Empresas multinacionais
grande número de barganhas pode ser agrupado sob o firma americana "orientada para o mercado interno"
título geral de controle. Ambos os nacionalismos, o do . como instrumento para aumentar seu poder de barga-
CDI e o da ABDIB, gostariam de limitar o poder e a nha contra as multinacionais. A Sycor é uma firma
área de manobra das multinacionais forçando-as a di- muito pequena que nunca poderia considerar a sério
vidir o controle em seus empreendimentos - quer um confronto com a IBM no mercado americano.
submetendo-as a maior regulamentação que permita Com poucos anos de existência em 1976, e menos de
aos sócios locais uma participação igualitária e conse- 2.000 empregados, teria sido um competidor conside-
qüentes prerrogativas decisórias, quer exigindo maior rado inviável pelo mercado brasileiro se agisse por
transferência de tecnologia. conta própria. Como empresa minúscula, teria muito
menos a perder ao dividir sua tecnologia com o Brasil,
Por seu lado, as multinacionais não podem permitir e essa tecnologia era o ingrediente vital necessário à
que a localização de seus estabelecimentos no Brasille- Cobra para colocar-se numa posição de barganha bas-
vem ao que se pode denominar de "efeito de Moran" tante vantajosa diante das indústrias multinacionais de
- diminuição do poder de barganha proporcional à
computadores.
segurança dos ativos investidos no pais-hóspede."
Elas devem lutar para preservar o relativo monopóiio Um tipo bem diferente de solução para a questão do
da tecnologia que possuem. Inversamente, na medida controle é ilustrado pelas manobras da Dow Chemical
em que a posição das multinacionais torna-se cada vez em meados da década de 70. A Dowentrou no Brasil
mais importante para os setores dinâmicos da econo- relativamente tarde, com grandes projetos, e supreen-
mia brasileira, revela-se essencial um maior controle dentemente conseguiu estabelecer-se numa base de ca-
local sobre as multinacionais para que o Estado brasi- pital exclusivo." Embora não quisesse aceitar partici-
leiro possa dirigir o processo de acumulação. Estão na pantes locais no seu capital, estava decidida a fazer im-
agenda assuntos tais como cortes nas prerrogativas le- portantes investimentos no desenvolvimento da tecno-
gais das multinacionais forçando-as a efetuarem inves- logia local, e reservou mais de cinco milhões de dólares
timentos conjuntos e, talvez ainda mais importante, para a instalação de um centro de pesquisa e desen-
restrições às suas vantagens tecnológicas através da volvimento, seu quarto maior centro de pesquisa do
obrigação explícita de compartilhar tecnologia. Den- mundo." Com este gesto no sentido de reduzir a de-
tro da estrutura geral de colaborações e de interesse co- pendência tecnológica do Brasil, a Dow reduziu
mum, a luta pelo controle continuará intensa. também a possibilidade de que seu controle exclusivo
sobre as próprias operações fosse ameaçado.
O melhor exemplo recente de luta por obtenção de
controle é a controvérsia de 1977 sobre a indústria de . A adaptabilidade das multinacionais varia de com-
38 minicomputadores. O Brasil estabeleceu a partici- panhia para companhia e a pressão do Governo brasi-
pação nacional igualitária e a tecnologia aberta, isto é, leiro sobre elas irá variar de acordo com as flutuações
"a transferência efetiva de tecnologia para mãos brasi- do clima político local e o grau de importância de ou-
leiras, sem cláusulas restritivas", como o critério tros problemas econõmicos. O primeiro entre esses ou-
básico de aprovação de incentivos para a instalação lo- tros problemas é o desequilíbrio da balança comercial
cal de fábrica de computadores. '4 A IBM, que não tem brasileira.
investimentos conjuntos nem mesmo nos EUA, estava
Um dos pontos fracos mais óbvios do modelo brasi-
disposta a construir seu modelo 32 no Brasil, se lhe
leiro atual é a ênfase conferida às importações. Se for
fosse permitido operar como única detentora do capi-
verdade, como a Comissão Econõmica para a América
tal. Outras grandes indústrias de computadores, tais
Latina anunciou há alguns anos atrás, que "para 1070
como a Data General, participavam das reações adver-
do crescimento do produto, o volume das importações
sas da IBM às condições impostas pelos brasileiros.
deve aumentar em 2070", ou o padrão de crescimento
Se as multinacionais tivessem sido os únicos setores interno deve ser alterado, ou as exportações devem
envolvidos, a capacidade de barganha do Brasil teria continuar a crescer de maneira impressionante. 17 O au-
sido mínima, mas, infelizmente para elas, este não era mento no preço do petróleo agravou o problema, mas
o caso. A Digibrás, companhia estatal holding na as necessidades de importação de bens de capital e in-
indústria de computadores, estabeleceu uma subsi- termediários para as multinacionais são elementos
diária, a Cobra, também estatal, com participação de fundamentais da importação intensiva no quadro do
capital privado nacional. A Cobra, por sua vez, adqui- desenvolvimento brasileiro. Um estudo feito pelo Mi-
riu know-how e peças da companhia americana Sycor. nistério do Planejamento mostrou que dois terços do
Desde que se evidenciou que a Cobra poderia produzir déficit comercial brasileiro, excluído o petróleo, pode-
minicomputadores no Brasil, a Capre, agência brasi- riam ser atribuídos às atividades de pouco mais de 100
leira encarregada de regulamentar a indústria de com- multinacionais.!"
putadores, ficou em condições de interromper a im-
Do ponto de vista das multinacionais, a natureza de
portação de minicomputadores e, assim, afastar qual-
sua expansão no Brasil, baseada na importação inten-
quer multinacional que não aceitasse seus termos. Pa-
siva, não é nada desvantajosa. Cerca de 70070 de toda a
ra aumentar a pressão, a Capre estabeleceu que so-
mente duas firmas, além da Cobra, seriam autorizadas exportação de produtos manufaturados dos EUA para
a montar indústrias de minicomputadores. A multi na- o Brasil era "relacionada com as multinacionais", de
cional que demorasse a ceder seria, portanto, definiti- acordo com uma enquete da Comissão de Tarifas dos
EUA.IY
vamente afastada.
Um dos aspectos mais interessantes da estratégia na- Embora a industrialização sob a forma de importa-
cionalista neste caso foi a utilização pelo Brasil de uma ção intensiva não seja desvantajosa para as multina-
Empresas muttinacionais
Unido, mas, como o vice-presidente da Massey Fergu- prometimento é O mesmo que "receber o mapa da mi-
son explicou, "estávamos encontrando problemas pa- na". Considerando os incentivos envolvidos, é certo
ra obter créditos de exportação do Reino Unido e o que elas obterão maiores lucros em sua produção para
Brasil estava ansioso por aumentar suas exportações." exportação a partir do Brasil do que o conseguiriam de
Para a burguesia local - mesmo para aqueles ele- qualquer outro lugar. Elas também estarão numa po-
mentos que não podem propriamente ser chamados de sição bastante forte para exigir ainda maiores incenti-
membros da burguesia internacional - o aumento das vos quando os compromissos iniciais se extinguirem
exportações de bens manufaturados ofereceu uma em meados da década de 80, pois nessa época o Brasil
grande oportunidade. Indústrias como a têxtil e a de estará totalmente integrado nos seus programas de
calçados, ainda consideradas tradicionais no fim dos busca mundial de recursos. Para o Brasil, por sua vez,
anos 60, eram, em meados de 70, significativos contri- o programa Befiex representa uma contribuição subs-
tancial para a solução dos desequilíbrios comerciais. A
buintes para as exportações brasileiras; no curto
indústria automobilística, que foi responsável em
período de três anos entre 1971 e 1973, as exportações
1972-73 por um déficit na conta corrente do .balanço
de têxteis em geral aumentaram cinco vezes e as expor-
tações de têxteis acabados aumentaram oito vezes. Os de pagamentos da ordem de 180 milhões de dólares,
frutos dessa expansão beneficiaram em parte os mem- estava a caminho de produzir um excedente quase tão
bros da escala relativamente menor da burguesia local. grande em meados de 1977.29
Os bens que requerem para sua produção trabalho in- Vista apenas em termos de dinâmica interna da
tensivo e tecnologia rotineira, com os quais o Brasil aliança brasileira, a promoção da exportação gera lu-
tem mais chance de ser internacionalmente competiti- cros, acumulação local e harmonia. Infelizmente, ob-
vo, são o mesmo tipo de bens que as firmas de capital ter a cooperação das multi nacionais é apenas metade
.local estão aptas a produzir. da questão para a elite brasileira, quando o objetivo é
promoção das exportações; o mercado externo é a ou-
As companhias estatais não estão envolvidas de mo-
tra metade, e isto significa enfrentar a política interna
do direto na fabricação desse tipo de bens que o Brasil
dos países principais.
exporta, mas podem envolver-se, na medida em que
está ocorrendo uma integração vertical e elas começam O primeiro fato evidente ao analisarmos a situação
a processar os produtos primários que estão exportan- comercial do Brasil é que, com exceção do caso espe-
do hoje como matérias-primas. Os passos para a cial do petróleo, os problemas de sua balança comer-
integração vertical que já foram dados pela Compa- ciai se originam das relações comerciais que mantém
nhia do Vale do Rio Doce são exemplos básicos. Além com os países principais. Como mostra o quadro I, o
40 disso, a Interbrás, subsidiária trading da Petrobrás, Brasil teve déficits comerciais maciços no início dos
está-se tornando um fator importante na comercializa- anos 70 com os EUA, Japão e Alemanha Ocidental -
ção de ampla variedade de exportações brasileiras. A as economias "principais". As balanças comerciais
expansão das exportações, talvez mais importante do muito favoráveis com seus vizinhos menos desenvolvi-
ponto de vista das companhias estatais, renova uma dos e com os países socialistas são de magnitude insufi-
significativa barreira aos seus próprios planos de in- ciente para contrabalançar seus déficits com os países
vestimento ao aliviar a pressão para restringir impor- principais. Mesmo depois de 1974, com a crise do
tações. petróleo, esses países ainda eram sua maior fonte de
déficits. Os déficits comerciais com os países desenvol-
O enfoque dado às exportações alivia tensões sobre
vidos eram quase o dobro do déficit produzido pelo
a expansão das multinacionais. Na medida em que a
comércio com o Oriente Médio.
produção das multi nacionais é claramente destinada às
exportações, pode ser melhor justificada em termos de Quando se observa a expansão das exportações
nacionalismo e é menos ameaçadora ao capital local. através do tempo, os países principais aparecem como
Enquanto as multi nacionais puderem apresentar-se co- o maior problema do comércio brasileiro: Entre 1964 e
mo máquinas para a expansão das exportações, elas te- 1974, as exportações se expandiram de modo
rão mais facilidade de acesso a novos setores e menos dramático com os países menos desenvolvidos e com o
chances de serem desafiadas nas questões de controle e bloco socialista, embora a exportação aos países prir.-
intercâmbio tecnológico. Por fim, é claro, a expansão cipais tivesse permanecido bem atrás do crescimento
das exportações diminui a pressão sobre as multinacio- geral das exportações. Uma notável expansão em pe-
nais para reduzir suas importações de bens de capital e quenos mercados não é o suficiente: para que a expan-
de produtos intermediários, da mesma forma que o faz são das exportações tenha sucesso, essas exportações
para as empresas estatais. devem penetrar cada vez mais nos grandes mercados
mundiais.
A melhor ilustração de como a . promoção de
exportações propicia uma solução mutuamente O problema da penetração nos mercados dos países
aceitável para os conflitos potenciais entre as multina- industriais avançados é esclarecido pela análise de ou-
cionais e o Governo brasileiro é fornecida pelo progra- tra tendência mostrada nos quadros 2 e 3 - o papel
ma chamado Befiex, que alia um generoso conjunto de crescente dos bens manufaturados entre as exporta-
incentivos fiscais a um bom desempenho do balanço ções do Brasil. Os produtos primários ainda são im-
de pagamentos. No setor automobilístico, o Brasil portantes, e em anos em que uma boa colheita coincide
conseguiu o comprometimento de todas as grandes com tendências favoráveis do mercado, como em
indústrias para exportar um total de quase 6 bilhões de 1977, a exportação de produtos primários pode mesmo
dólares de sua produção num período de alguns crescer mais rápido que a exportação de manufatura-
anos.> Para as indústrias automobilísticas, esse com- dos. Mas a tendência geral é clara: os produtos manu-
Quadro 1
Balança comercial do Brasil- 1972e 1974, antes e depois da crise do petróleo (milhões de dólares norte-americanos)
Diferença:
Áreas de Importações Exportações Diferença Percentagem
comércio sobre as
importações
1972
Todos os países
desenvolvidos 3.677 3.020 -657 -18'70
EUA, Japão, Alemanha Ocidental 2.355 1.447 -908 -39
Oriente Médio 374 38 -334 -90
Bolívia, Uruguai, Paraguai 29 89 +60 +206
Países socialistas 91 288 + 197 +217
Total 4.775 3.991 -784 -16'70
1974
Todos os países desenvolvidos 9.576 5.618 -3.958 -41'70
EUA, Japão, Alemanha Ocidental 6.445 2.862 -3 ..583 -56
Oriente Médio 2.404 431 -1.973 -82
Bolívia, Uruguai, Paraguai 165 251 +86 +52
Países socialistas 189 415 +226 +120
Total 14.162 7.951 -6.211 -44'70
Fonte: Nações Unidas. Anuário de Estatlsticas do Comércio Internacional. New York, 1976. v. 1: 1974 - quadro por país. 41
Nota: As áreas são selecionadas, e, portanto, não se adicionam aos totais.
Quadro 2
Crescimento das exportações brasileiras por tipo de mercadoria (milhões de dólares norte-americanos)
Fonte: IBGE. Anuário Estatfstico 1972 p. 279-82; 1976 p. 245-47. Serra, José. Three mistaken theses on the connection between authori-
tarianism and economic development. In: Collier, David, ed. The New authoritarianism in Latin America. Princeton, New Jersey,
1978. quadro 10.
Quadro 3
Crescimento das exportações brasileiras por destino
Percentagem
Destino 1969 1975 do aumento
Fonte: IBGE Anuário Estatlstico 1972 p. 279-81; 1976 p. 245-47. Serra, José. op. cito quadro 10.
Empresas multinacionafs
o cenário para a futura expansão das exportações quena empresa nos países mais importantes é ilustrado
do Brasil é claro. O grande déficit que tem caracteriza- pela situação da indústria de calçados dos EUA.
do suas relações comerciais com os países principais Um sumário do rápido declínio da indústria de calça-
deve ser superado pela colocação de uma proporção dos americana diante da competição das importações
crescente de bens manufaturados nesses mercados. Es- por um período de 11 anos é fornecido no quadro 4.
te cenário vai diretamente ao encontro do que é cha- Mais de 70 mil empregos desapareceram entre 1966 e
mado "o novo protecionismo',' . Business La/in Ameri- 1976, junto com 30070 da capacidade efetiva da indús-
ca resumiu a situação do Brasil de forma suscinta: tria. Aqueles que permaneceram empregados também
"Economicamente, a maior alteração pode ser vista na não se beneficiaram do aumento de rendimentos ba-
luta do Brasil para exportar: pela primeira vez, está co- seado em operações mais mecanizadas ou na elimi-
meçando a penetrar em áreas alheias. Quando suas nação de fábricas ineficientes. Os ganhos médios dos
exportações eram somente de produtos primários, o que puderam manter os seus empregos na indústria
Brasil não interferia no caminho de ninguém. Mas permaneceram estagnados em termos reais e declina-
agora, ao competir por mercados de produtos manufa- ram em relação aos ganhos de outras indústrias. O va-
turados tais como carros, equipamentos de construção lor adicionado por empregado na indústria de calçados
de estradas, rádios, sapatos e tesouras, o Brasil está declinou de 52% da média das indústrias em 1964 para
encontrando os mesmos problemas que afligem outras 47% em 1974. Em resumo, a indústria de calçados nos
sociedades industriais. Estão sendo levantadas ob- EUA não estava se tornando mais moderna, nem uma
jeções aos incentivos para a exportação do Brasil, e indústria com menos trabalho-intensivo, mas estava
medidas protecionistas estão sendo invocadas. Este ti- simplesmente perdendo para a competição estrangeira.
po de resposta às suas exportações constitui o período
mais crítico das relações Brasil-EUA" .J1 A mudança estrutural mais importante da indústria
durante o período 1966-1976 foi um aumento marcan-
2. PEQUENA EMPRESA te no grau de concentração. No começo do período,
E INTERNACIONALIZAÇÃO NA PRODUÇÃO 517 pequenas companhias partilhavam pouco mais de
1/4 do mercado nacional, ao passo que 16 grandes
No Brasil, a pequena empresa de capital nacional foi companhias repartiam entre si pouco mais de 30% des-
deixada para trás pela internacionalização da econo- se mesmo mercado. No fim do período, 21 grandes
mia brasileira. Isso pode ser visto como um mal pecu- companhias eram responsáveis por metade da pro-
liar das burguesias periféricas, mas é, de fato, fenôme- dução, enquanto 292 companhias pequenas tinham
no mais geral. As pequenas companhias farmacêuticas apenas 1/5 do mercado. Trezentas companhias tinham
42 no Brasil têm muito em comum com os pequenos fa- desaparecido por completo.
bricantes de calçados da Nova Inglaterra. Mesmo loca-
lizada no centro, a pequena empresa não está em po- A estrutura das importações também se alterou du-
sição de efetuar investimentos diretos e não está prepa- rante o período. O Japão e a Inglaterra, que eram par-
rada para tirar vantagens das oportunidades de expor- tes importantes da importação de calçados em 1966, ti-
tação." Ela está preparada, em geral, para fabricar os nham perdido essa importância em 1976. A contribui-
produtos de tecnologia rotineira que o Brasil está ten- ção da Itália e da Espanha permaneceu expressiva du-
tando exportar. O efeito devastador que a expansão rante todo o período, mas Formosa, Coréia e Brasil,
das exportações da semiperiferia pode ter sobre a pe- três países que significaram menos de 1% do volume
Quadro 4
o declínio da indústria americana de calçados e o crescimento das importações
1976 como
1966 1976 percentagem
de 1966
Fonte: Associação Americana das Indústrias de Calçados. Footwear Manual 1977. quadros 10, 11,37,38; AFIA Statistical Reporter. Re-
latório Trimestral 4. trim. 1977.
I A cifra para 1966 é a média aproximada dos lucros semanais em dólares. A cifra para 1976 é a dos lucros aproximados deflacionados
Empresas multinacionais
A visão de Hickenlooper do investimento estrangei- presas do ramo, "começou silenciosamente suas ope-
rações no Extremo Oriente, em Taipei, Formosa" .~~
ro pressupõe não apenas que os interesses das multina-
cionais são sinônimos dos interesses dos EUA, mas Outras empresas descobriram que tentar obter o con-
também que os inimigos das multinacionais são inimi- trole administrativo de firmas estrangeiras dá mais tra-
gos do capitalismo e, portanto, no "estilo de vida ame- balho do que lucro e que podem obter lucros de fábri-
ricano". Daí, quando as multinacionais se envolvem cas estrangeiras, sem serem seus proprietários.
em disputas ou conflitos com um governo veemente- Entre as pequenas indústrias, aquelas que se especia-
mente anticomunista, como o do Brasil, é difícil invo- lizaram no volume - ou seja, aquelas que produzem
car fervor ideológico. O que é ainda mais sério, torna- grandes quantidades de calçados baratos - foram as
se difícil invocar apoio baseado nos interesses, mesmo mais atingidas. Muitos admitem que empresas com es-
de outros proprietários de capital. Os investidores no sa especialização ou terão de mudar de linha ou irão à
estrangeiro carecem mesmo do suporte político com o falência. Há outros tipos de indústrias de calçados, en-
qual os produtores de armamento podem contar. Estes tretanto, em que as empresas locais têm mais vanta-
benefíciam-se do apoio dos trabalhadores, ansiosos gens. Em certos estilos, tais como botas pesadas e sa-
por preservarem seus empregos, e do apoio dos Gover- patos esportivos de couro, o estilo americano predomi-
nos locais, ansiosos por preservarem sua fonte de im- na. Em calçados de couro de alto preço, a mão-de-
postos. As indústrias no exterior não têm nenhum des- obra direta representa somente 15-20aJo do valor do
ses apoios. produto. Quando o fabricante estrangeiro paga o fre-
Por que razão proprietários de pequenas empresas te, os impostos, a estocagem é difícil para ele obter al-
_ fábricas de calçados, por exemplo - não se agrupa- guma vantagem no custo, mesmo que a mão-de-obra
riam em torno de um programa nacionalista que en- tenha sido muito barata. Nos segmentos de mercado
volveria o protecionismo das indústrias nacionais, o de alto preço, onde a moda predomina, há uma grande
fim das taxas e outros privilégios para investimento no vantagem em se estar próximo do mercado consumi-
estrangeiro e talvez, em caso extremo, o fim do apoio dor. Uma pequena empresa local pode atender ao va-
militar dos EUA aos regimes autoritários cuja política rejista dentro de 25-35 dias, enquanto uma companhia
repressiva ao trabalho torna possível as exportações? brasileira ou chinesa necessita 6 meses.
Se estivéssemos buscando um elemento nacionalista Em resumo, há um número de áreas nas quais a pe-
entre os pequenos capitalistas, a indústria de calçados quena indústria local tem chance de sobreviver - pelo
seria o lugar mais óbvio para se procurar .42 Esta menos uma chance não inferior à normal para uma pe-
indústria é caracterizada pelo grande número de pe- quena empresa. Ela pode fracassar, como qualquer pe-
quenas empresas e foi direta e severamente prejudica- quena empresa pode fracassar, mas não se verá priva-
44 da pelas importações. Mesmo as maiores empresas da, pela nova ordem econômica internacional, de uma
dessa indústria não foram capazes de obter sucesso em oportunidade de competir. Além do que, mesmo aque-
investimentos diretos no estrangeiro. Apesar de tudo les que se vêem engajados em uma batalha pela sobre-
isso, o nacionalismo da indústria de calçados não foi vivência em que os maiores oponentes são estrangeiros
além de medidas específicas e particulares de protecio- carecem de uma estrutura ideológica que possa levá-
nismo. los a uma política nacionalista.
Poder-se-ia esperar que os mais aflitos dentre os
Um empresário cuja companhia tinha sido forçada
proprietários das indústrias de calçados fossem os
pela competição estrangeira a alterar de modo drástico
afastados do negócio. Na realidade, muitos tiveram al-
(embora com sucesso) sua linha de produção era com-
terações em suas carreiras que não podem ser conside-
pletamente antagônica aos esforços no sentido de se
radas desastrosas. Alguns conseguiram vender suas
proteger a indústria de calçado. Ele sentia que as com-
empresas por grandes somas e gozam hoje de uma
aposentadoria confortável. Os mais jovens e de espíri- panhias americanas não poderiam competir com o
Oriente em volume e que "não valia a pena tentar" .
to mais empreendedor possivelmente se transforma-
Tarifas, quotas e subsídios "tornam os calçados mais
ram em importadores. Alguns foram mantidos pelas
caros para o consumidor comum, aumentam os im-
firmas que compraram suas empresas. (Um deles foi
desenhar sapatos na Itália.) Talvez tenha havido desas- postos e aumentando, conseqüentemente, a inflação
tornam mais caro para alguém na Alemanha a compra
tres pessoais, mas isso parece não ter sido suficiente
de um computador IBM". O surpreendente acerca de
para gerar um impacto político.
sua análise é que reflete com exatidão a posição inter-
E aqueles que permaneceram na indústria, nacionalista que se pode esperar de um diretor de uma
confrontando-se com uma maciça importação de calça- multi nacional. A descoberta de tal arquétipo interna-
dos? Primeiro, as grandes empresas têm de ser ex- cionalista na pessoa de um pequeno empresário orien-
cluídas de qualquer coalizão nacionalista. As quatro tado para a produção local dá alguma indicação da he-
maiores companhias de calçados tiveram níveis maio- gemonia ideológica geral da posição internacionalista.
res de lucro no período de 1970-73 do que entre 1963-
66.43 Muitas delas envolveram-se pesadamente nas Mesmo os produtores de calçados que são inflexíveis
vendas a verejo e foram capazes de combinar pro- quanto à necessidade de proteção normalmente não
dução própria com importação. Umas poucas fizeram põem suas reivindicações no contexto de nenhum pro-
investimentos diretamente no exterior. Em 1977, grama político geral. Para aqueles que mantêm uma li-
quando era intenso o lobby para se impor restrições à nha de produção de alto preço, "o declínio da habili-
importação de calçados de Formosa e da Coréia do dade artesanal americana" é o maior culpado. Os tra-
Sul, a U.S. Shoe Corporation, uma das maiores em- balhadores americanos não podem mais, por alguma
Empresas multinacionais
Comércio e outros setores do Executivo encarregados
Hubert Humphrey se juntarem na defesa da Opic.
de atender às necessidades das multinacionais conti-
Quando os defensores do projeto argumentaram que
nuarão por certo a executar seu trabalho. Exercendo
os investimentos americanos por ele fermentados au-
de modo ativo sua influência, as multi nacionais po-
mentariam as exportações e o nível de emprego dos
dem, provavelmente, fazer passar qualquer legislação
EUA, não convenceram tanto os seus colegas como o
de que necessitem. O mais marcante a respeito do de-
fizeram há cinco anos atrás. A concentração dos segu-
bate da Opic foi a própria ocorrência desse debate.
ros da Opic sobre algumas das 500 empresas da Fortu-
Uma persuasão não-questionada é uma coisa, uma
ne tornou o fato mais irritante." O ceticismo sobre os
ideologia questionada é outra. O fato de a ideologia
efeitos desenvolvimentistas do investimento direto era
internacionalista ter sido questionada de forma tão
aparente durante todo o tempo. Se não fosse pelo es-
violenta, numa época em que os círculos dirigentes es-
forço concentrado no lobby por um grande número de
tavam repletos de representantes do que é, certamente,
representantes da Opic e pelo fato de ela não estar exi-
a epítome da perspectiva internacionalista - a Comis-
gindo fundo, o resultado teria sido diferente.
são Trilateral - deve ser objeto de atenção para as
O debate não deu origem a uma coalizão naciona- multinacionais" .54 Pior ainda, suas dificuldades
lista. Mostrou, sim, que os representantes de distritos políticas nos EUA repercutem politicamente em países
liberais, da classe média (Ryan), comerciantes (Long), como o Brasil.
defensores de direitos humanos (Harkin, de Iowa), re-
presentantes de distritos com fábricas fechadas (Da- 4. REPERCUSSÕES NACIONALISTAS
nielson) .e mesmo representantes de distritos rurais
conservadores (Evans, da Geórgia) poderiam achar O apogeu dos sentimentos pró-EUA, entre aqueles que
um campo comum na sua oposição quanto ao apoio controlam os aparatos estatais brasileiros, ocorreu há
estatal às atividades das multínacíonaís." A veemência 10 anos atrás quando Castelo Branco era presidente e
da oposição à Opic foi mais surpreendente devido à es- Roberto Campos responsável pelo Ministério da Fa-
pontaneidade de sua emergência. Ryan principiou a zenda. Naquele tempo, os EUA atraíam como baluar-
discussão quase por acaso, não por haver algum inte- te do anticomunismo. O apoio americano tinha sido
resse de seus eleitores contra a Opic. Muitos deles pro- crítico para assegurar a fácil ascensão dos militares ao
vavelmente nunca ouviram falar dela. Os argumentos poder. A ajuda, o comércio e o investimento america-
anti-Opic atingiram correntes ideológicas simpatizan- nos constituíram o principal suporte para o modelo de
tes. Relatou-se que um Senador afirmou: "Como pos- desenvolvimento que os militares estavam tentando
so eu apoiar a Opic, quando os fazendeiros de meu dis- instalar.
trito não conseguem empréstimos?" A emenda de No fim da década de 70, a mudança de caráter da
46 Long a favor da pequena empresa ganhou suporte não economia internacional fez com que a confiabilidade
porque o pequeno capital orientado para a produção· em relação aos EUA parecesse menos atraente. Após
nacional estivesse pressionando, mas sim porque, se- testemunhar o déficit crônico de sua balança comercial
gundo palavras de um observador com longa experiên- com os EUA por mais de 30 anos, o Brasil vê-se hoje
cia no Capitólio, "o Congresso (especialmente a Câ- tratado como um competidor perigoso, suspeito de
mara) reage visceralmente a qualquer assunto que en- culpa no tocante a práticas ilícitas de comércio. Esses
volva a pequena empresa" . temores parecem mais justos se dirigidos contra o Ja-
O trabalhador envolveu-se na batalha sobre a Opic pão e a Alemanha. Aos brasileiros podem apenas pare-
apenas depois de Ryan tê-la transformado numa luta. cer injustos e hostis. Apesar de tudo, o Brasil não só
O fato de o trabalhador ter-se envolvido representa tem uma balança comercial negativa, como ainda é
parte de um despertar gradual da tradicional instância uma fonte menor de exportações de manufaturados
internacionalista da AFL-CIO. Esta federação tem para os EUA. Um observador brasileiro, acompa-
sempre achado mais fácil entender-se com os defenso- nhandoos debates da Opic, poderia ficar desconcerta-
tes da posição internacionalista, como Jacob Javits, do ao ver o Brasil ser constantemente usado como
do que com representantes da pequena empresa, cujos exemplo de um desses "países altamente desenvolvi-
poderes e lucros são mais diretamente ameaçados pelo dos" que estão "obtendo mais auxílio do que necessi-
sindicato. Mas como o fechamento. de fábricas tam, para tirar empregos de nosso próprio povo".
expandiu-se na proporção da expansão do investimen- Em defesa da Opic, o Deputado Bingham de Nova
to direto no estrangeiro, os argumentos dos internacio- York reconheceu que "demasiadas atividades da Opic
nalistas começaram a debilitar-se. estão centralizadas em países como o Brasil" e mos-
Mesmo que o pequeno capital orientado para a pro- trou que "outro dia ainda, por exemplo, a Opic anun-
dução nacional fosse congenitamente incapaz de mon- ciou que não haveria mais garantia geral para os segu-
tar uma ação política coletiva, sua desventura teria ros feitos no Brasil e em outros países onde a renda per
efeito político. A pequena empresa, em abstrato, tem capita fosse superior a 1.000 dólares"!' O Deputado
um carisma político semelhante àquele da burguesia Long atacou a Opic com veemência por ter auxiliado a
nacional em países como o Brasil. Cria-se uma potente indústria siderúrgica no Brasil:
combinação ideológica quando a desventura da peque- "Em 1977, a Opic financiou um projeto siderúrgico no
na empresa é conectada com a perdade empregos. Brasil, um país que já recebeu mais de 940 milhões de
Isto não significa que as boas relações entre as mul- dólares como financiamento estrangeiro para .sua
tinacionais e o aparato estatal dos EUA hajam termi- indústria siderúrgica (... ) eu visitei uma de suas usinas.
nado ou estejam para terminar. O Departamento de Elas são lamentáveis. Estão obtendo subsídios de seu
Empresas multinacionais
quanto ao fato de a acumulação levada a efeito pelas
reforça o envolvimento das multinacionais na tríplice
aliança. Como reagirá a Westinghouse quando obser- multinacionais na semiperiferia estar-se fazendo às
var a GE perder uma grande venda de locomotivas? custas da acumulação em seus países de origem. As
Como reagirão a GE e a Westinghouse quando virem a evidências existentes sugerem que pelo menos a mão-
de-obra dos EUA está sendo prejudicada. Na medida
IBM sendo excluída da indústria brasileira de compu-
em que pequenos empresários encontram-se cada vez
tadores? O Brasil não é somente um mercado que está
mais ameaçados pelo influxo de manufaturados es-
crescendo mais rapidamente que os mercados de mui-
trangeiros, as contradições entre as preferências das
tos países desenvolvidos, mas é também uma econo-
mia em que a taxas de lucro apresentam-se excep- multinacionais e os interesses nacionais tornam-se
cionalmente altas. Se for necessário alterar a política mais agudas.
de busca de recursos, de forma a agradar os brasilei- Nessas condições, programas como a Opic põem a
ros, por que não? Se isso significa que uma determina- prova os limites da "crença ingênua e incontestável"
da multinacional produzirá um pouco mais no Brasil, de que o apoio às empresas deve basear-se no interesse
importará um pouco menos dos EUA, e exportará um nacional, uma vez que essas empresas pertencem a ci-
pouco mais de volta aos EUA, por que não? O Gover- dadãos americanos. A Opic representa um subsídio
no brasileiro observa o balanço de pagamentos de cada público disponível apenas para as companhias empe-
multi nacional individualmente; o mesmo não ocorre nhadas em ampliar a capacidade econômica de outros
com os Estados Unidos. A recusa em cooperar com o países que não os EUA, e utilizado, na prática, por pe-
Governo brasileiro poderia resultar numa perda dos queno número das maiores multinacionais. Numa
incentivos do COI; os EUA não têm nem mesmo uma época em que fábricas estão sendo fechadas por causa
definição precisa de quais são as conseqüências da da concorrência estrangeira, o desemprego é um pro-
cooperação. blema e os déficits do balanço de pagamentos são crô-
nicos, convencer os políticos de que tais subsídios
5. ECONOMIA TRANSNACIONAL atendem ao interesse nacional requer certa habilidade.
E POLÍTICA NACIONAL A análise da oposição a programas como os da Opic
propicia uma mensuração da reação política, nos
Os temas deste trabalho abrangeram desde as relações EUA, à crescente tendência das multinacionais de des-
comerciais do Brasil com a Bolívia, passando pela opi- locar a produção para fora do país.
nião política dos fabricantes de calçados da Nova In-
glaterra, até os ataques do congresso aos abrigos para O resultado que se propõe e o crescente afastamento
Safari no Quênia - sempre na tentativa de esclarecer a das multinacionais em relação ao aparato político de
48 natureza das relações Brasil-EUA na década de 70. A seus países de origem. Este aspecto deve ser menciona-
lógica subjacente a esta combinação de evidências dis- do com muito cuidado. Não se está afirmando aqui
paratadas e um tanto incomensuráveis deve ser acen- que a classe capitalista nos Estados Unidos esteja divi-
tuada. dida em segmentos internacionalistas e nacionalistas
em luta pelo controle do governo dos EUA. O peque-
O ponto de partida é a transformação econômica em no capital orientado para a produção interna tem to-
certas áreas da periferia. Nada, da análise que foi das as fraquezas políticas que são tradicionalmente
apresentada, poderia ser estendido ao Afganistão, à atribuídas à pequena burguesia pelos marxistas. Con-
Nigéria, a Zâmbia ou ao Paraguai. Somente alguns siderando que alguns pequenos empresários conti-
países passaram pelo tipo de desenvolvimento depen- nuam a encontrar áreas lucrativas mesmo nas indús-
dente associado à capacidade industrial local e à for- trias nacionais afetadas de modo mais severo, percebe-
mação de uma tríplice aliança entre capital estatal, na- se que há consciência em relação a um prejuízo de âm-
cional e multinacional. Nesses países as multinacionais bito coletivo. Mesmo os pequenos empresários, orien-
podem ser subordinadas a projetos de acumulação na- tados para a produção interna, estão imbuídos da
cional, mas somente na presença de uma pressão na- ideologia internacionalista do livre comércio.
cionalista constante. Nacionalismo constante, no sen-
tido em que o termo é utilizado aqui, é uma carac- O presente afastamento das multinacionais em re-
terística estrutural da tríplice aliança. lação à política dos seus países de origem parece ter
ocorrido sem nenhuma campanha geral significativa
A expansão da exportação de manufaturados para da parte do pequeno capital orientado para a pro-
os países principais é vital para o modelo de crescimen- dução interna, e também com apenas uma pequena
to econômico que surgiu sob a égide da tríplice aliança pressão das associações trabalhistas. O grau de desgas-
- vital por causa da necessidade econômica de resol- te da posição ideologicamente hegemônica da instân-
ver desequílibrios externos criados pela industriali- cia internacionalista é impressionante, precisamente
zação baseada na importação intensiva, e ainda por- porque ocorreu de forma antecipada em relação a
que a expansão das exportações é um modo de resolver pressões de grupos cujos interesses seriam afetados, e
tais desequílibrios de uma forma que é ao mesmo tem- não como resultado dessas possíveis pressões. O Go-
po atraente para as multinacionais e que não se mostra verno continuará, com certeza, a agir de acordo com
ameaçadora ao capital nacional. os interesses do capital internacional. Mesmo no Con-
Neste ponto aparece uma divisão entre os interesses gresso, a posição internacionalista será vitoriosa na
das multinacionais e os do capital americano, cuja pri- maioria das vezes. A questão não é que o Governo dos
meira preocupação é a expansão da economia dos EUA tenha-se tornado nacionalista, mas, antes, que
EUA. Independentemente da questão de exportar para a frente internacionalista esteja começando a apresen-
os EUA, sérias interrogações podem ser levantadas tar algumas falhas.
cialistas mais explícitas é impossível dizer. Se um des- associado. Estudo CEBRAP, 8:41-75,1974.
6 Wallerstein, lmmanuel. The Rise and future demise of the world
ses fatos ocorresse, o processo de afastamento das
capitalist system: concepts for comparative analysis, Comparative
multinacionais em relação a seu país de origem poderia Studies in Society and History, 15(4):387-415, Sept. 1974. Veja
acelerar-se. também Wallerstein, lmmanuel. Semi-peripherical countries and the
contemporary world crisis. Theory and Society, 3(4):461-84.
As implicações desse argumento permanecem radi- 7 Evans, Peter B. Multinacionals, state-owned corporations and the
cais, não importando o modo pelo qual se tente defini- transformation of imperialism: a Brazilian case study. Economic
las ou avaliá-las. "O que é bom para a General Motors . Development and Cultural Change, 26(1):43-64; Dependent deve-
lopment: the alliance of multinational state-owned and local Capital
é bom para os Estados Unidos" tem sido uma premis- in Brazil. Princeton, New Jersey, a ser publicado brevemente.
sa básica duradoura do pacto de dominação existente 8 Sunkel, Oswaldo. Transnational integration and national disinte-
nos EUA. Tais premissas ideológicas têm sido mais gration in Latin América". Social and Economic Studies,
difíceis de se impor na América Latina, porque um 22(17): 132-76.
9 Cardoso, F. H & Faletto, Enzo. Dependência e desenvolvimento
amplo segmento do capital é estrangeiro. O resultado
na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Ja-
disso foi a instabilidade da dominação burguesa, mas neiro, 1973.
a hegemonia internacional dos Estados Unidos com- 10 Newfarmer, Richard & Mueller, WiIlard. Multinational corpora-
pensou a instabilidade nacional. Uma vez que naciona- tions in Brazil and Mexico: structural sources of economic and non-
lismo pode ser definido, mesmo nos EUA, de maneira economic power. Relatório ao Sub-comitê sobre Corporações Multi-
Empresas multinacionais
nacionais, Comitê de Relações Exteriores, Senado dos EUA, Was- neiro, 1975, p.99 (Coleção Estudos Brasileiros. n. 4.)
hington D. C, 1975. 34 Subcomitê sobre Corporações Multinacionais, Comitê de Re-
11 Cardoso, Fernando Henrique. op. citop. 60. lações Exteriores, Senado dos EUA. Hearing on multinational cor-
12 Veja, por exemplo, Connor, John M. & Mueller, Willard. Mar- porations in the dollar devaluation crisis and the impact of direct in-
ket power and profitability of multinational corporations in Brazil vestment abroad in the U.S. economy, Part 13. Washington D.C.,
and México. Relatório ao Subcomitê de Política Econômica Exter- 1976p.116.
na, Comitê de Relações Exteriores, Senado dos EUA, Washington 3~ I~. ibid. p. 117.
D.C., 1977. 36 Musgrave, Peggy. Direct investment abroad and the multinatio-
13 Moran, Theodore. Multinational corporations and the politics of nals: effects on the U.S. economy, Prep. para uso do Subcomitê so-
dependence: copper in Chile. Princeton, New Jersey, 1974. bre Corporações Multinacionais, Comitê de Relações Exteriores, Se-
14 Business Latin America, p. 193-307, 1977. nado dos EUA, Washington D.C., 1975. p. XVI, XVII .•
rs Ibid, p. 196-299, 1975. 37 Veja, por exemplo: Stobaugh, Robert, et alii, U.S. Multinational
16 Ibid, p. 159, 1978. enterprises and the U.S. economy. In: Bureau of International Com-
17 Comissão Econômica para a América Latina - ECLA. Econo- merce, U .S. Department of Commerce, The Multinational corpora-
mic survey of Latin America. New York, 1976. p. 233. tion. Washington D.C., 1972.
18 Business Latin America, p. 185, 1976. 38 Subcomitê sobre Corporações Multinacionais. Hearings. p. 107.
19 Comissão de Tarifas dos EUA. Implications of multinational 39 Id. ibid. p. 165.
firms for world trade and investment and for u. s. trade and labor. 40 Newfarmer, Richard & Mueller, Willard. op. citop. 43.
Relatório ao Comitê de Finanças, Senado dos EUA, Washington 41 Por percepção de Hickenlooper quero dizer a suposição de que os
D.C., 1973. aparelhos de Estado dos EUA devem servir para apoiar os interesses
20 O'Oonnell, Guillermo. Reflections on the patterns of change in das multinacionais em suas disputas com países do Terceiro Mundo,
the bureaucratic-authoritarian state. Latin American Research Re- como foi expresso na famosa emenda Hickenlooper.
view 13(1):3-39. Veja também Serra, José. Three mistaken theses on 42 As entrevistas com executivos da indústria de calçados, sobre as
the connection between authoritarianism and economic develop- quais se baseia parcialmente a discussão sustentada no texto, repre-
ment. In: Collier, David, ed. The New authoritarianism in Latin sentam apenas uma parcela muito pequena dos fabricantes da Nova
America. Princeton, New Jersey, 1978. Inglaterra. Por não terem sido selecionados de forma sistemática,
21 Serra, José op. cito quadro 7. não são necessariamente representativos. Nenhum deles, por exem-
22 Business Latin America, p. 155, 1978. plo, era ativo na Associação Americana das Indústrias de Calçados.
23 Wall Street Journal, p. 20, Jan. 13, 1978. No entanto, os resultados dessas entrevistas são bastante consisten-
24 Business Latin America, p. 75. tes com os comentários de observadores externos com relação à falta
2~ Departamento de Comércio dos EUA. Brazil, survey of U.S. ex- de atividade política organizada da parte do pequeno capital voltado
port and import opportunities: chemical and petrochemical indus- para a produção interna.
tries. Escritório de Comércio Internacional, Washington D. C. 43 Associação Americana das Indústrias de Calçados - AFIA.
1974. Footwearmanual1977. quadro 14.
26 Business Internationat, p. 204,1976. 44 The Wall Street Journal. p.2, Mar. 3, 1978.
27 Business Intemational, I Nov.llst, 1976. 4~ Congressional Record, p. H12058, Oct. 2, 1977.
28 Muller, Ronald & Moore, David. Brazilian bargaining success in 46 Ibid., Oct. 3,1977.
Befiex export promotion program with the transnational automotive 47 Ibid., p. H1450, Feb. 23,1978.
50 industry, New York, 1978. 48 Ibid., p. H12112, Nov. 3,1977.
29 Id ibid. quadro 2. 49 Ibid.
30 Business Latin America, p. 149, 1978. so Ibid., p. H12054.
31 Peter Evans, Foreign investment and industrial transformation. SI Ibid., p. H 12057.
Journal of Development Economics, 3(4): 119-39. S2 Ibid., p. HI443, Feb. 23,1978.
32 Embora o enfoque aqui seja sobre a pequena empresa, há S3 Ibid., p. H1454.
também, obviamente, exemplos de grandes empresas orientadas pa- ~4 Frieden, Jeff. The Trilateral Commission: Economics and Poli-
ra a produção interna ameaçadas pelas importações. A análise de tics in the 1970's. Monthly Review, 29(7):1-19.
Steven Volk sobre a indústria siderúrgica fornece bom complemento ss Congressional Record, p. HI441, Feb. 23,1978; p. HI2056, Nov.
da discussão aqui apresentada. 2, 1977.
33 Martins, Luciano. Nação e cooperação multinacional. Rio de Ja- S6 Id. ibid. p. H1451, Feb. 23,1978.