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REVISÃO
Sérgio Schalka1; Denise Steiner2; Flávia Naranjo Ravelli3; Tatiana Steiner4; Aripuanã Cobério Terena5; Carolina Reato Marçon6; Eloisa Leis Ayres7; Flávia Alvim Sant
´anna Addor8; Helio Amante Miot9; Humberto Ponzio10; Ida Duarte6; Jane Neffá11; José Antônio Jabur da Cunha4; Juliana Catucci Boza12; Luciana de Paula
Samorano13; Marcelo de Paula Corrêa14; Marcus Maia6; Nilton Nasser15; Olga Maria Rodrigues Ribeiro Leite16; Otávio Sergio Lopes17; Pedro Dantas Oliveira18; Renata
Leal Bregunci Meyer5; Tânia Cestari10,12; Vitor Manoel Silva dos Reis13; Vitória Regina Pedreira de Almeida Rego18
1. Coordenador do Departamento de Fotobiologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia - São Paulo (SP), Brasil
2. Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia 2013/2014. Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) - São Paulo (SP), Brasil
3. Hospitais Pro Matre e Santa Joana - São Paulo (SP), Brasil
4. Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) - São Paulo (SP), Brasil
5. Hospital da Polícia Militar de Minas Gerais - Belo Horizonte (MG), Brasil
6. Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil
7. Centro de Dermatologia Professor René Garrido Neves - Fundação Municipal de Saúde - Rio de Janeiro (RJ), Brasil
8. MEDCIN Instituto da Pele - São Paulo (SP), Brasil
9. Universidade Estadual Paulista (UNESP) - São Paulo (SP), Brasil
10. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Porto Alegre (RS), Brasil
11. Universidade Federal Fluminense (UFF) - Niterói (RJ), Brasil
12. Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) - Porto Alegre (RS), Brasil
13. Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil
14. Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) - Itajubá (MG), Brasil
15. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Blumenau (SC), Brasil
16. Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande - Campina Grande (PB), Brasil
17. SQUALIS, Sociedade de Ensino, Pesquisa e Tecnologia - João Pessoa (PB), Brasil
18. Universidade Federal da Bahia (UFBA) - Salvador (BA), Brasil
Recebido em 21.08.2014.
Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 28.10.2014.
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito Interesses: Nenhum
Como citar este artigo: Schalka S, Steiner D, Ravelli FN, Steiner T, Terena AC, Marçon CR, et al. Consenso Brasileiro de Fotoproteção. An Bras
Dermatol. 2014;89(6 Supl 1):S6-75.
Correspondência:
A/C SBD
Av. Rio Branco 39, 18o andar
20090-003 - Rio de Janeiro - RJ Brasil
E-mail: sergio@medcinonline.com.br steiner.tatiana@gmail.com
Resumo
O Brasil é um país de dimensões continentais, com uma grande heterogeneidade de climas e enorme miscigenação de sua população. Quase a
totalidade do território nacional localiza-se entre o Equador e o Trópico de Capricórnio e, com a inclinação maior da Terra em relação ao Sol para o
sul, certamente o Brasil é um dos países do mundo com maior extensão de território em proximidade com o Sol. A costa marítima brasileira
apresenta mais de 8.500 km de extensão, onde vive grande parte de sua população. Pelos fatores geográficos descritos e pela cultura de
proximidade com o Sol, o brasileiro é um dos povos com maior exposição anual ao Sol. Dados epidemiológicos demonstram um crescimento
continuado na incidência dos cânceres de pele não melanoma e melanoma. A fotoproteção pode ser entendida como um conjunto de medidas
direcionadas a reduzir a exposição ao Sol e prevenir o desenvolvimento do dano actínico agudo e crônico. Pelas suas peculiaridades, não seria
recomendável replicar os conceitos de fotoproteção desenvolvidos em outros países do mundo, locais com clima e população completamente
distintos do clima e população brasileiros. Desta forma, a Sociedade Brasileira de Dermatologia desenvolveu o Consenso Brasileiro de
Fotoproteção, primeiro documento oficial sobre fotoproteção elaborado no Brasil e destinado a brasileiros, apresentando recomendações sobre as
questões envolvendo a fotoproteção.
Palavras-chave: Dermatologia; Fator de proteção solar; Radiação solar; Roupa de proteção
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO E CONCEITOS
As radiações eletromagnéticas são classificadas de acordo com o comprimento ou frequência de propagação da onda. Por exemplo, ondas de
rádio, microondas, infravermelho, luz visível, ultravioleta, raios X e raios gama são denominações de bandas de radiação, ordenadas do maior para
o menor comprimento de onda. Ou, então, da menor para a maior frequência, uma vez que comprimento de onda e frequência são inversamente
proporcionais.
As radiações infravermelha, visível e ultravioleta compõem a quase totalidade da radiação emitida pelo Sol. Segundo a Comissão Internacional de
Radiação (CIE, do francês Commission Internationale de l'Eclairage), este conjunto de radiações é denominado radiação óptica.1 Apenas uma
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fração inferior a 1% da radiação solar não consiste em radiação óptica e, portanto, agrega outras bandas como as micro-ondas, os raios X ou os
raios gama. Em termos gerais, a radiação solar que atinge o topo da atmosfera terrestre é basicamente composta de:
- Radiação ultravioleta (R-UV), caracterizada pelas radiações de comprimentos de onda entre 100 e 400 nm*, representa cerca de 10% do total da
radiação solar que atinge o topo da atmosfera, mas sofre intensa atenuação até atingir a superfície. A R-UV é responsável por uma série de
reações fotoquímicas e fotobiológicas importantes;
- Radiação visível, compreendida entre os comprimentos de onda de 400 a 780 nm, consiste em 40% da radiação emitida pelo Sol e é definida
como qualquer radiação capaz de causar uma sensação visual. Em relação aos outros comprimentos de onda, a radiação visível é a que sofre
menor atenuação ao atravessar a atmosfera da Terra;
- Radiação infravermelha, uma ampla banda com comprimentos de onda superiores a 780 nm, representa os 50% restantes da radiação solar. A
radiação infravermelha é fortemente absorvida pelo vapor de água e gás carbônico presentes em quantidades significativas na atmosfera e,
portanto, está intimamente ligada às mudanças do clima no planeta.
-* nm = nanômetro. Um nanômetro equivale a um bilionésimo de metro, isto é, 1 nm = 10-9. Outro submúltiplo muito utilizado é o milionésimo do
metro, denominado micrômetro (µ m = 10-6 m = 1000nm)
É importante notar que esses percentuais relativos às quantidades de cada banda de radiação apresentam pequenas variações relacionadas aos
ciclos e perturbações da atividade solar. Além disso, não há limites precisos para a faixa espectral da radiação visível, uma vez que estes limites
dependem da quantidade de energia radiante que atinge a retina e da sensibilidade do observador. O limite inferior está geralmente entre 360 e 400
nm, e o limite superior entre 760 e 830 nm.
No caso específico da R-UV, os termos UV-A, UV-B e UV-C foram introduzidos em 1930 pelo Comitê 41 da CIE em função dos diferentes efeitos
fotobiológicos dessas bandas espectrais.2 Sendo assim, a R-UV foi dividida em:
-UV-C, entre 100 e 280 nm;
-UV-B, entre 280 e 315 nm; e
-UV-A, entre 315 e 400 nm.
Os mesmos limites e denominações destas bandas espectrais também são adotados pela ISO, a International Organization for Standardization
(ISO, 2007). A CIE destaca a importância de uma padronização internacional, pois tais bandas têm uso generalizado em diferentes áreas médicas e
de pesquisa científica e, apesar de alguns pesquisadores utilizarem o limite de 320 nm para a divisão entre as bandas UV-A e UV-B, a norma
adotada em 1930 ainda é a recomendada.
Outra divisão muito comum encontrada na literatura é a da banda UV-A em duas partes: UV-A1 (315-340 nm) e UV-A2 (340-400 nm). Essa divisão
baseia-se em pesquisas recentes que mostram diferentes tipos de interação fotobiológica entre tais bandas e o DNA. Embora esta divisão possa ter
algum valor prático, tanto a CIE quanto a ISO ainda não recomendam a divisão da radiação UV-A nestas duas sub-bandas.2,3
Além de se tratar da menor parte da radiação solar que chega ao topo da atmosfera, a R-UV é fortemente atenuada pela atmosfera terrestre e
chega à superfície em quantidades pequenas, mas suficientes para proporcionar efeitos fotobiológicos significativos. A radiação UV-C é
completamente absorvida pelo oxigênio e ozônio presentes na estratosfera, enquanto a radiação UV-B sofre forte absorção pelo ozônio e intenso
espalhamento por moléculas.
Sendo assim, a R-UV em superfície é majoritariamente composta de radiação UV-A que, apesar de também ser fortemente espalhada pelas
moléculas presentes na atmosfera, sofre menor absorção do ozônio. Além destes, diversos outros fatores ambientais interagem com a R-UV
conforme veremos a seguir.
Ozônio
O ozônio, principal absorvedor de R-UV, é produzido em sua maior parte na estratosfera terrestre da região equatorial do planeta. No entanto,
devido aos mecanismos de transporte existentes na alta atmosfera, grande parte do ozônio produzido é transportado para latitudes mais altas.
Sendo assim, a região equatorial do planeta possui quantidades menores de ozônio do que as regiões de latitudes mais elevadas e os polos.
A camada de ozônio é a denominação dada à região de alta concentração desse gás na atmosfera terrestre, localizada entre 15 a 30 km de altura.
Esta camada contém entre 80 e 90% do conteúdo total de ozônio da atmosfera terrestre e é responsável pela intensa absorção da radiação UV-B e
por parte da extinção da radiação UV-C. O restante do ozônio encontra-se, em sua maior parte, em regiões próximas à superfície terrestre.
Durante a década de 1980, cientistas observaram que a camada de ozônio apresentava forte diminuição em regiões de alta latitude, principalmente
nos polos. Descobriu-se que essa drástica redução, que chega a reduzir em 80 a 90% a concentração total do gás na atmosfera, deve-se,
principalmente, ao cloro livre liberado por clorofluorcarbonetos (CFC), gases criados pelo homem e muito utilizados na indústria, como propelentes e
fluidos refrigerantes em todo o planeta.
A presença de cloro (ou bromo) em grandes quantidades na atmosfera desequilibra a cadeia de formação e destruição do ozônio, acelerando seu
processo de destruição. Com menos ozônio, há menor absorção de R-UV e, portanto, aumento da presença dessa radiação em superfície.
Comparações entre os conteúdos de ozônio medidos entre 1964-1980 e 2002-2005 mostram uma diminuição média de 3,5% do conteúdo de
ozônio na atmosfera da Terra, sendo esta diminuição mais intensa em altas latitudes e menos representativa nos trópicos.4
Com o objetivo de frear esse processo de destruição do ozônio, em 1987 o Protocolo de Montreal (http://www.protocolodemontreal.org.br/) foi
instituído a fim de proibir a produção e comercialização dos CFCs e demais gases destruidores do ozônio. A adesão das nações ao Protocolo foi
maciça e a eliminação do consumo dos CFCs tem permitido a recuperação dos níveis de ozônio em todo o planeta. Prevê-se que até meados
desse século a camada de ozônio esteja completamente restabelecida aos níveis anteriores à produção dos CFCs.5 Uma pesquisa do UK
Chemistry and Aerosols mostra que o Protocolo de Montreal evitará até o ano 2030 o surgimento de cerca de dois milhões de novos casos de
câncer de pele.6
Altitude
Quanto maior é a altitude da localidade, menos espessa é a atmosfera sobre ela e, portanto, maior a quantidade de R-UV que atinge a superfície.
Em situações de céu claro e sem nuvens, os fluxos de R-UV podem aumentar entre 5 e 10% a cada 1000 m de altitude. No entanto, esse aumento
da R-UV com a altitude pode variar até valores próximos a 20% por quilômetro, pois depende de uma série de outros fatores, tais como a
quantidade de ozônio nas camadas mais baixas da atmosfera, o tipo de superfície que reflete a R-UV, os particulados presentes na atmosfera e até
mesmo a posição do Sol.7
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Hora do dia e estação do ano
Em uma situação de céu claro, quanto mais "alto" o Sol estiver no céu, maiores os níveis de R-UV. Isto é, quanto mais distante o Sol está do
horizonte, menor o caminho óptico que a radiação tem de atravessar na atmosfera. Nessas condições, a R-UV sofre menos interações com gases e
particulados e, consequentemente, é menos atenuada. Portanto, em horários próximos ao meio-dia solar, a R-UV atinge seus valores mais elevados
durante o dia.
O mesmo raciocínio pode ser utilizado para avaliar a variação dos fluxos de R-UV em relação à estação do ano. No verão, o Sol atinge posições
mais elevadas em relação ao horizonte do que no inverno e, portanto, os fluxos de R-UV são mais intensos. As diferenças entre as estações do ano
são mais relevantes quanto maior for a latitude. Isto é, nos trópicos há pouca diferença entre a posição do Sol no verão e no inverno, enquanto em
latitudes mais elevadas essa diferença é bastante significativa.
Nuvens
Os níveis de R-UV em dias de céu claro, isto é, quando não há presença de nuvens, são geralmente maiores. A presença de nuvens tende a
atenuar a R-UV e diminuir a quantidade de radiação em superfície. No entanto, o nível de atenuação pode variar bastante e nem sempre a nuvem
exerce uma proteção adequada à R-UV. Nuvens profundas e escuras, como se vê em dias com fortes pancadas de chuva, podem atenuar quase
totalmente os fluxos de R-UV. No entanto, nuvens menos espessas e mais claras atenuam-nos apenas parcialmente.
Devido a essa grande variabilidade, não é possível fornecer um parâmetro ou um percentual de atenuação da R-UV pela nebulosidade. Há,
inclusive, situações particulares de presença de nuvens cumulus ou cirrus que pode provocar um fenômeno de intensificação da R-UV e, por um
curto período de tempo, tornar os fluxos de R-UV superiores àqueles que seriam observados em um dia de céu limpo.
Aerossóis
Partículas sólidas ou líquidas presentes na atmosfera são denominadas aerossóis. Fuligem emitida por automóveis, motos e caminhões ou queima
de biomassa, poeira suspensa do solo ou mesmo sal marinho evaporado do mar são exemplos de aerossóis atmosféricos. Essas partículas
interagem com a R-UV, refletindo a radiação para outras direções na maior parte das vezes. Porém, alguns tipos de aerossóis também têm o poder
de absorver parte da R-UV incidente.
Sendo assim, ambientes poluídos ou com poeira em suspensão podem apresentar atenuação da R-UV em relação a situações de céu limpo.
Alguns estudos mostram que localidades poluídas, como São Paulo8 ou a Cidade do México9, chegam a apresentar situações de cerca de 20% da
R-UV incidente. No entanto, diminuições de R-UV dessa ordem são observadas em períodos de poluição intensa e os aerossóis não devem ser
considerados como agentes protetores para exposição ao Sol.
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Há poucos trabalhos publicados relacionados à transmissão de R-UV pelas fontes de luz artificiais. A quantidade de UV-A e UV-B emitida por
lâmpadas de uso comum é muito pequena e totalmente bloqueada pela película protetora presente nos invólucros de vidro das lâmpadas. Sendo
assim, não há relatos de emissão de R-UV pelas lâmpadas presentes no mercado.16,17
Apesar de não emitirem R-UV, as lâmpadas são fontes emissoras de luz visível e apresentam variações dentro do espectro eletromagnético que
podem afetar indivíduos com outras enfermidades da pele, como o melasma, por exemplo, a depender muito da intensidade e frequência da
exposição.18 De qualquer forma, é importante ressaltar que não há qualquer relação entre a exposição às lâmpadas artificiais comuns em
residências e escritórios e o câncer de pele.
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CAPÍTULO 2
EFEITOS DA RADIAÇÃO SOLAR NA PELE (RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA, LUZ VISÍVEL E RADIAÇÃO INFRAVERMELHA)
INTRODUÇÃO
As reações causadas pela luz solar sobre a pele são várias, sendo tanto positivas quanto negativas. Dependem, entre outros fatores, da
intensidade, do comprimento de onda da radiação e do tipo de pele de cada indivíduo. Além disso, sabe-se que a dose de energia depende do
tempo de exposição, da proximidade do Sol e do comprimento de onda da radiação (quanto maior for este, maior a penetração da luz na pele).
Os efeitos da radiação ultravioleta (R-UV) sobre a pele podem ser considerados imediatos (agudos) e tardios (crônicos). Os imediatos são eritema,
elevação da temperatura da pele, espessamento, pigmentação imediata, pigmentação persistente, bronzeamento tardio e produção de vitamina
D,27,28 sendo os tardios o fotoenvelhecimento e o câncer cutâneo.29-31 Além disso, a luz visível (LV, 400-780 nm) e a radiação infravermelha (IV,
780 nm-1 mm) também exercem efeitos sobre a pele, tanto agudos quanto crônicos, os quais têm sido também bastante estudados.32
Eritema
É uma reação aguda, acompanhada de edema, ardor local e, nos casos mais intensos, de formação de vesículas e bolhas. Os indivíduos de pele
clara reagem com maior intensidade do que aqueles de pele escura.
O eritema inicia-se após um período de latência de 2 a 7 horas, quando a pele é exposta a uma dose única e intensa de radiação, persistindo por
horas ou dias. A intensidade máxima do eritema ocorre por volta de 12-24 horas, declinando em seguida. O aumento da dose de radiação diminui o
período de limiar e aumenta a persistência da reação eritematosa.27,32
A queimadura solar é reação inflamatória aguda caracterizada, inicialmente, pela vasodilatação, aumento da vasopermeabilidade e migração de
leucócitos polimorfonucleares. O principal responsável é a UV-B (280-315 nm), com menor participação da UV-A (315-400 nm). Pela ação da UV-B,
há formação de substâncias vasodilatadoras, particularmente prostaglandinas, determinando o período limiar, o qual pode ser em parte retardado
por drogas que inibem a síntese de prostaglandinas, como ácido acetilsalicílico e indometacina.
A UV-A e a IV exercem sua ação diretamente sobre os vasos da derme, determinando vasodilatação e eritema, sem a interferência de mediadores.
O eritema surge mais tardiamente e pode tornar-se gradualmente mais intenso. A ação da R-UV sobre as células epidérmicas é sobre o DNA,
sendo absorvida principalmente pelas pirimidinas, com quebra das cadeias do DNA. Posteriormente, há reparação por mecanismos enzimáticos,
como reparo por excisão, fotorreativação e recombinação. Acompanhando o eritema imediato causado pela exposição solar intensa, ocorre
aumento da temperatura corporal, seguido por sudorese para regular a mesma, por ação da IV. Se a radiação for muito intensa, pode ocorrer a
insolação.27,30,32
Insolação
Trata-se de um conjunto de sintomas que ocorre após exposição excessiva à luz solar, resultando em aumento demasiado da temperatura corpórea
e podendo ser fatal. Habitualmente, o organismo é resfriado por meio da transpiração, porém, em algumas situações, esse mecanismo não é
suficiente. Nesses casos, a temperatura corpórea de um indivíduo pode elevar-se com rapidez, podendo danificar órgãos vitais.
Existem variações ambientais que também interferem na capacidade de resfriamento do organismo em ambientes com temperatura elevada, como,
por exemplo, a presença de umidade do ar aumentada. Além disso, outros fatores interferem na capacidade de regulação da temperatura corpórea,
como idade (em crianças e idosos é menor), obesidade, febre e desidratação.
Os principais sintomas da insolação são: temperatura corporal excessivamente elevada, pele eritematosa, taquicardia, cefaleia, dispneia, vertigem,
náusea, vômito, desidratação, confusão mental e perda de consciência.38-40
Pigmentação
A pigmentação, que deve ser diferenciada do bronzeamento tardio (DT, do inglês Delayed Tanning), apresenta uma resposta bifásica. A
pigmentação imediata (IPD, do inglês Immediate Pigment Darkening) ocorre em minutos de exposição à UV-A e à LV e pode durar até duas horas.
A IPD é seguida pela pigmentação persistente (PPD, do inglês Persistent Pigment Darkening), com pico em duas horas e que pode durar 24 horas.
O DT ocorre entre três e cinco dias após a exposição solar, podendo persistir por várias semanas e até mesmo meses.27,32
A IPD e a PPD são decorrentes do fenômeno de Meirowsky, em que ocorre a foto-oxidação da melanina pré-formada nos melanossomos e a
transferência desta dos melanócitos para os queratinócitos. Elas dependem da UV-A e também da LV.27
Diferentemente da IPD e da PPD, o DT ocorre devido a um aumento da produção de melanina pelos melanócitos, que estão em maior número e
tamanho e com atividade aumentada. O desaparecimento do DT pode ocorrer em meses ou anos conforme características individuais. O DT
depende tanto da UV-B quanto da UV-A e da LV.27
A capacidade de adquirir a pigmentação (IPD, PPD e DT) é influenciada por fatores genéticos e é mais pronunciada nas peles mais escuras.27,32
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Fotoimunossupressão
A imunossupressão causada pela R-UV tem sido descrita com maior afinco desde 1970, quando Kripke demonstrou a ausência de rejeição de
tumores por camundongos previamente irradiados com R-UV.41
Além disso, a R-UV causa supressão da resposta imune da pele a antígenos diversos, como microrganismos, complexos proteicos ou mesmo
haptenos. As informações decorrentes da ação da R-UV sobre a resposta imune são obtidas principalmente por meio de estudos em animais.
A imunossupressão causada pela R-UV pode afetar pele, órgãos internos, tecidos linfáticos e sanguíneos. A função imune pode ser diminuída
dependendo do comprimento de onda da R-UV, desde a UV-B, UV-A2 (315 nm-340 nm) até UV-A1(340 nm-400 nm), da dose de energia
(eritematosa ou suberitematosa), da frequência da exposição à R-UV e da área da irradiação.
A UV-B altera as células de Langerhans no seu número, na sua morfologia e na sua principal função, que é a apresentação de antígenos. Estas
alterações também já foram descritas na exposição à UV-A. A imunossupressão pela R-UV é modulada principalmente pelas IL-1β, TNF-α, IL-10 e
IL-12. A modificação na apresentação de antígenos pelas células de Langerhans, influenciadas particularmente pela IL-10, ativa os linfócitos Th2,
em detrimento do braço Th1. Esse desequilíbrio leva à produção de mais IL-10 e IL-4.42 A IL-12 parece ter a tendência de neutralizar a ação da IL-
10, inibindo a imunossupressão induzida pela R-UV.
A imunossupressão ou a tolerância induzida pela R-UV parece ser conduzida pelas células supressoras/reguladoras, particularmente a CD4+
CD25+ e a Tr-1.43
Acredita-se que o ácido urocânico, ao sofrer fotoisomerização da forma trans para a forma cis quando exposto à R-UV, possa aumentar a produção
de IL-10, sendo, portanto, agente da fotoimunossupressão.
A imunossupressão provocada pela R-UV leva a alterações de resposta celular a antígenos alergênicos e infecciosos, assim como permite a
promoção da carcinogênese cutânea, o que faz da R-UV um carcinógeno completo (indução/promoção).41
Fotoenvelhecimento
O envelhecimento cutâneo envolve fatores intrínsecos e extrínsecos. O envelhecimento intrínseco ou cronológico é definido como um conjunto de
alterações clínicas, histológicas e fisiológicas que ocorrem na pele não exposta ao Sol. Clinicamente, a pele apresenta-se atrófica e com perda da
elasticidade. A epiderme torna-se mais fina e ocorre retificação e achatamento da junção dermoepidérmica, tornando-a mais frágil.44 O processo de
reparação tecidual torna-se mais lento por diminuição do metabolismo dos fibroblastos. Há menor capacidade proliferativa dos queratinócitos e dos
fibroblastos por menor resposta aos fatores de crescimento. Ocorre ainda diminuição da síntese de vitamina D3 por haver menor formação de 7-
dehidrocolesterol na epiderme alterada.45
O envelhecimento extrínseco ou fotoenvelhecimento consiste no desenvolvimento de rítides profundas, espessamento da pele, dilatação dos vasos
sanguíneos e surgimento de múltiplas lesões pigmentadas nas áreas fotoexpostas. Resulta da combinação dos danos causados pela R-UV
associados às alterações intrínsecas.32 Nas células, os códigos proteicos são armazenados nos núcleos e nas mitocôndrias. As mitocôndrias são
organelas produtoras de adenosinatrifosfato (ATP), que é uma molécula energética. As espécies reativas de oxigênio (ROS) são produtos desse
processo e podem danificar lipídeos, proteínas e também o próprio DNA.46
O DNA mitocondrial apresenta alta taxa de mutação devido a sua deficiência de histonas, baixa capacidade de reparo e proximidade às ROS. Este
desequilíbrio entre o estresse oxidativo e as enzimas eliminadoras de radicais livres tem sido apontado como uma das causas do dano
mitocondrial.47 As mutações no DNA mitocondrial são observadas em maior quantidade na pele fotoexposta, quando comparada à pele
fotoprotegida, e parece que a UV-A é a mais envolvida. Como consequência desse processo, ocorre o envelhecimento cutâneo.48
Na pele não ou pouco fotoexposta, há uma contínua remodelação do colágeno dérmico. As enzimas responsáveis pela degradação e remodelação
das fibras colágenas são conhecidas como metaloproteinases (MMPs) da matriz extracelular e são produzidas por fibroblastos, queratinócitos,
macrófagos, mastócitos, células endoteliais e eosinófilos.30 No fotoenvelhecimento, há aumento da síntese das metaloproteinases, havendo maior
quebra e degradação do colágeno. Este processo é estimulado por vias bioquímicas pela ação da R-UV, havendo a liberação de várias interleucinas
(IL) e receptores de fator de crescimento, como o receptor de fator de crescimento epidérmico (EGFR), fator de necrose tumoral α (TNF-α), fator de
ativação plaquetária (PAF), IL-1 e insulina. O acúmulo de ROS estimula o fator nuclear κβ (NF-κβ), o qual estimula, por sua vez, a produção de IL-1,
IL-5 e TNF-α, gerando processo inflamatório na pele fotoexposta e, consequentemente, maior formação de ROS.45,49
A R-UV é capaz de ativar EGFR através da sua fosforilação. Após esse evento, proteínas ligadoras de GTP (guanosina 5'-trifosfato) são ativadas,
estimulando a cascata das quinases MAP (MAPKs). Essas quinases estimulam a transcrição da via ativadora da proteína - 1 (AP-1). A transcrição
de várias famílias das MMPs é regulada pelo complexo AP-1 formado após a R-UV. Desse modo, inicia-se o papel das MMPs na degradação das
proteínas da matriz extracelular.49
A citocina pró-fibrótica TGF-β regula múltiplas funções celulares, incluindo diferenciação, proliferação e síntese das principais proteínas da matriz
extracelular, ou seja, o colágeno e a elastina. Na pele humana, a TGF-β inibe a proliferação de queratinócitos e estimula os fibroblastos. Inibe
também a produção de algumas MMPs, prevenindo, assim, a quebra do colágeno. Entretanto, a R-UV é capaz de inibir a via TGF-β, acarretando
diminuição de pró-colágeno I e aumento da síntese de MMPs, levando à degradação progressiva das fibras colágenas.45,50
Concluindo, a pele cronicamente irradiada pode tornar-se metabolicamente mais ativa, levando a hiperplasia epidérmica, pigmentação irregular,
telangiectasias, elastose, redução do colágeno e rugas. Estudos têm evidenciado que o uso de protetores solares previne essas alterações
associadas ao fotoenvelhecimento.51,52
Fotocarcinogênese
A fotocarcinogênese consiste no desenvolvimento dos cânceres cutâneos induzidos pela R-UV.32 A R-UV produz complexos radicais, tais como
hidroxila, elétrons aquosos, radicais de hidrogênio e superóxido. Esses produtos, em sua maioria, são produzidos por reações fotossensíveis diretas
e indiretas e induzem quebras do DNA, dano das bases, sendo, portanto, letais e mutagênicos. Na pele, a melanina é um importante cromóforo, o
qual age como um filtro na absorção das radiações UV-A, UV-B e LV. A melanina absorve fortemente radiação visível, ajudando a transformar essa
energia em calor e dispersando-a entre os pelos e os capilares sanguíneos. Ela auxilia também na eliminação de radicais, como hidroxila e
moléculas de oxigênio, e preserva o DNA contra a formação de bases de pirimidina.30,53
A sensibilidade das células somáticas à R-UV deve-se a defeitos no reparo dos dímeros de pirimidina induzidos pela R-UV. É notável que a
exposição à UV-B leva à formação de dímeros ciclobutano-pirimidina e fotoprodutos pirimidina-piridona, como principais lesões ao DNA. O reparo
incorreto desses produtos leva a mutações. Além disso, a R-UV pode também produzir fotoprodutos não dímeros, como foto-hidratos citosina,
fotoprodutos purina e quebras do DNA de fita simples.54-56 Quanto à radiação UV-A, seu exato papel na carcinogênese ainda não é conhecido.
Nesse sentido, embora os fótons no espectro UV-A sejam menos energéticos do que os de UV-B, acredita-se que eles ainda possam produzir
mutações e câncer. Como o DNA pode absorver pouco da energia decorrente da UV-A, as lesões típicas do UV-B, como dímeros de pirimidina, não
são importantes na carcinogênese por UV-A. Postula-se que a genotoxicidade da UV-A seria induzida por mecanismos indiretos, nos quais radicais
livres de oxigênio são gerados depois que os fótons são absorvidos por fotossensibilizantes ainda não identificados.57 Quando essas mutações
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afetam a função dos oncogenes e dos genes supressores de tumor, como o TP53, PTCH1, BRM e RAS, ocorre uma perda de controle do ciclo
celular, podendo haver transformação de queratinócitos e melanócitos e o surgimento de tumores.58
A pele fotoexposta é suscetível tanto aos cânceres cutâneos não melanoma (CCNM), tais como o carcinoma basocelular e o carcinoma
espinocelular, quanto ao melanoma. Os CCNM estão bem relacionados à exposição à R-UV, uma vez que tanto a UV-A quanto a UV-B geram dano
ao DNA e imunossupressão.59 Quanto ao melanoma, tem sido demonstrada uma relação direta entre exposição à R-UV e o risco de desenvolver
esse tumor. Entretanto, parece haver uma associação com a exposição aguda intensa.60
Quanto à pigmentação, informações limitadas estão disponíveis sobre o papel da LV. Em um estudo de Ramasubramaniam e cols.62 na Índia,
observou-se que a pigmentação imediata induzida pela LV não era significativamente diferente daquela produzida pela R-UV, e que o espectro de
ação da LV e da R-UV ao induzir pigmentação era semelhante. Entretanto, quando comparada à LV, a R-UV é 25 vezes mais eficiente em induzir
pigmentação. Os investigadores também concluíram que a resposta de pigmentação persistente proporcionada pela LV é significativamente menos
intensa que a induzida pela R-UV.62 Da mesma forma, Mahmoud e cols. também evidenciaram que pigmentação pode ser induzida pela LV.61
A LV parece ainda contribuir para a produção de radicais livres. Um estudo de 2006 com radiação solar simulada sobre pele ex-vivo mostrou que a
presença de radical ascorbato era diretamente proporcional à irradiância. A produção desse radical na camada córnea pela R-UV e pela LV era
aproximadamente de 67% e 35%, respectivamente.63
Por fim, evidenciou-se que a LV, juntamente com a IV, promove um aumento das MMPs, diminuindo a expressão de pró-colágeno tipo I e, portanto,
contribuindo para o fotoenvelhecimento.64
Apesar de fontes artificiais emitirem luz visível, não há estudos que demonstrem que a dose recebida seja suficiente para levar a esses efeitos
acima descritos.
Estudos têm evidenciado que a IV pode causar eritema temporário, provavelmente secundário à vasodilatação pelo efeito térmico.66,67 Outra
observação importante é a de que a IV, especialmente a IV-A, contribui para o fotoenvelhecimento. Os mecanismos envolvidos nesse processo têm
sido estudados. Postula-se que incluam: a indução de metaloproteinase-1 sem haver indução do seu inibidor, o inibidor tecidual da
metaloproteinase-1, o que resulta na degradação do colágeno;68 distúrbio do fluxo de elétrons da cadeia de transporte de elétrons mitocondrial,
levando a uma produção inadequada de energia pelos fibroblastos dérmicos;69 estímulo da angiogênese e aumento do número de mastócitos.70
Por fim, evidenciou-se que a IV-A parece ter associação com o estresse oxidativo. Darvin e cols. propuseram que a formação de radicais livres seria
influenciada pelo aumento de temperatura que ocorre durante a irradiação com IV.71 Jung e cols. examinaram os efeitos do calor na associação
entre IV e formação de radicais livres em um modelo in vitro de fibroblasto humano. Eles evidenciaram que a exposição à IV em uma temperatura
de 37ºC não induziu radicais livres, entretanto, em temperatura de 39ºC ou mais, radicais livres foram produzidos.72
Fotodermatoses
Várias doenças de pele podem ser influenciadas pela luz solar.73
Fotodermatoses idiopáticas
Erupção polimorfa à luz
Prurigo actínico
Urticária solar
Hidroa vaciniforme
Dermatite actínica crônica
Genofotodermatoses:
Xeroderma pigmentoso
Tricotiodistrofia
Porfirias cutâneas
Síndrome de Kindler-Weary
Síndrome de Bloom
Síndrome de Rothmund-Thomson
Síndrome de Cockayne
FOTOPROTEÇÃO
CONCEITO GERAL
Apesar de não definida de forma clara na literatura, a fotoproteção pode ser entendida como um conjunto de medidas direcionadas a reduzir a
exposição ao Sol e a prevenir o desenvolvimento do dano actínico agudo e crônico.
São consideradas medidas fotoprotetoras: educação em fotoproteção (fotoeducação), fotoproteção tópica, fotoproteção oral e fotoproteção
mecânica (realizada por coberturas e vidros, uso de roupas e acessórios).
O sucesso de um programa adequado de fotoproteção depende da combinação do maior número possível de medidas, levando-se em
consideração o perfil do paciente, incluindo a idade, características fenotípicas (cor de pele, olhos e cabelos e fototipo), hábitos, atividade
profissional, localização geográfica da moradia e antecedentes pessoais e familiares de doenças relacionadas ao Sol.
Cabe ao profissional de saúde, particularmente ao médico dermatologista, identificar e promover as medidas adequadas ao paciente ou ao grupo
populacional envolvido.
Os capítulos que se seguem procuram apresentar, de forma resumida, as principais características das diferentes medidas fotoprotetoras, suas
indicações e as recomendações que a Sociedade Brasileira de Dermatologia preconiza em cada situação.
CAPÍTULO 3
FOTOEDUCAÇÃO
Introdução
O termo fotoeducação foi introduzido em 1988 a fim de integrar os conceitos básicos de fotoproteção, determinando por que, onde e o quanto é
importante a proteção contra os efeitos nocivos da radiação ultravioleta (R-UV). Com o passar do tempo, o conceito de fotoeducação foi expandido,
enfatizando os efeitos positivos e negativos da exposição solar.74,75
As consequências do excesso de fotoexposição dependem de fatores genéticos, comportamentais, situação geográfica e influência de agentes
externos, tais como doenças concomitantes, transplantes e uso de medicamentos. Entre os efeitos negativos da fotoexposição acima do
recomendável estão o envelhecimento precoce, a influência no estado imunológico e, principalmente, o desenvolvimento de cânceres da pele.
O câncer de pele é a neoplasia de maior incidencia em vários países do mundo, incluindo o Brasil, com aumento da morbidade e mortalidade
decorrentes de sua evolução. Múltiplos fatores parecem estar relacionados a tais achados, entre eles: mudança de hábito da população em relação
à exposição solar, valorização estética do bronzeamento da pele e, em especial, o aumento da exposição à R-UV.76,77
Há estimativas de que, em todo o mundo, 45% dos cânceres passiveis de prevenção sejam cutaneos e que a maioria das mortes por melanoma
poderia ser evitada.77-79 Neste sentido, diversos estudos têm enfatizado a necessidade de medidas educacionais em fotoproteção para a
população.80,81 Mesmo pacientes que já tiveram o diagnóstico de neoplasias cutâneas têm comportamentos diversos em relação aos cuidados
solares e nem sempre mudam seus hábitos, inclusive os de bronzeamento.82
Õ Ú
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AÇÕES PARA PÚBLICO INFANTIL
Diversos fatores fazem de crianças e adolescentes um público bastante importante para campanhas de fotoeducação: a exposição solar no início
da vida tem um impacto crucial no surgimento do câncer de pele; crianças são mais receptivas do que adultos para receber orientações em relação
à prevenção; hábitos de fotoproteção adquiridos na infância e adolescência podem modificar comportamentos e, inclusive, afetar as atitudes dos
pais.83-85
Há diversos modelos bem-sucedidos nesse sentido, envolvendo desde medidas como envio de correspondências e informativos, programas
educacionais continuados inseridos na escola até programas nacionais de incentivo à fotoproteção.86-89
É fundamental instituir medidas de acordo com a faixa etária da população. As informações dirigidas aos menores de 8 anos devem ter um enfoque
diferente daquelas direcionadas a pré-adolescentes e adolescentes. Duas revisões sistemáticas concluíram que medidas educativas para melhorar
o comportamento em relação à proteção solar no Ensino Fundamental e em atividades recreacionais foram efetivas.90,91
Há, inclusive, estudos evidenciando que pequenas modificações no comportamento de crianças promovidas com modelos educacionais
implementados em escolas, como o SunWise School Program, desenvolvido pelo US Environmental Protection Agency, reduzem significativamente
o risco de desenvolver câncer de pele e têm como consequência a redução dos gastos com esse problema de saúde para a sociedade.92
Há poucos estudos randomizados para avaliar ações em saúde relacionadas à fotoproteção e à fotoeducação, porém as evidências sugerem que a
participação das escolas é fundamental.93 Elas são a maneira mais fácil de atingir crianças e adolescentes. Neste sentido, é interessante inserir os
conteúdos dentro do ensino de Ciências e Fisiologia Humana, com a profundidade relativa ao grau de entendimento. A transmissão do
conhecimento pode ser feita pelas mais variadas formas, incluindo teatro e dramatizações, que permitem a participação ativa e, para determinadas
faixas etárias, são as mais adequadas e lúdicas.
O conteúdo deve enfocar que existem benefícios e malefícios, e que a intensidade do dano depende da resistência da pele e dos hábitos
individuais.94 Além disso, as escolas são locais importantes de intervenção, pois os alunos passam muito tempo em atividades ao ar livre.92,95 Para
auxiliar, a experiência de outros países nos mostra alternativas interessantes, como nos Estados Unidos, em que o CDC (Centers for Disease
Control and Prevention) elaborou uma rotina de normas para orientar as escolas a implementar programas de prevenção do câncer de pele.96
A Organização Mundial de Saúde também divulgou diretrizes por uma iniciativa chamada "Proteção solar e escolas: como fazer diferença". Neste
sentido, não apenas existe uma orientação em relação à importância deste tipo de estratégia como também um manual prático de como inserir
essas práticas dentro das escolas.97
Exemplos de outras ações para prevenção do câncer de pele direcionadas para o público infantil incluem iniciativas como a área voltada para
crianças no site da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e a campanha "Sol Amigo da Infância" que, além da distribuição de revistas em
quadrinhos, promoveu treinamento para professores e a elaboração de um projeto de lei.98
Existe um projeto de lei, em fase de tramitação para ser aprovado, que visa estabelecer o programa "Prevenção ao Câncer de Pele - Sol Amigo da
Infância" como atividade extracurricular obrigatória na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I e II, tanto nas escolas da rede pública quanto
nas da rede particular. De acordo com este projeto, dermatologistas credenciados pela Associação Médica Brasileira capacitarão os professores
sobre o conteúdo adequado para crianças e adolescentes.
Outro aspecto importante a ser levado em consideração em relação à fotoeducação é que as estratégias devem ser adaptadas para atingir
adolescentes, incluindo orientação quanto aos malefícios do bronzeamento artificial.99-101 Um estudo realizado no Brasil mostrou que os
adolescentes estão cientes dos danos causados pelo Sol, mas que, apesar disso, acreditam que o bronzeado melhora a aparência e, por este
motivo, justifica o risco.83 Em outros países, o cenário é semelhante: apesar do conhecimento sobre os malefícios do excesso de sol, a mudança de
comportamento entre os adolescentes é insatisfatória.102
Os programas de orientação devem também ser incluídos no conteúdo didático, através de estudo dirigido, como trabalhos de revisão, pesquisa na
Internet e participação na criação de instrumentos educativos, como websites e por meio das redes sociais.103 É aconselhado promover palestras
com especialistas treinados na linguagem jovem, principalmente estudantes de Medicina, que são mais indicados do que educadores mais velhos.
Além disso, é importante abrir a possibilidade para tirar dúvidas, inclusive de forma privada, e oferecer alternativas para o aspecto estético do
bronzeado.
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de pele e modificações de risco, pois permitirá a comparação de dados, agora bastante difícil devido aos diferentes métodos e avaliações
empregados nos estudos.
Estar bronzeado continua tendo um forte impacto na percepção de atratividade física, especialmente entre adolescentes e adultos jovens.120 Para
isto, existe grande contribuição da mídia que atribui um apelo estético positivo a atividades em ambientes abertos, ao Sol, e mostra os formadores
de opinião e modelos de beleza sempre bronzeados. Além disso, existe um conhecimento comum de que a coloração mais escura na pele disfarça
imperfeições e melhora o aspecto pelo maior contraste com roupas e mesmo o cenário.120
Para conseguir a modificação de hábitos de bronzeamento, o conceito de "estar bronzeado é igual à beleza" deve ser modificado. As mensagens
diretas ou subliminares devem ser positivas e percebidas como recompensas, já que os indivíduos dificilmente respondem a assertivas negativas e
sem benefício imediato.
Enfatizar as vantagens da exposição solar criteriosa para preservar a saúde e a beleza, bem como a descrição detalhada das consequências do
excesso de sol em termos de alterações pigmentares, ressecamento da pele e surgimento precoce de rugas, pode ser mais eficaz do que alertas
sobre o risco distante e não confirmado de neoplasias.121,122
A cumplicidade de pessoas leigas e alheias ao meio médico, principalmente aquelas com as quais o público se identifica na vida real ou às quais
gostaria de assemelhar-se, traz resultados de grande significância. Neste sentido, formas de comunicação em horários de grande audiência, por
canais acessíveis a todas as faixas de público, e exemplos em situações reais que sejam repetidos e associados a sucesso e atratividade têm
grande chance de serem eficazes.
Educação em saúde e prevenção podem ser facilmente integradas na comunicação médico-paciente. Entretanto, esta medida isolada não tem a
abrangência requerida. Comunicação em massa requer um discurso coerente, direto e sempre consistente, independentemente do profissional
envolvido.
Para atingir esta meta, é necessário que as mensagens sejam baseadas em material de apoio elaborado por especialistas não só na parte médica
como de comunicação. Elas devem ser veiculadas em todos os meios possíveis, desde escola até universidades, principalmente aproveitando as
oportunidades oferecidas pela mídia, como TV, rádio e jornal. Associações de especialistas, como a Sociedade Brasileira de Dermatologia, têm
condições de fornecer e divulgar rotinas de contato com os meios de comunicação de forma que o conteúdo seja uniforme.
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b. Desenvolver, dentro do quadro associativo da SBD, através do Departamento de Fotobiologia, grupo de dermatologistas especialmente
preparados para atender às solicitações da mídia, a fim de responder aos pedidos de entrevistas ou esclarecimentos, como porta-vozes da SBD.
c. Preparar e manter à disposição dos sócios normas de conduta e postura frente à mídia e instruções detalhadas sobre a posição da SBD em
relação aos assuntos de fotoproteção, de forma que a mensagem seja clara e uniforme.
CAPÍTULO 4
FOTOPROTETORES TÓPICOS
Introdução
Historicamente, os protetores solares foram idealizados para a prevenção de queimaduras solares em atividades laborais e para prolongar o tempo
de lazer e esporte ao ar livre e ao Sol, além de permitir certo bronzeamento. As primeiras formulações datam de 1928 e visavam à redução da
incidência na pele da radiação UV-B, principal indutora de eritema e dano ao DNA.123
Somente na década de 70, iniciou-se a produção comercial em escala dos fotoprotetores tópicos, popularizando-se seu uso. Estudos da década de
80 evidenciaram a importância da UV-A no fotoenvelhecimento e seu papel coadjuvante na carcinogênese cutânea.123
Conceitualmente, fotoprotetores tópicos (ou protetores solares) são produtos de aplicação sobre a pele, compostos por substâncias que interferem
na radiação solar, reduzindo seus efeitos biológicos teciduais.124
CAPÍTULO 4 A
FILTROS UV
Os filtros ultravioleta são os elementos presentes dentro da formulação dos fotoprotetores que interferem diretamente na radiação solar incidente,
através da absorção, reflexão ou dispersão da energia.123
Do ponto de vista estrutural, os filtros ultravioleta podem ser compostos orgânicos ou inorgânicos. Os ativos orgânicos (ou filtros químicos)
absorvem os fótons da R-UV, promovendo uma alteração em sua estrutura molecular. Os ativos inorgânicos (ou filtros físicos) têm origem mineral e
promovem a reflexão da R-UV para o exterior do tecido.125
Filtros orgânicos são compostos aromáticos conjugados, que atuam por meio de mecanismo molecular de absorção de R-UV e de devolução dessa
energia ao ambiente através de emissão de maiores comprimentos de onda, menos energéticos, como a luz visível e a radiação infravermelha.125
Em comparação aos filtros inorgânicos, apresentam maior potencial de sensibilização, maior risco de absorção percutânea e menor
fotoestabilidade, muito a depender de sua estrutura química e da combinação de ativos na fórmula.125
Mais recentemente, uma nova geração de filtros orgânicos foi apresentada, com maior fotoestabilidade e menor potencial de permeação dérmica,
reduzindo substancialmente o risco do desenvolvimento de sensibilização.125
A depender de sua estrutura molecular, os filtros orgânicos podem absorver melhor a radiação UV-B ou UV-A. Algumas moléculas mais recentes
são capazes de produzir picos de absorção em UV-A e UV-B e, por isso, são denominadas filtros de amplo espectro.125
Filtros inorgânicos apresentam mínimo potencial de sensibilização alérgica e alta fotoestabilidade. Porém, sua propriedade refletora pode causar
brilho excessivo e aspecto esbranquiçado, limitando seu uso exclusivo nas preparações devido à baixa aceitação cosmética.126
Filtros inorgânicos, como o óxido de zinco e o dióxido de titânio, atuam na superfície da pele, refletindo as radiações incidentes; porém, quando em
forma micronizada, podem permear a camada córnea e, além da reflexão, agirem por difração e dispersão.
O tamanho das partículas dos filtros inorgânicos é, portanto, fator determinante de seu efeito. Quanto menor a partícula, melhor a cobertura da pele
e, consequentemente, a reflexão; porém, pior a refração. Portanto, reflexão e refração são inversamente relacionadas. A eficiência dos filtros
inorgânicos está relacionada ao tamanho e à dispersão de suas partículas.126
Esses filtros, quando micronizados, diminuem a aparência esbranquiçada da pele e favorecem a estabilidade da emulsão. Podem ser revestidos
com silicone, sílica, óxido de alumínio, ácido esteárico, estearato de alumínio, entre outros, melhorando sua dispersão, evitando a aglomeração das
partículas e alterando a reologia da emulsão. O dióxido de titânio, por exemplo, só pode ser associado à avobenzona quando revestido com sílica e
dimeticone. Por outro lado, somente alguns filtros inorgânicos com tamanhos de partículas superiores a 200 nm são capazes de refletir na faixa da
luz visível e, portanto, oferecer proteção.126
Os diferentes ativos dos fotoprotetores ainda apresentam curvas características de absorbância da R-UV. Usualmente, os fotoprotetores comerciais
utilizam uma composição de filtros físicos e químicos para ampliar o espectro de fotoproteção (UV-A e UV-B), explorar propriedades sinérgicas e
minimizar os efeitos adversos ligados a um ativo específico.
No Brasil, os protetores solares são categorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como cosméticos (grau de risco 2), o
que dispensa a prescrição médica para sua comercialização. Entretanto, há regulamentação quanto aos filtros UV permitidos e quanto à
necessidade de realização de estudos de comprovação de segurança e eficácia.127,128
No quadro 2, seguem os 33 ativos que são regulamentados pela ANVISA para comercialização no Brasil.
Além da proteção contra a radiação ultravioleta, tem-se despertado o interesse para ativos capazes de interferir na luz visível e na radiação
infravermelha.
Filtros capazes de proteger contra a luz visível atuam somente por mecanismo de reflexão, produzindo um efeito esbranquiçado com baixa
aceitação cosmética. Como alternativa, os formuladores utilizam diferentes pigmentos como ativos bloqueadores dessa faixa de radiação, que dão
aparência de "base" à formulação, limitando seu uso para alguns indivíduos, particularmente os do sexo masculino.
Até o momento, não existem substâncias aprovadas pela ANVISA capazes de absorver, dispersar ou refletir na faixa do infravermelho. Os
fotoprotetores com efeito de proteção contra a radiação infravermelha o fazem através da adição de ingredientes capazes de reduzir os danos
celulares ou moleculares decorrentes desta radiação.
Os diferentes ativos dos fotoprotetores apresentam características de solubilidade, compatibilidade entre si, seus veículos e suplementos, além de
curvas de absorbância do espectro solar que regem a escolha dos componentes da formulação dos fotoprotetores tópicos.129
Óleos
As primeiras preparações de filtros solares foram veiculadas em óleo. Popularmente, eram conhecidas como bronzeadores. São formulações
monofásicas, fáceis de espalhar e aplicar, além de muito estáveis quando incorporam ativos lipossolúveis. Nestes casos, a manipulação é simples,
podendo ser realizada à temperatura ambiente. Infelizmente, a facilidade de aplicação resulta em baixa efetividade pois deixa uma fina película
transparente sobre a pele, com reduzido FPS. O efeito cosmético também é um limitante.
Géis
Os géis são veículos compostos por uma fase líquida, normalmente água ou álcool, e outra sólida, representada por agentes gelificantes. Esses
últimos são geralmente substâncias poliméricas, interpenetradas por um líquido de forma a modificar seu estado físico (reologia). Conforme a
quantidade de agentes gelificantes presentes em uma formulação, podem ser obtidos diferentes tipos de efeitos reológicos. Com menor quantidade,
tem-se o sérum, depois o fluido, em seguida o gel e, com uma quantidade superior, a goma. Além de alterar o estado físico da fórmula, a
quantidade do agente gelificante pode resultar em uma formulação final "pegajosa", inadequada.
Nos géis fotoprotetores são incorporados ativos hidrossolúveis que, na realidade, são compostos insolúveis na água que, associados a
solubilizantes (usualmente surfactantes não iônicos), permitem sua incorporação. Bases hidroalcoólicas, por sua vez, podem permitir a dissolução
de moléculas lipossolúveis no álcool que, dessa forma, podem ser solubilizadas na água. Esses veículos podem ser classificados quanto ao tipo de
dispersante utilizado, em hidrofílicos ou hidrogéis; alcoólicos e hidrofóbicos ou oleogéis. Os géis fotoprotetores devem ter aparência agradável, fácil
aplicação e remoção, rápida secagem, suavidade e elasticidade. Têm sua indicação principal em peles oleosas ou acneicas.
Emulsões
As emulsões são compostas por uma fase oleosa e outra aquosa, não miscíveis entre si que, pela ação de um agente emulsionante, formam uma
mistura homogênea. Esse tensoativo especial permite que dois sistemas não miscíveis se dispersem e formem um produto estável. A composição
desta forma farmacêutica apresenta, então, uma fase dispersante, uma fase dispersa e uma interface. Esse veículo apresenta as propriedades de
ser versátil, cosmeticamente agradável e compatível com a incorporação de substâncias lipo e hidrossolúveis, sendo assim uma das formas
farmacêuticas tópicas mais prescritas.
As emulsões podem ser classificadas de diversas formas: pelo aspecto físico podem ser emulsões líquidas (emulsões fluidas ou leites) ou pastosas
(cremes); pelo pH podem ser ácidas, alcalinas ou neutras. Porém, a classificação mais comumente usada é a que leva em consideração a
proporção entre a fase oleosa e a aquosa, ou seja, podem ser agrupadas de acordo com o predomínio do meio dispersante. Desta forma, podem
ser obtidas emulsões óleo em água ou água em óleo. Modernamente, têm tido destaque as emulsões: silicone em água, propilenoglicol em silicone,
emulsões trifásicas, microemulsões e emulsões poliméricas, muitas vezes denominadas pseudoemulsões. Em qualquer uma delas, podem ser
incorporados filtros solares, desde que seja empregada farmacotécnica adequada.
As emulsões óleo em água (O/A) apresentam baixa untuosidade, produzem efeito refrescante, secam com rapidez e podem ser facilmente laváveis
com água. Estas vantagens devem-se ao fato de a fase contínua da emulsão ser a água, e a fase dispersa, o óleo. As emulsões água em óleo
(A/O) apresentam maior porcentagem de óleo, sendo essa a fase contínua. Deixam a pele mais gordurosa e com brilho, repelem a água e conferem
proteção contra umidade e frio. Porém, são termolábeis.
Gel Creme
Os géis cremes resultam da incorporação de um agente gelificante a uma emulsão. São muito empregados em formulações fotoprotetoras,
especialmente em países tropicais, por apresentarem o efeito sensorial dos géis e a emoliência (maciez) das emulsões, excluindo suas
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desvantagens (deixam a pele pegajosa e untuosa, respectivamente). São indicados para protetores solares de uso diário, inclusive para pessoas de
pele oleosa por aceitarem a incorporação de sequestrantes de gordura.
Mousses
O mousse é, tipicamente, uma emulsão fluida à qual foi adicionado um propelente. Necessita envase especial, em frascos com válvula que, quando
comprimida, libera uma espuma elegante e fácil de espalhar.
Aerossóis
Os aerossóis são dispersões coloidais de um líquido na atmosfera. Costumam ter caráter oleoso, o que pode facilitar sua aplicação, ao ser
facilmente espalhado na pele, porém deixam a pele untuosa. Fórmulas modernas, siliconadas ou substâncias afins têm sido empregadas como
fotoprotetores, com grande aceitação, mas de resultados questionáveis, não apenas pela dificuldade em se avaliar a quantidade aplicada, como por
sua distribuição irregular sobre a pele. São mais úteis quando usados para reforçar o efeito de um fotoprotetor em emulsão ou em gel, quando da
necessidade de uma reaplicação.
Bastões (sticks)
São compostos de ceras e óleos, formando uma estrutura sólida ou semissólida, aos quais são incorporados filtros inorgânicos e/ou orgânicos
lipossolúveis. Essa associação resulta em produtos muito resistentes à água. São indicados para a aplicação nos lábios, como lápis labial, dorso
nasal ou em outras áreas restritas da pele.
Pós e Bases
São produtos cosméticos destinados à maquiagem, reduzindo o brilho da pele, uniformizando cor e textura, além de protegerem das radiações
solares. Aos pós faciais, geralmente, são incorporados filtros inorgânicos, porém, nas bases fluidas e nos pós compactos, ambos, orgânicos e
inorgânicos, podem ser veiculados.
O quadro 3 resume características das formulações ligadas aos veículos utilizados.
Antioxidantes
Radicais livres são espécies que apresentam elétrons desemparelhados. Nos sistemas vivos, os radicais livres são representados principalmente
pelas espécies reativas de oxigênio (EROs). São extremamente instáveis e tendem a reagir rapidamente com moléculas vizinhas doando (oxidação)
um elétron. Quando não neutralizados por antioxidantes podem levar a reações em cascata com subsequente dano celular.140
Além das fontes endógenas de radicais livres (principalmente o metabolismo oxidativo mitocondrial), existem as fontes exógenas, entre elas a
radiação ultravioleta (R-UV).140 São diversos os estudos que comprovam a participação da R-UV, através da produção excessiva de EROs, nos
processos degenerativos moleculares e celulares levando ao fotoenvelhecimento, à imunossupressão e à carcinogênese.140-143
Apesar de existirem mecanismos endógenos de controle do stress oxidativo celular frente a situações mais extremas, estes mecanismos podem ser
sobrecarregados e entrar em falência.143 Neste sentido, além dos filtros físicos e químicos, outras estratégias fotoprotetoras vêm sendo
investigadas, entre elas os antioxidantes (AOx).
O efeito benéfico dos AOx associados a protetores solares vem sendo demonstrado em humanos.144,145 Além disso, é vasta a literatura quanto à
capacidade antioxidante de algumas substâncias.146-149 No entanto, criar formulações que combinem protetores solares e AOx e garantam a
eficácia de ambos no produto final ainda é um desafio.143,149
Em geral, AOx são naturalmente instáveis e devem permanecer estáveis e biodisponíveis na formulação final. Ao mesmo tempo, os AOx precisam
penetrar no estrato córneo e manter-se em concentrações adequadas na epiderme e derme enquanto é desejável que os protetores solares
mantenham-se na superfície da pele para uma adequada proteção. Do ponto de vista legal, quando este benefício é citado em rotulagem, há
necessidade também de se comprovar sua segurança e sua biodisponibilidade na formulação.
São necessários ainda estudos in vivo para determinar os melhores AOx a serem usados nestas formulações e para definir como estes produtos
serão formulados no sentido de garantir a eficácia de todos os componentes.
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Com relação à inserção de ativos protetores solares em repelentes, embora a princípio os ingredientes possam ser formulados, há alguns pontos
que devem ser considerados: a capacidade do filtro solar para filtrar a radiação ultravioleta pode ser diminuída pelo repelente, como a DEET, que é
o mais comum, enquanto a toxicidade do repelente é aumentada pelo filtro solar sobretudo em crianças.153,154
O problema é agravado pelas indicações de aplicação, que são paradoxais: enquanto os protetores solares devem ser aplicados generosamente e
com frequência (a cada duas horas ou antes, se necessário), repelentes de insetos (DEET) devem ser aplicados não mais frequentemente do que a
cada duas a seis horas, dependendo da concentração.151,155
Existem outros ativos repelentes, como essências e a icaridina, mas seus benefícios quando associados aos protetores solares ainda não foram
definidos.
CONCLUSÕES
Os desafios da indústria farmacêutica ligados à formulação de fotoprotetores tópicos envolvem a fotoestabilidade dos filtros orgânicos, ampliação do
espectro e dos parâmetros de eficácia, incorporação de princípios ativos, melhora da cosmética e aspectos sensoriais, individualização dos
veículos, além da nanotecnologia para veiculação dos ativos e uso de substâncias que aumentem a eficácia dos ativos, sem aumentar sua
concentração no produto (enhancers ou boosters).
Finalmente, a formulação ideal de um fotoprotetor deve considerar aspectos como a eficiência para a indicação proposta, amplitude do espectro de
proteção (UV-A e UV-B), segurança e tolerabilidade do uso tópico, estabilidade, não manchar roupas, cosmética adequada, odor agradável,
resistência à água, espalhamento, alto coeficiente de extinção, substantividade* e custo acessível.123-125,139,140
A manipulação de fotoprotetores requer não apenas conhecimento da farmacotécnica, mas também de aspectos regulatórios e de mercado. Por
outro lado, ao dermatologista, como prescritor, cabe saber avaliar os diversos produtos disponíveis no mercado, indicando o mais adequado em
cada situação. A formulação magistral de protetores solares carece de segurança quanto ao real fator de proteção requerido e rotulado porque
torna-se inviável determinar os fatores de proteção de pequenas quantidades produzidas e as diferentes composições utilizadas dos ativos.
CAPÍTULO 4B
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Para sua determinação, dois métodos são internacionalmente mais aceitos: o descrito pelo FDA em sua mais recente monografia (2011)168 e
utilizado em território norte-americano, e o método descrito pelo COLIPA em 2004,170 utilizado na comunidade europeia e em outros países do
mundo.
Basicamente, o método para determinação de resistência à água reproduz o teste de FPS acima descrito, introduzindo-se outras duas áreas: a área
de pele não protegida e a área de pele protegida pelo protetor solar em estudo, aplicado na quantidade de 2 mg/cm2, duas irradiadas pré-imersão e
duas irradiadas pósimersão em banheira com turbilhonamento. Assim, determina-se o valor de FPS pré-imersão (nas duas áreas irradiadas antes
da imersão) e pós-imersão. Segundo o método proposto pelo FDA, caso pretendase que um determinado protetor solar tenha o atributo de
"resistente à água" ou "muito resistente à água", o valor do FPS de rótulo deverá ser o valor de FPS encontrado nas áreas irradiadas pós-período
de imersão.
No guia publicado pelo COLIPA em 2004, entretanto, se o produto em estudo não apresentar uma redução do valor de seu FPS pré-imersão maior
ou igual a 50% no cálculo pós-imersão, então o produto pode apresentar o atributo de "resistente à água" ou "muito resistente à água", se o período
de imersão for, respectivamente, de 40 ou 80 minutos.170
Por se tratar de medida contra a queimadura solar, evento essencialmente decorrente da R-UVB, o FPS não é um método considerado adequado
para avaliação do nível de proteção contra a R-UVA. Sabemos que a R-UVA é extremamente importante quando falamos em fotoenvelhecimento,
fotodermatoses e prevenção do câncer de pele, que decorrem, principalmente, do UV-B, mas sofrem também influência do UV-A.123
A preocupação dos pesquisadores em encontrar um método capaz de quantificar a eficácia fotoprotetora dos filtros solares na faixa do UV-A surgiu
entre as décadas de 80 e 90 do século passado, tendo em vista o surgimento, na época, de evidências dos danos causados pela R-UVA ao mesmo
tempo em que os primeiros filtros com capacidade de proteger nessa faixa eram lançados no mercado.
Descrito por Moyal e cols., o método do escurecimento pigmentar persistente (do inglês Persistent Pigment Darkening ou PPD)171,172 avalia a
proteção de um determinado protetor solar contra a pigmentação persistente, fenômeno esse decorrente exclusivamente da R-UVA.
O racional do método PPD, atualmente denominado Fator de Proteção UVA (PF-UVA), é semelhante ao do FPS. Duas áreas são avaliadas em
cada voluntário, uma área de pele não protegida e outra área com a pele protegida pelo protetor solar em estudo, aplicado na quantidade de 2
mg/cm2. As áreas são irradiadas com uma fonte artificial de luz que emite exclusivamente a radiação UV-A. Após 2 horas é realizada a leitura de
ambas as áreas para a determinação da Dose Pigmentar Mínima (DPM), ou seja, a menor quantidade de energia suficiente para produzir uma
pigmentação evidente.171,173
Atualmente, o método descrito por Moyal e cols.171,172 é considerado como método referência para quantificação da proteção UV-A no Japão e na
Comunidade Europeia. O COLIPA aprovou, em 2005, um método espectrofotométrico in vitro denominado PPD in vitro,173 que demonstrou produzir
resultados equivalentes aos resultados encontrados no PPD in vivo inicialmente descrito.174
Além do método PPD, o método descrito por Diffey175, e posteriormente modificado pelo COLIPA,173 denominado Comprimento de Onda Crítico -
COC (do inglês Critical Wavelenght), é considerado método importante na quantificação da proteção de amplo espectro. O COC é um método
espectrofotométrico em que se determina a curva espectral de um determinado produto aplicado em uma placa de polimetilmetacrilato (PMMA),
cuja superfície foi submetida a jateamento para produzir uma rugosidade específica e semelhante à da pele humana.
O produto é aplicado na placa em uma quantidade determinada, sendo então submetido à R-UV em equipamento específico, antes da
determinação da curva espectral. A radiação prévia é necessária para a avaliação conjunta da fotoestabilidade do produto, dado relevante quando
lidamos com R-UVA, ou seja, avaliamos a curva do produto após sua submissão a níveis determinados de radiação.173
Com a determinação da curva espectral do produto, pós-irradiação na faixa de 290 a 400 nm, calculase a integral da área abaixo da curva e
determina-se o ponto que representa 90% desta área. Esse ponto denomina-se COC. Quanto maior esse valor, ou seja, quanto mais próximo do
máximo (400 nm), maior cobertura de amplo espectro tem esse produto. Atualmente, recomenda-se que o ponto mínimo ideal seja de 370 nm, ou
seja, para um produto apresentar uma boa cobertura de UV-A e UV-B, ele deve ter um comprimento de onda crítico maior ou igual a 370 nm.173
Outra medida relevante é a determinação da fotoestabilidade, definida como a capacidade de um determinado protetor solar em manter sua eficácia
fotoprotetora mesmo após períodos de exposição à radiação.176
Sabemos que muitos produtos podem perder sua eficácia com a exposição continuada à radiação, ocorrendo particularmente dentro da faixa UV-A.
Para quantificar a fotoestabilidade, realizam-se medidas espectrofotométricas antes e após a exposição da placa à fonte de R-UV. Caso não ocorra
importante variação das curvas espectrais, podemos dizer que o produto é fotoestável.
Além da determinação da eficácia fotoprotetora em UV-B (FPS), UV-A (PPD ou FPA-UV e COC), resistência à água e fotoestabilidade, outras
medidas podem ser realizadas de forma complementar.
São normalmente medidas realizadas in vitro (meios específicos ou culturas de células) e podem ser recomendáveis para avaliação de efeitos
complementares, mas inerentes a um protetor solar, tais como a proteção genômica e a proteção antioxidante.
Com as recentes publicações demonstrando a capacidade de radiações de maior comprimento de onda não ultravioleta produzir efeitos deletérios
na pele, cresceu o interesse por métodos capazes de quantificar a eficácia do protetor solar nesses comprimentos de onda.
Sabemos, atualmente, que a luz visível tem relevante participação no processo de pigmentação da pele,177 interferindo no desencadeamento de
dermatoses pigmentárias como o melasma e a hipercromia pósinflamatória. A eficácia de um fotoprotetor na proteção contra a luz visível tem sido
avaliada por métodos espectrofotométricos,178 mas ainda não existe, até o presente momento, um modelo validado consensualmente na literatura,
sendo ainda objeto de pesquisa.
Com relação à radiação infravermelha, sabemos atualmente de seu potencial efeito oxidativo, participando da geração de radicais livres e seu
consequente dano às estruturas moleculares e celulares que desencadearão, a longo prazo, o fotoenvelhecimento.179 Métodos capazes de
quantificar a proteção de filtros solares contra os efeitos da radiação infravermelha ainda não estão estabelecidos, existindo apenas propostas para
a quantificação da capacidade de proteção contra o aumento de metaloproteinases da matriz através de meio de culturas celulares.179
Está atualmente em vigor um projeto de harmonização dos métodos para avaliação de eficácia fotoprotetora, patrocinado pela ISO (International
Standards Organization)180, por um comitê técnico com a participação de pesquisadores de vários países, incluindo o Brasil. Esse projeto tem por
objetivo padronizar e harmonizar todos os métodos de avaliação de eficácia fotoprotetora de protetores solares de forma a produzir resultados
consistentes e com uma uniformização mundial.
No presente momento, já está publicado o método para determinação do Fator de Proteção Solar (FPS), proteção UV-A in vivo (PF-UVA) e proteção
UVA in vitro. Ainda estão sob processo de validação os métodos para determinação do Fator de Proteção Solar (FPS) in vitro, resistência à água e
fotoestabilidade.
Para que um protetor solar tenha seu registro aprovado pela ANVISA, sua documentação e seus estudos devem ser previamente submetidos e
avaliados. No Brasil, assim como em diferentes países do mundo, os protetores solares são classificados como cosméticos.
Em relação à apresentação de estudos de eficácia fotoprotetora, os fabricantes de protetores solares devem submeter os estudos e os dizeres de
rotulagem à ANVISA, de acordo com a legislação brasileira de fotoproteção, RDC 30, publicada em 2012, cujos pontos mais importantes são
descritos no quadro 5.
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CAPÍTULO 5
FOTOPROTEÇÃO ORAL
A exposição solar é capaz de causar danos à pele. Clinicamente, essas alterações podem ser visualizadas nas áreas fotoexpostas (rugas
profundas, aumento da fragilidade cutânea, melanoses solares, flacidez) quando comparadas a áreas de pele fotoprotegidas.181
A radiação ultravioleta (R-UV) é responsável por alterações cutâneas agudas e crônicas. Alterações agudas resultam do impacto direto da R-UV em
cromóforos biológicos como DNA, levando a danos estruturais e liberação de citocinas pró-inflamatórias, enzimas e fatores imunossupressores.182-
184 Alterações crônicas resultam do dano cumulativo e incapacidade celular de reparo, levando ao fotoenvelhecimento e ao câncer. Todos estes
efeitos podem ser induzidos tanto pela exposição à radiação ultravioleta A (UV-A) quanto à ultravioleta B (UV-B), seja por alterações diretas nas
estruturas celulares ou pela geração de espécies reativas de oxigênio (EROS).185-186
Tem-se estimado que aproximadamente 50% do dano induzido pela R-UV resultam da produção de EROS, levando a danos moleculares e
celulares que vão interferir no eritema solar, na pigmentação e nas fotodermatoses, a curto prazo, e, a longo prazo, na fotocarcinogênese e no
fotoenvelhecimento.187
Estudos mais recentes demonstram que medidas de fotoproteção são capazes de prevenir danos biológicos gerados por doses
suberitematogênicas de R-UV e a deterioração de tecidos dérmicos.188
De acordo com Gilaberte e Gonzáles, as principais inovações em fotoproteção na atualidade dividem-se em duas categorias: 1) a introdução de
novos ingredientes aos fotoprotetores tópicos tradicionais e 2) o uso de formulações orais capazes de promover fotoproteção sistêmica.189
Segundo relatos na literatura, os seguintes produtos listados no quadro 6 podem exercer atividade de fotoproteção sistêmica.189
O papel da nutrição na pele foi sempre um tópico de interesse de cientistas e médicos no mundo ao longo dos séculos. A pele é capaz de refletir o
estado geral da saúde e evidenciar o envelhecimento. Tem sido demonstrada a potente ação antioxidante de vitaminas, carotenoides, tocoferóis,
flavonoides e uma variedade de extratos vegetais, que têm sido usados largamente por indústrias tanto em agentes tópicos quanto em suplementos
orais, com o objetivo de prolongar a juventude e melhorar a aparência da pele. A principal estratégia de prevenção contra radicais livres resume-se
a hábitos de vida saudáveis (restrição calórica, cuidados com o corpo e realização de exercícios físicos regulares) associados a condições de baixo
stress, dieta nutricional balanceada, incluindo alimentos ricos em ação antioxidante.190
Existe evidência de que algumas substâncias, quando administradas oralmente, poderiam exercer uma ação preventiva contra os danos cutâneos
induzidos pela R-UV sem causar efeitos adversos. O mecanismo de ação é variado, atuando em diferentes etapas da sinalização, resultando em
ação antioxidante, anti-inflamatória e imunomoduladora.189
Várias substâncias de origem botânica, utilizadas como fotoprotetores tópicos, parecem apresentar efetividade semelhante se administradas
oralmente. Dentro desse grupo estariam incluídos os alcaloides, como a cafeína, o extrato de Polypodium leucotomos, polifenóis e carotenoides.189
Fotoproteção oral é um termo utilizado para designar o uso isolado ou em combinação de diversos ativos que têm demonstrado capacidade de
minimizar danos causados pela radiação solar na pele.
A seguir, abordaremos as principais substâncias descritas na literatura que poderiam apresentar evidências de exercer atividade fotoprotetora oral.
Importante frisar que nenhuma das substâncias que serão descritas pode ter a pretensão de substituir o uso dos fotoprotetores tópicos, visto que
nenhuma delas possui a capacidade de impedir a penetração da R-UV na pele. Até o presente momento são capazes de atuar, de alguma maneira,
como coadjuvantes no processo de fotoproteção.
VITAMINAS
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O ácido ascórbico tópico é utilizado em uma série de produtos cosméticos, como clareadores, anti-aging e formulações de fotoprotetores. O uso da
vitamina C nos produtos tópicos é difícil pela sua rápida capacidade redutora e pela degradação que ocorre em presença de oxigênio, mesmo antes
de ser aplicado sobre a pele.192
A proteção da R-UV pela vitamina C tópica vem sendo descrita na literatura.191,193 A ideia nos fotoprotetores é agregar a proteção do filtro a uma
ação antioxidante. Entretanto, o estudo de Wang e cols. indica que maiores estudos são necessários nas formulações já que, em vários produtos,
os efeitos desejados não são aferidos.194
A proteção cutânea com o uso da vitamina C oral isoladamente não está comprovada na literatura. Entretanto, alguns trabalhos foram realizados
com o uso combinado das vitaminas C e E conforme descrição a seguir.
Tocoferóis (vitamina E)
O complexo de vitamina E corresponde a um grupo de 8 compostos chamados tocoferóis. Tocoferol é um antioxidante lipossolúvel que se liga à
membrana, sendo um sequestrador de espécies altamente reativas de oxigênio. Assim como a vitamina C, é um antioxidante natural, não
enzimático e endógeno. A vitamina E atua sinergicamente com a vitamina C. Quando moléculas ativadas pela R-UV oxidam componentes celulares,
ocorre indução de uma reação em cadeia de peroxidação lipídica nas membranas ricas em ácidos graxos poli-insaturados. O antioxidante D-alfa-
tocoferol é oxidado ao radical tocoferoxyl, processo esse que pode ser regenerado pela vitamina C.195,196
Além do ácido ascórbico, a glutationa e a coenzima Q-10 também podem reciclar tocoferol. Grandes quantidades de tocoferol estão disponíveis em
vegetais, óleos vegetais, como óleo de germe de trigo, óleo de girassol, semente e óleo de cártamo, milho, e em algumas carnes. A ingestão natural
de vitamina E auxilia contra o cross linking do colágeno e peroxidação lipídica, que estão relacionados ao envelhecimento cutâneo. De acordo com
o processo descrito acima, o D-alfa-tocoferol está envolvido na estabilização das membranas celulares pela inibição da oxidação de ácidos graxos
poli-insaturados, como o ácido aracdônico das membranas fosfolipídicas o processo descrito acima, o D-alfa-tocoferol está envolvido na
estabilização das membranas celulares pela inibição da oxidação de ácidos graxos poli-insaturados, como o ácido aracdônico das membranas
fosfolipídicas.190
A aplicação tópica da vitamina E é descrita para reduzir eritema, sunburn cels, dano cutâneo UV-B induzido e fotocarcinogênese na maioria dos
estudos publicados.192
Existem vários estudos clínicos que testaram os efeitos do tocoferol. Os dados parecem ser controversos, porém altas doses de vitamina E oral
parecem afetar a resposta à UV-B em humanos.197
Mireles-Rocha e cols., em seu estudo, compararam o uso oral de 1200UI/dia alfa-tocoferol (grupo 1) a 2 g/dia de vitamina C (grupo 2) e à
combinação de ambos (grupo 3) por uma semana. Os resultados demonstraram uma elevação na dose eritematosa mínima de 60 a 65 mJ/cm2 no
grupo 1 e 50 a 70 mJ/cm2 no grupo 3. Não houve diferença no grupo 2.198
Em estudo de 3 meses, Placzek e cols. observaram os efeitos da combinação do ácido ascórbico (vitamina C - 2 g/dia) com o D tocoferol (vitamina
E - 1000 IU/dia) administrados por via oral a voluntários humanos com dano epidérmico induzido pela UV-B. O tratamento foi bem tolerado e
poderia ser utilizado na prevenção dos efeitos deletérios da irradiação UV-B (formação de dímeros de timina) e câncer de pele, de acordo com os
autores.199
O tratamento com combinação oral de vitaminas C e E aumenta os efeitos fotoprotetores se comparado à monoterapia. Os autores recomendam
que esse intercâmbio sinérgico de vários antioxidantes deva ser considerado em futuras pesquisas sobre fotoproteção cutânea.200
CAROTENOIDES
Os carotenoides são derivados da vitamina A, como o betacaroteno, a astaxantina, o licopeno e o retinol, que são antioxidantes altamente efetivos e
têm sido documentados em suas propriedades fotoprotetoras.201-203 Os achados de Scarmo e cols. sugerem que a pele humana é relativamente
rica em licopeno e betacaroteno, quando comparados a luteína e zeaxantina, refletindo possivelmente a função do hidrocarbono na fotoproteção da
pele humana.197
Betacaroteno
O betacaroteno é o principal componente do grupo dos carotenoides, sendo um corante natural que pode ser encontrado na dieta. Alguns exemplos
de alimentos ricos em betacaroteno são frutas e vegetais, como cenoura, abóbora, batata-doce, manga e mamão papaia.204
Comparado aos outros carotenoides, a principal ação do betacaroteno é sua atividade pró-vitamina A. Ele pode ser clivado pela enzima BCM01 em
duas moléculas de al-trans-retinol. Não existe diferença entre o betacaroteno natural e o sintetizado quimicamente. Além disso, o betacaroteno pode
também atuar como um antirradical livre lipídico e sequestrador de oxigênio singlet, como demonstrado in vitro.205
O betacaroteno é considerado um fotoprotetor endógeno e sua eficácia na prevenção da formação do eritema induzido tem sido demonstrada em
vários estudos.202,203,206,207
A ação fotoprotetora sistêmica do betacaroteno depende da dose e duração do tratamento. Em estudos documentando a ação contra o eritema UV
induzido, a suplementação com carotenoides foi realizada com duração de, pelo menos, 7 semanas, com doses maiores de 12 mg/ dia.207-210
Nos estudos em que o período de tratamento foi de apenas 3 a 4 semanas, os efeitos fotoprotetores não foram demonstrados.211
Além disso, a suplementação com betacaroteno pode reduzir significantemente a mutação mitocondrial nos fibroblastos dérmicos humanos após
irradiação UV.212
Astaxantina
A astaxantina pode ser encontrada em microalgas, leveduras, salmão, truta, camarão, lagostim e crustáceos. Ela é biossintetizada por microalgas e
fitoplânctons, que são consumidos por zooplâncton e crustáceos. Eles acumulam a astaxantina e são ingeridos por peixes que obtêm astaxantina
na cadeia alimentar.213
A astaxantina tem mostrado potencial considerável e aplicações promissoras na saúde humana e nutrição. Tem sido sugerida, pelo seu potencial
protetor, contra uma série de doenças.214
A ação protetora UV dos extratos de algas contendo 14% de astaxantinas, comparados à astaxantina sintética, foi estudada. Os autores relatam
que a pré-incubação com a astaxantina sintética ou com o extrato de algas poderia prevenir as alterações induzidas pela UV-A na atividade da
superóxido desmutase celular e ainda prevenir a diminuição da quantidade de glutationa nas células.215
No estudo de Câmera e cols., foi comparada a modulação do dano relacionado à UV-A pela astaxantina, cantaxantina e betacaroteno para
fotoproteção em fibroblastos dérmicos humanos.216
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A astaxantina demonstrou efeito fotoprotetor significativo em combater alterações UV-A induzidas em grandes áreas. A captação da astaxantina
pelos fibroblastos foi maior que a da cantaxantina e a do betacaroteno, levando a crer que o efeito da astaxantina nas alterações foto-oxidativas foi
maior que o de outras substâncias. Estudo recente de Suganuma e cols. demonstrou que a astaxantina poderia interferir na expressão da
elastase/endopeptidase neutra dos fibroblastos cutâneos e de metaloproteinases de matriz tipo 1 UV-A induzida.217 Ambos os estudos sugerem
que os efeitos da radiação UV-A, como flacidez da pele e formação de rugas, podem ser prevenidos, ou pelo menos minimizados, pela
administração oral ou tópica de astaxantinas.217
Licopeno
O licopeno é um pigmento carotenoide vermelho vivo encontrado no tomate e em outros frutos vermelhos, além de vegetais e cenoura vermelha,
melancia e papaias, mas não nos morangos e cerejas. Apesar de o licopeno ser quimicamente um caroteno, ele não possui atividade da vitamina A.
O betacaroteno e o licopeno são os principais carotenoides presentes no sangue e tecidos, capazes de modular propriedades cutâneas quando
ingeridos como um suplemento alimentar ou em produtos da dieta. Apesar de não poderem ser comparados aos filtros solares, existe evidência de
que eles podem proteger a pele contra eritema solar, aumentando a defesa cutânea contra os danos da R-UV.218
Um estudo demonstrou que a concentração de licopeno no plasma e no tecido pode ser comparado ou superior ao do betacaroteno. Quando a pele
é exposta ao estresse oxidativo produzido pela R-UV, ocorre maior destruição de licopeno se comparado ao betacaroteno, sugerindo o papel do
licopeno na mitigação do dano oxidativo.201
Em 2001, Stahl e cols. estudaram o benefício da ingestão de 40 mg de uma pasta de tomate por dia (licopeno 16 mg), demonstrando redução
significativa do eritema induzido pela radiação ultravioleta.218
Luteína
A luteína é um carotenoide xantofílico com potente atividade antioxidante. Em modelo animal, a sua suplementação oral foi capaz de acumular-se
na pele e diminuir a geração de radicais livres após exposição ultravioleta.219
Em 2007, um estudo comparativo do uso da luteína associada à zeaxantina de forma tópica, oral ou ambos foi conduzido, demonstrando que todos
os grupos apresentaram melhora da elasticidade cutânea, porém o grupo que combinou o tratamento oral e tópico apresentou um efeito sinérgico
com maior grau de ação antioxidante, com melhora também da hidratação cutânea. Estudos têm sido conduzidos a fim de demonstrar outros
possíveis efeitos cutâneos da luteína, tais como: diminuição da proliferação celular, atividade anti-inflamatória e imunossupressora e inibição da
fotocarcinogênese.220
POLIFENÓIS
Os polifenóis têm chamado a atenção de pesquisadores sobre envelhecimento na última década, principalmente por suas propriedades
antioxidantes, por grande quantidade na ingestão das dietas e pelo número crescente de estudos demonstrando sua possível participação na
prevenção de várias doenças associadas ao estresse oxidativo, como câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.221
A sua ingestão diária pode ser de até 1 g/dia, que é muito maior do que qualquer outra classe de fitoquímicos ou antioxidantes. Os polifenóis são
encontrados principalmente nas frutas e bebidas derivadas de plantas como suco de frutas, café, chá e vinho tinto. Vegetais, cereais, chocolate e
legumes também são fontes de polifenóis.222,223
Milhares de moléculas contendo estrutura de polifenol têm sido identificadas em plantas envolvidas na defesa contra radiação UV ou agressão de
patógenos. Dependendo do número de anéis fenólicos e da maneira como eles estão interligados entre si, os polifenóis podem ser divididos em
diferentes grupos funcionais, como ácidos fenólicos, flavonoides, estilbenos (resveratrol) e lignanas (linhaça).221 Os flavonoides são também
divididos em flavonas, isoflavonas e flavononas, cada uma com uma discreta diferença em sua estrutura química.191
Estudos laboratoriais dos diferentes polifenóis, como chá verde, semente de uva, proantocianidinas, resveratrol, silimarina e genisteína, avaliados
em modelos animais sobre inflamação cutânea, estresse oxidativo e dano DNA induzidos pelo ultravioleta, sugerem que esses polifenóis
combinados com proteção de filtros solares apresentam a habilidade de proteger a pele dos efeitos adversos da radiação UV, incluindo o risco de
câncer cutâneo.224
O mecanismo de ação subjacente dos polifenóis tem sido alvo de discussão nas últimas décadas. Uma das teorias mais fortes refere que a
resposta celular dos polifenóis ocorre por interação direta com receptores ou enzimas envolvidas na sinalização de transdução, resultando na
modificação do status redox das células, podendo desencadear uma série de reações redox-dependentes.225,226
Como antioxidantes, os polifenóis podem melhorar a sobrevida celular, como pró-oxidantes podem induzir apoptose e prevenir crescimento
tumoral.223,227
Estudos em animais demonstraram que a administração oral contínua da 3-galato de epigalocatequina aumenta a dose eritematosa mínima e
diminui fotoenvelhecimento e fotocarcinogênese induzidos pela radiação UV-B.228
A genisteína oral também parece reduzir a carcinogênese UV-B induzida em modelos animais.229
A administração oral da quercetina reduz a produção de estresse oxidativo em animais expostos à radiação UV-A e UV-B.230,231
O pycnogenol é uma fonte de flavonoides, extraído da casca do pinheiro marítimo Frances Pinus pinaster. Tem despertado atenção pela sua
potente ação antioxidante, sendo demonstrada sua capacidade de modular o eritema UV induzido e a expressão do fator nuclear-kappa-B.232
PROBIÓTICOS
O termo probiótico é definido como "microorganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, conferem efeito saudável ao
hospedeiro".233 Os principais probióticos utilizados em humanos e animais são enterococus, lactobacilos e bifidobactérias, que fazem parte da flora
natural do trato intestinal. Prebióticos são componentes alimentares não viáveis, que conferem benefícios saudáveis aos hospedeiros associados à
modulação da microbiota.
Estudos clínicos utilizando probióticos bacterianos (Lactobacillus johnsonii NCC 533) para modular a homeostasia do sistema imune cutâneo,
alterado pela exposição UV por simulador solar em humanos, sugerem que certos probióticos podem auxiliar a preservação da homeostasia
cutânea por meio da modulação do sistema imune da pele.234-236
Esta cepa específica de Lactobacillus johnsonii associada a carotenoides (β-caroteno: 4,8 mg/dia; licopeno: 2 mg) foi capaz de impedir a diminuição
na densidade de células de Langerhans UV-induzida em voluntários humanos.181
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COMBINAÇÃO DE ANTIOXIDANTES
Morganti, em estudo randomizado, duplocego, placebo-controlado, descreve a comparação do tratamento de um complexo antioxidante (ácido
ascórbico, tocoferol, ácido alfa-lipoico, melatonina, emblica) tópico e/ou sistêmico por 8 semanas, em 30 voluntários. Foi realizado também estudo in
vitro (EROS induzido pela irradiação de leucócitos pela radiação UV-B). Ele conclui que ambos parecem atuar como bons fotoprotetores.237
Greul e cols. descreveram que o uso repetido de uma combinação de antioxidantes, como carotenoides (betacaroteno e licopeno), vitaminas C e E,
selênio e proantocianidinas, poderia reduzir o eritema UV-B induzido e a expressão da metaloproteinase de matriz tipo 1 e tipo 9.238
A combinação de vitamina C, vitamina E, pycnogenol e óleo de prímula foi estudada em modelo animal sob exposição crônica de radiação UV-B. O
estudo demonstrou que o complexo seria capaz de inibir a expressão de metaloproteinase de matriz e aumentar a síntese de colágeno, reduzindo a
formação de rugas.239
Atenção especial tem sido dada a complexos contendo antioxidantes, entretanto questões referentes a quais ativos, como combiná-los e em que
doses ainda permanece um desafio, sendo que maiores estudos se fazem necessários.240
POLYPODIUM LEUCOTOMOS
O Polypodium leucotomos é um extrato botânico, oriundo de uma samambaia tropical, que cresce em áreas da América Central e do Sul, mais
frequentemente em altitudes entre 700 a 1300 m. Foi descrita desde o século 18 em expedições botânicas e era utilizada pelos nativos em infusões
graças à sua ação antiflogística e antitumoral.242-244
A partir da década de 90, começaram a surgir estudos, conduzidos em Harvard pelos professores Fitzpatrick, Phatak e Gonzáles com o extrato de
P. leucotomos, que contêm vários marcadores farmacológicos, entre eles derivados fenólicos como o ácido clorogênico, ácido vanílico, ácido cafeico
e ácido ferúlico.244,245
A partir de então, uma série de estudos científicos foi publicada, demonstrando os diversos mecanismos de ação desse fitoextrato que seriam: ação
antioxidante, ação imunoprotetora, proteção ao DNA e reorganização da arquitetura da pele.244-249
Em 1996, a ação antioxidante do Polypodium leucotomos pôde ser demonstrada por meio de sua capacidade de redução de 55% do ânion
superóxido, 50% da peroxidação lipídica e 10% do oxigênio singlet. Mais recentemente, foi demonstrada a capacidade de o ácido cafeico e o ácido
ferúlico inibirem a cadeia de peroxidação lipídica. O ácido ferúlico também demonstrou ser um potente absorvedor de fótons UV.242-244
Em 2004, um estudo com 10 voluntários humanos demonstrou que a presença do Polypodium leucotomos era capaz de diminuir a depleção das
células de Langerhans. A sua ação na inibição da fotoisomerização do ácido urocânico também foi avaliada, demonstrando a ação
imunomoduladora.246,247
A capacidade de inibir a formação de sunburn cells e a formação dos dímeros de timina demonstrou o potencial de proteção ao DNA exercido pelo
Polypodium leucotomos. Um estudo feito com cultura de fibroblastos e queratinócitos sugeriu que o Polypodium leucotomos teria um efeito protetor
sobre os fibroblastos.249
Com base nos mecanismos de ação descritos, várias indicações clínicas vêm sendo empregadas para sua utilização, tais como diminuição do
eritema solar, do eritema da fototerapia e da erupção polimorfa à luz. Tem sido também indicado como tratamento coadjuvante de doenças como
vitiligo, psoríase e melasma.244,250,251
O seu pico plasmático é de 2 horas e sua meiavida de 6 horas, sendo seu maior efeito entre 2 a 4 horas após sua ingestão. A sua dose varia de 1 a
5 comprimidos (250 mg) dependendo do acometimento cutâneo e do grau de exposição solar.
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Os análogos do hormônio estimulador do melanócito alfa (alfa-MSH) podem ser utilizados para o estímulo da melanogênese. Três fragmentos
(melanotan I, II e III) demonstraram in vitro ação agonista ao receptor melanocortina-1 e capacidade de estimular a melanogênese.257 Melanotan I,
administrado na dose de 20 mg, duas vezes ao dia, por 60 dias, demonstrou um aumento na tolerância à exposição solar e uma diminuição nos
efeitos adversos em pacientes portadores de protoporfiria eritropoiética.258
CAPÍTULO 6
O quadro 7 apresenta os principais fatores que interferem na capacidade de proteção de um determinado tecido.261
Mais recentemente, tecidos produzidos com fios fabricados com filtros ultravioleta têm sido oferecidos, garantindo uma proteção superior e
reduzindo a influência dos fatores ambientais acima citados, na proteção oferecida pela roupa.
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Uma outra alternativa é a introdução de aditivos nas lavagens de roupas, juntamente com os sabões e amaciantes, oferecendo um incremento de
proteção ao tecido lavado.259,261-263,271-274
Para quantificar a capacidade de proteção de uma determinada roupa, em 1996, a Agência Australiana de Proteção à Radiação e Segurança
Nuclear (ARPANSA) apresentou uma primeira regulamentação quanto ao poder de proteção UV oferecido por roupas - a norma
AS/NZS4399:1996.275 A capacidade de proteção é baseada na transmissão da radiação pelo tecido, obtendo-se o Fator de Proteção Ultravioleta -
FPU ou UPF (do inglês ultraviolet protection factor).
Segundo o método proposto pela ARPANSA, o FPU é determinado através de técnica espectrofotométrica, em que a transmissão de energia do
tecido avaliado entre os comprimentos de onda que compreende a faixa UV (290-400 nm) é calculada.262,263,275-277
O número do FPU revela a capacidade de impedir a transmitância da radiação através do tecido. Ele é expresso em unidade, cujo número é
inversamente proporcional à quantidade de radiação que ultrapassa o tecido. Uma roupa com FPU de 40-50 permite uma transmitância de apenas
2,6%, conferindo excelente proteção da pele.
Baseada nas diferentes categorias de proteção dos tecidos em relação aos índices de FPU e bloqueio de R-UV, a norma da Austrália (AS/NZS
4399), em 1996, apresentou os seguintes parâmetros (Tabela 1): roupas com FPU de 15 e 20 bloqueiam 93,3% a 95,8% da R-UV, ou seja,
oferecem boa proteção; roupas com FPU de 20, 30, 35 bloqueiam de 95,9% a 97,4% da R-UV, ou seja, fornecem muito boa proteção; e roupas com
FPU de 40, 45, 50 e 50+ bloqueiam mais de 97% da R-UV, portanto permitem excelente proteção. Não são considerados artigos com FPU menor
do que 15 e os fatores acima de 50 são considerados 50+.
Após a norma australiana, que estabelece padrões de FPU acima de 15, outros países criaram suas regulamentações baseadas na incidência da
radiação própria de cada região, a exemplo do Reino Unido (FPU 15), Estados Unidos (FPU 30) e da Europa, que estipulou como padrão seguro o
FPU de 40+. Estes padrões devem ser afixados nos artigos de vestuário acompanhados do número da norma (EN 13758), pois os países alegam
que, neste patamar, fatores que não são testados, como umidade e estiramento, seriam compensados e dariam segurança em situações extremas
em todas as áreas geográficas.267
Ainda não há uma norma brasileira disponível para a quantificação do fator de proteção oferecido por roupas.
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Tipos de vidro
Alguns dos principais tipos de vidro utilizados em janelas são:
Vidro comum/claro (clear glass): é transparente e sem cor. Sua característica principal é a capacidade de proporcionar proteção contra elementos
externos ao mesmo tempo em que permite a transmissão da luz visível ao interior. Dependendo da espessura, o vidro claro transmite mais de 90%
da luz visível (entre 400-780 nm) e até 83% do calor solar.279
Vidro impresso: obtido por meio de derramamento contínuo de massa vítrea. Com rolos metálicos, fazem-se gravações em sua superfície com as
mais variadas texturas.283
Vidro laminado (laminated glass): é produzido associando-se duas lâminas de vidro a uma camada de plástico (PVB - polyvinyl butyral), sob calor e
pressão. Uma vez fundidos o vidro e o plástico, o resultado é um vidro que atua como uma unidade única e geralmente muito semelhante ao vidro
claro comum. O benefício do vidro laminado é que, se quebrado, os fragmentos ficam aderidos à camada de PVB ao invés de se espalharem
reduzindo, assim, o risco de acidentes. O PVB filtra aproximadamente 99% da radiação ultravioleta sem diminuir a transmissão de luz visível.284
Vidro temperado (tempered glass): é obtido por meio de aquecimento gradativo e resfriamento abrupto num forno de têmpera (vertical ou
horizontal), sendo essencialmente um vidro de segurança. Em caso de quebra, fragmenta-se em pedaços pouco cortantes e bem pequenos.284
Alguns estudos têm relatado a importância dos vidros no bloqueio de radiação UV-B e de certo intervalo de UV-A.279 Outras pesquisas têm
comprovado a importância do vidro como agente fotoprotetor contra efeitos biológicos indesejáveis.284
Duarte e cols.,285 em trabalho publicado em 2008, demonstraram que todos os tipos de vidros diminuíram a transmissão de UV-A. O vidro do tipo
laminado foi o mais eficiente em barrar totalmente a radiação ultravioleta A, o que poderia ser explicado por suas características de produção:
associação entre duas lâminas de vidro a uma camada de plástico (PVB - polyvinyl butyral), o que o torna uma barreira eficaz contra UV-A.284
As cores apresentam grande influência na transmissão de radiação. A amostra de cor verde bloqueia totalmente a irradiação UV-A, e a amarela
permite a passagem de apenas 1,3%.285 Na fabricação de vidro, podem ser usados aditivos para colorir. O Fe3+ confere coloração amarelo-
acastanhada, enquanto a mistura de Fe3+ e Fe2+, uma cor verde. Outros colorantes podem ser adicionados para obter outras cores. O íon Fe2+
absorve luz na região do infravermelho, enquanto o Fe3+ absorve luz na região do ultravioleta. Dessa forma, amostras contendo Fe3+ nos
pigmentos de tinta são mais eficientes em diminuir a transmissão de UV-A.286,287
Em relação à espessura dos vidros, a transmissão da radiação UV-A diminui com o seu aumento, mas de maneira pouco significativa quando
comparada a outras variáveis analisadas.
Os filmes plásticos com 35% e 20% de visibilidade (transmissão de luz visível) filtram UV-A abaixo de 370 e 380 nm, respectivamente.284 A
radiação UV-B é barrada totalmente por todas as amostras de vidro utilizadas, a qualquer distância da fonte emissora, já que seu poder de
penetrância é menor do que o da UV-A.279,284,285 Além disso, a distância do vidro à fonte emissora de luz influencia de maneira significativa na
quantidade de radiação basal, sendo que, quanto maior a distância, menor a irradiação e, portanto, menor a transmissão de UV pelos vidros. Esse
fato pode ser explicado pela grande dissipação de energia que ocorre a maiores distâncias em condições ambientais.284
Aplicando os resultados acima em uma situação do cotidiano, a radiação UV-B que incide sobre um indivíduo dentro de automóvel com vidros
fechados é nula. Mesmo no caso da radiação UV-A, a transmissão é insuficiente para produzir dano actínico visto que, além de o vidro bloquear
uma parcela importante da radiação, pequenas alterações na distância da fonte de luz já diminuem significativamente a irradiação.
Tendo em vista essas considerações, os ambientes internos com vidros podem ser considerados seguros para fotoproteção, sendo essa
constatação importante inclusive no campo da Medicina ocupacional, no qual a utilização de cabines de vidro em carros profissionais, por exemplo,
seria uma medida preventiva de saúde para os trabalhadores.
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4. Do ponto de vista regulatório, a SBD recomenda que normas técnicas e legislações pertinentes devam ser apresentadas para a regulamentação
de proteção solar oferecida por roupas e chapéus para uso em atividade recreacional ou profissional, óculos de sol e guarda-sóis.
5. Do ponto de vista de saúde pública, a SBD estimula a realização de ações educativas a fim de promover o uso maior de medidas mecânicas de
fotoproteção como estratégia fotoprotetora acessível a toda a população, com a eficiência e a segurança necessárias.
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 7A
MEDIDAS GERAIS
A prescrição de protetores solares, assim como toda a orientação sobre medidas fotoprotetoras, faz parte da rotina dos dermatologistas em suas
atividades assistenciais. A correta orientação oferecida aos pacientes garantirá resultados mais eficientes ao tratamento dermatológico oferecido.
Existem diferentes condições nas quais o dermatologista deve orientar a fotoproteção aos seus pacientes, sendo as mais importantes listadas
abaixo:288-290
Tratamento e prevenção de neoplasias cutâneas em pacientes predispostos.
Tratamento e prevenção do fotoenvelhecimento dentro de um programa cosmiátrico mais completo.
Tratamento e prevenção de fotodermatoses ou dermatoses fotoinduzidas.
Prevenção do desenvolvimento de fotoirritação ou fotossensibilização em decorrência de outros tratamentos dermatológicos propostos, como o uso
de retinoides tópicos, uso de psoralenos e terapia fotodinâmica.
Prevenção de hipercromia pós-inflamatória em tratamentos cosmiátricos, particularmente os ablativos.
Orientações dentro de um programa de fotoproteção mais completo, seja para o público infantil ou adulto, em atividades recreacionais ou esportivas
ao ar livre.
Orientações para prevenção de dano actínico em trabalhadores entre os quais parte de suas atividades ocorra ao ar livre.
Em todas as situações descritas, haverá particularidades em relação à seleção do protetor solar mais adequado, em relação ao modo de uso do
produto e em relação às demais medidas fotoprotetoras a serem oferecidas, que serão devidamente abordadas em capítulos posteriores.
De forma geral, entretanto, sempre cabe ao dermatologista a seleção do fotoprotetor mais adequado para aquele determinado paciente e a
orientação para seu uso correto.
ATRIBUTOS DE ROTULAGEM
O dado mais importante é o Fator de Proteção Solar (FPS), item obrigatório na rotulagem dos produtos.123
O FPS, como dito anteriormente, representa a razão entre a dose eritematosa mínima da pele protegida e a da pele não protegida em um grupo de
voluntários. Na prática, é a expressão do tempo de exposição adicional à R-UV que o usuário teria até produzir eritema com o uso do produto,
comparado ao tempo que esse mesmo usuário necessitaria para produzir o mesmo grau de eritema sem o uso do produto.123
Assim, um determinado usuário, ao aplicar um hipotético protetor de FPS 30, poderia se expor 30 vezes mais até produzir o mesmo padrão de
eritema que ele mesmo produziria sem o uso do protetor solar.291
A discussão sobre o valor ideal de FPS é antiga na literatura. Publicações datadas da década de 90 do século passado utilizavam modelos
matemáticos para justificar que produtos com FPS acima de 30 apresentavam somente um ganho marginal de absorção de UV-B se comparado ao
aumento do valor do FPS.123
Atualmente, entretanto, esse conceito já foi absolutamente desqualificado na literatura, por diferentes motivos, destacando os três principais:292
1. A transmitância (energia que passa pelo protetor solar) é mais relevante do que a absorbância (energia que fica retida no protetor).
A absorbância de um determinado protetor (ou seja, a quantidade de energia retida pelo protetor), dentro do espectro eritematogênico da radiação
UV, pode ser calculada pela seguinte equação:123
A = (1 - 1/FPS)x100
Desta forma, produtos com FPS acima de 30 teriam somente um pequeno aumento da absorbância dentro da faixa capaz de produzir eritema,
motivo pelo qual se justificava, à época, não utilizar produtos com alto FPS.123
O que Osterwalder e Herzog292 e outros autores recomendam, entretanto, é que consideremos como dado mais importante não a absorbância, mas
sim a transmitância, definida como a quantidade de energia que passa pelo filme fotoprotetor e atinge a pele:123,292
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T = (1/FPS)x100
Sob esta ótica, um produto com FPS 30 permitiria passar o dobro da radiação do que um produto de FPS 60, justificando, assim, a utilização de
produtos com alto FPS.123,292
A figura 4 demonstra de forma gráfica a relação entre absorbância e transmitância de fotoprotetores.292
2. O FPS é uma medida de proteção contra a queimadura solar, não contra o câncer de pele.123
Apesar de reconhecido como a mais relevante medida de fotoproteção, o FPS representa a capacidade de um protetor solar em proteger contra a
queimadura solar.123
Hoje sabemos que o espectro da radiação responsável pela carcinogênese não é exatamente igual ao espectro eritematogênico e, além disso, a
quantidade de energia suficiente para produzir alterações moleculares do DNA é menor do que a Dose Eritematosa Mínima.293
Por esses fatores, os autores não recomendam uma limitação no valor do FPS se considerarmos que o principal benefício de um protetor solar em
longo prazo é a prevenção do câncer cutâneo.
3. A quantidade aplicada na prática pelos usuários é muito inferior à recomendada e utilizada nos estudos para determinação do FPS.34,123
A determinação do FPS é feita por meio de métodos validados e publicados em literatura, mas que não representam a realidade do uso desses
produtos na prática por aplicarem quantidades insuficientes, por não aplicarem uniformemente em todo o tegumento ou por não reaplicarem o
produto com a frequência devida.34,123,289
O principal fator interferente na eficácia do protetor solar (isto é, FPS) é a quantidade aplicada.123
Diferentes estudos já demonstraram que existe uma diferença relevante entre as condições laboratoriais para a execução do teste de FPS e as
condições reais de uso pelos consumidores, especialmente no que tange à quantidade aplicada.123,289
Estudos publicados mostram que a aplicação insuficiente leva a uma expressiva queda da eficácia do protetor solar, isto é, do seu FPS real.34,294-
296
Schalka e cols. publicaram estudo em que demonstram que a aplicação insuficiente do protetor solar leva à redução exponencial do FPS real,
sendo o principal fator interferente na eficácia do fotoprotetor.34
Para compensar essa queda, autores recomendam que produtos com FPS mais elevados sejam utilizados pelos usuários, principalmente em
situações em que há uma exposição excessiva ao Sol ou em usuários muito sensíveis.123,189
A Academia Americana de Dermatologia, desde 2009, recomenda o uso de protetores solares com FPS acima de 30, considerando os fatores
acima expostos.123
Proteção UV-A
Além do valor do FPS, um dado muito importante na escolha de um protetor solar é a proteção UV-A.
Como já mencionado, a nova legislação brasileira de fotoproteção determina que um produto, para declarar proteção UV-A ou proteção de amplo
espectro, deve apresentar um valor de FP-UVA maior do que um terço do valor do FPS e um comprimento de onda crítico superior a 370 nm.128,288
Essas considerações baseiam-se em diferentes estudos que apontam um equilíbrio de proteção UV-B e UV-A quando essas medidas são
alcançadas.288,297
Cabe ao dermatologista, portanto, selecionar produtos que atendam a essa demanda, solicitando dados adicionais ao fabricante.
Resistência à água
Como dito anteriormente, a medida de resistência à água é complementar à do FPS e deve ser exigida para produtos destinados ao uso intencional
ao Sol, ou seja, produtos para a prática esportiva e de lazer, ao ar livre ou aquáticas.
Dentro da metodologia do estudo, como já citado, aceita-se uma perda da eficácia fotoprotetora, que pode atingir até 50% do valor do FPS pré-
imersão. Por esse motivo, recomenda-se que, mesmo com a prescrição de produtos resistentes ou muito resistentes à água, haja a reaplicação do
produto após longos períodos de imersão.288,295,296
Fotoestabilidade
A determinação da fotoestabilidade não é ainda uma exigência para o registro de protetores solares no Brasil.
Entretanto, sabemos que produtos que se proponham a ser utilizados em situações de intensa ou extensa exposição ao Sol, como os produtos para
atividades ao ar livre, devem ter sua fotoestabilidade avaliada a fim de garantir aos usuários a segurança para uso nessas condições.288,296,297
Recomenda-se ao dermatologista solicitar as informações de fotoestabilidade ao fabricante.
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tegumento.39
Para um adulto médio de 70 kg e 170 cm, a quantidade necessária para a cobertura de todo o corpo seria de 35 a 40 gramas.290
Por outro lado, como já citado previamente, na prática, os usuários aplicam quantidades bem menores de protetores solares, com expressiva queda
na proteção real atingida.5
Por conta disso, segundo publicações científicas e como recomendação das agências regulatórias, deve-se estimular os usuários a aplicar maiores
quantidades de fotoprotetor.
Uma das estratégias recomendadas é o uso da "regra da colher de chá", na qual consideramos a aplicação de 1 colher de chá no segmento cefálico
e em cada um dos membros superiores e 2 colheres de chá para tronco/dorso e para cada um dos membros inferiores, conforme figura 5.298
Outra estratégia proposta é a recomendação para a aplicação do fotoprotetor em duas camadas, feitas uma em seguida à outra, dobrando-se a
quantidade aplicada e aproximando-se do valor de 2 mg/cm2.
Aplicação inicial
A aplicação inicial é estratégica para o sucesso da fotoproteção, tendo sido publicados estudos demonstrando que uma primeira aplicação correta
pode compensar eventuais incorreções na reaplicação.295
Como já apresentado, os estudos para determinação de FPS e PPD-UVA mostraram que se requer um intervalo de 15 minutos entre a aplicação do
produto e o início da exposição, justificando-se também esse intervalo para a orientação prática.5
Sabemos, entretanto, que alguns protetores solares demonstram sua efetividade imediatamente após a aplicação, sem a necessidade do intervalo
de 15 minutos. Desde que demonstrado por estudo clínico, esta recomendação poderá ser feita pelo dermatologista ao seu paciente.
Outro aspecto importante na aplicação do fotoprotetor é a uniformidade de sua aplicação, evitandose que algumas áreas sejam esquecidas ou que
haja aplicação insuficiente pela falta de atenção.290
Por esses fatores, recomenda-se que a aplicação de fotoprotetores deva ser feita, de preferência, antes do início da exposição ao Sol e, quando em
uso corporal, com a menor quantidade possível de roupas.
Reaplicação
A reaplicação do protetor solar é bastante relevante já que é sabido que há um declínio do efeito protetor com o passar do tempo e da exposição ao
Sol e aos fatores ambientais (roupas, toalhas, vento, água, entre outros).290,295
Esta queda de proteção pode variar bastante, a depender da formulação do protetor e das atividades exercidas pelo usuário.
Por ser difícil estimar, entende-se que o tempo de 2 horas seja o sugerido para uma recomendação geral à população, mesmo reconhecendo que,
para alguns produtos e em algumas situações, o intervalo para reaplicação poderia ser mais espaçado.288,290,295
Medidas Gerais
1. Não existe medida fotoprotetora que, isoladamente, garanta uma fotoproteção adequada; por isso, a SBD recomenda a combinação do maior
número possível de medidas como a estratégia mais correta.
2. Em todas as condições, a SBD não recomenda a exposição ao Sol no período entre 10 e 15 horas (considerar o horário de verão quando
necessário). A depender da época do ano (verão) e da localidade da exposição, deve-se considerar um período ainda maior de restrição ao Sol.
a. Nordeste Brasileiro: Orientar o início da restrição a partir das 9 horas da manhã em decorrência da posição geográfica.
b. Centro-Oeste Brasileiro ou estados com horário de verão: Orientar a manutenção da restrição até as 16 horas.
3. O uso de roupas e chapéus ou bonés deve sempre ser estimulado, conforme recomendação apresentada em capítulo específico.
4. O uso de óculos de sol é recomendado para a prevenção do dano actínico nos olhos.
5. A utilização de sombras naturais (cobertura de árvores) ou artificiais (guarda-sóis, tendas, coberturas de edificações ou outras) é sempre medida
adicional a ser orientada.
6. O uso correto do protetor solar é medida essencial e sua seleção e orientação de uso são responsabilidades do dermatologista.
7. Na seleção do fotoprotetor adequado, o dermatologista deverá considerar as seguintes características:
a. A escolha da forma galênica mais adequada (creme, loção, gel, spray, bastão ou outra) deve ser baseada nas características do paciente, na
forma de utilização e na área a ser aplicada.
b. A avaliação dos ingredientes da formulação, particularmente os filtros ultravioleta presentes, pode ser necessária em situações particulares,
como para pacientes sensíveis ou com antecedentes alérgicos, ou ainda populações específicas como crianças e gestantes. Para a população em
geral, entretanto, os dados de eficácia são a principal fonte de informação ao dermatologista para a seleção do protetor solar mais adequado.
c. Fator de Proteção Solar: Principal dado de eficácia do produto e referência na escolha do protetor solar.
i. A escolha do FPS depende das características fenotípicas do paciente, o perfil de utilização, a área de exposição e o período no qual o indivíduo
estará exposto ao Sol.
ii. A SBD recomenda o uso de protetores solares de FPS mínimo de 30.
iii. Produtos com FPS mais altos devem estar disponíveis para situações específicas, como em pacientes com maior sensibilidade ao Sol,
antecedentes pessoais ou familiares de câncer de pele, pacientes em tratamento de fotodermatoses ou durante tratamento cosmiátrico e pacientes
expostos à maior quantidade de radiação solar por motivos profissionais ou de lazer.
iv. Protetores com FPS menor que 30 poderão ser indicados em situações e populações especiais, como pacientes de pele de etnia
afrodescendente.
d. A SBD recomenda a prescrição de filtros solares com proteção UV-A ou proteção de amplo espectro e que, por isso, atendam à legislação
brasileira de fotoproteção, apresentando FP-UVA com no mínimo 1/3 do valor de FPS e comprimento de onda crítico igual ou maior que 370 nm.
e. Produtos com resistência ou muita resistência à água devem ser utilizados em atividades recreacionais ao ar livre, como a prática esportiva, e
para banhistas.
f. A SBD recomenda a prescrição de produtos que demonstrem fotoestabilidade por meio de testes específicos.
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8. Além da seleção correta, como já mencionado anteriormente, a orientação ao uso é essencial.
a. A primeira aplicação do produto é fundamental e deve ser feita com maior atenção e cuidado, pelo menos 15 minutos antes da exposição, de
preferência sem roupa ou com a menor quantidade possível. Caso o fabricante indique o efeito de "proteção imediata", o intervalo de 15 minutos
pode ser suprimido.
b. A quantidade a ser aplicada deve ser orientada pelo dermatologista, recomendando uma das duas alternativas abaixo:
i. Aplicação em duas camadas: Para aumentar a quantidade a ser aplicada, o dermatologista pode orientar a aplicação do protetor solar da forma
que o paciente esteja habituado, mas solicitar uma imediata reaplicação.
ii. Utilização da regra da colher de chá, conforme descrito anteriormente.
c. A SBD recomenda, de maneira geral, a reaplicação dos fotoprotetores a cada 2 horas ou após longos períodos de imersão. Intervalos específicos
de reaplicação podem ser sugeridos pelo fabricante desde que demonstrados em testes específicos.
CAPÍTULO 7B
Introdução
Grupos específicos requerem considerações especiais quando se fala em fotoproteção. O tipo de exposição solar, as características da pele e os
hábitos dos indivíduos, bem como a diversidade de medidas fotoprotetoras, exigem avaliação individualizada na escolha das medidas ideais a
serem recomendadas. Cabe ao dermatologista considerar todas as particularidades no momento da orientação das medidas fotoprotetoras a seus
pacientes. Em termos de saúde pública e fotoeducação, devemos considerar também os diferentes grupos populacionais quando realizamos ações
para fotoproteção.
A seguir, são apresentadas as orientações sobre fotoproteção em diferentes grupos populacionais e ainda orientações para áreas específicas do
tegumento, que necessitam de cuidados particulares.
Gravidez
A gravidez constitui situação de modificação dos níveis hormonais e predispõe à ocorrência de modificações fisiológicas ou patológicas da pele,
como o melasma.299 Supõe-se que uma das causas para essa predisposição seriam os altos níveis de hormônio estimulante dos melanócitos neste
período.300 De fato, estima-se que metade das grávidas sofra com o melasma.299 Enquanto a prevalência geral do melasma em mulheres
latinoamericanas fica em torno de 1,5% a 33%, entre as grávidas essa taxa sobe para 50% ou até 80%.299-302
Mesmo óbvia, a proteção solar como medida para se evitar o início ou o agravamento do melasma na gravidez não é estudada com frequência.
Trabalho realizado no Chile, em uma clínica de pré-natal, avaliou a incidência do melasma em grávidas, utilizandose um filtro solar FPS 10 ou
placebo. A frequência do aparecimento de melasma nos dois grupos foi estatisticamente semelhante, porém, considerando-se somente as mulheres
que aplicaram o filtro corretamente, houve diferença significativa.303
Em um estudo clínico, de coorte, sem grupo controle, uma equipe de pesquisadores de laboratório farmacêutico fabricante de protetor solar orientou
a administração do produto por 185 grávidas a cada duas horas por seis meses, sendo que 12 delas tinham histórico de melasma. Aos seis meses,
2 novos casos de melasma apareceram, e 8 das 12 que já apresentavam melasma tiveram melhora. Aos nove meses, no final da gravidez, mais 3
casos de melasma foram observados, totalizando 5 casos (2,7%), o que os autores299 consideraram uma taxa muito mais baixa do que a
encontrada em grávidas em outro estudo realizado na mesma região (53%), porém sem proteção solar.304 Entretanto, o estudo não usou um grupo
controle de comparação.
É possível que a orientação para proteção solar na gravidez esteja sendo negligenciada por profissionais de saúde. Em pesquisa com 109
puérperas na região Sul do Brasil, verificou-se que a maioria tinha hábito de se expor ao Sol no meio do dia por aproximadamente uma hora. Mais
de 70% não faziam uso de protetor solar e somente uma mulher fazia mais de uma aplicação ao dia. Em entrevista, disseram que o motivo de não
usarem o filtro solar era falta de hábito. Cerca de 15% faziam uso de outras formas de proteção, a maioria com óculos de sol. As de pele mais clara
protegiam-se mais do Sol no meio do dia e usavam mais o protetor solar. Somente 35% das mulheres disseram ter recebido informação sobre
riscos da exposição ao Sol durante o pré-natal e nenhuma mulher recebeu prescrição de fotoprotetor. Das 25 pacientes portadoras de melasma, 20
(80%) desenvolveram as lesões na gravidez, a maioria com hábito de exposição de uma a duas horas diárias ao Sol, e somente 6 usavam filtro
solar.300
A preocupação a respeito da segurança do uso dos filtros solares por gestantes tem sido considerada por pesquisadores. As substâncias aprovadas
pelos diferentes órgãos regulatórios internacionais e pela ANVISA foram exaustivamente avaliadas quanto ao risco toxicológico, incluindo risco de
teratogenicidade, sendo consideradas seguras para uso durante o período gestacional.
Uma preocupação adicional refere-se à recente introdução de ingredientes em nanopartículas para uso em protetores solares.
Diferentes artigos305-308 já foram publicados sobre a segurança do uso de nanopartículas em fotoprotetores, mas ainda não existem estudos
especificamente relacionados a nanopartículas em fotoprotetores para o uso na gestação.
Lactentes e crianças
Na literatura, é classicamente informado que até 80% da R-UV que a maioria de nós recebe durante a vida acontece até os 18 anos.309-311 Essa
informação é propagada em artigos médicos e literatura leiga, mas recentemente tem-se aventado a hipótese de que tenha sido um erro de
interpretação da publicação original de Stern e cols. em 1986.309
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Baseados em um modelo matemático, os autores concluíram que o uso de protetor solar nos primeiros 18 anos de vida reduzia em 78% a
incidência de câncer de pele durante a vida. Em verdade, quando falamos em R-UV, parece que menos de 25% desta é recebida neste
período.312,313 Este risco aumentado deve-se, possivelmente, ao número de queimaduras solares na infância e adolescência.
A educação em fotoproteção nessa faixa etária é fundamental para que seja criado o hábito e para que se evitem os efeitos cumulativos da R-UV.
Estudos demonstram que cerca de 83% das crianças apresentam queimaduras solares no verão, enquanto esta percentagem cai para 36% nos
adolescentes.291 A incidência de melanoma e de câncer cutâneo não melanoma em pacientes com história de queimadura solar já está bem
documentada, inclusive em uma metanálise publicada em 2008 baseada em estudos populacionais.314-316
Muitos trabalhos também alertam para o uso insuficiente e inadequado de filtros solares nesta faixa etária.291 Os protetores solares, segundo
recomendações das Academias Americanas de Pediatria e Dermatologia (Quadros 8 e 9), são liberados para uso após os seis meses de vida. Até
os dois anos de idade, é preferível o uso dos protetores inorgânicos por terem menor potencial de permeação cutânea se comparados aos
protetores orgânicos.265,317-319
Evidências demonstram que o uso de filtro solar na infância e adolescência reduz a incidência de câncer de pele, além do dano actínico.
Formulações mais estáveis, resistentes à água e à areia, facilitam a incorporação do uso de filtro solar à rotina das crianças. Medidas de
fotoproteção, como roupas, chapéus, óculos e sombra, também devem ser estimuladas.314,315
No período em torno do meio-dia solar, a exposição solar deve ser evitada, mesmo com uso do fotoprotetor, devido ao alto índice de R-UV. Uma
regra simples que ajuda a identificar este horário é a "regra da sombra": quanto menor for a sombra da criança projetada no chão em relação à sua
altura, maior o risco. Deve-se evitar a exposição ao Sol no período em que a sombra projetada no chão for menor do que a própria altura.265,320
Além da exposição direta, existe uma grande preocupação mundial com adolescentes que usam câmaras de bronzeamento artificial (mais de 2
milhões de adolescentes por ano, somente nos Estados Unidos). A partir de 2011, foi proibido o uso em menores de 18 anos nos estados da
Califórnia e Vermont, bem como no Reino Unido.321 No Brasil, desde 2009, o uso está proibido para fins estéticos, tendo sido o primeiro país no
mundo a fazê-lo.321
Fotoproteção na infância
1. A fotoproteção na população infantil é essencial e deve fazer parte das orientações de puericultura e da orientação do dermatologista.
2. São consideradas três faixas etárias para a recomendação de fotoproteção:
3. Lactentes menores de 6 meses:
a. Não devem se expor diretamente ao Sol.
b. Quando necessário, recomenda-se o uso de cobertura por roupas e chapéus.
c. O uso de fotoprotetor não é recomendável nessa faixa etária, podendo ser prescrito e orientado pelo dermatologista em situações excepcionais.
4. Crianças acima de 6 meses - medidas gerais:
a. Não devem expor-se diretamente ao Sol no período entre 10 e 15 horas.
b. Utilizar a regra da "sombra": se a sombra do seu corpo no chão for menor do que sua altura, a criança não deve ficar exposta ao Sol.
c. Medidas mecânicas de fotoproteção, como o uso de roupas, chapéus e sombras, são centrais em um programa de fotoproteção nessa faixa
etária.
d. O uso do fotoprotetor deve ser sempre recomendado quando necessário. Sempre recomendar protetores com FPS superior a 30 e proteção UV-
A. Optar, sempre que possível, por produtos indicados para uso em população infantil.
i. Crianças de 6 meses a 2 anos: preferência por produtos compostos totalmente ou em maior parcela por filtros inorgânicos. Produtos em creme e
bastões são particularmente recomendáveis.
ii. Crianças acima de 2 anos: uso de produtos com balanço adequado entre filtros orgânicos e inorgânicos, com alta substantividade (resistência à
água) e fácil aplicação e espalhamento. Uso de produtos em loção cremosa e em aerossol são os mais bem-aceitos. Particular atenção quanto à
adequada aplicação de aerossóis.
e. A aplicação do fotoprotetor deve ser feita com a menor quantidade de roupas possível, 15 a 30 minutos antes da exposição ao Sol, e o produto
deve ser reaplicado a cada 2 horas ou após imersão em água.
f. Recomendar a aplicação de quantidade generosa de protetor solar ou aplicação em duas camadas de forma consecutiva, conforme explicado
anteriormente, a fim de atingir quantidade próxima aos 2 mg/cm2.
Atividades esportivas
Atletas que praticam atividades ao ar livre recebem considerável dose de R-UV. Medidas fotoprotetoras adequadas a este grupo devem ser
tomadas devido ao alto grau de exposição associado a uma sudorese intensa.330
A sudorese induzida pelo calor e pela atividade física pode contribuir significativamente para o dano à pele pela R-UV, já que aumenta a
sensibilidade e o risco de queimaduras. Isso se deve, provavelmente, à hidratação da camada córnea, com diminuição da reflexão e dispersão.331
Um estudo com 290 atletas universitários mostrou que, apesar de 96% deles concordarem que fotoprotetores diminuíam câncer de pele, mais de
50% nunca tinham usado protetor solar e 75% dos que usavam o faziam menos de 3 vezes por semana. A justificativa mais frequente para o não
uso (39%) era o desejo de ficar com a pele bronzeada.332
Devido à dificuldade de reaplicação e ao alto tempo de exposição, o uso de vestimenta com tecidos que possuam proteção ultravioleta e o uso de
bonés ou chapéus adequados, além de óculos escuros que protegem não somente os olhos como a região periorbital e malar, são fundamentais.330
Quando falamos de protetores solares, o ideal para o esportista é aquele que permita maior aderência devido ao suor constante e às atividades
aquáticas. O veículo "spray" é muitas vezes preferido devido à facilidade de secagem e rápida aplicação, a despeito de não ter a mesma adesão de
um filtro com maior substantividade, ficando reservado para as reaplicações subsequentes. Quanto à ardência nos olhos, os filtros inorgânicos são
tidos como menos irritantes e veículos mais espessos, como base ou bastão, mantêm o produto no local aplicado, sendo os preferidos para essa
região específica.135
Os atletas que praticam esportes aquáticos são mais afetados pela R-UV, devido à pouca proteção com vestuário, ao contato constante com a água
e à reflexão na superfície da água. Alguns produtos utilizam emulsão inversa (óleos na fase externa da emulsão) para aumentar a resistência do
produto à água. Emulsões inversas e aquelas baseadas em partículas insolúveis podem não ser, em termos cosméticos, tão satisfatórias quanto as
emulsões tradicionais dos filtros orgânicos, mas podem prover maior proteção.333
Em um estudo dinamarquês com 24 voluntários submetidos à atividade física e à submersão em banheira, os FPS dos fotoprotetores inorgânicos e
orgânicos, respectivamente, reduziram 38% e 41% após 4h e 55% e 58% após 8 h.334
A ANVISA, na RDC 30/2012, exige que alegações alusivas à resistência à água sejam comprovadas por metodologias específicas definidas neste
novo regulamento. Os fabricantes poderão indicar em seus rótulos as expressões "resistente à água", "muito resistente à água", "resistente a
água/suor" ou "resistente a água/transpiração", desde que comprovem essa característica.128 Para este perfil de paciente, o ideal é o uso de
vestuário adequado com proteção UV.
Medidores portáteis de UV-A/UV-B têm sido comercializados nos últimos anos para a prática esportiva. Em 1976, foram utilizados os primeiros
adesivos à base de polissulfona; no entanto, seu uso ficou restrito a pesquisas devido à necessidade de uso de espectrofotômetro para avaliar a
sua absorbância e sua captação somente entre 280-315nm (UV-B).335
Atualmente, pulseiras feitas com benzil-viologênio encapsulado, que mudam de cor de acordo com a exposição à radiação ultravioleta, estão sendo
comercializadas na Europa e são calibradas para avaliar em tempo real se o paciente com fototipo II atingiu a dose UV máxima recomendada.336
Em 2004, foi iniciado uso, para fins de pesquisa, de medidores eletrônicos que armazenavam medidas de UV-A e UV-B em intervalos
preestabelecidos, permitindo reutilização e descarga dos dados em um computador para análise.337 Recentemente, esses equipamentos
começaram a ser comercializados na Nova Zelândia para uso pessoal.338
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e. Veículos em creme mais espessos e bastões podem ser uma opção interessante na face para reduzir a queixa de ardência nos olhos.
f. Para uso corporal, recomendam-se produtos de fácil aplicação, como loções cremosas e aerossóis.
g. Produtos para aplicação na pele molhada, que apresentem emulsão inversa (óleos na fase externa da emulsão), podem ser recomendados para
esportes aquáticos.
Melasma
A exposição à R-UV é amplamente reconhecida como fator de risco para o desenvolvimento do melasma.299,305,339-342 Recentemente, estudos
mostram a participação da luz visível na pigmentação e dano oxidativo e sua interferência em dermatoses hiperpigmentares, como melasma e
hipercromia pós-inflamatória.178
O tratamento do melasma, ou seja, o clareamento das manchas, não é objeto deste consenso e diversos produtos e procedimentos têm sido
utilizados,340,343,344 com o objetivo de inibir a atividade dos melanócitos, interromper a formação e promover a degradação dos
melanossomos.340,344 Assim, ao mesmo tempo em que se busca clarear as manchas já instaladas, deve-se prevenir o escurecimento delas e de
outras que se formem, garantindo o uso da fotoproteção adequada340,343 ou mesmo de camuflagem (maquiagem que promove bloqueio
total).136,343
Posto que o fator de risco presente entre todos os pacientes com melasma é a exposição ao Sol, está bem estabelecido o papel dos protetores
solares como parte importante do seu tratamento, com base no princípio de se evitarem os fatores desencadeantes ou agravantes da
hiperpigmentação, notadamente a agressão da radiação UV.343,344 Recorrência após exposição intensa é problema comum no melasma.345
Em 1983, pesquisadores de Porto Rico decidiram verificar especificamente se o filtro solar teria impacto no tratamento do melasma, avaliando a
necessidade de seu uso em conjunto com o tratamento tópico. Em um estudo clínico randomizado, duplocego, administraram hidroquinona a 59
mulheres, metade recebendo também frascos de filtro solar e a outra metade, placebo. Entre as que usaram filtro, 96,3% tiveram melhora, contra
80,8% das que usaram placebo, sem diferença significativa entre os grupos.339
Depois disso, fotoproteção continuou fazendo parte do tratamento em todo o mundo. De fato, cerca de 80% dos pacientes têm alguma melhora
apenas com o uso de filtro solar, mesmo recebendo placebo como tratamento para despigmentação (contra 100% das pacientes recebendo filtro
mais hidroquinona, ácido glicólico e antioxidantes).346 Revisão sistemática da literatura mostra que os filtros solares são indispensáveis na
abordagem do melasma, embora o tratamento tópico seja necessário.345
De fato, o uso de protetor solar com FPS acima de 30 e de amplo espectro está incluído como primeira linha do algoritmo de tratamento proposto
pela Academia de Desordens Pigmentares da América Latina.340 Exceto pelo estudo mencionado acima, revisão sistemática da literatura publicada
em 2006 mostra que os estudos clínicos em melasma nem cogitam mais substituir o filtro solar por placebo,345 baseandose todos na comparação
dos tratamentos despigmentantes, tópicos ou mecânicos. Trabalhos mostram que o filtro solar adicionado à formulação de hidroquinona e retinol
tem seu poder de proteção contra radiação UV preservado.347
Estudo realizado em 2008178,348 evidenciou que a radiação UV-A longa (340-400 nm) e a luz visível (400-700 nm) são capazes de promover a
pigmentação imediata da pele, tendo como cromóforos não somente a melanina, mas também a participação da oxi-hemoglobina.178,348
Os protetores solares foram desenvolvidos para proteger a pele dos danos cutâneos da R-UV,178 porém a proteção contra a luz visível é limitada e
estudos recentes mostram a importância deste cuidado. Estudo realizado por Schalka e cols., em 2012,178 avaliou a eficácia de fotoprotetores
brancos e coloridos na proteção contra a luz visível por meio da avaliação espectrofotométrica da curva de absorção dos produtos, do valor de
fotoproteção solar e das características colorimétricas para a quantificação da proteção dentro dessa faixa específica de radiação. Concluiu-se que
o valor do Fator de Proteção Solar (FPS) não tem relação direta com a proteção contra a luz visível, mas, sim, o potencial de translucidez do
produto.178
Os filtros inorgânicos, por terem capacidade refletiva, poderiam ser opção contra a luz visível, dependendo do tamanho da sua partícula. Assim,
somente partículas grandes e visíveis (pigmentares) seriam capazes de proteger contra a luz visível.349 Dessa forma, a incorporação de pigmentos
absorvedores aos protetores solares aumenta a capacidade fotoprotetora desses produtos.178
Proteção à radiação UV-A e UV-B é o ponto principal do tratamento.299,339-341,350 De acordo com trabalhos recentes, protetor solar de amplo
espectro, UV-A e UV-B, com FPS de, pelo menos, 30, contendo filtro inorgânico, como dióxido de titânio ou óxido de zinco, deve ser usado por
pacientes com melasma e ser reaplicado frequentemente.299,340-343,350 Filtros orgânicos e inorgânicos podem agir sinergicamente para aumentar o
valor do FPS.305 Formulações contendo filtros opacos e pigmentos absorvedores podem permitir fotoproteção contra a luz visível.178
No entanto, a aderência é uma questão sensível quando se trata de proteção contra a radiação solar, pois exige a aplicação e reaplicação de filtros
solares na pele, de maneira adequada, o que é trabalhoso e oneroso.351 A falha na adesão ao uso do protetor solar pode levar à piora da
hiperpigmentação no melasma. Já se verificou em pesquisa de campo que pacientes com melasma expõem-se ao Sol em horário inapropriado (de
11 a 16 horas), podendo agravar o problema, e uma minoria reaplica o produto ao longo do dia (48,2%).342
Em homens, a situação é mais crítica, pois eles tendem a evitar tratamentos complexos e que exijam tempo. Entre eles, o uso de produtos que
atrapalhem o barbear pode ser problemático. Por estarem menos preocupados com aparência e saúde, eles se protegem menos do Sol que as
mulheres e devem ser orientados a respeito da exposição ao Sol como fator agravante.352
Desta maneira, o dermatologista deve utilizar todas as estratégias que estiverem ao seu alcance para melhorar a adesão do paciente com melasma
às medidas protetoras, iniciando-se pela não exposição ao Sol. Esclarecimentos a respeito dos melhores horários para tomar Sol são essenciais,
assim como a respeito do tempo de duração da proteção e da consequente necessidade de reaplicação. Porém, nem sempre o paciente pode
abster-se de se expor ao Sol em determinados períodos, por estar em trânsito ou exercendo atividades profissionais.342 Nesses casos, o uso de
chapéus, óculos solares e roupas adequadas é uma recomendação que amplia a proteção e não deve deixar de fazer parte da prescrição.340
Além da recomendação obrigatória de uso de protetor solar com fator de proteção acima de 30 e com proteção UV-A balanceada, deve-se
recomendar, sempre que possível, o uso de fotoprotetores com proteção contra a luz visível.178
Extratos vegetais, contendo compostos fenólicos monoméricos e flavonoides, além de ácidos fenólicos que têm ação antioxidante e anti-
inflamatória243,341,344, também têm sido investigados. O extrato de Polypodium leucotomos está sendo pesquisado e estudo clínico mostrou a sua
capacidade de proteger a pele não somente contra a ação aguda de queimadura solar, mas também na prevenção e no tratamento de dermatoses
pigmentárias como o melasma.243
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2. O dermatologista deve utilizar todas as estratégias que estiverem ao seu alcance para melhorar a adesão do paciente com melasma às medidas
fotoprotetoras, iniciando-se pela não exposição ao Sol. Esclarecimento a respeito dos melhores horários para tomar Sol é essencial, assim como a
respeito do tempo de duração da proteção e da consequente necessidade de reaplicação.
3. O uso de medidas mecânicas, como chapéus, é uma recomendação que amplia a proteção e não deve deixar de fazer parte da prescrição.
4. O protetor solar no melasma deve ter as seguintes características:
a. FPS elevado, de preferência acima de 50.
b. Proteção UV-A proporcionalmente elevada.
c. Se possível, oferta de protetores solares coloridos, na forma de base para maquiagem ou creme compacto.
d. Utilizar produtos que demonstrem proteção na faixa da luz visível.
5. As orientações com relação à aplicação e reaplicação do produto em pacientes com melasma são as mesmas válidas para as orientações gerais.
6. O uso de agentes fotoprotetores orais com eficácia reconhecida na prevenção e tratamento de melasma pode ser recomendado como medida
adjuvante.
Pele sensível
Desde o início da comercialização dos fotoprotetores, muitos ativos foram introduzidos sozinhos ou combinados em suas formulações. Com a
disseminação do conhecimento sobre os efeitos da R-UV e com as campanhas de conscientização na prevenção do câncer de pele, houve grande
aumento do consumo, e novas formas de apresentação foram introduzidas no mercado.
Situações especiais como filtros para uso diário, maquiagem com filtros, protetores resistentes à água e areia, com melhor aceitabilidade cosmética
e fotoestáveis, levaram à maior adesão. Porém, surgiram novos e numerosos ativos nas formas farmacêuticas, aumentando o potencial alergênico
dos produtos.353
A pele sensível é entendida por alguns autores como a manifestação cutânea com sintomatologia mais exuberante que os sinais, que inclui a
sensação de ardência ou "pinicação" na face após a aplicação de um produto ou um grupo de produtos faciais, sem a presença de um eritema
francamente estabelecido, diferindo, assim, dos quadros de irritação por dermatite de contato.354
Muitos pacientes se percebem como tendo "pele sensível", sem de fato apresentar o quadro clínico relacionado a essa dermatose. Além disso,
cerca de 20% das alergias de contato atribuídas a cosméticos são referidas ao filtro solar, necessitando entrar no diagnóstico etiológico diferencial.
Mulheres adultas com danos actínicos apresentam mais alergias enquanto em crianças são mais raras.355
Das substâncias, os minerais raramente são alergênicos, tal como o dióxido de titânio. Porém, evidências demonstraram que alguns outros, como
PABA (ácido para-aminobenzoico), podem ser muito alergênicos.356
O "Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cosméticos" da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) define as características e os
testes de segurança necessários (irritabilidade acumulada, sensibilização, fototoxicidade, fotoalergia cutânea e estudo de segurança em uso com
população de pele sensível) que o cosmético deve apresentar para poder utilizar no rótulo a inscrição "indicado para pele sensível".156
Dermatite de contato
Reações adversas de sensibilização aos protetores solares, como dito anteriormente, não são comuns. Dentre as dermatites de contato, as do tipo
irritativa são mais frequentes do que as do tipo por sensibilização.
O principal agente etiológico da sensibilização ao fotoprotetor (produto acabado) são os perfumes, quando presentes em sua composição, seguidos
pelos conservantes. Os princípios ativos específicos à proteção solar (filtros UV) são raros sensibilizantes.357
Dentre os ativos fotoprotetores, os derivados do ácido para-aminobenzoico, as benzofenonas, o octocrileno e a avobenzona são os mais
frequentemente relacionados à sensibilização.353
Rosácea
Rosácea é uma desordem crônica, caracterizada por eritema, pápulas, pústulas e telangiectasias; predomina na região centrofacial e varia de
formas leves a formas exuberantes, como o rinofima, mais frequente nos homens. Predomina em mulheres na faixa etária de 30 a 50 anos e
estima-se que de 1,5 a 10% da população seja acometida.358
Embora a patogênese não esteja completamente definida, fatores genéticos e ambientais têm impacto na piora do quadro. Alimentos como
chocolate, café, alguns temperos, chá, álcool, medicamentos sistêmicos, como agentes colinérgicos, vasodilatadores, rifampicina, fatores
emocionais, exercícios físicos e radiação solar, entre outros, são fatores associados à piora dos sintomas.358
A terapêutica inclui desde medicações tópicas até procedimentos cirúrgicos. Em todas as formas, são feitas orientações sobre os fatores
desencadeantes e sobre a importância do protetor solar adequado.
Produtos que associam ativos específicos para o tratamento tópico e filtros solares podem e devem ser utilizados já que evidências demonstram
melhores resultados na associação.359
Devido à maior sensibilidade e alterações da função da barreira cutânea, os pacientes com rosácea podem apresentar sensibilidade a produtos
cosméticos e de maquiagem; no entanto, maquiagens com protetor solar podem ser utilizadas, preferindo-se sempre as não alcoólicas. Maquiagens
com tons esverdeados são importantes para redução da aparência do eritema facial. A National Rosacea Society, nos Estados Unidos, possui
recomendações para uso de maquiagem que incluem proteção contra R-UV, formulações sem perfume, hipoalergênicas e livres de álcool.360
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Acne e oleosidade
Há poucos trabalhos na literatura abordando acne, oleosidade e proteção solar.
Os indivíduos com tendência à pele oleosa, principalmente adolescentes, evitam utilizar o protetor solar pois têm a percepção de que esse tipo de
produto piora ou provoca a acne, que é mais frequente nessa idade.135,361 Há grande variedade de produtos disponíveis no mercado, oferecendo
opções de protetores para a pele com esta tendência.362
Em 2005, um estudo experimental com humanos foi realizado no México para testar se o FPS declarado na embalagem de 12 produtos conferia, de
fato, a proteção prometida. Todos os produtos eram alegadamente "não comedogênicos" ou "não oleosos", portanto poderiam ser dirigidos à
população adolescente, mais propensa à acne. Nenhum dos produtos analisados cumpriu o que prometia na embalagem: o produto que mais se
aproximou do declarado foi um filtro com várias substâncias ativas (dióxido de titânio, octocrileno, Mexoryl e outros) que forneceu um FPS de 15,6,
enquanto informava proteger com FPS 20.361
Os protetores em gel, gel creme ou fluido são ideais para pacientes com pele oleosa e acneica. Em pacientes com acne, é importante evitar filtros
inorgânicos devido à sua consistência densa e oleosa.135 Novas tecnologias a fim de melhorar a cosmética do produto e a deixá-lo menos oleoso
estão sendo utilizadas e podem facilitar a aderência ao uso de protetores neste grupo de indivíduos. Dentre essas tecnologias, o uso de sílica e
seus derivados tem sido muito bemaceito pelos usuários, pois produzem uma redução do "toque oleoso" do produto ao reduzirem o brilho residual
ao mesmo tempo em que adsorvem a oleosidade excedente.
Vitiligo
Pacientes com vitiligo têm risco diminuído de desenvolver câncer de pele, tanto melanoma quanto não melanoma, durante a vida, e, embora haja
relatos isolados em contrário, aparentemente a fototerapia não aumenta o risco, conforme demonstrado em estudo epidemiológico.363
Uma possível explicação para isso seria que os pacientes com vitiligo tendem a se proteger mais com roupas justamente por saberem que a pele
nas regiões das lesões é mais sensível ao Sol e se queima facilmente de forma grave, gerando dano actínico.364
O tratamento do vitiligo tem, como princípio, a ativação e a migração dos melanócitos das bordas da lesão despigmentada, 2 a 3 mm dentro da
lesão, sendo que as maiores reservas de melanócitos estão próximas dos folículos pilosos; portanto, áreas sem pelos (palmas, solas de pés)
respondem mal ao tratamento.365,366
A diretriz da Academia Americana de Dermatologia é de que seja aplicado fotoprotetor de amplo espectro após a sessão de terapia com psoraleno
e fototerapia, antes que o paciente saia do consultório, já que exposição inadvertida e desprotegida ao Sol, seis a oito horas após a sessão, pode
causar fototoxicidade e bolhas.366 Devido à sensibilidade da pele despigmentada, tanto aos raios UV-A quanto aos UV-B, o fotoprotetor de amplo
espectro é mandatório para pacientes com vitiligo a fim de se evitarem queimaduras. Porém, toda a pele exposta, e não somente as lesões, deve
ser protegida.366
O uso do protetor solar também traz outro benefício: uma das reclamações dos pacientes sob fototerapia é o aumento do contraste entre a área da
lesão e a pele normal, que se pigmenta sob a radiação. Assim, ao irradiar a lesão, o tratamento escureceria a pele normal também. Ao diminuir o
bronzeamento da pele normal, esse contraste fica menos marcado. O fator de proteção tem de ser no mínimo 15 para peles tipo I ou II, e uso de
roupas e chapéus é recomendado.365 Camuflagem das lesões com produtos com pigmentos pode ser utilizada.365,366
Alguns pacientes com lesões muito extensas podem optar pelo caminho da despigmentação da pele sem lesão. Nesses casos, fotoproteção,
incluindo filtro solar, e evitar atividades ao ar livre são medidas para toda a vida86 e o paciente deve ser conscientizado disso.
Áreas específicas
Quanto à fotoproteção dos cabelos, a abordagem não visa à prevenção de câncer de pele uma vez que o pelo não sofre processo neoplásico.368
No entanto, existe uma importância cosmética. Os efeitos mais relatados são alterações na coloração devido à oxidação dos pigmentos do pelo,
feomelanina e eumelanina, formando a oximelanina.369 Além disso, a R-UV danifica os lipídios do pelo, levando ao ressecamento e aumento da
fragilidade; o filme lipídico é responsável pelo brilho e maleabilidade do pelo. O fio sem esta proteção está sujeito a eletricidade estática e fraturas
ao pentear, levando ao aparecimento de "frizz".368
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26/09/2017 Anais Brasileiros de Dermatologia - Consenso Brasileiro de Fotoproteção<sup>*</sup>
A fotoproteção dos cabelos é feita com os mesmos princípios ativos utilizados na pele, adicionados a formulações de uso capilar, como
condicionadores, géis e sprays. O principal problema é a dificuldade de fazer um filme homogêneo que proteja toda a superfície dos pelos, além do
problema de criar uma fórmula que tenha boa adesão à cutícula sem, no entanto, torná-la muito oleosa.
Os produtos que tendem a permanecer no cabelo após a lavagem, como géis, sprays e, em particular, os cremosos, oferecem proteção maior
quando comparados aos demais, porém ainda insuficiente. Esse dilema tem levado pesquisadores a questionar se a fotoproteção do pelo poderia
ser feita de outra maneira, talvez através da estrutura interna da haste do pelo.368,370
Orelhas
As orelhas são o quinto sítio mais comum de acometimento por cânceres de pele não melanoma do segmento cefálico, responsável por cerca de
5% dos casos, segundo estudo recente da Universidade de Cornell, com mais de 600 pacientes.371 A proporção segundo o gênero nesses casos
foi de 17,6 homens para 1 mulher devido à proteção natural dos cabelos. As áreas mais acometidas foram as regiões da hélix e anti-hélix, com
prevalência um pouco maior de carcinomas espinocelulares em relação aos basocelulares (1:0,7).
Região periorbital
A região periorbitária, além de ser sítio frequente de câncer de pele, mostra os sinais da idade, sendo necessários cuidados especiais nesta região
devido à sua alta sensibilidade.372
A exposição do olho humano à radiação solar sem a devida proteção, de forma intensa ou de forma continuada e repetida, pode promover
alterações patológicas como a fotoceratite e a catarata. Para a adequada proteção ocular contra os efeitos da radiação solar, é recomendável o uso
de óculos escuros, preferencialmente aqueles que demonstrem capacidade de absorver acima de 99% da radiação ultravioleta.373 Esta medida
também seria efetiva na diminuição do risco de surgimento de neoplasias cutâneas em região periorbital.374
Dá-se preferência à aplicação de protetores solares inorgânicos, devido ao baixo potencial alergênico e irritante.372
Outra possibilidade é o uso de maquiagens com protetores inorgânicos que podem fazer esse papel de barreira e absorver um pouco do suor da
região, evitando contato com os olhos.375
Lábios
O lábio inferior é sítio frequente de lesões actínicas neoplásicas e pré-neoplásicas. Em um estudo com362 trabalhadores de praia no Rio Grande do
Norte, cerca de 27,1% apresentaram lesões nos lábios.376
O uso do protetor labial é fundamental para pacientes com exposição solar intensa, em particular os que apresentam lábio inferior mais protuso. É
demonstrado que o uso regular de batons com fotoprotetores reduz a frequência de câncer labial. Esses batons devem preencher critérios como
proteção de amplo espectro e fotoestabilidade.377
Quanto à segurança do protetor labial, existem estudos experimentais in vivo que demonstram que a concentração de octilmetoxicinamato - um dos
componentes mais comuns dos fotoprotetores labiais - necessária para levar a problemas de fertilidade em ratos foi de 450 mg/kg, demonstrando o
baixo potencial de toxicidade.378
Todavia, estudos in vitro para avaliar segurança na ingestão dos protetores inorgânicos demonstram que exposições repetidas da mucosa a baixas
concentrações de óxido de zinco resultam em dano de DNA persistente,379 e a exposição de células intestinais ao dióxido de titânio resultou em
perda das vilosidades, o que poderia levar à desnutrição e má absorção.380
CAPÍTULO 8
SOL E VITAMINA D
INTRODUÇÃO
A vitamina D é obtida pelos seres humanos a partir da luz solar, dieta (principalmente peixes e leite fortificado) e suplementos. Suas ações como
hormônio e sua regulação envolvendo o paratormônio (PTH), cálcio e fósforo, têm muitas consequências fisiológicas importantes, principalmente na
área da saúde esquelética.
No entanto, receptores de vitamina D foram evidenciados na maioria das células no corpo e em enzimas capazes de converter 25-hidroxivitamina D
(25 (OH) D) circulante para a forma ativa 1,25 hidroxivitamina D (1,25 (OH) D), levando a uma infinidade de novas descobertas sobre a sua
função.381
Além do papel protetor contra fraturas ósseas, raquitismo, osteomalácia e osteoporose, a vitamina D é agora proposta como redutora de um
espectro de doenças crônicas, incluindo cânceres internos, doenças cardiovasculares, doenças autoimunes, distúrbios metabólicos e doenças
mentais.382,383
Demonstrou-se a sua importância em Imunologia e doenças infecciosas, sendo a deficiência associada, por exemplo, ao aumento das taxas de
tuberculose.384,385 Um estudo recente relatou que a inci-dência de gripe no inverno se reduz quando o status adequado de vitamina D é
mantido.386
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Ao mesmo tempo em que surgiram inúmeras indicações da vitamina D para prevenção e/ou terapêutica das doenças, o seu valor mínimo,
considerado como normal pelos pesquisadores, levou a uma alarmante epidemia de insuficiência.387,388
Pressupõe-se que campanhas de saúde pública sobre proteção solar e mudanças de estilo de vida podem desempenhar um papel nessa redução.
Aspectos importantes da luz solar ambiente, fotoproteção e status da vitamina D serão aqui analisados.
Metabolismo
Mais de 90% da vitamina D é obtida através da produção cutânea pela luz solar.389
Quando um fóton de luz ultravioleta B (UV-B) (290-315 nm) atinge a pele, ele fotoisomeriza o 7-dehyidrocolesterol (7-DHC) na membrana da célula
para pré-colecalciferol (pré-vitamina D3), que é rapidamente convertido, através de isomerização pelo calor, em colecalciferol (vitamina D3). O pico
circulante de vitamina D3 ocorre um dia depois e, posteriormente, é armazenada na gordura corporal para a liberação quando necessário.
A vitamina D2 (ergosterol), proveniente de leveduras e plantas, é obtida por dieta e segue a mesma via metabólica da vitamina D3. A vitamina D3
entra na circulação via proteína de ligação da vitamina D, é hidroxilada no fígado para calcidiol (25 (OH) D) e, novamente, é hidroxilada,
principalmente nos rins, na sua forma ativa, o calcitriol (1,25 (OH) D).390
No entanto, tanto a pré-vitamina D3 quanto a vitamina D3 são sensíveis à radiação UV e a exposição contínua à UV-B provoca sua fotodegradação
na pele em produtos inativos.391
A síntese cutânea máxima de vitamina D3 está limitada a 15-20% da concentração inicial de 7-DHC, com um platô de produção em menos de uma
dose eritematosa mínima (DEM).390,392
A concentração sérica de 25 (OH) D é o valor utilizado para determinar o status da vitamina D que, assim como a 1,25 (OH) D, está sob controle
rigoroso do sistema endócrino. O nível mínimo recomendado de 25 (OH) D é atualmente controverso e está em debate. As implicações da
deficiência de vitamina D permanecem incertas e muitas suposições continuam sem comprovação.
A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Americana de Endocrinologia consideram a concentração de 20 ng/mL como o ponto de corte
para a deficiência; já o Instituto Americano de Medicina propõe que 16 ng/mL é o nível mínimo apropriado. A Sociedade de Endocrinologia
recomenda classificação adicional de 21 a 29 ng/mL como insuficiência de vitamina D.393
Esses valores foram associados a menor risco de fraturas e supressão da elevação de PTH, um marcador de deficiência, o qual estimula a
produção de 1,25 (OH) D para manutenção da absorção intestinal de cálcio.394
Um nível abaixo de 30 ng/mL (75 nmol/L) é considerado "insuficiente" pela maioria dos especialistas e menos de 20 ng/mL (50 nmol/L) é
considerado "deficiente".395,396
Intoxicação por vitamina D, associada à hipercalcemia e à hiperfosfatemia, é extremamente rara e pode ser causada por doses superiores a 50.000
UI por dia e nível de (OH) D 25 acima de 150 ng/mL.381
A fotodegradação da vitamina D3 produzida pela pele evita a intoxicação por vitamina D através da exposição ao Sol. Com a exposição do corpo
inteiro a uma única dose eritematosa mínima, é produzido o equivalente a cerca de 10.000 UI a 20.000 UI de ingestão oral.381,397
As estimativas variam, mas cerca de metade da DEM de luz solar direta nos braços e pernas pode produzir o equivalente a cerca de 3.000 UI de
vitamina D3.381
A exposição ao Sol do meio-dia duas vezes por semana, por 5-30 minutos, foi sugerida como suficiente para a produção adequada de vitamina D
em populações brancas. Porém, conforme discutiremos a seguir, a necessidade do tempo de exposição sofre diversas influências e pode ser
variável.381
Coincidentemente, a síntese cutânea de vitamina D3, bem como o eritema (queimadura solar), ocorre de forma máxima aproximadamente no
mesmo comprimento de onda de 296 nm da UV-B, embora o espectro de ação do eritema estenda-se para o espectro UV-A.398,399
Com a radiação solar, a síntese cutânea de vitamina D3 atinge um platô máximo após um curto espaço de tempo, menos de uma DEM.400
Toda a pele é capaz de sintetizar vitamina D, portanto, quando todo o corpo é exposto de forma adequada, a produção ocorre mais rapidamente e
com menor risco de queimadura do que quando, por exemplo, apenas a cabeça é exposta. Se apenas 10% da pele for exposta à radiação UV-B
adequada, a síntese da vitamina D irá demorar 10 vezes mais tempo do que a exposição do corpo todo demoraria.392
A quantidade de tempo necessária, considerada como exposição "adequada", dependerá de muitos fatores, incluindo fatores pessoais,
comportamentais e ambientais (Quadro 10).
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As evidências in vitro sobre a influência do ângulo zenital na produção de vitamina D vieram de Webb e cols., que expuseram uma solução de 7-
DHC à radiação solar em Edmonton, Canadá (52º N), Boston (42º N) e Los Angeles (34º N), EUA, e San Juan, Porto Rico (18º N).403
Seus experimentos demonstraram que a fotoconversão do 7-DHC para pré-vitamina D3 era máxima nos meses de junho e julho. Em Boston,
evidenciou-se que, de novembro a fevereiro, a pré-vitamina D3 não foi detectada. Em Edmonton, mais ao norte, a produção de pré-vitamina D3
parou em outubro e não recomeçou até meados de abril, enquanto em Los Angeles e em Porto Rico a produção de pré-vitamina D3 ocorreu durante
o ano todo.
Além da latitude e estação, Lu e cols. demonstraram a influência do período do dia.404 Medindo a produção de pré-vitamina D3 em dias claros em
Boston, descobriram que a síntese começou às 7h durante o verão e durou até as 17h. Nos meses de primavera e outono, a janela para
fotoconversão começou várias horas mais tarde, por volta das 9h e durou apenas até as 15h. A janela estreitou-se sazonalmente até a síntese
diminuir completamente.
A diminuição do ângulo zenital solar, seja por aumento da latitude, estação do ano (inverno) ou hora do dia, é a causa para este fenômeno da
diminuição da produção de vitamina D.
Uma série de estudos publicados na literatura científica tem demonstrado a relação entre exposição solar, câncer de pele e síntese de vitamina D.
No entanto, a escassez de dados médicos, particularmente nos países em desenvolvimento, dificulta a avaliação global do impacto da exposição ao
Sol nos níveis séricos de vitamina D.
Segundo estudo publicado por de Paula Correa e cols.,405 que avaliou os níveis de radiação UV-B na cidade de São Paulo - Brasil durante um
período de 3 anos, a exposição não intencional ao ambiente externo pelo tempo de 10 minutos diários, somente das mãos e face, seria suficiente
para a produção adequada de vitamina D em um indivíduo de fototipo II.
Os dados apresentados pelo estudo consideraram os dias nublados e chuvosos; portanto, somente 10 minutos de exposição ao ambiente externo
nas mãos e face, qualquer que seja o clima, seriam suficientes para a produção de vitamina D na cidade de São Paulo.
O estudo apresentou as medidas do índice UV, no período de 2005 a 2008. Verificou-se que 65% do índice UV medido em 2 horas ao meio-dia
local, durante o verão, mostraram-se muito elevados (8 < IUV < 10), sendo que muitas vezes foram evidenciados níveis extremos (IUV> 11), de
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Durante o inverno, 40% das aferições por volta do meio-dia mostraram altos ou muito altos níveis. Apesar das recentes estatísticas preocupantes,
que evidenciaram que os cânceres de pele não melanoma correspondem a cerca de 28% dos mais de um milhão de novos casos de câncer, a
proteção solar não é considerada um problema relevante nestas áreas urbanas.
As medições da radiação UV mostraram que, em todos os meses do ano, seus níveis são altos o suficiente para garantir a produção adequada de
vitamina D na pele humana, durante exposição incidental ao Sol.
Em resumo, os níveis de radiação UV observados na cidade de São Paulo indicam que a prevenção da superexposição solar é necessária em
qualquer época do ano, sendo que a síntese da vitamina D está garantida com um mínimo de exposição de cerca de 10 minutos por dia.405
Altitude
Maiores altitudes resultam em distâncias mais curtas e atmosfera menos densa, favorecendo a passagem da radiação UV-B. Há um aumento da
quantidade de radiação que atinge a pele exposta de 4% para cada aumento de 300 m na altura.406
Embora não seja uma medida perfeita da radiação UV-B, nem da capacidade de sintetizar vitamina D, o índice UV é uma representação não
dimensional da intensidade da ação eritemal do espectro ponderado de irradiância. Os maiores valores de índice UV (de 20-25) foram detectados
no Observatório de Mauna Loa, no Havaí (altitude 11.155 pés, latitude 21º N) e na área do Altiplano do Peru (altitude 12.800 pés, latitude 15º N).399
Embora o potencial para a síntese de vitamina D possa ser melhor em altitudes mais elevadas, um estudo demonstrou que os tibetanos adultos,
que vivem em latitudes relativamente baixas e altitudes elevadas (altitude acima de 12 mil pés, latitude 29-32º N), tiveram baixos níveis de 25 (OH)
D, com 40-100% abaixo de 30 ng/mL, dependendo da população.407
Os nômades apresentaram os menores níveis, com todos abaixo de 30 ng/mL e 80% abaixo de 12 ng/mL, enquanto os agricultores apresentaram
os níveis mais elevados, 40% abaixo de 30 ng/mL e nenhum abaixo de 12 ng/mL.
A dieta tibetana é extremamente pobre em vitamina D e o tempo frio obriga a cobertura da maior parte da pele. Segundo conclusão dos autores,
estes fatores são responsáveis pelos baixos níveis de vitamina D, apesar de terem cinco vezes mais radiação UV-B anual que os noruegueses, que
vivem mais longe ao norte e em altitudes muito baixas.407
Condições atmosféricas
A radiação UV atravessa uma distância atmosférica, sendo dispersada e absorvida ao longo do caminho. A radiação UV-B, com um comprimento de
onda mais curto, experimenta maior atenuação do que a radiação UV-A e o espectro de luz visível, que apresentam comprimentos de onda mais
longos.392
A radiação UV-B cruza uma atmosfera não homogênea e as características da mesma têm influência significativa sobre o montante que atinge a
superfície da Terra - um fator que, provavelmente, tornouse particularmente importante durante a Revolução Industrial. O advento das fábricas, com
queima de carvão e nuvens negras de fumaça pairando sobre a Londres do século XVII, trouxe conscientização acerca das doenças ósseo-
deformantes/raquitismo.408
O raquitismo ocorre devido à mineralização óssea deficiente em fosfato de cálcio, que pode ser secundária à deficiência de vitamina D ou
desnutrição. Embora provavelmente descrita desde os tempos antigos, o aumento dos casos com o aparecimento do ar esfumaçado, logo no final
do século XVII, propiciou a especulação de que a poluição era a culpada, embora o mecanismo fosse desconhecido e a vitamina D ainda não
tivesse sido claramente descoberta.408
É razoável supor, hoje, que o bloqueio dos raios UV-B, devido à absorção pelo material particulado sobre as cidades, desempenhe um papel nesta
manifestação. Entretanto, os prédios altos e ruas estreitas, juntamente com o trabalho interno, certamente diminuíram a exposição da população ao
Sol.
O ozônio na estratosfera é particularmente importante, uma vez que absorve essencialmente toda a radiação UV com comprimentos de onda
inferiores a 290 nm (síntese de pré-vitamina D3, é possível até 270 nm) e atenua a radiação UV-B acima de 290 nm.409,410
Concentrações mais altas de ozônio são, geralmente, encontradas em maiores latitudes em direção aos polos, e concentrações mais baixas, nos
trópicos. Os níveis de ozônio em qualquer local pode mudar até 20% por dia, com o padrão dos ventos e a poluição, que podem produzir ozônio e
outras substâncias atenuadoras de UV-B.381
Cento e vinte e uma mulheres habitantes de zonas urbanas e rurais na pós-menopausa foram estudadas na Bélgica, onde os níveis de ozônio na
troposfera, por causa da poluição, são três vezes maiores em Bruxelas do que no outro lado do país.411
Mesmo com maior quantidade de exposição solar, as mulheres urbanas tiveram prevalência bem mais alta de 25 (OH) D abaixo de 30 ng/mL (84 vs
38%, p < 0,001).
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Os níveis de 25 (OH) D nas mulheres que viviam nas zonas rurais foram o dobro das mulheres urbanas, e a exposição solar necessária para
alcançar níveis equivalentes de 25 (OH) D foi três vezes maior nas mulheres urbanas em relação às que viviam na área rural.
A cobertura de nuvens é também importante na determinação da radiação UV-B disponível para a síntese de vitamina D - nuvens baixas e
espessas têm maior capacidade de reduzir a quantidade de UV-B que atinge o solo. Na verdade, uma cobertura de nuvens densa pode impedir que
99% da radiação UV-B chegue ao solo, consequentemente impossibilitando a síntese cutânea de vitamina D, mesmo na linha do Equador.410
No entanto, nuvens podem também refletir a radiação UV, assim como a cobertura do solo, um fenômeno conhecido como "albedo".392
A neve é capaz de refletir 90% da radiação UV, aumentando consideravelmente a quantidade de radiação UV-B que atinge a pele, o equivalente a
um aumento da altitude de 3.000 metros.410 Areia, cimento e outros materiais de construção refletem aproximadamente 20%, enquanto solo, rochas
e vegetação refletem muito menos.392
Pigmentação da pele
O grau de pigmentação da pele e a idade influenciam a produção de vitamina D.
O surgimento de raquitismo e a deficiência de vitamina D entre as populações de pele escura e indianos, imigrantes de cidades de latitude norte nos
Estados Unidos e Reino Unido, levaram à especulação de que o aumento da pigmentação da pele poderia predispor indivíduos de pele escura à
deficiência de vitamina D412-415 já que populações semelhantes em seus países de origem não tinham esse problema.
Embora a dieta tenha sido muitas vezes um fator de confusão, foi proposta uma investigação para elucidar o papel da concentração de melanina na
fotoprodução de vitamina D. A melanina absorve a radiação UV na epiderme, o que limita o número de fótons disponíveis para converter moléculas
de 7-DHC em pré-vitamina D3.
O fototipo de Fitzpatrick é comumente utilizado para classificar o tipo de pele, descrevendo o teor de melanina da epiderme e a reação cutânea
(bronzeamento ou queimadura) à radiação UV após período prolongado de não exposição.416 Estes fototipos também indicam a propensão aos
danos solares e à produção de vitamina D.
Os fototipos I e II apresentam pele clara, que queima facilmente e raramente bronzeia, enquanto o fototipo III apresenta pele clara, porém maior
capacidade de bronzear, e, portanto, apresentando posteriormente menos danos pela radiação UV. Os fototipos IV-VI apresentam pele mais escura,
com maior quantidade de melanina, bronzeiam-se com facilidade e raramente se queimam.
Em tese, fototipos mais altos tendem a diminuir na população na medida em que se aumenta a distância do Equador, com maior prevalência de
peles claras em latitudes mais altas, onde a UV-B deve ser maximizada para a produção de vitamina D. Por outro lado, peles escuras tendem a
aumentar em regiões equatoriais, onde a radiação UV está amplamente disponível durante todo o ano.415
Por conseguinte, o risco de queimaduras e câncer de pele é maior quando indivíduos de pele clara se direcionam para latitudes mais baixas, e a
deficiência de vitamina D, conforme mencionado acima, é mais prevalente nas regiões polares.
Um estudo inicial de Clemens e cols., em 1982, expôs vários pacientes brancos e negros a uma única dose de radiação ultravioleta.417 Nos
indivíduos brancos, os níveis séricos de 25 (OH) D aumentaram de 30 a 50% em relação aos níveis basais dentro de 24 a 48 horas após a
exposição, enquanto nos indivíduos da raça negra a mesma dose não teve efeito algum.
Após exposição seis vezes maior à dose de radiação UV que os pacientes brancos receberam, apenas um dos pacientes negros apresentou
aumento de 25 (OH) D 24 horas mais tarde, embora ainda inferior a de todos os indivíduos brancos com apenas a dose inicial.
Esta foi a primeira vez que se comprovou que a pigmentação da pele limita a capacidade de produção de vitamina D in vivo. O mesmo grupo
divulgou dados mostrando que a pele pigmentada necessita de períodos mais longos de exposição à radiação UV para produzir níveis semelhantes
de pré-vitamina D3 em comparação com a pele clara.418
Produz-se relativamente menos vitamina D3 por unidade de exposição à radiação UV, porém, após repetidas doses de UV, as altas concentrações
de melanina não impedem que os níveis de vitamina D atinjam valores considerados suficientes.
Isto foi confirmado por Lo e cols., que determinaram a DEM em seis imigrantes paquistaneses e indianos (fototipos III-V) e quatro controles brancos
(fototipos II-III) no Reino Unido e, em seguida, irradiaram todo o corpo de cada indivíduo com 1,5 DEM de radiação UV.419
Ambos os grupos tiveram aumentos semelhantes nos níveis de vitamina D no dia seguinte e não houve diferenças significativas nas concentrações
séricas de vitamina D entre os dois grupos. Embora maior exposição total à radiação UV tenha sido necessária nos fototipos mais altos (a DEM do
paciente mais escuro foi cinco vezes maior do que o menor controle), a capacidade total para produção de vitamina D não foi afetada pelo tipo de
pele e é semelhante em resposta à DEM equivalente.
Idade
A diminuição dos níveis de vitamina D nos idosos é bem conhecida, sendo que existem múltiplos fatores envolvidos, incluindo falta de exposição ao
Sol, carência alimentar e má absorção.420,421
A redução na eficiência da síntese de vitamina D com a idade foi analisada em diversos estudos, demonstrando que, mesmo com exposição
abundante ao Sol, os níveis séricos de 25 (OH) D são menores em pessoas idosas saudáveis quando comparados a controles mais jovens. As
variações sazonais também diminuem ou até mesmo desaparecem com o avançar da idade.421,422
A capacidade para a síntese da vitamina D baseia-se na disponibilidade de 7-DHC. MacLaughlin e Holick demonstraram que, com o
envelhecimento, ocorre a diminuição da quantidade de 7-DHC na epiderme e, consequentemente, o potencial para a produção de vitamina D3.420
Os autores obtiveram amostras de pele de seis pacientes, todos fototipos III, com áreas de superfície idênticas, e mediram a quantidade de 7-DHC,
a qual diminui aproximadamente metade dos 21 aos 88 anos. Em seguida, os espécimes foram expostos a quantidades iguais de radiação UV e foi
quantificada a síntese de pré-vitamina D3 resultante.
Utilizando como referência a amostra de pele de um paciente de 8 anos de idade, um jovem de 18 anos produziu 80% da quantidade de pré-
vitamina D3, um paciente de 77 anos, 37%, e um de 82 anos, 40%, inferindo-se diminuição da capacidade de síntese de pré-vitamina D3 de 2,5
vezes nos últimos anos de vida.
Como ocorre a diminuição da espessura da pele com o envelhecimento,422-424 poder-se-ia postular que a redução da capacidade de síntese de
pré-vitamina D3 estaria relacionada a esse adelgaçamento; no entanto, os autores evidenciaram que a síntese de pré-vitamina D3 está linearmente
relacionada à concentração de 7-DHC e não à espessura cutânea.
Porém, Need e cols. encontraram uma correlação positiva entre a espessura da pele e os níveis séricos de 25 (OH) D, mas não testaram a resposta
cutânea à exposição solar para equipará-la à produção de vitamina D.425
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Embora a produção de vitamina D se torne menos eficiente com o avançar da idade, Webb e cols. demonstraram ser possível enfermeiros brancos
idosos residentes em Boston manterem níveis adequados de 25 (OH) D (definidos como > 15 ng/mL em seu estudo de 1990) durante todo o ano,
através de exposição solar casual, sem necessidade de suplementação oral.426
A suplementação oral de vitamina D reduziu drasticamente o número de pacientes com níveis inferiores a 15 ng/mL (para menos de 5%) durante
todo o ano, no entanto minimizou de forma mais intensa a diminuição sazonal no inverno, quando até 40% do grupo suplementado apresentava
concentrações séricas de 25 (OH) D menores que 15 ng/mL.
Esse valor está bem abaixo dos valores de referência utilizados hoje em dia e os dados do artigo não permitiram a determinação da porcentagem
de pacientes com valores acima de 20 ou 30 ng /mL.
Evitar o Sol
A prevenção da exposição à radiação UV-B pode ser feita de várias maneiras, seja evitando-a completamente (ficar dentro de casa), seja cobrindo a
pele com roupas ou ainda aplicando protetor solar.
Para ilustrar o potencial efeito da ausência completa de radiação UV-B sobre os níveis de vitamina D, podemos citar dois estudos, nos quais
membros saudáveis da tripulação de submarinos apresentaram redução de 40% na concentração sérica de 25 (OH) D após dois meses debaixo
d'água, independentemente da fortificação alimentar.436,437
Em alguns grupos, por exemplo, como pacientes com reações graves à luz solar, o comportamento fotoprotetor é uma obrigação. Devido à
fotossensibilidade, muitos pacientes com lúpus eritematoso cutâneo evitam ativamente o Sol.
Cusack e cols. entrevistaram 52 pacientes com lúpus eritematoso cutâneo quanto a várias características comportamentais e físicas e, em seguida,
mediram os níveis séricos de 25 (OH) D (final do verão).438 Foram encontrados níveis séricos de 25 (OH) abaixo de 30 ng/mL em 67% dos
indivíduos (média de 25,3 ng/mL), com diminuição mais significativa nos pacientes que evitavam fisicamente o Sol (uso de chapéus, roupas de
proteção, fugindo do Sol do meio-dia) (p = 0,004) e um pouco menor nos pacientes que usavam protetor solar diariamente (p = 0,042).
Um estudo de Kamen e cols. demonstrou que, nos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, a fotossensibilidade foi o segundo preditor de níveis
de 25 (OH) D criticamente baixos, com odds ratio de 12,9 (p < 0,01), ficando atrás apenas da doença renal (odds ratio 13,3, p < 0,01).439 Os mais
sujeitos aos efeitos adversos do Sol provavelmente tomam as maiores precauções para minimizar a exposição e, portanto, têm os níveis mais
baixos de vitamina D.
A imunossupressão sistêmica em pacientes que receberam transplante de órgãos sólidos tem sido associada a um risco aumentado de câncer de
pele; assim sendo, evitar o Sol é recomendado para estes pacientes.440
Querings e cols. mensuraram os níveis séricos de 25 (OH) D no final do inverno em 31 pacientes transplantados renais de 31 anos de idade e em
controles pareados por sexo.441 Todos os pacientes transplantados relataram praticar proteção solar com o uso de protetores solares, evitando o
Sol e vestindo roupas de proteção.
Os pacientes transplantados apresentaram níveis significativamente mais baixos de 25 (OH) D em comparação com os controles (concentração
média de 10,9 ng/ml vs 20,0 ng/ml, p = 0,007). No entanto, a diminuição da exposição ao Sol é apenas um dos vários fatores potenciais
contribuintes nesses pacientes. O uso de glicocorticoides, por exemplo, aumenta a quebra da 25 (OH) D. A deficiência de vitamina D também tem
sido demonstrada em pacientes que receberam transplante de medula óssea.442,443
Um terceiro grupo de pacientes que pratica fotoproteção estrita é o que apresenta tendência inerente para o surgimento de câncer de pele, incluindo
pacientes com xeroderma pigmentoso (XP) e síndrome do nevo basocelular (SNBC).
Querings e Reichrath conduziram um pequeno estudo de três pacientes com XP e um com SNBC, constatando que os mesmos tinham níveis
séricos de 25 (OH) D significativamente diminuídos (média de 9,5 ng/mL).444 Foi novamente demonstrado que a fotoproteção está associada a
níveis séricos reduzidos de vitamina D.
Em contrapartida, Sollitto e cols. evidenciaram que oito pacientes com XP, que praticavam medidas rigorosas de proteção solar, foram capazes de
manter níveis baixos de 25 (OH) D (concentração sérica média de 17,8 ng/ml), sem necessidade de suplementação.445
No momento em que o estudo foi publicado, a faixa considerada normal era 10 a 55 ng/mL. Sollitto e cols. afirmaram que níveis adequados de
vitamina D poderiam ser mantidos na ausência de qualquer suplementação e/ou exposição aos raios UV, embora estes pacientes fossem jovens
(média de idade de 27 anos, faixa de 14-49), ativos e tivessem ingestão diária estimada de vitamina D de 307 UI. Devido às maiores concentrações
recomendadas na atualidade (20 a 30 ng/mL), estes pacientes seriam considerados deficientes em vitamina D.445
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Uma grande investigação, com mais de 1.400 mulheres brancas, feita por Glass e cols. no Reino Unido, analisou a relação entre a vitamina D, a
pigmentação da pele e a exposição aos raios UV.446 Foi observado que os fototipos mais altos (III e IV) apresentavam maiores níveis séricos de 25
(OH) D (média de 32,9 ng/ml), quando comparados a fototipos baixos (tipos I e II) (média de 28,5 ng/mL, p < 0,0001).
Os dados mostraram uma inclinação ao comportamento em busca do Sol pelos pacientes de peles mais escuras, que se correlacionou
positivamente com o status da vitamina D. Malvy e cols. conduziram um estudo semelhante na França, envolvendo 1.191 indivíduos, e também
observaram que os níveis séricos de 25 (OH) D eram mais baixos nos indivíduos de pele clara (p < 0,024).447 Estudos acerca de indivíduos que
trabalham sob o Sol, como agricultores e salva-vidas, revelaram altos níveis de 25 (OH) D, com concentrações médias entre 54 e 65 ng/mL.397
Apesar de a maior exposição ao Sol estar relacionada a níveis mais elevados de vitamina D, os interessantes resultados de Binkley e cols.
sugeriram que a exposição abundante pode não ser suficiente para melhorar o status da vitamina D em todos os indivíduos.448
Os autores mediram os níveis séricos de 25 (OH) D em 93 adultos jovens de origens raciais distintas, recrutados a partir de uma loja de skate em
Honolulu, Havaí (latitude 21º N). Os indivíduos tinham média de idade de 24 anos e se expunham ao Sol cerca de 28,9 horas por semana
(autorrelato), sendo que, em menos de sete destas horas, usavam protetor solar. A pontuação do índice solar foi calculada pelo montante de tempo
sob o Sol, combinado com a área corpórea exposta.
A média da concentração de 25 (OH) D foi de 31,6 ng/mL. Utilizando-se um corte de 30 ng/mL para a suficiência, 51% dos indivíduos apresentaram
níveis baixos de vitamina D. O quartil de participantes com as menores concentrações de 25 (OH) D (média de 20,7 ng/mL versus 35,2 ng/mL, p <
0,0001) se expôs menos tempo ao Sol (score de 7,2 vs 12,3, p < 0,05) do que o resto dos sujeitos do estudo.
Os participantes brancos apresentaram níveis mais elevados de 25 (OH) D (média de 37,1 ng/mL, p < 0,01), quando comparados aos asiáticos de
pele mais escura (24,7 ng/ml) ou indivíduos miscigenados (28,9 ng/ml). Porém, não foi encontrada correlação estatística entre os níveis séricos de
25 (OH) D e a idade, cor da pele, horas de exposição ao Sol sem protetor, total de exposição ao Sol ou índice solar. A dieta não foi contabilizada
neste estudo.
Devido ao fato de todos os participantes serem jovens, as concentrações de 7-DHC na pele poderiam ser consideradas como adequadas: assim
sendo, a variabilidade substancial sugere que existam provavelmente outros fatores influenciadores da produção cutânea de vitamina D ou do seu
subsequente metabolismo, os quais ainda não foram completamente elucidados.
Diferentes requisitos genéticos para a execução das funções fisiológicas da vitamina D podem existir, bem como a necessidade de um nível ótimo
mais baixo em algumas populações. Por exemplo, os africanos americanos têm níveis mais baixos de 25 (OH) D do que os brancos, mas têm maior
densidade óssea e menor número de fraturas frente à osteoporose.449
Acredita-se que existam diferenças na eficiência do metabolismo do cálcio, pois, mesmo quando comparados aos brancos que possuem
densidades ósseas semelhantes, os afro-americanos ainda apresentam menos fraturas, menores níveis de marcadores de turnover ósseo e menor
excreção renal de cálcio.
Vestuário
A roupa é uma barreira adicional que a radiação UV-B deve romper para atingir o 7-DHC. De forma semelhante ao Fator de Proteção Solar do
protetor solar, aos diferentes tipos de roupas podem ser atribuídos equivalentes fatores de proteção UV, ou FPU. A trama de um tecido pode ser
fechada ou aberta, determinando o nível de proteção que a roupa oferece ("fator de cobertura").450
O aumento da espessura é outra característica que diminui a transmissão da radiação. O estiramento do tecido diminui a espessura e abre os
espaços, reduzindo a eficácia de forma proporcional à quantidade de estiramento. Bem tecido, um brim grosso pode ter um FPU de 1000, enquanto
uma camiseta de algodão leve pode ter um FPU menor que 10.451
As cores mais escuras absorvem melhor a radiação UV, assim sendo, em um mesmo tecido, podem oferecer maior FPU. A composição do tecido
determina o quão absorvente ele é, por exemplo, o poliéster protege mais que o algodão e o algodão natural é mais eficaz do que o algodão
branqueado (o algodão natural tem pigmentos que absorvem a radiação UV-B).452
Aditivos, tais como dióxido de titânio e agentes branqueadores fluorescentes, podem ser utilizados pelos fabricantes para aumentar o FPU. O tecido
molhado através da transpiração ou do contato com a água tem diferentes respostas, podendo ter o FPU reduzido pela metade, por exemplo, em
uma camiseta branca ou aumentado em outros tipos de roupas.453,454
Lavar e usar tecidos de algodão aumenta o FPU, podendo dobrar após 10 ciclos de lavagens, principalmente devido ao encolhimento, mas também
devido ao acúmulo de sujeira, óleos e partículas de detergente.455
A maioria das pesquisas foca na análise das roupas e FPU, mas não aborda a vitamina D. Matsuoka e cols. demonstraram que as roupas impedem
a produção de vitamina D a partir de 7-DHC.453
Voluntários vestidos com trajes de corrida, que cobriam o corpo todo, foram expostos à irradiação com UV-B (1 DEM) e não apresentaram elevação
dos níveis séricos de vitamina D, independentemente do tipo de tecido (lã, algodão, poliéster) ou cor (preto ou branco). Mesmo após aumento da
radiação UV-B para 6 DEM, os indivíduos não apresentaram acréscimo mensurável dos níveis de vitamina D, levando os autores a concluir que as
roupas dificultaram significativamente a fotoprodução cutânea de vitamina D.
Como parte deste estudo, a transmissão direta da UV-B foi mensurada: lã preta bloqueou mais de 98% da radiação e tecido de algodão branco
bloqueou somente 47%. Ainda assim, nem in vitro nem nos voluntários humanos houve qualquer evidência de conversão do 7-DHC para pré-
vitamina D3.
Salih cobriu cuvettes contendo 7-DHC, com vários tecidos utilizados nas roupas tradicionais dos povos de Oman e mediu a conversão para pré-
vitamina D3 após exposição à luz solar em vários períodos.
Os tecidos eram de poliéster, de uma mistura de algodão com poliéster ou de lã. A atenuação da radiação UV-B variou de 71,4 a 99,9%, sendo que
o tipo de fio foi o fator mais importante nessa atenuação. Sessenta minutos de exposição à luz solar propiciaram a conversão de 8% do 7-DHC para
pré-vitamina D3 nas cuvettes descobertas. A máxima conversão de 7-DHC para pré-vitamina D3 nas cuvettes cobertas foi de 1,7%, sendo que
alguns tecidos não permitiram nenhuma conversão.454
Parisi e Wilson tiveram resultados semelhantes, com transmissão máxima de 0,22 DEM através de camisetas de algodão em manequins, em
comparação a 14,5 DEM na superfície externa da camiseta, após 3 horas de irradiação.455
Eles concluíram que 0,22 DEM pode estar abaixo do limiar necessário para síntese de pré-vitamina D3, embora o estudo tenha sido feito das 9h30
às 12h30 durante o verão e poderia ter melhores resultados se realizado mais no meio do dia ou por mais tempo.455
Protetor solar
A aplicação adequada do protetor solar pode evitar os danos causados pela radiação UV na pele, mas a mesma UV-B bloqueada é também
necessária para a produção de vitamina D.456-459 Embora intuitivamente suspeitemos de que o uso adequado do protetor solar impeça a síntese
suficiente de vitamina D, há poucos estudos que analisam esta questão.460,461
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Matsuoka e cols. apresentaram evidências in vitro e in vivo de que a aplicação de ácido para-aminobenzoico (PABA), um componente comum nos
filtros solares mais antigos, impede a síntese cutânea de vitamina D.462 Etanol ou etanol mais 5% de PABA foram aplicados em pedaços de pele
humana e, em seguida, expostos à radiação solar simulada. A síntese de prévitamina D3 foi completamente bloqueada nas peças tratadas com
filtro solar e, nas peças não tratadas, 15% do 7-DHC foi convertido em pré-vitamina D3 na camada basal da epiderme.
Separadamente, oito indivíduos de pele branca receberam 1 DEM de radiação UV por todo o corpo. Quatro indivíduos haviam aplicado protetor
solar à base de PABA, FPS 8, uma hora antes da exposição. Um dia depois da exposição, os níveis séricos de vitamina D3 aumentaram
significativamente nos quatro sujeitos não tratados, mostrando-se inalterados nos indivíduos que utilizaram protetor solar (p < 0,01). Embora
houvesse poucos pacientes no estudo, os resultados fornecem evidência de supressão da síntese de vitamina D com uso de protetores solares à
base de PABA.
Matsuoka e cols. publicaram outro estudo um ano depois.463 Os autores compararam 20 indivíduos de pele branca com história pessoal de câncer
de pele que, ao longo dos últimos 12 meses, haviam aplicado protetor solar contendo PABA em todas as partes expostas do corpo a controles que
viviam na mesma casa ou bairro e possuíam a mesma idade.
Os usuários de filtro solar apresentaram menos da metade dos níveis séricos médios de 25 (OH) D dos controles (16,1 vs 36,6 ng/mL, p < 0,001),
em dosagem feita no verão. É importante ressaltar que os níveis de 25 (OH) D não foram analisados no início do estudo ou antes do uso de protetor
solar. A quantidade de exposição solar foi estimada pelos pesquisadores, não sendo feita em medida direta. Os indivíduos com história de câncer
de pele provavelmente se esforçam mais para evitar a luz solar do que os seus companheiros ou vizinhos, confundindo os resultados.464
Matsuoka e cols. realizaram um terceiro estudo, semelhante ao primeiro, no qual o protetor solar FPS 15 foi aplicado em diferentes áreas da pele de
pacientes brancos (fototipo III) uma hora antes de receberem pouco menos de uma DEM no corpo inteiro.465
Mais uma vez, eles mediram os níveis de vitamina D3 (ao invés de 25 (OH) D) antes e 24 horas após a exposição solar e constataram que a
cobertura de todo o corpo com protetor solar impediu a síntese de vitamina D3. A aplicação de protetor solar em todas as áreas, exceto cabeça,
pescoço ou braços, causou pequeno, porém estatisticamente insignificante, aumento da vitamina D3 (p > 0,05). Aumento significativo dos níveis
séricos de vitamina D3 ocorreu somente quando mais de 19% da superfície total do corpo estava livre de proteção solar (p < 0,05).
Holick e cols. estimaram que a aplicação adequada de filtro solar com FPS 8 reduz a produção de vitamina D em mais de 90%, sendo a redução de
99% com aplicação de FPS 15.466
As evidências de que a aplicação de filtro solar dificultaria a síntese de vitamina D, vindas a partir de pesquisas que analisaram doses individuais
em ambientes controlados, aparentemente procediam, mas os resultados de estudos de maior escala não foram consistentes com estes achados.
O primeiro ensaio clínico duplo-cego randomi-zado sobre o assunto foi feito por Marks e seus colegas, em 1995, na Austrália, e envolveu mais de
100 pacientes, aos quais foram designados protetores solares FPS 17 ou placebo.467
Todos os participantes do estudo apresentavam histórico de, pelo menos, uma queratose solar e tinham mais de 40 anos de idade. Os níveis
séricos de 25 (OH) D e 1,25 (OH) D foram obtidos no início do ensaio e sete meses mais tarde após o verão australiano. O uso adequado de
protetor solar foi verificado pela pesagem periódica das embalagens.
Os resultados mostraram que o uso do filtro solar não impediu o aumento sazonal da 25 (OH) D. As respostas foram semelhantes nos dois grupos,
independentemente da distribuição por idade, sexo, exposição ao Sol ou tipo de pele. No entanto, no grupo placebo houve aumento
estatisticamente significativo dos níveis séricos de 1,25 (OH) D (p = 0,0009), que subiu 4,5 ng/mL enquanto no grupo que usou protetor solar o
aumento foi de apenas 0,5 pg/ ml.
Os níveis da 1,25 (OH) D mantiveram-se dentro da faixa de referência (12,5 - 51,7 pg/mL) em todos os participantes e não houve diferença
estatística entre os níveis globais de 1,25 (OH) D, quer no início ou no final da pesquisa. O aumento sazonal da 1,25 (OH) D foi um achado
inesperado. A 1,25 (OH) D é considerada livre de flutuações pessoais, provavelmente devido ao controle rigoroso via feedback.467-469
Os autores não foram capazes de oferecer uma explicação para as alterações dos níveis da 1,25 (OH) D. No entanto, o achado mais importante do
estudo mostra que o marcador de deficiência de vitamina D, 25 (OH) D, não foi afetado pelo uso do protetor solar. Os autores argumentaram que a
exposição solar adequada foi obtida através de frações de radiação UV-B que atravessaram a pele, devido aos ocasionais esquecimentos ou
aplicações inadequadas do protetor.468
Maia e cols. avaliaram as concentrações séricas de 25 (OH) D e do hormônio da paratireoide (PTH) em grupos de indivíduos com e sem orientação
para fotoproteção, moradores da cidade de São Paulo - Brasil. Os autores encontraram diferença significativa entre os níveis de 25 (OH) D, que
foram maiores no grupo fotoexposto, 35,4 ng/mL [21,86 - 72,20] em relação ao fotoprotegido, 29,2 ng/mL [23,10 - 45,80]. Também houve diferença
em relação ao PTH, maior no grupo fotoexposto, 29,8 pg/mL [18,98 - 73,94], do que no fotoprotegido, 19,24 pg/mL [8,06 - 66,18].470
Apesar destas diferenças, não havia indivíduos deficientes de vitamina D na amostra e os níveis de PTH mantiveram-se dentro dos valores de
normalidade. Concluiu-se que a radiação ultravioleta solar do cotidiano foi suficiente para promover uma síntese adequada de 25 (OH) D.470
Um estudo transversal preliminar, conduzido por Kligman e cols., relatou que o uso de filtro solar por idosos no Arizona foi positivamente associado
aos níveis de 25 (OH) D.471
Outro estudo semelhante, baseado em questionários, foi realizado por Kimlin e cols., envolvendo ampla gama de indivíduos australianos, com
idades entre 18-87.472 Os autores não encontraram nenhuma associação estatisticamente significativa entre o status de 25 (OH) D e o uso de
protetor solar, sendo que os participantes que usaram protetor apresentaram alguns dos níveis mais altos de 25 (OH) D. Neste caso, supôs-se que
o uso de protetor solar era provavelmente uma indicação do aumento da exposição ao Sol.
Um estudo transversal investigou a ligação entre obesidade e diminuição dos níveis séricos de vitamina D em centenas de idosos moradores de
Boston (EUA). Coincidentemente, os autores descobriram que o uso do protetor solar não estava associado aos níveis de vitamina D. Já o tempo
de exposição ao Sol e área de superfície corpórea exposta foram positivamente correlacionados, como seria de se esperar.473
Uma explicação para a falta de correlação negativa (e às vezes correlação positiva) entre o status da vitamina D e o uso de protetor solar foi
fornecida por Thieden e cols. Os autores concluíram que o protetor solar era, com frequência, aplicado nos dias em que altas quantidades de
exposição ao Sol estavam previstas com objetivo de evitar queimaduras. Assim sendo, o uso de protetor foi associado com exposição à luz solar
mais frequente e de maior duração.474
Portanto, um comportamento de busca ativa do Sol seria capaz de neutralizar qualquer atenuação da síntese de vitamina D que o filtro solar,
teoricamente, pudesse causar. Adicionalmente, Bech-Thomsen e Wulf analisaram uma amostra de banhistas, demonstrando que o protetor solar
não foi aplicado nas doses recomendadas para se obter a proteção da classificação anunciada (FPS).475
Um levantamento feito por Stender e cols. revelou que usuários de filtro solar, muitas vezes, apresentavam queimaduras, novamente evidenciando
a utilização imprópria ou inadequada, além de maior exposição solar em comparação com indivíduos que utilizam protetor solar com menos
frequência.476
Farrerons e cols. compararam 24 idosos usuários de protetor solar (FPS 15), com 19 controles, por mais de 2 anos. Além da vitamina D, analisaram
os marcadores secundários (PTH, marcadores ósseos biológicos).477
Os autores relataram que a diminuição do status da 25 (OH) D nos usuários de protetor solar foi um pouco maior do que nos controles; estes
tiveram um aumento ligeiramente maior dos níveis de 25 (OH) D nos meses de verão (p < 0,05). No entanto, as mudanças dos níveis séricos de
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1,25 (OH) D foram insignificantes em ambos os grupos e não houve evidência de hiperparatireoidismo secundário durante o inverno ou alterações
do metabolismo ósseo em nenhum dos participantes.
Em um estudo de follow-up, vários anos depois, Farrerons e cols. avaliaram a massa óssea de 10 usuários de protetor solar e 18 controles por mais
de 2 anos. Não foram observadas diferenças significativas na redução da massa óssea em ambos os grupos.478
Eles concluíram que, apesar de o protetor solar FPS 15 diminuir ligeiramente as concentrações séricas de 25 (OH), esta redução não foi
clinicamente significativa nem aumentou o risco de perda óssea. Apesar de bons indicadores do status da vitamina D, o PTH e a massa óssea
podem não ser medidas adequadas para a determinação de suficiência, dados outros benefícios potenciais da vitamina D que estão emergindo.
CONCLUSÃO
A prevenção da exposição à luz solar tem sido relacionada à diminuição dos níveis séricos de 25 (OH) D. No entanto, a questão foi analisada
apenas em laboratórios e consequências clínicas claras ainda não foram evidenciadas. Fora de experimentos controlados, o uso de protetor solar
não se correlacionou negativamente aos níveis séricos de vitamina D.
Contrariamente, mostrou-se como marcador de exposição ao Sol, sendo associado às concentrações elevadas de 25 (OH) D. Muitos fatores
externos afetam a quantidade de UV-B disponível e sua capacidade para fotossíntese de vitamina D, além da influência da resposta potencial de
cada indivíduo. Assim sendo, é difícil fazer afirmações genéricas correlacionando a duração da exposição ao Sol ao status da vitamina D.
Recomendações para a exposição "ideal" parecem excessivamente simplificadas, dadas a complexidade e a individualidade da determinação final
da síntese de vitamina D. Com a ampliação contínua das descobertas acerca das funções da vitamina D, a definição de "adequado" continua
indefinida. Marcadores indiretos anteriormente considerados para avaliação de deficiência, como PTH elevado, provavelmente não abordam o
quadro de forma efetiva.
O risco de dano solar e câncer de pele com a exposição excessiva aos raios UV e a disponibilidade de suplementação oral de vitamina D dificultam
ainda mais o estabelecimento de diretrizes para definição dos níveis ideais e seguros de exposição ao Sol, necessários para manter concentrações
adequadas de vitamina D.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Benefícios da vitamina D
O único benefício reconhecidamente relacionado à vitamina D é sua relação com a saúde óssea por meio da participação no metabolismo do cálcio.
Níveis adequados de vitamina D estão relacionados à prevenção do raquitismo e da osteoporose.
As evidências de que a vitamina D reduz o risco do desenvolvimento de doenças crônicas não esqueléticas é inconsistente, inconclusiva e não
atende aos critérios de relação causa-efeito.479
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* Trabalho realizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
[*] Capacidade de o filtro solar manter a efetividade durante seu uso, especialmente após exposição à água. É muito importante na composição do
veículo, pois facilita a adesão do princípio ativo do filtro na camada córnea. As substâncias mais efetivas para protetores solares são lipossolúveis.
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