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Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
FACULDADE DE CIÊNCIAS
UNIVERSIDADE DE LISBOA

Ano Lectivo 2007/08

PALEONTOLOGIA
Curso Teórico

1º Tema

Sumário
1. Fóssil. Etimologia e evolução do conceito.
Aplicação como substantivo e adjectivo.

2. Preservação de processos físicos e químicos (pseudofósseis).


- Impressões mecânicas ("groove casts");
- Marcas de chuva (“drop marks”);
- Marcas de ondulação ("ripple marks");
- Fendas de retracção ("mud cracks");
- Dendrites (percolação de fluidos mineralizados)

3. Fósseis como objectos geológicos.


Perspectiva histórica e principais mentores.

4. Paleontologia. Definição e âmbito.


Suas relações com a Geologia e a Neontologia.

1. Etimologia e evolução do conceito de Fóssil

A palavra Fóssil deriva do termo "fossilis" referido pela primeira vez por
PLÍNIO (séc. I a.C.). A sua raiz "fossus", particípio passado de "fodere" (i.e. cavar),
significa literalmente "o que se extrai cavando". É com este significado que é recu-
perado e utilizado, em 1546, pelo renascentista engenheiro de minas, alemão,
George BAUER (de pseudónimo AGRICOLA, 1494-1555), na sua obra "De Natura
Fossilium". Para este naturalista o termo incluía qualquer objecto extraído do solo,
quer fosse de origem animal, vegetal ou mineral. Curiosamente este conjunto
heterogéneo de objectos naturais tem vindo a permanecer associado até aos nossos
dias, por exemplo, em algumas publicações de divulgação científica como sejam
guias ou manuais do naturalista.

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Progressivamente, o conceito de fóssil, como entidade substantiva, foi sendo


despojado do seu conteúdo mineralógico de modo a apenas incluir todos os
vestígios identificáveis de estruturas somáticas de paleorganismos, ou traços e
marcas de actividade orgânica, preservados por processos geológicos. Nesta
definição incluem-se estruturas biomineralizadas ou de natureza orgânica e marcas
realizadas por paleorganismos, os quais sofreram acções diagenéticas mais ou
menos significativas e, eventualmente, acções metamórficas de baixo grau (p. ex.
xistos argilosos, xistos negros ou quartzitos). Assim, os fósseis são subdivididos em
dois tipos: somatofósseis – restos ou vestígios de estruturas somáticas, isto é, do
corpo de organismos pretéritos – e icnofósseis – marcas de actividade orgânica.
O factor tempo tem sido tradicionalmente incluído na definição de fóssil (p. ex.
“estruturas com mais de 1 Ma” ou “estruturas enterradas antes do início dos tempos
históricos”). Contudo, dado a velocidade com que se processam as acções
diagenéticas variar de local para local, dependendo de múltiplos factores
(nomeadamente do contexto litológico em que os restos orgânicos ficam inseridos; por exemplo,
existem restos ósseos de hominídeos intensamente mineralizados, em sedimentos de grutas,
enquanto que existem argilitos com várias dezenas ou centenas de milhões de anos contendo restos
de conchas que ainda conservam o seu brilho nacarado inicial e vestígios de cor), é impossível
estabelecer um limite temporal que distinga o que é, do que não é fóssil. Assim
sendo, designaremos como fósseis todas as estruturas ou marcas após
enterramento, por processos naturais, abaixo dos níveis sujeitos a remobilização
sinsedimentar e sujeitas a acções geológicas, por exemplo, diagenéticas. Esta capa
de remobilização pode ter espessura variável: mínima, em sedimentos vasosos de
lagos calmos e anóxicos, ou máxima, em sedimentos arenosos sujeitos à acção
hidrodinâmica de ondas e/ou correntes.
São excluídos da definição precedente os restos ou estruturas orgânicas, não
funcionais (p. exemplo: conchas, cascas de ovos, folhas, sementes, etc.) que,
embora apresentem potencial para fossilizar, estão actualmente a ser sujeitos às
acções dos agentes da geodinâmica externa, em transito do domínio da biosfera
para o da litosfera. Dado não terem sofrido, por isso, quaisquer acções diagenéticas
serão designados de subfósseis.
No âmbito deste curso serão igualmente excluídas estruturas de origem
biológica mas que não comportem elementos susceptiveis de permitir uma
identificação do seu produtor. Nestes casos aplicam-se expressões gerais como:
petróleo, carvão, bioclasto.
Como adjectivo, o termo fóssil, tem sido aplicado a outras entidades ou
objectos geológicos de algum modo preservados, no registo geológico, da erosão.
Neste contexto são frequentes as expressões: arriba fóssil, duna fóssil, vale fóssil (=

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paleovale), marcas de ondulação fósseis, etc. No entanto, estes não constituem,


directamente, objecto de estudo da Paleontologia.

2. Preservação de fenómenos físicos e químicos

Não estando associados a qualquer tipo de actividade orgânica


(pseudofósseis ou falsos fósseis), estas estruturas, contudo, reflectem a acção de
processos físicos que ocorrem à superfície do nosso planeta, auxiliando na
interpretação paleoambiental.

Marcas de arrasto ("groove casts") - correspondem a estruturas resultantes de


impressões mecânicas produzidas por transporte de corpos sólidos (por vezes
bioclastos) sobre um sedimento, por acção de correntes, cuja direcção e sentido
podem ser deduzidos de certas destas marcas;

Marcas de chuva (“drop marks”) - correspondem a impressões produzidas pelo impacto


de gotas de chuva num sedimento vasoso ou arenoso. Reflectem a existência de um
ambiente subaéreo ou, em sequências marinhas, de um ambiente médiolitoral sujeito
a emersão temporária.

Marcas de ondulação ("ripple marks") - são formadas por conjuntos alinhados de cristas,
simétricas ou assimétricas, produzidas, em sedimentos arenosos, pela acção de
correntes costeiras e movimentos oscilatórios das ondas.

Fendas de retracção ("mud cracks") - ocorrem quer em sedimentos argilosos quer em


vasas micríticas ou margosas. São constituídos por conjuntos de fendas poligonais,
irregulares, produzidas aquando da retracção do sedimento pela diminuição gradual
do seu teor de humidade, por evaporação.

Dendrites - também conhecidas por "falsos fósseis" ou pseudofósseis, são produzidas pela
percolação de soluções aquosas, ricas em certos componentes minerais (geralmente,
óxidos de Manganés tais como o Psilomelano e a Pirolusite), através de pequenas
fissuras das rochas. Em certos tipos litológicos de tom claro, a precipitação destes
componentes químicos, de tons negros, define um padrão ramificado (com uma
geometria que só há pouco tempo começou a ser descrita como fractal) que
vulgarmente é confundido com vegetais fósseis. São, contudo, destituídos de
quaisquer evidências de nervuras ou de outras estruturas de origem vegetal.

Dunas fósseis - a sua estrutura e laminação, preservadas por cimentação (muitas vezes à
custa do carbonato de cálcio de conchas contidas no sedimento arenoso) indicam a
direcção dos ventos predominantes, na altura da sua formação. Estas estruturas
dunares, bem desenvolvidas em certos troços do nosso litoral, em especial no litoral

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alentejano (Costa Vicentina), Cascais (duna consolidada de Oitavos) e em Porto Santo


são dos melhores vestígios da existência de uma importante actividade eólica
quaternária.

Arriba fóssil – Trata-se de um elemento geomorfológico que se exprime por uma arriba em
tempos talhada pela erosão marinha mas em que, na actualidade, o mar já não chega
ao seu sopé. Exemplo: Arriba fóssil da Costa da Caparica.

Neste contexto alargado de fossilização de processos físicos poder-se-iam


incluir, também, os paleovales abandonados como testemunho de outrora diferentes
condições climáticas. Exemplos são todo o sistema de paleovales que existe por
debaixo das areias do Saara ou o sistema de canais de Marte. Quer uns quer outros
testemunham a actividade erosiva da água no estado líquido.

3. Fósseis como objectos geológicos

Os fósseis são entidades geológicas pois estão inseridos em rochas,


geralmente sedimentares e, tal como estas, foram sujeitos a um conjunto mais ou
menos complexo de acções diagenéticas e, eventualmente, metamórficas (vide
TAFONOMIA). Para a correcta interpretação do conteúdo fóssil contribuem
igualmente estudos da textura e fácies (SEDIMENTOLOGIA) e da disposição
relativa (ESTRATIGRAFIA) das rochas sedimentares e/ou vulcano-sedimentares,
onde os fósseis se inserem. Por outro lado, certos estudos paleontológicos só são
possíveis após uma correcta interpretação da estrutura e arquitectura das rochas
(TECTÓNICA) especialmente se os fósseis ocorrem em rochas fracturadas e/ou
deformadas (p. ex: em rochas metamórficas do Paleozóico).
Pode-se pois dizer que a Geologia desenvolveu os métodos de interpretação
dos fósseis enquanto entidades inseridas num registo geológico do qual são, regra
geral, contemporâneos. Com a Paleontologia, a Geologia recebe as bases de uma
escala temporal relativa (BIOSTRATIGRAFIA), para a correlação de afloramentos e
sondagens. Recebe, igualmente, indicações importantes no sentido de uma melhor
interpretação do ambiente de formação das rochas sedimentares onde os fósseis se
inserem (PALEOECOLOGIA - Interpretação paleoambiental).

Perspectiva histórica do conhecimento sobre os fósseis

Desde os tempos recuados das Comunidades pré-históricas que os fósseis


marcam presença, nomeadamente, no interior de sepulturas. Poder-se-à especular
que as conchas de certos fósseis (Braquiópodes jurássicos) encontrados junto de

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despojos de "Homens de Neanderthal" constituiriam adornos ou amuletos, à


semelhança do que acontece com certas sociedades ditas "primitivas",
contemporâneas (índios americanos e aborígenes australianos).
Na Grécia antiga existiam duas Escolas de pensamento, antagónicas, que
atribuíam aos fósseis significados e origens distintos.
HERÓDOTO (484-420 a.C.) relatou os conhecimentos da Escola pitagórica
(PITÁGORAS e XENÓFANO de COLOFON, séc. VI a.C.) sobre a verdadeira
natureza dos fósseis, de origem marinha, recolhidos nas colinas de Paros (Ilha de
Malta). Em escritos como "As nove musas", aquele autor refere que os sacerdotes
egípcios acreditavam que o vale do Nilo, até à Etiópia, tinha estado, em tempos
remotos, coberto pelas águas do Mediterrâneo, dada a presença de fósseis de
conchas nas montanhas. Igualmente ESTRABÃO (morreu em 24 d.C.) na sua
"História da Geografia" apresenta a mesma noção da "Terra coberta pelo mar" pela
presença de fósseis em regiões interiores.
A Escola desenvolvida por ARISTÓTELES (384-322 a.C.) discípulo de
PLATÃO, centraliza a sua linha de raciocínio na geração espontânea. Para este
autor, os fósseis de peixes em rochas eram evidências de animais marinhos que
tinham nadado para fendas e fissuras e ali permaneceram. Estas ideias
influenciaram muitos pensadores ao longo de mais de 2000 anos. Para
TEOFRASTO (371-285 a.C.), discípulo da escola aristotélica, os fósseis eram
resultado directo da "vis plastica" (força criadora).
Na Época Romana saliente-se o interesse pelos fósseis, manifestado por
PLÍNIO, o Velho (séc. I d.C.), o qual está na origem da própria palavra (vêr
etimologia de Fóssil) e de outras, algumas das quais mantiveram-se até aos nossos
dias : Ammonites (semelhantes aos "cornos do deus Ammon") e Nummulites
(semelhantes a moedas).
OVÍDIO, no mesmo século, discípulo da escola pitagórica, retoma nas suas
"Metamorphoses" o conceito de que o "mar invadiu a terra firme", atendendo á
presença, nesta, de fósseis.
Durante a Idade Média (476 a 1480) os ensinamentos oficiais da escolástica
medieval regeram-se pelos ditames aristotélicos. Assim, para Alberto MAGNO
(1193-1280) e BOCÁCIO (1313-1375) a origem dos fósseis residia na “virtus
formativa” (qualidade formativa) à semelhança do que, anteriormente, AVICENA, um
médico árabe do séc. X, referia como “um lodo primitivo com capacidade criadora de
formas pétreas, sem vida”.
Esta linha de raciocínio deu origem ao Criacionismo que se manteve
arreigado durante toda a Época Renascentista e teve, como principais defensores,

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várias figuras importantes da época, cada um encontrando a sua própria expressão


para o acto de criação dos fósseis:

C. GESSNER (1565) - "lapides figurati" (figuras de pedra);


J.B. OLIVI (1584) - "lusus naturae" (jogos da natureza);
M. LISTER (1678) - "lapides sui generis"(pedras especiais);
LHWYD (1699) - "aura seminalis" (sopro de vida);
E. BETRAM (1766) - acreditava que a entidade divina tinha criado os fósseis como
pedras preciosas para manter a harmonia terrena;
C. RAUMER (1819) - o último dos defensores do Criacionismo argumentava que os
fósseis eram insucessos criativos da Natureza e que nunca
estiveram vivos.

Neste contexto é possível compreender a mistificação de que foi vítima o


professor alemão Johan BERINGER quando, em 1726, publica um volumoso livro
"Lithographie wirceburgensis" com grande número de "pedras figuradas" de formas
semelhantes a animais, plantas, astros, etc.. A sua convicção na "força plastica" da
criação dos fósseis foi, no entanto, seriamente abalada quando encontra, num
destes objectos, o seu nome gravado, em hebreu. Veio-se então a descobrir que
alunos seus, conhecedores da sua paixão pelos fósseis, escondiam as peças, que
eles próprios manufacturavam, nos locais onde ele costumava escavar.
Durante o Renascimento, a par de lendas e fábulas que associavam certos
esqueletos de vertebrados fósseis a seres mitológicos, como os dragões e os
unicórnios (Otto von GUERICKE, 1600-1686), Leonardo da VINCI (1452-1519),
cerca de dois mil anos após a divulgação dos pensamentos da Escola pitagórica,
demonstra que os fósseis de bivalves nos Apeninos da Itália do Norte, pertenceram
a “animais semelhantes aos que produziram as conchas apanhadas na praia”:

« Se se pensa que tais conchas são criadas, e continuam a ser criadas em semelhantes locais

[montanhas de Parma e Piacenza, em Itália] pela natureza do local e graça Divina (...) tal opinião é

impossível para o cérebro pensador porque os anos do seu crescimento podem ser contados nas
conchas [alusão às estrias de crescimento], e conchas grandes e pequenas podem ser observadas,

as quais não podiam ter crescido sem comida e não poderiam alimentar-se sem movimento e só
poderiam ter-se movimentado se tivessem pertencido a seres vivos »

Estes terão vivido, crescido e depositado no fundo de um mar, de modo


gradual, definindo "camadas regulares, e não misturados pelas águas do Dilúvio"
(argumento que utilizou mais tarde contra os apoiantes do Diluvionismo):

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« E se se pensa que foi o Dilúvio que transportou tais conchas centenas de quilómetros do mar, tal

não poderia ter acontecido porque o Dilúvio foi consequência da chuva, e a chuva naturalmente
escorre da terra para o mar (...), e não transporta objectos mortos das praias para as montanhas. E

se disser que as águas do Dilúvio subiram acima das montanhas, o movimento de subida do mar

contra o curso dos rios teria sido tão lento que não poderia ter transportado em suspensão nada
mais pesado do que a água »

Da VINCI interpretou correctamente o mecanismo de fossilização através do


qual, segundo Bernard PALISSY (1510-1589), "os fósseis de conchas, são
produzidos quando as ditas conchas são lançadas à terra e se nesta há algum
“germe salsitivo" (alusão à mineralização a que os fósseis são frequentemente
sujeitos).
B. PALISSY afirmou, igualmente, que a Amonite, embora com semelhanças
ao género actual Nautilus, é um "género perdido". A consciência da existência de
formas fósseis, actualmente extintas, abalou as convicções criacionistas; por seu
lado, o avanço do conhecimento das "ciências naturais", nos finais do
Renascimento, conduziu a que um cada vez maior número de investigadores
partidários do Criacionismo passassem a encarar os fósseis como restos orgânicos
genuínos. Deste modo, em concordância com os escritos bíblicos, os fósseis "só
poderiam ter pertencido a seres vivos vítimas do Dilúvio". O Diluvionismo, como
ficou a ser conhecido, foi lançado por uma figura importante para o avanço das
ciências geológicas, Nicolau STENO (1638-1686; médico dinamarquês da corte do
Grande Duque da Tuscania), pelo enunciado dos princípios da Estratigrafia. Steno,
ao identificar a correcta natureza das “línguas de pedra” (glossopetrae, antes tidas
como línguas petrificadas de serpente ou dragão) como dentes fósseis de tubarões,
rebateu a convicção de que todas as rochas foram formadas num acto único de
criação. As rochas que apresentavam tais fósseis foram formadas a partir de
sedimentos (“areia solta”).
Na linha de pensamento diluvionista, Johann SCHEUCHZER descreveu, na
sua publicação "Physica sacra" (1731-1735), restos ósseos fósseis, encontrados
numa pedreira do Miocénico da Suíça, como sendo de um "Homo tristis diluvii testis"
["Homem diluviano"; um século mais tarde, G. CUVIER classificou o achado como sendo
fragmentos do esqueleto de uma Salamandra (Andrias scheuchzeri) ]. William BUCKLAND
(1833), foi o último dos apoiantes desta corrente de pensamento.
Com o aprofundar dos conhecimentos estratigráficos (posicionamento
temporal, relativo, das sequências litológicas) foi-se tendo, gradualmente, a
percepção de que os fósseis não se extinguiram todos ao mesmo tempo. Neste
sentido, Robert HOOKE (1635-1703) defendeu existirem fósseis pertencentes a

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formas extintas e ocorrerem novas variedades que não existiam; Leclerc de


BUFFON (1707-1788) postulou a ocorrência de séries de catástrofes, cada uma das
quais aniquilou as formas existentes e deu origem ao desenvolvimento de novas
espécies. Estavam lançadas as bases do Catastrofismo. Georges CUVIER (1769) e
Luis AGASSIZ (1832) introduziram o conceito de "cataclismos geológicos" para
explicar as mudanças faunísticas e florísticas ao longo do registo estratigráfico. Para
G. CUVIER o repovoamento era obtido através de "migrações" das formas de uns
locais para outros.
O acumular gradual de provas sobre a longevidade da vida sobre o nosso
planeta, destruiu o "condicionalismo temporal" a que estavam sujeitos os
Catastrofistas [ James USSHER (1581-1656), Arcebispo anglicano estimou a data criação
do Mundo em 6 dias, no ano 4004 a.C. ] e abriu "espaço" para o florescimento de ideais
como o Transformismo de umas formas noutras, de Gotfried LEIBNITZ (1646-
1716), do Uniformitarismo ou princípio das causas actuais, de Charles LYELL
(1797-1875) e, por último, do Evolucionismo que teve como principais mentores
Jean Baptiste LAMARCK (1744-1829), Charles DARWIN (1809-1882) e Stephen
Jay GOULD (1941-2002).

4. Paleontologia. Definição e âmbito

A etimologia da palavra Paleontologia compõe-se de três raizes gregas:


palaiós (παλαιοσ) - antigo
ôntos (οντοσ) - o ser, o que é
lógos (λογοσ) - tratado, fundamento, razão.

Deste modo o seu âmbito, em sentido literal, pode ser expresso pela frase
"Estudo dos Seres Antigos". Como ciência, a Paleontologia engloba a análise
descritiva e interpretativa da vida, durante os períodos geológicos, através do estudo
dos fósseis.
O conceito de Paleontologia há muito estava presente no espírito de diversos
naturalistas. O naturalista suíço Konrad GESNER (1516-1565) instaurou pela
primeira vez os modos de procedimento no estudo dos fósseis como, por exemplo, a
necessidade de comunicar descrições e figuras em monografias e a necessidade em
se obterem colecções de comparação em museus. Por seu lado, o francês Georges
CUVIER (1769-1832) definiu os seus fundamentos científicos, granjeando-lhe o
epíteto de "Pai da Paleontologia". Contudo, o termo só em 1825 foi criado, por
Ducrotay de BLAINVILLE, e apenas em 1834 foi introduzido na literatura geológica,
por Fischer von WALDHEIM.

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A Paleontologia estabelece a ligação entre as ciências geológicas e


biológicas, derivando de ambas os seus princípios e métodos ao mesmo tempo que
lhes fornece dados relevantes. O método de Anatomia comparada, definido por
Geoffroy SAINT-HILLAIRE, e a lei da Correlação orgânica, enunciada por G.
CUVIER, traduzem o quanto a Paleontologia se fundamenta nas ciências biológicas,
ao mesmo tempo que lhes fornece uma dimensão temporal e algumas das provas
concretas que consubstanciam a teoria evolutiva.

O princípio da Correlação orgânica estabelecido por G. CUVIER, no início do séc.


XIX, enuncia a relação existente entre os diversos órgãos e estruturas que formam um
ser vivo, de tal modo que um animal pode ser reconhecido por um órgão ou uma peça
isolada do seu esqueleto, pois permite deduzir como seriam as restantes partes que o
compunham.
Este princípio é fundamental no estudo dos fósseis já que estes, raramente,
representam organismos completos. No caso particular dos vertebrados fósseis, o seu
esqueleto é constituído por partes que se dissociam post-mortem, aparecendo
frequentemente isoladas nas jazidas. Ex: um dente de um animal carnívoro está
associado a uma estrutura particular da mandíbula e a uma determinada configuração
do esqueleto).

Não existem limites precisos entre a Paleontologia e a Neontologia (ciência


que estuda os seres actuais). Os biólogos estudam actualmente um peixe celacanto
do grupo dos Crossopterígeos (Latimeria chalumnae) o qual era apenas estudado
pelos paleontólogos que o consideravam extinto desde o Jurássico.
Por seu lado, os paleontólogos têm-se debruçado sobre formas existentes ou
extintas em tempos históricos, como o caso da ave gigante de Madagascar
(Aepiornis) e o grande pinguim extinto no século passado. Outros organismos
actuais tais como Foraminíferos (Protistas de carapaça carbonatada), Radiolários
(Zooplâncton de carapaça siliciosa), Cocolitóforos (Fitoplâncton com revestimento de
placas calcíticas), Ostracodos (Crustáceos microscópicos de carapaça bivalve
carbonatada), Roedores (estruturas dentárias), são mais frequentemente estudados
por paleontólogos que por biólogos, dada a importância que assumem no registo
paleontológico.
Como ciência actual e complexa, a Paleontologia é cada vez mais um
exercício multidisciplinar para o qual concorrem noções e conceitos de vários
domínos do conhecimento, tais como Matemática, Estatística, Física, Climatologia,
Quimica, Ecologia, entre outros, alguns dos quais serão abordados posteriormente
no âmbito deste curso.
A Paleontologia é uma ciência histórica. Tal como escreveu Albert GAUDRY
"graças aos descobrimentos da Paleontologia, a História Natural é HISTÓRIA no
sentido literal da palavra", dada a perspectiva temporal que lhe veio conferir.

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Pelas suas características, a Paleontologia tem estado, desde sempre, na


primeira linha dos debates sobre temas da filosofia das ciências tais como: Origem
da vida, Criacionismo versus Evolução; Catastrofismo versus Gradualismo;
Gradualismo filogenético versus Equilíbrios perturbados.
No decurso deste último século, em Paleontologia, como nas outras ciências
naturais, a especialização foi-se implantando em relação ao "Enciclopedismo" . K. A.
von ZITTEL, no final do século passado, foi o último dos paleontólogos que logrou
abarcar os diferentes ramos da Paleontologia, no seu livro "Handbuch der
Paleontologie", publicado em 4 volumes, de 1885 a 1893.

Os modernos Tratados de Paleontologia são obras de equipas de


especialistas. Exemplos disso são :

- "Traité de Paléontologie", foi publicado entre 1952 e 1957, em 7 volumes,


coordenados pelo paleontólogo francês J. PIVETAU ;

- "Treatise on Invertebrate Paleontology", com mais de 34 volumes,


publicados desde 1954, coordenados por R. MOORE, nos Estados
Unidos.

- "Fundamentos de Paleontologia", publicado na URSS em 16 volumes, nos


anos 50-60, coordenados por Y. ORLOV.

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