Anda di halaman 1dari 9

O aquecimento urbano nas cidades brasileiras

Mônica Kofler Freitas1

Introdução

As mudanças climáticas globais, regionais e locais representam na atualidade


uma das maiores preocupações da humanidade. Essas mudanças podem ocorrer tanto a
partir de causas naturais como antrópicas.

A ilha de calor urbana é uma característica universal do clima urbano,


propiciando temperaturas mais elevadas nas zonas centrais da cidade em comparação
com as zonas periféricas ou rurais. As variações térmicas nas zonas urbanas e rural
podem chegar até 10ºC e ocorrem basicamente devido às diferenças de irradiação de
calor entre as regiões edificadas x massa vegetal.

O trabalho pioneiro sobre as mudanças de temperatura em áreas urbanas


comparado a áreas rurais em função das emissões atmosféricas refere-se a Luke Howard
(1883) - The Climate of London, Deduced from Meteorological Observations, Made in
the Metropolis and at Various Places around It, onde destaca os efeitos negativos da
maior quantidade de superfície pavimentada nas áreas urbanas e menor quantidade de
vegetação, resultando na elevada absorção da radiação solar em Londres.

A pesquisa de Howard foi consolidada por Chandler – The Climate of London


em 1965. Neste mesmo período em diante pesquisas similares sobre o aquecimento
urbano ocorreram na Europa, Estados Unidos e Japão, originado uma crescente
consciência do papel do ser humano na mudança ambiental.

Entretanto, essas questões ambientais assumiram proporções de relevânciaa


partir da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada
em Estocolmo na Suécia, 1972, onde foi avaliado o grau de deterioração como
conseqüências inevitáveis do desenvolvimento industrial, da afluência da população
para a cidade e os critérios ambientais inseridos nas políticas públicas e no
planejamento. O encontro foi significativo para marcar a variável ambiental como parte
integrante das relações políticas, sociais e econômicas, onde importantes documentos
foram elaborados como: a Agenda 21 (Programa de Ação Global adotado por 182
países) e a Convenção sobre Mudanças Climáticas que originou o Protocolo de Kyoto
em 1997.
A Organização Meteorológica Mundial (WMO – World Meteorological
Organization) tem alertado sobre as questões climáticas e o uso ineficiente das fontes de
energia urbana e suas implicações na saúde da população. WMO divulgou o documento
- Urban Design in Different Climates, onde se propõem medidas e ações relacionadas
ao clima da cidade e ao tratamento dos espaços públicos, como o uso de cores claras nas
fachadas das edificações para reduzir ganhos de calor, o uso de diferentes tipos e
tamanhos de vegetação nos espaços públicos e privados.

1
Arquiteta e Urbanista – pesquisadora da Unesp/Rio Claro (pós-doutorado)

1
A partir daí, estudos sobre a densidade construtiva passaram a ser um
instrumento importante de apoio aos arquitetos e planejadores urbanos sobre as
condições de ventilação e poluição do tecido urbano. Embora haja discussões de que
elevadas densidades de edificação garantam a maximização dos investimentos públicos,
incluindo infra-estrutura, serviços e transportes, pode-se gerar maior pressão de
demanda sobre o solo urbano ocasionado uma série de problemas ambientais.

Um desses problemas é a concentração de poluentes também tem influência,


principalmente nas zonas centrais da cidade, pois a camada de poluentes pode reduzir a
radiação solar direta por refletir parte dela, dificultando a dispersão do calor (Foto 1).

Foto 1 – Uma das zonas (oeste) mais quentes próximas ao centro da cidade de Ribeirão
Preto

Um Estudo de Caso: O Município de Ribeirão Preto

A cidade de Ribeirão Preto é um dos exemplos das cidades brasileiras de porte


médio que mais sofre esse fenômeno de aquecimento urbano. Durante as décadas de
setenta e oitenta, o município apresentou um intenso crescimento populacional e de
expansão urbana. Hoje com uma área de 651 Km², e uma população equivalente a
543.885 habitantes (SEADE), tem sido uma das poucas cidades do interior do Estado de
São Paulo a ter apresentado um fluxo migratório positivo, além de representar um pólo
da maior agro-indústria canavieiro no interior do estado de São Paulo, liderando o
desenvolvimento da região.

A pesquisa realizada pela arquiteta Dra. Mônica Kofler Freitas na Unesp


(IGCE), junto ao Núcleo de Estudos Avançados em Clima Urbano com sede no Centro
de Análise e Planejamento Ambiental (CEAPLA) na Unesp, Campus de Rio Claro,
analisa as ilhas de calor em Ribeirão Preto. O Grupo de pesquisa trabalha com vários
temas relacionados ao aquecimento urbano em cidades médias e em metrópoles.

A pesquisa utilizou a imagem na banda 6 do infravermelho termal obtida pelo


satélite ETM+/LANDSAT-7 para o estudo da ilha de calor na cidade de Ribeirão Preto.

O uso das imagens do satélite na banda 6 termal possibilitou identificar o


fenômeno de ilhas de calor na cidade correlacionando à temperatura dos bairros com a

2
distribuição da vegetação no espaço urbano e ocupação do solo. A imagem termal
baseia-se na estimativa da temperatura radiométrica da superfície urbana obtida através
do satélite. Estas estimativas são determinadas através da radiação emitida pelos
materiais presentes na superfície urbana.

No caso de Ribeirão Preto, a intensidade do fenômeno em determinados bairros


está relacionado como causa principal a carência de massa vegetal nas áreas públicas
(praças, parques, sistema viário).

A pesquisa constatou que os bairros mais quentes da cidade são Vila Virgínia e
Vila Tibério no setor oeste, bem próximas à região central. As imagens de satélite
registraram temperaturas máximas de 340C. São locais que possuem maior população
residente e pouca vegetação significativa, tanto em áreas públicas quanto privadas. Os
menos quentes as temperaturas foram de 300C, em bairros como os jardins Morumbi,
Bela Vista e Monte Carlo, também no setor oeste, essa diferença de temperatura pôde
ser favorecida pela proximidade de uma grande área com vegetação localizada à estação
experimental agrícola e ao longo do córrego Vista Alegre, pois a presença de corpos
d’água também contribui para a redução da temperatura local. Outro exemplo é a Mata
de Santa Tereza, fragmento de Floresta Estacional Semidecidual de 180 ha, localizado
na área urbana do município, que chega a ter temperaturas de até 6 graus.

A expansão das áreas urbanas tem despertado o homem para as modificações na


qualidade ambiental, dentre as quais as mudanças no clima local. Porém, a questão
sobre a distribuição da cobertura vegetal arbórea nos bairros e seus benefícios vêm
sendo deixada de lado.

Outro fator importante que faz aumentar o calor das cidades, principalmente no
interior do Estado de São Paulo são as plantações de cana de açúcar que arrasam com
toda a vegetação natural do entorno. A região de Ribeirão Preto que até a década de
1970 tinha 22% de cobertura florestal ativa, sendo que com o estimulo do
PROALCOOL essa área foi reduzida para menos de 3% nos dias atuais. Mesmo com
essa cobertura florestal irrisória para manter o equilíbrio ecológico da região, o fogo
continua invariavelmente atingindo os últimos e pequenos remanescentes de vegetação
nativa. Depois das queimadas (que por si só já elevam a temperatura e fumaça contribui
na retenção da irradiação do calor), vem a colheita, que deixa a terra nua, uma grande
retentora de calor. Por fim, a natureza geográfica da cidade, construída sobre um vale
desfavorece a ventilação (Foto 2). Por isso, o município precisa urgentemente garantir e
priorizar a arborização em seu Plano Diretor e programas de ação que pode ser realizado
através da Prefeitura, Empresas, Ongs e a população.

3
Foto 2 - A Queima da Cana na Zona Periférica da Cidade

Uma das formas de evitar a formação dessas ilhas de calor é a implantação e


manutenção adequada da vegetação nas áreas públicas e incentivo a reservar pelo menos
20% de área verde com vegetação nas áreas privadas, pois só a contribuição que se dá
pela presença da cobertura vegetal arbórea já altera os índices de reflexão do calor e
favorece a manutenção da umidade relativa do ar.

Deve-se levar em conta também que a influência da cobertura vegetal varia de


acordo com o tipo de vegetação, seu porte, período de ano e a sua distribuição em
relação às edificações e seus recintos urbanos. Do mesmo modo a composição de
agrupamentos arbóreos constituído por espécies de diferentes portes também contribui
para a redução da temperatura.

Impacto do aquecimento Urbano na Saúde da População

O aquecimento urbano associado a poluição tem impacto danoso à saúde da


população, principalmente entre crianças e idosos. O ar seco resseca o nariz e a
garganta, favorecendo a ocorrência de asma e bronquite e processos inflamatórios.

O calor afeta o metabolismo que reage produzindo suor para manter uma
temperatura entre 360C a 370C. O metabolismo do corpo se dá com a queima de calorias
e a produção de energia, devido o oxigênio que gera então o calor interno do corpo que
faz com que o homem troque calor com o meio. Essa troca pode ser feita por condução,
convecção, radiação e evaporação.

O organismo humano faz a troca com o meio por condução quando há o contato
entre o corpo e algum objeto alterado pelo meio, tornando-se mais quente ou mais frio.

4
A troca de calor por convecção quando o corpo está próximo de um objeto mais quente
ou mais frio. A troca de calor por radiação acontece entre o sol e o homem. Com a
evaporação só há perda de calor.

Quando o ambiente urbano possui elevadas temperaturas pode causar


desidratação, perda de energia e fadiga.

Outra conseqüência do calor elevado é a propagação do mosquito transmissor de


doenças, como a dengue e malária. Neste caso a propagação destas doenças é favorecida
em ambientes com águas paradas e da falta de saneamento. A tuberculose também pode
ser favorecida em regiões quentes, geralmente em cortiços e favelas.

A qualidade do conforto térmico no ambiente urbano também apresenta alguns


benefícios à população, como por exemplo:

¾ O maior rendimento no trabalho;


¾ O menor índice de acidentes;
¾ O menor índice de doenças (fadiga, exaustão, desidratação);
¾ O melhor entrosamento funcional x social; e
¾ O maior rendimento de lucros a empresa e comércio.

Desta maneira verifica-se que o conforto térmico no ambiente urbano é de


fundamental importância a saúde da população e ao aumento de produtividade das
pessoas. Por isso da importância de um planejamento que leve em consideração o
conforto ambiental nas cidades.

Políticas Públicas: exemplos em outros Países

Em Países como EUA, por exemplo, tem investido grandes recursos em


pesquisas e políticas públicas, para avaliar o problema das ilhas de calor. Vários estudos
vinculados a Universidade de Berkeley nos Estados Unidos - Laboratório Lawrence de
Berkeley (Lawrence Berkeley Laboratory) sobre Ilha de Calor em cidades dos Estados
Unidos demonstraram que o aumento de temperatura em áreas urbanas tem forte
correlação com áreas pavimentadas, massa edificada e ausência de áreas verdes.

A EPA - Agência de Proteção Environmental Norte Americana (EUA) e o


Departamento de Energia do Governo dos Estados Unidos incentivam aos municípios
norte americanos a realizarem Programas e Planos Estratégicos de redução de Ilhas de
Calor com o objetivo de reduzir a demanda do uso de energia elétrica e melhorar a
qualidade do ar. Exemplos bem sucedido de pesquisa e estratégias implementadas foram
realizadas nas cidades de Salt Lake City (Utah), Sacramento (Califórnia) e Baton Rouge
(Louisiana), com o objetivo de buscar soluções locais.

5
Foto 3 – Distribuição da Cobertura Vegetal: Exemplo de um bairro em
Sacramento, EUA (Fonte: Google Earth)

Como parte dessa iniciativa, um Projeto Piloto na cidade de Sacramento -


Califórnia foi implementado para quantificar os impactos potenciais da ilha de calor e
estratégias de redução em termos de energia e melhorias da qualidade do ar.

A pesquisa realizou analise da caracterização do tipo de uso e ocupação e a


fração da cobertura vegetativa em cada bairro da cidade. A Caracterização do tecido
urbano permitirá estabelecer programas de implementação de estratégias para a redução
de ilhas de calor, poluição do ar e consumo de energia.

Na Alemanha, a maioria dos Planos Estratégicos municipais é desenvolvido


priorizando o conforto ambiental na cidade, realizam mapeamento da circulação do ar e
da intensidade de ilhas de calor para análise da localização das áreas apropriadas para o
adensamento, verticalização e áreas verdes.

6
Foto 4 - Distribuição da Cobertura Vegetal: Exemplo de um bairro em Hamburg,
Alemanha (Fonte: Google Earth)

No Japão foi criado o Instituto de Tecnologia de Hiroshima para o recebimento e


processamento de dados do sensor ETM+/LANDSAT-7 desde março de 2000. Os
objetivos principais foram análises das condições termais da cidade de Hiroshima e seu
entorno, os dados foram armazenados em séries temporais para analisar a previsão de
impactos ambientais e episódios de desastres, no caso deles, relacionado ao vulcão
Monte USU de Hiroshima. Desde então o Instituto auxilia em pesquisas
disponibilizando dados do sensor ETM+/LANDSAT-7 para estudo da temperatura de
superfície na cidade.

Em Tóquio, o governo local preocupado com a redução de ilhas de calor na


cidade. A partir de pesquisas que utilizam imagens de satélite classificam o uso do solo
a estimativa da variação diurna e sazonal da energia consumida em cada tipo de solo,
verificando que o calor antropogênico médio na área central da cidade excedia os 400
W/m2 ao longo do dia, chegando ao máximo no inverno. O governo local desenvolve
um plano estratégico incentivando a criação de áreas verdes naturais no núcleo central
da cidade, onde a verticalização é elevada (Foto 5), e o gerenciamento destas áreas
verdes por empresas privadas; colocou ainda em prática, recentemente, a legislação
urbana que propôs que cada lote edificado tem a obrigação de possuir uma reserva de
20% de área verde visando maior permeabilidade do solo.

7
Foto 5 – Verticalização e carência de Cobertura Vegetal: Tóquio, Japão (Fonte: Google
Earth)

A Iniciativa em Cidades brasileiras

A cidade de Ribeirão Preto criou em 19 de setembro de 2006 um projeto de


resolução nº 84/06 da câmara municipal de Ribeirão Preto que dispõe sobre a criação da
Frente Parlamentar das Mudanças Meso-climáticas no município de Ribeirão Preto
proposto pelos vereadores que tem por finalidade estimular a execução de programas
específicos para a implantação de uma política de melhoria das condições climáticas e
da qualidade do ar na cidade de Ribeirão Preto e recuperar a massa vegetal arbórea do
município por meio de intervenções.

A complexidade da questão exige estratégias para o desenvolvimento urbano.


Exige estruturar um Sistema de Gestão Ambiental Municipal para estabelecer
procedimentos de atividades de Planejamento Urbano, em bases ambientais.

O principal objetivo dessa Frente é de ampliar a rede de comunicação e


cooperação com a Comissão Interministerial de Mudanças Globais do Clima nas
cidades do Brasil a fim de estruturar uma política de mudança climática a ser
conjuntamente debatida com o legislativo. Recentemente ocorreu em Belo Horizonte o
Fórum de Mudanças Climáticas que recebeu representantes de treze países na capital
mineira para discutir energia e meio ambiente e responsabilidade social; palestrantes
internacionais debatem ações e tecnologia e empresas contam experiências de sucesso.
Os principais objetivos do Fórum de Mudanças Climáticas foram delineados:

9 Ampliar e difundir o debate concernente às mudanças climáticas nas diversas


regiões do país;

9 Atuar como ferramenta de auxílio à superação das barreiras para a adoção do


MDL;

8
9 Aprofundar o debate sobre as questões relacionadas ao Desenvolvimento
Regional;

9 Atuar como catalisador das discussões concernentes às definições de estratégias


nacionais de desenvolvimento;

9 Ampliar as relações do Fórum com a Comissão Interministerial de Mudança


Global do Clima Ajudar o governo na divulgação do problema de mudanças
climáticas e MDL;

9 Criar um banco de dados e informações sobre a questão das mudanças


climáticas;

9 Criar laços com a comunidade acadêmica e com a área empresarial;

9 Divulgar a problemática nas escolas de primeiro e segundo graus;

9 Promover junto ao empresariado a adoção da prática da demonstração de seus


Inventários de Emissões;

9 Publicar um guia de como o setor produtivo pode apresentar seus Inventários de


Emissões;

9 Promover um seminário com o objetivo de estruturar uma política de mudança


climática a ser conjuntamente debatida com o legislativo.

A busca da qualidade de vida nas cidades dependerá de um esforço concentrado


dos nossos governantes na elaboração de políticas públicas adequadas a cada localidade
específica e a participação efetiva da população nos interesses da comunidade visando a
qualidade ambiental do município. Pois não se trata apenas de políticas públicas, mas de
uma nova cultura de ações voltadas para a construção de um objetivo em comum.

Referências

Ichinose, T. et al. Impact of anthropogenic heat on urban climate in Tokyo.


Atmospheric Environment, v. 33, 3897-3909, 1999.

IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change. Synthesis Report, Third


Assessment Report Cambridge University Press. Cambridge-UK., 2001.

Katzschner, L. Thermal Comfort Mapping end Zonning. Designing Open Spaces in The
Urban Environment: A Bioclimatic Approach, RUROS: Rediscovering The Urban
Realm and Open Spaces, 22-26, 2002.

Lombardo, M. A. Ilhas de Calor nas Metrópoles: o caso de São Paulo. São Paulo:
HUCITEC, 1985.

Freitas, M. K. et al. O Uso de Imagem Termal para Identificar o Fenômeno de Ilha de


Calor na Área Urbana da Cidade de Ribeirão Preto – SP, Brasil. PLURIS 2006, 2º
Congresso Luso-Brasileiro para o Planeamento Urbano, Regional, Integrado e
Sustentável, set/2006.

Anda mungkin juga menyukai