Anda di halaman 1dari 152

A Crise do Capitalismo Global

O Capital e suas Contradições


A Crise do Capitalismo Global
O Capital e suas Contradições

Adrián Sotelo Valencia


Francisco Luis Corsi (Org.)
Giovanni Alves (Org.)
Michael Roberts
Xabier Arrizabalo Montoro

1ª edição 2018
Bauru, SP
Copyright© Projeto Editorial Praxis, 2018

Coordenador do Projeto Editorial Praxis


Prof. Dr. Giovanni Alves

Conselho Editorial
Prof. Dr. Giovanni Alves (UNESP) Prof. Dr. Ricardo Antunes (UNICAMP)
Prof. Dr. José Meneleu Neto (UECE) Prof. Dr. André Vizzaccaro-Amaral (UEL)
Profa. Dra. Vera Navarro (USP) Prof. Dr. Edilson Graciolli (UFU)

Capa
Giovanni Alves

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

C696r A Crise do Capitalismo Global: O Capital e Suas Contradições /


Francisco Luis Corsi, Giovanni Alves (Organizdores). — Bauru:
Canal 6, 2018.
152 p. ; 23 cm. (Projeto Editorial Praxis)

ISBN 978-85-7917-479-7

1. Direito do Trabalho –Brasil 2. Direito do trabalho - Itália.


3. Sindicatos 4. Direito de greve I. Título

CDD 331

Projeto Editorial Praxis


Free Press is Underground Press
www.editorapraxis.com.br

Impresso no Brasil/Printed in Brazil


2018
Rua Machado de Assis, 10-35
Vl. América | CEP 17014-038 | Bauru, SP
Fone/fax (14) 3313-7968 | www.canal6.com.br
Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Capítulo 1
The crisis of global capitalism today . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Michael Roberts
From recession to depression. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Globalisation, trade and protectionism. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
The global challenges: rising inequality. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
The global challenge: robots and automation. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
The global challenge: climate change. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
No permanent crisis, just perpetual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Capítulo 2
Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a
la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Adrián Sotelo Valencia
Introducción. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Enfoque teórico de la crisis capitalista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
La crisis mundial capitalista y el declive del “crecimiento potencial”. . . . . 48
Conclusión. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Referencias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Capítulo 3
La Necesidad Del Marxismo para Comprender el
Significado Histórico de la Crisis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Xabier Arrizabalo Montoro
Introducción: el lugar singular del marxismo en el
pensamiento económico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Sumário 5
Fundamentos del método marxista y categorías teóricas principales. . . . . 66
El Capital: de la ley del valor a la ley del descenso tendencial
de la tasa de ganancia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Resultado del método marxista: los límites históricos del capitalismo. . . 87
Conclusiones: frente a la superficialidad y el eclecticismo,
un método consistente lógicamente y compatible con los
hechos, para la comprensión de los problemas actuales . . . . . . . . . . . . . . . . 90
Bibliografía . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

Capítulo 4
A Crise do Capitalismo Global . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Francisco Luiz Corsi
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
A reconfiguração do capitalismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
O estouro da bolha imobiliária e a crise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Considerações Finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

Capitulo 5
O Duplo Negativo do Capital. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Giovanni Alves
Capital como contradição viva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
A desmedida do valor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
A “negação” do capitalismo no interior do próprio capitalismo . . . . . . . . 134
Desmedida do Valor, Trabalho “Imaterial” e Trabalho Abstrato . . . . . . . 137
O fardo do capital. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
Formas derivadas de valor e barbárie social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

Sobre os Autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

6 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Apresentaç ão

O livro “A crise do capitalismo global: o capital e suas contradi-


ções”, organizado por Giovanni Alves e Francisco Corsi, é um livro que
procura discutir a problemática da crise do capitalismo global (em 2018)
na perspectiva marxista, expondo abordagens de pesquisadores da cri-
tica da economia política do Brasil, México (Adrián Sotelo Valencia),
Espanha (Xabier Arrizabalo Montoro) e Inglaterra (Michael Roberts).
O livro-coletânea é produto da iniciativa da RET (Rede de Estudos do
Trabalho) e do Grupo de Pesquisa “Estudos da Globalização” (GPEG),
sendo um esforço necessário para esclarecer as perspectivas do nosso
tempo histórico.
Desde a profunda recessão de 2008/2009 nos países capitalistas cen-
trais (EUA, União Europeia e Japão), núcleo orgânico e centro dinâmico
do capitalismo global, a economia mundial não conseguiu recuperar
índices de crescimento capazes de recuperar o emprego e a renda nos
países capitalistas afetados pelo estouro da bolha financeira. A desace-
leração da economia da China e a queda brusca do preço das commo-
dities (entre eles o petróleo), abateram na metade da década de 2010, os
países capitalistas periféricos como o Brasil.
A fragilidade do crescimento das economias do EUA, União Euro-
péia e Japão nos últimos 10 anos (2008-2018), demonstra que o capita-
lismo global não conseguiu se recuperar da profunda crise financeira.
Pelo contrário, as contradições da recuperação do capital, acumuladas
desde the Great Recession, como a perpetuação do alto endividamento
das famílias e empresas e a demanda efetiva insuficiente, além da pros-
seguimento do poder do capital financeiro e a financeirização da rique-
za capitalista com o risco da produção de novas bolhas especulativas,
ameaçam uma nova crise mundial de proporções gigantescas.

Apresentação 7
A crise do capitalismo global e o reordenamento do poder imperia-
lista diante das incertezas da economia global fazem aumentar a insta-
bilidade geopolítica. O reposicionamento do imperialismo norte-ameri-
cano (e europeu) na Ásia e Oriente Médio pode levar a um novo conflito
militar regional com sérios riscos para a Humanidade. A geopolítica
do capitalismo senil constituído pelo bloco rentista-parasitário liderado
pelos EUA, defronta-se hoje com as articulações emergentes do bloco
“desenvolvimentistas” liderado pela China, Rússia e India. Conflitos
comerciais e escaladas militares provocam o acirramento das disputas
entre os dois modelos de desenvolvimento do capital no século XXI.
Ao mesmo tempo, aprofunda-se a desigualdade social e a concen-
tração de riqueza no mundo capitalista – não apenas na periferia, mas
no centro desenvolvido, elevando o patamar da luta de classes, provo-
cando a ascensão do fascismo social e projetos de supremacia da direita
neoconservadora.
No começo do século XXI, o capitalismo global em sua etapa de
crise estrutural, expele progresso tecnológico e irracionalidade social,
cumprindo à exaustão, aquilo que o velho Marx previu em 1856 (vide
epigrafe do livro). Ao mesmo tempo, coloca-se no horizonte do século
XXI, as promessas de um novo salto de produtividade do trabalho dado
pelas conquistas tecnológicas da robotização, fábricas automáticas, in-
teligência artificial e Internet das coisas (o que deve aprofundar os pro-
blemas estruturais de produção e realização do valor).
Na verdade, a crise do capitalismo global é a elevação, num pata-
mar superior, das contradições do modo de produção capitalista e do
sistema mundial do capital no começo do século XXI. Como cientistas
sociais comprometidos com a crítica do capital devemos ter perspicácia
e capacidade teórica para desvelar os complexos mecanismos da crise
do capitalismo tardio na perspectiva da crise estrutural do capital como
modo de controle estranhado do metabolismo social.

Marilia, 5 de maio de 2018


Aniversário de 200 Anos de Karl Marx (1818-2018)

Giovanni Alves
Francisco Corsi

8 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


“In our days, everything seems pregnant with its contrary: Machi-
nery, gifted with the wonderful power of shortening and fructifying
human labour, we behold starving and overworking it; The newfangled
sources of wealth, by some strange weird spell, are turned into sources
of want; The victories of art seem bought by the loss of character.
At the same pace that mankind masters nature, man seems to become
enslaved to other men or to his own infamy. Even the pure light of science
seems unable to shine but on the dark background of ignorance. All our
invention and progress seem to result in endowing material forces with
intellectual life, and in stultifying human life into a material force.
This antagonism between modern industry and science on the one
hand, modern misery and dissolution on the other hand; this antago-
nism between the productive powers and the social relations of our epo-
ch is a fact, palpable, overwhelming, and not to be controverted”.

Karl Marx (1856)

Apresentação 9
“Hoje em dia, tudo parece levar no seu seio a sua própria contradi-
ção. Vemos que as máquinas, dotadas da propriedade maravilhosa de
reduzir e tornar mais frutífero o trabalho humano, provocam a fome e o
esgotamento do trabalhador. As fontes de riqueza recém-descobertas se
convertem, por artes de um estranho malefício, em fontes de privações.
Os triunfos da arte parecem adquiridos ao preço de qualidades morais.
O domínio do homem sobre a natureza é cada vez maior, mas ao
mesmo tempo, o homem se transforma em escravo de outros homens
ou da sua própria infâmia. Até a pura luz da ciência parece só poder
brilhar sobre o fundo tenebroso da ignorância. Todos os nossos inven-
tos e progressos parecem dotar de vida intelectual as forças materiais,
enquanto reduzem a vida humana ao nível de uma força material bruta.
Este antagonismo entre a indústria moderna e a ciência, de um lado,
e a miséria e a decadência, de outro; este antagonismo entre as forças
produtivas e as relações sociais da nossa época, é um fato palpável, es-
magador e incontrovertível.”

Karl Marx (1856)

10 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Capítulo 1

The crisis of global


c apitalism today

Michael Roberts

From recession to depression


Since the end of the Great Recession in 2009, the major capitalist
economies have been in a Long Depression – characterised by the slo-
west economic recovery after a slump since the 1930s, with low real
GDP growth, investment and profitability of capital. Average real inco-
mes per head in most economies have stagnated.
Marx’s theory of crises, based on his three laws of motion in capi-
talism: the law of value; the law of accumulation; and the law of profi-
tability, best explains the causes of this depression. It is the result of
the inability of capital to restore sufficient profitability in productive
investment, despite very low interest rates, huge injections of credit by
monetary institutions and even some fiscal spending. Keynesian-style
monetary and fiscal stimulus has only led to a boom in financial assets
(stocks and bonds) and failed to restore previous levels of economic gro-
wth, employment and average income growth. Indeed real incomes per
head in many countries are lower than ten years ago.
Overall debt (both corporate and public) is now at a record high. It
will require another devaluation of productive and fictitious capital (debt)
to restore profitability sufficiently. In previous depressions under capita-
lism (late 19th century and the 1930s), it took a succession of slumps and/
or a world war, to do that. After ten years since the last one, another glo-
bal slump is due – just at a time when protectionist measures are erupting
(as in the 1930s). When it comes, there will be no escape for any advanced
capitalist economy while the periphery will suffer the most.

The crisis of global capitalism today 11


A depression can be defined as when economies are growing at well
below their previous rate of output (in total and per capita) and below
their long-term average. It is also means that levels of employment and
investment are well below those peaks and below long-term averages.
Above all, it means that the profitability of the capitalist sectors in eco-
nomies remain lower than levels before the start of the depression.
Depressions (as opposed to recessions which tend to come every
8-10years) appear when there is a conjunction of downward phases in
cycles of capitalism. Every depression has come when the cycle in clusters
of innovation have matured and have become “saturated”; when world
production and commodity prices enter a downward phase( namely,
inflation slows and even turns into deflation); when the cycle of cons-
truction and infrastructure investment has slumped; and above all, when
the cycle of profitability is in its downward phase. The conjunction of
these different cycles only happens every 60-70 years. That is why there
have been only a few depressions (as opposed to regular and recurring
economic slumps or recessions) in modern capitalism. The first was in
the late 19th century (1873–97); the second was in the mid-20th century
(1929–39); and now we have one in the early 21st century (2008–?).
What are the underlying reasons behind this Long Depression?
Economists at the San Francisco Federal Reserve Bank1 considered the
well-known evidence that US real GDP growth has expanded only slo-
wly since the recession trough in 2009, counter to normal expectations
of a rapid cyclical recovery. They concluded that the slowing trend re-
flected two factors: slow growth of innovation and declining labour for-
ce participation.
Output per person fell sharply in the Great Recession, recovered
only slowly after 2007 and then plateaued in recent years. This slowdo-
wn in the productivity of labour was the result of a reduction in invest-
ment in innovation and new technology. In mainstream economics,
innovation is measured by the residual of output per person left over

1 The Disappointing Recovery in U.S. Output after 2009 by John Fernald, Robert E. Hall,
James H. Stock, and Mark W. Watson https://www.frbsf.org/economic-research/files/
el2018-04.pdf

12 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


after increases in employment (labour input) and means of production
(capital input) are accounted for. This residual is called total factor pro-
ductivity (TFP) to designate the increased productivity per unit of total
input. TFP supposedly captures the productivity benefits from formal
and informal research and development, improvements in management
practices, reallocation of production toward high productivity firms,
and other efficiency gains.
The Fed economists, using this factor accounting, found that TFP
growth slowed significantly even before the Great Recession. It picked up
in the mid-1990s and slowed in the mid-2000s—before the recession—
and then was flat or even falling going into the recession. The Fed econo-
mists dismiss the arguments that it was the Great Recession that caused
the productivity slowdown or that productivity growth from info tech
is being mismeasured: “such mismeasurement has long been present and
there’s no evidence it has worsened over time.” They also dismissed the
idea common among right-wing neoclassical economists that “increased
regulatory burdens have reduced the economy’s dynamism.” They found
no link between regulation changes and TFP growth.
The explanation they fell back on is the one presented by mainstre-
am economist Robert J Gordon (in many papers and books) that TFP
growth is really just ‘back to normal’ and what was abnormal was the
burst in innovation in the 1990s with the hi-tech and dot.com boom.
That ended in 2000 and won’t be repeated. “Every story in the late 1990s
and early 2000s emphasized the transformative role of IT, often sugges-
ting a sequence of one-off gains—reorganizing retailing, say. plausibly,
businesses plucked the low-hanging fruit; afterward, the exceptional gro-
wth rate came to an end.”2
The other factor in the slowdown was the decline in employment
growth of those of working age. Yes, there is supposed to be near ‘full
employment’ now in the US and the UK etc. But participation in em-
ployment by working age adults has fallen sharply. That’s because

2 https://thenextrecession.wordpress.com/2016/08/22/returning-to-gordon/ https://thenex-
trecession.wordpress.com/2016/02/14/robert-j-gordon-and-the-rise-and-fall-of-ameri-
can-capitalism/

The crisis of global capitalism today 13


populations are getting older and the ‘baby boomers’ who started worked
in the 1960s and 1970s are now retiring and not being replaced.
What this tells us is that the Long Depression is not just the leftover
of the Great Recession but reflects some deep-seated underlying slo-
wdown in the dynamism of the US economy that is not going to be cor-
rected through the current small economic upturn. The US economy is
just growing slower overall.
What the Fed economists don’t explain is why the US economy has
been slowing in productivity growth and innovation since 2000. What
is missing from the analysis is what drives the adoption of new tech-
niques and labour-saving equipment. Gordon and others just accept
the slowdown as a ‘return to normal’. What is missing is the driver of
investment under capitalism: profitability.
Profitability of capital in most major economies since the end of
the Great Recession has not recovered to the peak levels of 2006-7 or
even back to the previous peak of 1997. Using EU’s AMECO statistical
database3, we can estimate the movement of profitability in the major
capitalist economies in the last 20 years. Based on the simple Marxist
formula for the rate of profit of capital s/c+v, where s= surplus value and
c= constant capital and v= variable capital, I used the following AME-
CO categories. s = Net national income (UVNN) less employee com-
pensation (UWCD); c = Net capital stock (OKND) inflated to current
prices by (PVGD); v = employee compensation (UWCD). From these
data series, we can calculate the rate of profit for each of the major ca-
pitalist economies.
The AMECO categories do not match proper Marxist categories
for many reasons. But they do give cross-comparisons, unlike natio-
nal statistics. And the results seem reasonably robust when compared
with national data calculations. The results for profitability in the major
capitalist economies, using the AMECO data, confirm that the rate of
profit is lower than in 1999 in all economies, except Germany and Ja-
pan. Japan, by the way, still has the lowest rate of profit of all the major
economies. Indeed, the level of the rate of profit is highest in the UK,

3 http://ec.europa.eu/economy_ finance/ameco/user/serie/ SelectSerie.cfm

14 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Italy and an enlarged EU (which includes Sweden and Eastern Europe),
while the lowest rate of profit is in the US and Japan. All countries su-
ffered a severe slump in profitability during the Great Recession. Then
profitability recovered somewhat after 2009. But, with the exception of
Japan, all economies have lower rates of profit in 2016 than in 2007, and
some by considerable margins.

% chg in rate of profit


1999-16 1999-07 2007-09 2009-16 2007-16 2015-6
European Union -9.9 3.3 -18.0 6.4 -12.7 -1.29
European Union
(15 countries) -11.6 2.4 -19.2 6.7 -13.7 -0.85
Euro area -13.2 3.0 -19.5 4.8 -15.7 -0.99
Euro area
(12 countries) -12.9 2.7 -19.5 5.4 -15.2 -0.80
Ger 19.2 35.3 -18.7 8.4 -11.9 -2.33
Fra -19.4 -2.4 -18.7 1.5 -17.5 -1.99
Ita -26.6 -12.2 -17.9 1.8 -16.4 0.86
Spa -24.8 -17.9 -20.9 15.9 -8.3 2.15
UK -9.8 -0.3 -16.8 8.8 -9.5 -1.30
US -15.0 -5.8 -12.5 3.1 -9.7 -8.59
Jap 63.5 48.7 -22.0 41.0 10.0 -2.15

The AMECO data show that profitability is still historically low and
fell in the last couple of years. No wonder net business investment in
productive capital has remained weak since the end of the neo-liberal
period and now is even falling absolutely in some economies.4
What is the explanation for this failure of profitability to recover,
even though total profits have risen and why does it affect investment?
The answer can be found in Marx’s law of the tendency of the rate of
profit to fall. Marx reckoned that this law was the most important in
political economy. Marx starts with a crucial assumption that value can
only be generated by the exertion of labor. This is a realistic assumption.

4 https://thenextrecession.wordpress.com/2017/07/26/profitability-and-investment-again-
-the-ameco-data/

The crisis of global capitalism today 15


Factories, equipment, software, and raw materials cannot be put to
work unless people (living labour) exert energy to use them.
Marx’s law says that capitalists are engaged in competition in the
marketplace to sell goods and services. If they cannot make a profit,
they go bust and must leave the market. They raise profits by getting
employees to produce goods or services with a value greater than the
cost of production (namely, the cost of employing a workforce; the cost
of investing in and using equipment, plant, and technology; and the
cost of raw materials). This extra value is the surplus value.
Capitalists try to reduce their costs relative to the price they can sell
at a profit what their workers produce for them in the market. Increa-
singly, they must do this by investing in more technology to boost the
productivity of the workforce. So Marx’s law says that as capitalists ac-
cumulate more capital, the value of the equipment, plant, and techno-
logy used will rise relative to the amount of labor employed. The value
of means of production is called constant capital, because the means
of production cannot add any new value without workers using it. The
value of labour power employed is called variable capital, because the
labour employed can produce more value than it consumes in goods
and services that workers need to live.
Marx’s law says that the ratio of constant capital over variable capital
will rise over time. This ratio is called the organic composition of capital.
If this rises over time and the rate of surplus value is constant, the rate
of profit must fall. That is the law of the tendency of the rate of profit to
fall, as such. But there are countertendencies, the main one being that
the rate of surplus value is likely to rise as capitalists use new technology
to boost the productivity of labor. However, it will not be possible for
the capitalist economy to raise the rate of surplus value (either inde-
finitely or for any great length of time) more than the increase in the
organic composition of capital. Eventually, the law as such will prevail
and the rate of profit will start to fall.
So any upward cycle in profitability—as the rate of surplus value
rises faster than the organic composition, will be eventually replaced by
a downward cycle as the “law as such” gains ascendancy. This explains
the cyclical nature of capitalist accumulation. As the rate of profit falls,

16 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


at a certain point this causes a fall in total profit, engendering a slump
in investment and the economy as a whole. The slump eventually re-
duces the cost of constant capital of the means of production (through
bankruptcies and write-offs of equipment) and variable capital (throu-
gh unemployment, migration, etc.). Profitability is then restored and
the whole “crap” (to use Marx’s phrase) starts again.
A crisis or slump in production is necessary to correct and rever-
se the fall in the rate and eventually the mass of profit. In a period of
depression and trough, some capitalists close down. The stronger capi-
talists buy the means of production, raw materials, semi-finished pro-
ducts, and so on of the bankrupt capitalists at deflated prices. Thus the
numerator of the organic composition falls. Increased production with
falling investment in means of production that the denominator of the
organic composition rises and the rate of profit rises. Eventually rising
employment increases labour’s purchasing power and rising profitabi-
lity increases that of capital. Both factors facilitate the realization of the
greater output. So the upward profitability cycle generates from within
itself the downward cycle. This latter, in its turn, generates from within
itself the next upward profitability cycle.
The downward cycle is the tendency and the upward cycle is the
countertendency. Currently, profitability in most major economies is
still well below the level reached in 2007 and is also below the last peak
in profitability of 1997. Thus we are in a downward phase in the cycle of
profitability that I argue can be discerned in capitalist economies.
The profitability of US capital stock and new investment peaked
around 1997 and then turned down. It was this fall in profitability that
eventually provoked the collapse in the dot.com bubble in 2000. The
subsequent recovery in profitability from the late 1990s to 2006 did not
achieve anything better than 1997 levels and indeed much of the incre-
ased profits were mainly confined to the financial sector and increasin-
gly to a small sector of top companies. Average overall profitability re-
mained flat or even down and the growth in profit was mainly fictitious
(capital gains from real estate, bond and stock markets). That house of
cards collapsed in the Great Recession.

The crisis of global capitalism today 17


Profitability peaked in the late 1990s in the US (and elsewhere for that
matter) because the counteracting factors to Marx’s law of the tendency
of the rate of profit to fall (a rising rate of exploitation) and increased em-
ployment boosting total new value were no longer sufficient to overcome
a rising organic composition of capital from the tech boom of the 1990s.
Now many argue that each capitalist crisis is unique, depending on
the particular relationships and alliances forged between workers, bu-
siness, finance, and the state. Yes, each crisis of capitalism has its own
characteristics. The trigger in 2008 was the huge expansion of fictitious
capital (mortgage debt raised for housing) that eventually collapsed
when real value expansion could no longer sustain it, as the ratio of
house prices to household income reached extremes. But such “triggers”
are not causes. Behind them is a general cause of crisis: the law of the
tendency of the rate of profit to fall.
The crisis of 2008–9, like other crises, had an underlying cause based
on the contradictions between accumulation of capital and the tenden-
cy of the rate of profit to fall under capitalism. That contradiction arises
because the capitalist mode of production is production for value, not
for use. Profit is the aim, not production or consumption. Value is creat-
ed only by the exertion of labor (by brain and brawn). Profit comes from
the unpaid value created by labor and appropriated by private owners of
the means of production. The underlying contradiction between the ac-
cumulation of capital and falling rate of profit (and then a falling mass
of profit) is resolved by crisis, which takes the form of collapse in val-
ue, both real and fictitious. Indeed, wherever the fictitious expansion
of capital has developed most is where the crisis begins—tulips, stock
markets, housing debt, corporate debt, banking debt, public debt, and
so on. The financial sector is often where the crisis starts, but a problem
in the production sector is the cause.
A slump under capitalism begins with a collapse in capitalist invest-
ment. The movement in investment is initially driven by movements
in profit, not vice versa.5 In the period leading up to the Great Reces-

5 Jose Tapia Granados, using regression analysis, finds that over 251 quarters of US eco-
nomic activity from 1947, profits started declining long before investment did and that

18 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


sion, profits fell for several quarters before the US economy went into a
nose dive. US corporate profits peaked in early 2006 (that’s the absolute
amount, not the rate of profit, which peaked earlier, as we have seen).
From its peak in early 2006, the mass of profits fell until mid-2008,
made a limited recovery in early 2009, and then fell to a new low in mid-
2009. After that, the recovery in profits began and the previous peak in
nominal dollars was surpassed in mid-2010
The financial sector and particularly the size and movement of cred-
it do play an important role in capitalist crisis. Indeed, the growth of
credit and fictitious capital (as Marx called speculative investment in
stocks, bonds, and other forms of money assets) picks up precisely to
compensate for the downward pressure on profitability in the accumu-
lation of real capital.
But it is a fall in the rate of profit that promotes speculation. If the
capitalists cannot make enough profit producing commodities, they
will try making money betting on the stock exchange or buying various
other financial instruments. Capitalists experience the falling rate of
profit almost simultaneously, so they start to buy these stocks and assets
at the same time, driving prices up. But when stock and other financial
asset prices are rising everybody wants to buy them—this is the begin-
ning of the bubble, the lines of which we have seen over and over since
the’ tulip bubble’ of 1637.
If, for example, the speculation takes place in housing, as in the early
2000s, this creates an option for workers to loan and spend more than
they earn (more than the capitalists have laid out as variable capital),
and in this way the “realization problem” is solved. Sooner or later, bub-
bles burst when investors find that the assets are not worth what they
are paying for them. Now the workers have to pay back their loans, with

pretax profits can explain 44 percent of all movement in investment, while there is no evi-
dence that investment can explain any movement in profits. Jose Tapia Granados, “Does
Investment Call the Tune? Empirical Evidence and Endogenous Theories of the Business
Cycle,” Research in Political Economy 28 (2013), 229–40, and “Statistical Evidence
of Falling Profits as a Cause of Recessions: Short Note,” Review of Radical Political
Economics 44 (2012), 484–93.

The crisis of global capitalism today 19


interest, so they have to spend less than they earn. The result is even
greater overproduction than was avoided temporarily in the first place.
The basic problem is still the falling rate of profit, which depresses
investment demand. If the underlying economy were healthy, an im-
ploding bubble need not cause a crisis, or at least only a short one. When
workers and capitalists pay interest on their loans, this money does not
just disappear—some finance capitalists collect them. If the total econ-
omy is healthy and the rate of profit is high, then the revenue generated
from interest payments will be reinvested in production in some way.
In contrast to this scenario, the Keynesians/post Keynesians argue
for a different explanation for the fall-back in productive investment
since 2000 – it’s the growth of ‘monopoly power’.6 It is argued that an
increase in firms’ market power leads to an increase in monopoly rents;
economic parlance for profits in excess of competitive market condi-
tions-and thus an increase in the market value of stocks (which hold
the rights to these rents). With an increase in market power, the share
of income consisting of pure rents increases, while the labour and cap-
ital shares both decrease. Finally, the greater monopoly power of firms
leads them to restrict output. In restricting their output, firms decrease
their investment in productive capital, even in spite of low interest rates.
But the argument of rising ‘monopoly rents’ (profits) contrasts with
the evidence that average profitability fell in the non-financial produc-
tive sectors of the economy. A gap developed between overall profit-
ability including financial profits (which rocketed between 2002 and
2007) and net investment in productive sectors. The jump in corporate
profits (mainly concentrated in the banks and big tech companies) was

6 There have been several studies arguing this in recent years. Now a brand new paper
by Keynesian economists at Brown University seeks to do the same. In a new Equitable
Growthworking paper, Gauti Eggertsson, Ella Getz Wold etc claim that the puzzle of the
huge rise in profits for the top US companies alongside slowing investment in productive
sectors can be explained by an increase in monopoly power and falling interest rates.
http://equitablegrowth.org/working-papers/kaldor-piketty-monopoly-power/
http://equitablegrowth.org/equitablog/value-added/how-the-rise-of-market-power-in-
-the-united-states-may-explain-some-macroeconomic-puzzles/

20 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


increasingly fictitious, based on rising stock and bond market prices
and low interest rates.7
It may well be right that, in the neo-liberal era, monopoly power
of the new technology megalith companies drove up profit margins
or markups. The neo-liberal era saw a driving down of labour’s share
through the ending of trade union power, deregulation and privatisa-
tion. Also, labour’s share was held down by increased automation (and
manufacturing employment plummeted) and by globalisation as indus-
try and jobs shifted to so-called emerging economies with cheap labour.
And the rise of new technology companies that could dominate their
markets and drive out competitors, increasing concentration of capital,
is undoubtedly another factor.
Undoubtedly, much of the mega profits of the likes of Apple, Micro-
soft, Netflix, Amazon, Facebook are due to their control over patents,
financial strength (cheap credit) and buying up potential competitors.
But the mainstream explanations go too far. Technological innovations
also explain the success of these big companies. Moreover, byits very
nature, capitalism, based on ‘many capitals’ in competition, cannot tol-
erate indefinitely any ‘eternal’ monopoly; a ‘permanent’ surplus prof-
it deducted from the sum total of profits which is divided among the
capitalist class as a whole.The battle to increase profit and the share of
the market means monopolies are continually under threat from new
rivals, new technologies and international competitors.
The history of capitalism is one where the concentration and cen-
tralisation of capital increases, but competition continues to bring
about the movement of surplus value between capitals (within a nation-
al economy and globally).The substitution of new products for old ones
will in the long run reduce or eliminate monopoly advantage. The mo-
nopolistic world of GE and the motor manufacturers did not last once

7 Tobin’s Q is the market value of a firm’s assets (typically measured by its equity price)
divided by its accounting value or replacement costs. This is really a measure of fictitious
profits. Given the credit-fuelled financial explosion of the 2000s, it is no wonder that net
investment in productive assets looks lower when compared with Tobin Q profits. This is
not the right comparison. Where the financial credit and stock market boom was much
less, as in the Eurozone, profits and investment movements matched.

The crisis of global capitalism today 21


new technology bred new sectors for capital accumulation. The world of
Apple will not last forever.
‘Market power’ may have delivered rental profits to some very large
companies in the US over the last decade (and just that short period
it seems), but Marx’s law of profitability still holds as the best expla-
nation of the accumulation process. Rents to the few are a deduction
from the profits of the many. Monopolies redistribute profit to in the
form of ‘rent’, but do not create profit. Profits are not the result of the
degree of monopoly or rent seeking, as neo-classical and Keynesian/
Kalecki theories argue, but the result of the exploitation of labour. The
key to understanding the movement in productive investment remains
in its underlying profitability, not the extraction of rents by a few mar-
ket leaders.
The recent fall back in profit share and the modest rise in labour
share since 2014 also suggests that it is a fall in the overall profitability
of US capital that is driving things rather than any change in monopoly
‘market power’. The Long Depression is a product of low investment
and low productivity growth, which in turn is a product of lower profit-
ability of investment in productive sectors and a switch to unproductive
financial speculation (and yes, partly a product of oligopolistic power
boosting the big at the expense of the small).

Globalisation, trade and protectionism


One of the basic Marxist theoretical arguments is that the compet-
itive pressure to make more profit forces capitalist producers to find
new technologies that can save on the overall costs of production. In
the more mature (and aging) economies, the supply of cheap labor has
run out and capitalists in the West can only compete in world markets
by either exporting their capital into the emerging economies (impe-
rialism or globalization) or finding new technologies that raise labour
productivity exponentially.
Globalization was the story of the period from the late 1970s to ear-
ly 2000s as the “solution” to falling profitability in the major capitalist
economies. But a new downturn in profitability in the late 1990s and

22 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


the recessions of 2001 and the Great Recession of 2008–9 has put that
solution in jeopardy.
Over the last 30 years or so, the world capitalist economies had
moved closer to ‘free trade’ with sharp reductions in tariffs, quotas and
other restrictions – and many international trade deals. But since the
Great Recession and in the current Long Depression, globalisation has
paused or even stopped. World trade ‘openness’ (the share of world trade
in global GDP) has been declining since the end of the Great Recession.

It is this decline in globalisation as world economic growth stays


low and the profitability of capital remains squeezed that lies behind a
budding new international trade war and the rise of protectionism, as
exhibited in the batch of tariffs being imposed by US President Trump
on foreign imports from China and Europe.
The US position as a global technological leader remains strong.
The US’s economy-wide productivity remains high compared to oth-
er advanced economies, and its shares of global R&D, patents and IP
royalties remain impressive. China has been catching up though, but
in medium value-added goods sectors and hardly at all in knowledge-
based tech. So, while overall, the US share of global high-tech goods
exports has declined as China’s share has grown, the US trade sector

The crisis of global capitalism today 23


deficits have been concentrated in medium-high-tech goods rather
than in the most advanced categories. Indeed, the US share of global
knowledge-intensive service exports has held up, contributing to a
rising trade surplus and higher employment in those sectors.
Take overall productivity, as measured by output per hour worked.
On this broad measure of the productivity of labour, the US remains
ahead, even compared to other advanced economies in Europe and Ja-
pan. China’s labour productivity level is just 20% of the US, although
that is a quadrupling since 2000.
The US continues to invest a relatively large share of its GDP in re-
search and development. While the US share of global R&D has de-
clined, in part due to a rapid increase in China’s share, the US remains
the global R&D leader, accounting for nearly 30% of the world total,
about 1.5-2 times the US share of world GDP.
Total patents granted for new inventions show that the US share has
held roughly steady at around 20%. China’s share of total patents grant-
ed has risen very rapidly over the last decade to over 20%, but most
patents granted to Chinese innovators have come from its own domes-
tic patent office, with far fewer granted abroad. The US share of the
world total of royalties on intellectual property has declined somewhat
as the EU’s has grown, but it remains very large. China’s share remains
negligible. That means US capital is still taking the lion’s share of global
profits in technology.
The modern 21stcentury US economy relies increasingly on advanced
knowledge and technology sectors for its growth. The share of US GDP
for these sectors is now 38%, the highest of any major economy. But
China is not far behind with 35% of its GDP in these sectors, amazingly
high for a ‘developing’ economy.
Where US President Trump is now concentrating his ire on China
is on the share of hi-tech goods sales in world markets. While the US is
the largest producer of high-tech goods, its share of world exports has
shrunk considerably while China’s share has grown. This rising Chi-
nese competition has caused US manufacturing firms to reduce their
patent production, which has been accompanied by reduced global
sales, profits, and employment.

24 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


But on the services side, the US is the largest global producer of
commercial knowledge-intensive services and second only to the EU in
exports. China’s share remains quite small. If China gains market share
in this area, it will really hurt US capital.
That’s because, although the US runs a deficit on trade in tech and
knowledge industries, that deficit has shrunk from the early 2000s. The
US is more than holding its own in this area even since China joined the
World Trade Organisation. Indeed, it runs a surplus in knowledge-in-
tensive services, which has grown over the last decade. It is this that
Trump seeks to protect.
While jobs have been lost totechnology replacing labour (capital-bi-
as)and the shift of US industry to China in manufacturing, the employ-
ment share of hi-tech and knowledge sectors has risen to about one-
third of all US jobs.8 Trump claims to be restoring the ‘smoke-stack’
sectors, but in reality that battle for jobs there is already lost, thanks to
US industry shifting out. The real battle is now over profits and jobs in
the knowledge-based sectors where the US still rules.
But these sectors are highly concentrated in just a few firms, the
technology leaders. There are wide swathes of American industry, in-
cluding tech, which benefit little from this US superiority. Just five firms
have over 60% of sales in biotechnology, pharma, software, internet and
comms equipment. The top five in each sector are taking the lion’s share
of profits too.
What this shows is that, contrary to the mainstream economic idea
that international ‘free trade’ will benefit all, the gains from trade are
concentrated in just the leading firms which take advantage of network,
scale, and experience and gain larger market share. The rising industry
concentration has in turn boosted their corporate profit margins. Con-
trary to the Ricardian theory of comparative advantage, internation-
al trade is transacted by companies not countries and, as such, value
(profit) gets transferred to those with technological advantage and they
gain at the expense of others. Trade represents a form of combined de-
velopment, but capitalism delivers this unevenly.

8 https://thenextrecession.wordpress.com/2016/12/10/trump-trade-and-technology/

The crisis of global capitalism today 25


Trump’s blundering blows on trade have an objective reason: to pre-
serve US profits and capital in the key growing tech sectors of the world
economy from the rising force of Chinese industry. So far, the US is still
holding a strong lead in hi-tech and intellectual property sectors, while
China’s growth has been mainly in taking market share at home from
American companies, not yet globally. But China is gaining.
And China is able to gain despite the might of US finance and mil-
itary power because of of its sheer size and also because of its unique
social structure. China is an economy that is fundamentally state-con-
trolled and directed, with the ‘commanding heights’ of the economy
under public ownership and controlled by the party elite. As a result,
China still ranks 59th out of the 62 countries evaluated by the OECD in
openness to foreign direct investment. Beijing plans to replicate foreign
technologies and foster national champions that can take them global.
A program launched in 2015, calledMade in China 2025, aims to make
the country competitive within a decade in ten industries, including
aircraft, new energy vehicles, and biotechnology. 9
China aims not just to be the manufacturing centre of the global
economy but also to take a lead in innovation and technology that will
rival that of the US and other advanced capitalist economies within a
generation. It will raise its share of domestically made robots to more
than 50% of total sales by 2020, from 31% last year. China has also re-
doubled efforts to build its own semiconductor industry. This is what
American imperialism fears most.10
China is not accepting control by foreign multi-nationals; it is con-
tinually developing trade and investment links with the rest of Asia; and,
with the exception of Abe’s Japan, it is succeeding in keeping the Asian
capitalist states ambivalent between China’s ‘butter’ and America’s

9 http://www.cbbc.org/resources/other-cbbc-reports/made-in-china-2025/made-in-chi-
na-2025-(free-to-all)/
10 U.S. Commerce Secretary Wilbur Ross has described the plan as an“attack”on“American
genius.”In an excellent new book,The US vs China: Asia’s new cold war?,Jude Woodward,
a regular visitor and lecturer in China, shows the desperate measures that the US is taking
to try to isolate China, block its economic progress and surround it militarily.

26 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


‘arms’. As a result, China has been able to maintain its independence
from US imperialism and global capitalism like no other state.
This brings us to the question of whether China is a capitalist state
or not? Most Marxist political economists agree with mainstream
economics in assuming or accepting that China is. That conclusion
is doubtful. Commodity production for profit, based on spontaneous
market relations, governs capitalism. The rate of profit determines its
investment cycles and generates periodic economic crises. This does not
apply in China. In China, public ownership of the means of production
and state planning remain dominant and the Communist party’s power
base is rooted in public ownership.
China’s “socialism with Chinese characteristics” is a weird beast.
It is not ‘socialism’ by any Marxist definition or by any benchmark of
democratic workers control. And there has been a significant expansion
of privately-owned companies, both foreign and domestic over the last
30 years, with the establishment of a stock market and other financial
institutions. But the vast majority of employment and investment is un-
dertaken by publicly-owned companies or by institutions that are under
the direction and control of the Communist party. The biggest part of
China’s world-beating industry is not foreign-owned multinationals,
but Chinese state-owned enterprises.
China’s stock of public sector assets is worth 150% of annual GDP;
only Japan has anything like that amount, at 130%.11Every other major
capitalist economy has less than 50% of GDP in public assets. Every
year, China’s public investment to GDP is around 16% compared to
3-4% in the US and the UK. And there is nearly three times as much
stock of public productive assets to private capitalist sector assets in
China. In the US and the UK, public assets are less than 50% of private
assets. Even in ‘mixed economy’ India or Japan, the ratio of public to
private assets is no more than 75%. This shows that in China public
ownership in the means of production is dominant – unlike any other
major economy.

11 The IMF published a full data series on the size of public sectorinvestment and its growth
going back 50 years for every country in the world.

The crisis of global capitalism today 27


A report by the US-China Economic and Security Review Commis-
sion12 found that “The state-owned and controlled portion of the Chinese
economy is large. Based on reasonable assumptions, it appears that the
visible state sector – SOEs and entities directly controlled by SOEs, ac-
counted for more than 40% of China’s non-agricultural GDP. If the con-
tributions of indirectly controlled entities, urban collectives and public
TVEs are considered, the share of GDP owned and controlled by the state
is approximately 50%.” The major banks are state-owned and their len-
ding and deposit policies are directed by the government (much to the
chagrin of China’s central bank and other pro-capitalist elements). The-
re is no free flow of foreign capital into and out of China. Capital con-
trols are imposed and enforced and the currency’s value is manipulated
to set economic targets (much to the annoyance of the US Congress and
Western hedge funds).
At the same time, the Communist party/state machine infiltrates
all levels of industry and activity in China. According to a report by
Joseph Fang and others13, there are party organisations within every
corporation that employs more than three communist party members.

12 http://www.uscc.gov/pressreleases/2011/11_10_26pr.pdf
13 http://www.nber.org/papers/w17687

28 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Each party organisation elects a party secretary. It is the party secreta-
ry who is the lynchpin of the alternative management system of each
enterprise. This extends party control beyond the SOEs, partly priva-
tised corporations and village or local government-owned enterprises
into the private sector or “new economic organisations” as these are
called. In 1999, only 3% of these had party cells. Now the figure is ne-
arly 13%.14 The reality is that almost all Chinese companies employing
more than 100 people have an internal party cell-based control system.
This is no relic of the Maoist era. It is the current structure set up speci-
fically to maintain party control of the economy.15 China’s Communist
party is now writing itself into the articles of association of many of
the country’s biggest companies, describing the party as playing a core
role in “an organised, institutionalised and concrete way” and “providing
direction [and] managing the overall situation”.
There are 102 key state enterprises with assets of 50 trillion yuan
that include state oil companies, telecom operators, power generators
and weapons manufacturers. These 102 big conglomerates contributed
60% of China’s outbound investments by the end of 2016. Communist
Party committees have been installed at many tech firms, reviewing ev-
erything from operations to compliance with national goals. Regulators
have been discussing taking a 1 percent stake in some giants, including
Alibaba and Tencent, along with a board seat. Tech companies have

14 As the paper puts it: “The Chinese Communist Party (CCP), by controlling the career advan-
cement of all senior personnel in all regulatory agencies, all state-owned enterprises (SOEs),
and virtually all major financial institutions state-owned enterprises (SOEs) and senior
Party positions in all but the smallest non-SOE enterprises, retains sole possession of Lenin’s
Commanding Heights.”
15 As the Fang report says:“The CCP Organization Department manag(es) all senior promo-
tions throughout all major banks, regulators, government ministries and agencies, SOEs,
and even many officially designated non-SOE enterprises. The Party promotes people throu-
gh banks,regulatory agencies, enterprises, governments, and Party organs, handling much
of the national economy in one huge human resources management chart. An ambitious
young cadre might begin in a government ministry, join middle management in an SOE
bank, accept a senior Party position ina listed enterprise, accept promotion into a top regu-
latory position, accept appointment as a mayor or provincial governor, become CEO of a di-
fferent SOE bank, and perhaps ultimately rise into upper echelons of the central government
or CCP — all by the grace of the CCP OD.”

The crisis of global capitalism today 29


been widely encouraged to invest in state-owned firms, in the hopes of
making them more productive. The common denominator of all these
efforts is that the government wants more control. One recent report
found that 60 percent of Chinese unicorns have either direct or indirect
investment from the BATs. China›s venture-capital sector is dominated
not by traditional tech dealmakers but by the state: There are more than
1,000 government-owned VC firms in China, controlling more than
$750 billion.
State-owned enterprises have assimilated Western technologies—
sometimes with cooperation and sometimes not—and are now engaged
in projects in Argentina, Kenya, Pakistan and the UK. And the great
‘one belt, one road’ project for central Asia is not aimed to make profit.
It is all to expand China’s economic influence globally and extract nat-
ural and other technological resources for the domestic economy.
This also lends the lie to the common idea among some Marxist
economists that China’s export of capital to invest in projects abroad
isthe product of the need to absorb ‘surplus capital’ at home, similar to
the export of capital by the capitalist economies before 1914 that Lenin
presented as key feature of imperialism.16 China is not investing abroad
through its state companies because of ‘excess capital’ or even because
the rate of profit in state and capitalist enterprises has been falling.
Similarly, the great expansion of infrastructure investment af-
ter 2008 to counteract the impact of collapsing world trade from the
global financial crisis and Great Recession hitting the major capitalist
economies wasno Keynesian-style government spending/borrowing, as
mainstream and (some) Marxist economists argue.17 It was a state-di-
rected and planned programme of investments by state corporations
and funded by state-owned banks. This was proper ‘socialised invest-
ment’ as mooted by Keynes, but never implemented in capitalist econo-
mies during the Great Depression, because to do so would be to replace
capitalism.

16 http://p-u-n-c-h.ro/sternberg/david-harvey-abstract-from-the-concrete/
17 http://nationalcan.ning.com/group/natcan-book-group/forum/topics/the-ways-of-the-
-world-by-david-harvey

30 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


The law of value of the capitalist mode of production does operate
in China, mainly through foreign trade and capital inflows, as well as
through domestic markets for goods, services and funds. So the Chi-
nese economy is affected by the law of value. Globalisation and the law
of value in world markets feed through to the Chinese economy. But the
impact is ‘distorted’, ‘curbed’ and blocked by bureaucratic ‘interference’
from the state and the party structure to the point that it cannot yet
dominate and direct the trajectory of the Chinese economy.
It is true that the inequality of wealth and income under China’s
‘socialism with Chinese characteristics’ is very high. There are growing
numbers of billionaires (many of whom are related to the Communist
leaders). China’s gini coefficient, an index of income inequality, has ris-
en from 0.30 in 1978 when the Communist Party began to open the
economy to market forces to a peak of 0.49 just before the global re-
cession. Indeed, China’s gini coefficient has risen more than any other
Asian economy in the last two decades. This rise was partly the result
of the urbanisation of the economy as rural peasants move to the cities.
Urban wages in the sweatshops and factories are increasingly leaving
peasant incomes behind (not that those urban wages are anything to
write home about when workers assembling Apple i-pads are paid un-
der $2 an hour).
But it is also partly the result of the elite controlling the levers of
power and making themselves fat, while allowing some Chinese billion-
aires to flourish. Urbanisation has slowed since the Great Recession and
so has economic growth – along with that, the gini inequality index has
fallen back a little.
The Chinese economy is partially protected from the law of value
and the world capitalist economy. But the threat of the ‘capitalist road’
remains. Indeed, the IMF data show that, while public sector assets in
China are still nearly twice the size of capitalist sector assets, the gap is
closing.

The crisis of global capitalism today 31


The global challenges: rising inequality
In the21st century, capitalism is creating new contradictions for it-
self that threaten its survival as the dominant mode of production and
social organization—and, for that matter, the very existence of a healthy
planet.
First, there is rising inequality of wealth and income, both between
nation states and within them. Widening inequality has been called
“one of the key challenges of our time” by theWorld Economic Forum,
the think-tank of the elite.18 The ratings agency S&P Global Ratings has
cited the income gap as a long-term trend thatthreatens America’s eco-
nomic growth.19 Even the major international agencieslike the IMF or
the OECD continually analyse movements in inequality to see if more
equality would be better for growth and a more stable capitalism.
The world’s richest 1% are on course to control as much as two-thir-
ds of the world’s wealth by 2030. An alarming projection produced by
the UK government suggests that if trends seen since the 2008 financial

18 https://thenextrecession.wordpress.com/2015/02/01/growth-inequality-and-davos/
19 https://www.cbsnews.com/news/how-the-wealth-gap-is-damaging-the-u-s-economy/

32 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


crash were to continue, then the top 1% will hold 64% of the world’s
wealth by 2030. Even taking the financial crash into account, and me-
asuring their assets over a longer period, they would still hold more
than half of all wealth. Since 2008, the wealth of therichest 1% has been
growing at an average of 6% a year – much faster than the 3% growth
in wealth of the remaining 99% of the world’s population. Should that
continue, the top 1% would hold wealth equating to $305tn (£216.5tn) –
up from $140tn today.20
Mainstream economists often argue that there has been a substan-
tial decline in global poverty.21 But the World Bank data show a more
complex story. Back in 2013, the World Bank released a report that the-
re were 1.2bn people living on less than $1.25 a day, one-third of whom
were children. The World Bank raised itsofficial poverty line to $1.90
a day. This adjusted the old $1.25 figure for changes in the purchasing
power of the US dollar. But it meant that global poverty was reduced by
100m people overnight.
And, as Jason Hickel points out, this $1.90 is ridiculously low. A mi-
nimum threshold would be $5 a day that the US Department of Agri-
culture calculated was the veryminimumnecessary to buy sufficient
food. And that’s not taking account of other requirements for survival,
such as shelter and clothing. Hickel shows that in India, children living
at $1.90 a day still have a 60% chance of being malnourished. In Niger,
infants living at $1.90 have a mortality rate three times higher the global
average.22

20 Danny Dorling, professor of geography at the University of Oxford, said the scenario in
which the super-rich accumulated even more wealth by 2030 was a realistic one. “Even if
the income of the wealthiest people in the world stops rising dramatically in the future, their
wealth will still grow for some time,” he said. “The last peak of income inequality was in
1913. We are near that again, but even if we reduce inequality now it will continue to grow
for one to two more decades.”
21 “All of the evidence above suggests that the population living in extreme poverty has fallen
very substantially in the last 200 years across the world.As we have noted, on aggregate, the
global population in extreme poverty went from 80% in 1820 to 10% in the latest estimates.”
Noah Smith
22 https://www.theguardian.com/global-development-professionals-network/2015/nov/01/
global-poverty-is-worse-than-you-think-could-you-live-on-190-a-day

The crisis of global capitalism today 33


In a 2006 paper, Peter Edward of Newcastle University used an
“ethical poverty line” that calculates that, in order to achieve normal
human life expectancy of just over 70 years, people need roughly 2.7 to
3.9 times the existing poverty line. In the past, that was $5 a day. Using
the World Bank’s new calculations, it’s about $7.40 a day. That delivers
a figure of about 4.2 billion people living below that level today;or up 1
billion over the past 35 years.23
Some argue that the reasonthere are more people in poverty is be-
cause there are more people!24 The world’s population has risen in the
last 25 years. You need to look at the proportion of the world popula-
tion in poverty and, at a $1.90 cut-off, the proportion under the line
has dropped from 35% to 11% between 1990 and 2013. But the absolute
number of people in poverty, even at the ridiculously low threshold level
of $1.25 a day,has still increased, even if not as much as the total popu-
lation in the last 25 years.
And even then, all this optimistic expert evidence is really based
on the dramatic improvement in average incomes in China (and to a
lesser extent in India).25 Peter Edward found that there were 1.139bn
people getting less than $1 a day in 1993 and this fell to 1.093bn in 2001,
a reduction of 85m. But China’s reduction over that period was 108m
(no change in India), soallthe reduction in the poverty numbers was
due to China. Exclude China and total poverty was unchanged in most
regions, while rising significantly in sub-Saharan Africa. According to
the World Bank, in 2010, the “average” poor person in a low-income
country lived on 78 cents a day in 2010, compared to 74 cents a day in
1981, hardly any change. But this improvement was all in China and
India. In India, the average income of the poor rose to 96 cents in 2010,
compared to 84 cents in 1981, while China’s average poor’s income rose
to 95 cents, compared to 67 cents.

23 https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/01436590500432739?journalCode=ctwq20
24 https://www.cgdev.org/blog/really-global-poverty-falling-honest
25 Smith says that“the reduction of global poverty has been substantial even when we do not
take into account the poverty reduction in China. In 1981, almost one third (29%) of the non-
-Chinese world population was living in extreme poverty. By 2013, this share had fallen to 12%.

34 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Moreover, poverty levels should not be confused withinequality
of incomesor wealth. On the latter, the evidence of rising inequality
of wealth globally is well recorded. Thelatest annual report by Credit
Suisseon global personal wealth found that top 1% of personal wealth
holders globally now have over 50% of the world’s wealth – up from 45%
ten years ago. Actually, the majority of people in the major advanced
capitalist economies will be in the top 10% of wealth holders because
billions of people have no wealth at all!

Credit Suisse found that global wealth rose 6.4% over the past year –
the fastest since 2012 – thanks to rising share markets and house prices.
But the weakest growth was in Africa, the poorest region, where house-
hold wealth rose just 0.9%. Taking in into account population changes,
wealth per adult fell by 1.9% in Africa. The fastest growth was in North
America, where it rose 8.8% per adult.
And on current trends, inequality will rise further. The outlook for
the millionaire segment looks much better than for the bottom of the
wealth pyramid (less than $10,000). The former is expected to rise by
22%, from x million millionaires today to 44 million in 2022, while the
group occupying the lowest tier of the pyramid is expected to shrink by
only 4%.In the US,the three richest people in the US – Bill Gates, Jeff
Bezos and Warren Buffett – own as much wealth as the bottom half of
the US population, or 160 million people.

The crisis of global capitalism today 35


As for incomes, if you take China out of the figures, global inequal-
ity, however you measure it, has been rising in the last 30 years. The
global inequality ‘elephant’presented by Branco Milanovic found that
the 60m or so people who constitute the world’s top 1% of income ‘earn-
ers’ have seen their incomes rise by 60% since 1988.26 About half of
these are the richest 12% of Americans. The rest of the top 1% is made
up by the top 3-6% of Britons, Japanese, French and German, and the
top 1% of several other countries, including Russia, Brazil and South
Africa. These people include the world capitalist class – the owners and
controllers of the capitalist system and the strategists and policy makers
of imperialism.
But Milanovic also found that those who have gained income even
more in the last 20 years are the ones in the ‘global middle’. These peo-
ple are not capitalists. These are mainly people in India and China, for-
merly peasants or rural workers have migrated to the cities to work in
the sweat shops and factories of globalisation: their real incomes have
jumped from a very low base, even if their conditions and rights have
not.The biggest losers are the very poorest (mainly in African rural
farmers) who have gained nothing in 20 years.
And then there is rising inequality of wealth and income within
countries. Thomas Piketty and colleagues from the Paris School of
Economics and UC Berkeley, describe a “collapse” of the share of US
national wealth claimed by the bottom 50% of the country — down to
12% from 20% in 1978 — along with an (unsurprising) drop in income
for the poorest half of America. About 117 million American adults are
living on income that has stagnated at about $16,200 per year before
taxes and transfer payments, Piketty, Saez and Zucman found in re-
search published last year.
And the main reason is the control of wealth. A very small elite owns
the means of production and finance and that is how they usurp the li-
on’s share and more of the wealth and income. The US Economic Policy
Institute found that the top 1% of society derives an increasing portion

26 https://thenextrecession.wordpress.com/2016/09/14/globalisation-and-milanovics-ele-
phant/

36 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


of income gains from existing capital and wealth. It is not because they
are smarter or better educated. It is because they are lucky (like Donald
Trump) and inherited their wealth from the parents or relatives.
A recent study by two economists at the Bank of Italy found that the-
wealthiest families in Florence today are descended fromthe wealthiest
families of Florence nearly 600 years ago!27 So the rise of merchant cap-
italism in the city states of Italy and then the expansion of industrial
capitalism and now finance capital made little or no difference to who
owned the wealth.And the work of Emmanuel Saez and Gabriel Zuc-
man has shown that in the US,wealth has become increasingly concen-
trated in the hands of the super-rich.28
So Marx’s prediction 150 years ago that capitalism would lead to
greater concentration and centralisation of wealth, in particular in the
means of production and finance, has been borne out. Contrary to the
optimism and apologia of the mainstream economists, poverty for bil-
lions around the world remains the norm with little sign of improve-
ment, while inequality within the major capitalist economies increases
as capital is accumulated and concentrated in ever smaller groups.

The global challenge: robots and automation


That brings up the issue of robots, something that is being raised
as the imminent way out for advanced capitalist economies to compete
in world manufacturing markets. If manufacturers increasingly use ro-
bots, they can do away with expensive labour and all will be well for
capitalism.
So much depends on the development of the class struggle between
labour and capital over the appropriation of the value created by the
productivity of labor. Clearly labour has been losing that battle, partic-
ularly in recent decades, under the pressure of anti–trade union laws,
ending of employment protection and tenure, the reduction of benefits,

27 https://voxeu.org/article/what-s-your-surname-intergenerational-mobility-over-six-cen-
turies
28 http://gabriel-zucman.eu/files/SaezZucman2014.pdf

The crisis of global capitalism today 37


a growing reserve army of unemployed and underemployed, and the
globalization of manufacturing.
Will capitalism be saved by robots, while workers live the happy life
of leisure that John Maynard Keynes believed would be achieved by
capitalism? Well, clearly, past technology did not do that. Predictions
of the 1970s—that workers would have to worry more about what to do
with their leisure time than if they could work enough to make ends
meet—have not materialized.
Keynes predicted that with technology the capitalist world would
achieve superabundance and a three-hour day—the socialist dream, but
under capitalism.29 The average working week in the United States in
1930—if you had a job—was about fifty hours. It is still above forty hours
(including overtime) for full-time permanent employment. Indeed, in
1980, the average hours worked in a year was about 1,800 for the ad-
vanced economies. Currently, it is about 1,800 hours—no change there.
Will it be different with robots? Marxist economics would say no,
for two key reasons. First, Marxist economic theory starts from the un-
deniable fact that only when human beings do any work or perform
labor is anything or service produced, apart from that provided by nat-
ural resources (and even then that has to be found and used). So crucial-
ly, only labor can create value under capitalism, and value is specific to
capitalism. Living labor can create things and do services (what Marx
called use values). But value is the substance of the capitalist mode of
producing things. Capital (the owners) controls the means of produc-
tion created by labor and will only put them to use to appropriate value
created by labor. Capital does not create value itself.
Now if the whole world of technology, consumer products, and
services could reproduce itself without living labor going to work and
could do so through robots, then things and services would be pro-
duced, but the creation of value (in particular, profit or surplus value)

29 “Economic Possibilities for Our Grandchildren,” “for the first time since his creation man
will be faced with his real, his permanent problem—how to use his freedom from pressing
economic cares, how to occupy the leisure, which science and compound interest will have
won for him, to live wisely and agreeably and well.” J. Keynes, Essays in Persuasion (New
York: Harcourt Brace, 1931).

38 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


would not. As Ford puts it: “the more machines begin to run themselves,
the value that the average worker adds begins to decline.”30 So accumu-
lation under capitalism would cease well before robots took over fully,
because profitability would disappear under the weight of capital bias.
The most important law of motion under capitalism, as Marx called
it, would be in operation, namely, the tendency for the rate of profit to
fall. As capital-biased technology increases, the organic composition of
capital would also rise and thus labor would eventually create insuffi-
cient value to sustain profitability (i.e., surplus value relative to all costs
of capital). We would never get to a robotic society; we would never get
to a workless leisure society—not under capitalism. Crises and social
explosions would intervene well before that.

The global challenge: climate change


Before we can even imagine a capitalist world of robots and no living
labor, capitalism is faced with a new barrier to its expansion and even
survival—of its own making. This is irreparable damage to the planet
from rapacious capitalist production and the increase in the atmosphe-
ric warming of the planet from greenhouse gases.
The evidence of climate change and its man-made nature is incre-
asingly overwhelming. The potentially disastrous effects from higher
temperatures, rising sea levels, and extreme weather formations will be
hugely damaging especially to the poorest and most vulnerable people
on the planet. But industrialization and human activity need not pro-
duce these effects if human beings organized their activities in a plan-
ned way with due regard for the protection of natural resources and
the wider impact on the environment and public health. That seems
impossible under capitalism.
The environmental and ecological impact of the capitalist mode of
production was highlighted by Marx and Engels way back in the ear-
ly part of industrialization in Europe. As Engels put it, capitalism is
production for profit and not human need, and so takes no account of

30 Ford, The Lights in the Tunnel.

The crisis of global capitalism today 39


the impact on wider society of accumulation for profit.31 This drive for
profit leads to ecological catastrophe.32
Marx summed up the impact of capitalist production on nature: “All
progress in capitalistic agriculture is a progress in the art, not only of
robbing the laborer, but of robbing the soil; all progress in increasing
the fertility of the soil for a given time, is a progress toward ruining
the lasting sources of that fertility…. Capitalist production, therefore,
develops technology, and the combining together of various processes
into a social whole, only by sapping the original sources of all wealth—
the soil and the laborer.”33
The world is already experiencing extreme weather. California’s
drought in 2014 was the worst in 100 years while the East Coast faceda
massive snowstorm with freezing temperatures. On the other side of the
world, Australia deals with intense summer heat and droughts, causing
major bush fires.There has been severe winter flooding in the UK and
Europe, extreme cold and snow in the Eastern US and Japan, and so on.
The evidence is overwhelming that unless the capitalist system is
replaced in the next 50 years, the planet will be suffering from such
damage to its natural development that economic growth will slow, na-
tural disasters will become common, and the cost of restoration and
prevention will become too much for a profit-making mode of produc-
tion to handle.34

31 “As individual capitalists are engaged in production and exchange for the sake of the im-
mediate profit, only the nearest, most immediate results must first be taken into account.
As long as the individual manufacturer or merchant sells a manufactured or purchased
commodity with the usual coveted profit, he is satisfied and does not concern himself with
what afterwards becomes of the commodity and its purchasers.”F. Engels, The Dialectics
of Nature (Moscow: Progress Publishers, 1976).
32 “What cared the Spanish planters in Cuba, who burned down forests on the slopes of the
mountains and obtained from the ashes sufficient fertilizer for one generation of very highly
profitable coffee trees—what cared they that the heavy tropical rainfall afterwards washed
away the unprotected upper stratum of the soil, leaving behind only bare rock!” Engels, The
Dialectics of Nature.
33 Karl Marx, Das Kapital, The Skeptical Reader Series (Washington, DC: Regnery
Publishing, 2009), p. 209.
34 R. Smith, “Beyond Growth or Beyond Capitalism,” Truthout, January 15, 2014, http://
www.truth-out.org/news/item/21215-beyond-growth-or-beyond-capitalism.

40 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


No permanent crisis, just perpetual
The current Long Depression can come to an end when profitability
in the major economies is sufficiently restored by a further devaluation
of capital values through another slump. Assuming that capitalism in
any major economy is not replaced by a planned economy owned in
common and controlled by the majority, or that is not a new and devas-
tating world war in the next decade, capitalism will eventually recover.
There is no permanent slump in capitalism that cannot be eventu-
ally overcome by capital itself. Capitalism has an economic way out if
the mass of working people do not gain political power to replace the
system. Eventually, through a series of slumps, the profitability of capi-
tal can be restored sufficiently to start to make use of any new technical
advances and innovation that will have been “clustering’ down in the
bottom of that deep lake of depression. Capital will resurface for a new
period of growth and development, but only after the bankruptcy of
many companies, a huge rise in unemployment, and even the physical
destruction of things and people in their millions.
Can capitalism get a further kick forward from exploiting the hun-
dreds of millions coming into the labor forces of Asia, South America,
and the Middle East? This would be a classic way of compensating for
the falling rate of profit in the mature capitalist economies.
John Smith has showed the massive increase in the global industrial
workforce, now well over 600 million people.35 While the industrial
workforce in the mature capitalist economies has shrunk to under 150
million; in the so-called emerging economies the industrial workforce
now stands at 500 million, having surpassed the industrial workforce in
the imperialist countries by the early 1980s. In addition, there is a large
reserve army of labour composed of unemployed, underemployed, or
inactive adults of another 2.3 billion people that could also be exploited
for new value.

35 John Smith, Imperialism and the Globalisation of Production, PhD thesis, University of
Sheffield, July 2010.

The crisis of global capitalism today 41


Despite further room for exploitation of labour globally and in the
still-growing emerging economies, maybe capitalism has really passed
it use-by date. Is the future of capitalism just one of recurrent and even
regular crises of booms and slumps in capitalist accumulation? Or is it
more than that, namely, one of eventual breakdown, where capitalism
cannot continue indefinitely (even if it has regular crises) but must rea-
ch its limits as a system of social organization, then break down and be
replaced by a new system?

42 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Capítulo 2

Procesos y Tendencias de l a
Crisis Capitalis ta a l a luz de
l a Teoría Del Valor/ Tr aba jo

Adrián Sotelo Valencia

Introducción
¿Cómo explicar la crisis del capitalismo global hoy? ¿Cuáles son
las perspectivas de la economía global respecto a los países centrales,
periféricos y a China?
Estas preguntas, sugeridas por la coordinación del presente libro,
indican la posibilidad de abrir camino para la comprensión contem-
poránea del capitalismo, de la etapa actual donde se encuentra y de los
procesos y tendencias que asoman en el mediano y largo plazos.
La crisis actual que se desencadena desde 2008-2009 ha sido com-
parada por numerosos especialistas como similar — y por otros, más
profunda — que la de los años treinta del siglo pasado y que, entre otros
acontecimientos, constituyó el preludio de la segunda guerra mundial
de donde surgió Estados Unidos como el rector del sistema imperialista
mundial.36
Para nosotros la presente crisis mundial ocurre dentro del propio
centro del sistema capitalista afectando prácticamente a todos los pa-
íses y sociedades sin excepción. Su dinámica se asienta en crecientes
imposibilidades de reactivación económica, en una agudización del de-
sempleo estructural junto con el estímulo a la precarización del mundo
del trabajo aunada a un proceso que tiende a universalizar la superex-
plotación del trabajo como un mecanismo coadyuvante a detener — y/o

36 Anwar Shaikh, “La Primera Gran Depresión del Siglo XXI”, Sin permiso, 4 de febrero de
2011, Disponible en: http://www.sinpermiso.info/sites/default/files/textos//XXI.pdf,

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 43


contrarrestar — la caída de la tasa de ganancia de las grandes empresas
monopolistas del orbe. Sin embargo, subyace en nuestra hipótesis que
dicha caída de la tasa de ganancia ocurre debido a los problemas y difi-
cultades que el capitalismo encuentra para producir más valor y plusva-
lía en escala ampliada, fenómeno que caracterizamos como “desmedida
del valor”.37
El año 2017 constituyó un péndulo político-estratégico que, relati-
vamente, se inclinó por el momento a las fuerzas de la derecha en escala
global. Sin embargo, en el plano internacional, el balance es más positi-
vo para las fuerzas anti-sistémicas y de izquierda como en Siria, donde
triunfó el gobierno nacional con el apoyo de Rusia, y en Irak se logró
erradicar del territorio nacional al terrorismo del llamado Estado Islá-
mico que amenazaba con fragmentar a ambas naciones: Se detuvieron,
de alguna forma, las provocaciones intimidatorias de Donald Trump
contra Corea del Norte en un hipotético escenario de guerra que, de
cualquier forma, queda en espera produciendo tensión mundial. Por su
parte China reafirmó su status de potencia económica mundial cons-
tituyéndose como la primera gran potencia industrial-manufacturera
del siglo XXI a partir del año 201038 — cuando desplazó de ese lugar
definitivamente a Estados Unidos que cada vez más se convierte en una
economía de servicios y de producción de armamentos para la guerra
— y que se proyecta al futuro como uno de los centros de la econo-
mía mundial mediante laNuevaRuta de la Sedaque revivifica la primera
revolución comercial de esa nación milenaria ocurrida en el siglo I antes
de nuestra era.
A pesar de la represión del gobierno conservador de Rajoy contra el
pueblo de Catalunya, en las elecciones del 21 de diciembre de 2017 se lo-
gró mantener a las fuerzas independentistas que tendrán que definir su

37 Cf. Adrián Sotelo V., Crisis capitalista y desmedida del valor: un enfoque desde los
Grundrisse, coedición Editorial ITACA-FCPyS, México, 2010 y Giovanni Alves, Dimensões
da precarização do trabalho. Ensaios de sociología do trabalho, Projeto Editorial Praxis, SP,
2013.
38 AndrewStettner, ,Joel S. YudkenandMichael Mc Cormack, “Why Manufacturing
Jobs Are Worth Saving”, The Century Foundation, june 13, 2017, disponible en: https://
tcf.org/content/report/manufacturing-jobs-worth-saving/.

44 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


futuro como naciónsinEstado, al igual que otras provincias del Estado
español como la provincia de Galiza, el País Vasco o Asturias.
En Estados Unidos, por un lado, Donald Trump logró imponer la re-
forma fiscal de los multimillonarios y supermillonarios que constituyen
el 1% de la población y acaparan más del 50% de la riqueza nacional,
desfavoreciendo a las grandes mayorías trabajadoras que, entre otras
consecuencias, tendrán que dejar los de por sí limitados beneficios del
semiprivado “obamacare” al quedar desamparados de este seguro más
de 21 millones de personas que se suman a los más de 40 millones que
ya están excluidos de ese sistema de seguridad social desde la época de
Obama. El muro de la ignominia, junto con las ciudades santuario y el
futuro del TLC quedaron postergados para 2018 donde serán nueva-
mente promovidos por el magnate en función de los intereses de clase
del capital ficticio monopólico con el apoyo que le confiere la Presiden-
cia Imperial39 para aprobarlo en el caso del primero; disolverlas, en el
segundo y renegociarlo o derogarlo en el caso del tercero si no se amolda
a sus intereses estratégicos como potencia imperialista sustentada en el
complejo industrial militar.
En definitiva, los acontecimientos de 2017 en escala mundial, regio-
nal y nacional confirman la tesis de que no existe un ciclo progresista
o de otra índole fatal, como se ha llegado a afirmar en el debate lati-
noamericano. No hay agotamientos mecánicos de gobiernos y fuerzas
progresistas. Hay lucha de clases y correlación de fuerzas en el terreno
nacional y, en su momento, electoral; pero no ciclos infalibles, mecá-
nicos y repetibles que definan forzosamente los procesos y tendencias
de las sociedades, las clases sociales y las comunidades como a veces se
nos quiere hacer creer, particularmente a través de los medios corpo-
rativos de comunicación en el contorno de la llamada guerra de cuarta
generación. Si así fuera, por ejemplo, el imperialismo norteamericano,
antaño unilateralista y monocéntrico, no hubiera fracasado en las cam-
pañas militares de Siria, Iraq o en la anexión-reintegración de Crimea
a Rusia que se encontraba bajo la jurisdicción de Ucrania que tiene un

39 Para este tema véase John Saxe-Fernández, Terror e imperio. La hegemonía política y eco-
nómica de Estados Unidos, DEBATE, México, 2006.

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 45


gobierno pro-norteamericano y conservador. O hubiera desencadenado
la intervención en Venezuela como lo anunció propagandísticamente,
con mofa, el presidente Trump pasando por alto la naturaleza actual
de la correlación de fuerzas internacional que es multipolar y multicén-
trica, donde interactúan varias potencias de porte nuclear capaces de
destruir varias veces el planeta tierra al mismo tiempo que interactúan
en el sistema internacional como verdaderos contrapoderes que evitan
la inclinación de dicha correlación de fuerzas en beneficio del centro del
sistema todavía constituido por unos Estados Unidos en declive relativo
de su hegemonía o supremacía en el plano internacional.

Enfoque teórico de la crisis capitalista


¿Es viable en el largo plazo un desarrollo capitalista basado en un
patrón de acumulación y de reproducción que articule capital ficticio,
trabajo flexible y trabajo inmaterial? ¿Estamos arribando a una “socie-
dad posindustrial” y “poscapitalista”, o sólo a una nueva etapa del capita-
lismo dependiente y neoimperialista pero más desarrollada y compleja?
¿Siguen vigentes categorías como explotación, valor, plusvalor, salario
o ganancia? ¿En esta nueva fase seguirá existiendo un Estado mínimo
empresarial, neoliberal, anti-bienestar y formalmente democrático pero
profundamente autoritario? ¿La actual crisis mundial pone en riesgo la
existencia deeste modo de producción fundado en la explotación de la
fuerzade trabajo? ¿Refleja esta crisis los esfuerzos del capital global por
deshacerse del trabajo mismo y sustituirlo con dispositivos generados
por la ciencia y la tecnología? ¿Ha surgido realmente un “capitalismo
informático”, “una sociedad del conocimiento? ¿Se “informatizó” el
trabajo? Preguntas todas ellas que merecen una reflexión y respuestas
congruentes con la trayectoria histórica del capitalismo.
En vez de escudriñar con profundidad los fenómenos sociales a tra-
vés de un análisis riguroso, con frecuencia se dejan de lado las catego-
rías y conceptos científicos que permiten dar cuenta de la esencia de
los mismos, y esto ha tenido consecuencias importantes en la teoría y
en la metodología de la investigación en ciencias sociales y humanas,
pero también en su demarcación epistemológica y en sus resultados

46 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


plausibles de ser cotejados y aplicados por las fuerzas sociales y políticas
comprometidas con su comprensión.
La teoría del valor-trabajo de Marx permite dar respuesta al conoci-
miento de la naturaleza capitalista a la luz de los siguientes elementos:
a) el supuesto metodológico de la igualdad entre los precios y los va-
lores de las mercancías, incluyendo la mercancía fuerza de trabajo; 2)
la determinación de estos valores por el tiempo de trabajo socialmente
necesario para producirlos; 3) la distinción entre el valor de la fuerza
de trabajo y el valor producido con su uso; 4) la tesis de que el plusvalor
y sus diversas formas (a las que se refiere, por ejemplo, Paul Baran con
su concepto de excedente económico)40 proceden de dicha diferencia: la
fuerza de trabajo puede producir más valor del que ella misma posee.
En el libro i de El capital Marx demuestra una cosa muy sencilla: que lo
único que crea nuevo valor y, por ende, plusvalía, es la propiedad viva,
el valor de uso de la fuerza de trabajo, a diferencia de la idea que postu-
la la economía neoclásica de que también “crean valor” las máquinas,
los edificios, los instrumentos de trabajo (un martillo, un tractor o una
computadora, por ejemplo al margen de la fuerza humana de trabajo).
Pero la teoría del valor es sólo un punto de partida que Marx va a de-
sarrollar en el libro iii con el concepto — más concreto y cercano a la
dinámica real del mercado capitalista — relativo al “precio de produc-
ción” compuesto por el precio de costo más la ganancia media que, a su
vez, esconde a la plusvalía. No es posible deducir inmediatamente los
conceptos de bienes tangibles, de trabajo inmaterial o de toyotismo sin
construir mediaciones metodológicas y teóricas que permitan profun-
dizar en el análisis de la vida real, comprenderla y transformarla. Sólo
de esta manera será posible hacerle frente a la crisis de las corrientes
dominantes del pensamiento contemporáneo conservador que, esas sí,
se están derrumbando al no poder ya dar cuenta de los fenómenos con-
temporáneos y de la crisis en curso del capitalismo en tanto modo de
producción, de vida y de trabajo enajenado.
Sostenemos aquí que la actual crisis mundial, que amenaza al
modo capitalista de producción y a la misma vida social, no es sólo una

40 Paul A. Baran, La economía política del crecimiento, FCE, México, 1977.

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 47


profunda crisis de los mecanismos de creación de valor y de plusvalor,
sino también de la posibilidad que tiene el régimen del capital de seguir
determinando el valor de las mercancías por el mero tiempo de trabajo
socialmente necesario para su producción y reproducción. Esta posibi-
lidad también ha llegado a un límite insostenible que, contradictoria-
mente, la revolución informática, telemática y comunicacional no hace
más que agrandar y profundizar peligrosamente, tal y como lo predijo
Marx en sus Grundrisse. El resultado de lo anterior ha sido una insólita
expansión de las actividades especulativas — del capital ficticio — des-
de finales de los años setenta del siglo pasado.41
En este contexto consideramos que la teoría del valor-trabajo per-
mite explicar la realidad actual, a diferencia de las teorías dominantes
como el funcionalismo y el neoclasicismo que eternizan el capitalismo
y confunden, incluso matemáticamente, la teoría de los precios con la
del valor, la plusvalía con la ganancia y el valor abstracto con el valor de
uso de las mercancías, así como con los respectivos tipos de trabajo que
los engendran (abstracto y concreto).

La crisis mundial capitalista y el declive del “crecimiento


potencial”
No cabe duda de que la economía capitalista mundial viene experi-
mentando serias y trascendentes dificultades en los últimos años, par-
ticularmente, a raíz de la crisis estructural y financiera que sacudió al
mundo en 2008-2009 y que, con leves y tímidas recuperaciones, en la
práctica continúa hasta la actualidad, como se puede observar en la si-
guiente gráfica 1.

41 CARCANHOLO, Reinaldo y SABADINI, Mauricio, “Capital fictício e lucros fictícios”, en


Gomes, Helder (organizador), Especulação e lucros fictícios. formas parasitárias de acumu-
lação contemporânea, Outras Expressões, SP, 2015, pp. 125-159.

48 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Gráfica 1
Regiones y países seleccionados:
crecimiento del producto interno bruto, 2007-2015
(En porcentajes)

Fuente: Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL), sobre la base
de Naciones Unidas, Global Economic Outlook, Nueva York, Departamento de Asun-
tos Económicos y Sociales, octubre de 2014.
a) Estimaciones. Refiere el año 2014.
b) Proyecciones. Se refiere a 2015
Cit, en: CEPAL, Balance Preliminar de las Economías de América Latina y El Caribe
2014, Naciones Unidas, Santiago, p. 13. http://repositorio.cepal.org/bitstream/
handle/11362/37344/S1420978_es.pdf?sequence=68.

Llama la atención al desaceleración China que, de una tasa prome-


dio de crecimiento económico anual de 10.8% que arrojó durante el
período 2007-2010, cayó a 7% en 2015 con todas las repercusiones que
ello acarrea en materia de comercio exterior, particularmente, de las
importaciones que realiza del exterior de países como los del Cono Sur
latinoamericano que se han visto seriamente afectados por esta situaci-
ón en los últimos años.
Como causas de esta situación, la CEPAL apunta que en 2014:

“…una continua tendencia a la baja —o en algunos casos


un estancamiento— de los precios de varios productos
básicos exportados por la región, tendencia que se inició
en 2012. Por una parte, esto se debe a la contracción de la
demanda mundial de estos bienes, cuya causa principal es

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 49


la desaceleración del crecimiento en China. Por otra, es el
resultado de la expansión de la oferta de estos productos
en el mundo, como consecuencia de las inversiones previa-
mente realizadas en los sectores de los recursos naturales.
Asimismo, la dinámica de los mercados financieros tambi-
én ha afectado la evolución de los precios de los productos
básicos”.42

Por lo tanto, la desaceleración de la demanda china, y la caída y es-


peculación de los precios de las materias primas (commodities) de los
países dependientes, actúan como causas propulsoras de la reducción
de sus precios. Además, junto a ello, debemos apuntar otra causa adi-
cional de estos cambios: la decisión del gobierno chino de cambiar su
estrategia y prioridades hacia un desarrollo endógeno sustentado en el
mercado interno y con políticas crecientes de incremento de los ingre-
sos de su población que fue anunciado por el Primer Ministro en la
Asamblea Nacional Popular celebrada el 05 de marzo de 2015 y que, hay
que subrayar, no implica abandonar su política internacional en materia
de comercio exterior que es dinámicamente competitiva, vs. Por ejem-
plo, el proteccionismo de Trump en Estados Unidos.
Con excepción de los “países en desarrollo”, donde comparecen los
más dinámicos como China, India, Sudáfrica y Nigeria, entre otros, las
demás zonas experimentan magros comportamientos que castigan se-
veramente a la economía mundial con cargo en comportamientos como
el de Japón y de la Zona Euro (véase gráfica 1 ) que experimentan fuer-
tes desaceleraciones sin visos de que se puedan contrarrestar, en el me-
diano y largo plazos, a pesar de las políticas de ajuste y austeridad que
se han aplicado en los últimos años por parte de la Troika integrada por
la Comisión Europea (CE), el Banco Central Europeo (BCE) y el Fondo
Monetario Internacional (FMI) con fin de — intentar — superarlas sin
conseguirlo.

42 CEPAL, Balance Preliminar de las economías de América Latina y el Caribe, 2014, Naciones
Unidas, Santiago, 2014, pp. 33-34, disponible en: http://repositorio.cepal.org/bits-
tream/handle/11362/37344/S1420978_es.pdf?sequence=68.

50 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


No es casual, por tanto, que todos los días los distintos pronósticos
que se hacen respecto al comportamiento de la economía mundial se
ajusten a la baja y no menos halagüeñas son las perspectivas que se vis-
lumbran en el futuro para indicar que la “recuperación” en el mediano
plazo es prácticamente impredecible y que, en su lugar, a lo sumo, sólo
se puede constatar un camino lleno de reformas estructurales encami-
nadas a resarcir la crisis fundamentalmente a partir de la merma de las
condiciones de vida, de trabajo y de bienestar social de las capas trabaja-
doras del planeta con el doble objetivo de contrarrestar las dificultades
de las empresas y del capital financiero internacional y aumentar la tasa
media de ganancia en el sistema.
Al respecto, hay que considerar que para garantizar la “superviven-
cia” del capitalismo mundial se necesita que éste crezca, por lo menos, a
una tasa compuesta de 3%43, considerando que, históricamente, ese sis-
tema conlleva una tendencia secular declinante desde la segunda guerra
mundial: de un promedio de crecimiento superior a 6% entre 1945 y
1974, declinó a 5% entre 1974-1980; en la década de los ochenta fue de
3.4%; de 1.8%, en los noventa y en 2000 fluctuó entre 0% y signo negati-
vo.44 En la actualidad bordea una tasa de 3,7% en 2017 si se incluye en el
cálculo los crecimientos de países como China e India, según el FMI.45
La época privilegiada del capitalismo quedó definitivamente atrás
— dixit Trente années glorieuses — para no repetirse más a pesar de los
delirantes deseos de los organismos financieros y monetarios interna-
cionales en que ello no ocurriera. Por países, por ejemplo, entre 1960-
1968 la tasa promedio de crecimiento de Estados Unidos fue de 4,4% y
cayó a 2.5 por ciento entre 1979 y 1985. En el mismo período, Japón de-
clinó de 10,4% en el primero a 4% en el segundo; Alemania Occidental
pasó de 4,1% a un, 3%; Francia, de 5,4% a 1,1%; Gran Bretaña, de 3,1%
a 1,2%, mientras que, por último, el crecimiento promedio de todos los

43 David Harvey, O enigma do capital e as crises do capitalismo, São Paulo, Boitempo


Editorial, 2012, p. 109.
44 Kostas Vergopoulos, Globalização: o fim de um ciclo. Ensayo sobre a instabilidade interna-
cional, Rio de Janeiro, Contraponto, 2005, p. 73.
45 FMI, Perspectivas de la economía mundialenero 2018, Disponible en: https://www.imf.org/
es/Publications/WEO/Issues/2018/01/11/world-economic-outlook-update-january-2018.

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 51


países miembros de la OCDE cayó de 5,1%, entre 1960-1968, a 2,2%,
entre 1979-1985.46
Junto con este comportamiento de la economía mundial, otro fenó-
meno emerge como característica del capitalismo: la creciente disocia-
ción del ciclo económico del comportamiento de la tasa de empleo-su-
bempleo. Así lo demuestra Ruy Mauro Marini47: tras ostentar de modo
estable tasas de desempleo equivalentes a 4% de la fuerza de trabajo,
hasta 1973, éstas se elevaron rápidamente en los 24 países más indus-
trializados y alcanzaron su punto máximo en 1983 (8%) afectando a
más de 30 millones de personas. Sin embargo, a pesar de que se había
superado la recesión desde principios de la siguiente década, el desem-
pleo oscilaba todavía en alrededor de 6% en 1990 para volver a crecer
en los años subsecuentes.48 De este modo, y comprobando esta tesis de
Marini, constatamos que en 2012, en los países de la OCDE, la tasa de
desempleo alcanzaba 7,9%; 10,5% en el conjunto de la Unión Europea y
11,4% en los países de la Euro Zona en ese mismo año (varias fuentes).
El capitalismo sólo ha podido solventar su crecimiento, combinan-
do el incremento del desempleo, la rebaja salarial y el aumento de la
explotación y superexplotación del trabajo, en conjunción con la monu-
mental flexibilización y precarización del mundo del trabajo práctica-
mente en todo el mundo. En congruencia con estas tendencias, el FMI
reconoce enfáticamente que el crecimiento, no ya la recuperación, del
capitalismo es completamente inviable como para asegurar tasas de cre-
cimiento económico estables verdaderamente capaces de asistir a una
recuperación que pudiera incluir la parte social del sistema con cargo
en el mejoramiento de los salarios, de los empleos productivos y, en ge-
neral, para garantizar y restituir las condiciones macroeconómicas y
político-sociales que en el pasado el Walfare State Keynesiano, de algu-
na manera, proporcionó durante los llamados Les trente glorieuses del

46 David Harvey, La condición de la posmodernidad, Amorrortu, Buenos Aires, 2012, p. 153.


47 Marini, Ruy Mauro, “Proceso y tendencias de la globalización capitalista”, en Ruy Mauro
Marini, La Teoría Social Latinoamericana, Vol. IV, Cuestiones contemporáneas. Ediciones
El Caballito, 1996, pp. 49-68. Existe versión en internet: http://lahaine.org/amauta/
b2-img/Mariniglobalizacion.pdf.
48 Marini, “Proceso y tendencias”, op. cit., p. 55.

52 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


sistema capitalista cuyo prolongado boom “…se construyó sobre cierto
conjunto de prácticas de control del trabajo, combinaciones tecnológi-
cas, hábitos de consumo y configuraciones del poder económico, y que
esa configuración puede llamarse sin duda fordista-keynesiana”.49
Al respecto un equipo de redactores del FMI recurre al concepto de
“producto potencial” que define como “… el nivel de producción con-
gruente con una inflación estable (sin presiones inflacionarias ni defla-
cionarias)” y hace las siguientes consideraciones:
En los últimos años el crecimiento del producto potencial de las eco-
nomías avanzadas y de las emergentes disminuyó; en las primeras por
lo menos desde principios de la década de 2000.
La actual crisis financiera internacional se liga tanto a la reducci-
ón del “nivel del producto potencial” de los países avanzados y de los
llamados “emergentes”, como a la continua disminución de su tasa de
crecimiento.
En los primeros países, es probable que el crecimiento potencial “au-
mente ligeramente…pero a mediano plazo se mantendrá por debajo de
las tasas previas a la crisis”. Como causas se apuntan “el envejecimiento
de la población” y el “lento aumento del crecimiento del capital respecto
de las tasas actuales”.
Se estima que en los emergentes el crecimiento del producto poten-
cial disminuya más a mediano plazo “como consecuencia del envejeci-
miento de la población, de la contracción de la inversión y de un me-
nor aumento de la productividad”, en lo que influye la reducción de las
“brechas tecnológicas entre éstas y las avanzadas”.50
De lo anterior se concluye que “la desmejora de las perspectivas de
crecimiento potencial planteará nuevos retos para las políticas, como
el logro de la sostenibilidad fiscal. El aumento del producto potencial

49 Harvey, David La condición de la posmodernidad, Amorrortu, Buenos Aires,


2012. p. 146.
50 FMI, “Nota de prensa del capítulo 3: ¿hacia dónde nos encaminamos? Perspectivas en
torno al producto potencial Perspectivas de la economía mundial, abril de 2015”, p. 1,
disponible en: http://www.imf.org/external/spanish/pubs/ft/weo/2015/01/pdf/
sums.pdf.

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 53


tendrá que ser una prioridad en las grandes economías avanzadas y
emergentes”.51
Lo interesante de este diagnóstico es que constata dos períodos: an-
tes y después de la crisis de 2008-2009 que, a la vez, le imprimen diferen-
cias cualitativas al comportamiento estructural de los países capitalistas
avanzados respecto de los dependientes y subdesarrollados. En los pri-
meros, habría comenzado a disminuir el crecimiento potencial, mien-
tras que se registraba un aumento en los segundos, obedeciendo ambos
comportamientos a diferenciales de productividad. Esta habría dismi-
nuido luego de un periodo de crecimiento derivado de la aplicación de
innovaciones tecnológicas en el campo de la información, mientras que
en los países dependientes el aumento de la productividad obedeció a
una “transformación estructural” y a la “expansión de las cadenas de
valor mundiales y regionales”, las cuales “estimularon transferencias de
tecnología y de conocimiento”, aclarando que ello de ninguna manera
implicó superar la dependencia y el subdesarrollo en el que en la actua-
lidad se debaten nuestros países.
En el segundo periodo, ambos tipos de economía están experimen-
tando disminución tanto de su producto como de su tasa media de cre-
cimiento económico. Aquí, el FMI sostiene, como causa, la relación de
la reducción del crecimiento potencial con la crisis financiera interna-
cional que condujo a una caída de la tasa de crecimiento económico:

“En las avanzadas, el crecimiento potencial disminuyó


de algo menos de 2% durante el período previo a la crisis
(2006–07) a aproximadamente 1½% en 2013–14, debido a
un menor crecimiento del capital y a factores demográficos
adversos ajenos a la crisis. En las de mercados emergentes,
el crecimiento potencial disminuyó alrededor de 2 puntos
porcentuales durante este período; esta variación es atri-
buible en su totalidad a un menor aumento de la producti-
vidad total de los factores.52

51 FMI, “Nota de prensa del capítulo 3: ¿hacia dónde nos encaminamos? Perspectivas en torno
al producto potencial. Perspectivas de la economía mundial, abril de 2015”, p. 1, en línea
(http://www.imf.org/external/spanish/pubs/ft/weo/2015/01/pdf/sums.pdf).
52 FMI, “Nota de prensa del capítulo 3: op. cit., p. 2.

54 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


El comportamiento posterior tanto del producto como de la tasa de
crecimiento se presume inferior al del período anterior a la crisis, re-
sultando así, que en los países del capitalismo avanzado la tasa de cre-
cimiento potencial pase de un promedio de 1,3% durante 2008-2014,
a 1.6 por ciento en 2015, aumentando por consiguiente sólo tres déci-
mas. Nuevamente aquí este comportamiento lo refiere el documento
del FMI a factores demográficos y al lento aumento de la inversión. En
las “economías emergentes” (en realidad dependientes) por el contrario,
el crecimiento potencial se reduce de una tasa de 6.5 por ciento entre
2008-2014 a 5,2% entre 2015-2020, apuntando como causas el envejeci-
miento de la población, restricciones estructurales sobre el crecimiento
del capital y un menor aumento de la productividad total de los factores
en la medida en que se estrecha el acercamiento a la llamada “frontera
tecnológica”.
En el caso específico de América Latina y el Caribe, el FMI estima
que en el período 2015-2020 el crecimiento potencial fluctuará alrede-
dor de 3%, que es el crecimiento más bajo experimentado por la región
en los últimos 12 años.53 En realidad entre 2015 y 2017dicho crecimiento
promedio anual fue negativo al arrojar -0,3%.54
En resumen, la disminución del crecimiento potencial en el media-
no y largo plazos plantea ciertos problemas, siempre según el organismo
internacional, que se pueden resumir: a) mantener la “sostenibilidad fis-
cal”, b) el curso que adopte la política monetaria y c) el acuciante dilema
del sostenimiento, o aumento, de las tasas de interés incrementadas en
los últimos años en Estados Unidos y en otros países desarrollados que
prácticamente las mantuvieron durante algún tiempo en nivel cero.
Obviamente que, como corolario de esta situación, para contrarres-
tarla, se recomienda la implementación de “reformas estructurales” que
estimulen la demanda, la inversión privada en infraestructura y en otros

53 “Prevé FMI que América Latina crecerá 3% en los próximos 5 años”, Las jornada on
line¸ 23 de mayo de 2015, disponible en: http://www.jornada.unam.mx/2015/05/23/
economia/023n3eco.
54 CEPAL, Balance Preliminar de las Economías de América Latina y el Caribe 2017, Santiago
Naciones Unidas, 2017, Cuadro VIII.1, p. 99. disponible en: https://repositorio.cepal.
org/bitstream/handle/11362/42651/114/S1701283_es.pdf.

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 55


sectores productivos, así como ajustes en “capital humano” obviamente
en el sentido de aumentar su eficiencia y productividad mediante una
mayor flexibilización laboral, ajustes en las plantillas laborales y despi-
dos de personal como consecuencia de la reestructuración de las empre-
sas y su reorganización en términos de las condiciones que reclaman los
mercados en crisis y la competencia monopólica intercapitalista.
Lo anterior es parte de una estrategia global que incluye la guerra
imperialista —donde Estados Unidos juega un papel relevante prácti-
camente en todo el mundo donde en puntos calientes del planeta como
Ucrania, Siria, Irak, Afganistán, Yemen o Corea del Norte e intentos de
golpes de Estado como en Venezuela. A ello hay que agregar la genera-
lización del régimen socioeconómico de superexplotación de la fuerza
de trabajo como “alternativa” del capital para enfrentar la crisis estruc-
tural de producción de valor y de plusvalía, y permitir la recuperación
del crecimiento económico del sistema capitalista, aunque en un nivel
bastante inferior al alcanzado durante los años en que se implantó el
capitalismo keynesiano y fordista de posguerra.55
Desde la década de los ochenta del siglopasado, cuando asumen la
supremacía las estrategias estabilizadoras del neoliberalismo y del ca-
pital financiero, las crisis capitalistas modernas exigen, mucho más
que nunca antes, la reestructuración del mundo del trabajo — salarios,
organización del proceso de trabajo, formación sindical, calificación,
adiestramiento, ejército industrial de reserva, derrota social y política
de los trabajadores— con el fin de adecuarlo a la lógica y a las condicio-
nes de funcionamiento del mercado y del sistema de dominación. Sin
esta última condición definitivamente no funciona el neoliberalismo
en tanto modo de producción y régimen de superexplotación univer-
sal de la fuerza de trabajo. Para ello en este proceso asumen un papel
estratégico y rector las políticas del Estado encaminadas a estimular el

55 Este tema se puede ver en: Ruy Mauro, Marini, “Proceso y tendencias de la globalización
capitalista”, en Ruy Mauro Marini y Márgara Millán, La Teoría Social Latinoamericana,
Vol. IV, Cuestiones contemporáneas. Ediciones El Caballito, 1996, pp. 49-68. Existe versi-
ón en internet: http://lahaine.org/amauta/b2-img/Mariniglobalizacion.pdf y en
nuestro libro de próxima aparición, United States in a World in Crisis: The Geopolitics of
Precarious Work and Super-Exploitation, Leiden-Boston, Brill, USA, 2018 (en edición).

56 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


crecimiento dela tasa de ganancia, a contrarrestar las tendencias a la
disminución del ritmo de acumulación y a favorecer — en conjunci-
ón con los organismos internacionales monetarios y financieros (con la
Troika a la cabeza) — la reestructuración y la desregulación de la fuerza
de trabajo y de los sistemas productivos.

Conclusión
Las políticas de austeridad que se vienen imponiendo en los países
del capitalismo avanzado, así como las que se están renovando en los
dependientes y subdesarrollados al calor de la caída de los precios de los
energéticos y de las materias primas de exportación, son la expresión
más acabada de los límites estructurales y civilizatoria a que llegado el
capitalismo en tanto modo de producción, de vida y de trabajo susten-
tado en la propiedad privada, en la explotación de la fuerza de trabajo,
en la depredación de los recursos naturales y en sistemas de domina-
ción capaces de mantener el orden establecido. Sin embargo, como se
desprende de lo dicho hasta aquí, ni todo ese conjunto de políticas y
estrategias implementadas conjuntamente por el Estado y el capital han
sido suficientes para contrarrestar la crisis estructural y financiera del
capitalismo, ni mucho menos para afianzar una nueva onda de creci-
miento económico — siquiera— similar a la que se produjo después de
la Segunda Guerra Mundial. Hoy, por el contrario, se hacen cada día
más visible los vertiginosos cambios que se vienen operando en la di-
visión internacional del trabajo y en la correlación de fuerzas interna-
cional donde es visible el arribo de nuevas potencias de verdadero porte
nuclear como Rusia, China, India e Irán y el declive, si bien relativo,
de la supremacía global de Estados Unidos que ya no puede ser consi-
derada como la “locomotora del mundo” que, en parte lo sigue siendo,
pero para ello requiere del empuje de las otras potencias y de la eco-
nomía mundial. La actual política proteccionista implementada por el
gobierno de Donald Trump atestigua en esa dirección, particularmen-
te de manera contundente en los continuos fracasos, incluso militares,
de Estados Unidos en el Medio Oriente, en particular en Siria donde

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 57


mantiene ilegalmente bases militares y centros de entrenamiento de las
fuerzas de “oposición” terroristas.
Ya no existe “american exceptionalism”56, ni “american way of life”,
ni “Welfare state” al estilo del proclamado por conservadores como
Rostow o Friedman, y que hoy se han desdibujado en el interior mismo
de Estados Unidos con el surgimiento de la pobreza, la indigencia, el
desempleo, la superexplotación y precarización del trabajo; la violencia
de clase y racial extendida prácticamente en todas las ciudades y comu-
nidades; el consumo de drogas, el crimen y los miles y miles de personas
encarceladas en las prisiones privatizadas como negocio por el gran ca-
pital por lo que obtienen grandes y jugosas ganancias.
Se acabó el espejismo que encandilaba a miles y miles de personas
que huían de sus países pobres, miserables, subdesarrollados, depen-
dientes y que ahora experimentan en carne propia lo que es sufrir lo
mismo, como en sus países, pero como inmigrantes indocumentados
expuestos al racismo, a la xenofobia, a la inseguridad laboral y, en úl-
tima posición, a la muerte física y/o espiritual. Lo mismo podemos de-
cir respecto a la democrática Europa, desvencijada, en crisis sistémica,
inmersa en procesos de disolución (BREXIT, Catalunya), con alto de-
sempleo y precariedad laboral y social; derechizada, sin perspectivas de
cambio social progresista en virtud de la poca incidencia de la izquier-
da, particularmente de la revolucionaria anticapitalista, para construir
un nuevo orden social, económico y cultural superior al carcomido ca-
pitalismo en crisis estructural y sistémica.
Por otro lado, el telón de fondo de la administración Obama cayó
como una pesada piedra sobre un gobierno que cosecha los resultados
más negativos de las últimas décadas. No sólo porque, de acuerdo con
el antidemocrático sistema electoral vigente en Estados Unidos desde
el siglo XIX, la candidata demócrata perdió las elecciones en el Colegio
Electoral en medio de una serie de críticas y después de haberse demos-
trado que contó con el apoyo de Wall Street y del capital financiero,
sino, además, por haber perdido prácticamente la guerra en Siria, una

56 Véase: Seymour Martin Lipset, El excepcionalismo norteamericano. Una espada de dos


filos, Fondo de Cultura Económica, México, 2000.

58 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


vez que el gobierno legítimo de ese país, con el contundente apoyo mi-
litar del gobierno ruso, logró finalmente la liberación de la estratégica
ciudad de Alepo al derrotar y expulsar a las fuerzas terroristas que pre-
tendían dividir a ese país en favor de los intereses geopolíticos y estraté-
gicos de occidente y de Estados Unidos.
Por ello 2018 será un año de definiciones con intensos encontrona-
zos entre las fuerzas de la derecha imperialista y las de la izquierda pro-
gresista y/o anticapitalista que propugnarán por la construcción de un
nuevo mundo acorde con los intereses estratégicos de los pueblos y del
proletariado en escala mundial, regional y nacional que podrían condu-
cir en el mediano y largo plazo, o bien a unstatu quode tipo progresista
(Venezuela, Bolivia, Siria) con políticas de corte neo-desarrollistas
y con intervención social del Estado o, bien, al impulso de proyectos
anticapitalistas y antiimperialistas de nuevo signo configuradores de
nuevas formaciones económico-sociales de tipo socialistas, libertarias
y comunitarias.

Referencias
ALVES, Giovanni, Dimensões da precarização do trabalho. Ensaios de so-
ciología do trabalho, Projeto Editorial Praxis, SP, 2013.
BARAN, Paul A., La economía política del crecimiento, FCE, México, 1977.
CARCANHOLO, Reinaldo y SABADINI, Mauricio, “Capital fictício e lu-
cros fictícios”, en Gomes, Helder (organizador), Especulação e lucros fictí-
cios. formas parasitárias de acumulação contemporânea, Outras Expres-
sões, SP, 2015, pp. 125-159.
CEPAL, Balance Preliminar de las economías de América Latina y el Ca-
ribe, 2014, Naciones Unidas, Santiago, 2014, pp. 33-34, disponible en:
http://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/37344/S1420978_
es.pdf?sequence=68.
CEPAL, Balance Preliminar de las Economías de América Latina y el Ca-
ribe 2017, Santiago Naciones Unidas, 2017, Cuadro VIII.1, p. 99. disponi-
ble en: https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/42651/114/
S1701283_es.pdf.
FMI, “Nota de prensa del capítulo 3: ¿hacia dónde nos encaminamos?
Perspectivas en torno al producto potencial. Perspectivas de la economía
mundial, abril de 2015”, p. 1, en línea (http://www.imf.org/external/spa-

Procesos y Tendencias de la Crisis Capitalista a la luz de la Teoría Del Valor/Trabajo 59


nish/pubs/ft/weo/2015/01/pdf/sums.pdf).
FMI, Perspectivas de la economía mundialenero 2018, Disponible en: ht-
tps://www.imf.org/es/Publications/WEO/Issues/2018/01/11/world-econo-
mic-outlook-update-january-2018.
HARVEY, David, La condición de la posmodernidad, Amorrortu, Buenos
Aires, 2012.
HARVEY, David, O enigma do capital e as crises do capitalismo, São Paulo,
Boitempo Editorial, 2012.
LA JORNADA, “Prevé FMI que América Latina crecerá 3% en los pró-
ximos 5 años”, 23 de mayo de 2015, disponible en: http://www.jornada.
unam.mx/2015/05/23/economia/023n3eco.
LIPSET, Seymour Martin, El excepcionalismo norteamericano. Una espa-
da de dos filos, Fondo de Cultura Económica, México, 2000.
MARINI, Ruy Mauro, “Proceso y tendencias de la globalización capita-
lista”, en Ruy Mauro Marini, La Teoría Social Latinoamericana, Vol. IV,
Cuestiones contemporáneas. Ediciones El Caballito, 1996, pp. 49-68. Existe
versión en internet: http://lahaine.org/amauta/b2-img/Mariniglobaliza-
cion.pdf.
SAXE-FERNÁNDEZ, John, Terror e imperio. La hegemonía política y eco-
nómica de Estados Unidos, DEBATE, México, 2006.
SHAIKH, Anwar, “La Primera Gran Depresión del Siglo XXI”, Sin permi-
so, 4 de febrero de 2011, Disponible en: http://www.sinpermiso.info/sites/
default/files/textos//XXI.pdf.
SOTELO, Valencia, Adrián., Crisis capitalista y desmedida del valor: un
enfoque desde los Grundrisse, coedición Editorial ITACA-FCPyS, México,
2010.
SOTELO, Valencia, Adrián, United States in a World in Crisis: The Geopo-
litics of Precarious Work and Super-Exploitation (en proceso de edición).
STETTNER, Andrew,Joel S. YudkenandMichael Mc Cormack, “Why
Manufacturing Jobs Are Worth Saving”, The Century Foundation, june
13, 2017, disponible en: https://tcf.org/content/report/manufactur-
ing-jobs-worth-saving/
VERGOPOULOS, Kostas, Globalização: o fim de um ciclo. Ensayo sobre a
instabilidade internacional, Rio de Janeiro, Contraponto, 2005.

60 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Capítulo 3

La Necesidad Del Mar xismo


par a Comprender el
Signific ado His tórico de l a
Crisis57

Xabier Arrizabalo Montoro

En 2003, Robert Lucas, connotado representante de la escuela ne-


oclásica, de la Universidad de Chicago, declaró pomposamente que el
capitalismo se había desembarazado definitivamente de las crisis, que
los economistas habían resuelto “el problema central de la prevención de
la recesión”58. Apenas cuatro años después estalló la crisis de las hipo-
tecas subprime, preludio y expresión de la grave crisis actual, revelando
nuevamente que las crisis son parte constitutiva del proceso de acumu-
lación capitalista. Y cada vez con mayor virulencia.
Son conocidos los datos de la crisis que arranca con la sacudida de
agosto de 2007, que inmediatamente se extiende internacionalmente.
Estancamiento de la inversión, cierre de empresas, extensión del desem-
pleo, caída de la producción, dificultades en las cuentas públicas y un

57 El presente texto reproduce en gran medida el capítulo “El método marxista para el aná-
lisis económico: culminación histórica de la mejor tradición de la ciencia económica”,
publicado en Gómez Serrano, Pedro José (2017); La economía mundial. Enfoques críticos,
Catarata-FUHEM, Madrid.
58 “La macroeconomía nació como campo distintivo en la década de 1940, como parte de la
respuesta intelectual a la Gran Depresión. En aquel entonces, el término hacía referencia al
corpus de conocimientos y experiencia que esperábamos nos permitiría prevenir la repetici-
ón de aquel desastre económico. Mi tesis en esta ponencia es que la macroeconomía, consi-
derada en los términos de aquella vocación original suya, ha triunfado: el problema central
de la prevención de la recesión ha sido resuelto en todos los sentidos prácticos, y de hecho
se ha resuelto en todos los sentidos prácticos; Lucas, Robert E., Jr. (2003); “Macroeconomic
Priorities”, en American Economic Review 93, n.º 1, pág. 1.

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 61


largo etcétera. ¿De qué tipo de crisis se trata? ¿Es un simple tropezón,
debido a un exceso de avaricia? ¿Resultado de una deficiente regulación
de las actividades financieras? Éstas son las dos únicas respuestas que
alcanza a sugerir la economía burguesa. Lógico puesto que se trata de
no cuestionar, ni remotamente, el carácter consustancial de las crisis a
la acumulación capitalista y los límites históricos cada vez más acucian-
tes que enfrenta ésta.
Más de diez años después de aquella sacudida, no es sólo que la eco-
nomía capitalista mundial en conjunta siga sin remontar, sino que in-
cluso sus principales propagandistas, como el FMI, son impotentes para
anunciar tiempos mejores, porque ni forzando las estadísticas al máxi-
mo podría dársele a tal hipótesis un mínimo de verosimilitud. ¿Cómo
caracterizar entonces la situación actual y las perspectivas? ¿Cómo
comprender la crisis contextualizándola, como es menester, en el marco
de la tendencia general de la acumulación capitalista y las leyes que la
presiden? En particular y desde la perspectiva de la inmensa mayoría de
la población, la clase trabajadora, ¿se puede depositar ilusión alguna en
que otra forma de gestión, otra política económica podría resolver los
problemas? ¿Cuáles son los posibles escenarios futuros? ¿Qué hacer al
respecto?
Evidentemente, en el limitado espacio de este texto no hay posi-
bilidad de responder in extenso al conjunto de estas preguntas. En él
nos concentramos solamente en argumentar la necesidad del método
marxista -en tanto culminación de la mejor tradición del pensamiento-,
para una comprensión solvente de la grave situación actual. En la obra
Capitalismo y economía mundial (Arrizabalo: 2014) sí las hemos abor-
dado detalladamente, por lo que remitimos a ella para una lectura más
pormenorizada.

Introducción: el lugar singular del marxismo en el


pensamiento económico
El marxismo ocupa un lugar singular en la historia del pensamiento
económico. A partir de lo que indica el propio subtítulo de El Capital,
la “crítica de la economía política”, Marx sitúa su análisis en el proceso

62 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


acumulativo de conocimiento que había hecho avanzar el análisis eco-
nómico, sobre la base de sucesivas aportaciones como las de Petty, Can-
tillon, Quesnay y Ricardo entre otros. Es la “economía política” que
“ha investigado la conexión interna de las relaciones de producción bur-
guesas” (Marx, 1867: 99), por oposición a la “economía vulgar” que se
queda, interesadamente, en el terreno superficial y que por esto mismo
acabará siendo entronizada como economía burguesa “oficial”.
Además, lo hace en un momento histórico muy especial, el último
tercio del siglo XIX. Es decir, plenamente coincidente con la consti-
tución de la corriente neoclásica, (principal expresión de la economía
vulgar), pues si los tres libros que componen El Capital se publican res-
pectivamente en 1867 y, ya editados por Engels, 1885 y 1894, quienes
establecen el planteamiento neoclásico fundacional, más allá de los an-
tecedentes, son autores como Jevons y Menger, que publican sus textos
principales en 1871, Walras, que lo hace en 1874 y Marshall en 1890.
Dicha coincidencia no es casual, pero tampoco obedece a una interlocu-
ción entre ellos. Su razón estriba en que la marxista y la neoclásica son
las dos respuestas principales en el terreno teórico, ciertamente antagó-
nicas, a la situación política que preside ese momento histórico. Porque
el conocimiento social es en sí mismo un producto social.
El pleno despliegue del capitalismo en buena parte de Europa deja
ver ya no sólo sus contradicciones, particularmente en las crisis, sino
también el principal conflicto que define al capitalismo, el que enfrenta
a la clase explotada, la trabajadora, con la clase explotadora, la capitalis-
ta. Porque este conflicto se expresa políticamente con la creación de los
primeros grandes partidos y sindicatos obreros (es la clase trabajadora
constituida como movimiento obrero; por ejemplo en el caso español,
donde se forma el PSOE en 1879 y la UGT en 1888). Marx y Engels
participan en ese proceso de un modo directa, tanto que forman parte
de la dirección de la Asociación Internacional de Trabajadores, la Pri-
mera Internacional, que se constituye formalmente el 28 de septiembre
de 1864 en Londres (incluso a Marx se le encarga la redacción del Ma-
nifiesto Inaugural).
Desde entonces, para el movimiento obrero existe todo el interés po-
sible en el análisis científico de la economía capitalista, con el objetivo

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 63


de comprender las causas profundas de los problemas de la clase tra-
bajadora, de cara a fundamentar su intervención para resolverlos. Por
el contrario, desde la perspectiva de la clase burguesa ocurre justo lo
contrario: el análisis económico serio, con la pretensión científica de
encontrar dichas causas, se revela gravemente peligroso por lo mismo,
porque ayuda a la clase trabajadora a conocer el origen de sus proble-
mas. Se verifica así la degeneración del análisis económico burgués con
la entronización de la economía vulgar como la “economía burguesa
oficial” (cuya condición se puede resumir, de forma coloquial, en que
no ve simplemente porque no mira o, más precisamente, en que no mira
para asegurarse de que no se vea):

Incapaces de comprender las teorías de sus propios gran-


des antepasados y aún menos de aceptar la doctrina de
Marx, surgida de aquellas y que toma a muerto por la
sociedad burguesa, nuestros doctos burgueses exponen,
bajo el nombre de economía política, una masa amorfa de
residuos de toda clase de ideas científicas y tergiversacio-
nes interesadas, con lo cual ya no persiguen el objetivo de
desentrañar las verdaderas tendencias del capitalismo sino
solamente el de ocultarlas para poder sostener que el capi-
talismo es el mejor, el único, el eterno orden social posible
(Luxemburgo, 1916-17: 60)59.

El título de este capítulo no es por tanto gratuito, sino que define


con precisión el lugar del marxismo en la historia del pensamiento eco-
nómico, en tanto culminación de su mejor tradición. Evidentemente,
hablamos del marxismo del propio Marx y de quienes siguen su méto-
do, que es justamente la antítesis de lo que pretendió imponerse como
“marxismo oficial” desde finales de los años veinte en la antigua Unión
Soviética, con la consolidación de la degeneración burocrática estali-
nista (Gill, 1996: 18-19). Entre otras aberraciones, pretendían legitimar

59 Los planteamientos que emanan de Keynes, más allá de matices relevantes en ciertas con-
creciones del debate sobre la política económica, están incluidos en esta degeneración.
Porque él no rompe con la matriz neoclásica, como se revela en la posibilidad de su inte-
gración con ella, tal y como se lleva a cabo en la llamada “síntesis neoclásica”, que incorpo-
ra la macroeconomía keynesiana.

64 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


la conducción económica mediante apelaciones a una supuesta “eco-
nomía política del socialismo”, supuestamente formulada por Marx y
Engels: “En El Capital y otras obras de Marx y en los trabajos de Engels
se ofrece una caracterización general de la economía del socialismo y del
comunismo (…) las tesis de Marx y Engels sobre problemas concretos de
la economía del socialismo y del comunismo son una previsión científica-
mente fundamentada”60. Obviamente, Marx nunca había planteado eso
ni nada parecido: “según el señor Wagner, la teoría del valor de Marx es
‘la piedra angular de su sistema socialista’ […] Como yo nunca he cons-
truido un ‘sistema socialista’, esto es una fantasía de Wagner, Schäffle y
tutti quanti”61.
En definitiva, el marxismo no es ni podría ser un tipo de sociedad.
No se puede hablar de “economías marxistas”; ni tampoco de una “po-
lítica económica marxista”, lo que diferencia a Marx de las distintas
corrientes burguesas que comparten el interés en recomendar cómo
conducir la política económica, con el objetivo de impulsar el proceso
de acumulación capitalista. En definitiva, como explica Engels, “toda
la concepción de Marx no es una doctrina, sino un método. No ofrece
dogmas hechos, sino puntos de partida para la ulterior investigación, y el
método para dicha investigación”62.
En el presente texto se presentan unas consideraciones generales
sobre el método marxista, aunque inevitablemente de una forma muy
panorámica dada su limitada extensión. Tras esta introducción y antes
de entrar a su desarrollo en El Capital, planteamos en primer lugar sus
fundamentos, centrados en la concepción materialista del mundo y la
forma dialéctica de pensar; fundamentos sobre los que se levantan las

60 Rumiantsev, A., ed. (1980); Economía Política. Socialismo, primera fase del modo comunis-
ta de producción. Manual, Editorial Progreso, Moscú, págs. 601-602; tomado de De Blas
(1994: 19). Mientras, se abandonaba el proyecto de publicación de las obras completas de
Marx y Engels, impulsado por David Riazánov, desde el Instituto Marx-Engels creado en
1919 y que tras varias reformulaciones acabó desapareciendo. Riazanov fue asesinado por
orden de Stalin tras un juicio farsa el 21 de enero de 1938.
61 Marx, Karl (1881); “Glosas marginales al ‘Tratado de economía política’ de Adolph
Wagner”, en VVAA (1970); Estudios sobre El Capital, Siglo XXI, Buenos Aires, pág. 171.
62 Carta de Engels a Werner Sombart, del 11 de marzo de 1895; tomada de Marx, Karl y Engels,
Friedrich (1845-1895); Obras escogidas, tres tomos, Progreso, Moscú, 1976, pág. 534.

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 65


categorías teóricas generales que son necesarias para la comprensión de
la reproducción social, en particular las de fuerzas productivas, relacio-
nes de producción y superestructura. En segundo lugar, la formulación
presentada en El Capital cuyo objeto de estudio se ciñe, desde la primera
frase, al análisis de las sociedades donde domina el modo de produc-
ción capitalista. En él Marx expone los resultados de su investigación,
que consisten en la formulación de las leyes que rigen dicho modo de
producción, arrancando con la ley del valor y concluyendo con la ley del
descenso tendencial de la tasa de ganancia que subyace al carácter cre-
cientemente contradictorio del capitalismo (leyes conectadas en torno a
los dos conflictos principales que le definen, la explotación y la compe-
tencia). En tercer lugar, como complemento de lo anterior, su implicaci-
ón histórica en términos de los límites del capitalismo, materializados
en el imperialismo como su fase última, para llegar hasta el período
actual, simplificado en la fórmula crisis-ajuste-crisis que revela la huida
hacia delante que supone la supervivencia de este modo de producción
histórico, plasmada en la imposibilidad de nuevos desarrollos sistemáti-
cos de las fuerzas y, directamente, en su destrucción (tal y como se apre-
cia en las crisis, las guerras y, englobando todo, en la desvalorización de
la fuerza de trabajo). Finalmente, se proponen una serie de conclusiones
centradas en la reivindicación del método marxista que, alejado de todo
eclecticismo acomodaticio, se revela consistente lógicamente y compa-
tible con los hechos.

Fundamentos del método marxista y categorías teóricas


principales
Frente al empirismo vulgar, que pretende que una determinada can-
tidad de datos acerca de un problema permite completar per se su expli-
cación (al que, por tanto, las apariencias pueden engañar fácilmente), la
comprensión de todo problema y en particular de la economía capitalista
requiere una fundamentación teórica, además de la consideración del re-
corrido histórico que permite llegar hasta él. Son los requerimientos del
método científico, único modo de detección de las leyes explicativas, en
este caso de la acumulación capitalista. Marx lo aplica sobre la base de

66 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


una concepción del mundo, la materialista, y un modo de pensar y ana-
lizar, el dialéctico, imprescindibles para captar la realidad tal como es63.
La aproximación más sencilla al materialismo, en oposición al idea-
lismo, se puede resumir en los siguientes términos: se trata de una con-
cepción del mundo que parte de que primero se encuentra la existencia
material de las cosas y después, si acaso, su reflejo en el pensamiento.
La premisa para este reflejo, esto es, para la comprensión de los hechos,
radica precisamente en su cognoscibilidad, en que los hechos son sus-
ceptibles de ser conocidos: lo que ocurre porque obedecen a una causa,
cuya actuación desencadenante de esos hechos es justamente el objeto
del análisis. Dichas relaciones causales son las leyes -las leyes del capi-
talismo en este caso-, de manera que el objeto de estudio es por tanto,
precisamente, su detección y formulación.

Lo que controla la economía mundial no es el FMI o el BM


o el Tesoro de EE.UU. o Wall Street. Lo que controla la eco-
nomía capitalista mundial es más bien una ley impersonal,
la ley del valor. Es impersonal en gran medida al modo
como lo es la ley de la gravedad: funciona independiente-
mente de la voluntad o intención de nadie64.

Señalar la existencia de las leyes que rigen el capitalismo no tiene


nada de determinista. Sí tiene la gran utilidad de revelar lo que no pue-
de ocurrir bajo la vigencia de dichas leyes (las leyes de la acumulaci-
ón capitalista que Marx formula no establecen cuál será el futuro de la
humanidad, pero sí fijan, inexorablemente, qué no puede ocurrir bajo
el capitalismo: todo aquello incompatible con la rentabilidad que deter-
mina la acumulación capitalista, lo que a día de hoy, como se explica al

63 El recurrente debate en ciertos ámbitos, acerca de si hay varios Marx diferentes en su pe-
riplo teórico, así como sobre si finalmente se trata más de un filósofo, un economista, un
sociólogo o un historiador, se resuelve, a nuestro entender, considerando la única clave
explicativa que permite escapar de todo planteamiento idealista -y por tanto ahistórico-
al respecto: partir de la progresiva configuración de su pensamiento como reflejo de un
trasfondo, el de su trayectoria como militante obrero. Véase Rosdolsky (1968: 27-35).
64 Kliman, Andrew (2000); “Talk to IMF-World Bank Teach-in”, Students for Solidarity and
Empowerment, Judson Memorial Church, Nueva York, 3 de marzo.

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 67


final, es simplemente preservar las condiciones de vida de la mayoría de
la población).
Esta cuestión se relaciona con el lugar del “factor económico” en la
reproducción social. Pero para abordarlo es necesario establecer previa-
mente cuál es el contenido de ese “factor económico”, por más que sea
muy brevemente: por oposición a la caricatura de definición que aso-
cia la economía a la fórmula “recursos escasos para fines alternativos”,
su verdadero contenido se define en la forma en la que cada sociedad
se organiza, socialmente, para llevar a cabo de una forma constante-
mente renovada la producción de sus medios de vida (lo que incluye su
distribución entre los miembros de dicha sociedad y su consumo por
ellos para disponer de las condiciones para producirlos de nuevo y así
sucesivamente)65. Por tanto, el objeto de estudio del análisis económico
es la producción de los medios de vida, pero no una producción abstrac-
ta, sino la propia de cada sociedad particular, es decir, una producción
histórica y socialmente determinada: “cuando se habla de producción, se
está hablando siempre de producción en un estadio determinado del de-
sarrollo social” (Marx, 1857-58: 5). Sus formas particulares, históricas.
Por ejemplo, para comprender el capitalismo no se aborda el trabajo en
general, sino la forma propia que adopta el trabajo en la sociedad capi-
talista, que es el trabajo asalariado resultado de la mercantilización de
la fuerza de trabajo. Como revela la propia primera frase de El Capital,
en la que Marx acota históricamente el objeto de análisis al capitalismo:
La riqueza de las sociedades en las que domina el modo de producci-
ón capitalista se presenta como un “enorme cúmulo de mercancías”, y la
mercancía individual como la forma elemental de esa riqueza. Nuestra
investigación, por consiguiente, se inicia con el análisis de la mercancía
(Marx, 1867: 43).

La evolución de las condiciones materiales de la existencia


de cada sociedad se asienta en la evolución de las fuerzas
productivas y las relaciones de producción correspondien-
tes, coronadas a su vez por la superestructura asimismo

65 Una explicación más pormenorizada de esta cuestión se encuentra en Arrizabalo (2014:


21-31).

68 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


correspondiente. Antes de formular la caracterización teó-
rica de estas categorías teóricas sociales, debe precisarse el
modo de pensamiento que permite aprehender los fenóme-
nos sociales tal y como son: la dialéctica.

La explicación es también sencilla: la única forma de analizar que


permite aprehender los fenómenos tal y como son es aquella que in-
corpora sus mismas características. Esto es: puesto que la realidad y en
particular la realidad social es cambiante, se encuentra en movimien-
to permanente; puesto que sus partes integrantes no están aisladas ni
se yuxtaponen por mera agregación, sino que son interdependientes;
puesto que toda la realidad está atravesada de contradicciones… En
conclusión, puesto que la realidad es dialéctica, la forma de pensar ha
de ser asimismo dialéctica:

El método dialéctico de Marx aprehende la sociedad en


tanto que todo, y aspira en primer lugar a extraer las co-
nexiones entre fenómenos de orden social, que a su vez de-
terminan los fenómenos del orden individual (Gill: 1976)66.

Esta necesidad se aprecia en el tratamiento de todas las cuestiones


situadas en el terreno del cambio social (es decir, todas las cuestiones so-
ciales) y muy especialmente para abordar las grandes transformaciones
sociales, que se sitúan en el terreno de los cambiantes y contradictorios
vínculos entre las fuerzas productivas y las relaciones de producción, así
como de ambas con la superestructura. El análisis de las sociedades a la
luz del pensamiento dialéctico y la concepción materialista del mundo
es el materialismo histórico, base del método marxista67.

66 En las antípodas por tanto de la pretensión de un supuesto homo economicus, idea que “no
es menos absurda que la idea de un desarrollo del lenguaje sin individuos que vivan juntos
y hablen entre sí” (Marx, 1857-58: 4).
67 En 1873, en el Epílogo a la segunda edición alemana de El Capital, Marx revela su preocupa-
ción por las malas interpretaciones del texto: “el método aplicado en El Capital ha sido poco
comprendido, como lo demuestran ya las apreciaciones, contradictorias entre sí, acerca del
mismo” (Marx, 1867: 17). Por eso reivindica expresamente a continuación el carácter tanto
materialista como dialéctico de su método (ibídem: 11-20). Véase también Trotsky (1928).

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 69


Antes de aplicar este método al análisis de la sociedad capitalista
es imprescindible la comprensión del carácter histórico de ésta. Para
lo que se requieren las mencionadas categorías teóricas, en torno a las
cuales explicar la trayectoria histórica de los diferentes tipos de socie-
dad. El punto de partida para su comprensión es doble: por una parte,
su condición social, es decir, no se trata de “conceptos técnicos”, como
pretenden por ejemplo quienes definen las fuerzas productivas como la
mera productividad: “mediremos el grado de desarrollo de las fuerzas
productivas por el grado de PRODUCTIVIDAD del trabajo”68. Esta de-
finición es la antítesis del planteamiento marxista cuya esencia radica
precisamente en el carácter social de los procesos económicos. Por otra
parte, su interdependencia propiamente dialéctica: no se puede com-
prender la noción de fuerzas productivas desconectadamente de la no-
ción de relaciones de producción, como si aquella fuera un dato ya dado.
Y lo mismo ocurre a la inversa y en los vínculos de ambas con la noción
de superestructura.
Las fuerzas productivas son la categoría teórica fundamental para
poder hablar de esa cuestión casi siempre muy genérica e incluso de-
formadamente planteada: el desarrollo. Porque no puede formularse
cabalmente de esa manera (y nada ayuda el parche de calificarlo de hu-
mano, “desarrollo humano” que inventa el PNUD en 1990). De modo
preliminar definimos las fuerzas productivas en términos del dominio
de la naturaleza alcanzado por la humanidad, materializado efectiva-
mente en una mejora sostenida de las condiciones de vida del conjunto
de la población:

Las fuerzas productivas de la humanidad, expresión ma-


terial e intelectual del grado de dominación sobre la natu-
raleza alcanzada por ésta, de su capacidad adquirida para
obligar a la naturaleza a satisfacer sus necesidades. No son,
otra vez, simples conjuntos técnicos; son a la vez el pro-
ducto e instrumento de la actividad práctico-teórica del
hombre en sus relaciones con la naturaleza, actividad que

68 Harnecker, Marta (1969); Los conceptos elementales del materialismo histórico, Siglo XXI,
México, pág. 42 (en mayúsculas en el original).

70 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


es la sustancia, el fundamento de todo progreso de la civili-
zación humana. Para el materialismo histórico, la categoría
económico-socio-histórica de fuerzas productivas ocupa
un lugar central en la historia de la humanidad (Boisgon-
tier, 1971: 254).

Sin embargo, salta a la vista que dicho desarrollo de las fuerzas pro-
ductivas -o su no desarrollo, su bloqueo y hasta su destrucción- está
condicionado por lo que, de forma coloquial, podemos denominar en
primera instancia las “reglas del juego” propias de cada situación histó-
rica69. Estas reglas del juego son las relaciones de producción, las relacio-
nes que establecen entre sí las clases sociales para llevar a cabo el proce-
so de producción de sus medios de vida; relaciones que, a su vez, están
vinculadas a la forma de apropiación de los medios de producción.
Los vínculos entre las fuerzas productivas y las relaciones de pro-
ducción sólo pueden comprenderse a la luz del método que integra la
concepción materialista del mundo y el modo de análisis dialéctico.
Porque son vínculos contradictorios y cambiantes. Porque son víncu-
los históricos. Por ejemplo, a mediados del siglo XVIII en el seno del
viejo orden feudal, se había incubado un enorme desarrollo potencial
de las fuerzas productivas en buena parte de Europa. Sin embargo, su
materialización chocaba con las relaciones de producción dominantes,
las feudales. El triunfo final económico y político de la burguesía, la
clase que podía constituirse en dominante en el marco de unas nue-
vas relaciones de producción (triunfo tanto económico como político),

69 La importancia del desarrollo de las fuerzas productivas se aprecia con mucha claridad en
la experiencia de la Unión Soviética, porque es en el terreno de las condiciones de vida de
la población (plasmación última de dicho desarrollo) donde se manifiesta la superioridad
de un determinado orden social. Allí, lastrado dicho desarrollo por una serie de circuns-
tancias como el atraso y la devastación de las guerras, pero especialmente por el aislamien-
to (finalmente reivindicado por la burocracia estalinista, lo que no le impedía colaborar
con las potencias imperialistas), la transición al socialismo no se verificó ni como tal. Su
contenido transitorio en términos de desarrollo de las fuerzas productivas se habría acom-
pañado de una menor importancia del Estado, por la menor necesidad de coerción ante
la abundancia creciente; lo contrario de lo que ocurrió. Esto no invalida en absoluto el
carácter ejemplar de la revolución rusa y las capacidades que desplegó a pesar de todo, ya
desde los primeros decretos. Véase Trotsky (1936); La revolución traicionada, Fundación
Federico Engels, Madrid, 1991; especialmente los capítulos 4 y 9.

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 71


permitió romper el corsé que suponían las viejas relaciones de produc-
ción. Y se produjo un enorme desarrollo de las fuerzas productivas: la
industrialización, la urbanización, los grandes medios de transporte y
la propia configuración de la clase trabajadora como tal. Obviamente,
dicho desarrollo no fue ni podría haber sido idílico, ya que se basaba
en la explotación, incluso infantil, y en el pillaje colonial de otros terri-
torios. Ciento cincuenta años después, la supervivencia del capitalismo
llegado a cierto punto de su trayectoria histórica, va a suponer cada vez
más no ya un freno a dicho desarrollo de las fuerzas productivas, sino
directamente su bloqueo y hasta su destrucción, como se expresa en
las crisis, las guerras y la desvalorización de la fuerza de trabajo en ge-
neral. Toda esta dinámica contradictoria y cambiante sólo puede ser
comprendida mediante el materialismo histórico, “es decir, la aplicación
de la dialéctica materialista a la estructura de la sociedad humana y a su
desarrollo histórico” (Trotsky, 1928).
Pero desde el “factor económico” no se puede pretender completar
la explicación social. Ciertamente ocupa un lugar explicativo central,
incluso decisivo en última instancia. Pero sólo “en última instancia”:

Según la concepción materialista de la historia, el factor


que en última instancia determina la historia es la produc-
ción y la reproducción de la vida real. Ni Marx ni yo hemos
afirmado nunca más que esto. Si alguien lo tergiversa di-
ciendo que el factor económico es el único determinante,
convertirá aquella tesis en una frase vacua, abstracta, ab-
surda. La situación económica es la base, pero los diversos
factores de la superestructura que sobre ella se levanta --las
formas políticas de la lucha de clases y sus resultados, las
Constituciones que, después de ganada una batalla, redac-
ta la clase triunfante, etc., las formas jurídicas, e incluso
los reflejos de todas estas luchas reales en el cerebro de los
participantes, las teorías políticas, jurídicas, filosóficas, las
ideas religiosas y el desarrollo ulterior de éstas hasta con-
vertirlas en un sistema de dogmas-- ejercen también su
influencia sobre el curso de las luchas históricas y deter-
minan, predominantemente en muchos casos, su forma. Es
un juego mutuo de acciones y reacciones entre todos estos
factores, en el que, a través de toda la muchedumbre infini-

72 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


ta de casualidades (es decir, de cosas y acaecimientos cuya
trabazón interna es tan remota o tan difícil de probar, que
podemos considerarla como inexistente, no hacer caso de
ella), acaba siempre imponiéndose como necesidad el mo-
vimiento económico. De otro modo, aplicar la teoría a una
época histórica cualquiera sería más fácil que resolver una
simple ecuación de primer grado70.

Debemos por tanto incorporar el conjunto de elementos sociales no


económicos que, junto a éstos -interrelacionados dialécticamente con
éstos-, permiten completar efectivamente la explicación de los proble-
mas sociales. Son los aspectos políticos, ideológicos, culturales, jurídi-
cos, institucionales, etc. A su vez, el mismo tipo de vínculo que se ha
explicado entre las fuerzas productivas y las relaciones de producción,
se da asimismo entre ambas y la superestructura. Como se ha ejempli-
ficado con el tránsito del feudalismo al capitalismo en buena parte de
Europa en el siglo XVIII, la puesta en marcha de las relaciones de pro-
ducción capitalistas (sobre la base del desarrollo potencial de las fuerzas
productivas), hace posible ese triunfo también político de la burguesía
como nueva clase social dominante, que se plasma no sólo en la confi-
guración de los Estados burgueses, sino también en los demás planos
superestructurales… que a su vez ejercen su influencia sobre dichas re-
laciones de producción y sobre las propias fuerzas productivas.
En resumen, el análisis económico de Marx, formulado teóricamen-
te en El Capital, es una aplicación del materialismo histórico que, a su
vez, es la aplicación de la dialéctica al desarrollo histórico de las socie-
dades, una vez que se ha liberado a la dialéctica de su “cautiverio idea-
lista” gracias a encuadrarla en una concepción materialista del mundo
(véase Trotsky, 1928). Abordamos a continuación su concreción, aun-
que muy panorámicamente.

70 Engels, F. (1890); “Carta a Bloch”, Londres, 21-22 de septiembre, disponible en www.mar-


xists.org/espanol/m-e/cartas/e21-9-90.htm.

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 73


El Capital: de la ley del valor a la ley del descenso
tendencial de la tasa de ganancia71
En 1867 ve la luz la primera edición del libro I de El Capital. Unos
años antes, en 1851, Marx había anunciado que acabaría en cinco se-
manas el estudio de la economía, ya que “en esencia, esta ciencia no ha
progresado desde A. Smith y D. Ricardo”72. Este error de cálculo sólo se
puede explicar a la luz de la ingente tarea que supuso investigar las leyes
que rigen la economía capitalista, con todo el rigor que exige el méto-
do científico y que es la única forma de conocerlas (tarea que corre en
paralelo al progreso que experimenta la constitución política de la clase
trabajadora como movimiento obrero)73. Investigar primero y exponer
después el resultado de dicha investigación.

Ciertamente, el modo de exposición debe distinguirse, en


lo formal, del modo de investigación. La investigación debe
apropiarse pormenorizadamente de su objeto, analizar sus
distintas formas de desarrollo y rastrear su nexo interno.
Tan sólo después de consumada esa labor, puede exponer-
se adecuadamente el movimiento real. Si esto se logra y se
llega a reflejar idealmente la vida de ese objeto, es posible
que al observador le parezca estar ante una construcción
apriorística” (Marx, 1867: 19).

Precisamos esta distinción, de la que Marx no sólo es consciente


sino que la hace explícita, porque tiene una importancia decisiva para la

71 Complementariamente a la lectura de El Capital, recomendamos muy enfáticamente el


libro de Louis Gill titulado Fundamentos y límites del capitalismo (Gill: 1996), un prodigio
de rigor y pedagogía para la exposición del método marxista, que sigue la estructura de
El Capital, a la que añade varios capítulos más sobre desarrollos y debates posteriores.
Asimismo en el capítulo 3 de Capitalismo y economía mundial (Arrizabalo: 2014), se pre-
senta una exposición muy resumida del hilo argumental general de El Capital.
72 Marx (1851); “Carta a Engels”, 2 de abril de 1851, en www.marxists.org/espanol/m-e/car-
tas/m1851-04-02.htm.
73 En 1857, Marx previó organizar el texto en seis libros (capital; propiedad de la tierra; tra-
bajo asalariado; Estado; comercio exterior y mercado mundial y, finalmente, crisis). En
1865-66 replanteó el esquema dejándolo en los cuatro libros que hoy conforman El Capital
y las Teorías sobre la plusvalía.

74 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


comprensión del planteamiento de El Capital. De hecho, muchas de las
críticas que se le hacen se deben al desconocimiento de su planteamien-
to expositivo (en muchos casos un desconocimiento interesado). Por
ejemplo, la que defiende la existencia de una contradicción entre el libro
I y el libro III, porque en el primero se hacen determinar los precios por
los valores, mientras en el tercero se hacen determinar por los precios
de producción… que siguen siendo los valores, pero ya “redistribuido”
su componente de plusvalía, de acuerdo al marco menos abstracto de
análisis de dicho libro tercero: marco que, considerando que la acumu-
lación no la realiza la clase capitalista, sino los focos individuales de
acumulación que son los capitales individuales, exige por tanto tener en
cuenta el reparto de la plusvalía total en ganancias individuales, resul-
tado de la competencia entre dichos capitales (en otros casos, como la
defensa de que no se verifica la ley del descenso tendencial de la tasa de
ganancia, suele obedecer al desinterés que se revela en haber obviado no
ya el capítulo siguiente completo, sino incluso su propio título: “factores
contrarrestantes”). Es decir, el libro III no se opone al libro I, sino que
constituye su desarrollo, resultado de una reducción del mayor grado de
abstracción del primero, que sitúa el análisis en el terreno del “capital
en general”.
En efecto, Marx hace una exposición a través de aproximaciones
sucesivas basadas en la reducción de la abstracción. Tanto el análisis
del libro I como el del libro II, Proceso de producción del capital y Pro-
ceso de circulación del capital, están situados en el plano del “capital
en general”, sin considerar por tanto la forma concreta de existencia
del capital, esto es, los capitales individuales (que sólo se aborda en el
tercero, Proceso global de la producción capitalista)74. Por tanto, no tiene
en cuenta la competencia entre capitales. ¿Se puede explicar la econo-
mía mundial actual sin considerar la competencia? Obviamente no. ¿Se

74 La explicación es tan sencilla como que para no hablar de todo a la vez, lo que sería inin-
teligible, se explican primero las categorías generales (por ejemplo plusvalía), cuyo con-
tenido conceptual general, abstracto, no requiere sacar a la palestra más que al capital
en general. Y sobre la base de su explicación, se baja al terreno más concreto en el que
efectivamente van tomando la forma perfilada que permitirá su aplicación en el terreno
empírico.

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 75


puede completar la explicación teórica de la economía capitalista sin
considerar la competencia? Obviamente tampoco. Pero con los libros I
y II de El Capital no se pretende completar la explicación teórica de la
economía capitalista, ni menos aún se busca explicar con ellos, de una
manera completa, la economía mundial actual. Los libros I y II son sólo
una fase de la explicación teórica de la economía capitalista de forma
general. Y el conjunto de El Capital es sólo la base teórica condición im-
prescindible para la comprensión de la economía mundial actual, pero
no suficiente pues también hay que incorporar los elementos históricos
que “nutren” empíricamente el desarrollo de dichas leyes.
Frente al empirismo vulgar que coquetea con que la disponibilidad
de muchos datos de la realidad, e incluso hipotéticamente todos, com-
pleta la explicación, la comprensión rigurosa de los problemas exige te-
oría y exige historia. El porqué de la necesidad de teoría se comprende
fácilmente razonando cuál es el objetivo final de la reflexión, identifica-
ble a partir de la constatación empírica de los problemas. Por ejemplo,
verificamos que en el periodo reciente se ha disparado el desempleo en
sus distintas formas. ¿Por qué? Resulta evidente que se debe a la in-
terrupción del ritmo de la acumulación, lo que constituye el contenido
mismo de la crisis. Sin embargo, definir que el desempleo se dispara
por la crisis no requiere mucha teoría, sino que la argumentación que lo
justifica es inmediata y prácticamente se detecta en la misma superficie.
Ahora bien, de acuerdo a la pretensión de explicar científicamente los
problemas sociales debemos seguir tirando del hilo, debemos pregun-
tarnos por consiguiente por qué se produce la crisis. Tampoco en este
caso se requiere demasiada profundidad analítica: la crisis estalla por-
que la rentabilidad es insuficiente. De hecho, esto es casi tautológico, ya
que si la rentabilidad fuera elevada el ritmo de acumulación no se inter-
rumpiría. De nuevo corresponde preguntar por qué la rentabilidad no
se mantiene en un nivel suficiente. O más precisamente: por qué desde
hace ya cincuenta años la rentabilidad no se ha mantenido, al menos de
una forma mínimamente sostenida y generalizada a escala mundial. Es
decir, para comprender el porqué del desempleo… necesitamos la teoría
que nos explica el comportamiento de la rentabilidad.

76 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Ésta es la pregunta, cuáles son los determinantes de la rentabilidad,
determinante a su vez de la acumulación en cuyo marco se explican
fenómenos dramáticos como el desempleo. ¿Cómo abordarla? Ya intui-
mos que su respuesta se sitúa en el carácter contradictorio del capita-
lismo, crecientemente contradictorio, dado que los problemas cada vez
más agudos no proceden de ningún choque externo, sino del propio
proceso de acumulación capitalista llevado a cabo de acuerdo a su lógica
(lo que finalmente, a la luz del análisis teórico, veremos que se traduce
inevitablemente en una tendencia a la sobreacumulación, vinculada a
su vez a una escasez relativa de plusvalía, incluso si la tasa de plusvalía
aumenta). Pero, ¿cómo llegamos a ello?
Sólo hay una vía para comprender si hay alguna ley sobre la renta-
bilidad que, dado el carácter de ésta como fuerza motriz del proceso de
acumulación capitalista, constituiría una ley general sobre el desarrollo
capitalista, incluso eventualmente apuntando ya hacia la existencia de
límites históricos del capitalismo por razones intrínsecas (tabú entre los
tabúes, claro, en las filas de quienes, explícitamente o no, defienden el
orden burgués). Esta vía es la comprensión de las claves sociales que
hay tras la rentabilidad, más allá de su mera definición conceptual. Esta
definición puramente conceptual la formula en términos de la relación
entre la plusvalía y el conjunto del capital utilizado para lograrla; las
claves sociales que subyacen a la rentabilidad remiten a la composición
del capital entre su parte productiva -de plusvalía- y su parte no produc-
tiva, así como a la proporción entre la plusvalía producida y el valor de la
parte del capital que la produce: i.e., al grado de explotación; g’=pv/(c+v)
la primera y g’=pv’/(1+q)75.
Pero para entender la plusvalía (trabajo no pagado), tenemos que
comprender previamente lo que significa la mercantilización de la fuer-
za de trabajo. Es decir, qué significa el intercambio en general y qué
significa el dinero que se transforma en capital para hacer posible esa
mercantilización y su resultado. Por tanto, hay que partir de la com-
prensión de la mercancía individual en tanto célula básica de la sociedad

75 Siendo g’ la tasa de ganancia, pv la plusvalía, c el capital constante, v el capital variable, pv’


la tasa de plusvalía o tasa de explotación y q la composición del capital

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 77


capitalista, en tanto “forma elemental” de la riqueza de las sociedades
capitalistas, como la define el propio Marx en la mencionada primera
frase de El Capital.
Es la ley del valor, regulador principal de la economía capitalista.
Entendiendo como regulador la ley que nos permite explicar que las
cosas no ocurren por casualidad, sino que derivan de la aplicación de
dicho regulador, son el resultado de que rija esa ley. La primera pregun-
ta a la que se enfrenta toda formulación teórica es precisamente la que se
refiere a cómo se intercambian los bienes -en su condición de mercan-
cías- y, por tanto, por qué los precios son los que son. Ante ella, históri-
camente había grosso modo dos posiciones. Por una parte las conocidas
como teorías subjetivas del valor, que defendían la determinación de los
precios en el mercado, de acuerdo a la interacción de la oferta y la de-
manda, agregación en cada caso de la mera suma de ofertas y demandas
individuales. Frente a esa posición tan superficial, que elude el hecho de
que las mercancías no llegan al mercado cayendo del cielo, sino resul-
tado de un proceso social de producción, las teorías objetivas del valor
se concentran en la producción, alcanzando su máxima expresión en la
formulación de la teoría valor trabajo de Ricardo. Por supuesto, Marx
no es que rompa con los subjetivistas, sino que ni siquiera los conside-
ra dado su carácter anticientífico por superficial (para él son los eco-
nomistas vulgares, sus formulaciones conforman la economía vulgar).
Pero tampoco se inscribe en la corriente objetiva, aunque sí se apoya
críticamente en ellos para su elaboración (los considera economistas
políticos, ya que constituyen la economía política cuya crítica sirve de
apoyo a Marx para definir su marco de análisis marxista, como refleja
ya desde el mismo subtítulo de El Capital). Se apoya críticamente en
ellos, tanto que, podría decirse, le da la vuelta a sus planteamientos, al
modo en que también lo hizo con la dialéctica hegeliana, sacándola del
rígido corsé idealista para darle un carácter materialista. En este caso
rompe con la formulación ricardiana, la más avanzada hasta entonces,
planteando el contenido social del valor y, por tanto, no formulando el
tiempo de trabajo en tanto que sustancia del valor como algo técnico,
sino social. Con lo que “complica” tanto la formulación teórica del valor
como imprescindible resulta para hacerla válida.

78 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Marx explica que el precio de una mercancía se determina por su va-
lor, siendo el valor la categoría teórica con la que se aprehende el hecho
social consistente en que, en una determinada sociedad, para producir
una mercancía se requiere una determinada de tiempo de trabajo. Es
decir, el valor es el tiempo de trabajo socialmente necesario para produ-
cir una mercancía (socialmente, esto es, en una determinada sociedad y
en promedio en ella, de acuerdo a la intensidad media del trabajo, a su
calificación igualmente media, etc.). Si nos presentan un bolígrafo, una
mesa y un coche, explicándonos que sus precios no respectivos son de
10000 euros, 50 euros y un euro, cualquiera diría que el precio del bo-
lígrafo es el euro, el de la mesa los 50 y el coche los 10000. Y cualquiera
lo diría porque hay algo detrás, una ley, por más antes de nada se vea
de una forma intuitiva. Una ley cuyo contenido, en primera instancia,
remite justamente a lo que cuesta producirlos. Como lo que cualitativa-
mente comparte el conjunto de las mercancías es ser producto del traba-
jo, por tanto se compara la cantidad de trabajo (tanto pasado o muerto
o solidificado, es decir, el ya materializado en los medios de producción
resultado de procesos productivos previos, ya acabados; como presente
o vivo o líquido, es decir el de los trabajadores en dicho proceso).
Sin embargo, que detrás de los precios de las mercancías estén sus
valores no quiere decir que sean directamente éstos. Porque la noción
de mercancía implica que se complete el proceso social en torno a ella,
que incluye su venta: es decir, la validación social del trabajo privado
que se ha empleado para su producción. Validación que, en tanto so-
cial, no se encuentra preestablecida técnicamente, sino que deriva del
enfrentamiento entre quien quiere vender una mercancía y quien quie-
re comprarla o, dicho a la inversa, quien quiere comprar la mercancía
dinero y quien quiere vender la mercancía dinero. Pero el intercambio
es una relación social que se presenta oculta bajo la forma fetichista que
hace parecer que solamente es una mera relación entre cosas. Sin em-
bargo, el intercambio que supone la permuta de una propiedad por otra,
supone por tanto la renuncia a un valor a cambio de acceder a otro.
En el momento del intercambio, es cierto, se puede desviar el precio
de una mercancía respecto a su valor, a condición de que la mercancía
por la que se intercambia se desvíe asimismo, en igual magnitud pero

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 79


sentido contrario (lo que abre la posibilidad excepcional de “mercan-
cías” con precio pero sin valor, un mero caso particular de desvío de
precio respecto a valor), ya que como en el intercambio no se crea valor,
si uno gana otro pierde (por eso la suma de todos los precios es igual a
la suma de todos los valores). Pero, con esta posibilidad de separación
del precio particular de una mercancía respecto a su valor particular,
¿vale algo entonces la formulación de que los precios se explican por
los valores? Vale todo porque en esa permuta ambos quieren obtener la
mayor cantidad posible de valor a cambio del valor al que renuncian.
Lo quieren ambos y, por tanto, el precio efectivo tiende a converger en
torno al valor.

Es decir, la ley del valor explica los precios sobre la base


de que tienden a converger en torno a los valores, lo que
se materializa más o menos exactamente en función de la
pugna social que se dilucida en el intercambio, dependiente
de la relación de fuerzas entre ellos (de cuánto valor estén
o no dispuestos a perder cada uno para acceder al valor de
uso que desean). Y a su vez los valores, verdadero eje en
torno al que convergen los precios, también es una noción
social que, por eso mismo, siempre está en movimiento (lo
que, como ha sido señalado, solo puede captarse desde una
aproximación dialéctica)76.

En definitiva, lo que plantea la ley del valor, que es una ley de las
sociedades capitalistas, es que en ellas el producto social en un perio-
do de tiempo determinado (es decir, su ingreso, su renta, su poder de
consumo) radica en el trabajo que se ha desarrollado en ella en dicho
periodo (lo que se ha aportado en dicho periodo que, obviamente, sólo
puede ser fruto del trabajo vivo aportado por la mercancía fuerza de
trabajo). Y que la forma a través de la cual se reparte es el intercam-
bio, materializado en precios que se constituyen fundamentalmente en

76 Por ejemplo, en el periodo reciente se ha producido una desvalorización de la mercancía


fuerza de trabajo juvenil. Puesto que el valor de una mercancía es el tiempo de trabajo social-
mente necesario (ttsn) para producirla y, por tanto, el valor de la fuerza de trabajo es el ttsn
para la producción de las mercancías con cuyo consumo se reproduce, Véase Murillo (2016).

80 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


función del tiempo de trabajo socialmente necesario, es decir, de sus
valores, sin perjuicio de que han de ser refrendados en su venta. O di-
cho de otro modo, los precios se fijan a través de un proceso social cuya
primera fase, básica, es la producción y la secundaria, “de ajuste”, es el
intercambio.
En este punto conviene hacer una precisión: en El Capital se aborda
la economía capitalista desde un punto de vista teórico. Por tanto, no se
consideran otras formas de producción que sí existen en las sociedades
que llamamos capitalistas, pese a que las relaciones de producción capi-
talistas coexisten con otras, porque las subordinan. Es decir, que en el
terreno histórico coexisten distintos tipos de relaciones de producción
es algo que el propio Marx tiene en cuenta y por eso se refiere a las
“sociedades en las que domina el modo de producción capitalista”. Esta
dominación resulta crucial porque el mercado, el “mercado capitalis-
ta”, es en donde se dilucida quién es competitivo y quién no. El capital
marca la pauta general de la acumulación y cada vez más. ¿Qué ocurre
entonces con las actividades mercantiles que se rigen por otras relacio-
nes de producción, como las cooperativas, los autónomos o los negocios
familiares? Tienen que pasar con éxito la prueba de la competencia, lo
que, por cierto, cada vez es más difícil a medida que las contradicciones
capitalistas se agravan y la competencia se exacerba (esa dificultad se
muestra en el hecho de que la asalarización siga creciendo incluso pese
a que ya ocupa a la inmensa mayoría de la población)77. ¿Y las activida-
des productivas de valores de uso, pero no mercantiles? Inevitablemente
acaban subordinándose a las exigencias del capital. Por tanto, si son un
obstáculo se pondrán en su punto de mira. Fue el caso, por ejemplo, de
la producción manufacturera artesanal que había en India, destruida
por la colonización británica, impidiéndose así que pudiera ser la base
de un proceso de industrialización en el marco del cual se constituyera
una burguesía industrial local. Si no son un obstáculo sino que incluso
pueden ser exprimidas o parasitadas, resulta obvio que son utilizadas
de esa forma subordinada, como ocurre por ejemplo con las tareas fa-
miliares de cuidados habitualmente realizadas por las mujeres.

77 Véanse Murillo (2015: 328-334) y Guerrero (2006: 64-65).

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 81


En definitiva, se trata de que la ley del valor, regulador de la eco-
nomía capitalista, es por extensión regulador de las economías en las
que dominan las relaciones de producción capitalistas, del conjunto
de dichas economías. Con el desarrollo de una economía mundial, ya
desde el cambio del siglo XIX al siglo XX, la ley del valor pasa a regir
a escala mundial, sin perjuicio de que no pueda hacerlo de una forma
plena, absoluta, sino limitadamente por la pervivencia de las economías
nacionales, resultado del desarrollo de la lucha de clases en cada una.
Un ejemplo que ilustra bien el hecho de que la ley del valor rija a escala
mundial es la noción de “doble regulador” de la economía soviética de
la que hablaba Preobrazhensky en 1922: pese a la expropiación del capi-
tal, la ley del valor seguía permeando la economía soviética más allá de
las actividades privadas mantenidas en el sector primario sobre todo,
por influencia de la economía mundial capitalista. Y ello a pesar de pa-
rapetos tan importantes como eran el monopolio estatal del comercio
exterior o la no convertibilidad de la moneda78.
Nos hemos detenido con cierto detalle en la formulación y conteni-
do de la ley del valor por varias razones, que explican porque constituye
la piedra angular de todo el edificio teórico marxista. En efecto, la ley
del valor de Marx identifica el regulador de la economía capitalista y lo
hace situándolo en el terreno de la producción, de la producción social
e históricamente determinada. De manera que las cuestiones que cier-
tamente merecen nuestro interés y en particular las que se conectan di-
rectamente con la problemática social, i.e., la distribución, sólo pueden
explicarse en tanto reflejo de las relaciones de producción:

la organización de la distribución está totalmente determi-


nada por la organización de la producción. La distribución
es ella misma un producto de la producción, no sólo en lo
que se refiere al objeto -solamente pueden ser distribuidos
los resultados de la producción-, sino también en lo que se
refiere a la forma, ya que el modo determinado de partici-
pación en la producción determina las formas particulares

78 Preobrazhensky, Evgueni (1922); De la NEP al socialismo, Fontanella, Barcelona, 1976,


págs. 83-84. Véase De Blas (1994).

82 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


de la distribución, la forma bajo la cual se participa en la
distribución (Marx, 1867: 295).

Esto tiene una importancia decisiva en el terreno político, como se


revela en los límites infranqueables de toda propuesta reformista o de
desconexión79. O en las idealistas propuestas de igualación de salarios
que obvian la explicación de su desigualdad, pretendiendo evitar las
consecuencias sin tocar sus causas. Es decir, pretendiendo que las leyes
que rigen la economía capitalista son testimoniales y que, bajo su reina-
do, todo es posible. Pero no es así porque “cada periodo histórico tiene
sus propias leyes” (Marx, 1867: 18) y las relaciones de producción son
el reflejo de las relaciones de producción. Esto es, si vemos de manera
directa en la superficie los salarios y las ganancias, divididas éstas en
ganancias del capital productivo, ganancias del capital comercial y ga-
nancias del capital que actúa en las finanzas, es porque “previamente”
existen, en primer lugar, las relaciones de producción en las que se ge-
neran el salario y la plusvalía así como en segundo lugar, las relaciones
de competencia entre los distintos capitales que determinan cómo se re-
parten entre ellos la plusvalía total en sus ganancias particulares, cómo
se la apropian individualizadamente.
Sobre la base de la ley del valor, que es consistente lógicamente y
que no sólo no resulta incompatible con los hechos sino que se adecúa
impecablemente a ellos -tal y como esbozaremos en el último aparta-
do-, Marx desarrolla un planteamiento teórico que culmina con la que
él mismo calificaba como “la ley más importante de la sociedad mo-
derna”, la ley del descenso tendencial de la tasa de ganancia. Antes de
formularla, es preciso consignar dos cuestiones centrales para todo el
desarrollo argumental de El Capital. Dos cuestiones que recogen los dos
conflictos en torno a los cuales se desarrolla la acumulación capitalista.
En primer lugar el conflicto de clase que enfrenta inconciliablemente
a la clase trabajadora y la clase capitalista. No es una cuestión ideológi-
ca, más allá de que se exprese ideológica o políticamente en una medida
u otra y de una forma u otra. Es una cuestión material: la reproducción

79 Véanse Gill (1989), Del Rosal (2015) y Gill (1996: 233-256).

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 83


capitalista se basa en la exigencia inexcusable de trabajo no pagado, que
es lo que define el contenido preciso del concepto de explotación. Traba-
jo vivo no pagado que se vierte junto con el trabajo vivo sí pagado. Nos
referimos, dicho de otro modo, al hecho ineludible de que en la jornada
laboral de los trabajadores, no sólo se desarrolla el tiempo de trabajo
necesario para la producción del valor que pagado como salario permite
la reproducción de la fuerza de trabajo, sino también un plustrabajo, un
extra de valor o plusvalía que es apropiado por el capital como ganan-
cia. El trabajo ya materializado en otro proceso previo de producción,
en tanto que trabajo muerto, no puede crear valor por eso mismo; es
por ello que Marx llama parte constante del capital o capital constante
al trabajo muerto; por oposición a la parte variable del capital o capital
variable que es como designa al trabajo vivo pagado (el trabajo vivo no
pagado es, como decíamos, la plusvalía).
En la economía capitalista, por tanto, el excedente no es más o menos
deseable sino imperativo, porque, producido con la forma de capital ex-
cedente o plusvalía, es apropiado por la clase capitalista como ganancia.
Por consiguiente el conflicto de clases es consustancial al capitalismo y
se expresa cuantitativamente en el grado de explotación: la proporción
de valor de la que se apropian los capitalistas respecto a la que remunera
a los trabajadores. Como se aprecia, no estamos hablando en un terreno
de denuncia sino en el de la pretensión científica de identificar con pre-
cisión la base material sobre la que se asienta la acumulación capitalista.
En segundo lugar, el conflicto entre capitalistas, cada uno de los cua-
les pugna por apropiarse individualizadamente de una fracción suficien-
te de la plusvalía total como su ganancia particular. Si el conflicto entre
clases se basa en la explotación, en la necesidad de trabajo no pagado
que acompaña al sí pagado, el conflicto entre capitalistas se basa en la
competencia. Para todo capital ser competitivo, esto es, lograr valori-
zarse, fructificar en una determinada proporción que es la rentabilidad,
constituye literalmente una cuestión de vida o muerte, por definición.
La explotación revela la imposibilidad de toda pretensión de conci-
liar los intereses de capitalistas y trabajadores, razón por la que la lucha
de clases, con independencia de cómo se expresen en cada momento,
nunca se detiene ni podría hacerlo. ¿Qué revela la competencia? La

84 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


ausencia de toda posibilidad de un capitalismo pacífico, estable, orde-
nado. En este momento lo estamos planteando en un plano puramente
teórico, pero si lo bajáramos al plano histórico, inmediatamente consig-
naríamos que el proceso de acumulación capitalista se acompaña ne-
cesariamente de las tendencias que le son propias consustancialmente,
como la centralización y concentración del capital, su internacionaliza-
ción, etc. Y que esto configura históricamente el capital financiero en
las economías más avanzadas, capital que respaldado por sus potencias
respectivas pugnará en todos los terrenos para conquistar los mercados
que requiere, tanto para aprovisionarse de aquellos insumos que no es-
tán disponibles en su territorio, al menos en magnitud suficiente, como
para dar salida a las mercancías para las que su mercado nacional se
queda pequeño. Pugnará en todos los terrenos, decimos, formulación
desde la que sólo hace falta dar un pequeño paso para registrar que las
guerras forman parte constitutiva de la acumulación capitalista.
Sobre la base de estos dos conflictos, y sólo sobre ella, es posible
hacer una aproximación rigurosa a cualquier fenómeno social y parti-
cularmente a los grandes hitos históricos. Por ejemplo, el estallido de la
Primera Guerra Mundial que sólo podía haber evitado la acción inde-
pendiente de la clase trabajadora en su conflicto con la clase burguesa
en cada país, ya que el conflicto competitivo entre ellas conducía si no,
de una forma inexorable, a la guerra. Como así fue en 1914 por la trai-
ción de gran parte de las direcciones del movimiento obrero en cada
país, en los que cerró filas con su burguesía respectiva (simbólicamente
el 4 de agosto, materializado ese cierre de filas en el voto a favor de los
créditos de guerra por parte de los diputados obreros, la llamada Union
sacrée; entre quienes no lo hicieron, manteniendo la tradición obrera,
destaca entre otros el caso de parte de la dirección alemana, aunque
minoritaria, encabezada por Rosa Luxemburgo y Karl Liebcknecht. Y
sobre la rusa, en particular los sectores vinculados a Lenin por un lado y
a Trotsky por otro, posición decisiva para que apenas tres años después
triunfará la revolución allí).
Como colofón, sobre la base de esos dos conflictos se concluye teó-
ricamente con la mencionada ley del descenso tendencial de la tasa de
ganancia, cuyo contenido en términos más coloquiales puede resumirse

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 85


en que no es sólo que el capitalismo sea contradictorio, sino que es cre-
cientemente contradictorio. Lo que se vincula a su vez a los límites his-
tóricos del capitalismo. Porque si sólo fuera contradictorio, podría dis-
cutirse una trayectoria cíclica y, por tanto, confiar en nuevos posibles
redespliegues verdaderamente dignos de este nombre (lo que no ocurre
desde hace ya cincuenta años). Pero se trata de una contradicción cada
vez más aguda.
La fundamentación de esta ley radica en la existencia de dificultades
crecientes de valorización para el capital, no como resultado de que la
productividad no crezca sino coincidentes con su aumento. El carácter
crecientemente contradictorio obedece al hecho tan anacrónico de que
la acumulación no se organice de acuerdo a ningún plan de conjun-
to, sino que se decide de forma no ya individualizada y descoordinada,
sino conflictiva entre quienes la llevan a cabo, los capitalistas. En efec-
to, éstos, preocupados por la competencia, buscan aumentar la produc-
tividad como medio para poder llevar los productos al mercado con
un precio menor (gracias a la mayor productividad, el mismo valor se
reparte entre más productos y, por tanto, su valor unitario -que deter-
mina su precio- se reduce). Desde el punto de vista de los valores de
uso el aumento de la productividad es positivo. Pero el punto de vista
que determina la acumulación capitalista no es el de los valores de uso,
sino el de los valores o, más precisamente, el de las plusvalías (su mag-
nitud respecto al capital adelantado que constituye la tasa de ganancia,
la rentabilidad). Y se plantean problemas porque el mecanismo al que se
recurre para aumentar la productividad es una mecanización cada vez
mayor y ésta, más pronto o más tarde, se acaba expresando en un au-
mento de la composición del capital, es decir, en una mayor proporción
de capital constante respecto al capital variable (mayor proporción de la
parte del capital que no produce plusvalía respecto a la que sí). Y como
se ha señalado antes, la composición del capital se encuentra detrás de
la rentabilidad, con una relación inversa hacia ella, de donde proceden
los problemas.
En efecto, como esto ocurre necesariamente, porque no lo hacemos
depender de ninguna circunstancia aleatoria, sino de la dinámica pro-
pia del capital, formulamos como ley que la tasa de ganancia tiende a

86 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


caer. No que caiga inexorablemente, de forma regular, porque hay otro
determinante de ella que es precisamente el que al final se releva decisi-
vo en lo que el propio Marx formula como factores contrarrestantes. Se
trata del aumento de la tasa de plusvalía, del grado de explotación. Por
tanto, no es sólo que los intereses se la clase trabajadora y los intereses
se la clase capitalista sean opuestos, sino que a lo largo de la trayectoria
histórica del capitalismo, esta oposición se hace cada vez más profunda.
Como se revela con toda nitidez hoy en la economía mundial, en donde
las condiciones de vida de la mayor parte de la población no sólo vienen
deteriorándose desde mucho antes de la crisis, sino que inevitablemente
están amenazadas de nuevos retrocesos.
El significado de esta ley es crucial, porque plantea simplemente que
hay algo que ocurre necesariamente en la economía capitalista, en rela-
ción con lo que constituye la fuerza motriz de la acumulación, que es la
tasa de ganancia, la rentabilidad. Y eso que ocurre es que tiende a caer.
Como tendencia que es, la caída puede evitarse pero de una forma que
cada vez resulta más dificultosa y, sobre todo, con más graves impactos
sociales.

Resultado del método marxista: los límites históricos del


capitalismo
Debido a la extensión limitada del presente texto, no hay posibilidad
de desarrollar los resultados que se derivan de la aplicación del método
marxista. Nuestra posición al respecto se encuentra expuesta in exten-
so en Arrizabalo (2014). No obstante, lo pergeñaremos de manera muy
sintética a continuación, a modo de mero esbozo.
La transición al capitalismo que tiene lugar por vez primera en Eu-
ropa, permite superar las limitaciones del modo de producción domi-
nante hasta entonces, el feudal, que impedían la materialización efectiva
del potencial desarrollo de las fuerzas productivas ya incubado. Arran-
ca así un primer estadio del capitalismo tras la acumulación originaria
que le da inicio, al que denominamos capitalismo ascendente por eso
mismo, por el impulso que da al desarrollo de las fuerzas productivas,
plasmado, como ya se ha explicado, en una serie de ámbitos como la

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 87


industrialización, la urbanización, los grandes medios de transporte y
particularmente la propia constitución de la clase trabajadora. Como
también se ha consignado, tratándose de una sociedad basada en la ex-
plotación, no es ni podría haber sido un proceso idílico, como se revela
en fenómenos como el trabajo infantil o el pillaje colonial.
El despliegue de la acumulación capitalista se acompaña necesaria-
mente de los rasgos consustanciales al ADN del capital. En particular
su concentración y centralización, su internacionalización, el desarrollo
desigual y combinado así como la trayectoria inevitablemente plagada
de fluctuaciones, que es resultado de la mencionada ley de la rentabili-
dad. Pero los procesos sociales no son lineales y la acumulación de cam-
bios cuantitativos, llegada a cierto punto, provoca cambios cualitativos.
Es lo que ocurre en el tránsito del siglo XIX al XX. Todos esos rasgos
entrelazados se plasman en dos planos centrales de la acumulación ca-
pitalista, con una consecuencia muy importante en términos históricos:
el sujeto que la conduce o al menos marca la pauta y el ámbito territorial
en el que se plasma. En primer lugar, cuaja una nueva configuración del
capital: se trata del capital financiero, que no consiste en que actúe en el
ámbito de las finanzas, sino en que se lleva a cabo un agrupamiento de
masas enormes de capital bajo un mismo control, presidido por el capi-
tal vinculado a la actividad financiera. En segundo lugar, se configura
una economía mundial como tal, resultado de la internacionalización
del capital que subordina el conjunto del territorio mundial a su lógica,
al mercado capitalista, lo que se refrenda territorialmente con el reparto
del mundo por parte de las grandes potencias. Se trata en definitiva
de un nuevo estadio capitalista, el imperialismo, que no es una opción
entre otras, sino adonde desemboca inevitablemente el capitalismo (Le-
nin: 1916)80. La consecuencia es que las fuerzas productivas van a estar
sometidas a tensiones cada vez mayores, lo que se expresa en particular
en las crisis y las guerras.
Esta situación, que atraviesa todo el siglo XX más allá de los vai-
venes en él (coherentes con la propia definición del imperialismo), se

80 Es impresionante constatar la vigencia de las tesis de este libro, que integra incluso elemen-
tos de tanta actualidad como la corrupción o las migraciones.

88 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


materializa con especial énfasis en el periodo reciente. A la crisis de los
años setenta no le sigue ningún periodo que pueda ser caracterizado
como expansivo. De hecho, resulta difícil caracterizar el periodo que
transcurre entre la crisis de los setenta y la crisis actual de acuerdo al
criterio del ritmo de acumulación, dado que éste es irregular, plagado
de fluctuaciones y asimétrico (dicho criterio es el que nos lleva a definir
los setenta como crisis; una crisis que supone la vuelta a la normalidad
del imperialismo, tras la excepción de los cincuenta y sesenta, en nin-
gún caso “edad dorada” -Arrizabalo, 2014: 277-367-). Pero este periodo
intercrisis sí puede identificarse, con toda nitidez, en torno precisamen-
te a la respuesta que se da a la crisis previa: es la universalización de
las políticas de ajuste permanente impuestas a través del FMI, organis-
mo que expresa la hegemonía estadounidense, del capital financiero
estadounidense.
Estas políticas que no es que tengan consecuencias sociales negativas,
sino que su contenido mismo es socialmente regresivo, porque con ellas
se pretende restaurar la rentabilidad, fundamentalmente a través de la
desvalorización de la fuerza de trabajo, tanto directa como indirecta-
mente (sus resultados son la destrucción económica, la regresión social
y el cuestionamiento de la democracia -Arrizabalo, 2014: 443-486-). De
manera que los últimos ya casi cincuenta años de la economía mundial
se pueden sintetizar en la secuencia crisis→ajuste→crisis. O dicho de otro
modo, con las políticas que se imponen frente a la crisis de los setenta
no sólo no se logra abrir un espacio de expansión capitalista, sino que
contribuyen a que la economía mundial desemboque en una nueva cri-
sis, aún más aguda. Constituye todo esto, por tanto, una auténtica hui-
da hacia delante, reveladora de que el capital no tiene un “plan b”… ni
podría tenerlo, porque detrás de esta problemática cada vez más grave
simplemente se encuentran las leyes que rigen la economía capitalista.
En consecuencia se revela empíricamente la inconsistencia de los
planteamientos que, formulando la existencia de ciclos de largo plazo,
defendían la posibilidad de nuevos redespliegues (lo que en todo caso,
resultaba incompatible con el marxismo porque tanto la noción de re-
gularidad como la de automatismo, que subyacen a la idea de los ciclos,
son contrarias a la aproximación dialéctica aplicada al materialismo

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 89


histórico, tal y como ha sido expuesto). Por el contrario, lo que se pone
de manifiesto es la validez hoy de la caracterización del imperialismo
como estadio actual del capitalismo (concentración y centralización de
un capital cada vez más oligopólico, lugar central del capital financie-
ro, prevalencia de la exportación de capital-dinero sobre la de capital-
-mercancía, reparto territorial del mundo por las grandes potencias,
etc. -Lenin, 1916-). Y su consecuencia final en términos no ya de la im-
posibilidad de nuevos procesos sistemáticos de desarrollo de las fuerzas
productivas, sino de la realidad de una destrucción de ellas cada vez
mayor; no sólo las crisis, las guerras y el pillaje de los recursos natura-
les, sino también y sobre todo la desvalorización de la fuerza de trabajo,
conectado con todo lo anterior y cuyo corolario es la impugnación de las
condiciones de vida de la mayoría de la población mundial (Arrizabalo,
2014: 515-542). Es decir, se señalan los límites históricos del capitalismo.
Toda esta explicación se hace posible gracias a la fecundidad del mé-
todo marxista que, identificando las causas profundas de los problemas,
permite remontar desde ellas hasta la forma en la que se presentan éstos.

Conclusiones: frente a la superficialidad y el eclecticismo,


un método consistente lógicamente y compatible con los
hechos, para la comprensión de los problemas actuales
El conocimiento social es un producto social. En esta sencilla frase
se plantea una cuestión de enorme calado. Porque resulta ingenua, por
decir lo menos, la pretensión de neutralidad del análisis económico en
el marco de una sociedad clasista como es la capitalista y, por tanto,
presidida por el conflicto de clases. En este sentido, la intencionalidad
del marxismo se presenta con toda nitidez: comprender las claves de los
problemas de la clase trabajadora, para contribuir con esta comprensi-
ón a su organización política independiente, cuya intervención permita
abrir una salida a dichos problemas. También es nítida la de los econo-
mistas burgueses: la defensa del des(orden) burgués. Sin embargo, a la
hora del análisis no hay simetría entre ambas posiciones, por los límites
infranqueables a los que se enfrenta en general la economía burguesa,

90 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


dada esa intencionalidad de defensa del capitalismo81. Para decirlo con
claridad: ni tiene ni podría tener interés alguno en comprender efectiva-
mente la explicación profunda de los problemas, que revela las contra-
dicciones crecientes del capitalismo. Sí en ocultarlos. Como decíamos al
principio, no mirar para no ver. Para el marxismo, por el contrario, no
hay nada que ocultar sino al revés: del conocimiento de la explicación
de los problemas sólo hay que ganar.
En definitiva, esto permite entender la opuesta aproximación a la
ciencia económica, al análisis de los problemas económicos desde el
método científico. El método marxista se inscribe en la mejor tradición
de la historia del pensamiento económico y, de hecho, supone su culmi-
nación. Como tal, se pone en el punto de mira, como explica de manera
certera Louis Gill:

El método marxista, culminación de la mejor tradición


del pensamiento económico, es contrario a los intereses de
la clase dominante y, por ello, siempre ha sido objeto del
rechazo de las instituciones de ella, del capital y sus pro-
pagandistas, adoptando este rechazo distintas formas: las
primeras obras publicadas de Marx fueron víctimas prime-
ro de una ‘conspiración de silencio’, al haber optado sus ad-
versarios por ignorar la nueva teoría antes que enfrentarse
a ella. Después fueron los ataques directos, las impugna-
ciones de la validez científica del marxismo. Siguieron los
diversos intentos de corrección de los ‘errores’ de Marx, de
‘renovación’ de la teoría marxista o de su reinterpretación
para conciliarla con la teoría ‘aprobada’, por el estableci-
miento de puentes con la teoría del crecimiento neoclásico,
por las aproximaciones con la teoría de Keynes, etc. Para
hacer la teoría marxista aceptable a los ojos de la ciencia
económica oficial, que la acogería entonces como una pie-
za constitutiva entre otras, era necesario desnaturalizar el
contenido, purgar la especificidad. Otros quisieron redu-

81 Son notables excepciones los economistas burgueses que reconocen la realidad más incómo-
da para ellos. Uno de ellos es la Schumpeter, quien, desde su condición de economista bur-
gués, reconoce que “¿Puede sobrevivir el capitalismo? No; no creo que pueda [...] ¿Puede fun-
cionar el socialismo? Por supuesto que puede [...]”; Schumpeter, Joseph (1942); Capitalismo,
socialismo, democracia, págs. 95 y 223; tomado de Guerrero (1996: 4).

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 91


cir el alcance de la teoría de Marx pretendiendo limitarla a
un estudio histórico, hoy caduco, del capitalismo del siglo
XIX. Así, situada en el museo, quedaría sin capacidad de
perjudicar (Gill, 1996: 19).

Anotada la esterilidad de las formulaciones de la economía burguesa


en sus distintas expresiones, queda la discusión acerca de la condición
de distintos enfoques que se reclaman de una perspectiva crítica o hete-
rodoxa. Acerca de este tema, sólo hacemos dos breves apuntes.
En primer lugar, sobre cómo fijar la línea de la heterodoxia. Guer-
rero (1997, capítulo 1) propone dos criterios: a) un pronóstico acerca
de la superación del capitalismo, del horizonte del socialismo; y b) una
teoría laboral del valor. Respecto al primero, ciertamente no se puede
caracterizar como crítico un enfoque que defienda la supervivencia del
capitalismo como vía para resolver los problemas, considerando lo que
revela inequívocamente la evidencia empírica. En cuanto al segundo,
efectivamente la teoría del valor trabajo es un parteaguas entre quienes
se conforman con las aproximaciones meramente superficiales y quie-
nes tratan de ir hasta el final, hasta las causas últimas de los problemas.
Pero para esto no es solamente una teoría del valor trabajo lo que se re-
quiere, sino la teoría del valor trabajo que recoja todo el contenido social
del proceso de producción, esto es, lo que Marx formula definiendo el
valor de una mercancía como el tiempo de trabajo socialmente necesa-
rio para su producción, de la que depende su precio, que es finalmente
refrendado -o no- a través de la validación social del trabajo privado que
contiene. Por eso, la mejor representación de la ley del valor trabajo se
encuentra en el método marxista que, por decirlo gráficamente, coloca
en el centro lo que efectivamente está en el centro: todo el contenido
social de los procesos sociales (por tautológico que pueda resultar, vale
la pena resaltarlo)82.

82 Dos ejemplos ilustran bien la necesidad de la ley del valor para comprender los fenómenos
de la sociedad capitalista: sin ella, no se podría explicar de forma cabal ni la discriminaci-
ón salarial de las asalariadas respecto a los asalariados (que obedece fundamentalmente a
la discriminación social que se hace respecto al tiempo de trabajo socialmente necesario
para sus respectivas reproducciones), ni la plétora de capital ficticio y su correspondiente

92 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Este contenido social marca la pauta del análisis. Por eso, Marx dis-
tingue por ejemplo entre trabajo productivo y trabajo improductivo,
sin ninguna connotación moral directa en esa distinción. Entendida de
acuerdo solamente al hecho de que para ser productivo en la economía
capitalista un trabajo, o no, debe ser trabajo comprado con capital con
el objetivo de obtener de él una plusvalía. Porque esto es lo relevante
desde el punto de vista de la comprensión de cuánta plusvalía se puede
obtener respecto al total del capital, i.e., de la rentabilidad media y, en
consecuencia, de sus implicaciones para la acumulación capitalista así
como, por extensión, para el desempeño de la economía mundial dado
que en ella domina el modo de producción capitalista, que subordina a
las demás relaciones de producción, las no capitalistas. Por eso, aunque
en la economía mundial hay ciertamente muchas divisiones entre la po-
blación (por razón de sexo, de edad, de nivel de desarrollo de cada país,
etc.), sólo una ocupa el lugar central para la reproducción social en la
forma que ésta toma hoy en el mundo, que es la capitalista: el conflicto
de clase. El conflicto que enfrenta, inconciliablemente, a asalariados y
capitalistas o, mejor dicho, a la clase trabajadora y la clase capitalista.
A la clase explotada y la clase explotadora, porque es el hecho que las
enfrenta, la explotación de la primera por parte de la segunda (explo-
tación cuyo contenido material es el trabajo no pagado), en el que se
asienta la dinámica de acumulación de la sociedad capitalista e insis-
timos, por extensión, la reproducción social hoy. El terreno científico
no es un terreno directo de denuncia, sino de explicación de las cau-
sas de los problemas, de detección y formulación de las leyes que rigen
una determinada dinámica, en este caso la del capitalismo. Ni que decir
tiene que la mayor parte de las mujeres son “doblemente explotadas”.
Ni que decir tiene que hay un pillaje masivo de los recursos naturales
que impiden su regeneración. Pero nada de ello se puede explicar aparte
de la dinámica del capitalismo, que se apoya en la subordinación de
la mayor parte de las mujeres, que se apoya en la destrucción de los

ganancia ficticia que aparecen por doquier (resultado de que sólo es ganancia real aquella
que está efectivamente verificada en su subyacente plusvalía).

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 93


recursos naturales, todo ello atendiendo a la lógica que le constituye
como tal, como capitalismo.
En segundo lugar, respecto al debate sobre los enfoques críticos,
hay un elemento conectado con esto último, alusivo a las propuestas
de conciliación de distintos enfoques, incluso formulado expresamente
como eclecticismo. Si por ello se entendiera simplemente lo que noso-
tros hemos recogido en torno a la noción de proceso acumulativo de
conocimiento, no sólo no habría ningún problema sino que, de hecho,
nos reclamamos de dicho proceso. Pero en la práctica, las formulaciones
que defienden el eclecticismo lo hacen de forma acorde a un contenido
acomodaticio de él, que defiende la posibilidad de combinar práctica-
mente todo tipo de teorías. Esto es muy delicado (Arrizabalo, 2014: 91-
93). Las teorías no son la mera suma de formulaciones, combinables con
otras a discreción. Si nos hemos detenido mucho en la ley del valor en
el apartado segundo es precisamente por esto. Por la necesidad de fijar
bien el “núcleo duro” de toda formulación teórica. Que no es combi-
nable con el de otras formulaciones teóricas. ¿Puede el marxismo enri-
quecerse de nuevos aportes? Desde luego que sí83. Pero el planteamiento
teórico formulado por Marx, incluso a pesar del carácter inacabado de
su presentación finalizada por Engels, completa en todo lo esencial la
explicación del funcionamiento de las economías capitalistas, de cual-
quier economía capitalista. Un método consistente lógicamente y com-
patible con los hechos. Y por tanto su núcleo duro, tal y como lo hemos
definido, basado en primer lugar en la ley del valor, no es “negociable”.
Se puede debatir acerca de cómo interpretar determinadas formulacio-
nes de Marx, pero hay planteamientos que simplemente son incompati-
bles con el marxismo, frontalmente incompatibles, como la pretensión
de saltarse la ley del valor o la ley del descenso tendencial de la tasa
de ganancia (Guerrero, 1996). Porque es precisamente su consistencia,
que se fundamenta en el recorrido teórico que va de la ley del valor a la
ley del descenso tendencial de la tasa de ganancia, lo que le constituye

83 Lamentablemente, aunque de forma coherente con los intereses burgueses, la inmensísima


mayor parte de los fondos dedicados a investigación no tienen por objetivo contribuir a
explicar los fenómenos de fondo sino a ocultarlos (Luxemburgo: 1916-17: 60).

94 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


en la culminación de la mejor tradición de la historia del pensamiento
económico, para la explicación de toda sociedad en la que domine el
modo de producción capitalista. Y, por tanto, para la explicación de las
crisis que no sólo forman parte de la acumulación capitalista de modo
inevitable, sino que cada vez presentan formas más agudas. Una suerte
de “crisis crónica” del capitalismo, expresión de la mencionada ley de
la tendencia descendente de la rentabilidad o, dicho de otro modo, del
carácter crecientemente contradictorio del capitalismo que señala sus
límites históricos. La barbarie a la que conduce su supervivencia y, por
tanto, al referencia al socialismo como etapa transitoria hacia el comu-
nismo no como un deseo, sino como una necesidad (Arrizabalo: 2018).

Bibliografía
ARRIZABALO, Xabier (2018); Enseñanzas de la Revolución Rusa: Inter-
pretación marxista de la experiencia soviética a través de sus textos, IME,
Madrid [en prensa].
_______. (2014); Capitalismo y economía mundial, IME-ARCIS-UdeC,
Madrid.
BOISGONTIER, Octave (1971); “Le croisé sans visage”, La Vérité (Revue
théorique de la IVe International), números 554-555, París.
DE BLAS, Jesús (1994); “La formación del ‘mecanismo económico estali-
nista’ (M.E.E.) en la antigua U.R.S.S. y su imposición en la Europa del Este;
el caso de Hungría (crisis de la concepción estalinista autárquica ‘versus’
proceso de integración en la economía capitalista mundial)”, Tesis docto-
ral, UCM, Madrid.
DEL ROSAL, Mario (2015); “El capitalismo sueco y los límites del socia-
lismo reformista. Una crítica Marxista del modelo Rehn-Meidner (1932-
1983)”, Tesis doctoral, UCM, Madrid.
ENGELS, Friedrich (1886-1888); Ludwig Feuerbach y el fin de la filosofía
clásica alemana, FCE, México, 1986 [En “Obras fundamentales de Marx y
Engels”, vol. 18, “Obras filosóficas”).
GILL, Louis (1996); Fundamentos y límites del capitalismo, Trotta, Madrid,
2002.
_______. (1989); Les limites du partenariat. Les expériences social-démo-
crates de gestion économique en Suède, en Allemagne, en Autriche et en
Norvège, Boréal, Montreal.

La Necesidad Del Marxismo para Comprender el Significado Histórico de la Crisis 95


GUERRERO, Diego (2006); La explotación. Trabajo y capital en España
(1954-2001), El Viejo Topo, Barcelona.
_______. (1996); “Un Marx imposible: el Marxismo sin teoría del valor”,
V Jornadas de Economía Crítica, Universidad de Santiago de Compostela,
mayo.
KLIMAN, Andrew (2011); The Failure of Capitalist Production (Underly-
ing Causes of the Great Recession, Plutopress, Nueva York.
LENIN, V.I. (1916); El imperialismo, fase superior del capitalismo, Progre-
so Moscú, 1976 [“Obras escogidas”, tomo V].
LUXEMBURGO, Rosa (1925); Introducción a la economía política, Siglo
XXI, 1972, Madrid.
MARX, Karl (1857-1858); Elementos fundamentales para la crítica de la
economía política [Grundrisse], Siglo XXI, México, 1971-1976, 3 vols. (pu-
blicados por primera vez en 1939).
_______. (1859); Contribución a la crítica de la economía política, Siglo
XXI, México, 1980.
_______. (1861-1863); Teorías sobre la plusvalía; FCE, México, 1980 (edi-
tado originalmente por Karl Kautsky en 1905-1910 y posteriormente en la
URSS en 1954, 1957 y 1961].
_______. (1867-1894); El capital (Crítica de la economía política), Siglo
XXI, Buenos Aires-Madrid-México, 1976-1981 (los dos últimos libros edi-
tados por Engels).
MURILLO, Javier (2015); “Análisis marxista del milagro económico es-
pañol (1994-2007): dinámica salarial e impacto sobre la estructura de pro-
piedad”, Tesis doctoral, UCM, Madrid.
RIAZANOV, David (2012); La vida y el pensamiento revolucionario de
Marx y Engels, Ocean Sur, Caracas.
ROSDOLSKY, Roman (1968); Génesis y estructura de El Capital de Marx
(Estudios sobre los Grundrisse), Siglo XXI, México, 1978.
RUBIN, Isaak Illich (1928, tercera edición); Ensayos sobre la teoría marxis-
ta del valor, Pasado y Presente, Buenos Aires, 1974.
TROSTKY, León (1928); “Las tendencias filosóficas del burocratismo”, en
www.ceipleontrotsky.org/Las-tendencias-filosoficas-del-burocratismo.

96 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Capítulo 4

A Crise do Capitalismo
Global 84

Francisco Luiz Corsi

Introdução
A crise do capitalismo global, latente desde 2007, irrompeu com a fa-
lência do banco Lehman Brothers em setembro do ano seguinte. Depois
de uma longa recessão em 2009, abriu uma fase de baixo crescimen-
to que se estende até os dias de hoje, apesar dos indícios de retomada
verificados em 2017 e das projeções otimistas de instituições globais,
dentre elas o FMI, que projeta um crescimento para a economia mun-
dial de 3,9% para 2018 (FMI, 2018). Esta crise, que foi a mais severa
desde a Grande Depressão dos anos de 1930, não pode ser analisada
como algo isolado, fruto de uma expansão excessiva e desregulada da
esfera financeira. Muitos autores creditam a crise a falta de regulação
dos mercados financeiros globais e, portanto, a sua superação exigiria a
retomada do controle dos fluxos internacionais de capital pelos Estados
nacionais85. O problema residiria sobretudo nas políticas neoliberais,
hegemônicas nas últimas décadas. Entretanto, o que precisa ser discu-
tido são as razões da expansão da esfera financeira, sustentada em um
crescente volume de capital fictício, e de seu predomínio na atual fase
do capitalismo.
A partir do referencial teórico marxista o capítulo tem por objetivo
discutir a crise do capitalismo global. O caráter do artigo é de notas

84 Trabalho Apresentado no Encontro Regional da ANPHU-SP em 2016.


85 Acerca dessa interpretação ver, entre outros, Mazzucchelli (2017).

A Crise do Capitalismo Global 97


exploratórias sobre tema tão controverso e complexo. O inchaço da es-
fera financeira marca o prelúdio da crise. A crise atual irrompeu com
o estouro da bolha imobiliária dos EUA, calcada em um gigantesco vo-
lume de capital fictício na forma de múltiplos tipos de títulos espalha-
dos pela economia mundial, cuja valorização na especulação se afastava
cada vez mais das condições de gerar valor na produção. O objetivo aqui
é discutir os processos subjacentes ao estouro da bolha a partir de uma
perspectiva histórica, o que implica discutir a dinâmica da acumulação
e as principais transformações na economia capitalista ocorridas depois
da crise estrutural dos anos de 1970.
Dessa forma, o capítulo esta dividido em três partes, além dessa in-
trodução. No próximo item, discutimos os desdobramentos da crise dos
anos de 1970 e a dinâmica do capitalismo entre o início dos anos de
1980 e 2003. Em seguida, abordamos a fase expansiva 2003-2007 e a
crise atual. Por último, tecemos algumas considerações finais.

A reconfiguração do capitalismo
O inchaço da esfera financeira em um contexto de crescente difi-
culdade de valorização do capital, sobretudo no centro do capitalismo,
começou a ganhar corpo na década de 1980. Este processo vinculava-se
a crise estrutural dos anos de 197086. Reagindo a crise, o capital, sob a
égide política e ideológica do neoliberalismo, reestruturou o modo de
produção com o objetivo recuperar a rentabilidade do capital e discipli-
nar a classe trabalhadora e a periferia. Deste complexo processo, cuja
análise fugiria aos limites desse capítulo, dois aspectos precisam ser

86 As principais causas da crise foram as seguintes: a queda da lucratividade, a crise do


sistema monetário internacional estabelecido em Bretton Woods, a crise energética, o es-
gotamento do padrão tecnológico, o esgotamento das formas de organização fordista do
processo de produção e o questionamento da hegemonia dos EUA após a sua derrota no
Vietnã, em um contexto de acirramento das lutas de classes em escala mundial. Ver a res-
peito: Mandel (1990), Harvey (1992) Hobsbawm (1995), Brenner (2003) e Roberts (2016).

98 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


ressaltados para os nossos propósitos: a hipertrofia da esfera financeira
e a formação de novos espaços de acumulação de capital na Ásia87.
A restruturação do capitalismo, no entanto, não conseguiu resol-
ver a contento o problema da valorização do capital decorrente da crise
dos anos de 1970, pois, segundo Brenner (2003) e Klaiman (2012), o
excesso de capital não teria sido destruído ou desvalorizado o bastante
para recompor as condições para a retomada vigorosa da acumulação.
O problema central residia na recomposição da taxa de lucro que vinha
caindo desde meados da década de 1960, apesar das taxas de lucro te-
rem se recuperado a partir da segunda metade dos anos de 1980, mas
sem retomar os patamares anteriores à crise. (Chesnais, 2005; Dumenil
e Levi, 2014; Maito, 2013)88.
Dessa maneira, os problemas de valorização do capital na produção
persistiram, em particular no centro do sistema, devido a baixa lucrati-
vidade, induzindo parcela crescente dos capitais buscar se valorizar na
esfera financeira89 e em novos espaços de acumulação na periferia, que
apresentavam taxas de lucro maiores. Ou seja, a queda da lucratividade

87 A restruturação do sistema baseou-se no seguinte: no paulatino desmonte do Estado de


Bem-Estar Social no centro do sistema; na abertura comercial das economias nacionais; na
desregulamentação dos mercados financeiros; na exacerbação do processo de centraliza-
ção de capitais, por meio de intenso processo de fusões, incorporações e aquisições de em-
presas em escala global, mas sobretudo no centro do sistema; na reestruturação produtiva,
que foi calcada na introdução da chamada acumulação flexível; na nova onda de inovações
tecnológicas, importante não só para o novo padrão de acumulação, mas também para
viabilizar a crescente interligação financeira e comercial, e na reconfiguração espacial da
acumulação de capital (Harvey, 1996; Brenner, 2006; Corsi, 2006; Chesnais, 2012).
88 Segundo Maito (2013, p. 155-157), a taxa de lucro, calculada a partir da ponderação do
peso na economia mundial dos 14 países que compõem a sua amostra, que em 1969 era
de 25,7% tendeu a cair até 1982, quando atingiu a cifra de 16,3%. A partir de 1983 a taxa
subiu de forma modesta até 1997 (20,3%), voltando a cair entre essa data e 2001, quando
foi de 17,9%. No ano seguinte, voltou a crescer, recuperando o patamar de 1997 em 2004
(20,6%). Em seguida, tendeu a cair, atingindo a cifra de 16,5% em 2010. Este autor também
apresenta dados indicando que a taxa de lucros foi sistematicamente maior na periferia
do que no centro do sistema. Nos anos de 1980 e 1990, a taxa média quinquenal de lucro
ponderada dos países centrais oscilou entre 11% e 14%, enquanto a dos países periféricos
permaneceu estável no patamar de 26,5% no mesmo período.
89 Segundo Chesnais (1998, p. 14-15; 2016), os estoques de ativos financeiros, entre 1980 e
1984, nos países que compõem a OCDE aumentaram 6% ao ano e os investimentos 2,3%.
Entre 1998 e 2007, os ativos financeiros cresceram 296,5% no mundo.

A Crise do Capitalismo Global 99


levou a queda dos investimentos no centro do sistema90 e simultanea-
mente a expansão da esfera financeira. Paralelamente, o centro da acu-
mulação paulatinamente deslocou-se para o Leste asiático, enquanto
outras áreas da periferia entraram em uma fase de baixo crescimento. A
queda dos investimentos nos países desenvolvidos e seu incremento em
certas regiões da periferia acarretaram um crescimento muito desigual,
mas no conjunto a economia mundial apresentou um desempenho mo-
desto entre 1980 e 200391. Neste quadro de baixo crescimento, modestas
taxas de lucro e de expansão da capacidade produtiva em escala global,
sobretudo na Ásia, observa-se um acirramento da concorrência interca-
pitalista, que, além de também afetar negativamente os lucros, dificul-
tam a acumulação nas economias desenvolvidas que apresentam baixo
nível de competitividade.
Esse novo padrão de acumulação foi acompanhado pela proemi-
nência do capital financeiro. A forte expansão da esfera financeira
data dos anos 1980, embora este crescimento já pudesse ser observado
desde a década de 1960. Além de estimulada pela baixa taxa de lucro,
essa expansão foi também impulsionada pela abertura das economias
nacionais, pela desregulamentação financeira e pelo desenvolvimen-
to de novas tecnologias da informação. Também contribuiu para esse
desfecho a derrota política dos trabalhadores que abriu espaço para o
neoliberalismo.
Enfim, a queda da taxa de lucro, associada o domínio do capital fi-
nanceiro, tende a limitar o investimento92, o que por sua vez afeta nega-

90 A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no países da OCDE, em 1970, correspondia


27,5% do PIB. Estes números, em 2000, tinham caído para 23,93% e para 20,58% em 2010.
O caso do Japão é exemplar. Nestes anos, a FBCF no Japão foi respectivamente a seguinte:
40,91%; 27,30% e 21,29% (Banco Mundial, 2018).
91 Segundo Nayyar (2014, p. 110-112), o crescimento médio por ano do PIB mundial en-
tre 1951 e 1980 foi de 4,54%. Entre 1981 e 2000, foi de 3,38% e, entre 2001-2008, foi de
4,20%. Nestes mesmos períodos, os países em desenvolvimento da Ásia cresceram res-
pectivamente 5,08%, 5,77% e 7,26%; enquanto os desenvolvidos 4,30%, 2,73% e 1,90%. Na
América Latina, esses números foram respectivamente os seguintes: 5,31%, 2,25% e 3,52%,
e na África os seguintes: 4,33%; 2,44% e 5.01%.
92 O capital financeiro, segundo Chesnais (2005), sugaria capital da esfera produtiva para as
aplicações financeiras, dificultando dessa maneira a retomada mais vigorosa dos investi-
mentos, apesar das taxas de lucros terem se recuperado a partir de meados dos anos 1980,

100 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


tivamente a produção, o emprego e os salário. Não por acaso, o cresci-
mento passou a depender, em parte, do incremento do endividamento
das famílias, das empresas e do Estado93. Endividamento baseado em
títulos que sustentam o crescente volume de capital fictício. Este pro-
cesso levou o crescimento econômico, em boa medida, a depender, por
um lado, de bolhas especulativas e, de outro, dos novos espaços de acu-
mulação na Ásia, embora a dinâmica da acumulação dessa região fosse
fortemente condicionada pelos estímulos advindos do alto nível de con-
sumo do centro, sobretudo dos estímulos do excesso de consumo nor-
te-americanos, expresso nos seus déficits público e externo. Vejamos
esses processos mais de perto, pois isso é relevante para o entendimento
da dinâmica da acumulação.
A abertura de novos espaços de acumulação na Ásia, em especial na
China, foi importante para sustentar o crescimento da economia mun-
dial. Em um período de tempo relativamente curto, sobretudo a abertu-
ra chinesa colocou a disposição do capital imensos contingentes mão-
de-obra barata, qualificada e disciplinada, legislação ambiental mais
flexível, infraestrutura, subsídios fiscais e alta rentabilidade. No pro-
cesso de reconfiguração espacial do capitalismo, as grandes corpora-
ções, por meio de empresas organizadas em rede, estabeleceram cadeias
globais de produção e distribuição, incorporando inúmeras regiões
periféricas (Basualdo e Arceo, 2006). Contudo, as grandes corporações
e os Estados centrais continuam controlando o comércio, as finanças
e os elos de maior valor agregados das cadeias produtivas globais, as-
sim como a produção de tecnologia e as instituições multilaterais. Este

depois de tenderem a cair desde meados da década de 1960. Estaria aí a causa central do
lento crescimento. Através do controle acionário, a burguesia, que teria se tornado uma
classe rentista e que teria, portanto, passado a apresentar um comportamento patrimonia-
lista, imporia uma “forma radical do direito de propriedade” que submeteria as empresas
e os assalariados a lógica de rentabilidade do capital financeiro. A majoração dos dividen-
dos e juros exigida pelo capital portador de juros resultaria na redução dos lucros retidos
para financiar os investimentos e levaria a rejeição de projetos que não assegurassem as
taxas requeridas pelos acionistas. A tendência de redução dos investimentos levaria ao
desempenho sofrível de boa parte da economia mundial (Chesnais, 2005, p. 50-58)
93 Segundo Foster e Magdof (2009, p. 9), a dívida doméstica bruta total dos EUA, entre 1970 e
2007, cresceu de US$ 1,5 trilhão para US$ 47,7 trilhões, enquanto o PIB foi de US$ 1 trilhão
para US$ 13,8 trilhões.

A Crise do Capitalismo Global 101


controle é fundamental para a manutenção do seu predomínio, calca-
do na hegemonia política, militar, financeira, tecnológica e cultural
norte-americana.
Neste processo, alguns países asiáticos inseriram-se de forma dinâ-
mica na economia mundial ao passarem por acelerados processos de
industrialização. Entretanto, não parece possível creditar essas trans-
formações exclusivamente as determinações externas. Este resultado
também decorreu de determinações internas.94. A China tornou-se, em
poucos anos, a “fabrica do mundo” e ampliou consideravelmente sua
participação no mercado mundial. A partir da crise asiática de 1997
ela se tornou o centro da economia asiática, estendendo sua influência
na Ásia e em outras regiões periféricas, o que vem alterando a divisão
internacional do trabalho. Neste processo, a China tendeu a criar sua
própria periferia à medida que ela absorve grandes quantidades com-
modities para sustentar seu acelerado crescimento e, ao mesmo tempo,
expande seus investimentos nestas regiões (Corsi, 2011).
A China pouco a pouco se transformou em grande potência, não
podendo ser mais considerada um país periférico em desenvolvimen-
to. Porém, até o estouro da recente crise evitou assumir políticas de
confronto direto em relação aos EUA. Em parte, isto se deveu a certa
simbiose entre as economias do Leste asiático com a economia norte
-americana. O alto nível de consumo dos EUA vaza, em parte, para a
economia mundial e assim contribui para manter a demanda global
elevada através de crescentes déficits nas suas contas correntes. Por ou-
tro lado, os países superavitários financiam os déficits dos EUA, mas se
beneficiam dos estímulos provenientes da demanda norte-americana
e valorizam seus excedentes na forma de títulos do Tesouro dos EUA,
ao mesmo tempo em que contribuem para sustentar a especulação. A

94 Nestas breves notas não seria possível desenvolver esse ponto. Cabe apenas assinalar rapi-
damente que a ascensão do Leste asiático está vinculada aos projetos de desenvolvimento
voltados para as exportações de manufaturados, ao papel dos fluxos de tecnologia e ca-
pitais japoneses na região e a política externa dos EUA de contenção da URSS, que foi
fundamental para o desenvolvimento regional, em especial da Coréia do Sul, e para a rein-
serção chinesa na economia mundial (Medeiros, 2008). Esta trajetória difere das demais
regiões periféricas. Ver a respeito Corsi (2011).

102 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


China também absorve tecnologia e capitais norte-americanos. Contu-
do, os EUA continuam a ser a potência hegemônica, não obstante en-
fraquecidos, em virtude do peso de sua economia, do desenvolvimento
tecnológico em setores de ponta, do fato do dólar ser a moeda de circu-
lação e reserva internacional, do poder de suas finanças, da sua enorme
presença cultural e do seu poder militar (Belluzzo, 2009; Pinto e Gon-
çalves, 2015).
Concomitantemente, as bolhas especulativas formadas neste perío-
do também tiveram um papel importante no processo de crescimento
à medida que, além de ser fundamental para a valorização do capital
fictício, estimulavam a economia. Porém, a bolhas indicavam simulta-
neamente a fragilidade das bases da valorização do capital. Entre o final
da década de 1980 e a crise atual, o capitalismo viveu 9 crises precipita-
das pelo estouro de bolhas especulativas95, o que denota a intensificação
da instabilidade sistêmica na fase de mundialização do capital. Antes
de discutirmos a crise atual, devido a dimensão que adquiriram cabe
algumas observações acerca da crise asiática de 1997 e da crise da Nas-
daq de 2001.
Estas duas crises estão vinculadas diretamente a queda dos lucros.
O intenso crescimento da região asiática sustentava-se sobretudo em
vigoroso investimento no setor manufatureiro, o que elevou a compo-
sição orgânica e, portanto, o lucros caíram em um contexto de elevação
dos salários. Na Coréia do Sul, por exemplo, os lucros declinaram 75%
em 2006 e foram negativos no ano seguinte. O incremento da capaci-
dade produtiva em escala mundial acarretou uma queda dos preços dos
manufaturados, que caíram 2,6%, em 1996, e 7,3%, em 1997, pressio-
nando ainda mais os baixos lucros. O resultado foi o esmorecimento da
acumulação. Concomitantemente, o yen se desvalorizou, o que afetou
negativamente os países da região, cujas moedas estavam atreladas ao
dólar. Com a valorização do câmbio, estes países passaram a enfrentar
acirrada concorrência da China e do Japão, o que resultou em declínio

95 As crises foram as seguinte: a crise da bolsa nos EUA em 1987, a bolha especulativa com
imóveis no Japão em 1990 e 1991, a crise do México em 1994, a crise asiática em 1997, a
crise da Rússia em 1998, a crise do Brasil em 1999, a crise da Argentina em 2000, a crise da
NASDAQ em 2001e a crise imobiliária nos EUA em 2007-2008.

A Crise do Capitalismo Global 103


de suas exportações e deterioração das contas externas. Contudo, o flu-
xo de capitais para a região, sobretudo capitais voltados para a especula-
ção, se intensificou, sustentando os crescentes desequilíbrios na contas
externas e públicas e a desenfreada especulação. A crise irrompeu na
Tailândia em meados de 1997 quando este país não consegui sustentar
seus compromissos externos, desencadeando vigorosa fuga de capitais.
A crise rapidamente contaminou a região (Brenner, 2003; Corsi, 2006).
A crise da chamada nova economia nos EUA guarda certa seme-
lhança com a crise asiática. A elevação dos lucros até meados da década
de 1990 impulsionou a acumulação nos EUA. Também foram impor-
tantes a desvalorização da moeda até 1995, a queda da taxa de juros e o
crescimento dos salários abaixo da produtividade. Entretanto, a partir
de 1997 a taxa de lucro declinou devido a elevação da composição orgâ-
nica e ao aumento da capacidade produtiva global. Até 2000, a taxa de
lucro sofreu uma retração de 20%. Mas isso não deteve a especulação
com ações das empresas de alta tecnologia, que, pelo contrário, se in-
tensificou graças ao crédito abundante e a baixa taxa de juros, que tam-
bém permitiam as empresas financiarem vultosos investimentos e rolar
suas dívidas. Este processo resultou em crescente capacidade ociosa. Ao
mesmo tempo em que se observava um progressivo deslocamento dos
preços das ações em relação a lucratividade das empresas, que se tornou
insustentável a partir de determinado ponto. A bolha especulativa es-
tourou em 2001. A queda dos lucros, o excesso de capacidade produtiva
e o elevado endividamento deprimiram a acumulação no setor manufa-
tureiro, jogando a economia na recessão (Brenner, 2003; Roberts, 2016).
A crise atual tem que ser entendida dentro desse contexto.

O estouro da bolha imobiliária e a crise


As crises que ocorreram a periferia nos anos de 1980 e 1990 não se
tornaram sistêmicas. Mesmo as crises no centro do sistema desse pe-
ríodo também não desencadearam crises gerais96. Porém, não lograram

96 Estas crises não se tornaram sistêmicas devido às medidas de socorro, que impu-
seram severas perdas aos países em crise, e a política econômica dos EUA.

104 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


recompor a lucratividade do capital. Observa-se uma complexa situa-
ção na qual a esfera financeira se expandiu continuamente enquanto a
acumulação apresentou um comportamento pouco dinâmico, embora
muito desigual entre as diferentes regiões do mundo. Em 2001, quando
do estouro da bolha especulativa na NASDQ, no centro do sistema, pa-
recia que tinha sido disparado o gatilho de uma crise de largas propor-
ções. Entretanto, isso não aconteceu, pois a política econômica dos EUA
de ampliação do gasto público, de redução dos juros e de ampliação do
crédito evitou a contaminação da economia mundial e a recessão foi
relativamente curta (Brenner, 2006, p. 128-133).
Para enfrentar a recessão o Federal Reserve reduziu de forma acen-
tuada as taxas de juros de longo prazo, utilizadas nos financiamentos
hipotecários entre 2001 e 2003, mas a tendência de queda continuou até
2006. O mercado imobiliário, que já estava aquecido desde pelo menos o
final da década de 1990, foi fortemente impulsionado pela expansão do
crédito barato, em especial pela ampliação do chamado crédito subpri-
me. Formou-se assim uma grande bolha, cujos títulos que serviam de
garantia hipotecária e as suas diferentes formas de derivativos97 foram
negociados em escala global.
A recuperação da economia norte-americana baseou-se no crescen-
te endividamento das famílias, das empresas e do Estado e na bolha
imobiliária, pois o setor de construção civil possui inúmeros encadea-
mentos com outros setores e emprega grande número de trabalhadores
(Brenner, 2006). A elevação dos lucros a partir de 2001 estimulou a re-
tomada dos investimentos (Roberts, 2016b). À medida que a economia
crescia, os déficits comerciais dos EUA subiram e estimularam o cresci-
mento da economia mundial, em particular as do Leste asiático, desen-
cadeando a fase expansiva 2003-2007, que também se sustentou no ace-
lerado crescimento da economia chinesa, cujo peso na economia global
tinha sofrido um salto. Isto teve importante impacto sobre os países ex-
portadores de commodities, pois o crescimento chinês implicou em um
grande incremento da demanda de bens primários e seus preços dispa-
raram. A melhora dos termos de intercâmbio e os crescentes superávits

97 Ver a respeito Harvey (2011) e Chesnais (2012).

A Crise do Capitalismo Global 105


comerciais em inúmeros países periféricos, somada ao caudaloso fluxo
de capitais em direção a periferia, reduziu a vulnerabilidade externa
desses países, permitindo que muitos deles adotassem políticas econô-
micas expansivas, voltadas para o crescimento de seus mercados inter-
nos, e medidas distributivistas da renda. Neste período, o crescimento
foi generalizado e a economia mundial cresceu em média 4,7% (Bren-
ner, 2006; Belluzzo, 2009; Harvey, 2011; Pinto e Gonçalves, 2015).
O auge do crescimento e da especulação, em 2006 e 2007, marcou
também o aparecimento de problemas que colocariam em questão a
própria expansão. Segundo Maito (2013), a taxa de lucro global atin-
giu o pico nestes anos, o patamer de 21%, e depois caiu para 17,9% em
2009. No que se refere a economia norte-americana, cujo auge foi 2006,
os problemas se avolumaram depois do Federal Reserve (FED), visando
desinflar a bolha especulativa e deter as pressões inflacionárias, elevou,
naquele ano, as taxas de juros. Quase que simultaneamente, as taxas de
lucros das corporações não financeiras dos EUA começaram a declinar
em 2007, antes, portanto, da grande recessão (2009), atingindo 23%, em
2008, sendo que em 2006 no auge da expansão tinham alcançado a ci-
fra de 29% (Roberts, 2016b)98. O declínio da taxa de lucro se refletiu na
acumulação. A taxa de investimento caiu de 22,85% do PIB, em 2006,
para 22,11%, em 2007 e para, 21%, em 2008, e 18,3% em 2010 (Banco
Mundial, 2018). Outro elemento importante consitiu no elevado endi-
vidamento. O período que antecede os estouros das bolhas é marcado
pela forte elevação do endividamento99.
A queda dos lucros e, por coseguinte, das taxas de investimento e a
elevação dos juros, em um contexto de elevado endividamento, foram
as causas de fundo da crise. A intensificação da inadimplência, que já
era elevada, a partir da elevação dos juros disparou a crise. A interrup-
ção do pagamento das hipótecas por parte de milhões de mutuários
comprometeu iremediavelmente a solvência dos títulos hipotécarios e
seus derivativos. O circuito de financiamento que sustentava o cres-
cimento do mercado imobiliário e a especulação que o acompanhava

98 Sobre o comportamento da taxa de lucro ver Kliman (2012) e Roberts (2016).


99 Ver a respeito Foster e Magdof (2009) e Roberts (2016).

106 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


estavam definitivamente comprometidos. Inúmeros bancos e fundos de
investimentos espalhados pelo mundo, que estavam com suas carteiras
carregadas de títulos de solvência duvidosa, ficaram em uma situação
de inadimplência em fins de 2007. O sistema financeiro mundial ficou
a beira do colapso. A existência de bolhas imobiliárias em alguns países
da Europa agravou a situação. A falência do Lehman Brothers explici-
tou a crise, que até então era latente. A liquidez do sistema desapareceu,
generalizando a crise para o sistema financeiro, para o comércio in-
ternacional e para a produção. O resultado foi a paralisia da economia
mundial, justamente em um momento em que o volume de capital fic-
tício era gigantesco. (Harvey, 2011, p. 9-12).
A elevação dos juros só conseguiu disparar a crise, muito prova-
velmente, em virtude de uma situação de fragilidade da acumulação,
marcada pela queda dos lucros e dos investimentos e de elevado endi-
vidamento, decorrente, em última instância, do próprio padrão de acu-
mulação estabelecido na fase de mundialização do capital. Em circuns-
tâncias estruturais distintas, a elevação dos juros poderia ser absorvida
sem maiores impactos. A crise se manifesta inicialmente como um pro-
blema financeiro, que muitos acreditam que poderia ser sanado com
medidas regulatórias adequadas, mas decorre de problemas estruturais,
derivados do contraditório processo de acumulação de capital.
A crise poderia ter adquirido proporções bem maiores se não fosse
a pronta ação estatal para salvar o capital financeiro100. A contraparti-
da dessas medidas foi a rápida deterioração da situação fiscal de vários
países, o que seria uma das causas do repique da crise em 2011, cujo
epicentro foi a zona do euro. Outra consequência foi a ampliação da
capacidade ociosa na economia mundial, o caso da China é exemplar.
Ao mesmo tempo em que absorvia os títulos podres, recuperando a car-
teira dos bancos, o Federal Reserve inundou a economia mundial com
dólares, política conhecida como quantitative easing, visando evitar

100 As principais ações neste sentido foram as seguintes: garantia dos depósitos bancários,
injeção bilhões de dólares na economia para salvar as grandes empresas e os bancos da
bancarrota e planos de investimentos, em especial em infraestrutura. Também cabe assi-
nalar que a periferia foi importante para o crescimento da economia mundial depois de
2010, em especial a região asiática, ao adotar políticas anticíclicas.

A Crise do Capitalismo Global 107


o estrangulamento da liquidez e, portanto, salvar o capital financeiro
e as grandes corporações e desvalorizar o dólar em uma situação de
acirramento da concorrência. Em pouco tempo, esta política também
seria adotada pelos bancos centrais europeu e japonês. Apesar dos juros
terem caído praticamente a zero as economias não se recuperaram e
persiste uma tendência de baixo crescimento acompanhada de baixa
inflação no centro do sistema101. Nos países centrais, isso se deveu as
baixas taxas de lucro, ao excesso de capacidade ociosa, as políticas de
austeridade fiscal, ao elevado endividamento e a queda do consumo,
decorrente do elevado desemprego, da queda dos salários e do corte de
direitos sociais. A extensa crise da zona do euro ilustra esse processo e
indica a gravidade da crise (Belluzzo, 2009; Chesnais, 2012)102.
A crise na Europa só não deteriorou mais a situação da economia
global graças sobretudo a manutenção do crescimento econômico na
China. Isto indica o deslocamento parcial do centro dinâmico da acu-
mulação para Ásia. Este processo é importante para o entendimento da
consolidação em curso de um mundo multipolar. Contudo, a desacele-
ração da economia chinesa significou uma nova fase da crise do capita-
lismo global. A rigor a China não entrou em recessão em nenhum mo-
mento, sofreu, entretanto, acentuada desaceleração em seu crescimento.
A crise global afetou a economia chinesa sobretudo por meio da queda

101 A economia norte-americana, por exemplo, apresentou reduzido crescimento, mesmo com
taxas de juros tendendo a zero e desvalorização do dólar. Entre 2008 e 2017, cresceu em mé-
dia ao ano 1,04%, enquanto no período 2003-2007 seu crescimento foi de 2,7%(FMI, 2017).
102 Depois de forte retração em 2009, a União Europeia parecia que retomaria o crescimento
no ano seguinte, mas mergulhou novamente na crise, devido aos profundos problemas
enfrentados pela Grécia em relação ao financiamento de sua dívida pública e de suas con-
tas externas A crise grega contaminou Portugal, Irlanda, Espanha e Itália, que tinham
problemas semelhantes. O risco de inadimplência por parte dos Estados foi o fulcro do re-
pique da crise. Diante de tal situação o Banco Central Europeu, os governos da França e da
Alemanha e os grandes bancos e fundos de investimento impuseram a austeridade como
estratégia de enfrentamento da crise, mas sem deixar de socorrer o capital financeiro em
dificuldade. A política contracionista, que penaliza sobretudo o trabalhador e não resolve
o problema fiscal, ao reduzir o consumo, a produção, o investimento e o emprego afeta
negativamente a acumulação, reforçando a contração da economia. A política adotada na
zona do euro para combater a crise não estava centrada no incremento do investimento e
do consumo, o que poderia ter estimulado acumulação e o emprego, mas sim em salvar o
capital financeiro. A política de austeridade fracassou.

108 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


das exportações, que tinham sido um dos principais motores de seu
crescimento. Dessa forma, evidenciou a vulnerabilidade da estratégia
de desenvolvimento centrada nas exportações, o que levou o governo
chinês a redirecionar seu projeto, priorizando políticas voltadas para o
mercado interno, visando torna-lo o eixo dinâmico da economia.
Apesar da queda da taxa de lucro, que, segundo Maito (2013), caiu
de 32%, em 2008, para cerca de 18% em 2010, a China, cujo governo
controla as variáveis chave da economia, evitou a recessão ao adotar
ambicioso programa de investimentos103, ao ampliar o crédito e ao im-
plementar medidas voltadas para expandir mercado interno, em espe-
cial o setor de serviços. Esta política, no curto prazo, neutralizou a crise,
tanto é que o PIB cresceu 10,4% em 2010. Este desempenho contribuiu
para amenizar a crise mundial. Porém, no médio prazo, essas medidas
resultaram no incremento da capacidade ociosa em vários setores (si-
derúrgico, cimento, eletrônico, construção civil etc.), inibindo a acu-
mulação104 e deteriorando a situação financeira das empresas. O eleva-
do endividamento das empresas atingiu negativamente os bancos e os
preços das ações, que apresentaram fortes quedas em 2015 na China.
O crédito farto levou ao endividamento generalizado das empresas e
das instituições financeiras, deixando muitas delas em situação difícil
(Aglieta, 2015).
Todavia, o projeto de transformar o mercado interno no centro da
economia chinesa tem enfrentado obstáculos internos e é um processo

103 A taxa de investimento da China subiu de 37%, em 1997 para 48%, em 2012, e situa-se hoje
ao redor 45% do PIB. Enquanto isso, a participação do consumo declinou de 45% para 36%
do PIB neste mesmo período. Porém, cresceu a partir dessa data, sendo que, em 2014, para
um incremento de 7,3% do PIB, o aumento do consumo contribuiu com 5,6%. Em 2014,
o setor de serviços representava 46,1% do PIB e a indústria 43,9%. Estes dados sugerem
que a transição para uma economia mais voltada para o mercado interno está em curso na
China (Aglieta, 2015).
104 De acordo com Aglieta (2015), em 2014, a utilização da capacidade produtiva foi de 71%
no setor siderúrgico, 70% nos setores de alumínio e cimento, 72% no setor de vidro e 76%
no automobilístico. A ocupação da capacidade produtiva deveria situar-se no patamar de
80% para que essas empresas mantivessem uma lucratividade considerada normal. Outro
problema reside na queda dos preços, que deteriora ainda mais a rentabilidade, afetando
negativamente a capacidade de pagar as dívidas e, por conseguinte, atinge o sistema ban-
cário. O nível de endividamento do setor não financeiro alcançou 220% do PIB.

A Crise do Capitalismo Global 109


demorado (Aglieta, 2015)105. As dificuldades de redirecionar a econo-
mia para o mercado interno e o baixo dinamismo da economia mundial
indicam que a economia chinesa tenderá a manter um crescimento ao
redor dos 6% ao ano106.
A desaceleração da China impactou negativamente o desempenho da
economia mundial. A agressiva política comercial chinesa e o excesso de
capacidade produtiva, em um quadro de queda da demanda agregada e
lucros baixos, acirrou a concorrência, o que pressionou negativamente
os lucros. Afetou os países centrais também em virtude da redução da
demanda por máquinas e equipamentos de alta tecnologia. Mas o efeito
mais importante parece ter sido sobre os exportadores de bens primá-
rios, pois a desaceleração chinesa resultou na queda da demanda e dos
preços dos minérios, metais, petróleo e alimentos, embora as reduções
dos preços das commodities também decorreram de outros fatores107.
Entretanto, a crise das economias periféricas não pode ser atribuída
apenas a desaceleração chinesa, que sem dúvida contribuiu para a que-
da dos termos de intercâmbio e para a deterioração das contas externas,
o que restringiu as margens de manobra para a manutenção de políticas
expansivas. Este processo tem que ser analisado no contexto de crise
global. O incremento da liquidez internacional, fruto das políticas mo-
netárias frouxas dos países do centro, acarretou um volumoso fluxo de
capitais para a periferia em busca de valorização na esfera especulativa
devido as elevadas taxas de juros em diversos países periféricos, o que,
somados aos superávits comerciais, induziu a valorização de suas moe-
das. O câmbio valorizado contribuiu para desindustrialização, acompa-
nhada de reprimarização das exportações, o caso do Brasil é exemplar.
Soma-se a isso outras determinações internas, que não é possível aqui
discutir. Essa situação indica que os países periféricos, que apostaram
na estratégia de crescimento calcado sobretudo nas exportações de

105 Desenvolver esse ponto ultrapassa os limites do capítulo. Ver a respeito Aglieta (2015) e
Corsi (2016).
106 Em 2015, o PIB chinês cresceu 6,9% depois de ter crescido nos três anos anteriores respec-
tivamente 7,4%, 7,7% e 7,8%. Em 2016, cresceu 6,7% e, em 2017, 6,9% (FMI, 2018).
107 Entre o início 2011 e outubro de 2015, os preços dos produtos agrícolas caíram 30%, o dos
metais 50% e do petróleo 57% (CEPAL,2016).

110 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


commodities, precisam repensar seus projetos de desenvolvimento ante
um quadro de baixo crescimento prolongado.
A estagnação da zona do euro e do Japão e o fraco desempenho da
economia norte-americana e de inúmeros países da periferia indicam
que a situação de baixo crescimento tenderá se arrastar, apesar da Chi-
na e de outros países, em particular alguns asiáticos, continuarem a
crescer a taxas consideráveis. O excesso de capital (constante e fictí-
cio) não foi ainda resolvido, apesar das consideráveis perdas observadas
desde o início da crise, e não se observa nítida recuperação dos lucros.
Portanto, as condições para a retomada vigorosa da acumulação não
parecem estar dadas. Os ensaios recentes de retomada do crescimento
mundial aparentemente têm fôlego curto em uma situação de elevado
endividamento e excesso de capital.

Considerações Finais
Para entendermos a crise de 2008 é preciso analisarmos o padrão de
acumulação estabelecido a partir da restruturação do capitalismo em
resposta a crise de superprodução da década de 1970. A restruturação
do modo de produção não foi capaz, contudo, de recuperar a rentabili-
dade do capital, não obstante os salários terem crescido abaixo da pro-
dutividade, a acelerada concentração da renda e a restruturação produ-
tiva, acompanha de uma nova onda de inovações tecnológicas.
As dificuldades de valorização do capital no centro do sistema des-
dobraram-se em dois processos. De um lado, formou novos espaços de
acumulação na periferia, sobretudo na Ásia. Espaços fortemente inte-
grados a economia global por meio das cadeias globais de produção, dos
fluxos comerciais e dos fluxos financeiros. Embora as grandes corpora-
ções e os Estados centrais controlem o comércio, as finanças, a produ-
ção tecnológica e os elos de maior valor agregado dessas cadeias, o eixo
da acumulação desloca-se gradativamente para China, sem, contudo,
colocar em cheque a hegemonia norte-americana, pelo menos no médio
prazo. De outro lado, aprofundou o inchaço da esfera financeira calcada
em um crescente volume de capital fictício, que depende da recorrente
formações de bolhas especulativas para se valorizar. Isto intensifica a

A Crise do Capitalismo Global 111


instabilidade sistêmica e tende a subordinar a economia mundial a sua
lógica de valorização. A crise aberta em 2007-2008, que se desdobrou
em uma fase de baixo crescimento, pela sua abrangência e profundi-
dade, pode por em cheque essa dinâmica, levando o capitalismo a se
reestruturar novamente. Seja como for, a baixa lucratividade, o excesso
de capital e o elevado endividamento persistem. Dessa forma, o baixo
crescimento tenderá a se arrastar.

Bibliografia
AGLIETA, MICHEL. O que escondem os sobressaltos financeiros na Chi-
na. Le Monde Diplomatique Brasil, out, 2015. http://www.diplomatique.
org.br/artigo.php?id=1955 Acesso em 13/06/2016.
ARRIGHI, GIOVANNI. Adam Smith em Pequim. São Paulo: Boitempo,
2008.
BANCO MUNDIAL. DATA. Disponível em: https://data.worldbank.org/
indicator, Acesso em: 14/10/2017.
BASUALDO, EDUARDO; ARCEO, ENRIQUE. Neoliberalismo y setores
dominantes. Tendencias globales y experiências nacionales. Buenos Aires:
CLACSO, 2006.
BELLUZZO, LUIZ G. M. Os antecedentes da tormenta. Origens da crise
global. São Paulo: UNESP, 2009.
BRENNER, ROBERT. O Boom e a bolha. Rio de Janeiro: Record, 2003
_______. Novo boom ou nova bolha? A trajetória da economia norte-
-americana. In: SADER, EMIR (org.). Contragolpes. São Paulo: Boitempo,
2006, pp. 90-120.
CEPAL. Blance Preliminar de las Economías de Amaérica Latina y Caribe.
Santiago: CEPAL, 2016.
CHESNAIS, FRANÇOIS (Org.). As finanças mundializadas. São Paulo:
Boitempo, 2005
_______. Dívidas impagáveis. Lisboa: Círculo, 2012.
_______. Finance capital today. Boston: Liden, 2016
CORSI, FRANCISCO L. Economia do capitalismo global: um balanço crí-
tico do período recente. In: ALVES, G. (org.). Trabalho e educação. Contra-
dição do capitalismo global. Maringá: Praxis, 2006.
_______. Crise e reconfiguração do capitalismo global: a ascensão do Les-
te asiático. In: PIRES, MARCOS (org). As relações entre China e América

112 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Latina num contexto de crise. Estratégia, intercâmbios e potencialidades.
São Paulo, LCTE, 2011.
_______. A crise de sobreacumulação aberta em 2007 em perspectiva his-
tórica. São Paulo: ANPUH, 2016. http://www.encontro2016.sp.anpuh.org/
resources/anais/48/1475253724_ARQUIVO_ArtigoANPUH2016FLCorsi.
pdf .Consultado em 15/04/2018.
DUMÉNIL, Gerard e LÉVY, Dominique. A crise do neoliberalismo. São
Paulo: Boitempo, 2014.
ENFU, Cheng e XAIOQIN, Ding. A Thetory of China’s “miracle”. Eight
principles of contenporay chinese political economy. Monthly Review,
New York, 2017. Disponível em: www.monthlyreveiw.org , Acesso em:
16/10/2017.
FMI. IMF Data . Disponível em: http://www.imf.org/en/data . Consultado
em; 01/03/2018.
FMI. World economic outlook. Washington, DC : International Monetary
Fund, 2018.
FOSTER, John e MAGDOFF, Fred. Financial implosion and stagnation.
Back to the real economy. Monthly Review, New York, Dez, 2008. Dispo-
nível em: www.monthlyreveiw.org Acesso em: 14/02/2009.
GAULARD, Mylene. Los limites del crescimento chino. Herramienta,
Buenos Aires 2010. Disponível em: htt://www.herramienta.com.ar-web-4/
los-limites-del-crecimiento-chino. Acesso em 19/10/2017.
_______. A crise do capitalismo chinês. Esquerda.net, 2016. Disponível
em: http://www.esquerda.net. Acesso em: 19/03/2018.
HARVEY, DAVID. A Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1996
_______. O Enigma do capital. São Paulo: Boitempo, 2011.
HOBSBAWM, ERIC. A era dos extremos. São Paulo: Cia. Das Letras, 1995.
KLIMAN, Andrew. The failure of capitalismo production. London: Pluto,
2012.
_______. A grande recessão e a teoria da crise de Marx. Outubro, São
Paulo, n. 24, 2 semestre, 2015. pp. 61-108.
MAITO, ESTEBAN. La transitoriedad histórica del capital. La tendência
descendente de la tasa de ganancia desde el siglo XIX. Razón y Revoución,
Buenos Aires, n. 26, 2013.
MANDEL, ERNEST. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril, 1982.
_______. A crise do capital. São Paulo: Ensaio, 1990.
MARX, KRAL. O Capital. São Paulo: Abril, 1985.

A Crise do Capitalismo Global 113


MAZZUCCHIELI, Frederico. As ideias e os fatos. São Paulo: UNESP, 2017.
MEDEIROS, CARLOS A Desenvolvimento econômico e ascensão nacio-
nal: rupturas e transição na Rússia e na China. In: FIORI, JOSÉ L. O mito
do colapso do poder americano. Rio de Janeiro: Record, 2008.
NAYYAR, Deepak. A corrida pelo crescimento. Países em desenvolvimen-
to na economia mundial. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.
PIKETTY, THOMAS. O capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca,
2014.
PINTO, EDUARDO C. ; CINTRA MARCOS A. M. América Latina e
China: limites econômicos e polítios do desenvolvimento. Rio de Janeiro:
UFRJ, 2015.
_______; GONÇALVES, REINALDO. Globalização e poder efetivo:
transformações globais sob efeito da ascensão chinesa. Economia e Socie-
dade, Campinas, v. 24, n. 2 (54), p. 449-479, ago. 2015.
ROBERTS, Michael. The long depression. Chicago: Haymarket Books,
2016.
_______. Debate sobre a taxa de lucro. Revista Olho da História, n. 24,
dez. 2016.
SHAIKH, Anwar. La primera gran depresión del siglo XXI. Revista Sin
Permiso, 2011. Disponível em: http://www.sinpermiso.info/sites/default/
files/textos//XXI.pdf. Acesso em: 17/10/2017.
SMITH, John. Il imperialismo nel XXI secolo. Disponível em: https://
www.sinistrainrete.info/ Acesso em: 04/06/2017.
VAROUFAKIS, Yanis. O minotauro global. São Paulo: Autonomia Literaia,
2016.

114 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Capitulo 5

O Duplo Neg ativo do Capital

Giovanni Alves

Em fins da década de 1980, depois de uma década de capitalismo


neoliberal em transição histórica para o capitalismo global, ocorreu
a retomada da lucratividade dos oligopólios industrias que comanda-
vam a economia mundial. Entretanto, o aumento da lucratividade ficou
abaixo do patamar ocorrido nos “trinta anos dourados” do capitalismo
fordista-keynesiano. Apesar da reestruturação produtiva do capital e
da reestruturação da economia capitalista nos países capitalistas cen-
trais, a crise estrutural de lucratividade persistia. Os lucros cresceram,
mas não num patamar capaz de incentivar o aumento do investimento
produtivo.
A superprodução da massa de capital-dinheiro fez com que a maior
parte fosse canalizado para a esfera das finanças. Apesar do aumen-
to da taxa de exploração, por conta do impulso à precarização estru-
tural do trabalho, traço constitutivo do capitalismo global, persistia a
pressão exercida pelo aumento da composição orgânica do capital, im-
pulsionada por duas importantes revoluções tecnológicas no limiar da
IV Revolução Industrial: a (1) revolução informática e a (2) revolução
informacional.
Desde o pós-guerra (1945), o capitalismo tardio, por conta do au-
mento da concorrência no mercado mundial, incrementou inovações
tecnológicas e organizacionais, impulsionando na esfera produtiva, o
aumento do investimento em capital constante em detrimento do in-
vestimento em capital variável, levando ao aumento da composição
orgânica do capital. A Terceira Revolução Industrial, salientada por
Ernst Mandel no seu livro clássico “O capitalismo tardio”, impulsionou,
após a recessão global de 1973-1975, um salto qualitativamente novo

O Duplo Negativo do Capital 115


de mudanças tecnológicas com efeitos significativos na base técnica
da produção de valor, e inclusive na esfera do trabalho concreto (por
exemplo, a maior presença do dito “trabalho imaterial” na composição
técnica do capital). Portanto, após a Segunda Guerra Mundial (1939-
1945) – e estamos tratando das economias capitalistas que constituem
o “centro orgânico” da produção do capital – ocorreu crescente pres-
são pela queda da taxa média de lucros por conta do notável progresso
técnico no setor oligopolista da economia e o aumento da composição
orgânica do capital.
O gráfico 1 nos mostra a perspectiva histórica da evolução da lucra-
tividade nos países capitalistas centrais desde 1855. É visivel a queda
histórica da lucratividade do capital cai desde 1945, o período do capi-
talismo tardio, embora tenha se estabilizado de 1946 a 1960. A partir de
1960, observamos novamente o movimento de queda da lucratividade,
aprofundada em 1973. Ela prossegue caindo até 1980. A partir daí, com
o capitalismo neoliberal, em transição para o capitalismo global, a taxa
de lucros se estabiliza num patamar rebaixado, tendo um leve cresci-
mento até 2000, quando cai devido a crise da Nasdaq (“new economy”).
Devido aos incentivos da política monetária do “Federal Reserve” nos
EUA para combater a crise de 2001, tivemos a recuperação da lucrativi-
dade do capital de 2002 a 2007, dando origem à bolha especulativa que,
ao estourar em 2007, provocou a queda abrupta da lucratividade para
um patamar mais rebaixado.

Gráfico 1
Taxa de lucratividade nos países capitalistas centrais (1855-2009)

“Anos dourados” do capitalismo Era do capitalismo


fordista-keynesiano neoliberal

Fonte: Roberts, 2016

116 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


No Gráfico 2, que nos apresenta também o movimento de queda
histórica da lucrativdade nos paises caítalistas centrais, percebemos
com mais detalhes, três notáveis inflexões de queda da taxa de lucros:
em 1946 (em relação à alta da lucratividade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945); em 1973 e em 2008. A dinâmica descen-
dente da taxa de lucros após a Segunda Guerra Mundial (1945) pode ser
explicada pela pressão estrutural do aumento da composição orgânica
do capital devido, em primeiro lugar, à expansão da Segunda Revolu-
ção Industrial no imediato pós-guerra; e, depois, o impulsionamento da
Terceira Revolução Industrial na década de 1970, a partir da qual ocor-
reram duas importantes revoluções tecnológicas (a revolução informáti-
ca e revolução informacional). Portanto, foi o notável progresso técnico
e o aumento da composição orgânica do capital que caracterizou o ca-
pitalismo tardio que explica, apesar dos movimentos contratendenciais,
a queda histórica da lucratividade.

Gráfico 2
Trajetória da Taxa de Lucro no Países Capitalistas Centrais (1870-2008)

Fonte: Duménil e Lévy (2014)

No interior da afirmação da tendência de queda da taxa média de


lucro constituiu-se, pelo menos desde o pós-Segunda Guera Mundial
(1945), movimentos contratendenciais à queda histórica da lucrativi-
dade. O capitalismo tardio é a forma histórica no interior da qual se

O Duplo Negativo do Capital 117


constituiu tais movimentos contratendenciais, tais como, no período
de 1945-1975, a expansão dos mercados capitalistas, o complexo indus-
trial-militar, a desvalorização do capital constante pela aceleração de
rotação do capital fixo e capital circulante; e a o Estado de Bem-Estar
Social que, via fundo público, desvalorizou o capital variável por meio
do salário indireto.
De 1946 a 1960, as economias capitalistas centrais tiveram um perí-
odo de expansão sustentável do capital, com a hegemonia norte-ameri-
cana no mercado mundial no interior do qual operavam os movimentos
contratendenciais. Entretanto, o movimento do capital é contraditório:
a concorencia capitalista afirmou no mercado mundial, a lei do valor,
com o aumento da cmposição orgânica do capital pressionando para
baixo a lucratividade:
Por um lado, os oligopólios industriais utilizaram-se do fundo pú-
blico como importante elemento contratendencial à queda da taxa de
lucratividade, enquanto os capitais competitivos, sem acesso ao fundo
público, recorreram à utilização do trabalho precário (no caso dos EUA,
negros e imigrantes)
Por outro lado, de modo contraditório, o fundo público foi utiliza-
do para financiar o progresso técnico via complexo industrial-militar,
contribuindo deste modo, para o aumento da composição orgânica do
capital.
Ao mesmo tempo, o Estado de Bem-Estar Social sedimentou no pla-
no da luta de classes, um novo patamar de enfrentamento social, que,
nas condições de tendencia historica de queda da lucratividade, tornou-
-se explosivo. Assim, apesar do Estado de Bem-Estar e a utilização do
fundo público terem operados como um importante elemento contra-
tendencial à queda da lucratividade na primeira etapa do capitalismo
tardio, sua constituição histórica (o compromisso fordista) desafiou a
“linha de menor resistência” do capital (Meszaros).
As contradições sociais do capitalismo fordista-keynesiano se mani-
festaram com vigor na década de 1960, quando a queda da lucrativida-
de começou a explicitar-se, principalmente na última metada dos anos
1960. As contingencias historicas da luta de classes impulsionraam o sis-
tema mundial do capitalismo a um novo patamar de desenvolvimento

118 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


com a recessão global de 1973-1975. Tivemos um complexo de reestru-
turação capitalista que articulou movimentos contratendenciais à crise
histórica de lucratividade (a reestruturação produtiva do capital com a
desvalorização do capital variável, a desvalorização “problemática” do
capital constante, a expansão dos mercados capitalistas) e, ao mesmo
tempo, o deslocamentos de contradições operados pelo Estado neoliberal
no interior da ordem do capital em sua fase de crise estrutural.
A financeirização da riqueza capitalista não é um movimento con-
tratendencial à crise estrutural de lucratividade do capital, mas sim,
um movimento de deslocamento de contradições operando a “linha de
menor resistência” do capital: ela desloca a luta de classes, no plano po-
lítica, para a luta contra frações rentistas-parasitárias, ao invés da luta
contra o modo de produção capitalista; além disso, o próprio capital
financeiro oculta o movimento de exploração, ressaltar como elemento
“essencial” do sistema, a espoliação financeira.
Entretanto, além do movimento de deslocamento de contradições
do capital, que não pode ser desprezado no plano da aparencia (e da
contingencia histórica) do sistema do capital, operou-se mudanças es-
truturais na composição do lucro capitalista, com a presença cada vez
mais decisiva, do “lucro fictício” derivado do movimento de fuga do
capital-dinheiro acumulado com o aumento da taxa de exploração,
para os mercados financeiros (Gomes, 2015). Vários autores salientam a
seu modo, o fenômeno da financeirizacao do capital como importante
elemento para explicar o movimento de crise do capitalismo global.
Com o capitalismo neoliberal, a “corrosão” do Estado de Bem-Estar
Social operou movimentos contratendenciais e operações de desloca-
mentos de contradições. Por exemplo, o capitalismo neoliberal compro-
meteu-se, por um lado, com politicas de desvalorização do capital va-
riável, respeitando a “linha de menor resistencia” do capital – assim, ao
invés de ampliar o salário indireto e elementos de Anti-valor na ordem
do capital, como ocorreu com o Estado de Bem-Estar Social (o com-
promisso político-histórico do Estado de Bem-Estar Social tornou-se
inadequado para o capital), o movimento do capital social total, dian-
te da crise estrutural de lucratividade, capturou o fundo público para
as politicas de precarização estrutural do trabalho, desvalorizando

O Duplo Negativo do Capital 119


efetivamente o capital variável (desemprego em massa, enfraquecimen-
to sindical e formas precárias de trabalho). Ao mesmo tempo, como
vimos acima, o capitalismo neoliberal operou mecanismos de desloca-
mentos de contradições com a utilização das finanças para enfrentar a
crise da forma-mercadoria.

Formas de operação do capital


(etapa histórica da crise estrutural do capital)

“linha de menor resistencia do capital”

movimentos contratendenciais
aumento da taxa de exploração
(mais-valia relativa + mais-valia absoluta)
novos mercados
desvalorização do capital constante
(novo imperialismo)
(complexo industrial-militar)

Estado neoliberal
Fundo Público

deslocamentos de contradições
financeirização do capital
acumulação por espoliação
barbarie social

Diante da crise estrutural de lucratividade e da crise estrutural do


capital, podemos discriminar dois modos de operações do capital como
“sujeito automático” do processo de valorização e modo estranhado de
controle do metabolismo social: (1) movimentos contratendenciais à
crise estrutural de lucratividade e os (2) deslocamentos de contradições
diante da crise estrutural do capital.
Os movimentos contratendenciais à queda da taxa de lucro operam
no plano do movimento de acumulação do capital produtivo e da pro-
dução de valor – no limite da crise do valor devido a sua desmedida.

120 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Podemos salientar, num primeiro lugar, o aumento da taxa de explo-
ração, que se utiliza de um complexo de mecanismos – sob o capitalis-
mo global destacamos a “fusão” entre mais-valia relativa e mais-valia
absoluta; a desvalorização do capital constante pelo taxa de utilização
decrescente do valor de uso, aceleração do progresso técnico, novo im-
perialismo com a predação de recursos estratégicos que compõem o
capital circulante; e depois, a abertura de novos mercados, impulsio-
nado pela concorrência, seja internamente (obsolescencia planejada)
ou externamente (globalização). Por exemplo, o complexo industrial-
-militar tornou-se elemento estrutural da dinâmica de desvalorização
do capital-mercadoria e inclusive, capital constante, na etapa de crise
estrutural de lucratividade.
Os movimentos de deslocamentos de contradições do capital, não
operam no plano da lei do valor, mas contribuem para a reprodução
do capital como sistema de metabolismo social. Destacamos acima, a
financeirização da riqueza capitalista como um importante movimento
de deslocamento de contradições no sentido que opera a crise da forma-
-mercadoria e oculta a produção do valor pelo “fetiche do capital-di-
nheiro”. Ao deslocar contradições, o capital não as suprime, mas, pelo
contrário, as eleva a um patamar superior. O processo civilizatório da
sociedade do emprego paga um alto preço à lógica da financeirização da
riqueza capitalista construida pelo capitalismo neoliberal.
O predomijio do capital financeiro realiza contingencialmente, a
afirmação do fetiche da mercadoria intrínseca ao próprio modo capi-
talista de produção da vida social. Ele se origina como fração do capital
do próprio desenvolvimento das contradições estruturais da acumula-
ção de valor. O Estado neoliberal, forma política do capital financei-
ro, ao pôr-se à serviço do capital financeiro, compõe-se politicamente
com mecanismos contratendencias à crise estrutural de lucratividade,
operando o aumento da taxa de exploração e o aumento do consumo
por meio de mecanismos bancários e financeiros (existe uma afinidade
sistêmica entre toyotismo como novo produtivismo e financerização da
riqueza capitalista).

O Duplo Negativo do Capital 121


Capital como contradição viva

No plano da essencia do sistema, a utilização da desvalorização


do capital variável como mecanismo contratendencial de maior
eficácia para reduzir a composição orgânica do capital, possuía
uma condição sine qua non: a desvalorização do capital constante
(capital fixo + capital circulante) deveria ocorrer numa velocidade
igual ou maior que a desvalorização do capital variável em termos
de valor (na equação abaixo, C é a composição orgânica do capital,
medida em termos de valor).

capital constante
C= ____________________ (em termos de valor)

capital variável

Mas, foi o que não ocorreu: apesar do impulsionamento das revo-


luções tecnológicas na nova etapa do capitalismo tardio em transição
histórica para o capitalismo global e o limiar da Quarta Revolução Tec-
nológica no começo do século XXI, o capital constante não conseguiu
se desvalorizar numa velocidade igual ou superior à desvalorização do
capital variável. O aumento histórico da composição orgânica do capital
pressionou para baixo a taxa média de lucro das corporações indus-
triais, ou pelo menos impediu que ela aumentasse apesar do crescimen-
to da taxa de exploração num patamar inédito do capitalismo tardio.
A título de hipóteses explicamos as dificuldades de desvalorização
do capital constante utilziando um argumento oriundo da lógica da
desmedida do valor (o que veremos logo adiante):
Na etapa de crise estrutural da lucratividade e crise estrutural do
capital, o movimento de desvalorização do capital constante tornou-
-se a variável decisiva no desenvolvimento contratendencial à queda da
taxa média de lucro. A “taxa de utilização decrescente” (Meszaros), ele-
mento da autoreproducao destrutiva do capital, precisa generalizar-se

122 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


pelos departamentos de meios de produção e não apenas pelo depar-
tamento de bens de consumo; eis a funcionalidade do complexo indus-
trial-militar (Andrew Kliman observou que foi a falta da “destruição
de capital” que impediu a retomada da taxa de lucratividade depois da
recessão global de 1973-1975) (Kliman, 2011).
A quase-inércia do movimento de desvalorização do capital cons-
tante, além das dificuldades do movimento de desvalorização do capi-
tal constante no departamento de meios de produção e da ausência da
destruição de capital, pode ser explicada pelo fenômeno da desmedida
do valor e pela natureza do progresso técnico, cada vez mais permeado
pelo trabalho imaterial, forma material de trabalho concreto mais recal-
citrante à operação do trabalho abstrato. Portanto, a profunda desva-
lorização do capital variável ocorrida nas décadas neoliberais (1980-...)
não foi suficiente para promover por si só, a retomada da lucrativida-
de com taxas iguais ou superiores àquela da era dourada do capita-
lismo fordista-keynesiano (1945-1975); e à altura das expectativas de
realização adequada à massa de capital-dinheiro acumulada na década
de 1980. Assim, foi necessário que a desvalorização do capital constante
ocorresse numa velocidade superior – o que não ocorreu.

A desmedida do valor
Enquanto Marx expõe pela ótica de “O Capital - Crítica da Economia
Política” (1867), o movimento contraditório da lei tendencial de queda
da taxa média de lucro, por outro lado, nos Grundrisse der Kritik der
politischen Ökonomie (em português: “Elementos fundamentais para a
crítica da economia política”, conhecido simplesmente como Grundris-
se) (1858), Marx salientou outra dimensão da maior presença do traba-
lho morto (capital fixo) sobre o trabalho vivo: a desmedida do valor. Ire-
mos considerar como movimento do dupla negativo da relação-capital,
por um lado, a tendência estrutural de queda da lucratividade, que ca-
racteriza o capitalismo global, tendo em vista o aumento da composição
orgânica do capital, que pressiona a taxa média de lucro das corporações
industriais; e por outro lado, o fenômeno da “desmedida de valor”, que
iremos descrever – de modo introdutório - logo abaixo.

O Duplo Negativo do Capital 123


O que interessa ressaltar no fenômeno da “desmedida do valor” é a
dimensão “prometeica” do sentido da desmedida – isto é, a explicitação
do capital como “contradição em processo”, que, ao mesmo tempo que
afirma a si próprio, cria as possibilidades concretas para a sua própria
negação como relação de valor e portanto, expõe as bases materiais da
emancipação humana.
O duplo negativo do capital é resultado do movimento do valor em
processo – a explicitação da lei tendencial da queda da taxa média de
lucro provocada pelo aumento histórico da composição orgânica do ca-
pital. Estamos diante de um fenômeno histórico que caracteriza o capi-
talismo monopolista do século XX e que decorre das leis da con-
corrência capitalista, mesmo na condição do capital monopolista. Na
ânsia de reduzir os custos de produção visando ocupar novos mercados,
nas condições históricas da crise crônica de superprodução/subconsu-
mo, a concorrência entre os múltiplos capitais, exacerbada no plano
do sistema global, faz as empresas reduzirem investimentos em capital
variável e aumentarem investimento em capital constante (apesar dos
movimentos contratendenciais à queda da lucratividade que percorre
o capitalismo do século XX – como vimos acima - impõe-se hoje, mais
do que nunca, a lógica historicamente concreta do aumento do trabalho
morto em detrimento do trabalho vivo - a mercadoria-força de trabalho,
única mercadoria capaz de produzir mais-valor).
Mas o aumento histórico da composição orgânica do capital, no sen-
tido de aumento do capital constante, principalmente do componente
do capital fixo (máquinas e equipamentos, por exemplo), expressa o
“salto mortal” do aumento da produtividade do trabalho decorrente do
desenvolvimento da grande indústria e hoje, com o capitalismo global,
da “pós-grande indústria”, que cria as bases materiais para a terceira
forma de produção do capital (a maquinofatura)108. O aumento da com-
posição orgânica do capital expressa o aumento das “forças produtivas
da sociedade” (Marx).

108 Desenvolvemos o conceito de maquinofatura em Alves (2013). Entendemos por maquino-


fatura, a terceira forma de produção do capital, depois da manufatura e grande indústria.

124 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Com o capitalismo global exacerbou-se efetivamente a principal
contradição do modo de produção capitalista, exposta por Karl Marx
em 1859 – portanto, há cerca de 160 anos! -, isto é, a contradição entre
as forças produtivas da sociedade e as relações de produção capitalista.
Diz Marx: “De formas evolutivas das forças produtivas, que eram, essas
relações convertem-se em seus entraves. Abre-se então, uma era de re-
volução social”.109
O fenômeno da “desmedida de valor” é resultado da caracterís-
tica essencial do capitalismo tardio, pois expressa o acumulo das mais
densas contradições do capital. Ela é a decorrência lógico-ontológica da
evolução do capital como “sujeito automático” da modernização históri-
ca. A explicação marxiana da desmedida do capital parte do princípio
de que, “quanto maior é a força produtiva do trabalho, menor é o tempo

109 Nesta passagem do “Prefácio” ao seu primeiro livro de crítica da economia po-
lítica - “Contribuição à Crítica da Economia Política”, de 1858, Karl Marx nos
deixa preciosos elementos metodológicos que iriam fundamentar o materialismo
histórico. Prossegue ele: “A transformação que se produziu na base económica
transtorna mais ou menos, lenta ou rapidamente, toda a colossal superestrutu-
ra. Quando se consideram tais transformações, convém distinguir, sempre, a
transformação material das condições económicas de produção — que podem
ser verificadas, fielmente, com a ajuda das ciências físicas e naturais — e as for-
mas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas
ideológicas, sob as quais os homens adquirem consciência desse conflito e o le-
vam até ao fim. Do mesmo modo que não se julga o indivíduo pela ideia que de
si mesmo faz, tampouco se pode julgar uma tal época de abalos pela consciência
que ela tem de si mesma. Ê preciso, ao contrário, explicar esta consciência pelas
contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas
sociais e as relações de produção. Uma sociedade jamais desaparece antes que
estejam desenvolvidas todas as forças produtivas que possa conter, e as relações de
produção novas e superiores não tomam jamais seu lugar antes que as condições
materiais de existência dessas relações tenham sido incubadas no próprio seio da
velha sociedade. É preciso, ao contrário, explicar esta consciência pelas contradi-
ções da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e
as relações de produção. Uma sociedade jamais desaparece antes que estejam de-
senvolvidas todas as forças produtivas que possa conter, e as relações de produção
novas e superiores não tomam jamais seu lugar antes que as condições materiais
de existência dessas relações tenham sido incubadas no próprio seio da velha so-
ciedade. Eis por que a humanidade não se propõe nunca senão os problemas que
ela pode resolver, pois, aprofundando a análise, ver-se-á, sempre, que o próprio
problema só se apresenta quando as condições materiais para resolvê-lo existem
ou estão em vias de existir.” (Marx, 1983).

O Duplo Negativo do Capital 125


de trabalho requerido para a produção de um artigo, menor a massa de
trabalho nele cristalizada e menor seu valor” (Marx, 1996).
Portanto, de acordo com a teoria do valor-trabalho de Marx, a gran-
deza de valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade
de trabalho que nela é realizada e na razão inversa da força produtiva
desse trabalho. Assim, a desmedida do valor possui como base material
a redução progressiva da grandeza de valor cristalizada numa merca-
doria por conta do aumento da força produtiva do trabalho. O “salto
mortal” da força produtiva do trabalho no capitalismo tardio alavancou
o fenômeno da desmedida do valor, produzindo o que denominamos de
expansão/negação do valor (Alves, 2018).
O capitalismo tardio se caracterizou, de modo inédito na história
humana, pela ocorrência de duas revoluções industriais em pouco mais
de cinquenta anos de desenvolvimento capitalista: a Terceira Revolução
Industrial e a Quarta Revolução Industrial. Elas promoveram signifi-
cativas mudanças tecnológicas que impulsionaram o aumento da força
produtiva do trabalho e a redução do tempo de trabalho necessário
para a produção das mercadorias com impactos decisivos na formação
do valor. Essa mutação orgânica da base técnica do sistema produtor
de mercadorias, o aumento do capital fixo na produção de valor e, por
conseguinte, a redução do capital variável, ou ainda a maior presença
do trabalho morto em detrimento da redução – em termos relativos,
mas não absolutos – do trabalho vivo na esfera de produção do valor,
teve impactos históricos na composição orgânica do capital, levando à
operação de movimentos contratendenciais à queda da taxa média de
lucros (o que verificamos com a crise do capitalismo tardio).
Deste modo, o primeiro elemento do fenomeno da “desmedida do
valor” é a redução do quantum de trabalho utilizado como fator decisi-
vo da produção de riqueza. Até a grande indústria, a massa de tempo de
trabalho, o quantum de trabalho vivo, é o elemento decisivo na produ-
ção da riqueza – o valor econômico. Com o fenomeno da desmedida do
valor, tempo de trabalho deixará de ser a “medida do movimento”. Diz
Marx nos Grundrisse:

126 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


“[...] Mas à medida em que a grande indústria se desenvol-
ve, a criação da riqueza efetiva se torna menos dependente
do tempo de trabalho e do quantum de trabalho utilizado,
do que da força dos agentes (Agentien, agentes materiais
- GA) que são postos em movimento durante o tempo de
trabalho (...)” (Marx, 2013)

Extraindo as consequencias lógico-dialéticas dos extratos escritos


por Marx nos “Grundrisse”, Ruy Fausto observa que, nesse caso, a “va-
lorização” não é mais a cristalização de um tempo posto. Ela se dá no
tempo, mas o tempo volta à sua imediatidade. Enfim, a “valorização” se
liberta do tempo de trabalho, mas com isto ela não será mais valoriza-
ção. E volta a citar Marx, prosseguindo a passagem acima:

“(,..) [agentes] os quais, eles próprios - sua poderosa efeti-


vidade [powerful effectiveness] por sua vez não tem mais
nenhuma relação com o tempo de trabalho imediato que
custa a sua produção, mas [a criação da riqueza efetiva,
R.F.] depende antes da situação geral da ciência, do pro-
gresso da tecnologia, ou da utilização da ciência na produ-
ção” (Marx, 2013).

O fenomeno da “desmedida do valor” representa uma possibilidade


concreta do desenvolvimento do capital no interior do modo de pro-
dução capitalista, que se põe como pressuposto negado nas condições
históricas do capitalismo tardio.
Enquanto, por um lado, o aumento da força produtiva do trabalho
conduz ao aumento da composição orgânica do capital, pressionando
historicamente a queda da taxa média de lucro e levando à crise estrutu-
ral da lucratividade; por outro lado, ela leva ao fenomeno da desmedida
do valor, último desenvolvimento da relação de valor, que se caracteriza
pela drástica redução do quantum de trabalho vivo, a massa de tempo
do trabalho, utilizado como fator decisivo da produção de riqueza.
O fenomeno da desmedida do valor não significa a “extinção” do
desenvovlimento da relação de valor – pelo contrário, ela representa a
última etapa de desenvolvimneto da relação-valor lastreada na relação-
-capital. Expõe-se dialeticamente o fenomeno do colapso/exacerbação

O Duplo Negativo do Capital 127


do valor como relação social (Alves, 2018). A miséria do presente (a exa-
cerbação das formas derivadas de valor) se contrasta com o movimento
da riqueza do possivel (o “colapso” da relação-valor) como possibilidade
concreta. Existe um candente conflito potencial entre o valor qualita-
tivo medido pelo tempo de trabalho, (trabalho abstrato cristalizado)
e o valor que passa a ser quantitativo, com a riquea efetiva não sendo
mais valor, mas “valor negado”. Ao se libertar do tempo de trabalho,
a “valorização” não será mais valorização. Diz Fausto: “Temos assim
um “poder” que escapa do tempo como medida” (vamos interrogar com
Marx: quais formas ideológicas no século XX sob as quais “os homens
adquirem consciência desse conflito e o levam até o fim”?).
Marx prossegue nos dizendo nos “Grundrisse”: “(...) a riqueza efetiva
se manifesta antes - e isto a grande indústria revela - numa despropor-
ção monstruosa entre o tempo de trabalho empregado e o seu produto,
assim como na desproporção qualitativa entre o trabalho reduzido a
uma pura abstração e o poder (Gewalt) do processo de produção que
que vigia” (Marx, 2013).
Nesse vislumbramento dialético das possibilidades concretas do últi-
mo desenvolvimento da relação-valor (maravilhosa especulação dialé-
tica!), Marx quis nos dizer que a riqueza efetiva não é mais proporcional
ao tempo de trabalho. Há entre a riqueza econômica e a riqueza efetiva
uma “desproporção qualitativa”. Diz Fausto: “Um elemento tem um
peso ‘maior’ do que o outro, sem que este ‘maior’ possa ser medido pelo
tempo, ou medido em geral. O processo de trabalho é agora essencial-
mente processo de produção” (Fausto, 1989). Eis o sentido do feomeno
da desmedida do valor.
A contradição em processo desvelada por Marx nos “Grundrisse”,
entre a produção do valor econômico (como movimento da aparência
do sistema que expressa um modo de ser da essencia – a acumulação de
capital); e a sua própria “negação” como possibilidade concreta, mani-
festa pela “desproporção qualitativa” entre “o trabalho reduzido a uma
pura abstração e o poder do processo de produção que vigia” conduz a
profundas implicações para o mundo social do trabalho vivo e para a
própria reprodução do capital. Não nos interessa tratar neste momento,
por exemplo, das mudanças inscritas na “maquinofatura” como nova

128 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


forma de produção do capital. Ela representa a última forma social da
produção do capital como produção do “valor negado”. O capital encon-
tra seus próprios limites: a relação-capital.
O “poder” que escapa do tempo como medida, altera a relação entre
tempo de trabalho-tempo de vida como tempo disponivel (valor huma-
no). Na maquinofatura, as novas máquinas capitalstas, expressões da
força produtiva da sociedade, contém a possibilidade concreta do ho-
mem se relacionar como guardião e regulador do próprio processo de
produção. Entretanto, a relação-capital cristalizada nas relações de pro-
dução capitalistas, como observou o velho Marx, entravam a manifes-
tação da riqueza efetiva.
Deste modo, a título meramente introdutório, apreendermos a na-
tureza da desmedida do valor como sendo a mudança qualitativamente
nova que altera – no plano das possibilidades concretas do sistema - a
medida do valor como fundamento do valor-trabalho. Com o fenomeno
da desmedida do valor, a “valorização” se liberta do tempo de trabalho
que deixará de ser a “medida do movimento” – com isto ela não será
mais valorização (o valor humano escapou do tempo como medida do
valor econômico).
Noutra passagem dos Grundrisse, Karl Marx, discutindo o capital
fixo e desenvolvimento das forças produtivas da sociedade, expressou,
de modo sintético, o que comentamos acima. Diz ele:
“Consequentemente, quanto mais desenvolvido o capital, quanto
mais trabalho excedente criou, tanto mais extraordinariamente tem de
desenvolver a força produtiva do trabalho para valorizar-se em propor-
ção ínfima, i.e., para agregar mais-valor - porque o seu limite continua
sendo a proporção entre a fração da jornada que expressa o trabalho
necessário e a jornada de trabalho total. O capital pode se mover
unicamente no interior dessas fronteiras. Quanto menor é a fração que
corresponde ao trabalho necessário, quanto maior o trabalho excedente,
tanto menos pode qualquer aumento da força produtiva reduzir
sensivelmente o trabalho necessário, uma vez que o denominador
cresceu enormemente. A autovalorização do capital devém mais difícil
à proporção que ele já está valorizado. O aumento das forças produtiva
deviria indiferente para o capital; inclusive a valorização, porque suas

O Duplo Negativo do Capital 129


proporções teriam se tornado mínimas; e o capital teria deixado de
ser capital. Se o trabalho necessário fosse 1/1000 e a força produtiva
triplicasse, o trabalho necessário só cairia 1/3000 ou o trabalho
excedente só teria crescido 2/3000. No entanto, isso não ocorre porque
cresceu o salário ou a participação do trabalho no produto, mas porque
o salário já caiu muito, considerado em relação ao produto do trabalho
ou à jornada de trabalho vivo. (O trabalho objetivado no trabalhador
manifesta-se aqui como fração de sua própria jornada de trabalho vivo,
pois essa fração é a mesma proporção que há entre o trabalho objetivado
que o trabalhador recebe do capital como salário e a sua jornada de
trabalho inteira)” (Marx, 2013).
Deste modo, Marx ressaltou que o capital se move no interior do
continuum de tempo da jornada de trabalho, tendo por um lado, a fra-
ção da jornada que expressa o [tempo de] trabalho necessário e, por
outro lado, a fração da jornada de trabalho total. Eis os dois elementos
cruciais para o movimento do capital como “sujeito automático” da au-
to-valorização do valor: (1) o tempo de trabalho socialmente necessário
para a produção de uma mercadoria e o (2) o tempo da jornada inteira
de trabalho.
Entretanto, com o aumento da força produtiva do trabalho por conta
de alterações na base técnica do sistema de exploração da força de traba-
lho, propiciado pelas revoluções industriais, ocorreu a redução do tem-
po de trabalho socialmente necessário para a produção das mercadorias.
As alterações na base técnica do sistema produtor de mercadorias
podem ocorrer, não apenas pela introdução de novas tecnologias de
produção – por exemplo, máquinas – mas também pela adoção de no-
vos métodos de organização do trabalho vivo (gestão) que contribuem
para administrar a intensificação do trabalho (o estresse da força física
e espiritual do trabalho vivo).
A redução do tempo de trabalho socialmente necessário provocou a
redução da massa de trabalho cristalizada nas mercadorias; e por con-
seguinte, reduziu seu valor. Ao mesmo tempo, ao reduzir-se o tempo de
trabalho necessário, mantendo o tempo da jornada inteira de trabalho,
ampliou-se o tempo de trabalho excedente ou tempo de trabalho não-
-pago (mais-valia relativa).

130 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


É a obsessão do capital extrair mais-valor nas condições históricas
da concorrencia capitalista, que faz com que o capital impulsione as ino-
vações tecnológicas capazes de reduzir o tempo de trabalho socialmente
necessário para a produção das mercadorias, mesmo mantendo o limite
político e histórico-moral da jornada de trabalho. Entretanto, como sa-
lientamos acima, o capital como “contradição viva”, ao reduzir o tem-
po de trabalho socialmente necessário e aumentar o tempo de trabalho
não-pago (ou o mais-valor relativo), provoca a redução do valor crista-
lizado nas mercadorias (a teoria do valor-trabalho afirma que o capital
constante não produz valor – ele apenas o transfere, sendo por isso que
Marx o denominou de capital constante. Só o capital variável é capaz de
produzir mais-valor).
Portanto, Marx expos a contradição radical do capital: quanto mais
incorpora máquinas na produção, mais ele precisa incorpora-las “para
valorizar-se em proporção ínfima”. Por conta da lei da concorrência
capitalista, existe quase uma pulsão recorrente para reduzir o tempo
de trabalho socialmente necessário e, por conseguinte, criar trabalho
excedente, ao mesmo tempo que, o movimento voraz do capital reduz a
base material da própria valorização do valor. Diz ele: “Quanto mais de-
senvolvido o capital, quanto mais trabalho excedente criou, tanto mais
extraordinariamente tem de desenvolver a força produtiva do trabalho
para valorizar-se em proporção ínfima. ”
Eis a tragédia do capital – diz Marx: “A autovalorização do capital
devém mais difícil à proporção que ele já está valorizado.” Nesse senti-
do, Marx vislumbrou a desmedida do valor como limite do capital auto-
valorizado contraditoriamente. Ele afirmaria logo a seguir: “O aumento
das forças produtiva deviria indiferente para o capital; inclusive a valo-
rização, porque suas proporções teriam se tornado mínimas; e o capital
teria deixado de ser capital.” (Marx, 2013). Assim, no limite, o aumento
da força produtiva torna-se incapaz de impulsionar a valorização do
capital, tornando-se indiferente para ele mesmo. Pelo contrário - diante
do aumento histórico da composição orgânica do capital, temos a crise
estrutural de lucratividade. Na medida em que o valor do produto-mer-
cadoria se reduziu a uma proporção ínfima de si, tendo em vista a redu-
ção exponencial do trabalho socialmente necessário para produzi-la, o

O Duplo Negativo do Capital 131


progresso técnico se descolou ou tornou-se indiferente para a autovalo-
rização do capital. Mesmo sendo indiferente a si, o desenvolvimento das
forças produtivas do capital prossegue irremediavelmente como uma
pulsão obsessiva do capital como processo em contradição, que opõe o
processo tecnológico à totalidade viva do trabalho.
Marx observou – e vale a pena repetir: “O aumento das forças pro-
dutiva deviria indiferente para o capital; inclusive a valorização, porque
suas proporções teriam se tornado mínimas; e o capital teria deixado de
ser capital.” [o grifo é nosso].
Portanto, a indiferença do processo tecnológico à valorização do
valor acusa a desmedida do valor provocada pelo aumento das forças
produtivas do capital e a redução quase-infinita do trabalho socialmente
necessário na produção das mercadorias. A transformação do processo
de produção do simples processo de trabalho em um processo científico
(Marx, 2013) ou processo de produção do capital, com o capital fixo
subsumindo o trabalho vivo, continha o para-si da “negação da nega-
ção” do capital como processo de valorização.

O “duplo negativo” do capital

Aumento da composição orgânica do capital


a pressão da “lei” tendencial de queda da taxa média de lucro
(mercado mundial)
A crise estrutural de lucratividade

Desmedida do valor
(“negação” do capital no interior do capitalismo)

Noutra passagem dos Grundrisse, Marx expõe a mesma lógica da


desmedida do valor, que faz com que, dialeticamente, o capital deixe
de ser capital no sentido do capital como processo de valorização do
valor propriamente dito, à mercê da crise estrutural de lucratividade. O
capitalismo tardio expõe o movimento do capital “afetado de negação”:

132 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


“Na mesma medida em que o tempo de trabalho – o simples quan-
tum de trabalho – é posto pelo capital como único elemento determi-
nante de valor, desaparece o trabalho imediato e sua quantidade como
o princípio determinante da produção – a criação de valores de uso –,
e é reduzido tanto quantitativamente a uma proporção insignificante,
quanto qualitativamente como um momento ainda indispensável, mas
subalterno frente ao trabalho científico geral, à aplicação tecnológica
das ciências naturais, de um lado, bem como [à] força produtiva geral
resultante da articulação social na produção total – que aparece como
dom natural do trabalho social (embora seja um produto histórico).
O capital trabalha, assim, pela sua própria dissolução como a forma
dominante da produção.”(Marx, 2013) [o grifo é nosso]
O movimento do capital na sua ânsia de substituir trabalho vivo por
trabalho morto, capital variável por capital fixo, faz “desaparecer” o pro-
cesso de trabalho e o trabalho imediato e sua quantidade como o princí-
pio determinante da produção. O processo de trabalho como processo
de valorização se interverte em processo científico – expressão de Marx
– ou processo tecnológico na medida em que o processo de produção do
capital torna-se processo de tecnologização da ciência aplicada à produ-
ção de mercadorias. O processo cientifico de produção de mercadorias
é um processo problemático para o modo de produção do capital, na
medida em que o tempo de trabalho, único elemento determinante de
valor, se reduz a uma “proporção insignificante”. Como diz ele, o traba-
lho é “um momento ainda indispensável, mas subalterno frente ao tra-
balho científico geral, à aplicação tecnológica das ciências naturais, de
um lado, bem como [à] força produtiva geral resultante da articulação
social na produção total – que aparece como dom natural do trabalho
social (embora seja um produto histórico). Não se trata de dispensar
absolutamente o trabalho vivo, mas torna-lo efetivamente subalterno
ao arcabouço tecnológico do capital, produto histórico da força social
de produção do capital social total.
Na medida em que o tempo de trabalho, único elemento determi-
nante de valor, “desaparece”, o capital deixa de ser capital ou, noutras
palavras, “o capital trabalha, assim, pela sua própria dissolução como
a forma dominante da produção” (Marx, 2013). Estamos na plenitude

O Duplo Negativo do Capital 133


da lógica dialética, com a desmedida de valor provocando o “desapare-
cimento” do tempo de trabalho como quantum ou medida da riqueza.
O movimento dialético do ser do capital, que existe somente no devir,
conduz da qualidade à quantidade e, logo após, à medida que, na lógi-
ca hegeliana, é “a verdade da qualidade e da quantidade, unidade na
qual toda mudança quantitativa indica simultaneamente uma mudança
qualitativa” (Hegel, 1995).
No plano material, ocorrem mudanças qualitativas no movimen-
to da essência do capital que fazem com que a indiferença da medida
chegue ao seu limite – “e, por sua transgressão através de um mais ou
um menos suplementar, as coisas deixem de ser o que eram. ” (Hegel,
1995). A lógica da dialética hegeliana expõe o “para além do capital” no
plano lógico-ontológico da essência do ser: “Essa determinação-progr-
essiva é, a um tempo, um pôr-para-fora [Heraussetzen] e portanto um
desdobrar-se do conceito em si essente; e, ao mesmo tempo, o adentrar-
-se em si [Insichgehen] do ser, um aprofundar-se do ser em si mesmo.”
(Hegel, 1995).

A “negação” do capitalismo no interior do próprio


capitalismo
O movimento do capital-que-deixa-de-ser-capital – no plano da
inadequação do conteúdo material - ou, noutras palavras, o movimen-
to do capital que trabalha pela sua própria dissolução como a forma
dominante da produção, é o movimento do capital no interior do seu
duplo negativo: crise estrutural de lucratividade e desmedida do valor.
Trata-se da “negação” do capitalismo no interior do capitalismo, como
capitalismo “negado” (Fausto, 1987).
Como observou Ruy Fausto, a contradição do capital que se assinala
aqui, com o fenômeno da desmedida do valor, não é a que se analisa em
“O Capital”, ou, se se quiser, ela não é considerada no mesmo grau, e por
isso muda de caráter. Diz ele:
“Em ‘O Capital’, a contradição consiste em que o desenvolvimento
do sistema (desenvolvimento que só pode se fazer pela substituição cres-
cente da força de trabalho pela maquinaria), ao aumentar a composição

134 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


orgânica c/v, tem como resultado, já que a mais-valia vem de v (e su-
postas certas condições), a redução da taxa de lucro Pl/C. O sistema
iria à ruina, porque a sua finalidade é acumular mais-valia, e se a taxa
de lucro for muito baixa cai o estímulo (objetivo e subjetivo) para que a
acumulação prossiga” (Fausto, 1989).
Entretanto, “Os ‘Grundrisse’ nos põem diante do mesmo movi-
mento, só que eles consideram não os efeitos formais imediatos de uma
mecanização crescente, mas os efeitos materiais anunciando revoluções
formais, de uma mecanização que deu origem a uma transfiguração
da relação da ciência para com a produção. Estamos, assim, diante de
uma verdadeira transformação - como vimos, o termo se encontra no
texto - do processo produtivo, de uma mutação tecnológica, e os efeitos
formais considerados não atingem apenas o nível, que é afinal, feno-
mênico, da taxa de lucro, mas os ‘fundamentos’ do sistema. A mutação
tecnológica não produz contradições internas no sistema, ela provoca
a explosão de suas bases. O resultado é a relação do que é a ‘verdadeira
riqueza’.” (Fausto, 1989).
Assim, no plano da materialidade histórica, o capitalismo global é o
capitalismo tardio na etapa de crise estrutural do capital que, no plano
do ser (e da sua essência) é um “capitalismo negado” no sentido de que
operam em seu interior a crise estrutural da lucratividade e a desmedi-
da do valor (o duplo negativo do capital).
O capitalismo global é a nova etapa do capitalismo tardio em que o
movimento das leis tendenciais da acumulação de capital operam no in-
terior da “negação” (ou suprassunção) de sua determinação-progressiva
(o tempo de trabalho como único elemento determinante de valor). A
lógica dialética do movimento do capital explicita-se radicalmente. Na
era da desmedida do valor, o movimento do capital “negado” significa,
por um lado, (1) um “pôr-para-fora” – diria Hegel: “um desdobra-se do
conceito em si essente” (Hegel, 1999), ou seja, um desdobrar-se do capi-
tal em seus elementos essenciais mesmo que opere no plano do “capital
que deixou de ser capital”. Apesar da desmedida de valor, o aumento da
composição orgânica do capital (em valor) põe para fora movimentos
contratendenciais históricos à queda da taxa média de lucros.

O Duplo Negativo do Capital 135


O complexo do “duplo negativo” do capital

“pôr-para-fora” [Heraussetzen] “adentrar-se em si” [Insichgehen]

Processo de produção do capital como “negação” do tempo de trabalho, ele-


processo tecnológico mento determinante do valor

Aumento da composição orgânica do A desmedida do valor e o movimento


capital e seus movimentos contraten- da negação [suprassunção] do capital
denciais à queda da taxa média de lucro como capital.

[Autocentramento Exótico]
Financeirização da riqueza capitalista

A “desparametrização” do conceito do capital em si, com seus ele-


mentos essenciais, medidos em termos de valor (por exemplo, composi-
ção orgânica do capital, jornada de trabalho, salário, etc), não significa
sua invalidação ontológica na determinação do devir da forma do ser
do capital. Pelo contrário, o “passar para outra” do capital mantém
operando, sob a forma exótica, o conceito em si essente do capital (isto
é, o capital em seus elementos essenciais). Por exemplo, consideramos a
financeirização da riqueza capitalista como uma forma exótica que des-
loca as contradições do sistema diante à crise estrutural de lucratividade
(o “pôr-para-fora” representa o ex-otismo do capitalismo global).
Por outro lado, na era da desmedida do valor, na perspectiva da lógi-
ca dialética, o movimento do capital “negado” significa (2) o “adentrar-
-se em si” do ser” – ou como diria Hegel, “um aprofundar-se do ser em
si mesmo” (Hegel, 1999), ou seja, o capital em sua etapa de crise estru-
tural, não é apenas ex-ótico, mas autocentrado em si mesmo como mo-
vimento de valorização do valor – hoje, “negado” – mas posto-para-fora
como capital fictício. A dominância do capital especulativo-parasitário

136 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


é a forma histórica do capital “aprofundado em si mesmo”, explicitando
na totalidade de ser suas determinações estranhadas.

Desmedida do Valor, Trabalho “Imaterial” e Trabalho


Abstrato
Com o capitalismo global, tendo em vista os novos territórios de pro-
dução do capital abertos com a deslocalização industrial, a nova divisão
internacional do trabalho e a mundialização produtiva, o trabaho vivo
como força de trabalho, fonte de mais-valor, cresceu, em termos absolutos,
aumentando exponencialmente, o capital variável na composição orgâni-
ca do capital e indiscutivelmente a massa de mais-valia no plano global
(por exemplo, a inserção do Sudeste Asiático, Leste Europeu, Rússia e
China no circuito de produção industrial do capital global).
Ao mesmo tempo, aumentou o capital constante - principalmente
seu componente de capital fixo (máquinas, edifícios, matéria-prima,
etc.). O capitalismo global impulsionou a concorrência capitalista
obrigando cada unidade de capital a tentar superar seu rival, introdu-
zindo meios de produção tecnologicamente mais avançados que lhes
permita reduzir os custos de produção. No plano da lógica do valor, as
corporações monopolistas eliminam setores atrasados que possuem uma
composição orgânica baixa com o objetivo de substituí-los por outros
com composição orgânica mais elevada - o que significa que, embora
tenha crescido em termos absolutos, o capital variável, o aumento do
capital constante foi maior, fazendo crescer a composição orgânica do
capital em termos relativos (o que explica a pressão histórica sobre a
taxa média de lucro). Assim, os oligopólios globais promoveram um
rápido crescimento dos investimentos em capital constante.
Apenas as grandes empresas têm a capacidade financeira de acelerar
o processo de obsolescência do capital fixo, acelerando, deste modo, a
taxa de rotação do capital constante. Nas condições das novas revolu-
ções tecnológicas do capitalismo global, o desenvolvimento das forças
produtivas do capital implicou investimentos diretos (e indiretos) cada
vez mais caros, visando reduzir o valor contido no trabalho morto por
conta do aumento da produtividade do trabalho no setor I (o setor de

O Duplo Negativo do Capital 137


bens de produção). A desvalorização do capital constante contribuiria
para a queda da composição orgânica do capital.
Entretanto, a natureza do novo capital constante (capital fixo + ca-
pital circulante), as novas máquinas complexas e os novos materiais,
que surgiram com as revoluções tecnológicas, permeados de trabalho
imaterial recalcitrante à medida do valor, “transfiguram” efetivamen-
te o cálculo da produtividade do trabalho no setor I, tendo em vista o
fenômeno da desmedida do valor, tornando mais lento, a redução do
valor contido no trabalho morto.
Portanto, apesar do aumento da aceleração da taxa de rotação do
capital constante por conta das inovações tecnológicas e obsolescência
planejada dos meios de produção, o descenso do valor das novas
máquinas e dos novos materiais (capital constante) tornou-se mais
lento do que o descenso do valor da força de trabalho (capital variável),
impedindo a queda mais acelerada da composição orgânica do capital
num cenário histórico de aumento persistente dela por conta da maior
presença do trabalho morto no arcabouço produtivo.
Por isso, acelerou-se a desvalorização da força de trabalho e do
trabalho vivo (o que explica a tendência histórica à precarização
estrutural do trabalho na era do capitalismo global com o crescimento
do desemprego em massa e a nova precariedade salarial). Ao mesmo
tempo, a queda do valor da força de trabalho (v) que ocorre por meio
da precarização estrutural do trabalho encontrou um limite histórico-
moral, dado pela luta de classes e a correlação de forças entre capital e
trabalho.
É importante salientar outra contradição que dilacera o movimento
contratendencial à queda da taxa média de lucro nas condições do capi-
talismo global: os limites do aumento da taxa de exploração são dados
não apenas pela luta de classes e a correlação de forças entre capital e
trabalho, mas também pelas condições histórico-morais de exploração
do trabalho vivo no capitalismo do século XXI.
Para que se possa deter efetivamente, em termos relativos, a ten-
dência de descenso da taxa média de lucro por conta do aumento da
composição orgânica do capital, a taxa de exploração deve aumentar
com maior rapidez que a composição orgânica do capital. Na verdade,

138 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


à medida que se eleva a composição orgânica do capital, a taxa de
lucro se torna progressivamente menos sensível a variações na taxa de
mais-valia.
Embora a precarização estrutural do trabalho seja condição
necessária para se contrapor às tendências criticas de formação (pro-
dução/realização) do valor, não é condição suficiente, tendo em vista
que se deve levar em consideração a elevação tendencial da composição
orgânica do capital nas condições históricas de profundas mudanças
técnicas na produção de mercadorias.
Nesse caso, a lenta redução do valor contido no trabalho morto (a
desvalorização do capital constante), opera o complexo de contradições
que impede a redução da composição orgânica do capital, tornando
inercial a tendência de queda da taxa média de lucro (o que explica a
financeirização da riqueza capitalista e o predomínio do lucro fictício
na composição da lucratividade capitalista).
No processo de acumulação do capital no plano do mercado global,
a vigência da determinação tendencial do aumento relativo da composi-
ção orgânica do capital em termos de valor, pressiona efetivamente para
baixo, a taxa média de lucro no plano do mercado global. Entretanto,
na dimensão do movimento histórico, é importante observar que, toda
determinação tendencial implica um complexo de contratendências
históricas que possuem a mesma legalidade ontológica da determinação
tendencial propriamente dita.
As tendências contrárias à queda da taxa média de lucros, como ob-
servou Manuel Castells, “não são meros fatores de demora dentro do
necessário e inexorável processo de destruição catastrófica da economia
capitalista” (Castells, 1979). Pelo contrário, as determinações tendenciais
ao aumento da composição orgânica do capital e ao descenso da taxa
média de lucro e suas contratendências históricas, compõem a “totali-
dade concreta” do capitalismo global, a nova etapa do capitalismo tardio
da crise estrutural do capital. A crise estrutural de lucratividade nas
condições históricas do capitalismo global, não significa objetivamente
o colapso do modo de produção capitalista, mas sim, a constituição
de uma nova dinâmica de desenvolvimento do capital: o capitalismo
global predominantemente financeirizado.

O Duplo Negativo do Capital 139


O fardo do capital
O movimento do capital compõe-se de determinações essenciais que
se articulam contraditoriamente com contratendências e elementos his-
tóricos contingenciais. Esta é a dialética da história humana. Estamos
diante da processualidade do real composto pela essência, aparência
e contingência histórica. A dialética histórico-materialista nos impede
de reduzir determinações essenciais a “leis” históricas inexoráveis que
agem de forma mecânica e determinística às costas dos sujeitos humano-
sociais. No movimento da dialética histórico-materialista, ao lado das
circunstâncias objetivas, legadas e transmitidas pelo passado no plano
da aparência, e das determinações essenciais das causalidades essen-
ciais dadas pela dinâmica da acumulação de capital, existem as con-
tingências históricas, verdadeiros “acidentes” intrínsecos ao curso geral
do desenvolvimento histórico. Como observou Marx a Kugelmann,
“a história mundial seria na verdade muito fácil de fazer-se se a luta
fosse empreendida apenas nas condições nas quais as possibilidades
fossem infalivelmente favoráveis. ” E prossegue: “Seria, por outro
lado, coisa muito mística se os “acidentes” não desempenhassem papel
algum. Esses acidentes mesmos caem naturalmente no curso geral do
desenvolvimento e são compensados outra vez por novos acidentes. Mas
a aceleração e a demora são muito dependentes de tais “acidentes”, que
incluem o “acidente” do caráter daqueles que de início ficam à frente do
movimento” (Marx, 1986).
Por exemplo, a (de)formação do sujeito histórico de classe por conta
do aumento do poder da manipulação do capital e da barbárie social é,
por um lado, elemento contingencial inscrito no movimento histórico-
-concreto do capitalismo global; e, por outro lado, no plano da aparência,
opera como “contratendência” histórica efetiva à crise de lucratividade
na medida em que, ao debilitar a capacidade do sujeito histórico de classe
pôr conscientemente obstáculos ao aumento da taxa de exploração, con-
tribui para a dominação do capital. Enquanto elemento contingencial que
opera no plano da aparência do sistema, não abole a vigência histórica da
determinação essencial, mas altera em seu modo do aparecer (a aparência
é uma forma de ser da essência), a efetividade da “lei” geral.

140 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


As duas dimensões do duplo negativo do capital - por um lado, (1)
crise estrutural de lucratividade/desmedida do valor; e por outro lado,
(2) a crise de formação (ou deformação) do sujeito histórico de classe,
como unidade contraditória do movimento do capital em sua fase de
crise estrutural, “alargam” a temporalidade histórica de crise de civili-
zação, constituindo o que podemos considerar o fardo do capital. Deste
modo, perpetua-se ad nauseam, a dominação do capital, que adquire na
etapa histórica da crise estrutural, a forma de barbárie social.
A barbárie social é expressão da corrosão das possibilidades
históricas de “negação da negação” pelo sujeito histórico de classe. O
alongamento da temporalidade histórica da crise estrutural do capi-
tal, como unidade contraditória do capital em processo, deve-se à exa-
cerbação da produção do valor - na medida em que ela é “negada”. A
exacerbação das formas derivadas de valor põe imensos desafios para a
formação da consciência de classe necessária, corroendo e debilitando a
capacidade histórica do movimento do proletariado como classe em-si
e para-si, em dar resposta efetiva, no plano histórico-mundial, às novas
condições objetivas da luta de classes no capitalismo global.
De forma sintética, apresentamos (como provocação heuristica) a
natureza contraditória do fardo do tempo histórico do capital:
Existem profundas transformações na materialidade concreta do
movimento histórico do valor e do trabalho abstrato. Por exemplo, por
um lado, mudanças estruturais no denominador da equação da com-
posição orgânica do capital (o capital variável), que devido o “salto
mortal” da produtividade do trabalho, decresceu em termos de valor,
implodindo seus parâmetros materiais: jornada de trabalho e forma-
-salário. Este é o fenomêno da “desmedida do valor”. A desvalorização
da força de trabalho como mercadoria tende a encontrar seus limites
intransponiveis na condição histórico-moral do capitalismo como pro-
cesso civilizatório e na própria luta de classes, abrindo uma profunda
crise de legitimação do Estado político do capital. Por outro lado, o nu-
merador da equação da composição orgânica do capital (o capital cons-
tante) incorpora, em si e para si, uma transfiguração da forma material
(trabalho imaterial desmedido) a partir do qual opera o trabalho abstra-
to, que provoca a quase-inércia de sua desvalorização.

O Duplo Negativo do Capital 141


Enquanto isso, no plano da aparência, nas condições históricas
da crise estrutural de lucratividade, o movimento da superprodução/
subconsumo “desanimam” o investimento produtivo, impulsionando
formas ficticias de valorização do capital, que contraditoriamente não
resolvem – mas, pelo contrário, agravam – as dimensões da crise estru-
tural da lucratividade. Assim, no interior do movimento de crise estru-
tural de lucratividade, existe um problema de realização que bloqueia a
reprodução do capital: “As condições macroeconómicas que determi-
nam o equilíbrio de forças entre capital e trabalho impedem a realiza-
ção de todo o ganho de capital produzido no mundo” (Chesnais, 2016)
Este movimento no plano da essencia e aparencia do desenvolvi-
mento da forma-valor, expandem a nova precariedade salarial e a pre-
carização das condições existenciais do trabalho vivo, com a degradação
da reprodução social e exacerbação da manipulação social. Entretanto,
a precarização das condições existenciais do trabalho vivo se apresenta
não apenas devido a captura do fundo público pelo capital financeiro,
mas pelo próprio sociometabolismo do capital que, com o capitalismo
global, expande o modo de vida “just-in time” e o fenomeno da “vida
reduzida” (eis a materialidade histórica da barbarie social!). Ao lado do
desenvolvimento exacerbado das forças produtivas do trabalho, ocorre
contraditoriamente a expansão silenciosa de carecimentos radicais do
trabalho vivo. A apropriação privada da riqueza humana socialmente
produzida e a manipulação extrema do self pessoal visando a proble-
mática reprodução da ordem burguesa senil configuram as misérias do
fardo histórico do capital.

Formas derivadas de valor e barbárie social


Na era do capitalismo manipulatório e com a vigência da “captura”
da subjetividade do trabalho, com a disseminação do espirito do toyo-
tismo e dos sonhos, expectativas de mercado e valores-fetiches do capital
(Alves, 2011), instaurou-se a crise de (de)formação do sujeito histórico
de classe. Este é um dos aspectos de degradação da pessoa humana-que-
-trabalha. A materialidade do salto histórico do estranhamento social
no século XXI deve-se à disseminação intensa e ampliada de formas

142 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


derivadas de valor na sociedade burguesa tardia, com o fetichismo da
mercadoria e as múltiplas formas de fetichismo social impregnando as
relações humano-sociais e colocando, deste modo, obstáculos efetivos à
formação da consciência de classe necessária e, portanto, à formação da
classe social do proletariado.
Em nossas reflexões críticas, temos distinguido formas constitutivas
e formas derivadas do valor. Na ótica da teoria da exploração de Karl
Marx, a categoria de “trabalho abstrato” é uma categoria pertinente ao
trabalho produtor de valor ou trabalho produtivo, sendo, deste modo,
a “forma constitutivas” do valor. É o trabalho abstrato que produz
valor, sendo assim, trabalho produtivo no sentido marxiano, elemento
constitutivo da forma-valor.
Entretanto, na medida em que se desenvolve o modo de produção
capitalista, a forma-valor se dissemina por instâncias da totalidade viva
do trabalho não-produtivo (ou improdutivo). Por exemplo, o trabalho
no comércio e inclusive, na administração pública são exemplos de
trabalhos improdutivos interiores e exteriores à produção do capital,
respectivamente. Nesse caso, “trabalho abstrato” e “exploração” (entre
aspas) aparecem como “formas derivadas” do valor nas instâncias do
trabalho “improdutivo” interior ou exterior à produção do capital. Tal
como o fetichismo da mercadoria se dissemina na totalidade social,
impregnando as relações sociais para além da troca de mercadorias, o
trabalho abstrato impregnou o labor social na esfera do trabalho impro-
dutivo. Enfim, a lógica do trabalho abstrato penetrou as mais amplas e
profundas instâncias da vida social.
Por exemplo, o fenômeno social da “vida reduzida” (Alves, 2014) é
resultado da disseminação das formas derivadas de valor por meio de
valores-fetiches operando as relações sociais. A “exploração” e o “estra-
nhamento” tornam-se elementos compositivos derivados das relações
sociais humanas intervertidas em relações sociais instrumentais. As for-
mas derivadas de valor são formas ideológicas do capital.
As “formas derivadas” do valor, no plano da produção do valor
propriamente dito, são formas fictícias, no sentido de que não contri-
buem efetivamente para a valorização do capital. Portanto, não operam
movimentos contratendenciais à crise estrutural de lucratividade, mas

O Duplo Negativo do Capital 143


apenas deslocam contradições no interior do sistema. Por isso, no plano
da reprodução social (e hegemonia) do capital e enquanto expressão do
capitalismo manipulatório e do poder da ideologia, contribuem para a
deformação do sujeito histórico de classe.
Na virada para o século XXI, a vigência plena da grande indústria,
com a predominância da mais-valia relativa, instaurou um campo am-
pliado, intenso e extenso de “contradições vivas” no interior do sistema
mundial produtor de mercadorias. Por exemplo, na medida em que a
categoria de “trabalho abstrato” adquiriu intensidade e amplitude no
interior do movimento do capital, ela disseminou-se, não apenas como
forma constitutiva do valor, mas também, e principalmente, como “forma
derivada” do valor. O salto histórico do trabalho abstrato expressa a con-
tradição viva do capital em sua etapa de crise estrutural, tendo em vista
que a lógica do valor, que constituiu a formação social capitalista, tornou-
-se “afetada de negação” no interior do movimento de sua afirmação ple-
na, transtornando, em si e para si, o sistema produtor de mercadoria.
A crítica da economia política se manifestou, no plano prático-
sensível, com a crise estrutural do capital (universal, global, extensa
e rastejante), expondo, na dimensão do valor, os limites da relação-
capital. Por exemplo, a afirmação da “ficticidade” do valor como ca-
pital especulativo-parasitário, é uma das representações materiais da
dominância das formas derivadas de valor na dinâmica do capital.
Existe um movimento dialético de desefetivação persistente do valor no
interior do movimento de afirmação plena (e contraditória) do valor
como modus operandi do metabolismo social do capital. Eis o sentido
espectral da “crise do valor” ou crise de valorização produtiva exposta
no bojo da crise estrutural do capital.

Crise Estrutural do Capital

Crise estrutural de lucratividade/desmedida do valor


(“duplo negativo” do capital)

Processo de (de)formação do sujeito histórico de classe


(dessubjetivação de classe)

144 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Entretanto, mesmo imbuído de “ficticidade”, o trabalho abstrato
que impregna o labor improdutivo na totalidade social, tem, no plano
da existência humana das individualidades pessoais de classe, a mesma
eficácia ontológica das formas constitutivas do valor. A distinção “for-
mas constitutivas do valor”, vinculadas às instâncias produtivas do ca-
pital; e “formas derivadas do valor”, compondo o trabalho improdutivo
(interior e exterior) à produção do capital, é uma distinção relevante
apenas para entendermos a dinâmica da acumulação do capital, sendo
irrelevante para aferirmos a dinâmica da vida social, a materialidade
efetiva da formação do sujeito histórico de classe e a luta de classe.
Por exemplo, o trabalhador público na era do capitalismo global,
está imerso naquilo que denominamos de “condição de proletariedade”;
e embora não produza valor, é “explorado” pelo capital e afetado pelo
trabalho abstrato como forma derivada de valor, sendo, portanto, capaz
de desenvolver, cum grano salis, a consciência de classe necessária, tanto
quanto o operário industrial, explorado e subsumido à lógica primordial
do trabalho abstrato produtor de valor. Deste modo, o capitalismo
global como capitalismo manipulatório nas condições da vigência plena
do fetichismo da mercadoria, expõe a contradição crucial entre, por um
lado, a universalização da condição de proletariedade e, por outro lado,
a obstaculização efetiva da consciência de classe de homens e mulheres
que vivem da venda de sua força de trabalho.

Referências
ALVES, Giovanni. A Condição de Proletariedade: A Precariedade do Tra-
balho no Capitalismo Global, Bauru, Editora Praxis, 2009.
_______________. Trabalho e Subjetividade: O Espírito do Toyotismo na
Era do Capitalismo Manipulatório, Boitempo Editorial, 2011.
_______________. Dimensões da Precarização do Trabalho: Ensaios de
Sociologia do Trabalho, Bauru, Projeto Editorial Praxis, 2013.
_______________. A Tragédia de Prometeu: A Degradação da Pessoa
Humana-Que-Trabalha na Era do Capitalismo Manipulatório, Bauru, Pro-
jeto Editorial Praxis, 2016.
_______________Trabalho e Neodesenvolvimentismo: Choque de Capi-
talismo e Nova degradação do Trabalho no Brasil, Bauru, Projeto Editorial

O Duplo Negativo do Capital 145


Praxis, 2014.
ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a Afirmação e
a Negação do Trabalho, Boitempo editorial, 1999
BRENNER, Robert. O Boom e a Bolha: Os Estados Unidos na Economia
Mundial, Rio de Janeiro, Editora Record, 2003.
BARAN, Paul A. e SWEEZY, Paul M. Monopoly Capital: Na Essay on the
American Economic and Social Order, New York, Modern Readers Paper-
backs, 1966
BARAN, Paul A. A Economia Política do Desenvolvimento Econômico, Rio
de Janeiro, Zahar Editores, 1960.
BLEANEY, Michael. Underconsumption Theories: A History and Critical
Analysis. New York, International Publishers, 1976
BEINSTEIN, Jorge. Capitalismo Senil: A Grande Crise da Economia Glob-
al, São Paulo, Record, 2001
CHESNAIS, François. A Mundialização do Capital, São Paulo, Xamã,
1996.
CULLENBERG, Stephen. The Falling Rate of Profit: Recasting the Marxian
Debate. Londn, Pluto Press, 1994.
CASTELLS, Manuel. A Teoria Marxista das Crises Econômicas e as Trans-
formações do Capitalismo. Rio de janeiro, Paz e Terra, 1979
CARCHEDI, Guglielmo. Behind the Crisis: Marx Dialetics of Value and
Knowledge, Haymarket Books, 2011.
DOWBOR, Ladislau. A Era do Capital Improdutivo: Dominação Financei-
ra, Sequestro da Democracia e Destruição do Planeta, São Paulo, Outras
Palavras & Autonomia Literária, 2017.
DUMÉNIL, Gérard e LÉVY, Dominique. A Crise do Neoliberalismo. São
Paulo, Boitempo editorial, 2014.
FAUSTO, Ruy. Marx: Lógica & Política: Investigações para uma Reconstitu-
ição do Sentido da Dialética, Tomo II. São Paulo, Brasiliense, 1987
_______. “A Pós-Grande Indústria nos Grundrisse (e para Além Deles)”
In: Revista Lua Nova, Novembro de 1989, No. 19, São Paulo, CEDEC.
GRESPAN, Jorge Luis da Silva. O Negativo do Capital: O conceito de crise
na Crítica de Marx à Economia Política, São Paulo, Editora Hucitec/Fa-
pesp, 1999.
GORZ, André. Misérias do Presente, Riqueza do Possivel. São Paulo, An-
nablume, 2004.
_______. Estratégia Operária e Neocapitalismo. Rio de Janeiro, Zahar
Editores, 1968

146 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


GUERRERO, Diego. Historia del Pensamiento Económico Heterodoxo,
Buenos Aires, EdicionesRyR, 2006
HARMAN, Chris. Zombie Capitalism: Global Crisis and the Relevance of
Marx, Chicago Haymarket Books, 2010.
HARVEY, David. O Novo Imperialismo, São Paulo, Edições Loyola, 2004.
_______. Condição Pós-Moderna: Uma Pesquisa sobre a Origem da Mu-
dança Cultural, São Paulo, Edições Loyola, 1992
_______. Os Limites do Capital, São Paulo, Boitempo Editorial, 2013
_______. 17 Contradições e o fim do Capitalismo. São Paulo, Botempo
Editorial, 2016
MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política, Livro I, Coleção Os
Economistas, São Paulo, Editora Nova Cultural, 1996.
_______. O Capital: Crítica da Economia Política, Livro III, São Paulo,
Boitempo editorial, 2017.
_______. Grundrisse: Manuscritos econômicos de 1857-1858, São Paulo,
Boitempo editorial/Editora UFRJ, 2011.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, Manifesto Comunista, São Paulo, Boi-
tempo editorial, 1998.
_______. A Ideologia Alemã (Feuerbach), São Paulo, Hucite, 1987.
MÉSZÁROS, István. Para Além do Capital: Rumo a uma Teoria da Tran-
sição, São Paulo, Boitempo Editorial, 2011.
_______. A Necessidade do Controle Social. São Paulo, Caderno Ensaio,
1987.
_______. A Teoria da Alienação em Marx, São Paulo, Boitempo editorial,
2016.
_______. A Crise Estrutural do Capital, São Paulo, Boitempo editorial,
2009.
MANDEL, Ernest. A Crise do Capital: Os fatos e sua Interpretação Marxis-
ta. São Paulo, Editora da Unicamp/Editora Ensaio, 1990.
_______. O Capitalismo Tardio. São Paulo, Coleção Os Economistas,
Abril Cultural, 1982
MONTORO, Xabier Arrizabalo. Capitalismo y Economia Mundial: Bas-
es Teóricas y Análisis Empirico para la Comprensión de los Problemas
Económicos del Siglo XXI, Madri, IME, 2016
MORAES, Antonio Carlos de Moraes. “Duas Teses sobre a Evolução do
Excedente no Capitalismo e Suas Implicações de Ordem Política”, Revista
Pesquisa&Debate, volume 15, no.2(26), São Paulo.

O Duplo Negativo do Capital 147


NICOLAUS, Martin. El Marx Desconecido, Barcelona, Editorial Anagra-
ma, 1972
O´CONNOR, James. USA: A Crise do Estado Capitalista. Rio de Janeiro,
Paz e Terra, 1977
PRADO, Eleutério. Desmedida do Valor: Crítica da Pós-Grande Indústria.
São Paulo, Xamã, 2005.
KLIMAN, Andrew. The Failure of Captalist Production: Underlying Caus-
es of the Great Recession. New York, Pluto Press, 2012.
LUKÁCS, Gyorgy. Para uma Ontologia do Ser Social II, São Paulo, Boitem-
po editorial, 2013.
LOJKINE, Jean. A Revolução Informacional, Cortez Editora, São Paulo,
1995.
ROBERTS, Michael. The Long Depression: How it Happened, Why it Hap-
pened and What Happens Next, Chicago, Haymarkets Books, 2016.
SHAIK, Anwar. Capitalism: Competition, Conflict, Crises. New York,
Oxfrod University Press, 2016.
_______. Valor, Acumulación y Crisis: Ensayos de Economía Política, Bue-
nos Aires, Ediciones RyR, 2006.
URRY, John. Anatomia das Sociedades Capitalistas: A Economia, a Socie-
dade Civil e o Estado. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1981

148 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS


Sobre os Autores

Adrián Sotelo Valencia


Sociólogo, professor-investigador do Centro de Estudios Latinoame-
ricanos (CELA) da Facultad de Ciencias Política y Sociales (FCPyS) da
Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM). E-Mail: adrian-
sotelo@politicas.unam.mx.

Francisco Luis Corsi


Professor de Economia Brasileira da Faculdade de Filosofia e Ciên-
cias (FFC) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Brasil. É um
dos líderes do Grupo de Pesquisa “Estudos da Globalização”. E-mail:
flcorsi@uol.com.br

Michael Roberts
Economista marxista de prestigio internacional, que trabalha há
mais de 30 anos no centro financeiro da cidade de Londres. É autor
do livro “The Great Recessão: A Marxist View” (2009) e “The Long
Depression: How it Happened, Why it Happened and What Happens
Next” (2016). Blog: https://thenextrecession.wordpress.com/

Giovanni Alves
Professor de Sociologia do Trabalho da Faculdade de Filosofia e Ci-
ências (FFC) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Brasil. É
coordenador-geral da RET (Rede de Estudos do Trabalho) e um dos
lideres do Grupo de Pesquisa “Estudos da Globalização”. Site: www.
giovannialves.org. E-mail: giovanni.alves@uol.com.br

Sobre os Autores 149


Xabier Arrizabalo Montoro
Professor da Universidad Complutense de Madrid (UCM) e do Ins-
tituto Marxista de Economía (IME), sendo director del Diploma de For-
mación Continua “Análisis crítico del capitalismo (El método marxista
y su aplicación al estudio de la economía mundial actual)”. E-mail: xar-
rizab@ucm.es

150 REDES SINDICAIS INTERNACIONAIS

Anda mungkin juga menyukai