De acordo com a autora, A difusão de uma cultura democrática e científica no final do
Império criou uma disponibilidade mental e afetiva à ideia de república no Brasil. Além disso, a Proclamação da República é um episódio da modernização à brasileira; a palavra “república” no oitocentos fora associada as ideias de liberdade, progresso, ciência, etc. Para se estabelecer essa associação fora preciso uma grande empreitada da propaganda que estabeleceu uma relação dicotômica entre a república e a monarquia (tirania, soberania de um, chefe de autoridade, etc.); ou seja, construiu-se um par antônimo assimétrico nos termos de R. Koselleck. Na década de 1880 a dicotomia ganhou força por consequência de que o houve um esvaziamento de um dos maiores trunfos da monarquia: a ideia de estabilidade, paz e progresso em relação as anarquias e barbáries das repúblicas do resto da américa do sul, visto que naquele momento a maioria dos países já haviam encontrado relativa estabilidade com a república. O que nos interessa é que toda esse ganho de força das outras repúblicas não se passava sem o registro da imprensa. Nesse sentido, a paz imperial passa a ser vista como inércia e apatia de um povo infantilizado pelo poder centralizado. Cria-se um sentimento de inadequação temporal que se manifesta através do apelo por reformas; as novas ideias associadas a república redesenham as noções de tempo. As novas ideias que penetraram a sociedade brasileira davam novos significados ao ideal de progresso (e ao positivismo já existente), que transcendiam agora as relações materiais. Surge uma noção teleológica, um lugar pré-figurado de paisagem definida, que dava uma linearidade e ascendência. Essas novas ideias foram capazes de renovar as mentalidades. O que temos é uma geração deveras engajada na discussão acerca do cenário político, a fim de decifrar o caminho para o progresso. A autora aponta que a década de 80 é marcada por uma grande atividade de inteligência, jornais independentes se multiplicaram em função de um público ampliado; a produção teórica encontrava um público cada vez mais interessado em campanhas abolicionistas e republicanas. Em suma, a nova cultura chegou a um público mais amplo por decorrência da imprensa, das conferências públicas e da literatura – ocupando o espaço de cafés e ruas, pouco a pouco a cultura imperial fora desmoronando. Imagens e questões que não tardaram a adentrar também nos jornais. Nessa mesma maré, a literatura ganhara força e prestígio perante esse novo público, começava-se a se tornar possível viver de seus escritos. Nas ruas do rio havia a difusão dessa nova cultura, nas ruas ouviam-se as novas ideias e a partir disso grandes campanhas eram desencadeadas; surge uma renovada forma de fazer política. Dentre as ruas, a Rua do Ouvidor tinha a centralidade, sendo palco de grandes acontecimentos do país. Grandes nomes literários que eram adorados e repudiados nessa época e representam o caráter de transição, onde a rua estava sendo re- significada. A década de 80 marca a politização da sociedade e teve a rua como palco principal. O fim do século XIX é marcado também pelo orgulho de seu tempo, do período de modernidade. Não havia qualquer sensação de desencanto com a maquinaria, com o progresso, e nada atrelado ao mesmo. O que surgia, na realidade, era um enorme desejo pelo futuro, um anseio. Uma projeção extremamente positiva do mesmo. Um futuro que desmanche o passado, em termos políticos: a república desmanchando a monarquia. República tinha ligação, portanto, com o Futuro; seja como revolução ou evolução. Sendo assim, “Este artigo proclama, por sua vez, a operatividade do termo república na década de 1880. Em um contexto de desejo de futuro, como sinônimo simultâneo de democracia e ciência, república foi o nome brasileiro da modernidade”.