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Traduzido dos originais em Inglês

The Sermons of the Rev. Robert Murray M'Cheyne


Minister of St. Peter's Church, Dundee.
&
A Basket of Fragments
By R. M. M'Cheyne

Tradução e Revisão por William Teixeira e Camila Almeida


Capa por William Teixeira

1ª Edição: Janeiro de 2015

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

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Sumário

Prefácio ................................................................................................................................. 4

Reformação Pessoal e Na Oração Secreta ............................................................................... 5

Sermão 1 — A Voz do Meu Amado........................................................................................ 15

Sermão 2 — O Constrangedor Amor de Cristo....................................................................... 25

Sermão 3 — Pai, Eu Quero ................................................................................................... 35

Sermão 4 — Olhe Para Cristo Traspassado ........................................................................... 49

Sermão 5 — Cristo, o Único Refúgio ...................................................................................... 56

Sermão 6 — Pode Uma Mulher Esquecer? ............................................................................ 65

Sermão 7 — Gloriando-se na Cruz de Cristo .......................................................................... 71

Sermão 8 — Feliz És Tu, Ó Israel .......................................................................................... 78

Sermão 9 — Cristo, A Porta Para A Igreja .............................................................................. 87

Sermão 10 — Motivos Para Agarrar-se a Jesus ...................................................................... 91

Referências dos sermões que compõem este volume: .............................................................. 94

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Prefácio
Nosso coração transborda de gratidão e nossa boca de riso, pois alegre e reverentemente
reconhecemos: “Senhor, tu nos darás a paz, porque tu és o que fizeste em nós todas as nossas
obras. E seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus, e confirma sobre nós a obra das
nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos” (Isaías 26:12; Salmos 90:17).

Este é o segundo volume da série “10 Sermões, por Robert Murray M'Cheyne. Os primeiros 10
sermões têm sido abençoadores, o nosso forte anseio é que estes sejam tanto quanto ou mais
do que aqueles, e prosperem naquilo que a Deus aprouver.

Estes sermões são muito preciosos aos nossos olhos, cada um deles nos traz doces lembran-
ças e excelentes meditações. A pena do mui amado Sr. M’Cheyne é como que cheia da luz do
conhecimento de Deus e do calor da piedade bíblica. Aqui há a doutrina que é segundo a
verdadeira piedade.

Muito anelamos que mais e mais almas possam se beneficiar desses sermões simples, mui
bíblicos e por isso belos, confortadores, edificantes. Aqui há amor e um coração fervendo com
palavras boas ao Noivo de nossas almas. Acredito que a maior necessidade de nossos dias é
de homens que amem a Cristo mais do que tudo, e sejam constrangidos por este amor a ponto
de O seguirem em todo o tempo, com espadas de dois fios nas mãos e com os altos louvores
nas gargantas, com vestes alvas e óleo puro sobre suas cabeças. Onde estão os homens que
amam a Jesus Cristo mais do que tudo? Deus o sabe.

O desejo de nosso coração é que a trombeta que soou por Dundee, na Escócia, há quase
duzentos anos atrás com toque suave e impetuoso, toque outra vez, mas agora no Brasil, que
a suavidade console os santos; e o estrugir impetuoso desperte os mortos de seu sono terrível,
e os descuidados de Sião sejam alertados pelo som certo, solene e urgente do Evangelho de
nosso Senhor Jesus Cristo.

Que o Senhor lhe conceda Sua livre a soberana graça, para que te lembres destas palavras na
glória e bem-aventurança eterna, no Céu, ao lado de nosso mui Amado Senhor e Salvador
Jesus Cristo; e não no inferno na companhia de Satanás e seus demônios, e não em tormen-
tos eternos. Nas palavras do piedoso pregador escocês: “Pode ser verdadeiramente dito para
todo pecador que lerá estas palavras, que você foi agora chamado, advertido, convidado a
escapar da ira vindoura, e para lançar-se a Cristo, que está posto diante de você. Se você não
obteve o suficiente para salvar-se, você obteve o suficiente para condenar-te”.

William Teixeira.
10 de maio de 2014.

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Reformação Pessoal e Na Oração Secreta

[Trecho de “A Biografia de Robert Murray M'Cheyne”, por Andrew A. Bonar • Editado]

O Sr. M'Cheyne intitula o exame de seu coração e vida de “Reforma” e este começa assim:

É dever dos ministros neste dia, que comecem a reforma da Religião e de suas vidas, famí-
lias e etc., com confissão de pecados passados, fervente oração por direção, graça e pleno
propósito de coração. “Ele purificará os filhos de Levi” (Malaquias 3:3). Os ministros são
colocados à parte, por um tempo para esta finalidade.

I. Reforma Pessoal.

Estou convencido de que obterei a maior quantidade de felicidade presente, farei mais para
a glória de Deus e o bem do homem, e terei a plena recompensa na eternidade, através da
manutenção de uma consciência sempre lavada no sangue de Cristo, por ser cheio do
Espírito Santo em todos os momentos e por obter mais de toda a semelhança com Cristo
em mente, vontade e coração, que seja possível para um pecador redimido alcançar neste
mundo.

Estou convencido de que, sempre que algo exteriormente, ou o meu coração interiormente,
a qualquer momento, ou em qualquer circunstância, contradiz isto — se alguém deve insi-
nuar que não é para a minha felicidade presente e eterna, e para a glória de Deus e minha
utilidade, a manutenção de uma consciência lavada pelo sangue, o ser completamente
cheio do Espírito e ser totalmente conforme à imagem de Cristo em todas as coisas — é a
voz do Diabo, o inimigo de Deus, o inimigo da minha alma e de todo o bem, a mais tola,
ímpia e miserável de todas as criaturas. Veja Provérbios 9:17: “As águas roubadas são
doces”.

1. Para manter uma consciência livre de ofensa, estou convencido de que eu devo confes-
sar mais os meus pecados. Eu penso que eu devo confessar o pecado no momento em
que eu perceba que isto seja pecado. Se eu estiver no trabalho, ou em estudo, ou mesmo
na pregação, a alma deve lançar um olhar de aversão ao pecado. Se eu continuar com o
serviço, deixando o pecado não confessado, eu prossigo com a consciência sobrecarre-
gada, e acrescento pecado a pecado. Eu penso que devo, em certos momentos do dia, em
meu melhor momento, digo, depois do almoço e depois do chá, confessar solenemente os
pecados das horas anteriores, e buscar a sua remissão completa.

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Encontro que o Diabo frequentemente faz uso da confissão de pecado para incitar nova-
mente à pratica do mesmo pecado confessado, de modo que eu tenho temo confiar na
confissão. Devo solicitar Cristãos experientes sobre isso. No momento, eu acho que devo
me esforçar contra este terrível abuso da confissão, em que o Diabo tenta me assustar ao
confessar. Eu devo obter todos os métodos para perceber a vileza dos meus pecados. Eu
devo me considerar como um descendente condenado de Adão, como participante de uma
natureza oposta a Deus desde o ventre materno (Salmos 51), como tendo um coração cheio
de toda a maldade, que contamina cada pensamento, palavra e ação, durante toda a minha
vida, desde o nascimento até a morte.

Eu devo confessar muitas vezes os pecados da minha mocidade, como Davi e Paulo, meus
pecados antes da conversão, os meus pecados desde a conversão, pecados contra a luz
e conhecimento, contra o amor e a graça, contra cada pessoa da Divindade.

Eu devo olhar para os meus pecados à luz da santa Lei, à luz da face de Deus, à luz da
cruz, à luz do trono de julgamento, à luz do inferno, à luz da eternidade.

Eu devo examinar os meus sonhos, meus pensamentos vagueantes, minhas predileções,


minhas ações recorrentes, meus hábitos de pensamento, sentimento, palavra e ação; as
calúnias de meus inimigos e as reprovações e até gracejos dos meus amigos, para des-
cobrir os traços de meu pecado predominante, como assunto para a confissão.

Eu devo ter um dia estabelecido de confissão, com jejum, digamos, uma vez por mês.

Eu devo ter um número de escritos assinalados, para trazer o pecado à lembrança.

Eu devo fazer uso de todas as aflições do corpo, do julgamento interior, das carrancas da
providência sobre mim mesmo, da casa, da paróquia, da igreja, ou do país, como apelos
de Deus para a confissão de pecado. Os pecados e aflições dos outros homens devem me
chamar para o mesmo.

Eu devo, nas noites de Sabath, e nas noites de Comunhão de Sabath, ter um cuidado espe-
cial para confessar os pecados de coisas sagradas.

Eu devo confessar os pecados de minhas confissões, suas imperfeições, objetivos pecami-


nosos, tendência hipócrita e etc., e olhar para Cristo como tendo confessado meus pecados
perfeitamente sobre Seu próprio sacrifício. Eu devo ir a Cristo para o perdão de cada
pecado. Ao lavar o meu corpo, eu devo lavar cada parte. Devo ser menos cuidadoso ao
lavar a minha alma?

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Eu devo ver o golpe que foi feito nas costas de Jesus por cada um dos meus pecados. Eu
devo ver a infinita pontada impressa através da alma de Jesus como uma eternidade de
meu inferno por meus pecados, e por todos eles. Eu devo ver que naquele derramamento
de sangue de Cristo há um infinito pagamento excessivo por todos os meus pecados. Em-
bora Cristo não tenha sofrido mais do que a justiça infinita exigiu, contudo Ele não poderia
sofrer de modo algum, sem, antes, estabelecer um resgate infinito.

Quanto eu peco, sinto uma relutância imediata para ir a Cristo. Tenho vergonha de ir. Sinto
como se não fizesse nenhum bem em ir, como se estivesse fazendo de Cristo um ministro
do pecado, indo direto do cocho do suíno para a melhor veste, e mil outras desculpas; mas
estou certo de que essas são todas mentiras vindas direto do inferno. João argumenta o
caminho oposto: “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai” [1 João 2:1];
Jeremias 3:1 e mil outras Escrituras são contra isso. Estou certo de que não há nem paz
nem segurança provinda do mais profundo pecado, mas em ir diretamente ao Senhor Jesus
Cristo. Este é o caminho de Deus, da paz e da santidade. É tolice para o mundo e para o
coração obscurecido, mas este é o caminho.

Eu jamais devo considerar um pecado pequeno demais a ponto de não necessitar da aplica-
ção imediata do sangue de Cristo. Se eu lançar fora uma boa consciência, eu farei naufrágio
na fé. Nunca devo pensar que os meus pecados são tão grandes, tão graves, tão presun-
çosos como quando feitos de joelhos, ou na pregação, ou em um leito de morte, ou durante
uma doença perigosa, para me impedir de fugir para Cristo. O peso dos meus pecados
deve agir como o peso de um relógio: quanto mais pesado ele é, mais rápido ele o faz ir.

Eu não devo apenas me lavar no sangue de Cristo, mas vestir-me da obediência de Cristo.
Para cada pecado de omissão em mim, que eu possa encontrar uma obediência Divina-
mente perfeita e pronta para mim em Cristo. Para cada pecado de comissão em mim, que
eu não apenas possa encontrar um golpe ou uma ferida em Cristo, mas também uma
perfeita prestação de obediência em meu lugar, para que a Lei seja magnificada, a sua
maldição mais do que cumprida, sua demanda mais do atendida.

Muitas vezes a Doutrina de Cristo parece-me comum, bem conhecida, não tendo nada de
novo nela. E sou tentado a passar por ela e ir para alguma Escritura mais atrativa. Isto é o
Diabo de novo; uma mentira como uma brasa viva. Cristo é para nós sempre novo, sempre
glorioso. “Riquezas incompreensíveis de Cristo” [Efésios 3:8]; um objeto infinito e o único
para uma alma culpada. Eu devo ter certas Escrituras disponíveis, que conduzam a minha
alma cega diretamente para Cristo, tal como Isaías 45 e Romanos 3.

2. Para ser cheio do Espírito Santo, estou certo de que eu devo estudar mais a minha pró-

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pria fraqueza. Que eu devo ter um número de Escrituras prontas para serem meditadas tais
como Romanos 7 e João 15, para convencerem-me de que eu sou um verme desamparado.

Sinto-me tentado a pensar que eu sou agora um Cristão confirmado, que eu venci este ou
aquele desejo há muito tempo, que eu adquiri o hábito da graça oposta, de modo que não
há temor; que eu posso aventurar-me muito perto da tentação, mais perto do que os outros
homens. Isto é uma mentira de Satanás. A pólvora não pode adquirir por hábito, um poder
de resistir ao fogo, de modo a não produzir a faísca. Enquanto o pó está molhado, ele re-
siste à faísca, mas quando ele se torna seco, está pronto a explodir ao primeiro toque. En-
quanto o Espírito habita em meu coração, Ele me amortece para o pecado, de modo que,
se legalmente chamado a passar pela tentação, eu posso confiar que Deus me conduz.
Mas quando o Espírito me deixa, eu sou como pólvora seca. Oh, uma percepção disso!

Sinto-me tentado a pensar que há alguns pecados pelos quais não tenho gosto natural,
como a bebida forte, linguagem profana e etc., de forma que eu não preciso temer a tenta-
ção por tais pecados. Isto é uma mentira, uma mentira orgulhosa, presunçosa. As sementes
de todos os pecados estão em meu coração, e talvez de todas as mais perigosas são as
que eu não vejo.

Eu deveria orar e trabalhar pela mais profunda sensibilidade de minha fraqueza e impo-
tência do que jamais um pecador foi levado a sentir. Estou desamparado em relação a cada
concupiscência que sempre esteve, ou sempre estará no coração humano. Sou um verme,
um animal diante de Deus. Muitas vezes eu tremo ao pensar que isso é verdade. Eu sinto
como se não fosse seguro a mim, renunciar a toda força que habita interiormente, como se
fosse perigoso que eu sinta (o que é verdade) que não há nada em mim guardando-me do
pecado mais grosseiro e mais vil. Esta é uma ilusão do Diabo.

Minha única segurança é saber, sentir e confessar minha impotência, para que eu possa
pendurar-me no braço da Onipotência. Eu diariamente desejo que o pecado seja erradica-
do do meu coração. Eu digo: “por que Deus permite a raiz de lascívia, orgulho, raiva e etc.
no meu peito? Ele odeia o pecado, e eu o odeio também; por que Ele não o purifica?”. Eu
conheço muitas respostas a isto que satisfazem completamente o meu julgamento, mas
ainda assim, não me sinto satisfeito. Isso é errado. É correto estar cansado de estar pecan-
do, mas não é correto contender com meu presente “bom combate da fé”.

As quedas em pecado de professos me fazem tremer. Eu tenho sido afastado da oração, e


sobrecarregado de uma forma temerosa por ouvir ou ver o seu pecado. Isso é errado. É
correto tremer, e fazer de cada pecado de todo professo uma lição da minha própria impo-
tência, mas isso deveria levar-me mais para Cristo. Se eu estivesse mais profundamente

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convencido de meu completo desamparo, penso que não ficaria tão alarmado quando ouço
das quedas de outros homens.

Eu devo estudar aqueles pecados em que sou mais impotente, em que a paixão se torna
como um furacão e eu como uma palha. Nenhuma figura de linguagem pode representar a
minha absoluta falta de poder para resistir à torrente de pecado. Eu devo estudar mais a
onipotência de Cristo: Hebreus 7:25, 1 Tessalonicenses 5:23, Romanos 6:14; 5:9; cap. 10
e Escrituras semelhantes deveriam estar sempre diante de mim.

O espinho de Paulo (2 Coríntios 12), é a experiência da maior parte da minha vida. Isso
deve estar sempre diante de mim. Existem muitos métodos auxiliares de buscar a liberta-
ção dos pecados, que não devem ser negligenciados, como: casamento (1 Coríntios 7:2);
fuga (1 Timóteo 6:11, 1 Coríntios 6:18); vigiar e orar (Mateus 26:41); a Palavra, “está escrito,
está escrito”, assim, Cristo Se defendeu em Mateus 4. Mas a defesa principal é lançar-me
nos braços de Cristo como uma criança indefesa, e suplicar-Lhe que me encha com o
Espírito Santo. “Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. João 5:4-5 é uma passa-
gem maravilhosa.

Eu devo estudar mais sobre Cristo como um Salvador, como um Pastor, carregando a ove-
lha que Ele encontra; como um Rei, reinando nas e sobre as almas que Ele redimiu; como
um Capitão, lutando contra aqueles que lutam comigo (Salmos 35); como Aquele que se
comprometeu a conduzir-me através de todas as tentações e provações, mesmo impossí-
veis para a carne e sangue.

Muitas vezes sou tentado a dizer: “Como pode este Homem nos salvar? Como Cristo no
céu pode livra-me das paixões furiosas que sinto em mim, e das redes que sinto prendendo-
me?” Isto é o pai da mentira novamente! “Ele pode salvar perfeitamente” [Hebreus 7:5].

Eu devo estudar sobre Cristo como um Intercessor. Ele orou mais por Pedro, que era o
mais tentado. Eu estou em Seu peitoral. Se eu pudesse ouvir Cristo orando por mim na sala
ao lado, eu não temeria um milhão de inimigos. Contudo, a distância não faz diferença; Ele
está orando por mim.

Eu devo estudar mais sobre o Consolador, Sua Divindade, Seu amor, Sua onipotência.
Tenho encontrado por experiência que nada me santifica tanto quanto meditar sobre o
Consolador (João 14:16). E ainda assim, como é raro que eu faça isso! Satanás me afasta
disso. Muitas vezes sou como aqueles homens que disseram que não sabiam que havia
algum Espírito Santo. Eu nunca devo esquecer que meu corpo é habitado pela terceira
pessoa da Trindade. Somente pensar nisso, deve fazer-me tremer a pecar (1 Coríntios 6).

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Eu nunca devo esquecer que o pecado entristece o Espírito Santo, irrita e extingue-O. Se
eu quero ser cheio do Espírito Santo, sinto que devo ler mais a Bíblia, orar mais e vigiar
mais.

3. Para obter plena semelhança com Cristo, eu devo ter uma alta estima da bem-aventu-
rança disso. Estou persuadido de que a alegria de Deus está inseparavelmente ligada à
Sua santidade. Santidade e alegria são como luz e calor. Deus nunca provou dos prazeres
do pecado.

Cristo teve um corpo como o que eu tenho, mas Ele nunca provou um dos prazeres do
pecado, e por toda a eternidade, ele nunca provará um dos prazeres do pecado. Ainda
assim, a sua felicidade é completa. Seria minha maior felicidade ser desde já inteiramente
como Ele. Cada pecado é algo que me distancia do meu maior prazer. O Diabo se esforça
dia e noite para me fazer esquecer disso ou não acreditar nisso. Ele diz: Por que você não
desfruta deste prazer, tanto quanto Salomão ou Davi? Você pode ir para o céu também.
Estou convencido de que isso é uma mentira. Que a minha verdadeira felicidade seja
prosseguir e não mais pecar.

Eu não devo adiar o abandono de pecados. Agora é o tempo de Deus. “Apressei-me, e não
me detive” [Salmos 119:60]. Eu não deveria poupar os pecados, porque eu tenho há muito
tempo consentido com eles como enfermidades, e outros achariam estranho se eu devesse
mudar tudo de uma vez. Que ilusão miserável de Satanás isto é!

Tudo o que eu percebo ser pecado, eu devo, a partir desta hora, colocar toda a minha alma
contra ele, usando todos os métodos bíblicos para mortificá-lo, como as Escrituras, oração
especial pelo Espírito, jejum e vigilância.

Eu deveria observar rigorosamente as ocasiões em que eu caí, e evitar a ocasião, tanto


quanto o próprio pecado.

Satanás muitas vezes me tenta a ir tão perto quanto possível das tentações, sem cometer
o pecado. Isto é temeroso, pois isso tenta a Deus e entristece o Espírito Santo. É uma trama
profunda colocada por Satanás.

Eu devo fugir de toda a tentação, de acordo com Provérbios 4:15: “Evita-o; não passes por
ele; desvia-te dele e passa de largo”. Eu devo, constantemente, derramar o meu coração a
Deus, orando por inteira conformidade com Cristo, para que toda a lei seja escrita no meu
coração. Eu devo resoluta e solenemente entregar meu coração a Deus, entregar o meu
tudo em Seus braços eternos, de acordo com a oração de Salmos 31: “Nas tuas mãos

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entrego o meu espírito”, suplicando-Lhe para não deixar que qualquer iniquidade, secreta
ou presunçosa, tenha domínio sobre mim e me encha de toda graça que está em Cristo no
mais elevado nível que for possível para um pecador redimido recebê-la, e em todos os
momentos, até a morte.

Eu devo meditar muitas vezes no Céu como um mundo de santidade, onde todos são san-
tos, onde a alegria é uma alegria santa, a obra uma obra santa; de modo que, sem a san-
tidade pessoal, eu nunca posso estar ali. Eu devo evitar a aparência do mal. Deus me
ordena, e eu encontro que Satanás tem uma arte singular em associar a aparência e a
realidade, confundindo-as.

Eu encontro que falar de alguns pecados contamina a minha mente e me leva à tentação,
e encontro que Deus proíbe até mesmo os santos de falarem das coisas que são feitas por
eles em oculto. Eu deveria evitar isso.

Eva, Acã, Davi, todos caíram através da concupiscência dos olhos. Eu devo fazer uma
aliança comigo, e orar: “Desvia os meus olhos de contemplar a vaidade”. Satanás torna os
homens não-convertidos como a víbora surda, ao som do Evangelho. Eu devo orar para
ser feito surdo pelo Espírito Santo a todos que querem me seduzir ao pecado.

Um de meus momentos mais frequentes de ser levado à tentação é esse: Eu digo que é
necessário para o meu ofício que eu escute isso, ou olhe para isso, ou fale disso. Até agora,
isto é verdadeiro; ainda assim, tenho certeza que Satanás tem sua parte nesse argumento.
Eu devo procurar a direção Divina para resolver o quanto isso será benéfico para o meu
ministério, e quão maligno para a minha alma, para que eu possa evitar este último.

Estou convencido de que nada está prosperando na minha alma a menos que isso esteja
acontecendo: “Crescei na graça”, e “Senhor: Acrescenta-nos a fé”, e “Esquecendo-me das
coisas que atrás ficam”. Estou convencido de que eu deveria estar perguntando a Deus e
ao homem que graça eu necessito, e como eu posso tornar-me mais semelhante a Cristo.
Eu devo lutar por mais pureza, humildade, mansidão, paciência sob o sofrimento e amor.
“Faça-me semelhante a Cristo em todas as coisas” deve ser a minha constante oração.
“Enche-me com o Espírito Santo”.

II. Reforma na Oração Secreta.

Eu não devo omitir qualquer uma das partes da oração: confissão, adoração, ação de
graças, petição e intercessão.

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Há uma temerosa tendência de omitir a confissão, proveniente dos baixos pontos de vista
sobre Deus e Sua lei, débeis visões de meu coração e pecados passados de minha vida.
Isso deve ser resistido. Há uma tendência constante para omitir a adoração, quando eu
esqueço com Quem eu estou falando, quando eu corro descuidadamente da presença do
Senhor, sem lembrar-me de Seu nome e caráter temíveis, quando eu tenho pequena visão
de Sua glória, e pouca admiração por Suas maravilhas. “Onde está o sábio?”. Tenho a
tendência natural do coração para omitir a ação de graças. Ainda assim isto é especial-
mente ordenado em Filipenses 4:6. Muitas vezes, quando o coração está egoísta, insen-
sível para a salvação dos outros, eu omito a intercessão. Embora, este é especialmente o
espírito do grande Advogado, que tem o nome de Israel sempre em Seu coração.

Talvez nem toda oração precise ter todas estas, mas com certeza, um dia não deveria pas-
sar sem algum tempo fosse dedicado a cada uma.

Eu deveria orar antes de ver qualquer pessoa. Muitas vezes, quando eu durmo muito, ou
encontro-me com outros logo cedo, e depois, tenho a oração familiar, e café da manhã, e
pessoas que me procuram pela manhã, frequentemente são onze horas ou meio-dia, antes
que eu comece a oração secreta. Isto é um sistema miserável. Isto é antibíblico. Cristo
ressuscitou antes do amanhecer, e foi para um lugar solitário. Davi diz: “Pela manhã ouvirás
a minha voz, ó Senhor; pela manhã apresentarei a ti a minha oração, e vigiarei” [Salmos
5:3]. Maria Madalena foi ao sepulcro, sendo ainda escuro. A oração familiar perde muito de
sua força e doçura; e eu não posso fazer nada de bom por aqueles que vêm me procurar.
A consciência sente-se culpada, a alma em jejum, a lâmpada não avivada. Então, quando
a oração secreta vem, a alma está muitas vezes fora de sintonia. Eu sinto que é muito
melhor começar com Deus, ver Seu rosto primeiro, aproximar a minha alma dEle, antes
que eu me aproxime de outrem. “Quando acordo ainda estou Contigo” [Salmos 139:18].

Se eu dormi por muito tempo, ou viajar cedo, ou se o meu tempo é de qualquer forma abre-
viado, é melhor vestir-me apressadamente, e ter alguns minutos a sós com Deus do que
dar isto por perdido.

Mas, em geral, é melhor ter pelo menos uma hora a sós com Deus, antes de se envolver
em qualquer outra coisa. Ao mesmo tempo, tenho que ter cuidado para não contar a comu-
nhão com Deus por minutos ou horas, ou pela solidão. Tenho me debruçado sobre a minha
Bíblia e de joelhos por horas, com pouca ou nenhuma comunhão, e meus momentos de
solidão têm sido, muitas vezes, os de maior tentação.

Quanto à intercessão, eu devo interceder diariamente pela minha própria família, conheci-
dos, parentes e amigos; também pelo meu rebanho: os crentes, os despertados, os descui-

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dados, os doentes, os enlutados, os pobres, os ricos, meus anciãos, os professores da
Escola Dominical, professores da escola diária, crianças e distribuidores de sermões; para
que todos os meios sejam abençoados: a pregação e ensino de Sabath, a visita aos
doentes, a visita de casa em casa; providências e sacramentos.

Eu devo diariamente interceder brevemente por toda a cidade, pela Igreja da Escócia, por
todos os ministros fiéis, pelas congregações, pelos estudantes de teologia e etc., pelos que-
ridos irmãos nominalmente, por missionários enviados aos judeus e Gentios, e para este
fim, eu preciso compreender a inteligência missionária regularmente, e familiarizar-me com
tudo o que estão fazendo em todo o mundo. Isso deveria me estimular a orar com um mapa
diante de mim. Tenho que ter um esquema de oração, também os nomes dos missionários
marcados no mapa. Eu devo interceder, em geral, mais na manhã e noite de Sabath, das
sete às oito.

Talvez eu também possa tomar diferentes partes em diferentes dias; eu apenas devo plei-
tear diariamente por minha família e rebanho. Eu devo orar sobre tudo. “Não estejais inquie-
tos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus
pela oração e súplica, com ação de graças” [Filipenses 4:6]. Muitas vezes eu recebo uma
carta me solicitando para pregar, ou algum pedido semelhante. Encontro-me respondendo
antes de ter pedido conselho a Deus. Ainda mais frequentemente uma pessoa me chama
e me pede alguma coisa, e eu não solicito direção. Muitas vezes eu saio para visitar uma
pessoa doente com pressa, sem pedir Sua bênção, o que por si só pode fazer a visita de
alguma utilidade. Estou convencido de que eu nunca devo fazer nada sem oração, e, se for
possível, especial oração secreta.

Ao ler a história da Igreja da Escócia, eu vejo o quanto seus problemas e tribulações têm
sido relacionados com a salvação das almas e a glória de Cristo. Eu devo orar muito mais
por nossa igreja, por nossos principais ministros nominalmente, e pela minha própria clara
orientação no caminho correto, para que eu não seja levado a desviar-me, ou me conduza
de modo a desviar-me de seguir a Cristo. Muitas questões difíceis podem ser forçadas
sobre nós para as quais eu não estou totalmente preparado, como a legalidade das alian-
ças. Eu deveria orar muito mais em dias de paz, para que eu possa ser guiado corretamente
quando os dias de tribulações vierem.

Eu devo passar as melhores horas do dia em comunhão com Deus. Este é a minha mais
nobre e mais frutífera ocupação, e isto não deve ser empurrado para qualquer canto. As
primeiras horas da manhã, de seis às oito, são as mais ininterruptas, e, portanto, devem
ser assim empregadas, se eu puder evitar a sonolência. Um pouco de tempo após o almoço

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pode ser dedicado à intercessão. Após o chá é o meu melhor horário, e este deve ser
solenemente dedicado a Deus, se possível.

Eu não devo abandonar o velho e bom hábito de orar antes de ir para a cama; mas a vigi-
lância deve ser mantida contra o sono; planejar as coisas que devo pedir é o melhor remé-
dio. Quando eu despertar no meio da noite, eu devo levantar-me e orar, como Davi e como
John Welsh fizeram.

Eu devo ler três capítulos da Bíblia, em segredo, todos os dias, no mínimo.

Eu devo, no Sabath, pela manhã, olhar todos os capítulos lidos durante a semana, e especi-
almente os versículos marcados. Eu devo ler em três diferentes lugares, e devo também ler
de acordo com os temas, biografias e etc.

Ele, evidentemente, deixou isso inacabado, e agora ele O conhece como também é conhe-
cido.

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1
A Voz do Meu Amado

“Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes,
pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do
veado; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando
pelas grades. O meu amado fala e me diz: Levanta-te, meu amor, formosa minha, e
vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem as flores
na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra.
A figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma;
levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Pomba minha, que andas pelas fendas
das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz,
porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa. Apanhai-nos as raposas, as
raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor. O
meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios.
Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante
ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter.” (Cânticos 2:8-17)

Não há nenhum livro da Bíblia que proporcione um melhor teste da profundidade do Cristia-
nismo de um homem do que o Cântico dos Cânticos. (1) Se a religião de um homem estiver
toda em sua cabeça, uma estrutura bem definida de doutrinas, construída como trabalho
de pedreiro, pedra sobre pedra, mas não exercer nenhuma influência sobre o seu coração,
este livro não pode deixar de ofendê-lo; pois, nele não há declarações rígidas de doutrina
sobre as quais a sua religião sem coração possa ser construída. (2) Ou, se a religião de um
homem for toda em sua imaginação; se, como Flexível em O Peregrino, ele seja levado
pela beleza exterior do Cristianismo; se, como a semente lançada sobre o solo rochoso, a
sua religião é estabelecida apenas nas faculdades superficiais da mente, enquanto o
coração permanece rochoso e impassível; embora ele desfrute deste Livro, mais do que o
primeiro homem, ainda assim, há um ar misterioso de íntima comoção nele, em que não
pode senão fazê-lo tropeçar e ofender-se. (3) Mas se a religião de um homem for a religião
do coração; se ele não tem não apenas doutrinas em sua cabeça, mas o amor de Jesus
em seu coração; se ele não tem somente ouvido e lido do Senhor Jesus, mas tem sentido
a sua necessidade dEle, e foi levado a apegar-se a Ele, como o primeiro entre dez mil, e

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totalmente desejável, então este livro será inestimavelmente precioso para sua alma; pois
contém os mais ternos suspiros do coração do crente pelo Salvador, e os mais ternos
desejos do coração do Salvador em direção ao crente.

“O seu assunto é totalmente sublime, espiritual e místico; e as formas de sua composi-


ção, universalmente alegóricas” — John Owen.

Há uma concordância entre os melhores intérpretes deste Livro — (1) Que ele consiste não
de um cântico, mas de muitas canções; (2) que esses cânticos estão em uma forma
dramática; e (3) que, como as parábolas de Cristo, elas contêm um significado espiritual,
sob a veste e ornamentos de alguns episódios poéticos.

A passagem que eu li compõe um destes cânticos dramáticos, e o tema deste é uma visita
repentina que uma noiva oriental recebe de seu senhor ausente. A noiva é representada
para nós como sentada sozinha e desolada em um quiosque, ou bosque oriental — um
lugar seguro e de retraimento nos jardins do Oriente — descrito por viajantes modernos
como “um bosque cercado por um muro verde, coberto por videiras e jasmins, com janelas
de gelosias”.

Os montes de Beter (ou, como estão no limiar, os montes da divisão), os montes que a
separam de seu amado, parecem quase intransponíveis. Eles parecem tão íngremes e
escarpados, que ela teme que ele nunca mais consiga vir por sobre eles para visitá-la. Seu
jardim não possui nenhuma beleza que a atraia a seguir adiante. Toda a natureza parece
participar de sua tristeza; o inverno reina por fora e por dentro; nenhuma flor aparece na
terra; todos os pássaros canoros parecem estar tristes e silenciosos sobre as árvores; e a
voz de amor da rola não é ouvida na terra.

É enquanto ela está sentada, assim, solitária e desolada que a voz de seu amado alcança
o seu ouvido. O amor é rápido em ouvir a voz que é amada; e, portanto, ela ouve mais rápi-
do do que todas as suas donzelas, e o cântico inicia com a sua exclamação impetuosa:
“Esta é a voz do meu amado!”. Quando ela sentou-se em sua solidão, as montanhas entre
ela e seu senhor pareciam quase intransponíveis, elas eram tão elevadas e íngremes; mas
agora ela vê com que rapidez e facilidade ele salta estes montes, de forma que ela pode
compará-lo a nada além de um gamo, ou ao jovem cervo, as criaturas mais formosas e
mais rápidas das montanhas. “O meu amado é semelhante ao gamo, ou ao filho do veado”.

Sim, enquanto ela está falando, ele já chegou ao muro do jardim; e agora, eis que “ele olha
pelas janelas, espreitando pelas grades”. A noiva, a seguir, nos relata o convite suave, que
parece ter sido o cântico de seu amado vindo tão rapidamente sobre os montes. Enquanto

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ela se sentava solitária, toda a natureza parecia morta, o inverno reinava; mas agora ele diz
a ela que ele trouxe o tempo da primavera, juntamente consigo. “Levanta-te, meu amor, for-
mosa minha, e vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva cessou, e se foi; aparecem
as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. A
figueira já deu os seus figos verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma; levanta-te, meu
amor, formosa minha, e vem”.

Movida por este convite premente, ela sai de seu lugar de retraimento para a presença de
seu senhor, e se apega a ele como uma temerosa pomba das fendas das rochas; e, em se-
guida, ele se dirige a ela com estas palavras da mais terna e delicada afeição: “Pomba mi-
nha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face,
faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face graciosa”. Alegremente
concordando em ir adiante com seu senhor, ela ainda lembra que esta é a época de maior
perigo para as vinhas, devido as raposas que mordiscam a casca das vinhas; e, portanto,
ela não sairá sem deixar o comando de cautela para as suas donzelas: “Apanhai-nos as
raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”.

Ela, então, renova a aliança de seu casamento com o seu amado, com estas palavras de
pertinente afeição: “O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre
os lírios”. E por fim, por ela saber que esta temporada de comunhão íntima não durará, já
que o seu amado deve sair novamente sobre os montes, ela não suportará que ele vá, sem
rogar-lhe que frequentemente renove estas visitas de amor, até que amanheça aquele dia
feliz em que eles não mais precisaram estar separados: “Até que refresque o dia, e fujam
as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre
os montes de Beter”.

Podemos muito bem desafiar o mundo inteiro de gênios para produzirem em qualquer
idioma um poema como este — tão pequeno, tão abrangente, tão delicadamente bonito.
Porém, o que é muito mais para o nosso atual propósito, não há nenhuma parte da Bíblia
que desvele mais lindamente um pouco da experiência mais íntima do coração do crente.

Olhemos, então, agora para a parábola como uma descrição de uma dessas visitas que o
Salvador muitas vezes faz às almas crentes, quando Ele manifesta-se a eles de forma
diferente do que o faz ao mundo.

I. QUANDO O CRENTE ESTÁ SOZINHO.

Quando Cristo está longe da alma do crente, ele se sente solitário.

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Nós vimos na parábola, que quando o seu senhor foi embora, a noiva estava sentada
sozinha e desolada. Ela não se importou com a juventude e alegria para animarem as suas
horas solitárias. Ela não solicitou a harpa do menestrel para acalmá-la em sua solidão. Não
havia flauta, nem adufe, nem vinho em suas festas. Não, ela sentou-se sozinha. Os montes
pareciam quase intransponíveis. Toda a natureza participou de sua tristeza. Se ela não
podia estar feliz sem à luz da face do seu senhor, ela estava decidida a não alegrar-se com
mais nada. Ela sentou-se solitária e desolada. Exatamente assim é com o verdadeiro crente
em Jesus. Quaisquer que sejam os montes de Beter que estejam entre a sua alma e Cristo,
se ele foi seduzido por velhos pecados, de forma que as suas iniquidades fazem separação
entre ele e o seu Deus; e os seus pecados encobrem o Seu rosto dele, para que não lhe
ouça [Isaías 59:2]; ou se o Salvador retirou por um momento, a luz consoladora de Sua
presença para a simples prova da fé de Seu servo, para ver, se ele, quando anda em trevas,
e não tem luz nenhuma, confia no nome do Senhor, e firma-se sobre o seu Deus [Isaías
50:10].

Quaisquer que sejam os montes de separação, é a evidência segura de um crente que ele
se assentará desolado e sozinho. Ele não consegue rir, longe de seus intensos cuidados,
como os homens mundanos podem fazer. Ele não consegue mergulhar-se na taça da
intemperança, como os miseráveis homens cegos podem fazer. Mesmo o inocente vínculo
da amizade humana não traz nenhum bálsamo para a sua ferida, ou melhor, até mesmo a
comunhão com os filhos de Deus agora é desagradável para a sua alma. Ele não consegue
apreciar o que ele gostava antes, quando aqueles que temiam ao Senhor falavam um com
o outro. Os montes entre ele e o Salvador parecem tão vastos e intransponíveis, que teme
que Ele nunca mais o visitará. Toda a natureza participa de sua tristeza, o inverno reina por
fora e por dentro. Ele senta-se sozinho, e fica desolado. Estando aflito, ele ora; e o peso de
sua oração é o mesmo daquele de um velho crente: “Senhor, se eu não posso me contentar
com a luz de Tua face, que me concedas não ser feliz com nada mais; pois a alegria sem
Ti é morte”.

Ah! meus amigos, vocês conhecem algo sobre esse sofrimento? Vocês sabem que é, as-
sim, sentar-se sozinho e estar desolado, porque Jesus está fora da vista? Se vocês o sa-
bem, então se alegrem, se é possível, mesmo em meio a vossa tristeza! Pois, essa mes-
ma tristeza é uma das marcas que vocês são crentes, de forma que vocês encontram toda
a vossa paz e toda a vossa alegria na união com o Salvador.

Mas ah, quão oposto é o caminho da maioria de vocês! Vocês não conhecem nada dessa
tristeza. Sim, talvez vocês zombem disso. Vocês conseguem estar felizes e contentes com
o mundo, mas vocês nunca tiveram uma visão de Jesus. Vocês podem estar felizes com

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seus companheiros, embora o sangue de Jesus nunca tenha sussurrado paz à tua alma.
Ah, quão evidente é que vocês estão se apressando para o lugar onde “não há paz para os
ímpios, diz o meu Deus” [Isaías 57:21].

II. A VINDA DE CRISTO ATÉ O CRENTE.

A vinda de Cristo até o crente desolado é, muitas vezes, súbita e maravilhosa.

Nós vimos na parábola, que foi quando a noiva estava sentada sozinha e desolada que ela
ouviu, de repente, a voz do seu senhor. O amor é rápido em ouvir, e ela exclama: “A voz
do meu amado!”. Antes, achava as montanhas quase intransponíveis; mas agora ela pode
comparar a rapidez dele a nada, a não ser ao gamo, ou ao filho do veado. Sim, enquanto
ela fala, ele está na parede, na janela, mostrando-se através da grade. Muitas vezes, exata-
mente assim ocorre com o crente. Enquanto ele se senta sozinho e desolado, os montes
da separação parecem uma barreira vasta e intransponível para o Salvador, e ele teme que
Cristo nunca volte. Os montes de provocações de um crente são frequentemente mui gran-
des. “Que eu tenha pecado novamente, eu que fui lavado no lavado no sangue de Jesus.
É pouco que os outros homens pequem contra Ele; eles nunca O conheceram, nunca O
amaram como eu amei. Certamente eu sou o maior dos pecadores, e pequei demais, meu
Salvador. Os montes de minhas provocações cresceram até o céu, e Ele nunca mais poderá
voltar para mim”. Assim é que o crente escreve coisas amargas contra si mesmo; e nessa
ocasião, é que muitas vezes ele ouve a voz de seu Amado. Algum texto da Palavra, ou
alguma palavra de um amigo Cristão, ou alguma parte de um sermão, mais uma vez revela
Jesus em toda a Sua plenitude, o Salvador dos pecadores, até mesmo do principal. Ou pode
ser que Ele se dá a conhecer à alma desconsolada no partir do pão, e quando Ele fala as
palavras gentis: “Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós... Tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que
beberdes, em memória de mim” [1 Coríntios 11:24-25]; então, ele exclama: “A voz do meu
amado! Eis que vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros”.

Ah! meus amigos, vocês conhecem alguma coisa desta alegre surpresa? Se conhecem,
por que vocês sempre sentam-se em desespero, como se a mão do Senhor estivesse
encolhida de forma que Ele não possa salvar, ou como se Seus ouvidos estivessem
agravados de forma que Ele não possa ouvir? Na hora mais tenebrosa digam: “Por que
estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois
ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” [Salmos 42:11]. Venham
com expectativa à Palavra. Não venham com essa indiferença apática, como se nada que
um verme companheiro possa dizer seja digno de sua audição. Esta não é a palavra do
homem, mas a Palavra do Deus vivo. Venham com grandes esperanças, e então vocês

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encontrarão a promessa verdadeira, que Ele enche os famintos com coisas boas, embora
Ele despeça os ricos de mãos vazias.

III. A VINDA DE CRISTO MUDA TODAS AS COISAS.

A vinda de Cristo muda todas as coisas para o crente, e Seu amor é mais suave do que
nunca.

Nós vimos na parábola que, quando a noiva estava desolada e sozinha, toda a natureza
estava mergulhada em tristeza. Seu jardim não possuía encantos para levá-la adiante, pois
o inverno reinava dentro e fora. Mas quando o seu senhor veio tão rapidamente sobre os
montes, ele trouxe a primavera junto com ele. Toda a natureza é alterada enquanto ele
avança, e seu convite é: “Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem. Porque eis que
passou o inverno”. Exatamente assim é com o crente, quando Cristo está ausente: tudo é
inverno na alma. Mas, quando Ele vem novamente sobre os montes da provação; Ele traz
uma temporada de feliz primavera junto consigo. Quando esse sol da justiça surge de novo
na alma, não apenas os Seus raios alegrantes caem sobre a alma do crente, mas toda a
natureza se alegra com a sua alegria. As montanhas e colinas irrompem em cânticos diante
dEle, e todas as árvores do campo batem palmas. É como uma mudança de estação para
a alma. É como que a súbita mudança das chuvas torrenciais de inverno sombrio para a
plena primavera colorida, que é tão peculiar aos climas do sol.

O mundo natural é totalmente modificado. Em lugar do espinheiro surge a faia, e em lugar


da sarça surge a murta. Cada árvore e campo possuem uma beleza nova para a alma feliz.
O mundo da graça é totalmente transformado. Antes a Bíblia estava completamente seca
e sem sentido; agora, que inundação de luz é derramada sobre as suas páginas! Quão
plena, quão revigorante, quão rica em significado, como suas frases mais simples tocam o
coração! Antes a casa de oração estava completamente triste e melancólica antes, os seus
serviços eram áridos e insatisfatórios; mas agora, quando o crente vê o Salvador, como ele
O viu no interior do santo lugar, seu clamor é: “Quão amáveis são os teus tabernáculos,
SENHOR dos Exércitos! Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil” [Salmos 84:1,
10]. Antes o jardim do Senhor estava todo triste e desanimado; agora a ternura em direção
aos não-convertidos brota revigorada, e o amor ao povo de Deus arde no peito, aqueles
que temem ao Senhor falam-se frequentemente. O tempo de cantar os louvores de Jesus
chega, e a voz amorosa da rola a Jesus é mais uma vez ouvida na terra; a videira do Senhor
frutifica, e a romã floresce, e a voz de Cristo para a alma é: “Levanta-te, meu amor, formosa
minha, e vem”.

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Como a pomba temerosa perseguida pela águia, e quase feita uma presa, com asa vibrante
e ansiosa, esconde-se mais profundamente do que nunca nas fendas das rochas, e nos
lugares secretos do precipício, assim o crente caído, a quem Satanás desejou capturar,
para que pudesse peneirá-lo como trigo, quando ele é restaurado mais uma vez com a pre-
sença toda-graciosa do seu Salvador, apega-se a Ele com fé vibrante, desejosa, e esconde-
se mais profundamente do que nunca nas feridas de seu Salvador. Foi assim com Pedro
ao cair, quando ele tão gravemente negou o seu Senhor, ainda assim, quando trazido nova-
mente à visão de seu Salvador, de pé sobre a terra, foi o único dos discípulos que se cingiu
com sua capa de pescador, e lançou-se ao mar para nadar até Jesus; e assim como aquele
apóstolo caído, quando mais uma vez ele se escondeu na Rocha Eterna, descobriu que o
amor de Jesus era mais terno em relação a ele do que nunca, quando ele começou aquela
conversa, que, mais do que todas as outras na Bíblia, combina a mais amável das
reprovações com o mais amável dos incentivos: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do
que estes?” [João 21:15]. Exatamente assim cada crente caído encontra que quando
novamente ele está escondido nas feridas recém-abertas do seu Senhor, a fonte de Seu
amor começa a fluir renovada, e o ribeiro de bondade e afeição é mais pleno e transbor-
dante do que nunca, porque a Sua palavra é: “Pomba minha, que andas pelas fendas das
penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua
voz é doce, e a tua face graciosa”.

Ah, meus amigos, vocês conhecem alguma coisa disto? Vocês já experimentaram essa vin-
da de Jesus sobre o monte de vossas provocações, enquanto fez uma mudança de estação
em vossa alma? E você, crente caído, encontrado, quando se escondeu nova e mais pro-
fundamente do que nunca nas fendas das rochas — como Pedro cingindo sua capa de
pescador, e lançando-se ao mar — você encontrou o Seu amor mais terno do que nunca
em sua alma? Então, isto não deveria ensinar-lhe o arrependimento rápido quando você
cai? Por que manter-se por um momento sequer longe do Salvador? Você está esperando
até que você mesmo limpe as manchas de sua veste? Ai! o que a purificará, senão o sangue
que você está desprezando? Você está esperando até que torne a si mesmo digno da graça
do Salvador? Ai! Embora você espere por toda a eternidade, você nunca poderá tornar-se
mais digno. O seu pecado e miséria são sua única súplica. Venha, e você encontrará com
que ternura Ele curará as suas rebeliões, e o amará voluntariamente, e dirá: “Pomba minha”
e etc.

IV. CRISTO DESPERTA TEMOR, AMOR E ESPERANÇA.

Eu observo a tríplice disposição de temor, amor e esperança, que esta visita do Salvador

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desperta no seio do crente. Estes três formam, por assim dizer, um cordão no coração do
crente restaurado, e um cordão de três dobras não se quebra facilmente.

1. Temor Filial.

Em primeiro lugar, há temor. Como a noiva na parábola não sairia para desfrutar a comu-
nhão com seu senhor, sem deixar a ordem para que suas donzelas apanhassem as rapo-
sas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, assim cada crente sabe e sente que o tempo
da íntima comunhão é também o momento de maior perigo. Quando o Salvador foi batizado,
e o Espírito Santo, como uma pomba, desceu sobre Ele, e uma voz, disse: “Este é o meu
Filho amado, em quem me comprazo” [Mateus 3:17], foi, então, que Ele foi conduzido ao
deserto, para ser tentado pelo Diabo; e exatamente assim é quando a alma está recebendo
seus maiores privilégios e consolos, que Satanás e seus ministros estão mais próximos,
estes são as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas.

(1) O orgulho espiritual está próximo. Quando a alma está se escondendo nas feridas do
Salvador, e recebe grandes sinais de Seu amor, então o coração começa a dizer: Certa-
mente eu sou alguém, o quão acima eu estou da média crentes! Esta é uma das raposi-
nhas que comem a vida da piedade vital.

(2) Aqui há um valer-se de Cristo pelos seus consolos — olhando para seus consolos, e
não para Cristo — inclinando-se sobre eles, e não sobre o seu amado. Esta é outra das
raposinhas.

(3) Existe a falsa noção de que agora certamente você deve estar livre do pecado, e aci-
ma do poder da tentação, agora você pode resistir a todos os inimigos. Este é o orgulho
que vem antes da queda e é outra das raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas.

Nunca esqueçam, eu vos suplico, que o temor é uma evidência da segurança de um crente.
Mesmo quando vocês sentirem que é Deus quem opera em vocês, ainda assim, a Palavra
diz: “operai a vossa salvação com temor e tremor” [Filipenses 2:12]. Mesmo quando a vossa
alegria for transbordante lembrem-se do que está escrito: “alegrai-vos com tremor” [Salmos
2:11], e lembrem-se também do cuidado da noiva, e digam: “Apanhai-nos as raposas, as
raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”.

2. Apropriando-se do Amor.

Mas se o temor cauteloso é uma marca de um crente em tal período, ainda mais é o apro-
priar-se do amor. Quando Cristo vem novamente dos montes da provação, e revela-Se à

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alma livre e plenamente como sempre, de uma forma diferente do que o faz ao mundo,
então, a alma pode dizer: “O meu amado é meu, e eu sou dele”. Eu não digo que o crente
pode usar essas palavras em todas as estações. Em tempos de escuridão e em tempos de
pecado a realidade da fé de um crente deve ser medida antes por sua tristeza do que por
sua confiança. Mas eu digo, que nas temporadas em que Cristo revela-Se de novo à alma,
brilhando como o sol atrás de uma nuvem, com os raios do amor soberano, imerecido,
então nenhuma outra palavra satisfará o verdadeiro crente, senão estas: “O meu amado é
meu, e eu sou dele”. A alma vê Jesus como um Salvador tão gratuito, que tanto anseia que
todos venham a Ele e tenham vida, estendendo Suas mãos o dia todo, não tendo nenhum
prazer na morte do ímpio, clamando a os homens: “Convertei-vos, convertei-vos, por que
morrereis?”.

A alma vê Jesus como um Salvador tão apropriado, a própria cobertura que a alma neces-
sita. Quando ela primeiramente escondeu-se em Jesus, O encontrou adequado para todas
as suas necessidades, a sombra de uma grande rocha em terra sedenta. Mas, agora, ele
descobre uma nova adequação no Salvador, como Pedro, quando ele se cingiu com sua
capa de pescador, e lançou-se ao mar. Ela encontra que Ele é um Salvador adequado para
um crente caído; que Seu sangue pode apagar até mesmo as manchas daquele que, depois
de ter comido pão com Ele, ainda levantou o calcanhar contra Ele.

A alma vê Jesus como um Salvador pleno, concedendo ao pecador não apenas perdão,
mas transbordando perdões imensuráveis, concedendo não somente a justiça, porém a
justiça que é mais do que mortal, pois ela é totalmente Divina; concedendo não somente o
Espírito, mas derramando água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca. A alma vê tudo
isso em Jesus, e não pode deixar de escolhê-lO e deleitar-se nEle com amor renovado e
apropriado, dizendo: “O meu amado é meu”. E, se alguém perguntar, Como podes tu, verme
pecaminoso, chamar tal Divino Salvador de teu? A resposta está aqui: Porque eu sou dEle.
Ele me escolheu desde a eternidade, senão eu nunca O teria escolhido. Ele derramou Seu
sangue por mim, senão eu nunca teria derramado uma lágrima por Ele. Ele chorou por mim,
mas eu nunca teria suspirado por Ele. Ele procurou por mim, mais eu nunca O teria pro-
curado. Ele me amou, portanto, eu O amo. Ele me escolheu, por isso eu sempre O escolho.
“O meu amado é meu, e eu sou dele”.

3. Esperança Orante.

Mas, por fim, se o amor é uma marca do verdadeiro crente em tal temporada, assim também
é esperança em oração. Foi a palavra de um verdadeiro crente, em uma hora de comunhão
elevada e maravilhosa com Jesus: “Senhor, bom é estarmos aqui” [Mateus 17:4].

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Meu amigo, você não é crente se Jesus nunca Se manifestou à sua alma em suas devoções
secretas, na casa de oração ou no partir do pão, em forma tão doce e avassaladora, que
você clamou: “Senhor, é bom para mim estar aqui!”. Contudo, embora isso seja bom e muito
agradável, como a luz solar para os olhos, ainda assim, o Senhor vê que não é mais sábio
e melhor sempre estar ali. Pedro tem que descer novamente do monte da glória, e combater
o bom combate da fé em meio à vergonha e afronta de um mundo frio e desdenhoso.

E assim é com cada filho de Deus. Nós ainda não estamos no céu, o lugar da visão plena
e gozo eterno. Esta é a terra, o lugar da fé, da paciência e da esperança para o céu indicado.
Uma grande razão pela qual o júbilo próximo e íntimo do Salvador não pode ser constante-
mente efetuado no seio do crente é para dar espaço para a esperança, a terceira corda que
forma o cordão de três dobras. Até mesmo os crentes mais esclarecidos estão andando
aqui em uma noite tenebrosa, ou crepúsculo, no máximo. E as visitas de Jesus para a alma
apenas servem para fazer a escuridão ao redor mais visível. Mas a noite é passada, e o dia
é chegado. O dia da eternidade está rompendo no oriente. O sol da justiça está apressando-
se a subir sobre o nosso mundo, e as sombras estão se preparando para fugir. Até então,
o coração de cada crente verdadeiro, que conhece a preciosidade da estreita comunhão
com o Salvador, suspira em fervorosa oração, que Jesus frequentemente venha de novo,
assim, orvalhante e subitamente o ilumine em sua sombria peregrinação.

Ah! sim, meus amigos, que todo aquele que ama ao Senhor Jesus com sinceridade, junte-
se agora à bendita oração da noiva: “Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta,
amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos veados sobre os montes de Beter”.

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“A Voz do Meu Amado” é extraído de Memórias e Lembranças do Reverendo Robert Murray


M´Cheyne, por Andrew Bonar. Primeiramente publicado em 1844, (reimpresso, Edimburg:
Oliphant, Anderson, & Ferrier), p. 431-440. Este Sermão foi pregado por M´Cheyne em 14
de Agosto de 1836, em St. Peter, Dundee. Ele, nesta época, era candidato ao ministério, e
posteriormente tornou-se ministro de St. Peter.
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2
O Constrangedor Amor de Cristo

“Porque o amor de Cristo nos constrange.” (2 Coríntios 5:14)

De todas as características do caráter de São Paulo, a sua atividade incansável foi a mais
marcante. Desde o início da história de Paulo, nos é dito de seus esforços pessoais em
perseguir a Igreja nascente, quando ele era um “blasfemo, e perseguidor, e injurioso” [2
Timóteo 3:2], é bastante óbvio que esta era a característica proeminente de sua mente
natural. Mas, quando aprouve ao Senhor Jesus Cristo manifestar nele toda a longanimidade
e torná-lo um padrão para aqueles que se haviam crer nEle, é bonito e muito instrutivo ver
como os recursos naturais deste homem ousadamente mau tornaram-se não apenas
santificados, mas revigorados e ampliados; assim é verdade que os que estão em Cristo
são uma nova criação: “As coisas velhas passam, e tudo se fez novo” [2 Coríntios 5:17];
“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Per-
seguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos” [2 Coríntios 4:8-9]; este
era um retrato fiel da vida de Paulo quando convertido. Conhecendo os terrores do Senhor,
e a situação temerosa de todos os que estavam ainda em seus pecados, ele deixou o
negócio de sua vida para persuadir os homens; esforçando-se, para que por qualquer meio,
pudesse recomendar à verdade às suas consciências. “Porque, se enlouquecemos, é para
Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós” (v. 13).

Se o mundo pensa que nós somos sábios ou loucos, por causa de Deus e das almas huma-
nas serem a causa em que investimos todas as energias do nosso ser, quem, então, não
está pronto para investigar a fonte secreta de todos estes trabalhos sobrenaturais? Quem
não desejaria ter ouvido da boca de Paulo, o poderoso princípio de que o impeliu a tantas
labutas e perigos? Que poder tinha tomado posse desta poderosa mente, ou que invisível
influência planetária, com poder incessante, ele baseou-se para atravessar todos os desâ-
nimos, indiferente tanto ao pavor do riso do mundo quanto ao medo do homem; despreo-
cupado tanto em relação ao desprezo do ateniense cético quanto à carranca do promíscuo
coríntio e da raiva do tacanho judeu? O que o apóstolo diz de si mesmo? Temos a sua pró-
pria explicação do mistério nas palavras que estão diante de nós: “O amor de Cristo nos
constrange”.

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I. O Constrangedor Amor de Cristo.

Isto se refere ao amor de Cristo pelo homem, e não o nosso amor pelo Salvador. Isso é
bastante óbvio, a partir da explicação que se segue, onde a Sua morte por todos é apon-
tada como o exemplo do Seu amor. Foi a admirável visão de que a compaixão do Salvador
— levando-O a morrer por e em lugar de Seus inimigos, suportando os pecados deles e
provando a morte por todos — impulsionou Paulo a cada trabalho, e fez com que todos os
seus sofrimentos se tornassem leves para ele, que os mandamentos não fossem penosos
e ele “correu com paciência a carreira que lhe foi proposta”. Por quê? Porque ele olhou para
Jesus, e viveu como um homem “crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele”.
Usando que meios? Olhando para a cruz de Cristo.

Assim como o sol natural nos céus exerce uma poderosa energia atrativa e incessante
sobre os planetas que giram ao redor dele, assim fez o Sol da justiça, que havia, de fato,
raiado sobre Paulo com um brilho superior ao do sol do meio-dia, e exercia em sua mente
uma energia contínua e onipotente, constrangendo-o a viver a partir de agora não mais
para si, mas para Aquele que por ele morreu e ressuscitou. E, observe, que não era uma
energia temporária e irregular que foi exercida sobre o seu coração e vida, mas uma atração
permanente e contínua; pois ele não diz que o amor de Cristo uma vez o constrangeu; ou
que o amor de Cristo ainda o constrangeria; ou que, em tempos de grande ânimo, nos
períodos de oração ou devoção peculiar, o amor de Cristo o havia constrangido. Ele disse
simplesmente que o amor de Cristo o constrange. Este é o poder sempre presente, perma-
nente e ativo que constitui a mola mestra de todos os seus trabalhos; de modo que se isso
fosse tirado suas energias se esgotariam, e Paulo se tornaria fraco como os outros homens.

Não há ninguém lendo isto cujo coração é desejoso de possuir apenas um princípio impul-
sionador como este? Não há ninguém que tenha chegado a essa mais interessante de
todas as etapas de conversão em que você está suspirando por um poder para lhe renovar?
Você entrou pela porta estreita da crença. Você viu que não há paz para o não-justificado;
e, portanto, se revestiu de Cristo para a sua justiça; e já sente um pouco da alegria e da
paz da crença. Você pode olhar para trás em sua vida passada, vivida sem Deus, sem
Cristo e sem o Espírito no mundo; você pôde ver-se um pária condenado, e você disse:
“Ainda que eu pudesse lavar as mãos em água de neve, ainda assim as minhas próprias
vestes me abominam”. Você pode fazer tudo isso, com vergonha e autocensura, é verdade,
mas ainda sem desânimo e sem desespero; pois o seu olho olhou com fé para Aquele que
foi feito pecado por nós, e está convencido de que, como aprouve a Deus imputar todas as
vossas iniquidades no Salvador, Ele está pronto, e sempre foi disposto, para imputar toda
a justiça do Salvador a você. Sem desespero, eu disse? Ou melhor, com alegria e canto;
porque, se, de fato, você creu de todo o seu coração, então você se tornou o homem bem-
aventurado a quem Deus imputa a justiça sem as obras; ao qual Davi descreve, dizendo:

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“Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-
aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade” [Salmos 32:1-2].

Esta é a paz do homem justificado. Mas essa paz é um estado de bem-aventurança per-
feita? Não há nada deixado a desejar? Faço um apelo para aqueles de vocês que sabem
o que é ser crente. O que é que ainda obscurece o semblante, que reprime a exultação do
espírito? Por que não juntar-se sempre na canção de ação de graças: “Bem-dize, ó minha
alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o que perdoa
todas as tuas iniquidades” [Salmos 103:2-3]! Se nós recebemos em dobro por todos os
nossos pecados, assim nunca deveria ser necessário para nós arguir como o faz o salmista:
“Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?” [Salmos
42:11a]. Meus amigos, não há um homem entre vós que realmente crê, que não tenha
sentido o pensamento inquietante do qual eu estou falando agora. Pode haver alguns de
vocês que se sentirão tão dolorosamente, como que tendo sido obscurecidos com uma
nuvem pesada, a doce luz da paz evangélica, o brilho do rosto reconciliado sobre a alma.
O pensamento é este: “Eu sou um homem justificado; mas, ai de mim! eu não sou um
homem santificado. Eu posso olhar para a minha vida passada, sem desespero; mas como
eu posso olhar para a frente, para o que está por vir?”.

Não há uma paisagem moral mais pitoresca no universo do que a alma de um desses pre-
sentes. Tendo todas as suas ofensas passadas perdoadas, o olho contempla o interior, com
uma clareza e uma imparcialidade desconhecidas anteriormente, e lá ele olha para suas
afeições há muito estimuladas ao pecado, e que, como os rios antigos, tem usado um canal
profundo para o coração. Suas declarações periódicas de paixão, até então irresis-tível e
avassaladora, como as marés do oceano; suas perversidades de temperamento e de hábi-
tos tortos e inflexíveis como os galhos retorcidos de um carvalho atrofiado. Que cena está
aqui; que antecipação do futuro! Que pressentimentos de uma luta vã contra a tirania da
luxúria! contra velhas maneiras de agir, e de falar, e de pensar! Se a esperança da glória
de Deus não fosse um dos direitos adquiridos do homem justificado, ele ficaria surpreso se
essa visão de terror fizesse um homem voltar trás, como um cão ao seu vômito, ou como a
porca lavada volta a chafurdar na lama?

Agora assim é com o homem precisamente nesta situação, clamando pela manhã e à tarde:
“Como poderei ser feito de novo?”. Que bem deverá o perdão dos meus pecados passados
fazer a mim, se eu não for liberto do amor ao pecado? Assim é com o homem que nós ire-
mos agora, com toda a seriedade e afeição, apontar o exemplo de Paulo, e o poder secreto
que operou nele. “O amor de Cristo”, diz Paulo, “nos constrange”. Nós também somos ho-
mens, de natureza semelhante a vocês; essa mesma visão que você vê com desânimo
dentro de você, foi de igual modo revelada em nós em todo o seu poder desanimador. De

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quando em quando a mesma visão horrenda dos nossos próprios corações é revelada a
nós. Mas nós temos um encorajamento que nunca falha. O amor do Salvador sangrante
nos constrange. O Espírito é dado para os que creem, e este agente todo-poderoso tem
um argumento que nos move continuamente: o amor de Cristo.

Meu presente objetivo é mostrar como esse argumento, na mão do Espírito, move o crente
a viver para Deus; como tão simples verdade do amor de Cristo ao homem, continuamente
apresentada à mente pelo Espírito Santo, deve capacitar qualquer homem a viver uma vida
de santidade evangélica. Se há um homem entre vós, cuja a grande dúvida é: “Como serei
salvo do pecado, como andarei como um filho de Deus?”. Este é o homem dentre todos os
outros, cujo ouvido e o coração eu estou ansioso para alcançar.

II. Seu Amor Remove Nosso Ódio.

O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa, pois essa verdade
tira todo o seu medo e ódio de Deus.

Quando Adão ainda não havia caído, Deus era tudo para sua alma; e tudo era bom e dese-
jável para ele, somente na medida em que tinha a ver com Deus. Cada veia do seu corpo,
de modo que foi assombrosa e maravilhosamente formado, cada folha que farfalhava nos
caramanchões do Paraíso, a cada novo sol que se erguia, regozijando-se como um herói,
a correr a sua corrida, levou-o todos os dias novos temas de pensamentos piedosos e de
admiráveis louvores; e foi só por isso que ele podia se encantar a olhar para eles. As flores
que apareceram sobre a terra, o canto dos pássaros e a voz da rola ouvida em toda a terra
feliz, a figueira produzindo seus figos verdes, e as vinhas com as uvas dando um cheiro
bom, tudo isso combinado trazia a ele por todos os poros uma grande e variada sensação
de felicidade. E por quê? Só porque eles traziam para a alma comunicações ricas e variadas
da multiforme graça de Jeová. Pois, assim como você pode ter visto uma criança na terra
dedicada a seu pai terreno, satisfeita com tudo quando ele está presente, e valorizando
cada dom da mesma forma que serve para demonstrar ainda mais a ternura do coração de
seu pai, assim também era com essa genuína criança de Deus. Em Deus, ele viveu, e
moveu-se, e existiu; e não mais certo seria que a extinção do sol nos céus tirasse essa luz
que é tão agradável aos olhos, do que seria a ocultação da face de Deus ter-lhe tirado a luz
de sua alma, e deixado a natureza em um deserto escuro e desolado.

Mas, quando Adão caiu, o ouro fino tornou-se opaco, o seu processamento mental e gostos
foram invertidos. Em vez de desfrutar de Deus em tudo, e tudo em Deus, tudo agora parecia
odioso e desagradável para ele, justamente na medida em que tinha a ver com Deus.

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Quando o homem pecou, passou a temer, e odiar Aquele a quem temia; e fugiu para todo
o pecado apenas para fugir dAquele a quem ele odiava. De modo que, assim como você
pode ter visto uma criança que penosamente transgrediu contra um pai amoroso fazendo
todo o possível para esconder-se da vista de seu pai, fugindo de sua presença e mergu-
lhando em outros pensamentos e ocupações só para livrar-se do pensamento de seu pai
justamente ofendido; na mesma forma, quando Adão caiu ouviu a voz do Senhor Deus, que
passeava no jardim pela viração do dia, aquela voz que antes de pecar era música celestial
em seus ouvidos, então “esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus,
entre as árvores do jardim” [Gênesis 3:8]. E da mesma maneira todo homem natural foge
da voz e da presença do Senhor, não para esconder-se sob as folhas grossas do Paraíso,
mas para enterrar-se em cuidados, e negócios, e prazeres, e farras. Qualquer retiro é agra-
dável, desde que Deus não esteja lá; qualquer ocupação é tolerável, desde que Deus não
esteja nos pensamentos.

Agora, tenho a certeza que muitos de vocês podem ouvir essa acusação contra o homem
natural com uma indiferença incrédula, ou até mesmo com indignação. Você não sente que
você odeia a Deus, ou teme a Sua presença; e, portanto, você diz que isso não pode ser
verdade. Mas quando Deus diz a respeito de seu coração que é “desesperadamente
corrupto” [Jeremias 17:9], quando Deus reivindica para si o privilégio de conhecer e esqua-
drinhar o coração; não é presunçoso, em tais seres ignorantes como nós que devamos
dizer que não é verdade em relação a nossos corações o que Deus afirma ser verdade,
simplesmente porque não estamos conscientes disso?

Deus diz que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus” [Romanos 8:7], que a própria
semente e substância de uma mente não-convertida é o ódio contra Deus, um ódio absoluto
e implacável contra Aquele em quem vivemos, nos movemos e existimos. É bem verdade
que não sentimos esse ódio dentro de nós; mas isso é apenas um agravamento do nosso
pecado e do nosso perigo. Temos assim bloqueado as vias de autoexame, há tantas voltas
e voltas antes que possamos chegar aos verdadeiros motivos de nossas ações, que o
nosso medo e ódio de Deus, que levam o homem a pecar, e que são as grandes forças
impulsoras quais os aguilhões de Satanás sobre os filhos da desobediência; os verdadeiros
motivos de nossas ações estão totalmente escondidos de nossa vista, e você não pode
convencer um homem natural que eles estão realmente ali. Mas, a Bíblia testemunha que
destas duas raízes mortais, do temor e do ódio de Deus, cresce a densa floresta de pecados
com que a terra está enegrecida e coberta. E se há alguém entre vós, que foi despertado
por Deus para saber o que está em seu coração, eu tomo esse homem hoje para teste-
munhar que seu clamor amargo, tendo visto todos os seus pecados, tem sido: “Contra ti,
contra ti somente pequei” [Salmos 51:4].

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Se, então, o temor e o ódio de Deus, são a causa de todos os nossos pecados, como deve-
mos ser curados do amor ao pecado, senão por tirarmos a causa? Como você mais
efetivamente mata a erva daninha? Não é atacando a raiz? No amor de Cristo ao homem,
então — neste admirável e inefável dom de Deus, quando Ele deu a Sua vida por Seus
inimigos, quando morreu o justo pelos injustos para levar-nos a Deus —, você não vê um
objeto que, se realmente crido pelo pecador, tira todo o seu medo e todo o seu ódio de
Deus? A raiz do pecado é separada do seu tronco, deste duplo fundamento de todos os
nossos pecados, vemos a maldição levada, vemos Deus reconciliado. Por que devemos
temer? Não tema, por que devemos odiar a Deus ainda? Não odeie Deus, o que mais de
desejável podemos ver no pecado? Descanse sobre a justiça de Cristo, estamos nova-
mente no lugar onde Adão esteve, com Deus como nosso amigo. Nós não temos nenhum
motivo para pecar; e, portanto, nós não nos importamos com o pecado.

No sexto capítulo de Romanos, Paulo parece falar do crente pecando, como se a própria
proposição fosse absurda. “Nós, que estamos mortos para o pecado”, isto é, nós que já
fomos punidos em Cristo, “como viveremos ainda nele?” [v. 2]. E novamente ele diz muito
corajosamente: “O pecado não terá domínio sobre vós”, é impossível na natureza das
coisas, “pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” [v. 14]; você não está mais
sob a maldição de uma Lei violada, temendo e odiando a Deus; você está debaixo da graça;
sob um sistema de paz e amizade com Deus.

Mas há alguém pronto para objetar-me que se essas coisas são assim, se nada mais do
que isso é necessário para trazer um homem à paz com Deus e à uma vida e conversação
santa, como os crentes ainda cometem pecado? Eu respondo, é de fato muito verdadeiro
que os crentes pecam; mas é igualmente verdade que a incredulidade é a causa de seu
pecado. Se você e eu estivéssemos vivendo com o olho tão próximo em Cristo suportando
tanto por todos os nossos pecados, oferecendo gratuitamente a todos uma justiça em dobro
por todos os nossos pecados; e se esta visão do amor de Cristo fosse constantemente
mantida dentro de nós, como certamente seria se olhássemos com um olho simples, a paz
de Deus que excede todo o entendimento — a paz que não repousa em nenhum de nós,
mas inteiramente sobre Cristo —, então eu digo que, frágeis e indefesos como somos, nós
nunca pecaríamos nem teríamos a menor motivação para pecar. Todavia não é desta forma
conosco. Quantas vezes durante o dia o amor de Cristo é completamente esquecido!
Quantas vezes está obscurecido para nós! Às vezes se oculta de nós pelo próprio Deus,
para nos ensinar o que somos. Quantas vezes somos deixados sem o sentido do que é a
completude da Sua oferta, a perfeição de Sua justiça, e ficamos sem vontade ou sem
confiança para afirmar nosso interesse nEle! Quem maravilha-se, então, que onde há tanta
incredulidade, medo e ódio por Deus haverá mais e mais deformação, e o pecado irá muitas
vezes exibir sua cabeça venenosa?

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A questão é muito simples, se apenas nós tivéssemos olhos espirituais para vê-la. Se vivês-
semos uma vida de fé no Filho de Deus, então iríamos certamente viver uma vida de santi-
dade. Eu não digo que devemos fazê-lo; mas eu digo, deveremos, como uma questão de
consequência necessária. Mas na medida em que não vivemos uma vida de fé, viveremos
uma vida de impiedade. É por meio da fé que Deus purifica o coração; e não há outra ma-
neira.

Existe algum de vocês, então, desejoso de ser feito novo, de ser liberto da escravidão de
hábitos e afeições pecaminosas? Não podemos apontar-lhe nenhum outro remédio, senão
o amor de Cristo. Vede como Ele o amou! Veja o que Ele suportou por você; coloque o
dedo, por assim dizer, nas marcas dos cravos, e coloque a mão no seu lado; e não sejas
incrédulo, mas crente. Sob um senso de seu pecado, fuja para o Salvador dos pecadores.
Como a pomba temerosa voa para esconder-se nas fendas das rochas, assim fuja para se
esconder nas feridas de Seu Salvador; e depois de tê-lO encontrado como a sombra de
uma grande rocha em terra sedenta; quando você se sentar sob Sua sombra, com grande
prazer; você vai achar que Ele matou toda a inimizade, que Ele findou todas as tuas guerras.
Deus agora é por você. Plantado juntamente com Cristo na semelhança da Sua morte, você
será também na semelhança da Sua ressurreição. Morto para o pecado, você deverá estar
vivo para Deus.

III. Seu Amor Desperta O Nosso Amor

O amor de Cristo ao homem constrange o crente a viver uma vida santa; porque esta
verdade não somente remove o medo e o ódio, mas desperta o nosso amor.

Quando somos levados a ver a face do Deus reconciliado em paz, este é um grande privi-
légio. Mas como podemos olhar para Aquela face, reconciliando e reconciliado, e não amar
Aquele que assim nos amou? Amor gera amor. Dificilmente podemos deixar de estimar
aqueles no mundo que realmente nos amam, embora eles possam não servir a nossos
interesses. Mas quando estamos convencidos de que Deus nos ama, e convencidos de tal
forma pelo dom de Seu Filho por todos nós, como iremos, senão amar Aquele em quem
estão todas as excelências, tudo aquilo que evoca o amor?

Eu já mostrei que o Evangelho é um esquema de restauração; ele nos traz de volta para o
mesmo estado de amizade com Deus que Adão desfrutava, e, assim, tira o desejo do peca-
do. Mas agora eu irei mostrar a você, que o Evangelho faz muito mais do que nos restaurar
ao estado do qual caímos. Se correta e consistentemente apreendido por nós, ele nos
coloca em um estado muito melhor do que Adão. Ele nos constrange por um motivo muito

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mais poderoso. Adão não tinha esse forte amor de Deus ao homem, derramado em seu
coração; e, portanto, ele não tinha esse poder constrangedor para fazê-lo viver para Deus.
Mas os nossos olhos viram esta grande visão. Diante de nós Cristo foi demonstrado crucifi-
cado. Se realmente acreditamos que, Seu amor trouxe-nos à paz, por meio do perdão; e
porque estamos perdoados e em paz com Deus, o Espírito Santo nos é dado. Para quê?
Ora, exatamente para derramar esta verdade sobre os nossos corações, para nos mostrar
mais e mais desse amor de Deus por nós, para que possamos ser atraídos a adorar Aquele
que nos amou, viver para Aquele que morreu e ressuscitou por nós.

É realmente admirável ver como a forma bíblica de nos fazer santos é adequada à nossa
natureza. Se Deus tivesse proposto nos atemorizar para vivermos uma vida santa, quão
inútil teria sido essa tentativa! Os homens têm sempre uma ideia, que se alguém vivesse
dos mortos para nos contar sobre a realidade das regiões onde os espíritos dos condena-
dos habitam em tristeza e miséria sem fim; que isso iria constrangê-los a viver uma vida
santa; mas que ignorância isso mostra da nossa natureza misteriosa!

Suponha que Deus nesta hora desvendasse diante dos nossos olhos os segredos dessas
moradas terríveis aonde há esperança inexiste; suponha, se fosse possível, que você foi
realmente levado a sentir por algum tempo as dores reais do lago de fogo e experimentado
a agonia, e o verme que nunca morre; e depois que você foi trazido de volta à terra, e
colocado em sua velha situação, entre seus velhos amigos e companheiros; você realmente
acha que haveria qualquer chance de você caminhar com Deus como um criança? Eu não
duvido que você iria ter um termo correto de seus pecados; e nem a taça do prazer sem
Deus cairia de sua mão; nem você estremeceria com a blasfêmia, nem você tremeria diante
uma mentira, simplesmente pelo fato de você ter visto e sentido algo do tormento que
aguarda o bêbado, o blasfemador e o mentiroso, no mundo além-túmulo. Você realmente
acha que você iria viver para Deus mais do que você vive, que você iria servi-lo melhor do
que antes? É bem verdade que você pode ser levado a ser mais caridoso; sim, a dar todos
os seus bens para sustento dos pobres, e seu corpo para ser queimado; que você pode
viver com rigor e seriedade, a com o maior medo de quebrar um dos mandamentos por to-
do o resto de seus dias, mas isso não seria viver para Deus, você não iria amá-lo um pou-
quinho mais. Infelizmente vocês estão cegos para os vossos corações, se você não sabe
que o amor não pode ser forçado; nenhum homem jamais chegou a amar por ter sido ate-
morizado, e, portanto, nenhum homem jamais poderá se tornar santo por causa do temor.

Mas, três vezes bendito seja Deus, pois Ele inventou uma maneira mais poderosa do que
o inferno e todos os seus terrores; um argumento mais forte do que os espíritos dos conde-
nados e do que até mesmo a visão daqueles tormentos. Ele inventou uma maneira de nos
atrair para a santidade; ao mostrar-nos o amor de Seu Filho, Ele suscita nosso amor. Ele

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conhecia a nossa estrutura; lembrou-se de que somos pó. Ele conhecia todas as peculiari-
dades do nosso coração traiçoeiro; e, portanto, Ele adequou Sua maneira de santificar a
criatura que deveria ser santificada. Assim, o Espírito não faz uso do terror para nos
santificar, mas do amor: “O amor de Cristo nos constrange”. Ele nos atrai com “com cordas
humanas, com laços de amor” [Oséias 11:4]. O que o pai faz para conhecer a verdadeira
forma de ganhar a obediência de um filho, não é ganhar o afeto da criança? E você acha
que Deus, que nos deu essa sabedoria, Ele mesmo não sabe disso? Você acha que Ele
iria determinar obter a obediência de seus filhos, sem antes de tudo ganhar sua afeição?
Para obter nossas afeições, que por natureza perambulam pela face do mundo e em nada
repousa, senão nEle; Deus enviou o Seu Filho ao mundo para suportar a maldição de
nossos pecados. “Sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza
enriquecêsseis” [2 Coríntios 8:9].

Se há apenas um de vocês que irá neste dia, sob um senso de aniquilação, fugir para o
refúgio, para o Salvador, para encontrar nEle o perdão de todos os pecados passados, eu
sei muito bem que a partir de hoje em diante você vai ser como aquela pobre mulher, que
era uma pecadora, que estava aos pés de Cristo, atrás dele, chorando e começou a lavar
os Seus pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça, e beijava os Seus
pés e os ungia com unguento. Quando você for muito perdoado, muito amará; amando
muito, você vai viver para o serviço dAquele a quem você ama. Este é o grande princípio
do qual falamos; esta é a fonte secreta de toda a santidade dos santos.

A vida de santidade não é o que o mundo falsamente representa, uma vida de rigidez e de
fadiga, na qual um homem se priva da toda afeição de sua natureza. Não existe tal coisa
como a abnegação no sentido papista desta palavra na Religião da Bíblia. O sistema de
restrições e autoflagelação é o próprio sistema que Satanás criou como uma falsificação do
caminho da santificação de Deus. É assim que Satanás atemoriza milhares contra a paz e
a santidade propostas no Evangelho; como se para ser um homem santificado o homem
devesse ser privado de todos os desejos do seu ser, e devesse fazer que fosse desagra-
dável e desconfortável para ele. Meus amigos, o nosso texto nos mostra claramente que
não é assim. Somos constrangidos à santidade pelo amor de Cristo; o amor dAquele que
nos amou, é a única corda pela qual estamos vinculados ao serviço de Deus. O flagelo dos
nossos afetos é o único flagelo que nos leva ao novo dever. Doces laços e gentis flagelos!
Quem não gostaria de estar sob o Seu poder?

IV. O Perseverante Amor de Cristo.

Finalmente, se o amor de Cristo por nós é o objeto que o Espírito Santo faz uso, no início,
para nos atrair para o serviço de Cristo, é por meio deste mesmo objeto que Ele nos chama

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a perseverar até o fim. Assim, que se você é visitado com temporadas de frieza e indiferen-
ça; se você começar a se cansar, ou ficar para trás no serviço de Deus. Eis, aqui está o re-
médio: Olhe novamente para o Salvador sangrante. Este Sol da justiça é o grande centro
de atração, em torno do qual todos os Seus santos se movem rapidamente, e em conjunto
harmonioso e suave, “não sem música”. Enquanto o olho crente se fixar sobre o Seu amor,
o caminho do crente é fácil e desimpedido; pois este amor sempre constrange. Mas, desvie
o olho, crente, e o caminho se torna impraticável e a vida de santidade um cansaço.

Quem, então, deseja viver uma vida de perseverança na santidade, mantenha o olhar fixo
no Salvador. Enquanto Pedro olhou apenas para o Salvador, ele caminhou sobre o mar em
segurança, para ir a Jesus; mas quando ele olhou ao redor e sentiu o vento forte, teve me-
do, e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”, justamente assim será com você.
Enquanto você olhar com fé para o Salvador, que te amou, e entregou a Si mesmo por
você, desde então você poderá pisar nas águas do mar agitado da vida, e as solas dos pés
não serão molhadas. Entretanto, se porventura você olhar ao redor para os ventos e as
ondas que o ameaçam em cada lado, e, como Pedro, você começar a afundar, clame: “Se-
nhor, salva-me!”. Quão justamente, então, podemos dirigir a você a repreensão do Salvador
a Pedro: “Ó, homem de pouca fé, por que duvidaste?”. Olhe novamente para o amor do
Salvador, e contemple o amor que constrange a viver não mais para si, mas por Aquele
que morreu por você e ressuscitou.

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3
Pai, Eu Quero

SERMÃO

“Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver,


também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste;
porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” (João 17:24)

I. A FORMA DESTA ORAÇÃO

“Pai, eu quero”.

Esta é a mais maravilhosa oração que alguma vez elevou-se da terra para o trono de Deus,
e esta petição é a mais maravilhosa da oração. Nenhuns lábios humanos jamais oraram
assim antes: “Pai, eu quero”. Abraão era amigo de Deus, e ficou muito perto de Deus em
oração; mas ele orou como pó e cinzas. “E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me
atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza” [Gênesis 18:27]. Jacó lutou com Deus e
prevaleceu, mas a sua palavra mais ousada foi: “Não te deixarei ir, se não me abençoares”
[Gênesis 32:26]. Daniel foi um homem muito amado, e teve respostas imediatas às orações,
e ainda assim ele clamou a Deus como um pecador: “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó
Senhor, atende-nos e age” [Daniel 9:19]. Paulo foi um homem que esteve muito perto de
Deus, e ainda assim ele diz: “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo” [Efésios 3:14]. Porém quando Cristo orou, clamou: “Pai, eu quero”.
Por que Ele ora assim?

Ele era companheiro de Deus: “Ó espada, desperta-te contra o meu pastor, e contra o
homem que é o meu companheiro” [Zacarias 13:7]. Apesar disso, Ele não usurpou o ser

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igual a Deus. Foi Ele quem disse: “Haja luz, e houve luz”. Portanto, agora Ele diz: “Pai, eu
quero”.

A Sua vontade e a vontade do Pai era uma: “Eu e o Pai somos um” [João 10:30]. Um só
Deus, um só coração e vontade. É verdade, Ele tinha uma santa alma humana, e, portan-
to, uma vontade humana; mas Sua vontade humana era uma com a Sua vontade Divina. A
corda humana em seu coração estava sintonizada na mesma corda da Sua vontade Divina.

Queridos filhos de Deus, aprendam quão seguramente esta oração será respondida. É im-
possível que esta oração fique sem resposta. É a vontade do Pai e do Filho. Se Cristo quer,
e se o Pai quer, vocês podem ter certeza de que nada pode impedir isso. Se a ovelha está
na mão de Cristo, e na mão do Pai, ela jamais perecerá.

II. POR QUEM ELE ORA.

“Aqueles que me deste”.

Seis vezes neste capítulo Cristo chama o seu povo por este nome: “Aqueles que me deste”.
Esta parece ter sido uma expressão favorita de Cristo, especialmente quando os conduzia
sobre Seu coração diante do Pai. A razão parece significar que Ele lembra ao Pai que eles
são tanto do Pai como eles são Seus próprios; que o Pai tem o mesmo interesse que Ele
por eles, tendo-lhes dado a Ele antes que o mundo existisse. E assim Ele o repete no
versículo 10: “E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas”. Antes que
o mundo existisse, o Pai escolheu um povo deste mundo. Ele os entregou na mão de Cristo,
ordenando-Lhe que não perdesse nenhum, e que Ele suportaria os seus pecados em Seu
próprio corpo no madeiro, e os ressuscitasse no último Dia. E, consequentemente, Ele diz:
“Dos que me deste nenhum deles perdi” [João 18:9].

Há algum sinal daqueles que são dados a Cristo? Eles não são melhores do que os outros,
pelo contrário, às vezes Ele escolhe os piores, mas há uma outra resposta: “Todo o que o
Pai me dá virá a mim [João 6:37]. Uma das marcas seguras de todos os que foram dados
a Cristo é que eles vêm a Jesus. Todos eles vêm “a Jesus, o Mediador de uma nova aliança,
e ao sangue da aspersão” [Hebreus 12:24]. Você veio a Cristo? O seu coração foi aberto
para receber a Cristo? Cristo tornou-se precioso para você? Então você pode ter a certeza
que você foi dado a Cristo antes da fundação do mundo. Seu nome está no Livro da Vida
do Cordeiro, e seu nome está no peitoral de Cristo. É por você que Ele ora: “Pai, eu quero
que esta alma esteja comigo”. Cristo nunca perderá você. O Pai, que deu você a Ele é
maior do que todos, e ninguém pode arrebatar você da mão do Pai.

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III. O ARGUMENTO.

“Porque tu me amaste”. Cristo lembra o Pai de Seu amor por Ele, antes que o mundo
existisse. Quando não havia terra, nem sol, nem lua, nem anjo, quando Ele estava ao lado
dEle.

Então, “tu me amaste”. Quem pode compreender esse amor, o amor de um Deus não criado
ao Seu Filho não criado? O amor de Jônatas por Davi era muito grande, ultrapassando o
amor das mulheres. O amor de um crente a Cristo é muito grande, porque ele vê que Cristo
é totalmente desejável. O amor de um santo anjo por Deus é muito ardente, porque eles
são como labaredas de fogo. Mas estes todos são amores da criatura; Estes são apenas
córregos; mas o amor de Deus por Seu Filho é um oceano de amor. Há de tudo em Cristo
para atrair o amor do Pai. Agora discirnam Seu argumento: Se Tu me amas, faça isso pelo
Meu povo.

Assim como Ele disse a Paulo: “Por que me persegues?”. Sentindo-se Um com Seus
membros aflitos sobre a Terra. Deste modo Ele dirá no último dia: “Em verdade vos digo
que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” [Mateus
25:40]. Ele reconhece os crentes como parte de Si mesmo; aquilo que é feito a eles é feito
a Cristo. Então, aqui, quando Ele os conduz ao Seu Pai, este é todo o Seu argumento: “Tu
me amas”. Se Tu me amas, os ama, pois eles são parte de Mim. Veja, amado, quão
seguramente a oração de Cristo por você será respondida. Ele não alega que você é bom
e santo; Ele não alega que você é digno; Ele só pleiteia a Sua própria amabilidade aos
olhos do Pai. Não olhe para eles, diz Ele, mas olhe para mim. Tu me amaste, antes da
fundação do mundo. Aprendam a usar o mesmo argumento com Deus, queridos crentes,
isto é, pedir em nome de Cristo, por amor do Senhor. Esta é a oração que nunca é recusada.
Cuidem para que vocês não venham em seu próprio nome, senão vocês serão rejeitados.
Venham assim, para a Sua mesa. Diga ao Pai: me aceite, pois Tu O amas, desde a funda-
ção do mundo.

IV. A ORAÇÃO EM SI.

Duas partes.

1. Que eles estejam comigo.

(1) O que Cristo quer dizer. Ele não quer dizer que devemos estar atualmente retirados
deste mundo. Alguns de vocês que têm vindo a Cristo podem, neste dia, ser favorecidos

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com tanto de Sua presença e do amor do Pai, tanto da alegria do céu, e um tal pavor de
voltar a trair Cristo estado no mundo, que vocês podem estar desejando que esta casa fos-
se realmente aquele portão do céu; vocês podem desejar serem transportados da mesa de
baixo para a mesa de cima. “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de
partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” [Filipenses 1:23]. Cristo ainda
não deseja isto. “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” [João 17:15].
“Para onde eu vou não podes agora seguir-me” [João 13:36]. (Como aquela mulher no
Diário de David Brainerd: “Ó bendito Senhor! Leve-me; permita-me morrer e ir com Jesus
Cristo. Tenho medo de que, se eu viver, eu pecarei novamente”).

(2) O que Ele quer dizer. Ele quer dizer que, quando a jornada acabar, estaremos com Ele.
Todo aquele que vem a Cristo tem uma jornada para realizar neste mundo. Alguns têm uma
jornada longa, e alguns têm uma jornada curta. Esta jornada é através de um deserto. Cristo
ainda ora para que, no final, você possa estar com Ele. Todo aquele que vem a Cristo tem
suas doze horas para trabalhar para Cristo. “Convém que eu faça as obras daquele que me
enviou, enquanto é dia” [João 9:4]. Mas quando isso é feito, Cristo ora para que você esteja
com Ele. Ele quer dizer que você deve vir para a casa de Seu Pai, com Ele. “Na casa de
meu Pai há muitas moradas” [João 14:2]. Você deve morar na mesma casa com Cristo.
Você nunca é muito íntimo de uma pessoa até que você a veja em sua própria casa, até
que você a conheça em casa. Isto é o que Cristo quer de nós, que estejamos com Ele em
Sua própria casa. Ele quer que estejamos no seio do mesmo Pai com Ele. “Eu subo para
meu Pai e vosso Pai” [João 20:17]. Ele quer que estejamos no mesmo sorriso com Ele, que
sentemos no mesmo trono com Ele, que nademos no mesmo oceano de amor com Ele.

Aprenda quão seguro você estará, em breve, quando estiver com Cristo. Esta é a vontade
do Pai, esta é a vontade do Filho. É a oração de Cristo. Se você realmente foi levado a
Cristo, você nunca perecerá. Você pode ter muitos inimigos opondo-se a você em seu
caminho para a glória. Satanás deseja ter você para peneirar como trigo. Seus amigos do
mundo farão todo o possível para impedi-lo. Ainda assim você estará com Cristo. Veremos
o seu rosto na mesa da glória. Você tem um coração duro incrédulo e enganoso acima de
todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Muitas vezes você acha que o seu coração
levará você a trair Cristo. Ainda assim você estará com Cristo. Se você está em Cristo hoje,
você estará para sempre com o Senhor. Você tem vivido uma vida má. Você tem pecados
terríveis sobre os quais olhar. Ainda assim, se você veio a Jesus, esta é a Sua palavra para
ti: “Tu estarás comigo no paraíso”. Na verdade, Cristo não pode perder você. Você é a Sua
joia, a Sua coroa. O Céu não seria Céu para Ele, se você não estivesse ali. Isso pode lhe
dar coragem ao vir para a mesa do Senhor. Alguns de vocês têm medo de vir a esta mesa,
porque, se vocês se unirem a Cristo hoje, têm medo que possam traí-lO amanhã. Mas
vocês não precisam ter medo. “Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até

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ao dia de Jesus Cristo” [Filipenses 1:6]. Vocês devem sentar-se à mesa de cima, onde
Cristo estará na cabeceira. Vocês não precisam ter medo de vir a esta mesa.

2. Para que vejam a minha glória que me deste.

Há três estágios na glória de Cristo. Esta será a ocupação do céu: a contemplação de todas
elas.

Primeiro. A glória original de Cristo. Esta é a Sua glória não derivada, não criada, como
igual ao Pai. Ela é mencionada em Provérbios 8:30: “Então eu estava com ele, e era seu
arquiteto; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo”. E,
novamente, nesta oração: “aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (v.
5). Dessa glória nenhum homem pode falar, nenhum anjo, nem arcanjo. Somente de uma
coisa sabemos, que devemos honrar o Filho, bem como devemos honrar o Pai. Ele
compartilha com o Pai em ser o Único todo-perfeito, quando não havia nada para admirar,
ninguém para adorar, nem anjos com harpas de ouro, nem serafins a cantar Seu louvor,
nem querubins a clamar: “Santo, santo, santo”. Antes que todas as criaturas existissem, Ele
era Um com o Deus infinitamente perfeito, bom e glorioso. Ele era, então, tudo o que Ele
mais tarde evidenciou ser. A criação e redenção não O mudaram. Elas apenas só revelaram
o que Ele era anteriormente. Elas apenas forneceram os objetos para que aqueles raios de
glória repousassem, de forma que brilhavam tão plenamente como antes, desde toda a
eternidade. A eternidade será tomada com o louvor a Deus, à medida que Ele revelou a Si
mesmo absolutamente; assim mesmo Ele sairá do retraimento de Sua amável e bem-
aventurada eternidade.

Segundo. Quando Ele se tornou carne. “O Verbo se fez carne” [João 1:14]. Cristo não
obteve mais glória, tornando-se homem, mas Ele manifestou a Sua glória de uma nova
maneira. Ele não ganhou uma perfeição maior, tornando-se homem; Ele tinha todas as
perfeições de Deus anteriormente. Mas agora essas perfeições eram derramadas através
de um coração humano. A onipotência de Deus agora movia-se em um braço humano. O
amor infinito de Deus agora bateia em um coração humano. A compaixão de Deus pelos
pecadores agora brilhava em um olho humano. Deus era amor antes, mas Cristo foi o amor
coberto com carne. Assim como quando você vê o sol brilhando através de uma janela
colorida, e contudo a mesma luz do sol, ainda que brilha com um brilho agradável, de modo
semelhante em Cristo habita toda a plenitude da Divindade. A perfeição da Divindade
brilhou por todos os poros, por meio de toda a ação, palavra e olhar, as mesmas perfeições,
somente estavam brilhando com um brilho ameno. O véu do templo era um tipo de sua
carne, porque ele cobria a luz brilhante do santo dos santos. Mas, assim como a luz
brilhante da Shekiná muitas vezes brilhou através véu, assim ocorreu, pois à Divindade do

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próprio Cristo irrompeu-se através do coração do homem Jesus Cristo. Havia muitas aber-
turas do véu quando a glória resplandecente brilhava.

1. Quando Cristo transformou a água em vinho. Ele manifestou a Sua glória e os Seus
discípulos creram nEle. A Onipotência falou com uma voz humana, e o amor de Deus,
também, brilhou na mesma; pois Ele mostrou que Ele veio para transformar toda a nossa
água em vinho.

2. Quando Cristo chorou sobre Jerusalém. Isso foi uma grande demonstração da Sua glória.
Havia muita coisa que era humana nEle: Os pés que ficavam sobre o Monte das Oliveiras
eram humanos. Os olhos que desprezaram a cidade deslumbrante eram humanos. As
lágrimas que caíram no chão eram humanas. Mas havia a ternura de Deus batendo debaixo
daquele manto! Olhem e vivam, pecadores. Olhem e vivam. Eis o vosso Deus! Aquele que
vê a Cristo chorando, viu o Pai. Este é Deus manifestado em carne. Alguns de vocês temem
que o Pai não queira que vocês venham a Cristo e sejam salvos. Mas vejam aqui, Deus
está manifestado em carne. Aquele que vê o Filho vê o Pai. Veja aqui o coração do Pai e o
coração do Filho desvelados. Oh! Por que vocês duvidam? Cada uma dessas lágrimas
escorre do coração de Deus.

3. Na cruz. As feridas de Cristo foram as maiores demonstrações de Sua glória que já


existiram. A glória Divina brilhou mais através de Seus ferimentos do que através de toda
a Sua vida antes. O véu foi então rasgado em dois, e pelo que todo o coração de Deus
permitiu comunicar-se. Este era um corpo humano que se contorcia, pálido e torturado,
sobre o madeiro maldito; eram mãos humanas que foram furadas tão rudemente pelos
cravos; era carne humana que suportou aquele golpe mortal sobre o lado; era sangue
humano que fluía de mãos e pés, e lado; o olho que humildemente se virou para o Seu Pai
era um olho humano; a alma que suspirou sobre Sua mãe era uma alma humana. Mas oh,
havia glória Divina fluindo através de tudo. Cada ferida era uma boca para falar da graça e
do amor de Deus!

A santidade Divina brilhou: O infinito ódio ao pecado estava ali quando Ele se ofereceu,
assim, um sacrifício sem mácula a Deus! A sabedoria Divina brilhou: todos os seres criados
não poderiam ter concebido um plano pelo qual Deus seria justo e justificador. O amor
Divino: cada gota de sangue que caiu veio como um mensageiro do amor de Seu coração
para contar sobre o amor da fonte. Este foi o amor de Deus. Aquele que vê a Cristo cruci-
ficado, vê o Pai. Oh, olhem para o pão partido, e vocês ainda verão essa glória fluindo! Aqui
está o coração de Deus desvelado, Deus se manifestou em carne. Alguns de vocês estão
debruçados sobre o seu próprio coração, examinem seus sentimentos, observando sua
doença. Desviem o olhar de tudo no interior. Eis-me aqui, eis-me! — Cristo clama — Olhem

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para mim, e sejam salvos. Contemplem a glória de Cristo! Há muita dificuldade sobre o seu
próprio coração, mas não há trevas sobre o coração de Cristo. Olhem através de Suas
feridas; acreditem no que vocês veem nEle.

Terceiro. A glória de Cristo assunto. Eu não posso falar disso. Eu confio que um dia, em
breve, eu verei isto. Ele não deixou de lado a glória que Ele tinha na terra. Ele ainda é o
Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Mas Ele tem mais glória agora. Sua
humanidade não é mais um véu para esconder qualquer um dos raios de Sua Divindade.
Deus brilha ainda mais claramente através dEle. Agora, Ele obteve muitas coroas, o óleo
de alegria, o cetro de justiça.

O Céu será gasto em contemplar a Sua glória. Veremos o Pai eternamente nEle. Olharemos
em Seu rosto, e em Seu olho humano leremos o terno amor de Deus por nós, para sempre.
Ouviremos de Seus santos lábios humanos claramente do Pai. “Chega, porém, a hora em
que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai” (João
16:25). Olharemos em Suas cicatrizes, saradas, porém evidentes e abertas em Suas mãos,
e os pés, e o lado, e a fronte de brilho celeste, e leremos ali eternamente o ódio de Deus
contra o pecado, e o Seu amor por nós que O levou a morrer por nós. E, às vezes, talvez,
possamos inclinar a nossa cabeça onde João inclinou-se, sobre Seu santo seio. Oh! se o
Céu deve ser desfrutado dessa forma, o que farão vocês, que nunca viram a Sua glória?

Ó, amados, se sua eternidade deve ser gasta assim, passem muito de seu tempo desta for-
ma! Se vocês devem estar assim comprometidos com a mesa acima, estejam assim com-
prometidos agora com a mesa de baixo.

Comunhão de Sabath, 19 de janeiro de 1840.

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II

PROTEGENDO AS MESAS

“Mas um certo homem chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma proprieda-
de, e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a deposi-
tou aos pés dos apóstolos. Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu
coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?
Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste
este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus. E Ananias, ouvindo
estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram. E,
levantando-se os moços, cobriram o morto e, transportando-o para fora, o sepultaram. E,
passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que
havia acontecido. E disse-lhe Pedro: Dize-me, vendestes por tanto aquela herdade? E ela
disse: Sim, por tanto. Então Pedro lhe disse: Por que é que entre vós vos concertastes para
tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e
também te levarão a ti. E logo caiu aos seus pés, e expirou. E, entrando os moços, acharam-
na morta, e a sepultaram junto de seu marido. E houve um grande temor em toda a igreja,
e em todos os que ouviram estas coisas. E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o
povo pelas mãos dos apóstolos. E estavam todos unanimemente no alpendre de Salomão.
Dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles; mas o povo tinha-os em grande
estima. E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada
vez mais” (Atos dos Apóstolos 5:1-14).

Houve hipócritas na igreja de Cristo desde o início. Havia um Judas, mesmo entre os doze
apóstolos; e na igreja apostólica houve um Ananias e uma Safira. Observem:

1. O seu pecado: uma mentira. Quando tanto do Espírito foi dado, todos tiram um só cora-
ção e alma. Aqueles que tinham propriedades, as venderam, trouxeram o preço, e o deposi-
taram aos pés dos apóstolos. Foi uma amável visão para contemplar. Entre o restante veio
um Ananias, ele era rico. Por algum motivo mundano, ele se juntou aos Cristãos, marido e
mulher, ambos sem Cristo, almas sem a graça. Ele vendeu suas posses para ser parecido
como o restante, e trouxe uma parte, e disse que era o seu tudo! Ele fingiu ser um Cristão,
ele fingiu que a graça estava em seu coração. Não mentiu ao homem somente, mas ao
Espírito Santo; pois ele estava declarando que Deus havia feito uma mudança em sua alma,
quando não havia nenhuma. Ele ainda era o velho Ananias.

2. Sua punição: Eles caíram e entregaram o espírito. Oh! É algo terrível quando os pecado-
res morrem no ato do pecado, com a mentira na sua boca, com a blasfêmia sobre a sua

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língua. Assim foi com os miseráveis Ananias e sua esposa. Em um momento, num piscar
de olhos, eles estavam no lugar para onde todos os mentirosos vão.

3. O efeito: um grande temor veio sobre todos eles. Ninguém ousava juntar-se à companhia
dos apóstolos.

Queridos amigos, estas coisas estão escritas para nosso ensino. Não há ninguém que veio
aqui hoje com a mentira de Ananias em seu coração?

O pão partido e o vinho derramado representam o corpo partido e o sangue derramado de


Cristo. Oh! é o suficiente para derreter o coração do mais forte que olhar para eles. Tomar
este pão e vinho é declarar que você tem comunhão com Cristo, que você O toma como
seu Salvador, que Deus abriu seu coração para crer. No casamento, a aceitação da mão
direita é uma declaração solene, por sinal, que você aceita a noiva ou o noivo; e assim na
Ceia do Senhor. Se não é assim com você, então isto é uma mentira; e é uma mentira para
o Espírito Santo. Ananias veio declarando que ele tinha a obra do Espírito em seu coração.
Esta era uma época em que muito do Espírito de Deus havia sido concedido (vv. 31 e 32).

É provável que ele e sua esposa tivessem algumas convicções. Mas uma vez que isto era
falso, uma vez que ele não era realmente o que ele fingia ser, é dito: “mentiu ao Espírito
Santo”. Assim, queridos amigos, o Espírito Santo está particularmente presente nesta orde-
nança. Ele glorifica a Cristo. Ele converteu muitos neste lugar. Pecar hoje, é mentir contra
o Espírito Santo. Ao vir para a mesa, você professa que você está sob o ensinamento do
Espírito. Se você não estiver, você mente ao Espírito Santo!

Agora, você sabe que não veio a Cristo? Você sabe que não é convertido? E você sentar-
se-á ali e tomará o pão e o vinho? Tome cuidado, Ananias! Tu não mentes a um homem,
mas a Deus.

Talvez haja um dentre vocês alguém que está secretamente viciado em beber, a blasfemar,
a ser impuro. Você vai vir e tomar o pão e o vinho? Tome cuidado, Ananias!

Talvez haja dois dentre vós, marido e mulher, que sabem que nenhum de vocês jamais fo-
ram convertidos. Vocês nunca oram juntos, e ainda assim vocês concordam em conjunto a
virem aqui. Tomem cuidado, Ananias e Safira!

Não existe nenhum dentre vós que seja um perseguidor? Suponha um pai, cujos filhos têm
vindo a Cristo, mas em seu coração você odeia a mudança deles; você se opõe a isso com
palavras amargas; e, ainda assim, com um semblante suave, você chegou a sentar-se ao

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lado deles à mesma mesa! Ó, hipócrita, tome cuidado para que não caia morto! Retire a
sua a mão para que ela não fique mirrada! Se pudéssemos ver o copo cair de sua mão, e
olho envidraçar, e os pés se tornarem frios, ó, onde estaria a sua alma?

Queridos filhos de Deus, não desanimem de vir a esta mesa sagrada. Esta é propagada
aos pecadores que veem Jesus. “Ó, venha e coma”. Alguns de vocês dizem: “Eu não conhe-
ço o caminho para esta mesa”. Jesus diz: “Eu sou o caminho”. Alguns de vocês dizem: “Eu
sou cego; eu não consigo ver os meus pecados, nem meu Salvador”. Vão lavar-se no
tanque de Siloé. Alguns de vocês dizem: “Eu sou nu”. Jesus diz: “Aconselho-te que de mim
compres... roupas brancas, para que te vistas”. Vocês estão contaminados em seu próprio
sangue; mas Cristo lançou a Sua orla sobre vocês? Então não tenham medo; venham com
o Seu manto sobre vocês. Venham assim, e vocês são bem-vindos.

III

SERVIÇO DE MESA

(Este é o único exemplar de seu Serviço de Mesa, encontrado em seu próprio escrito à
mão, mas sem data).

“O meu amado é meu, e eu sou dele” (Cânticos 2:16).

1. Nos braços de minha fé, Ele é meu. Eu já fui do mundo, frio e descuidado com a minha
alma. Deus me despertou e me fez sentir que eu estava perdido. Eu tentei tornar-me bom,
consertar a minha vida; mas eu tentei isto em vão, pois fiquei mais perdido do que antes.
Eu fui, então, alertado a crer no Senhor Jesus. Então, eu tentei me fazer acreditar. Eu li
livros sobre a fé, e tentei inclinar minha alma a crer, para que eu fosse para o Céu, porém
tudo isso em vão. Eu encontrei isto escrito: “A fé é um dom de Deus” (Efésios 2:8). “Ninguém
pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1 Coríntios 12:3). Então eu
fiquei mais perdido do que nunca. Enquanto eu estava assim, indefeso, Jesus se aproxi-
mou, com Suas vestes mergulhadas em sangue. Ele havia esperado muito tempo em minha
porta, mas eu não sabia disto. Sua cabeça estava “cheia de orvalho, os seus cabelos das
gotas da noite” (Cânticos 5:2). Ele tinha cinco feridas profundas, e Ele disse: “Eu morri no
lugar de pecadores; e qualquer pecador pode ter-me como Salvador. Você é um pecador
desamparado; você terá a Mim?”. Como posso resisti-lO? Ele é tudo o que eu preciso! Eu
O segurei, e não O deixei ir. “Meu amado é meu”.

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2. Nos braços do meu amor, Ele é meu. Outrora eu não sabia o que as pessoas queriam
dizer por amar a Jesus. Eu queria perguntar como eles poderiam amar alguém a quem eles
nunca haviam visto; mas foi respondido: “Ao qual, não o havendo visto, amais” [1 Pedro
1:8]. Mas agora que eu tenho me escondido nEle, agora que eu estou apegado a Ele, agora
eu sinto que não posso deixar de amá-lO; e eu espero vê-lO, para que eu possa amá-lO
mais. Muitas vezes eu caio em pecado, e isso remove a sensação de segurança em Cristo.
A escuridão vem, tudo está nublado, Cristo está ausente. Ainda assim, nessa ocasião, eu
estou doente de amor. Cristo não é luz e paz para mim; mas eu O sigo diligentemente em
meio à escuridão, Ele é precioso para mim; e apesar de eu estar em trevas, Ele ainda é o
meu amado: “Tal é o meu amado, e tal o meu amigo” (Cânticos 5:16).

3. Ele é meu no sacramento. Muitas vezes, eu disse a Ele em oração: Tu és meu. Muitas
vezes, quando as portas se fecharam, e Jesus veio mostrando Suas feridas, dizendo: “Paz
seja convosco”, minha alma apegou-se a Ele, e disse: “Meu Senhor e meu Deus!”. Meu
amado, Tu és meu! muitas vezes tenho encontrado com Ele em lugares solitários, onde
não havia olhos de homens. Muitas vezes tenho chamado as rochas e árvores para teste-
munharem que eu O tomei para ser o meu Salvador. Ele me disse: “desposar-te-ei comigo
para sempre”, e eu Lhe disse: “O meu amado é meu”. Muitas vezes tenho saído com algum
amigo Cristão, e nós derramamos nossos trêmulos corações juntos, consultando um ao
outro como para saber se tínhamos liberdade para nos aproximarmos de Cristo ou não; e
nós juntos chegamos a esta conclusão: que se nós apenas fôssemos pecadores desam-
parados, tínhamos o direito de nos aproximar do Salvador dos pecadores. Nós nos apega-
mos a Ele e O chamamos de nosso. E agora, viemos para tomá-lO publicamente, para
chamar um mundo ímpio para testemunhar, para chamar o céu e a terra para um registro
de nossa alma, que nós realmente nos aproximamos de Cristo. Vejam-nO entregando-se a
nós no pão! Nós O aceitamos ao aceitarmos este pão. Deem testemunho, homens e anjos,
dê testemunho todo o universo: “O meu amado é meu”.

(Os comungantes, em seguida, participaram do pão partido e do cálice de bênção).

(Era seu costume, depois de terem participado da Ceia do Senhor, falar brevemente sobre
alguns textos apropriados, antes de despedi-los das mesas. No Sabath de 19 de janeiro,
os textos eram: “Amai-vos uns aos outros”, “Tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu
nome, ele vo-lo há de dar” e “Em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições” [João 15:12;
14:13; 16:33].

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IV

DISCURSO DE CONCLUSÃO DO DIA

“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos


irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória.” (Judas 1:24)

Não há fim para as ansiedades de um pastor. Nosso primeiro cuidado é para que vocês
estejam em Cristo; e o próximo, é que vocês sejam guardados de cair. Eu tenho uma boa
esperança, amados, que um bom número de vocês uniu-se hoje ao Senhor. Mas agora
uma nova ansiedade começa: levá-los a andar em Cristo, a caminhar segundo o Espírito.
Aqui nós lhes dizermos o que Deus, nosso Salvador é capaz de fazer por vocês:
Primeiramente, os guarda de cair por todo o caminho; em segundo lugar, vos apresentará
irrepreensíveis por fim.

I. GUARDÁ-LOS DE TROPEÇAR.

(1) Nós mesmos não somos capazes de guardar alguém de cair. Aqueles que se apoiam
em ministros, apoiam-se em uma cana agitada pelo vento. Quando uma alma recebeu a
mensagem salvífica por meio de um ministro, ela frequentemente pensa que será mantido
de cair pelos mesmos meios. Ele pensa: “Ah, se eu tivesse esse amigo sempre ao meu
lado para me advertir, para me aconselhar!”. Não; ministros não estão sempre próximos,
nem amigos piedosos. Vossos pais, onde estão eles? E os profetas, eles viverão para
sempre? Nós em breve poderemos ser retirados de vocês, e pode vir a fome do pão. E,
além disso, nossas palavras nem sempre informam. Quando a tentação e as paixões são
fortes, vocês não darão ouvidos a nós.

(2) Vocês nem sempre são capazes de guardarem a si mesmos de cair. No momento vocês
sabem pouco da fraqueza ou maldade de seu próprio coração. Não há nada mais enganoso
do que sua estimativa de sua própria força. Oh, se vocês vissem a sua alma em toda a sua
enfermidade; se vocês vissem como todo pecado tem a sua fonte no seu coração; se vocês
vissem que mera cana vocês são, vocês clamariam: “Senhor, dirige os meus passos”
[Salmos 17:5]. Vocês podem estar fortes, no momento, mas esperem até que uma com-
panhia convidativa apareça; esperem até uma oportunidade secreta. Oh, quantos cairiam,
então! No momento vocês se sentem fortes, como se seus pés fossem como os das corsas.
Assim fez Pedro à mesa do Senhor. Mas esperem até que esta explosão de sentimento
passar; esperem até que vocês sejam convidados a juntar-se em algum jogo profano; espe-

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rem até alguma oportunidade completamente invisível, secreta de pecar, até que alguma
provocação amarga desperte a sua raiva, e vocês encontrarão que vocês são fracos como
a água, e que não há pecado em que não possam cair.

(3) Deus, Nosso Salvador é capaz de guarda-los de cair. Cristo nos trata como vocês fazem
com os seus filhos. Eles não podem andar sozinhos; vocês os seguram; o mesmo acontece
com Cristo por meio de Seu Espírito. “Eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus
braços” (Oséias 11:3). Suspirem esta oração: “Senhor, leve-me pelos braços”, diz John
Newton. Quando uma mãe está ensinando seu filho a andar sobre um tapete macio, ela,
às vezes, o deixa ir, e ele cairá, para ensiná-lo sobre a sua fraqueza; mas não chegaria a
tanto se estivesse à beira de um precipício. Assim o Senhor, às vezes, os deixa cair, como
Pedro nas águas, mas não para seu dano. O pastor carrega a ovelha em seu ombro; não
importa quão grande a distância seja; não importa quão altas as montanhas, quão áspero
o caminho; nosso Deus Salvador é um Pastor Onipotente. Alguns de vocês têm montanhas
em seu caminho para o céu, alguns de vocês têm montanhas de luxúrias em seus corações,
e alguns de vocês têm montanhas de oposição; não importa, apenas deitem no ombro. Ele
é capaz de guardá-los; mesmo no vale sombrio Ele não tropeçará.

II. APRESENTAR-VOS IRREPREENSÍVEIS

(1) Irrepreensíveis em justiça. Enquanto vocês vivem em vosso corpo mortal, vocês serão
repreensíveis em si mesmos. Acreditar em qualquer outra coisa é um erro capaz de arruinar
a alma. Oh! se vocês fossem sábios, olhariam muitas vezes para debaixo do manto da
justiça do Redentor para ver sua própria deformidade! Isto manterá vocês mais rapidamente
sob Seu manto, e os manterá lavando-se na fonte. Agora, quando Cristo lhes trouxer diante
do trono de Deus, Ele vestirá você com o Seu próprio linho fino, e vos apresentará
irrepreensíveis. Oh, é doce para mim pensar em quão breve vocês terão a justiça de Deus
nEle. Que justiça gloriosa, que pode permanecer à luz da face de Deus! Às vezes, uma
peça de roupa parece branca com pouca luz; quando vocês a trazem para a luz do sol pode
ver as manchas. Oh! louvem, então, a justiça Divina, que é a vossa cobertura.

(2) Irrepreensíveis em santidade. Meu coração às vezes adoece quando eu penso sobre
os defeitos dos crentes; quando eu penso em um Cristão sendo amante da vida social,
outro vaidoso, outro dado à maledicência. Oh! anelem por serem Cristãos santos! Cristãos
luminosos, resplandecentes. O céu está mais adornado pelas grandes constelações bri-
lhantes do que por muitas estrelas insignificantes; assim Deus pode ser mais glorificado por
um único Cristão brilhante do que por muitos indiferentes. Anelem por ser este único.

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Em breve, seremos irrepreensíveis. Aquele que começou, o concluirá. Seremos seme-
lhantes a Ele, porque O veremos como Ele é. Quando vocês deixarem este corpo, podem
dizer: Adeus para sempre concupiscência; adeus meu odioso orgulho; adeus odioso egoís-
mo; adeus luta e inveja; adeus, vergonha de Cristo. Oh! isso torna a morte doce, de fato!
Oh! anelem partir e estar com Cristo!

III. A ELE SEJA A GLÓRIA

(1) Se algo tem sido feito por sua alma, deem a Ele a glória! Não louvem nenhum outro,
deem todo o louvor a Ele.

(2) E deem o domínio a Ele também. Apresentai-vos a Ele, alma e corpo.

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“Pai, eu quero” é extraído de Memórias e Lembranças do Reverendo Robert Murray
M'Cheyne, pelo Reverendo Andrew Bonar. Publicado pela primeira vez em 1844,
(Reimpresso, Edinburgh: Oliphant, Anderson, e Ferrier, 1883), páginas 419 a 431.
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4
Olhe Para Cristo Traspassado

“Mas sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém,


derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem
traspassaram; e prantearão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e
chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito...
Naquele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi, e para os habitantes de
Jerusalém, para purificação do pecado e da imundícia.” (Zacarias 12:10; 13:1)

Nestas palavras você tem uma descrição da conversão dos judeus, que ainda está por vir;
um evento que dará vida a este mundo morto. Mas o método de Deus é o mesmo na con-
versão de uma alma. A conversão é a obra mais gloriosa de Deus. A criação do sol é uma
obra muito gloriosa; quando Deus primeiramente o fez se mover em chamas pelo céu,
espalhando adiante bênçãos de ouro em cada margem. A mudança na primavera é mui
maravilhosa; quando Deus faz a grama que desaparecera reviver, as árvores mortas
expõem as folhas verdes, e as flores aparecem na terra. Porém, muito mais gloriosa e
maravilhosa é a conversão de uma alma! Isto é a criação de um sol que deve brilhar pela
eternidade; é a primavera da alma que não conhecerá o inverno; o plantio de uma árvore
que deve florescer com beleza eterna no paraíso de Deus.

I. A fonte da conversão. A mão de Cristo: “derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e


olharão para mim, a quem traspassaram”. O Espírito Santo vem da própria mão que foi
perfurada pelo cravo no maldito madeiro. De fato, a fonte mais íntima do Espírito parece
ser o coração do Pai. Jesus o chama de “o Espírito da Verdade, que procede do Pai”, e em
1 Coríntios 2:11 diz-se que Ele vem do coração de Deus, como o espírito de um homem
está no coração do homem. Ele é o amigo que habitava desde a eternidade no seio do Pai
e do Filho. Mas ainda é bem verdade que o Pai deu o Espírito a Cristo: “Porque foi do
agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse” [Colossenses 1:19]. Jesus obteve o dom
do Espírito Santo, como recompensa de Seu trabalho. É justo que Aquele que morreu pelos
pecadores deva ter o Espírito para dispensar a quem Ele quer; e assim uma de Suas últimas
palavras aos Seus discípulos foi: “Vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo
do pecado” [João 16:7-8].

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1. Isto ensina, almas despertas, de onde vêm as suas convicções. Alguns de vocês sen-
tem que têm sido despertados para preocuparem-se em relação às suas almas? Vocês
foram traspassados por uma seta de convicção. Olhem para a seta; ela saiu do arco de
Cristo. Foi Cristo que a tirou de Sua aljava, Cristo apontou para o seu coração e Cristo fez
que ela traspassasse seu coração. A pena está marcada com o sangue da mão perfurada.
Essa flecha veio das mãos de amor, da mão que foi pregada na cruz. Ah! Em seguida, leve-
a como uma prova de que Cristo quer te salvar. Ele está começando a lidar com vocês. Ah!
não virem as costas, não arranquem a flecha, não curem a ferida superficialmente. Vão
para Ele mesmo, e a mesma mão que vos perfurou os curará. Senhor, se eu não puder ter
paz em Ti, concede-me que eu não a obtenha de mais ninguém.

2. Quando você vê outros gravemente feridos, você deve reconhecer a mão de Cristo. Acho
que alguns reconhecem a mão do ministro, mas não a mão de Cristo. Esta é uma desonra
dolorida para o nosso glorioso Emanuel! Dizia-se dos Erskines, os pais da Secessão, que
Deus tirou grande parte da bênção de seus trabalhos, pois as pessoas não podiam ver
Cristo sobre suas cabeças. Eu encontro muito disto entre vocês. O Senhor te ensina a olhar
acima das cabeças dos ministros, para o nosso glorioso Redentor, montado em Seu cavalo
branco; enviando as Suas setas de convicção!

3. Ore para que Cristo faça isso. Se Ele derrama o Espírito, quem o pode impedir? Eu não
tenho dúvida de que muitos de vocês que vieram hoje, teriam permanecido longe se imagi-
nassem que Cristo hoje converteria sua alma. Temo que haja alguns entre vocês que fe-
cham os olhos, tapam suas orelhas e endurecem o coração para que não se convertam, e
Cristo vos cure. Vocês não gostariam de serem feitos crentes pranteadores, orantes e hu-
mildes, em Jesus. Mas, ó, se Cristo derrama o Espírito hoje, então mesmo vocês serão
derretidos; mesmo vocês serão levados a prantear e clamar: “O que eu devo fazer para ser
salvo?”.

Em um momento em que Cristo não está derramando o Espírito, os ministros falam e se


esforçam, mas em vão; é como falar com os ventos, ou com as ondas furiosas do mar. Mas
quando Cristo se levanta de Seu trono e derrama o Espírito, então os meios mais fracos
são infinitamente poderosos. A Palavra de Deus não vem apenas em palavra. A queixada
de um jumento era uma espada muito fraca para matar os homens, porém na mão de
Sansão era poderosa e ele matou mil homens com ela.

Uma funda e uma pedra eram armas muito fracas para se opor a um gigante armado, e,
contudo, quando Davi atirou a pedra, ele a cravou na testa do gigante, e este caiu com o
rosto em terra. Orem, queridos crentes, para que a funda e a pedra possam estar hoje na
mão de nosso glorioso Davi; que a Palavra possa penetrar nos corações duros deste povo;

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para que mesmo os gigantes em pecado possam ser reduzidos ao pó. Ah! Temo que muitos
de vocês estejam armados até os dentes contra a Palavra de Deus; vocês estão armados
da cabeça aos pés, em todos os pontos. Vocês estão escarnecendo, talvez, em sua segu-
rança; ainda assim, olhem para cima, queridos amigos, para o braço de Emanuel, Ele pode
derrubar o mais orgulhoso. Orem para que Ele se agrade em derramar o Espírito. Eu
acredito que as orações humildes de um único crente podem obter uma obra profunda e
pura de Deus em uma cidade. Se houvesse homens entre nós, como Noé, Jó e Daniel
poderíamos esperar uma chuva de bênçãos.

II. É o Espírito que converte.

1. O Espírito da graça, Ele é assim chamado porque a Sua vinda a qualquer alma, e tudo o
que Ele faz na alma, é por livre graça. Quando o Espírito de Deus visita pela primeira vez
uma alma, Ele não encontra nada o convidando para vir ou para permanecer; Ele encontra
a alma como os ossos secos no vale aberto, sem qualquer forma ou formosura, sem qual-
quer desejo de vida. Todo homem natural não tem mais beleza do que um esqueleto seco,
nem mais desejo de graça do que uma carcaça morta. Não, mais, há tudo para conduzir o
Espírito à distância. Ele é um Espírito Santo, mas Ele encontra o coração em um poço de
corrupções, cheio das mais repugnantes luxúrias e paixões. Ele é um Espírito de amor, mas
Ele encontra o coração do homem cheio de rebeldia e terrível inimizade contra Deus. Ele é
um Espírito zeloso, mas Ele encontra o coração do homem uma câmara de imagens, repleto
de abominações. Eu posso imaginar o Espírito Santo olhando para alguns dos seus
corações, e dizendo: “Por que eu deveria aproximar-me de tal alma? Ele não quer que eu
o converta. Ele quer ser deixado em paz. Ele prefere servir às suas paixões; por que eu
deveria incomodá-lo? Eu vou deixá-lo sozinho”. Permaneça, permaneça, bendito Espírito
de graça! Venha, por livre graça. Venha, não porque ele deseja a Ti, mas porque és gra-
cioso. Venha e faça mesmo esses ossos secos levantarem-se e invocarem o nome de
Jesus.

Alguns de vocês sabem que foi assim que Ele veio até você. Ele encontrou você como um
rebelde, e Ele fez-lhe um filho obediente. Oh! você nunca se desesperou por nada, até Ele
que converteu seu coração! Há alguns entre vocês, queridos amigos, de quem o homem
poderia se desesperar, homens e mulheres que têm vivido por muito tempo em velhos peca-
dos formalistas, para os quais receber o Senhor nesta mesa é um antigo empreendimento.
Não nos desesperemos dos tais! O Espírito é o Espírito da graça. Convide-O para vir, pobre
alma morta.

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2. O Espírito de súplicas. Porque Ele ensina a orar. Dificilmente pode ser dito de um homem
natural que ele está orando. É verdade que ele tem frequentemente uma forma comum
para clamar na hora da angústia; mas será que ele sempre clama a Deus? Uma alma
ansiosa não pode orar com uma forma, pois ela diz: “Ninguém jamais foi como eu”. Mas um
homem ora realmente quando o Espírito vem à sua alma. Ele conduziu um ímpio Manassés
aos seus joelhos. Manassés havia muitas vezes dobrado os joelhos na juventude no colo
de seu pai piedoso, muitas vezes tinha orado aos seus ídolos sanguinários, ele tinha muitas
vezes orado ao Diabo; mas agora, quando o Espírito veio, ele começou a orar verdadeira-
mente. Ele conduziu um blasfemo Paulo aos seus joelhos. Muitas vezes, Paulo havia orado
aos pés de Gamaliel. Na sinagoga e nos cantos das ruas, ele fez longas orações, por pre-
tensão; mas agora, despertado pelo Espírito de Deus: “eis que ele está orando” [Atos 9:11].

Você foi ensinado a orar pelo Espírito de Deus? Você já teve uma forma, ou orou por
pretexto, ou você orou a ídolos; mas você foi levado a orar pelo Espírito Santo? Então, você
pode estar certo de que Ele começou a trabalhar em seu coração. Se algum dentre vocês
não foi levado a orar em secreto, o tal pode estar certo de que está em “fel de amargura e
laço de iniquidade”. Uma alma sem oração é uma alma adormecida muito perto do fogo.
Alguns pedaços de madeira queimarão muito mais facilmente do que outros; alguns peda-
ços são verdes e não são facilmente apanhados pela chama, mas um pedaço de madeira
seca é facilmente incendiado. As almas sem oração são pedaços secos de madeira que
estão prontos para a queima.

III. Onde a alma busca por conversão: “Eles olharão para mim, a quem traspassaram”.
Quando o Espírito de Deus está trabalhando realmente no coração, Ele faz o homem olhar
para um Cristo traspassado. Por onde passa, este é o objeto de destaque em Seu olho:
Cristo, aquele que foi traspassado. Satanás quer fazer um homem olhar para qualquer lu-
gar, em vez de Cristo. Há tal coisa como falsa conversão. Satanás às vezes atiça as pes-
soas para que se preocupem com suas almas. Ele faz com que busquem por ministros, ou
livros, ou reuniões, ou deveres a sentimentos, por se aplicarem na oração e etc. Ele vai
deixá-los olhar para qualquer coisa no universo, exceto para um objeto: a cruz de Cristo. A
única coisa que ele esconde é o Evangelho, o glorioso Evangelho de Cristo. Quando é o
Espírito de Deus, Ele não vai deixar a alma olhar para qualquer outra coisa, senão para
Cristo, para um Cristo traspassado.

O que uma alma despertada vê ali?

1. A alma vê que ela traspassou o Filho de Deus por seus pecados. Isto dá-lhe uma sensa-
ção terrível da grandeza infinita do pecado. Um homem natural não pensa nada a respeito

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do pecado. Uma blasfêmia ou uma mentira é tão leve como uma pluma em muitas de suas
consciências. Você não sente que isso seja um fardo, mesmo que houvesse um milhão
deles colocados sobre a sua alma. Você pode dormir com facilidade em todos os seus
pecados. Entretanto, se os seus olhos se abrissem para olhar para um Cristo traspassado,
você veria que o peso é infinito. Ah! Veja ali que Deus não poupou a Cristo, embora Ele
mesmo não tivesse pecado nenhum, senão pecados imputados. Veja a infinita ira derra-
mada sobre Ele! Vê que lanças perfuraram sua santa alma! Os cravos perfuraram suas
mãos e pés inculpáveis, mas todas as flechas de Deus bebiam de Seu espírito. Deus pou-
pará você, se você morrer em seus próprios pecados, quando estes pecados são os seus
próprios atos e ações?

Pense novamente: Cristo era Deus. Este sofredor pálido é o “Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz”; veja ainda como Ele afunda sob o peso; veja; no Getsêmani, como Ele
fica trêmulo, suando grandes gotas de sangue; veja-o no Calvário, como Seus ossos estão
fora das juntas, como sua cabeça está inclinada morrendo em agonia. Você é apenas um
verme. Você pode suportar esta ira? “Porventura estará firme o teu coração? Porventura
estarão fortes as tuas mãos, nos dias em que eu tratarei contigo?” [Ezequiel 22:14]. Olhem
para Cristo, pecadores busquem por um Cristo traspassado, e lamentem. Nada quebrantará
o vosso coração, senão uma visão de Cristo traspassado por seus pecados.

2. A alma vê que ela traspassou o Filho de Deus por meio da incredulidade. Quando o
Espírito revela Cristo à alma, isto é geralmente um unguento amargo. Um homem não
despertado não pensa nada sobre a incredulidade, ele não se importa de ter rejeitado a
Cristo por vezes sem número. Os ministros têm pregado até esgotar o fôlego, rogando-lhe
para converter-se e viver; Cristo tem permanecido todo o dia com as mãos estendidas;
Deus lamentou sobre esse homem e adiou lançá-lo no inferno; ainda assim, ele é um
rebelde endurecido. Ah! quando o Espírito desperta aquele homem, que visão ele vê em
um Cristo traspassado! Alguns de vocês estão dizendo hoje: Eu tenho desprezado esse
Alguém glorioso. Ele com frequência quis me acolher, e eu não quis. Deus tem esperado
por mim há anos. Jesus tem batido em minha porta, e eu nunca quis deixá-lO entrar; e
agora eu sinto que Ele se foi para sempre. Sim, alguns de vocês podem sentir que o seu
coração não está disposto a obtê-lO, está tão duro e morto. Quanto mais formoso Ele
parece, mais o seu coração é traspassado, porque você O tem rejeitado. Ah, não há dor
como a de olhar para um Cristo traspassado!

(1) Há uma tristeza amarga. Você já viu os pais de luto pela perda de seu filho único, ou de
seu primogênito? É uma tristeza inefável. Tal é a angústia de quem olha para um Cristo
traspassado. De fato, alguns têm agonia mais profunda do que outros; mas todos os que
verdadeiramente olham para Cristo estão em amargura.

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(2) Há uma tristeza solitária. Na verdade, esta não estará restrita em nenhum lugar; e estão
errados aqueles que condenam precipitadamente a intensa ansiedade manifestada mesmo
em público; mas esta dor procura a sombra, a alma atingida procura estar a sós com Deus,
ou com alguns de semelhante espírito. David Brainerd menciona que em uma ocasião,
quando ele estava pregando a Cristo traspassado aos seus índios, o poder de Deus desceu
entre eles como um vento impetuoso: “A preocupação deles foi tão grande, cada um por si,
de modo que nenhum parecia se importar com aqueles ao seu redor. Eles estavam, à sua
própria apreensão, tão retraídos como se estivessem sozinhos no deserto mais espesso.
Cada um estava orando à parte, e, ainda assim, todos juntos”.

Ó queridos amigos, se vocês realmente olhassem para um Cristo traspassado, vocês esta-
riam em angústia de alma a fim de obter uma participação nEle. Vejam como vocês O tem
menosprezado nos dias passados. Na juventude, na Escola Dominical, quando criancinhas,
como vocês O recusaram! Quando vocês vieram pela primeira vez à mesa do Senhor, Ele
permaneceu um Salvador traspassado diante de seus olhos; mas vocês O negligenciaram,
e O pisotearam. E vocês estão chegando ao dia de hoje para perfurar-Lhe mais uma vez,
para enfiar novamente os cravos em Suas mãos, a lança em Seu lado e os espinhos em
Sua testa? Pare, pecador! Tu estás perfurando Alguém que te ama, matando o Príncipe da
Vida, negligenciando o único Salvador. Se você O rejeitar hoje, você pode jamais vê-lO
novamente até que O veja nas nuvens do céu, e lamente-se por causa dEle.

Caros crentes, lembrem-se de como vocês O traspassaram; deixem que ervas amargas
adocem a sua páscoa, permitam que uma lembrança amarga do pecado passado faça de
Cristo muitíssimo mais precioso.

IV. Uma fonte é vista em um Cristo traspassado.

O primeiro olhar a Cristo faz o pecador lamentar-se; o segundo olhar a Cristo o faz alegrar-
se. Quando a alma primeiramente olha para Cristo, ela vê metade da verdade, ela vê a ira
de Deus contra o pecado, que Deus é santo, e deve vingar o pecado, por que Ele de ne-
nhuma forma inocenta o culpado, ela vê que a ira de Deus é infinita. Quando ela olha para
Cristo novamente, ela vê a outra metade da verdade, o amor de Deus pelos perdidos, que
Deus providenciou uma segura libertação a todos. É isso que enche a alma de alegria. Oh!
é estranho que o mesmo objeto deva ferir o coração e curá-lo! Um olhar para as feridas de
Cristo, um olhar para Cristo cura. Muitos, eu temo, têm apenas olhado pela metade para
Cristo, e isso causa apenas tristeza. Muitos são tardos de coração para crer em tudo o que
se fala a respeito de Jesus. Eles acreditam em tudo, exceto que Ele é gratuito para eles [...].

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Quando o Espírito está ensinando, Ele concede uma visão plena de Cristo, um olhar para
Ele somente por justiça. O que o pecador vê? As feridas de Cristo, uma fonte para o pecado
e para a impureza. Ó, trêmulos pecadores, venham e obtenham este olhar para Cristo!
Venham e vejam uma fonte para o pecado e para a impureza, aberta no Calvário há mil e
oitocentos anos atrás. “Eu não posso, pois os meus pecados são muito grandes”. Você é
todo pecado e impureza, nada além de pecado, uma massa de pecado? Em sua vida, em
seu coração, você é um feixe de luxúrias? Aqui está uma fonte aberta para você; olhe para
Cristo traspassado, e pranteie; olhe para Cristo traspassado, e seja feliz. “Eu não consigo
me lavar”. Olhar é lavar. Tão logo o olho se volta, as vestes imundas caem.

A fonte está aberta nesta casa de Deus hoje. No próprio aproximar-se das mesas, Jesus
se levanta e diz: “E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida”
[Apocalipse 22:17]. Você está disposto? Você busca somente por Ele para a justiça? Então,
venha, assim lavado para a mesa do Senhor, na mesma veste que você usará na glória.
Sente-se e volte os seus olhos para a fonte. Valorize isso altamente! O que você não deve
a Quem te salva da perdição!?

Alguém poderia passar da fonte para a mesa. Cuidado, homem ímpio! Você se atreverá a
sentar-se ali com o pecado não perdoado sobre você? Você se arriscará a tocar o pão, sem
que sua alma esteja lavada? Ah, você se arrependerá amargamente um dia! Alguns, eu
confio se lembrarão deste dia na glória; alguns, receio, se lembrarão deste dia no inferno.

São Pedro, 19 abril de 1840.

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5
Cristo, o Único Refúgio

“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti;
esconde-te só por um momento, até que passe a ira.” (Isaías 26:20)

Esta passagem é uma palavra em tempo oportuno ao povo de Deus em toda época de
calamidade iminente. A forma de expressão é evidentemente tomada a partir daquela noite
terrível quando Deus passou pela terra do Egito para ferir todos os primogênitos dos
egípcios, desde o primogênito de Faraó que estava assentado sobre o trono, até o
primogênito do cativo que estava na masmorra. E Faraó levantou-se de noite, ele e todos
os seus servos, e todos os Egípcios, e houve um grande clamor no Egito, porque não havia
casa em que não houvesse um morto. Mas Deus tinha ordenado o Seu próprio Israel a
matar o cordeiro pascal, o tipo do Senhor Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, e a tomar um
molho de hissopo, e mergulhá-lo no sangue, e pô-lo na verga da porta e em ambas as
ombreiras, com sangue: “porém nenhum de vós saia da porta da sua casa até à manhã”
[Êxodo 12:22]. “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre
ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

Pode ser difícil determinar a que tempo de indignação o profeta aqui se refere. A profecia
foi dada no início do reinado de Ezequias, quando muita destruição ainda estava por vir
sobre a terra de Israel. A invasão por Senaqueribe, o assírio, estava prestes a acontecer, e
pode ser primariamente referido a isto. A invasão por Nabucodonosor, e cativeiro de setenta
anos também estavam vindo; e também podia referir-se a isso. E a invasão pelos Romanos,
na qual Jerusalém foi destruída, e os judeus finalmente dispersos pelo mundo inteiro,
também podia remeter-se a isso. E em todas essas iminentes indignações, a Palavra de
Deus ao seu povo foi, para que se escondessem em seus aposentos, no refúgio em que
Ele lhes tinha designado, até que a ira passasse.

Porém, acima de tudo, esta profecia refere-se à grande tempestade de ira que Deus ainda
trará sobre o mundo, antes que venha o fim. Quando o Senhor Jesus virá uma segunda
vez, sem pecado para salvar; quando Ele virá novamente, não mais um pobre homem,
vestido com uma túnica sem costura, mas glorioso em Seu traje, marchando na plenitude
da Sua força: “quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu

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poder, com labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que
não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; quando vier para ser
glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem
(porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)” [2 Tessalonicenses 1:7, 8, 10]. Naquele
dia de terrível tribulação, que a não ser que fosse encurtado, nenhuma carne se salvaria,
Deus reunirá os Seus como se fosse em câmaras, e os guardará escondidos até que a
tempestade passe.

Como no dilúvio Ele conduziu Seu pequeno rebanho para o interior da Arca, e está escri-
to: “o Senhor o fechou dentro” [Gênesis 7:16], Ele fechou as portas sobre eles, até que o
dilúvio de Sua ira passou; como na destruição de Jericó, a família de Raabe foi toda reunida
dentro das portas, e salvos da ira que veio sobre todos; como na destruição dos primogê-
nitos do Egito, Deus guardou o Seu próprio Israel escondido em segurança nas suas habi-
tações; assim, na última tempestade que cairá sobre este miserável mundo que perece,
Deus reunirá os seus eleitos em segurança sob a palma da mão, dizendo: “Vai, pois, povo
meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um
momento, até que passe a ira”.

A doutrina a ser aprendida a partir desta passagem é muito simples, a saber, que em todos
os tempos de calamidade Deus nos ordena e a nossas famílias a encontrarmos refúgio em
Cristo. Não há segurança em qualquer outro lugar.

Cristo é um refúgio completo em cada tempestade.

Em outras partes da Bíblia, Cristo é comparado a “um esconderijo contra o vento, e um re-
fúgio contra a tempestade e como a sombra de uma grande rocha em terra sedenta” [Isaías
32:2]; Ele é comparado a uma “torre forte” [Provérbios 18:2] ou “alto refúgio” [Salmos 18:2],
para o qual nós podemos fugir e estar a salvos. Ele é comparado a uma “macieira entre as
árvores do bosque”, sob a sombra da qual, podemos sentar, e seu fruto é doce ao nosso
paladar [Cânticos 2:3], mas a comparação aqui é bem diferente, ele é aqui comparado ao
nosso próprio quarto com a porta fechada: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e
fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

Agora Cristo é como o nosso próprio quarto com a porta fechada, em muitos aspectos:

(1) Porque há segurança nEle. Não há lugar em todo o mundo para o qual olhamos com
mais frequência em uma hora de perigo, como um refúgio e lugar de segurança, mais do
que a nossa própria casa, o quarto interior, com a porta fechada. Irmãos, precisamente

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assim é Cristo. Há segurança nEle: “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo
Jesus” [Romanos 8:1].

(2) Porque há sossego e descanso nEle. No mundo nós olhamos para a agitação e preocu-
pação dos negócios, mas quando entramos em nosso quarto e fechamos a porta para o
mundo inquieto, tudo é tranquilidade e paz. Irmãos, exatamente assim é Cristo. NEle o “can-
sado está em repouso”. Nós estamos “sem inquietações” temos “repouso e segurança para
sempre”.

(3) Porque a nossa casa é um refúgio de prontidão, de acesso próximo e fácil. Quando bus-
camos a nossa casa, não temos que subir com a águia até o topo das rochas escarpadas,
nem como a pomba que se aninha nos lados da boca da caverna, nem temos que cavar a
terra, para que possamos esconder nossa cabeça ali. Nossa casa está próxima de nós.
Irmãos, precisamente assim é Cristo. Ele é um Salvador de prontidão que está próximo e
não distante. Nós não temos que subir, para trazer Cristo do alto, nem temos que descer
para a profundeza, para trazer Cristo, novamente, dentre os mortos. Mas a palavra está
perto de ti, na tua boca e no teu coração. Oh! Ele é um Salvador próximo; Ele não está
longe de cada um de nós. Agora, este é o refúgio para o qual Deus ordena ao Seu povo
fugir, em cada tempestade: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas
portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. E oh! Ele é um refúgio
todo-suficiente em cada tempestade.

I. Cristo é um refúgio completo durante as tempestades da consciência. A grande maioria


dos homens não-convertidos estão vivendo mui seguros em seus pecados; indo de um dia
para o outro sem a menor ansiedade, embora a ira de Deus permaneça sobre eles. A razão
é que os cálices da ira estão suspensos sobre suas cabeças, mas ainda não foram derrama-
dos; as chamas do inferno estão queimando debaixo de seus pés, mas eles ainda não
sofreram por tocá-las. Deus é longânimo, não querendo que ninguém pereça. Mas quando
Deus desperta a alma para conhecer a sua verdadeira condição, então surge, no interior,
uma tempestade da consciência. Ó irmãos! então, não há mais segurança para aquela
alma. Ela não sente a repugnância do pecado como um filho de Deus, mas sente o terror
da ira. O Espírito a convenceu do pecado. Cada pecado de sua vida passada se le-vanta
atrás dela, e parecem clamar vingança. Todos os pecados de suas mãos roubando as
coisas que não eram suas, manipulando as coisas ilegalmente, e escrevendo coisas
abomináveis e tolas; os pecados de seus pés, velozes para derramar sangue, rápidos para
levá-lo para os antros do pecado; os pecados de seus olhos, cheios de adultério, e que não
poderiam deixar de pecar; os pecados da língua amando e praticando a mentira, expres-
sando palavras de murmúrio, maledicência, calúnia e amargura, falando palavras vergonho-

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sas na escuridão, coisas as quais até mesmo o citar é uma vergonha; os pecados do seu
coração, pois este deve ter sido sempre como uma fonte jorrando desejos abomináveis e
afeições repugnantes em direção à criatura, ao passo que o Criador era desprezado,
embora seja o mais amorável de todos.

Ó irmãos! quando um homem realmente sente que a ira de Deus está posta sobre ele por
toda uma vida de pecado, quem pode suportar a tempestade? e, o pior de tudo: quando o
Espírito convence do pecado, “porque ele não crê em Jesus”. Quando o pecador sente que
Jesus estendeu a Sua mão o dia todo, e ele não considerou; que o gentil Salvador o cha-
mou, e ele recusou; que ele desprezou as ofertas de misericórdia pisoteando-as, e des-
prezou o Espírito da graça, em seguida, a tempestade de consciência sobe em um turbilhão.
Os temores da ira caem duramente sobre a alma; eles são como ondas e vagas passando
por cima dele. Agora, sua esposa e filhos não podem animá-lo nem seus companheiros de
pecado podem fazê-lo rir de seus medos. Ó irmãos, se alguma vez vocês já viram o sem-
blante triste e abatido de um pecador convencido por Deus, vocês não esquecerão disto
tão cedo. Ele não tem certeza, se seu próximo passo não pode ser o inferno. Quando ele
adormece, ele não sabe, se ele não pode acordar no inferno.

Oh! se há uma alma aqui, assim despertada, aflita, na tempestade e desconsolada, ouça
esta palavra: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti;
esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. É verdade, esta é uma palavra, princi-
palmente para o povo de Deus, que já está escondido em Cristo, mas Cristo é tão livre para
você como para eles. NEle há uma segurança perfeita. NEle há tranquilidade e descanso.
Ele é um Salvador próximo. Seus braços são tão abertos para recebê-lo como é a sua
própria casa. Vinde, pobres pecadores, entrem neste quarto. Todo aquele que está agora
em Cristo, já esteve na tempestade, como você está. Quando um homem é surpreendido
ao cair da noite em um pântano sombrio, quando o vento gelado sopra amargamente sobre
ele, e a neve abundante retarda cada passo seu, onde é que ele deseja estar? Que lugar
em todo o mundo está frequentemente em sua desejosa imaginação? É sua casa, em seu
quarto com a porta fechada. Se ele apenas estivesse ali, estaria seguro. Ó pobre alma,
exatamente assim é você, e precisamente assim, como uma casa, é Cristo, que não dis-
tante, mas próximo. Crê no Senhor Jesus e serás salvo. Esconda-se nEle, pois Ele é um
esconderijo contra o vento.

II. Cristo é um refúgio completo em uma tempestade de providência.

Quando as providências são todas favoráveis, é assombroso como quão descuidados os


homens não-convertidos são em relação a Deus e às coisas da eternidade.

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Quando o esplendor da saúde estampa o seu rosto, eles começam a viver como se fossem
viver para sempre, como se não houvesse morte e nem inferno. Quando o seu negócio con-
tinua próspero de semana a semana, eles começam sentir-se como senhores do universo,
como se esse mundo fosse seu, como se as suas casas, terras e dinheiro fossem todos
seus próprios, e eles nunca poderiam abrir mão. E é ainda mais surpreendente ver quão
mais descuidados até mesmo os filhos de Deus são nestes tempos de prolongada e contí-
nua prosperidade; como a morte e a eternidade, e o estar com Cristo e o crescer em seme-
lhança com Ele se tornaram coisas menos desejáveis do que uma vez foram. Quão pare-
cidos eles se tornam com o mundo, ao supor que o ganho é piedade. Como os pobres e
miseráveis bens deste mundo parecem, por um tempo, estar no meio e interceptar a visão
da herança que é incorruptível, incontaminável, imperecível. Como o deslumbre e o brilho
deste presente mundo vil ofuscam os seus os olhos, e escurecem a sua visão da contem-
plação do Rei em Sua formosura, e da terra que está mui distante.

Agora, é profundamente interessante e instrutivo observar o pânico que vem sobre a face
da sociedade, quando Deus faz uma súbita mudança de providências; quando, de repente,
o céu está nublado, o trovão distintamente começa a retinir, e a tempestade da providência
progride. Quando aqueles acidentes súbitos ocorrem no mundo comercial, quando a ava-
lanche das montanhas nevadas desce sobre alguma aldeia infeliz e sufoca famílias inteiras
em meio à sua alegria irracional. Quando essas catástrofes esmagadoras descem, envol-
vendo famílias inteiras em ruína e miséria, é estranho ver como o mundo fica espantado, a
sua sabedoria é totalmente frustrada e confundida. Ou quando Deus envia um tempo de
doença generalizada e morte; quando Ele parece envenenar a própria atmosfera; quando
somos visitados pela peste que anda na escuridão e pela mortandade que assola ao meio-
dia; quando caem mil nosso lado, e dez mil à nossa direita. Oh! é estranho ver o pânico que
vem sobre os homens, e a palidez sobre todos os rostos.

É como quando um conjunto de barcos de pesca saiu em uma excursão quando o vento
era bom, e o sol brilhava alegremente, e as ondas azuis ondulavam suavemente por todos
os lados, e tudo é alegria e despreocupação em cada barco, quando de repente o céu fica
nublado, o vento ruidoso sobe, uma terrível tempestade se aproxima, e a morte olha os ho-
mens no rosto. Ah! então, que pânico se apodera da tripulação em cada barco? Que
rizadura das velas! que avidez no leme! como alguém procura correr para o litoral, outro
para o interior! Assim é o pânico que vem sobre os homens não-convertidos em um momen-
to de calamidade generalizada. E oh! quão religiosos eles agora se tornam! como olham
para a sepultura, e abandonam seus gracejos e conversas licenciosas, e pensam que isto
é religião! Eles são como Israel no passado: “Quando os matava, então o procuravam; e
voltavam, e de madrugada buscavam a Deus. E se lembravam de que Deus era a sua

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rocha, e o Deus Altíssimo o seu Redentor. Todavia lisonjeavam-no com a boca, e com a
língua lhe mentiam. Porque o seu coração não era reto para com ele, nem foram fiéis na
sua aliança” [Salmos 78:34-37].

Agora, irmãos, em tal tempestade da providência Divina, Cristo é um refúgio completo; e


embora os filhos de Deus, em tais momentos, mesmo eles, parecem estar em dúvida e sob
perigo, porque não sabem o que pensar e nem para onde fugir, ainda assim eles podem
ouvir a Palavra de Deus acima da tempestade: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos,
e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira” [Isaías
26:20]. Assim como o nosso próprio quarto, com as portas fechadas sobre nós, é o lugar
onde temos sossego e descanso, e a tempestade pode se enfurecer lá fora, mas não a sen-
tiremos; e o mundo pode estar chorando em voz alta, contudo, nós não o ouviremos, assim
o Senhor Jesus é um refúgio perfeito para o crente, em todas as tempestades da providência.

Os homens tendem a pensar que o único bem em esconder-se em Cristo é salvar as nossas
almas, de forma que quando um pecador despertado se esconde no Senhor Jesus, ele en-
contra o perdão de todos os pecados e paz com Deus, porém nada mais. Mas toda a Bíblia
mostra que há muito mais em Cristo, de modo que, quando nós nos escondemos nEle, nós
somos salvos de todas as nossas angústias, de nossos problemas de saúde, do dinheiro,
do mundo. No Salmo 34, é mencionado quatro vezes, que quando nos aproximamos de
Cristo, somos salvos, e não de um problema, mas de todos os nossos problemas: “Busquei
ao Senhor, e ele me respondeu; livrou-me de todos os meus temores” (v. 4). “Clamou este
pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de todas as suas angústias” (v. 6). “Os justos clamam,
e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias” (v. 17). “Muitas são as aflições
do justo, mas o Senhor o livra de todas” (v. 19). E a razão é simples: quando nos esconde-
mos em Jesus, o Deus de provisão torna-se o nosso Deus e Pai, e nós sabemos que todas
as coisas cooperam para o nosso bem. O Senhor é nosso pastor e nada nos faltará.
Qualquer temporal pode ser afastado, nós sabemos que nosso bem eterno está seguro:
“porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu
depósito até àquele dia” [2 Timóteo 1:12].

Ó meus amigos crentes, por que vocês deveriam estar desencorajados neste tempo de
peste grandemente disseminada e calamidade? por que vocês estariam abatidos, como se
Deus estivesse lhes cobrindo com uma nuvem em Sua ira? Estas nuvens podem ser
algumas gotas da ira vindoura de Deus sobre o mundo, elas podem ser como o primeiro
trovejar da chuva; mas para vocês, elas falam na linguagem do amor. Deus quer que vocês
se escondam mais profundamente em Cristo, Ele quer vocês mais separados do mundo:
“Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha as tuas portas sobre ti”.

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Nós nunca conheceríamos a bênção de uma casa, se não houvesse as neves e os ventos
invernais para nos fazer em multidão ficar em volta da lareira feliz! Exatamente assim, cren-
te, você não conhece a bênção de tal quarto como é Cristo, se não houvesse enfermidades
e providências escuras eminentes para fazê-los viver mais nEle. Venha então, crente, que
cada gota de ira que cai em torno de você fale com o novo poder à sua alma, dê nova luz
à fé pela qual você se apegará a Jesus. Deixe que cada suspiro que você ouve, seja como
se fosse uma voz de Deus, dizendo: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos”.

E vocês, pobres almas sem Cristo, ah! para onde vocês correrão, pobres ovelhas que não
têm pastor, indefesas e perdidas no deserto deste mundo? Vocês não têm casa. Entrem
em vossos quartos mais seguros e fechem a porta, mas, ainda assim, a vingança pode
chegar ali. Deus está contra você, Sua ira está habitando sobre você. O dia do Senhor é
trevas e não luz para você. Onde quer que você vá você é uma alma perdida. “É como se
um homem fugisse de diante do leão, e se encontrasse com ele o urso; ou como se entran-
do numa casa, a sua mão encostasse à parede, e fosse mordido por uma cobra” [Amós
5:19]. Ó irmãos! Vocês são homens, vocês têm tendes entendimento, não fugireis da ira
vindoura? Será que essas enfermidades assoladoras não vos convencem de que Deus é
mais forte do que vocês, que vocês serão como nada nas mãos de um Deus irado? Até
mesmo para vocês, Cristo, a porta da salvação, ainda está aberta, escancarada. Vinde,
pobres pecadores, entrem neste quarto e fechem as tuas portas sobre vocês. “Esconde-te
só por um momento, até que passe a ira”.

III. Há apenas duas observações que gostaria de fazer, em conclusão:

1. Esta passagem ordena que nos escondamos em Cristo, e não isoladamente, mas em
famílias. Na libertação que Deus operou por Israel no Egito, Ele ensinou isso mui notável-
mente, pois Ele não reuniu Israel em alguma grande torre onde eles poderiam estar segu-
ros, mas ordenou que cada família permanecesse dentro de sua própria casa, apenas as-
pergindo suas portas com o sangue. E assim, ao salvar Noé, Deus não salvou a alma de
um indivíduo, mas a família inteira. E assim, na salvação de Ló, Deus salvou a Ló, e a todos
os que estavam com ele. E assim, na salvação de Raabe, ela e toda a sua parentela foram
reunidos e salvos. Meus amigos, Deus ainda é o Deus das famílias, e Ele ainda quer que
famílias inteiras sejam salvas; e Ele diz assim nas palavras diante de mim: “Vai, pois, povo
meu, entra nos teus quartos”. Ai! meus amigos, nós vivemos em dias quando a religião de
família está prostrada no chão. Os homens são muito orgulhosos para ser como Abraão, e
ordenar os seus filhos e seus servos depois deles. Os homens atuais tomam as palavras
de Caim, e dizem: “Sou eu o guardião de meu irmão?”. Ah! Onde estão os nossos Andrés

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agora? André primeiro achou seu próprio irmão, Pedro, e disse a ele: “Achamos o Cristo; e
levou-o a Jesus”.

O quê!? há um de vocês que pensa de si mesmo ser um filho de Deus, e ainda se envergo-
nha de ajoelhar-se no meio de sua família e orar? Ai! meu amigo, você pode sonhar que é
um filho de Abraão, mas lembre-se que você não faz as obras de Abraão. Ah irmãos, famí-
lias inteiras precisam ser salvas, pois famílias inteiras estão em perigo do inferno.

Então, você que conhece o Senhor, as suas entranhas não suspiram pela sua parentela
perecendo? Você não pode empenhar-se em algo, penso eu, para ganhá-los para Cristo?
Você não fortalecerá nossas mãos, no mínimo, pelas suas palavras e orações, e pela aber-
tura do caminho para que o ministro de Cristo entre no seio de suas famílias não-conver-
tidas? Ah! neste tempo de angústia, você não insistirá com eles, como os anjos fizeram
com Ló? Ouça! o Senhor vos chama: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos, e fecha
as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

2. Eu observo que os perigos a que estão expostos o crente são apenas passageiros. Deus
diz: “Esconde-te só por um momento, até que passe a ira”. Foi assim naquela noite quando
Deus feriu os primogênitos do Egito. Era apenas por uma noite que eles tiveram que
esconder-se em suas casas: “nenhum de vós saia da porta da sua casa até à manhã”. Foi
assim na destruição de Jericó, Raabe e sua parentela esconderam-se por sete dias, até
que o perigo passasse. E justamente assim, os problemas dos crentes agora são por um
curto período: “nossa leve e momentânea tribulação” [2 Coríntios 4:17]. E também a ira que
há de vir sobre o mundo será, apenas por um momento, que em breve passará.

(1) As tribulações temporais são apenas por um momento. Estas tristes doenças e calami-
dades não durarão para sempre, um pouco de tempo e este corpo será livre do poder da
dor e de suas misérias. Eu sei que se algum de vocês tivesse provado a doçura de estar
em Cristo, estaria contente em esconder-se nEle por toda a eternidade. Seja bem-vinda uma
eternidade de problemas exteriores, se apenas eu estiver escondido em Cristo. Mas você
não é solicitado a fazer isso: “Esconde-te só por um momento”. Viva apenas mais alguns
anos na fé, e tu viverás o restante em glória: “Se sofrermos, também com ele reinaremos”
[2 Timóteo 2:12].

(2) A ira do último dia será apenas por um momento. Dias de ira estão chegando, meus
amigos, tal como o mundo nunca conheceu antes; é vão esconder-se. E se esses dias não
fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria, mas por causa dos escolhidos serão abre-
viados, para que aconteçam por pouco tempo. Se estes dias de tribulação se darão em
nossos dias, eu não sei, pois não sabemos o dia nem a hora em que o Filho do Homem vi-

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rá. Mas isso eu sei, que não há segurança nem por outra noite para qualquer alma que não
esteja escondida no Salvador. Eu repito isto, meus amigos, se vocês deitarem em sua cama
nesta noite sem de Cristo, o Filho do Homem pode vir antes da manhã, e vocês serão arrui-
nados, e terão o seu quinhão com os hipócritas, onde há choro e ranger de dentes.

Mas, ó crente escondidos na Rocha, permanecei nEle. Enquanto o céu escurece ao vosso
redor, escondam-se mais profundamente nEle. Isto é apenas por um curto período como
uma nuvem sombria e escura, mas virá luz do sol eterno acima de uma grande onda de
vingança, e um oceano infinito de glória.

Filhinhos, permanecei nEle, para que quando Ele se manifestar tenhais confiança, e não
fiqueis confundidos diante dEle na Sua vinda: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quar-
tos, e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.

Dundee, 15 de janeiro de 1837.

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6
Pode Uma Mulher Esquecer?

“Porém Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de


mim. Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não
se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele,
contudo eu não me esquecerei de ti.” (Isaías 49:14-15)

Estas palavras aplicam-se, em primeiro lugar, ao antigo povo de Deus, os judeus. Antes de
sua conversão final, acredito que seus olhos serão abertos para ver o seu pecado e mi-
séria. Eles olharão para Aquele a quem traspassaram, e lamentarão. Quando eles ouvem
as ofertas gloriosas de misericórdia, eles não são capazes de acreditar nelas: “Sião dirá:
Já me desamparou o Senhor, o meu Deus se esqueceu de mim”. Mas Deus vai responder-
lhes que, não obstante todos os seus pecados e aflições passadas, Ele ainda os amará, e
será o seu Deus: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria,
que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse
dele, contudo eu não me esquecerei de ti”. Estas palavras são igualmente verdadeiras para
todos os crentes.

I. Investigue nesses momentos em que casos os próprios crentes pensam estar abando-
nados.

1. Em tempos de aflição dolorosa. Assim foi com Noemi, ela havia perdido seu amado
marido e seus dois filhos na terra de Moabe. E agora, quando ela voltou, apoiando-se em
sua nora, até o monte de Belém, toda a cidade se alvoroçou, e eles disseram: “Não é esta
Noemi? Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande
amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez tornar;
por que pois me chamareis Noemi? O Senhor testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me
tem feito mal” [Rute 1:19-21]. Assim, foi com Ezequias. Quando o Senhor lhe disse: “Assim
diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás. Então virou
Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor... E chorou Ezequias muitíssimo.
Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba; alçava os meus

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olhos ao alto; ó Senhor, ando oprimido, fica por meu fiador” [Isaías 38:1-3, 14-15]. Assim
com Jó, quando Jó perdeu seus rebanhos, e seus dez filhos em um único dia, quando a
sua saúde corporal foi destruída, e ele sentou-se entre as cinzas, então, abriu Jó a sua
boca, e amaldiçoou o seu dia: “Pereça o dia em que nasci. Por que se dá luz ao miserável,
e vida aos amargurados de ânimo? Ah! que Deus quisesse quebrantar-me, e soltasse a sua
mão, e me acabasse!” [Jó 3:3, 20; 6:9].

Ah! É uma coisa triste quando a alma enfraquece sob as repreensões de Deus. Elas foram
intencionadas a conduzir de forma mais íntima a Cristo, a um fruir mais pleno de Deus. Não
desmaies quando fores repreendido por Ele. Quando uma alma vem a Cristo, ela espera
ser levada para o céu em um caminho verdejante, suave, sem espinhos. Pelo contrário, ela
é levada à escuridão; a miséria olha em seu rosto, ou a perda deixa-lhe sem filhos, ou as
perseguições amarguram a sua vida. E agora sua alma se lembra do absinto e do fel. Ela
esquece o amor e a sabedoria que está lidando com ela, ela diz: “Eu sou aquele homem
que viu a aflição, já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”.

2. Quando eles caem em pecado. Enquanto um crente anda humildemente com o seu
Deus, sua alma está em paz. A lâmpada do Senhor brilha sobre sua cabeça. Ele caminha
na luz, como Deus está na luz, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho purifica-o de todo o
pecado. Mas no momento em que a incredulidade o atinge, ele é levado ao pecado; como
Davi, ele cai muito baixo. Um crente geralmente cai mais baixo do que o mundo; e agora
ele cai na escuridão.

Quando Adão caiu, ele temeu, e ele escondeu-se de Deus, entre as árvores do jardim, e
ele fez uma cobertura de folhas. Ai! quando um crente cai, ele também tem medo; ele se
esconde de Deus. Agora, ele perdeu uma boa consciência; ele teme se encontrar com
Deus; ele não ama a casa de oração; o seu coração está cheio de dúvidas. “Se fosse um
filho de Deus, Deus me deixaria entregue às concupiscências do meu próprio coração?”,
diz ele e se recusa a voltar. “Não há esperança; porque amo os estranhos, após eles anda-
rei” [Jeremias 2:25]. Embora Deus nunca tenha sido um deserto, nem uma terra de
escuridão para a alma, ainda assim ela diz: “Temos determinado; não viremos mais a ti?”
[Jeremias 2:31]. “Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”. Ah!
este é o mais amargo de todos os tipos de deserção. Se você lançar fora a fé e uma boa
consciência, você fará um naufrágio.

3. Em tempo de deserção. Deserção é Deus retirando-se da alma do crente, de modo que


a Sua ausência é sentida. O mundo não conhece nada sobre isso, e ainda assim é verdade.
Deus tem maneiras de revelar a Si próprio de outra maneira do que Ele faz para o mundo:

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“O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança”
[Salmos 25:14].

Jesus está frequente e pessoalmente com eles. Eles sentem a Sua presença, seus cora-
ções ardem dentro deles. Eles, às vezes, sentem que Ele cumpre essa palavra: “Não vos
deixarei órfãos; voltarei para vós” [João 14:18]. O Pai é o seu próprio refúgio. Eles sentem
Seus braços eternos debaixo deles, eles sentem Seu olho contemplando-os, sentem o Seu
amor sendo derramado sobre eles como um raio de luz do céu.

O Espírito Santo está dentro dele. Ele às vezes sente o seu sopro, às vezes ele sente que
tem o Espírito dentro dele, clamando: “Aba, Pai”. Oh! Este é o céu sobre a terra, alegria ple-
na, satisfatória. Às vezes agrada a Deus retirar-se da alma, principalmente, eu creio: Pri-
meiro, para nos humilhar ao pó; segundo, para revelar alguma corrupção não mortificada e
terceiro, para nos conduzir a mais fome por Ele.

Tal era a condição de Davi quando ele escreveu o salmo 42: “Direi a Deus, minha rocha:
Por que te esqueceste de mim? Por que ando lamentando por causa da opressão do
inimigo? Com ferida mortal em meus ossos me afrontam os meus adversários, quando todo
dia me dizem: Onde está o teu Deus? Assim como o cervo brama pelas correntes das
águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!”. Ah, muito mais do que a sede natural
do cervo ferido, pelas correntes de águas, é a sede espiritual da alma abandonada por
Deus. Tal era o sentimento de Jó, quando ele clamou: “Porque as flechas do Todo Poderoso
estão em mim”. E novamente: “Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses passados,
como nos dias em que Deus me guardava!” [Jó 29:2]. Ele tem uma lembrança amarga de
sua alegria passada, um amargo senso de que meios não podem trazer sua alma de volta
para o descanso. Tal foi o sentimento da noiva: “De noite, em minha cama, busquei aquele
a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei” (Cânticos 3:1). Ah irmãos, se você
alguma vez conheceu algo disto, você saberá o sentimento miserável da distância de Deus,
de ter montanhas entre a alma e Ele, implícitas nestas palavras: “Já me desamparou o
Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”.

II. Deus não pode esquecer uma alma em Cristo: “Porventura pode uma mulher esquecer-
se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas
ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti”.

1. O amor de Deus é como um amor de mãe. Não há amor neste mundo semelhante ao
amor de uma mãe. É um amor livre, sem comparação, altruísta. Por mais dor que ela tenha
sofrido por causa de seu filho, apesar dos muitos problemas que ela tenha que suportar por

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ele, de noite e de dia, enquanto ele se pendura em seu seio, para ela isto é mais precioso
do que o ouro. Há algo em seu coração que se apega ao seu filho fraco, adoentado, ou me-
lhor, até mesmo ao débil. O amor de Deus por uma alma em Cristo é mais forte do que es-
se amor. O Salmista o compara ao de um pai: “Assim como um pai se compadece de seus
filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem” [Salmos 103:13]. E Malaquias
3:17: “poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve”. Novamente, em
Isaías 66:3: “Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei; e em Jeru-
salém vós sereis consolados”.

Este amor de uma mãe por seu filho é natural para ela. Ela não consegue explicá-lo. Você
não pode mudá-lo. Você deve quebrar em pedaços o coração da mãe antes que possa
alterar o seu amor por seu filho. E ainda existem algumas almas miseráveis tão deforma-
das por Satanás, com seus corações tão brutalizados, que podem se esquecer de seus
filhos. A mãe indiana pode dançar sobre o túmulo de seu filho, e a assassina pode levantar
a mão contra a vida de seu pequenino: “Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo
eu não me esquecerei de ti”.

O amor de Deus por uma alma em Cristo é um amor natural. É um amor enraizado em Sua
natureza. O Pai ama o Filho; e este é o mesmo amor com o qual Ele ama a alma que está
em Cristo. Ele não pode esquecê-lo. Ele O ama porque Ele é totalmente desejável, Ele O
ama porque Ele é digno de ser amado, Ele O ama porque Ele deu a Sua vida pelas ovelhas.
Tudo o que há em Deus leva-O a amar Seu Filho, Sua santidade, Sua justiça, Sua verdade;
e portanto, tudo o que há em Deus leva-O a amar a alma que está em Cristo.

Irmãos, não estejam prostrados em aflição. Almas abandonadas, o amor de Deus não pode
mudar, a menos que Sua natureza mude. Não até que Deus deixe de ser santo, justo e
verdadeiro, Ele deixará de amar a alma que se esconde sob as asas de Jesus.

2. Amor do Pai é o amor pleno. O amor de uma mãe é o maior amor que temos na Terra.
Ela ama com todo seu coração. Mas não há amor pleno, senão o de Deus para com seu
Filho; Deus ama a Jesus totalmente; todo o coração do Pai, por assim dizer, continuamente
se derrama em amor pelo Senhor Jesus. Não há nada em Cristo, exceto o que atraia o
amor infinito de Deus. NEle Deus vê Sua própria imagem perfeita, Sua própria Lei cumprida,
Sua própria vontade feita. O Pai ama o Filho plenamente; mas quando a alma vem a Cristo,
o mesmo amor repousa sobre aquela alma: “Para que o amor com que me tens amado
esteja neles” [João 17:26].

É verdade, uma criatura não pode receber o amor de Deus, como Jesus pode, mas é o
mesmo amor que brilha sobre nós e sobre Ele; amor pleno, satisfatório, sem limites. Quando

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o sol derrama seus feixes no largo oceano e em uma pequena flor, ao mesmo tempo, é a
mesma luz do sol que é vertida em ambos, embora o oceano tenha muitíssimo maior capa-
cidade de receber os seus gloriosos feixes; assim, quando o Filho de Deus recebe o amor
de Seu pai, e um pobre verme culpado esconde-se nEle, é o mesmo amor que vem para o
Salvador e para o pecador, embora Jesus seja capaz de conter mais.

Como Deus pode esquecer o que Ele ama plenamente? Se Deus plenamente te ama, Ele
não te esqueceu; Ele não pode esquecer-te. O amor da criatura pode falhar, pois o que é a
criatura? Um vaso de barro, um sopro que passou e não volta. Mas o amor do Criador não
pode falhar; Ele é amor pleno em direção a um objeto infinitamente digno de Seu amor, em
Quem tu o compartilhas.

3. O amor de Deus é um amor imutável. O amor de uma mãe, dentre o amor de todas as
criaturas, é o mais imutável. Um menino deixa a casa de seu pai, ele atravessa mil mares,
ele trabalha sob um céu estrangeiro. Mas quando ele volta, encontra sua mãe idosa mu-
dada, a cabeça está grisalha, a respeitável testa está franzida com a idade, mas ele ainda
sente, enquanto ela o aperta contra o seu peito, que o coração dela é o mesmo. Mas, ah!
muito mais imutável é o amor de Deus por Cristo, e por uma alma em Cristo: “Eu sou o Se-
nhor; eu não mudo”. O Pai que ama não apresenta mutabilidade. Jesus, que é amado, é o
mesmo, ontem, hoje e para sempre. Como é possível que o amor mude? Ele fluiu antes do
mundo existir e fluirá quando o mundo passar.

Se você está em Cristo, este amor brilha sobre você: “Com amor eterno eu te amei” [Jere-
mias 31:3]. “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profun-
didade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus nosso Senhor” [Romanos 8:38-39].

(1) Um consolo para crentes abatidos. Muitos de vocês podem estar abatidos, e suas almas
inquietas. Vocês pensam que Deus tem lidado amargamente com vocês; Ele vos deixou
sem filhos, ou Ele encontrou-se com vocês como um leão e com uma ursa privado de seus
filhotes, ou Ele feriu a vossa aboboreira, ou Ele os abandonou, assim, vocês O buscam, e
não O encontram. Olhem para Cristo, o amor de Deus brilha nEle; nada pode separar Jesus
deste amor; nada pode vos separar. No momento em que Sião dizia: “O meu Senhor se
esqueceu de mim”, no mesmo momento Deus estava dizendo: “eu não me esquecerei de ti”.

Suas aflições e deserções apenas provam que você está sob a mão do Pai. Não há mo-
mento em que o paciente seja um objeto de tão terno cuidado do cirurgião, como quando
ele está sob o bisturi; assim, você pode ter certeza, se você está sofrendo sob a mão de

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Deus, que o olho dEle está ainda mais focado em você. “O Deus eterno é a tua habitação,
e por baixo estão os braços eternos” [Deuteronômio 33:27].

(2) Um convite a pobres pecadores para que venham e provem desse amor. É algo doce
ser amado. Suponho que a maioria de vocês provou do amor de uma mãe. Você sabe o
que é ser embalado em seus braços, ser observado por seu olho gentil, ser acariciado por
seu sorriso; mas, ó, irmãos, isso não é nada em comparação ao amor de Deus. O olho da-
quela querida mãe se fechará na morte; aquele braço amável dela será desfeito no pó. Oh!
venha e prove do amor dAquele que não pode morrer.

Há apenas um lugar em que o amor de Deus continuamente cai livremente: é na cabeça


de Jesus: “O Pai ama o Filho”. Ele O ama plenamente. Todos os tesouros do amor que es-
tão no infinito seio de Jeová são derramados continuamente no seio de seu próprio Filho,
que Ele ama imutavelmente; nenhuma nuvem jamais pode se interpor, nenhum véu e nem
distância. Mas isso é para mim? É tudo para você, pecador. Jesus permanece um refúgio
para pecadores, pronto para receber até mesmo a ti. Fuja para Ele, permaneça nEle, e
aquele amor permanecerá sobre você. Você é um verme, mas você pode entrar no gozo
de seu Senhor. Você pode compartilhar do amor de Deus com Jesus, de uma forma que
os santos anjos não podem fazer.

Ó pecador, você prefere ficar sob a ira de Deus? “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna;
mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”
[João 3:36]. “Deus está irado com o ímpio todos os dias” [Salmos 7:11], mas, ah! “Esta é
uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar
os pecadores, dos quais eu sou o principal” [1 Timóteo 1:15].

Oh! É doce passar da ira para o amor, da morte para a vida. Aquele pobre assassino pularia
de alegria em sua cela, quando chegasse a notícia de que ele não morreria a morte do as-
sassino; mas, ah! dez mil vezes mais doce seria para você, se Deus neste dia lhe persua-
disse a abraçar a Cristo livremente, como oferecido no Evangelho.

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7
Gloriando-se na Cruz de Cristo

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz


de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado
para mim e eu para o mundo.” (Gálatas 6:14)

Doutrina: Gloriando-se na cruz.

I. O assunto aqui falado por Paulo e á a cruz de Cristo. Essa palavra é usada em três sentidos
diferentes na Bíblia. É importante distingui-los:

1. Ela é usada para significar a cruz de madeira, o madeiro sobre o qual o Senhor Jesus foi
crucificado. A punição da cruz foi uma invenção Romana. Era usada apenas no caso de escra-
vos, ou malfeitores mui notórios. A cruz era feita de duas vigas de madeira que se cruzavam.
Ela era colocada no chão e o criminoso, estendido sobre ela. Um cravo era pregado em cada
mão, e outros dois em ambos os pés. Em seguida, a cruz era levantada na posição vertical, e
deixada cair em um buraco, em que era presa. O homem crucificado era então era deixado
para morrer, pendurado por suas mãos e pés. Esta foi a morte a que Jesus se rebaixou. “Ele
suportou a cruz, desprezando sua ignomínia”. “Tornando-se obediente até a morte, e morte
de cruz” (Mateus 27:40, 42; Marcos 15:30, 32; Lucas 23:26; João 19:17, 19, 25, 31; Efésios
2:16).

2. Ela é usada para significar o caminho da salvação por Jesus Cristo crucificado. Assim, em
1 Coríntios 1:18: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós,
que somos salvos, é o poder de Deus”, em comparação com o versículo 23: “Mas nós prega-
mos a Cristo crucificado...”. Aqui é evidente que a pregação da cruz e a pregação de Cristo
crucificado são a mesma coisa. Este é o significado da passagem diante de nós: “Mas longe
esteja de mim gloriar-me...”. Este é o nome dado a todo o plano de salvação pelo Redentor
crucificado. Essa pequena palavra implica toda a obra gloriosa de Cristo por nós.

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Esta palavra implica o amor de Deus em dar o Seu Filho (João 3:16); o amor de Cristo em
entregar a Si mesmo (Efésios 5:25); a encarnação do Filho de Deus; Sua Substituição, um por
muitos, seus sofrimentos expiatórios e morte. Toda a obra de Cristo está incluída nessa pe-
quena expressão: a cruz de Cristo. E a razão é simples; Sua morte na cruz foi o ponto mais
baixo de Sua humilhação. Foi ali que Ele clamou: “Está consumado”, o trabalho da minha obe-
diência está consumado! Meus sofrimentos terminaram, a obra da Redenção está completa,
a ira do meu povo está extinta. E, então, Ele reclinou a cabeça, entregou o espírito. Daí toda
a Sua obra consumada é chamada de: a cruz de Cristo.

3. Cruz também é uma palavra usada para significar os sofrimentos suportados por aqueles
que seguem a Cristo.

“Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-
me” (Mateus 16:24). Quando um homem se determina a seguir a Cristo, ele deve abandonar
seus prazeres e suas companhias pecaminosas. Ele encontra escárnio, zombaria, desprezo,
ódio e perseguição dos antigos amigos. O seu nome e desprezado como mau. “E também
todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”. Agora, en-
contrar-se com tudo isso é “tomar a cruz”. “E quem não toma a sua cruz, e não segue após
mim, não é digno de mim” [Mateus 10:38].

Na passagem diante de nós as palavras são usadas no segundo sentido, o plano de salvação
por meio de um Salvador crucificado.

Queridos amigos, é isso que está diante de vocês no pão partido e vinho derramado; toda a
obra de Cristo para a salvação dos pecadores. O amor e a graça do Senhor Jesus estão todos
reunidos em um foco ali. O amor do Pai, o Pacto com o Filho, o amor de Jesus, Sua encarna-
ção, obediência, morte todas estão postas diante de vocês nestes pão e vinho partidos. É um
sermão doce, silencioso. Muitos sermões não contêm Cristo do começo ao fim. Muitos O
mostram com ar de dúvida e imperfeitamente. Mas aqui não há outra coisa senão Cristo e
este crucificado. A mais rica e eloquente ordenança! Orem para que a própria visão deste pão
partido possa quebrantar seus corações, e faça-os fugir para o Cordeiro de Deus. Orem por
conversões a partir da visão do pão partido e vinho derramado. Olhem com atenção, queridas
almas e crianças pequenas, quando o pão é partido e o vinho vertido. É uma visão que afeta
o coração. Que o Espírito Santo abençoe isso. Caros crentes, olhem vocês com atenção, para
que obtenham visões mais profundas, mais plenas do caminho do perdão e da santidade.

Um olhar dos olhos de Cristo quebrou e derreteu o coração orgulhoso de Pedro; ele saiu e
chorou amargamente. Orem para que um único olhar deste pão partido possa fazer o mesmo
por vocês. Quando o centurião romano, que velava ao lado da cruz de Jesus, O viu morrer, e

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rochas se fenderam, ele bradou: “Verdadeiramente este era Filho de Deus!” [Mateus 27:54].
Olhe para este pão partido, e você verá a mesma coisa, e que seu coração seja levado a
clamar por pelo Senhor Jesus. Quando o ladrão moribundo olhou o rosto pálido de Emanuel,
e viu a Majestade santa que sorriu com Seus olhos agonizantes, clamou: “Senhor, lembra-te
de mim!” [Lucas 23:42]. Este pão partido revela a mesma coisa. Que a mesma graça seja
dada a você, e que possa suscitar o brado: “Senhor, lembra-te de mim!”. Oh! obtenham visões
mais plenas de Cristo, queridos crentes. O milho da safra, às vezes, amadurece mais em um
dia do que em semanas anteriores. Assim, alguns Cristãos ganham mais graça em um dia do
que durante os meses anteriores. Orem para que este possa ser um dia de colheita e de
amadurecimento em suas almas.

II. Os sentimentos de Paulo em relação à cruz de Cristo: “Longe de mim…”.

1. Está implícito que ele absolutamente havia deixado o caminho da justiça pelas obras da
Lei. Todo homem natural busca a salvação através tentar melhorar a si mesmo aos olhos de
Deus. Ele tenta consertar sua vida, ele coloca um freio na língua, ele tenta comandar seus sen-
timentos e pensamentos, tudo para tornar-se melhor aos olhos de Deus. Ou, então ele irá mais
longe: tenta cobrir pecados passados por meio de observâncias religiosas. Ele se torna um
homem religioso; ora, chora, lê e participa dos sacramentos, fica profundamente ocupado com
a religião, e tenta colocá-la em seu coração, tudo para tornar a si mesmo, na aparência, bom
aos olhos de Deus, para que ele possa colocar Deus sob dívida para perdoá-lo e amá-lo.

Paulo tentou este plano por muito tempo. Ele era um Fariseu, segundo a justiça que há na lei,
irrepreensível; ele viveu uma vida exteriormente inculpável, e foi altamente considerado como
um homem dos mais religiosos. “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo”
[Filipenses 3:7]. Quando aprouve a Deus abrir os seus olhos, ele abandonou esta forma de
justiça própria para todo o sempre; ele não tinha mais qualquer paz em olhar para dentro: “e
não confiamos na carne” [Filipenses 3:3]; ele se despediu para sempre dessa forma de buscar
a paz. Ele a pisoteou: “E as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” [Fili-
penses 3:8]. Oh! é uma coisa gloriosa, quando um homem é levado a pisotear a sua justiça pró-
pria, esta é a coisa mais difícil do mundo.

2. Ele dirigiu-se ao Senhor Jesus Cristo. Paulo teve tal visão da glória, brilho e excelência do
caminho da Salvação por meio de Jesus, que isso preencheu todo o seu coração. Todas as
outras coisas afundaram em pequenez. Todo monte e outeiro foi abatido, o torto foi endireita-
do, os lugares ásperos aplainados, e a glória do Senhor foi revelada. Como o nascer do sol
faz com que todas as estrelas desapareçam, assim a ascensão de Cristo sobre a sua alma
fez todo o restante desaparecer. Os sofrimentos de Jesus por nós encheram os seus olhos e

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o seu coração. Ele viu, creu e alegrou-se. Cristo, supriu todas as suas necessidades. Da cruz
de Cristo um raio de luz celestial inflamou a sua alma, enchendo-o de luz e alegria indizíveis.
Ele sentiu que Deus foi glorificado, e ele foi salvo. Ele abriu caminho para o Senhor com todo
o propósito do coração. Como Jonathan Edwards diz: “eu estava inefavelmente satisfeito”.

3. Ele se gloriava na cruz. Ele confessou a Cristo diante dos homens, ele não tinha vergonha
de Cristo diante daquela geração adúltera. Paulo se vangloriou de que este era o caminho do
perdão, da paz e da santidade. Ah! que mudança! uma vez ele blasfemou contra o nome de
Jesus, e perseguia até a morte aqueles que invocavam o Seu nome; agora esta é toda a sua
jactância: “E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus” [Atos 9:20].
Uma vez ele se gloriou de sua vida inculpável, quando ele estava entre os Fariseus; agora ele
se gloria no fato de que ele é o principal dos pecadores, mas que Cristo morreu por tais como
ele. Uma vez ele se gloriou de sua erudição, que ele se sentou aos pés de Gamaliel; agora
ele se gloria em ser considerado como louco por amor de Cristo, em ser uma criancinha condu-
zida pela mão de Jesus. À mesa do Senhor, entre seus amigos, nas cidades pagãs, em Ate-
nas, em Roma, entre os sábios ou insensatos, diante de reis e príncipes, ele se gloria nisto
como a única coisa digna de ser conhecida: o caminho da salvação por Jesus Cristo e este
crucificado.

Queridos amigos, vocês foram levados a se gloriarem somente na cruz de Cristo?

1. Você se desprendeu do antigo caminho da salvação pelas obras da Lei? Seu coração
natural está firmado sobre este caminho. Você está sempre buscando se tornar melhor e
melhor até que você possa colocar Deus sob a obrigação de perdoá-lo. Você está sempre
olhando para dentro de si mesmo, buscando por justiça ali. Você está olhando para a suas
convicções, para sua tristeza pelos pecados passados, para suas lágrimas e orações ansio-
sas. Ou você está olhando para o seu interior, para sua honestidade, para o abandono dos
conselhos dos ímpios e para as lutas por uma nova vida. Ou, então você está olhando para
os seus próprios exercícios religiosos, para o seu fervor e coração, para o crescimento em
oração ou na frequência à casa de Deus. Ou você está olhando para a obra do Espírito Santo
em você, para as graças do Espírito. Ai! Ai! A cama é mais curta do que você possa esticar-
se sobre ela, a cobertura é mais estreita do que você possa cobrir-se nela. Desespere-se por
perdão neste caminho. Desista para sempre. Seu coração é desesperadamente corrupto.
Cada justiça que há em seu coração vem acompanhada de vileza e corrupção, e não pode
aparecer diante da vista de Deus. Considere tudo como perda, trapos de imundícia, refugo,
para que você possa ganhar a Cristo.

2. Vá ao Senhor Jesus Cristo. Acredite no amor do Senhor Jesus Cristo. Ele se deleita na
misericórdia; Ele está pronto para perdoar, misericórdias fluem dEle. Ele justifica o ímpio. Você

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já viu a glória da cruz de Jesus? Isto atraiu o seu coração? Você se sente inexplicavelmente
satisfeito com esse caminho de Salvação? Você vê que Deus é glorificado quando você é
salvo? que Deus é um Deus de majestade, verdade, santidade imaculada e justiça inflexível,
e ainda assim você é justificado? Será que a cruz de Cristo preenche o seu coração? Isto
produz uma grande calma em sua alma, um descanso celestial? Você ama essa expressão:
“a justiça de Deus”; “a justiça que é pela fé”, a justiça sem as obras? Você contempla a cruz?
Será que a sua alma descansa ali?

3. Glorie-se apenas na cruz de Cristo. Observe, não pode haver um Cristão secreto. A graça
é como perfume escondido na mão, ela denuncia a si mesma. Um Cristão vivificado não pode
manter o silêncio. Se você realmente sente a doçura da cruz de Cristo, você será constrangido
a confessar a Cristo diante dos homens. É como “o bom vinho... que se bebe suavemente, e
faz com que falem” [Cânticos 7:9]. Você O confessa em sua família? Você dá a conhecer ali
que você é de Cristo? Lembre-se, você deve ser resoluto em sua própria casa. A marca do
hipócrita é ser um cristão em todos lugares, exceto em sua própria casa. Entre os seus com-
panheiros, você tem a Cristo por um amigo a quem você encontrou? Na loja e no mercado,
você está disposto a ser conhecido como um homem lavado no sangue do Cordeiro? Você
almeja que todos os seus negócios estejam sob as doces regras do Evangelho? Venha, então,
à mesa do Senhor e confesse Aquele, que salvou a sua alma. Oh! Permita que esta possa ser
uma verdadeira, livre e plena confissão. Jesus Cristo é o meu doce alimento, meu cordeiro,
minha justiça, meu Senhor e meu Deus, meu tudo em todos. “Mas longe esteja de mim gloriar-
me, a não ser na cruz”. Uma vez você se vangloriou nas riquezas, amigos, fama, pecado; mas,
agora, em um Jesus crucificado.

III. Os efeitos. “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. “Se alguém está em
Cristo Jesus, nova criatura é...” [2 Coríntios 5:17]. Quando o mendigo cego de Jericó teve seus
olhos abertos pelo Senhor, este mundo estava todo modificado para ele, e ele para o mundo.

Assim foi com Paulo, não mais depressa ele elevou-se de seus joelhos, com a paz de Jesus
em seu coração, que o mundo foi definitivamente desprezado aos seus olhos. Enquanto ele
corria sobre as pedras lisas nas ruas de Damasco, ou olhava para baixo do telhado plano de
sua casa sobre os belos jardins nas margens de Abana, o mundo e todo o seu deslumbrante
espetáculo pareciam aos seus olhos uma coisa pobre, murcha, crucificada. Uma vez isto foi o
seu tudo. Uma vez suas lisonjas macias e escorregadias eram agradáveis como música ao
seu ouvido. Uma vez o coração de Paulo esteve posto sobre tudo que o olho natural: riquezas,
beleza e prazeres; mas no momento em que ele creu em Jesus, tudo isto começou e definhar.
É verdade que eles não foram mortos definitivamente, mas estavam pregados em uma cruz.
Eles não tinham mais aquela atração viva para eles, a qual uma vez tiveram; e agora todos os

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dias eles começavam a perder o seu poder. Como um homem morrendo na cruz enfraquece
a cada momento, enquanto o sangue do seu coração escorre a partir das suas feridas
profundas de suas mãos e pés, aquilo que uma vez foi o seu tudo, começou a perder a cada
momento seu poder de atração. Ele provou tanta doçura em Cristo: o perdão, o acesso a
Deus, o sorriso de Deus, o Espírito habitando nEle, e por isso a cada dia o mundo tornava-se
mais insípido para ele.

Outro efeito foi: “Eu para o mundo”. Enquanto Paulo colocava a mão sobre o seu próprio peito,
ele sentia que esse também havia sido transformado. Ele uma vez foi um corajoso cavalo de
corrida que corre com ímpeto e não pode ser freado; uma vez Ele foi uma raposa caçadora
ao aroma impaciente da cólera; outra vez seu coração corria atrás de fama, honra e elogios
do mundo; mas agora estava pregado na cruz, com o coração quebrantado e contrito. É ver-
dade que ele ainda não estava morto e que muitos vacilos despertaram sua velha natureza,
fato que o levou aos seus joelhos e o fez clamar por graça para auxílio; porém, ainda assim,
quanto mais ele olhou para a cruz de Jesus, mais o seu velho coração foi mortificado. A cada
dia ele sentia menos desejo de pecar e mais desejo por Cristo, por Deus e por perfeita san-
tidade.

Alguns podem descobrir que nunca vieram a Cristo. Será que o mundo está crucificado para
você? Uma vez que este era o seu tudo: o seu louvor, suas riquezas, suas canções, e felizes
inclinações? Isso já foi pregado na cruz em sua visão? Oh! coloque a mão em seu coração.
Foi-se o seu desejo ardente por coisas terrenas? Os que são de Cristo crucificaram a carne
com as suas paixões e concupiscências.

Você sente que Jesus crucificou as suas paixões? Você deseja que elas sejam mortificadas?
Que resposta vocês podem dar, filhos e filhas do prazer, para quem a dança e música, o
espelho e as respostas chistosas são a soma da felicidade? Vós não sois nada de Cristo.

Que resposta vocês podem dar, amantes do dinheiro, sórdidos fazedores de dinheiro, que
preferem ser um pouco mais soberanos do que ter a graça de Deus em seu coração? Que
resposta vocês podem dar, gratificadores da carne, caminhantes da noite, amantes da escuri-
dão? Vós não sois de Cristo. Vocês não vieram a Cristo. O mundo está completamente vivo
para vocês, e vocês estão vivos para o mundo. Vocês não podem se gloriar na cruz, e amar
o mundo. Ah! pobres almas iludidas, vocês nunca viram a glória do caminho do perdão por
Jesus. Vão em frente; amem o mundo, agarrem cada prazer, reúnam montes de dinheiro,
alimentem e engordem as suas concupiscências, saciem-se. Do que isso adiantará a vocês
quando perderem sua própria alma?

Alguns estão dizendo: Oh, que mundo fosse crucificado para mim e eu para o mundo! Que o

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meu coração fosse tão morto quanto uma pedra para o mundo, e vivo para Jesus! Você real-
mente deseja isso? Então, olhe para a cruz. Contemple o maravilhoso dom do amor. A salva-
ção é prometida a um olhar. Sente-se como Maria, e contemple a Jesus crucificado. Assim o
mundo se tornará uma coisa ofuscada e moribunda. Quando você olha o sol isso faz com que
todas as outras coisas escureçam; quando você prova o gosto de mel, isso faz com que todo
o mais se torne amargo. Semelhantemente, alimentar-se de Jesus retira a doçura de todas as
coisas terrenas: elogios, prazeres, desejos carnais, todos estes perdem a sua doçura. Mante-
nha um olhar contínuo. Corra, olhando para Jesus. Olhe, até que o caminho da salvação por
Jesus preencha todo o horizonte, tão glorioso e em linguagem de paz. Então, o mundo estará
crucificado para você, e você para o mundo.

25 de Outubro de 1840.

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8
Feliz És Tu, Ó Israel

“Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo Senhor, o
escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade; por isso os teus inimigos te
serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas.” (Deuteronômio 33:29)

Estas são as últimas palavras de Moisés, o homem de Deus. Ele estava agora com cento
e vinte anos; seus olhos não estavam obscurecidos nem lhe fugira o vigor. Por quarenta
anos ele liderou o povo em meio ao deserto. Ele cuidou deles, e orou por eles, e os liderou
como um pastor lidera seu rebanho. E agora, quando Deus disse que ele deveria deixá-los,
ele determinou separar-se deles abençoando-os. E, a esse respeito, como em muitos ou-
tros, ele prenunciou o Salvador, de quem está escrito, que “e levou-os fora, até Betânia; e,
levantando as suas mãos, os abençoou. E aconteceu que, abençoando-os ele, se apartou
deles e foi elevado ao céu” [Lucas 24:50-51].

Em primeiro lugar, podemos entender essas palavras literalmente como a bênção de


Moisés ao povo de Israel. Ele olhou por cima do deserto através do qual ele os levou, e
este era todo brilhante cravejado com as coisas maravilhosas que Deus fizera por eles. Ele
se lembrou da mão elevada e do braço estendido com os quais Ele os tirara do Egito.
Lembrou-se também de como abriu um caminho para eles através do Mar Vermelho,
quando seus inimigos afundaram como chumbo nas águas impetuosas, permaneceu lem-
brando como Ele foi adiante deles em uma coluna de nuvem de dia, e uma coluna de fogo
à noite. Moisés lembrou-se de como Ele adoçou as águas de Mara, pois eles estavam
sedentos e também lembrou-se de como Ele os alimentou com maná do alto, o homem
comeu a comida dos anjos. Moisés recordou como ele feriu a rocha em Refidim, e águas
jorraram; como ele ergueu as mãos para o pôr-do-sol, e Israel prevaleceu contra Amaleque;
como ele recebeu a Lei da própria mão de Deus para eles. Ele feito brotar de novo a água
da pederneira em Meribá e também lembrou-se de como ele erguera a serpente de bronze
no deserto.

E olhando para trás sobre toda esta trajetória de maravilhas de quarenta anos, durante a
qual as suas vestes não tinham envelhecido, nem a fraca sola de seu pé havia inchado, co-

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mo poderia ele apenas abençoá-los? Ele sentiu-se como Balaão: “Benditos os que te aben-
çoarem, e malditos os que te amaldiçoarem”. E nesse sentido, quando ele tinha visto a cada
uma das tribos separadamente, deixando a cada uma a sua bênção profética, ele resume
o todo nestas palavras gloriosas: “Não há outro, ó Jesurum, semelhante a Deus” [Deutero-
nômio 33:26].

Mas, em segundo lugar, estas palavras podem ser entendidas tipicamente como a bênção
de Moisés ao povo de Deus para o fim dos tempos. Nenhum homem pode ler o Antigo
Testamento de forma inteligente, sem ver que o povo de Israel era um povo típico, que a
retirada de Seus escolhidos para fora do Egito, o trazê-los através do Mar Vermelho, e
através do deserto e sua condução à terra da promessa, eram todos tipos da maneira com
a qual Deus traz Seus escolhidos para fora de seus pecados, e os conduz através mundo
de pecado e miséria para a Canaã celestial, o descanso que resta para o povo de Deus.
Se, então, a escravidão, a libertação, a incredulidade, os inimigos, as jornadas, a orientação
e o remanescente dos israelitas, eram todos tipos do relacionamento de Deus com o Seu
próprio povo para o fim dos tempos, estamos bastante justificados por compreender estas
palavras como a bênção de Moisés, o homem de Deus, a todos os verdadeiros filhos de
Deus.

“Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo Senhor, o escudo do
teu socorro, e a espada da tua majestade; por isso os teus inimigos te serão sujeitos, e tu
pisarás sobre as suas alturas”. A partir destas palavras, eu extraio o seguinte:

Doutrina. Que o povo de Deus é um povo feliz, porque eles são salvos pelo Senhor.

I. Israel é um povo feliz porque é escolhido pelo Senhor.

1. Isto foi verdadeiro no que se refere ao antigo Israel. Moisés lhes disse claramente: “O
Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do
que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos;
mas, porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais”
[Deuteronômio 7:7-8a]. Aqui há algo estranho que o mundo não pode entender. Ele os
amou porque Ele os amou, não porque eles eram melhores, ou maiores, ou mais dignos do
que outra nação, mas por que Ele os amou. Peculiar, soberano, inexplicável amor! Ele não
presta contas de Seus assuntos, assim, “pois, isto não depende do que quer, nem do que
corre, mas de Deus, que se compadece” [Romanos 9:16].

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2. Isto é verdadeiro para todo o povo de Deus até os dias atuais. Davi diz: “Bem-aventurado
aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti” [Salmos 65:4]. Cristo diz: “Não me esco-
lhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós” [João 15:16]. E Paulo diz: “Bendito o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais
nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do
mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Efésios 1:3-4).
Ah! sim, meus amigos, o nosso Deus é um Deus soberano: “Logo, pois, compadece-se de
quem quer, e endurece a quem quer” [Romanos 9:18].

Cada crente é uma testemunha disso. Existe algum crente aqui? Bem, eu tomo você para
testemunhar. Você era morto e descuidado com sua alma, você poderia ser feliz com o
mundo, embora estivesse não perdoado e não santificado. Como você foi levado a fugir da
ira vindoura? Você despertou a si mesmo do sono? Ah! não, você sabe bem que se Deus
o tivesse deixado você estaria disposto a permanecer dormindo. Como o preguiçoso, você
teria dito: “Um pouco a dormir, um pouco a cochilar; outro pouco deitado de mãos cruzadas,
para dormir” [Provérbios 24:33]. Mas Deus despertou você, pela Sua Palavra, pelos Seus
ministros, ou pela Sua providência; e Ele não o teria deixado ir até que clamasse: “O que
devo fazer para ser salvo?”. Outrossim, você foi trazido da convicção de pecado à convicção
de justiça; de uma consciência perturbada a um coração em paz ao crer. Como ocorreu
isso, você veio por si mesmo a Jesus, ou você foi trazido pelo Pai? Ah! Vocês bem sabem
que não receberam isto de um homem, nem por meio de um homem Deus os conduziu à
visão de Jesus. Ele que, primeiro, trouxe às trevas a luz que brilhou em seus corações, e
incitou vocês ao ato de fé em Jesus; e assim, vocês foram salvos; pois, “ninguém pode ir a
Cristo se o Pai não o trouxer”. Do início ao fim, a obra é de Deus. Pela graça sois salvos; e
bem-aventurado, de fato, é “aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti”.

Objeção. Mas alguém pode objetar que esta doutrina ministra ao orgulho; que fazer um ho-
mem acreditar que ele é um escolhido e favorito de Deus faz com ele fique inchado de
orgulho.

A isto eu respondo que esta é própria verdade que corta o orgulho pelas raízes. Como está
escrito: “Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o
recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” [1 Coríntios 4:7]. Se há
um crente dentre vocês:

(1) Eu proponho a ele olhar em volta daqueles da sua própria família que permanecem sem
Cristo e sem Deus no mundo. Talvez você seja o único em sua casa que conhece e ama o
Salvador. Agora, eu pergunto a você: Quem te fez diferente? Você é por natureza algo

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melhor do que sua parentela, para que fosse escolhido e eles deixados? Como, então, você
pode ser orgulhoso?

(2) Ou, olhe em volta de sua vizinhança, você verá embriaguez e contaminação, você ouvirá
perjúrios e profanidade. Agora eu pergunto: Quem te fez diferente? Ou em que você era
melhor do que eles? Pode você, então, ser orgulhoso?

(3) Ou, olhe em volta do mundo Papista e Pagão afogado na mais tenebrosa ignorância
sem ninguém para lhes falar sobre o claro caminho de Salvação por Jesus. Olhe sobre
nove décimos do mundo que carecem da pura luz do Evangelho, e diga-me: Quem te fez
sobressair? E como você pode ser orgulhoso?

(4) Ou, olhe além deste horizonte mundano, olhe para baixo para os reinos das trevas e da
morte eterna, e veja os anjos que caíram “Longe outra vez contemple em êxtase, Milhões
de espíritos que por uma só falta foram banidos do Céu, e dos esplendores eternos arre-
messados por sua rebeldia”. Olhe para estas inteligências majestosas “guardado sob ter-
vas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia”, e diga-me: Quem te fez diferente?
Em que melhor é você, por natureza, do que demônios? Homens não-convertidos são filhos
do Diabo. Não há luxúria no coração do Diabo que não esteja em cada coração natural. E
ainda assim Deus passou por eles, e veio para salvar-te. Deus veio e o acordou quando
você estava em uma condição natural, e não melhor do que demônios, sim, ele passou
pelos Pagãos, assim ele tem deixado seus vizinhos em seus pecados, seus próprios filhos
não despertados, mas ele tem despertado você.

Oh! mui misterioso amor eletivo! Você bem pode clamar com Paulo: “Ó profundidade das
riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus
juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” [Romanos 11:33]. E isto o faz orgulhoso?
Antes, isto não faz você enterrar a sua cabeça no pó, e nunca mais erguer os seus olhos?
E isto não o faz feliz? “Bem-aventurado tu, ó Israel! Um povo salvo pelo Senhor”.

Não oferece a você nenhum júbilo, sentir que Deus pensou sobre você em amor antes da
fundação do mundo? Que quando Ele estava sozinho desde toda a eternidade, Ele deu a
você o Seu Filho para ser redentor? “Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes
que saísses da madre, te santifiquei” [Jeremias 1:5]. Não dá nenhuma alegria a você pensar
que o Filho de Deus pensou em você com amor antes que o mundo existisse: “achando as
minhas delícias com os filhos dos homens” [Provérbios 8:31], que ele veio ao mundo carre-
gando o seu nome sobre o Seu coração, que Ele orou por você na noite de Sua agonia: “E
não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em
mim”? [João 17:20]. Não oferece júbilo saber que Jesus pensava em você durante o Seu

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suor sangrento; que Ele pensou em você quando estava na cruz, e intencionou aqueles
sofrimentos para estar em seu lugar? Ó, filhinhos como isto deveria elevar os seus corações
em santo arrebatamento acima do mundo; acima de seus cuidados irritantes; de suas brigas
mesquinhas; de seus prazeres contaminantes; se vocês guardassem esta santa alegria
interiormente; acolhendo a própria palavra de seu Senhor: “Pai, aqueles que me deste que-
ro que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que
me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo” [João 17:24].

Ó mundo incrédulo! Vocês não conhecem nada desta alegria. É tudo presunção frenética
aos seus olhos, e isso é exatamente o que a Bíblia diz: Um estranho não participa da alegria
do crente. Isto é exatamente o que Cristo disse: “Mas vós não credes porque não sois das
minhas ovelhas” [João 10:26]. Levem esta coisa com vocês: “Nós erámos uma vez exata-
mente o que você é agora (cada crente falará a você) nós éramos exatamente tão insensí-
veis e incrédulos como você é. Nós, uma vez, desprezamos e rimos de cada pessoa com
as quais nós somos um agora no Senhor; mas nós fomos despertados por Deus, e fugimos
para Cristo, e somos redimidos e felizes conhecendo a nossa eleição de Deus”. Oh! que
esta seja a sua história, e então, você conhecerá o significado destas palavras: “Bem-
aventurado tu, ó Israel!”.

II. Israel é um povo feliz, porque eles são justificados pelo Senhor: “O Deus eterno é a tua
habitação” (v. 27). “Ele é escudo que te socorre” (v. 29).

Antes de tudo, isto é verdade por que Cristo é o nosso refúgio e proteção, e Cristo é Deus.
(1) É dito sobre Ele: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus”. (2) E outra vez, é dito sobre Ele: “...O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e:
Cetro de equidade é o cetro do seu reino” [Hebreus 1:8]. (3) Também está escrito: “Porque
nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam
tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e
para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” [Colossen-
ses 1:16-17]. (4) Novamente, é dito sobre Ele: “o qual é sobre todos, Deus bendito eterna-
mente” [Romanos 9:5]. (5) Mais uma vez, Tomé disse sobre Ele: “Meu Senhor, e meu
Deus”. (6) E Ele é chamado Deus “manifestado na carne” [1 Timóteo 3:16]. Assim, então,
Ele é de fato, “Emanuel, Deus conosco”. Ele é o Criador do mundo, o Deus de provisão, o
Deus dos anjos. E este é o Ser que veio para ser o Salvador de pecadores, até mesmo do
principal!

Agora, irmãos, eu desejo que vejam a utilidade do Salvador sendo Deus, e quanto do pleno
consolo e júbilo do crente é encontrado nisto. Tudo o que Deus faz é infinitamente perfeito:

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Ele nunca falha em nada que Ele promete. Tudo, portanto, que o Salvador fez foi infinita-
mente perfeito. Ele não podia, e nem poderia, falhar em algo que Ele prometeu.

(1) Cristo Jesus prometeu suportar a ira de Deus em lugar dos pecadores. Seu coração foi
estabelecido sobre isso desde toda a eternidade, pois, antes que o mundo fosse feito, Ele
nos diz: “achando as minhas delícias com os filhos dos homens” [Provérbios 8:31]. Para
este fim Ele tomou sobre si a nossa natureza; tornou-se um homem de dores e experimen-
tado no sofrimento. De Seu berço na manjedoura até a cruz, a nuvem escura da ira de Deus
esteve sobre Ele, e, especialmente, em direção ao fim de Sua vida, a nuvem passou a ser
a mais escura, ainda assim, ele alegremente sofreu tudo “como me angustio até que venha
a cumprir-se!” [Lucas 12:50]. O cálice da ira de Deus foi dado a Ele sem mistura; ainda
assim Ele disse: “não beberei eu o cálice que o Pai me deu?” [João 18:11]. Agora, nós po-
demos estar bem certos que desde que Ele é o Filho de Deus, Ele sofreu tudo o que os
pecadores deveriam ter sofrido. Se Ele tivesse sido um anjo, Ele poderia ter deixado alguma
parte inacabada; mas desde que Ele era Deus, Sua obra deve ser perfeita. Ele mesmo
disse: “Está consumado”; e uma vez que Ele era Deus que não pode mentir, nós estamos
bem seguros que todo o sofrimento é consumado, que nem Ele nem seu corpo podem
sofrer algo mais por toda a eternidade.

(2) Porém, mais uma vez, ficou comprometido a obedecer à Lei em lugar dos pecadores. O
homem não só tinha quebrado a Lei de Deus, mas havia falhado em obedecê-la. Agora,
como o Senhor Jesus veio para ser um Salvador completo, Ele não apenas sofreu a maldi-
ção da Lei quebrada, mas obedeceu a Lei em lugar dos pecadores. Através de toda a Sua
vida e fez do fazer a vontade de Deus Sua comida e bebida. Agora, podemos ter a certeza
de que uma vez que Ele era o Filho de Deus, Ele fez tudo o que os pecadores deveriam ter
feito. Sua justiça é a justiça de Deus; assim, que nós podemos estar certos, que cada
pecador que obtém esta justiça é mais justo do que se o homem jamais houvesse caído;
mais justo do que os anjos, tão justo quanto Deus. “Quem intentará acusação contra os
eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” [Romanos 8:33].

Ó pecadores descuidados! Este é o Salvador que nós estamos sempre pregando para
vocês, este é o Divino Redentor a quem vocês têm sempre pisoteado. Você pensaria ser
uma grande coisa se o rei deixasse o seu trono, e batesse à sua porta, e lhe suplicasse
para aceitar um pouco de ouro; mas, oh! quanto maior coisa há aqui. O Rei dos reis deixou
Seu trono, e morreu, o justo pelos injustos, e agora bate à sua porta. Pecador descuidado,
você ainda permanece resistente?

Almas despertadas e ansiosas! Este é o Salvador que sempre vos oferecemos; Este é o
refúgio, a rocha que tem seguido você. Você está ansioso por sua alma; e por que, então,

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não vem se esconder aqui? Você acha que honra a Cristo por duvidar se o Seu sangue e
justiça são suficientes para cobri-lo? Você acha que honra a Deus, fazendo-O de menti-
roso, e recusando-se a acreditar no testemunho que Ele tem dado de seu Filho? Oh! Não
duvide mais dEle. Outro dia, e pode ser tarde demais. Fuja como os homens que têm um
inferno eterno perseguindo-os, e um refúgio eterno diante deles. Tome o céu por violência.
“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar
e não poderão”.

E você que já correu para o refúgio, para o Salvador: “Bem-aventurado tu, ó Israel! Quem
é como tu? Um povo salvo pelo Senhor”. O Deus eterno é teu refúgio; e a quem você pode
temer? Lembre-se, habite nEle. Nas horas escuras do pecado e tentação, Satanás sempre
tenta fazer você sair deste refúgio. Ele tentará fazer você duvidar se Cristo é Deus; se a
Sua obra é uma obra consumada; se pecadores podem esconder-se nEle; se um apóstata
pode esconder-se nEle; mas não lance fora a sua confiança. Rapidamente corra para
Cristo; e então, o Deus eterno será teu refúgio. Na hora da morte, você pode terá um vale
sombrio para atravessar; você pode perder de vista todas as suas evidências; você pode
sentir que todas as suas graças partiram, e clamar: “Todas estas coisas estão contra mim”.
Permaneça, como um necessitado pecador, corra para o Deus Salvador. Jogue fora a ques-
tão se você jamais acreditou ou não, e diga: “Eu acreditarei agora”; e assim, agora à noite,
raiará a luz, e você morrerá com o Deus eterno e seu refúgio. Os seus olhos fecharão para
este mundo apenas para abrirem para o mundo aonde não há dúvida, e nem medo, e nem
morte.

III. Israel é um povo feliz, porque é santificado pelo Senhor: “por baixo estão os braços
eternos” e “a espada da tua majestade”.

No capítulo anterior (32:11-12), Deus compara o Sua condução de Israel a uma águia e
seus filhotes: “Como a águia desperta a sua ninhada, move-se sobre os seus filhos, estende
as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou; e não
havia com ele deus estranho”. Novamente, em Isaías, é dito: “Em toda a angústia deles ele
foi angustiado, e o anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor, e pela sua compaixão
ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade” [63:9]. Mais uma vez,
na história da ovelha perdida, encontramos que o Salvador não apenas encontrou a ovelha
perdida, mas, “achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo”. Este é exatamente o
mesmo significado como o do texto: “por baixo estão os braços eternos”, e, novamente, “a
espada da tua majestade”.

Quando um novo crente encontrou a paz em Jesus, ele, então, começa a anelar por cami-

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nhar santamente. Tão logo ele encontre a doce calma de uma alma perdoada, ele começa
a conhecer a amarga ansiedade de uma alma que teme o pecado: “É verdade, eu vim a
Cristo, e devo ter paz, mas agora eu começo a temer que não serei capaz de confessar a
Cristo diante dos homens. Agora começo a ver que o mundo inteiro está contra mim, que
todas as coisas estão me tentando a pecar, e eu temo voltar para o mundo. Temo ser enla-
çado novamente. Meus companheiros, como posso resisti-los? e Satanás, como posso lutar
contra ele?”.

Este é o momento em que o novo crente começa a fazer um grande número de resoluções
em sua própria força. Se ele somente pudesse manter-se fora do caminho da tentação, e
separar-se do mundo, ele acha que poderia manter-se santo, mas Deus logo lhe ensina a
insuficiência de sua própria força. Suas resoluções são todas quebradas inteiramente; seus
hábitos de andar estreitamente desaparecem como fumaça diante do sopro da tentação; e
o filhinho de Deus senta-se para chorar por causa da chaga de seu próprio coração, e a
clamar: “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?”.

Se aqui há alguém assim me ouvindo, permita-me, peço-te, recomendar um novo plano, de


longe um caminho melhor. Entregue a si mesmo aos braços eternos. Quando o pecado sur-
gir; quando o mundo vem como uma inundação; quando a tentação chega de repente sobre
você; se incline para trás sobre o Espírito todo-poderoso, e você está seguro. O que faz
uma criancinha que tem sido colocada sobre o chão para caminhar, quando percebe que
seus pequenos membros estão se desequilibrando, de forma que o primeiro sopro do vento
a derrubará? Será que ela não se lança aos braços da de sua mãe? Quando ela não con-
segue ir, ela consente em ser conduzida; e assim deve ser com você, débil filho de Deus.
Deus concedeu a você que pela fé se apegue a Cristo somente por justiça; e assim obter a
paz do justificado. Ore agora, para que Deus dê a você fé resignada, para que você possa
confiar nEle somente por força, para que você possa render a si mesmo aos braços eternos.
Vá e aprenda o que isto significa: Jeová Nossa Justiça é o mesmo Jeová Nossa Bandeira.
Então, mas não até então, você conhecerá plenamente o significado desta bênção: “Bem-
aventurado tu, ó Israel! Quem é como tu? Um povo salvo pelo Senhor”.

Objeção: Eu não vejo, nem ouço ou sinto o Espírito, como posso render-me aos Seus
braços?

Resposta. Esta é a própria descrição Bíblica da obra do Espírito: “O vento sopra onde quer,
ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é
nascido do Espírito” [João 3:8]. Você não vê o vento, nem compreende como ele sopra, e
ainda assim você estende a vela para pegar a brisa; e assim, o alto navio é sustentado so-

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bre um mar muito agitado até o porto de descanso. Somente incline-se sobre o Espírito,
embora você não compreenda o Seu agir. Embora, agora, você não O veja, ainda assim
creia nEle. E você se alegrará com júbilo inefável e cheio de glória; você será sustentado
sobre as ondas ásperas deste mundo até o porto de descanso. Você também não conhece
como o manancial brota; você não compreende o funcionamento pelo qual os mananciais
de água não falham; e ainda assim, você leva o cântaro até a fonte, e nunca volta com ele
vazio. Então, dependam do suprimento invisível do Espírito; tomem uma provisão diária
para necessidades diárias; vão confiantes aos mananciais da salvação, e vós tirareis água
com alegria. “Se alguém tem sede, venha a mim e beba”. “Bem-aventurado tu, ó Israel!
Quem é como tu?”. Tende bom ânimo. Nós confiamos que Aquele que começou a boa obra
em vós, há de aperfeiçoá-la até o Dia de Cristo Jesus.

Mas, ah! pobres almas sem Cristo, não há promessa do Espírito para vocês. Todas as
promessas são sim e amém em Cristo. Fora de Cristo não há promessa; não há outra coisa
senão ira. Não há braços eternos debaixo de vocês. Vocês são sensuais, não têm o
Espírito. Não há pecado no qual vocês não possam incorrer, até naquelas que fazem os
homens estremecerem e empalidecerem. Em nenhum lugar Deus prometeu guarda-los
destes pecados. Vocês não têm o Espírito, não podem amar a Deus, ou fazer qualquer boa
obra, vocês podem apenas pecar. Ó almas miseráveis! que continuam pertencendo à
linhagem do velho Adão, vocês não podem deixar de dar maus frutos; e o fim será a morte.
Oh! que vocês fossem embora e chorassem por sua miserável condição, e clamassem a
Deus para trazê-los para fazer parte de Seu bem-aventurado Israel, que é escolhido,
justificado, santificado e salvo pelo Senhor!

Igreja de São Pedro, 29 de Janeiro de 1837.

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9
Cristo, A Porta Para A Igreja

“Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles não entenderam o que era que
lhes dizia. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que
eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e
salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta; se alguém entrar por
mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens. O ladrão não vem senão a
roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com
abundância.” (João 10:6-10)

Cristo é o mais gentil de todos os mestres. Ele estava falando a uma multidão de judeus
ignorantes e preconceituosos, e ainda quão gentilmente Jesus lida com eles. Ele disse-lhes
uma parábola, mas eles não compreenderam. “Jesus disse-lhes esta parábola; mas eles
não entenderam o que lhes dizia. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes”. E ainda, nos é contado
que Cristo disse-lhes novamente. Ele lhes deu uma descrição de um verdadeiro e de um
falso pastor, e da porta para o aprisco das ovelhas; mas eles pareciam estar perdidos para
compreender o que significava a porta, portanto, ele diz: “Em verdade, em verdade eu vos
digo: eu sou a porta das ovelhas”. Vejam vocês quão gentilmente Ele tenta instrui-los. Meus
irmãos, Cristo ainda é o mesmo tipo de mestre. Não há muitas pessoas estúpidas, e precon-
ceituosas aqui? E ainda Ele não lhes deu “mandamento sobre mandamento, mandamento
sobre mandamento, regra sobre regra, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali”
(Isaías 28:10). Ele tem partido o pão por você.

Examinemos agora esta parábola explicativa: (1) Cristo é a porta para a Igreja. (2) O convite
aqui é feito para entrar. (3) A promessa para aqueles que entram.

I. Cristo é a porta para a Igreja. “Eu sou a porta”. O único caminho para a Igreja de Deus,
seja para ministros ou membros é por Cristo e pela fé nEle. Muitos entram pelo conheci-
mento; o conhecimento não deve ser desprezado, contudo ele não é a porta. Há muitos
que entram no ministério, por terem dons eminentes, mas estes não são a porta, e aqueles
que entram de tal forma são ladrões e salteadores, pois não entram pela porta. Mais uma

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vez, muitos entram pela porta do favor mundano, alguns pelo favor dos ricos, alguns pela
vida das pessoas comuns, alguns pelo favor do patrono; mas ainda assim eles continuam
sendo ladrões e salteadores, pois não entram pela porta.

Lembrem-se, então, e nunca esqueçam, que o caminho certo para o ministério é através
de Jesus Cristo. Ninguém pode falar do pecado, senão aqueles que sentiram o seu fardo.
Ninguém pode falar de perdão, senão aqueles que provaram disso. Ninguém pode falar do
poder de Cristo para santificar, a não ser aqueles que têm a santidade em seus corações.
Irmãos, se apeguem a isso em reverência, fujam de todos os outros, eles podem ter o
conhecimento, eles podem ter dons, eles podem ter os elogios das pessoas comuns, mas
eles são ladrões e salteadores.

Mas, além disso, há muitos membros que entram no rebanho de outra forma; eles também
são ladrões e salteadores. Há muitos que entram pela porta do conhecimento, eles estão
familiarizados com conhecimento da Bíblia, eles podem falar sobre como o pecador pode
ser aceito por Deus; mas se você não entrou no rebanho por ser lavado no sangue de
Cristo, você é um ladrão e salteador.

Alguns entram no rebanho por uma boa vida. No tocante à lei, eles são como Paulo, irrepre-
ensíveis. Você não é um ladrão, você não é um blasfemador, você não é um bêbado, você
acha que tem o direito de entrar, o direito de sentar-se à mesa do Senhor; mas Cristo diz
uma e outra vez que você é um ladrão e salteador. Ah, irmãos, lembrem-se de que se vocês
são admitidos no rebanho por causa de vossa moralidade, vossa decência exterior, vossa
boa vida, vocês são ladrões e salteadores. Irmãos, há um dia vindouro, quando aqueles que
entraram no aprisco das ovelhas, porém não pela porta, mas de alguma outra forma, em que
olharão para trás e verão sua culpa quando eles entrarem em uma eternidade de perdição.

Observem, porém, irmãos, antes de eu deixar esta parte do assunto, que Cristo é uma en-
trada presente. Irmãos, há um tempo na sua história em que a porta do aprisco está aberta
para você: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á”, mas o tempo passará.
É apenas um momento em comparação com a eternidade. Esta é uma verdade solene.
Irmãos, se eu pudesse prometer-lhes que a porta ficará aberta por cem anos, mas ainda
seria sábio para vocês entrarem agora; mas eu não posso garantir que ela ficará aberta
nem por um ano, eu não posso garantir nem por um mês, nem um dia ou sequer por uma
hora; tudo o que eu posso garantir é: ela está aberta agora, amanhã pode estar fechada
para sempre.

II. Venho agora para segunda coisa proposta, que é: mostrar-lhes o convite de Cristo.

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“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á”. Há muitos convites doces para os
pecadores na Bíblia. Frequentemente tenho sentido serem estas palavras as mais doces.
Há convites amorosos endereçados para aqueles que têm sede. Diz-se em Isaías: “Ó vós,
todos os que tendes sede, vinde às águas” (Isaías 55:1a). Cristo disse, no último dia, aquele
grande dia da festa: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37). E Ele diz, pró-
ximo ao final do livro do Apocalipse: “A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da
fonte da água da vida” (21:6). Há também alguns convites que são endereçadas para aque-
les que têm um fardo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos
aliviarei” (Mateus 11:28). Há também alguns que são dirigidos para aqueles que estão
presos: “Voltai à fortaleza, ó presos de esperança” (Zacarias 9:12).

Mas este me parece o mais doce de todos, pois é dito: “Se alguém”. Não é dito, se algum
homem sedento, se algum homem cansado ou se alguém com um fardo, mas é dito: se
alguém entrar, ele será salvo. Eu tenho visto as portas de certo homem rico, onde ninguém
podia entrar, senão o rico; e onde o mendigo deveria permanecer no portão. Mas a porta
de Cristo está aberta a qualquer pessoa, qualquer que seja a sua vida, qualquer que seja
o seu caráter. Cristo não é como a porta de algumas igrejas, onde ninguém pode entrar,
exceto os ricos; a porta de Cristo está aberta aos pobres: “Aos pobres é anunciado o Evan-
gelho” (Mateus 11:5). Alguns, talvez, podem dizer: “Eu sou o mais vil nesta congregação”,
mas Cristo diz: “Entre”. Alguns, talvez, podem dizer: “Pequei mais do que todas as outras
pessoas; pequei contra meu pai, pequei contra minha mãe, pequei contra as misericórdias
e contra os julgamentos, contra os convites do Evangelho, e contra a luz”, ainda assim,
Cristo diz: “Entre”.

Sigam ainda mais longe, e observem que o convite não é para olhar para a porta, mas para
entrar. Há muitos que ouvem sobre a porta, mas isso não é suficiente, deve-se entrar nela.
E há muitos que gostam de ouvir sobre a porta, mas, ainda assim, eles não entram. Ah,
meus irmãos, isto é uma grande fraude do Diabo. Estou convencido de que muitos de vocês
vão embora hoje mui satisfeitos porque ouviram falar sobre a porta, mas vocês não entram.
Há muitos que dão um passo a mais, eles olham para a porta, contudo, eles não entram.
Eu acredito que muitos de vocês são muitas vezes trazidos para lá; mas quando chegam
ao ponto, que vocês devem deixar os seus ídolos, que devem deixar seus pecados, vocês
não entram. “Se alguém entrar por mim, salvar-se-á”.

Mais uma vez, há alguns que veem as outras pessoas entrarem, mas eles mesmos não
entram. Você, talvez, tem visto um pai, ou uma mãe, ou um vizinho entrar; você já viu a
transformação que veio sobre eles, e a paz apoderou-se de suas mentes, e você diz: “Eu
gostaria de ser como eles”, mas você não entra. Ah! se você deseja ser salvo, você deve

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entrar pela porta; convicções, lágrimas e semelhantes não lhe farão entrar pela porta. E
esta é a razão pela qual muitos de vocês não são felizes: vocês não entram.

III. Agora, eu venho ao terceiro e último ponto, e é este: a promessa.

“Se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens... eu vim
para que tenham vida, e a tenham com abundância”.

A primeira parte da promessa é: “Eles serão salvos”. Cristo empenha a Sua Palavra nisso:
aqueles que entram serão salvos. Aqueles que não entrarem serão condenados. Se você
não é de Cristo, você está fora, e “ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prosti-
tuem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira” (Apocalipse
22:15). Mas aqueles que entram serão salvos.

Há perdão imediato. Não haverá, mesmo agora, nenhuma condenação para os que estão
em Cristo Jesus. Ó, meus irmãos, é perdão imediato que lhe oferecemos da parte do Pai:
“Se alguém entrar, salvar-se-á”. E, em seguida: “entrará, e sairá, e achará pastagens”. Ou
seja, vocês terão todos os privilégios de uma ovelha; ela sai para o poço e para o pasto.
Então, se vocês são dEle, vocês podem entrar e sair para encontrar pastagens. Meus que-
ridos irmãos, pode chegar um tempo na Escócia, em que haja pouco, quando não haverá
sub-pastor, quando as testemunhas serão assassinadas. Contudo, o Senhor será o vosso
Pastor, Ele vos alimentará. Vocês “sairão e entrarão, e acharão pastagens”. Amém.

Manhã de Sabath, 11 de setembro de 1842.

Extraído da edição de 1975 de Um Cesto de Fragmentos.


Editado pela Christian Focus Publications.

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10
Motivos Para Agarrar-se a Jesus

“Apartando-me eu um pouco deles, logo achei aquele a quem ama a minha


alma; agarrei-me a ele, e não o larguei, até que o introduzi em casa de minha mãe,
na câmara daquela que me gerou.” (Cânticos 3:4)

Você encontrou Aquele a quem a sua alma ama? Neste dia, você já viu a Sua beleza, ouviu
a Sua voz, acreditou no relato sobre Ele, sentou-se sob a Sua sombra, encontrou comunhão
com Ele? Então, agarre-O, e não O deixe ir.

I. Motivos.

1. Porque a paz deve ser encontrada nEle. Justificados pela fé, temos paz com Deus, e não
a paz com nós mesmos, não a paz com o mundo, com o pecado, com Satanás, mas a paz
com Deus. A verdadeira paz Divina deve ser encontrada apenas em crer, apenas em
agarrar-se rapidamente a Cristo. Se você O deixar ir, você deixará escapar a sua justiça;
pois este é o Seu nome. Você fica, então, sem justiça, sem abrigo da ira de Deus, sem um
caminho para o Pai. A Lei novamente te condenará; a carranca de Deus voltará a lhe ofus-
car; você terá novamente terrores de consciência. Segure-O, então, e não O deixe ir. Não
importa o que você deixe ir; não permita que Cristo se vá, pois Ele é a sua paz, creia não
no conhecimento e nem nos seus sentimentos, mas creia nEle somente.

2. A santidade flui dEle. Não há santidade verdadeira neste mundo, senão a que brota dEle.
Um Cristo vivo é a fonte de santidade para todos os Seus membros. Enquanto nós O agar-
ramos, e não O deixamos ir, nossa santidade está segura. Ele está comprometido em nos
impedir de cair. Ele nos ama muito para nos deixar cair sob o poder dominador do pecado.
Sua palavra está empenhada: “E porei dentro de vós o meu Espírito” [Ezequiel 36:27]. Sua
honra estaria manchada se alguém que se apega a Ele padecesse por viver em pecado.
Se você O deixar ir, você cairá em pecado. Você não tem força, nem estoque de graça,
nem poder para resistir a mil inimigos e nem promessas. Se Cristo estiver com você, quem
pode ser contra você; mas se você sair de Seus braços, onde você fica?

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3. A esperança da glória está nEle. Nós nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Se
você encontrou Jesus neste dia, você encontrou um caminho para a glória. “Mais alguns
passos”, você pode dizer, “e eu estarei para sempre com o Senhor”. Serei livre da dor e
tristeza; livre do pecado e da fraqueza; livre de inimigos. Contanto que você agarre a Cristo,
você pode ver o seu caminho para o tribunal: “Guiar-me-ás com o teu conselho, e depois
me receberás na glória” [Salmos 73:24]. Isto oferece tanta alegria e fortes desejos condu-
tores para o mundo celestial. Mas deixe Cristo ir, e isto desaparecerá. Deixe Cristo ir, e
como você pode morrer? A sepultura está coberta de nuvens de ameaça. Deixe-O ir, e
como você pode ir para o julgamento, como poderá aparecer?

II. Meios.

1. Cristo promete manter você agarrado a Ele. Se você está realmente segurando a Cristo
neste dia, você está na mais abençoada condição, pois Cristo se compromete em manter
você apegando-se a Ele: “A minha alma te segue de perto; a tua destra me sustenta”
[Salmos 63:8]. Aquele que é o Criador deste mundo é também sustentador dele, assim
Aquele que cria a nova alma a mantém em seu existir. Isto nunca deve ser esquecido. Não
somente a Igreja se apoia em seu amado, mas Ele coloca a sua mão esquerda sob a cabe-
ça dela, e a sua mão direita a abraça [Cânticos 2:6]. “Todavia, eu ensinei a andar a Efraim;
tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava” [Oséias 11:3]. É
bom para um filho segurar-se no pescoço da mãe, mas ah! que apoio fraco seria, se o braço
materno não envolvesse a criança, e a apertasse contra o seu peito. A fé é boa, mas ah!
não é nada sem a graça que a concedeu. “Porei o meu temor nos seus corações” [Jeremias
32:40].

2. A fé em Cristo. A única maneira de agarrar-se é crer mais e mais. Obtenha uma maior
familiaridade com Cristo, com a Sua Pessoa, obra e caráter. Cada página do Evangelho
desvela uma particularidade de Seu Caráter, cada linha das Epístolas mostra as profunde-
zas de Sua obra. Obtenha mais fé, e você terá uma sustentação mais firme. Uma planta
que tem uma única raiz pode ser facilmente desarraigada pela mão, ou esmagada pelo pé
de um animal selvagem, ou derrubada pelo vento; mas uma planta que tem mil raízes finca-
das no chão não será facilmente arrancada. A fé é como a raiz, muitos acreditam um pouco
a respeito de Cristo. Cada nova verdade sobre Jesus é uma nova raiz fincada para baixo.
Acredite mais intensamente. Uma raiz pode estar em uma direção certa, mas, não aprofun-
dada, e então será facilmente arrancada. Ore por fé profundamente enraizada. Ore para
ser confirmado, fortalecido e estabelecido. Olhe intensa e longamente para Jesus, muitas
e muitas vezes. Se você quisesse reconhecer um homem novamente, e ele estivesse indo
embora, você olharia intensamente para o seu rosto. Então, olhe para Jesus profundamente,

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intensamente, até que cada característica seja gravada em seu coração. Thomas Scott
superou o medo da morte, olhando intensamente para o seu filho morto, que havia morrido
no Senhor.

3. A oração. Jacó em Betel. Isaías 27:5: “se apodere da minha força”. Você deve começar
a orar de maneira diferente da que você tem feito. Que seja uma relação verdadeira com
Deus, como Ezequias, Jacó, Moisés e outros.

4. Não ofendendo-O. Primeiro, por meio da preguiça. Quando a alma se torna sonolenta ou
descuidada, Cristo vai embora. Nada é mais ofensivo para Cristo do que a preguiça. O amor
é algo cada vez mais ativo, e quando ele está no coração nos manterá acordados. Por mui-
tas noites o Seu amor por nós O manteve acordado. Agora, você não pode vigiar com Ele
por uma hora? (Cânticos 5:2). Segundo, por meio de ídolos. Você não pode segurar os dois
ao mesmo tempo. Se você estiver segurando Cristo hoje, e lançar mão de um ídolo amanhã,
Cristo não pode permanecer. Ele é um Deus zeloso. Você não pode manter companheiros
mundanos e também a Cristo. “O companheiro dos tolos será destruído” [Provérbios 13:20].
Quando a arca entrou na casa de Dagon, fez o ídolo cair ao chão. Terceiro, por não estar
disposto a ser santificado. Quando Cristo nos escolhe e nos atrai para Si, é para que Ele
possa nos santificar. Cristo está muitas vezes entristecido e distante, por causa de nosso
desejo de preservar um pecado. Quarto, por uma casa profana. “O introduzi em casa de
minha mãe”. Lembre-se de levar Cristo com você para casa, e deixe-O governar sua casa.
Se você andar com Cristo no exterior, mas nunca O levar para casa, você logo se apartará
deste Divino companheiro para sempre.

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Referências dos Sermões que Compõe Este Volume:

Todas as seguintes obras foram traduzidas e publicadas em Português pelo website


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Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Reformação Pessoal & na Oração Secreta:


Via: Gutenberg.Org • Excerto da obra original, em Inglês: The Biography of Robert Murray M'Cheyne,
by Andrew A. Bonar • Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 1 — A Voz do Meu Amado:


Via: Reformation-Scotland.org.uk • Título em Inglês: The Voice of My Beloved
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 2 — O Constrangedor Amor de Cristo:


Via: ChapelLibrary.org • © Copyright 2000 Chapel Library • Título em Inglês: Christ’s Constraining
Love • Tradução por William Teixeira • Revisão por Camila Almeida

Sermão 3 — Pai, Eu Quero:


Via: Reformation-Scotland.org.uk • Título em Inglês: Father, I Will
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 4 — Olhe Para Cristo Traspassado:


Via: Archive.org • Título em Inglês: Look to a Pierced Christ
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

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Sermão 5 — Cristo, o Único Refúgio:
Via: Archive.org • Título em Inglês: Christ The Only Refuge
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 6 — Pode Uma Mulher Esquecer?


Via: Archive.org • Título em Inglês: Can A Woman Forget
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 7 — Gloriando-se Na Cruz de Cristo:


Via: Archive.org • Título em Inglês: Glorying in the Cross
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 8 — Feliz És Tu, Ó Israel:


Via: Archive.org • Título em Inglês: Happy Are Thou, Israel!
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 9 — Cristo, A Porta para A Igreja:


Via: The-Highway.com • Título em Inglês: Christ The Door Into The Church
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

Sermão 10 — Motivos Para Agarrar-se a Jesus:


Via: Archive.org • Título em Inglês: Motives for Laying Hold of Jesus
Tradução por Camila Almeida • Revisão por William Teixeira

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 Agonia de Cristo — J. Edwards  Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston
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 Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs  Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon
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J. Owen Owen e Charnock
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 Excelência de Cristo, A — J. Edwards Deus) — C. H. Spurgeon
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— Sola Fide • Sola Scriptura • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria
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2 Coríntios 4
1
Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2
Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
3
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. Mas, se ainda o nosso evangelho está
4
encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
5
de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
6
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
7
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
8
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 10
Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
11
se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
12 13
nossa carne mortal. De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
14
por isso também falamos. Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
15
também por Jesus, e nos apresentará convosco. Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
16
Deus. Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
17
interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação
18
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas. Issuu.com/oEstandarteDeCristo

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