiais.
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Pressupostos
1. Aquele que detém a coisa a detém ilicitamente e esteja
obrigado a entregá-la a outrem;
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Exemplos:
1. Art.1370º – comunhão forçada em paredes;
2. Art.1550º e ss. – servidões legais;
3. Art.1551º – direito potestativo que permite o afastamento da
servidão;
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Índice
Pág.
Introdução
Capítulo I – Dos direitos reais em geral -------------------------1
1. O direito patrimonial ----------------------------------------------1
2. As grandes formas de ordenação de domínio -------------------4
3. Direito das coisas e direitos da pessoa --------------------------5
4. Distinção entre direitos reais e direitos de crédito --------------7
a) Distinção no plano dos interesses e no plano
técnico-jurídico: a Teoria Realista e a Teoria
Personalista -------------------------------------------------7
b) Pertinência de cada uma das doutrinas ------------------10
c) Doutrina dominante ---------------------------------------12
5.Noção de direito das coisas e o paradigma da
“plena in re potestas” – ------------------------------------------14
6. Obrigações reais e ónus reais -----------------------------------14
7. Noção jurídica de coisa ------------------------------------------18
Classificação das coisas --------------------------------------21
a) Coisas móveis e imóveis ---------------------------------21
b) Coisas acessórias e partes integrantes ------------------24
c) Coisas corpóreas e coisas incorpóreas:
as obras de engenho e as invenções
industriais, o estabelecimento
comercial e os direitos sobre direitos -------------------25
d) Coisas presentes e futuras -------------------------------30
e) Universalidade de facto e universalidade
de direito --------------------------------------------------31
f) Frutos e produtos -----------------------------------------33
g) Benfeitorias -----------------------------------------------35
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