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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO

SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL

12a. Câmara

APELAÇÃO C/ REVISÃO
No. 662810-00 /4

Comarca de SANTOS

APT/APDS STOLT PARCEL TANKERS INC

CORY IRMÃOS COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos,


os juizes desta turma julgadora do Segundo
Tribunal de Alçada Civil, de conformidade com
o relatório e o voto do relator, que ficam
fazendo parte integrante deste julgado, nesta data,
a turma/ por unanimidade, deliberou suscitar conflito
negativo de competência.

Turma Julgadora da 12a. Câmara


JUIZ RELATOR ROMEU RICUPERO
JUIZ REVISOR ARANTES THEODORO
3 o Juiz RIBEIRO DA SILVA
Juiz Presidente PALMA BISSON
Data do julgamento 22/02/01

ROMEU RICUPERO
Juiz Relator
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PODER JUDICIÁRIO
SÃO PAULO
SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL
APELAÇÃO COM REVISÃO N.° 662.810-0/4 - VOTO N.° 60

COMARCA DE SANTOS

APTE(S) / APDO(S): STOLT PARCEL TANKERS INC; CORY IRMÃOS


COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA.

VOTO N.° 60

EMENTA: Ação de prestação de contas decorrente de


representação comercial - Negócios pertinentes à prestação de
serviços de agência marítima representações, agenciamento
de navios, agenciamento de cargas etc. - no porto de Santos,
Estado de São Paulo, durante longo tempo - Ação de prestação
de contas que não decorre de mandato Competência do E.
Primeiro Tribunal de Alçada Civil (artigo Io, inciso III, da
Resolução n.° 108/98), que, não obstante, não conheceu de
apelação - Proposta de suscitação de conflito negativo de
competência pelo Tribunal Pleno.

Stolt Parcel Tankers, Inc., empresa com sede em


Monrovia, República da Libéria, por intermédio de sua coligada Stolt Nielsen
Ltda., ajuizou, em face de Cory Irmãos Comércio e Representações Ltda.,
ação de prestação de contas com pedido de tutela antecipada, alegando, em
síntese, que foi "representada pela ré, em negócios pertinentes à prestação de
serviços de agência marítima - representações, agenciamento de navios,
agenciamento de cargas, etc. - no porto de Santos, Estado de São Paulo,
durante longo tempo - cláusula IV do contrato social da ré conforme farta
documentação ora trazida aos autos - cópias de peças em processos de
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mandado de segurança para liberação de navios mediante depósitos de


quantias para não pagamento da ATP - tudo de conformidade com a relação
também anexa, que monta em quantia equivalente a US$ 310.337,49 -
trezentos e dez mil, trezentos e trinta e sete dólares norte americanos e
quarenta e nove centavos" (cf. textualmente a fls. 03).

Afirmou que, por força de tais atribuições, era


comum a ré lidar com numerário enviado pela autora, na execução dos
serviços mencionados acima, enfatizando, aliás, que "é costume os negócios
relativos a agenciamento de navios são feitos na confiança, mediante troca de
correspondência, telex e fax, entre cliente (autora) e agência (ré), entregando
quantias necessárias ao desembaraçado dos navios" (sic - fls. 04).

Assinalou que ficou demonstrado o desvio de


verbas, isso após auditoria interna ter constatado a ausência de devolução ou
prestação de contas de numerário em poder da ré e pertencente à autora, e
reclamou que inúmeras tentativas amigáveis não tinham servido para a
solução da pendência.

A petição inicial de fls. 02/08 veio acompanhada da


procuração de fls. 09 e de inúmeros documentos (cf. fls. 10/442) e o r.
despacho de fls. 443 indeferiu o pedido de antecipação da tutela,
determinando a citação, que se efetivou (fls. 452), vindo para os autos a
contestação de fls. 456/472, na qual a ré insistiu que tanto esta ação de
prestação de contas, quanto outra ação anterior, monitoria, tinham como
causa de pedir "o CONTRATO DE AGENCIAMENTO que a autora alega
(em ambos os pleitos) ter celebrado com a requerida" (maiúsculas e negrito
no original - cf. fls. 457), enfatizando, em outras passagens, que a alegação
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era de créditos em face de serviços de agenciamento marítimo prestados pela


requerida (cf. fls. 458, 463, 464), serviços esses que, pelo seu contrato social,
são normalmente prestados, posto que, na cláusula IV, está previsto que a
sociedade tem por objetivo "a prestação de serviços de estiva,
representações, agenciamento de navios, agenciamento de cargas,
afretamento de navios, agentes comissários, comissários de avarias e
operador portuário,, (cf. letra "b" - fls. 57 e 474).

Frustrada a conciliação (fls. 524), autora juntou


documento, "comprovando a obrigatoriedade de prestação de contas,
relativamente a serviços de representação" (cf. fls. 527 e 528/529).

A r. sentença de fls. 530/532 extinguiu o processo,


sem julgamento de mérito, com fundamento no artigo 267, inciso VI, do
Código de Processo Civil, reconhecendo a ausência de pressuposto
indispensável ao desenvolvimento válido e regular do processo (ausência de
capacidade da autora para estar em juízo - artigo 12, VI e VIII, do CPC;
ausência de capacidade postulatória - artigo 36 e seguintes do CPC).

Apelaram as partes (cf. recurso da autora - fls.


537/542 e recurso da ré - fls. 548/556), com preparo (fls. 543/544 e fls.
558/559), recebimento (fls. 560 e 563) e respostas (fls. 564/568 e 572/579).

Os autos foram enviados ao Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de São Paulo (fls. 580/582), mas, por determinação
superior, foram devolvidos para cumprimento integral da Resolução n.°
102/97, com anotação de que se tratava de representação comercial (cf. fls.
/
583). '~ 7 íH~~~
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Por conseqüência, os autos foram enviados ao


Egrégio Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo (cf. fls.
586), onde o v. acórdão de fls. 595/596, de sua Segunda Câmara, Relator o
Juiz Ribeiro de Souza, não conheceu do recurso, consignando:

"Dessume-se da leitura da inicial pretender a autora


prestação de contas da ré e em decorrência da relação de mandato
existente entre as litigantes.
E isso porque a autora é armadora de navio, sendo
a ré seu agente de navegação, tendo a representado em ações judiciais,
como inferido do exame da documentação acostada com a inicial,
pretendendo obtenção de prestação de contas alusivas a esse mandato.
Ademais, a inicial é taxativa quanto haver relação
de mandato, pois 'a autora foi representada pela ré, em negócios
pertinentes a prestação de serviços de agência marítima -
representações, agenciamento de navios, agenciamento de cargas etc. no
porto de Santos, Estado de São Paulo, durante muito tempo ...' e com
finalidade de a representar em mandados de segurança impetrados com
escopo de liberação de navios, mediante depósitos de quantias para não
pagamento do Adicional de Tarifa Portuária, restando calcada a lide com
fundamento no artigo 1.031 do Código Civil.
Sendo assim, competente para conhecer e julgar o
presente recurso é o E. Segundo Tribunal de Alçada Civil, conforme
regra definida no artigo 2o, inciso XII, da Resolução n.° 108/98 do C.
Órgão Especial do Tribunal de Justiça".

Os autos foram recebidos neste Tribunal em


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11.09.00 (fls. 599), distribuídos em 20.11.00 e vieram conclusos em 01.12.00


(fls. 601).

£ o relatório.

Com a devida vênia, não se trata de prestação de


contas decorrente da relação de mandato existente entre as litigantes, como
entendeu o v. acórdão acima reproduzido, e sim decorrente de representação
comercial, ou, mais especificamente, de contrato de agenciamento, como está
expresso na inicial, na contestação e no contrato social da ré e foi destacado
no relatório.

Confira-se, a propósito, a lição de FRAN


MARTINS:

Bastante difundida está, no comércio, a


representação comercial, conjunto de atividades em que o
representante, agenciando negócios para o representado, pode agir
também como mandatário ou como comissário. Uma mesma pessoa ou
empresa comercial pode exercer atividades dentro dessas diversas
espécies, segundo as relações que mantenha com aquele para quem
contrata.
Não será difícil distinguir as várias categorias dos
atos praticados pelos representantes comerciais. Esses possuem um
contrato com os representados mediante o qual se obrigam a, consoante
remuneração, agenciar para os mesmos. Se desse contrato consta
mandato do seu representado, é também mandatário e, desse modo,
pratica atos em nome do mandante, a esse obrigando diretamente. Se,
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por outro lado, com o representando possui um contrato de comissão,


agirá em seu próprio nome, obrigando-se diretamente segundo as regras
que regulam a comissão.
Dentro das atividades comerciais, muito comum é
que se encontrem empresas que, ao mesmo tempo, funcionem como
mandatárias, comissárias ou agentes comerciais. Tais empresas, às
vezes, dão-se o nome de representantes comerciais, às vezes, os nomes
das agências comerciais. Os negócios relativos à venda em favor de
outro, ou seja, o que, no direito italiano, se chama de contrato de
agência e no brasileiro de representação comercial, diferem do
mandato e da comissão, porque o agente é um mero intermediário,
realizando negócios sem vínculo de subordinação hierárquica para a
empresa tendo a sua remuneração baseada nas negociações feitas"
("Contratos e Obrigações Mercantis", 14a edição, Rio de Janeiro,
Editora Forense, 1996, n.° 242, p. 297).

Em outra passagem, elucida:

"Entende-se por contrato de representação


comercial aquele em que uma parte se obriga, mediante remuneração, a
realizar negócios mercantis, em caráter não eventual, em favor de uma
outra. A parte que se obriga a agenciar propostas ou pedidos em favor
da outra tem o nome de representante comercial, aquela em favor de
quem os negócios são agenciados é o representado. O contrato de
representação comercial é também chamado de agência, donde
representante e agente comercial terem o mesmo significado.
Alguns códigos já regulamentaram esse contrato,
com o nome de agência ou agência comercial. (...). < ~ ^
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O contrato de agência ou representação comercial é


muito difundido, servindo os representantes ou agentes como
prestimosos auxiliares dos comerciantes para a realização dos seus
negócios. Convém, entretanto, frisar que os representantes comerciais
não são empregados dos representados, sendo a representação uma
atividade autônoma" (cf. obra citada, n.° 206, p. 269).

No mesmo sentido: WALDÍRIO BULGARELLI,


"Contratos Mercantis", 8a edição, Editora Atlas S/A, 1995, p. 502 e
seguintes.

RUBENS REQUIÃO esclarece:

"O contrato de representação comercial é, a nosso


ver, uma convenção típica. Pode tal contrato conter o mandato, mas com
este não se confunde; não é comissão mercantil; não é simples locação
de serviços, pois, nele, não se remunera o trabalho do agente, mas o
resultando útil dele decorrente.
Não é mandato, com efeito, pois este constitui,
segundo a doutrina, uma relação interna entre mandante e mandatário,
sendo projetado no mundo exterior pela representação, que com ele foi
conjugado no direito brasileiro.
A representação comercial deriva do instituto geral
da representação nos negócios jurídicos, pela qual uma pessoa age em
lugar e no interesse de outra, sem ser atingida pelo ato que pratica. O
representante comercial é, assim, um colaborador jurídico, que, através
da mediação, leva as partes a entabular e concluir negócios" (cf. "Curso
de Direito Comercial", 22a edição, São Paulo, Editora Saraiva, 1995, I o
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vol.,n.°123,p. 157).

Ainda que tivesse havido mandato, seria ele parte


de outro contrato, mais abrangente e específico, o de representação comercial
ou agenciamento, que define a competência em razão da matéria.

Em suma, cuidando-se de representação comercial


ou contrato de agenciamento marítimo, a competência é mesmo do Egrégio
Primeiro Tribunal de Alçada Civil, consoante decorre do artigo Io, inciso III,
da referida Resolução n.° 108/98, ou seja, compete ao Primeiro Tribunal de
Alçada Civil, em grau de recurso ou originariamente, processar e julgar as
ações oriundas de representação comercial, comissão mercantil, comodato,
condução e transporte, depósito de mercadorias e edição.

Em conseqüência, não se conhece do recurso e


propõe-se ao Egrégio Plenário a suscitação de conflito negativo de
competência.

EU RICUPERO
Juiz Relator
Certifico que o presente Acórdão arquivado
eletronicamente sob n°.662.810-00/4 com 09 imagens está sendo
acrescido por ordem do relator, nesta data, pelo seguinte
i (
motivo: ^y.Ç. :}:\\ r..... .Ç.£.V.>h ç kí. ^ V^ív... £x>^kwL .<^ £. .^T^rkyt^..

São Paulo, 18 de abril de 2001.

SANA SILVA REGO BARROS


Diretoria Técnica de Serviço
)TA-3
CONCLUSÃO
Aos . s de ^ i de 2001,
promovo os presentes autos à conclusão
do Exmo Juiz >v '•'.- '^ • -.- . •
:
Á^^<:i^
Escrevente Técnico Judiciário (DJE-3)

Apelação com Revisão n° 662.810-0/4

1.Considerando que o artigo 123, combinado com o art. 29, II,


do RISTAC, dispensa o pronunciamento do Plenário em se
tratando de conflito de competência em relação aos outros
tribunais de alçada, competindo às Câmaras suscitá-los,
determino retifique-se a ementa e dispositivo do acórdão de
fls., passando a constar em ambos as seguintes redações:
Ementa, parte final - "Competência do E. Primeiro Tribunal de
Alçada Civil (artigo 1o, inciso III, da Resolução n° 108/98), que,
não obstante, não conheceu de apelação - Suscitação de
conflito negativo de competência ao Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo." Dispositivo - "Em
conseqüência, não se conhece do recurso e, nos termos dos
artigos 29, inciso II e 123, do Regimento do Segundo Tribunal
de Alçada Civil do Estado de São Paulo, suscita-se conflito
negativo de competência ao Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo."

2. Republique-se.

São Paulo, 06 de abril de 2001.

ROMEU RI
Relator
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COMÉRCIO E REPRESENTAÇÕES LTDA.

VOTO N.° 60

EMENTA: Ação de prestação de contas decorrente de


representação comercial - Negócios pertinentes à prestação de
serviços de agência marítima - representações, agenciamento
de navios, agenciamento de cargas etc. - no porto de Santos,
Estado de São Paulo, durante longo tempo - Ação de prestação
de contas que não decorre de mandato - Competência do E.
Primeiro Tribunal de Alçada Civil (artigo Io, inciso III, da
Resolução n.° 108/98), que, não obstante, não conheceu de
apelação - Suscitação de conflito negativo de competência ao
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Stolt Parcel Tankers, Inc., empresa com sede em


Monrovia, República da Libéria, por intermédio de sua coligada Stolt Nielsen
Ltda., ajuizou, em face de Cory Irmãos Comércio e Representações Ltda.,
ação de prestação de contas com pedido de tutela antecipada, alegando, em
síntese, que foi "representada pela ré, em negócios pertinentes à prestação de
serviços de agência marítima - representações, agenciamento de navios,
agenciamento de cargas, etc. - no porto de Santos, Estado de São Paulo,
durante longo tempo - cláusula IV do contrato social da ré conforme farta
documentação ora trazida aos autos - cópias de peças em processos de
mandado de segurança para liberação de navios mediante depósitos de
quantias para não pagamento da ATP - tudo de conformidade com a relação
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também anexa, que monta em quantia equivalente a US$ 310.337,49 -
trezentos e dez mil, trezentos e trinta e sete dólares norte americanos e
quarenta e nove centavos" (cf. textualmente a fls. 03).

Afirmou que, por força de tais atribuições, era


comum a ré lidar com numerário enviado pela autora, na execução dos
serviços mencionados acima, enfatizando, aliás, que "é costume os negócios
relativos a agenciamento de navios são feitos na confiança, mediante troca de
correspondência, telex e fax, entre cliente (autora) e agência (ré), entregando
quantias necessárias ao desembaraçado dos navios" (sic - fls. 04).

Assinalou que ficou demonstrado o desvio de


verbas, isso após auditoria interna ter constatado a ausência de devolução ou
prestação de contas de numerário em poder da ré e pertencente à autora, e
reclamou que inúmeras tentativas amigáveis não tinham servido para a
solução da pendência.

A petição inicial de fls. 02/08 veio acompanhada da


procuração de fls. 09 e de inúmeros documentos (cf. fls. 10/442) e o r.
despacho de fls. 443 indeferiu o pedido de antecipação da tutela,
determinando a citação, que se efetivou (fls. 452), vindo para os autos a
contestação de fls. 456/472, na qual a ré insistiu que tanto esta ação de
prestação de contas, quanto outra ação anterior, monitoria, tinham como
causa de pedir "o CONTRATO DE AGENCIAMENTO que a autora alega
(em ambos os pleitos) ter celebrado com a requerida" (maiúsculas e negrito
no original - cf. fls. 457), enfatizando, em outras passagens, que a alegação
era de créditos em face de serviços de agenciamento marítimo prestados pela
requerida (cf. fls. 458, 463, 464), serviços esses que, pelo seu contrato social,
são normalmente prestados, posto que, na cláusula IV, está previsto que a
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sociedade tem por objetivo "a prestação de serviços de estiva,
representações, agenciamento de navios, agenciamento de cargas,
afretamento de navios, agentes comissários, comissários de avarias e
operador portuário" (cf. letra "b" - fls. 51 e 474).

Frustrada a conciliação (fls. 524), autora juntou


documento, "comprovando a obrigatoriedade de prestação de contas,
relativamente a serviços de representação" (cf. fls. 527 e 528/529).

A r. sentença de fls. 530/532 extinguiu o processo,


sem julgamento de mérito, com fundamento no artigo 267, inciso VI, do
Código de Processo Civil, reconhecendo a ausência de pressuposto
indispensável ao desenvolvimento válido e regular do processo (ausência de
capacidade da autora para estar em juízo - artigo 12, VI e VIII, do CPC;
ausência de capacidade postulatória - artigo 36 e seguintes do CPC).

Apelaram as partes (cf. recurso da autora - fls.


537/542 e recurso da ré - fls. 548/556), com preparo (fls. 543/544 e fls.
558/559), recebimento (fls. 560 e 563) e respostas (fls. 564/568 e 572/579).

Os autos foram enviados ao Egrégio Tribunal de


Justiça do Estado de São Paulo (fls. 580/582), mas, por determinação
superior, foram devolvidos para cumprimento integral da Resolução n.°
102/97, com anotação de que se tratava de representação comercial (cf. fls.
583).

Por conseqüência, os autos foram enviados ao


Egrégio Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo (cf. fls.
586), onde o v. acórdão de fls. 595/596, de sua Segunda Câmara, Relator o
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Juiz Ribeiro de Souza, não conheceu do recurso, consignando:

"Dessume-se da leitura da inicial pretender a autora


prestação de contas da ré e em decorrência da relação de mandato
existente entre as litigantes.
E isso porque a autora é armadora de navio, sendo
a ré seu agente de navegação, tendo a representado em ações judiciais,
como inferido do exame da documentação acostada com a inicial,
pretendendo obtenção de prestação de contas alusivas a esse mandato.
Ademais, a inicial é taxativa quanto haver relação
de mandato, pois 'a autora foi representada pela ré, em negócios
pertinentes a prestação de serviços de agência marítima -
representações, agenciamento de navios, agenciamento de cargas etc. no
porto de Santos, Estado de São Paulo, durante muito tempo ...' e com
finalidade de a representar em mandados de segurança impetrados com
escopo de liberação de navios, mediante depósitos de quantias para não
pagamento do Adicional de Tarifa Portuária, restando calcada a lide com
fundamento no artigo 1.031 do Código Civil.
Sendo assim, competente para conhecer e julgar o
presente recurso é o E. Segundo Tribunal de Alçada Civil, conforme
regra definida no artigo 2o, inciso XII, da Resolução n.° 108/98 do C.
Órgão Especial do Tribunal de Justiça".

Os autos foram recebidos neste Tribunal em


11.09.00 (fls. 599), distribuídos em 20.11.00 e vieram conclusos em 01.12.00
(fls. 601).

E o relatório.
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Com a devida vênia, não se trata de prestação de
contas decorrente da relação de mandato existente entre as litigantes, como
entendeu o v. acórdão acima reproduzido, e sim decorrente de representação
comercial, ou, mais especificamente, de contrato de agenciamento, como está
expresso na inicial, na contestação e no contrato social da ré e foi destacado
no relatório.

Confira-se, a propósito, a lição de FRAN


MARTINS:

Bastante difundida está, no comércio, a


representação comercial, conjunto de atividades em que o
representante, agenciando negócios para o representado, pode agir
também como mandatário ou como comissário. Uma mesma pessoa ou
empresa comercial pode exercer atividades dentro dessas diversas
espécies, segundo as relações que mantenha com aquele para quem
contrata.
Não será difícil distinguir as várias categorias dos
atos praticados pelos representantes comerciais. Esses possuem um
contrato com os representados mediante o qual se obrigam a, consoante
remuneração, agenciar para os mesmos. Se desse contrato consta
mandato do seu representado, é também mandatário e, desse modo,
pratica atos em nome do mandante, a esse obrigando diretamente. Se,
por outro lado, com o representando possui um contrato de comissão,
agirá em seu próprio nome, obrigando-se diretamente segundo as regras
que regulam a comissão.
Dentro das atividades comerciais, muito comum é
que se encontrem empresas que, ao mesmo tempo, funcionem como
mandatárias, comissárias ou agentes comerciais. Tais empresas, às
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vezes, dão-se o nome de representantes comerciais, às vezes, os nomes
das agências comerciais. Os negócios relativos à venda em favor de
outro, ou seja, o que, no direito italiano, se chama de contrato de
agência e no brasileiro de representação comercial, diferem do
mandato e da comissão, porque o agente é um mero intermediário,
realizando negócios sem vínculo de subordinação hierárquica para a
empresa tendo a sua remuneração baseada nas negociações feitas"
("Contratos e Obrigações Mercantis", 14a edição, Rio de Janeiro,
Editora Forense, 1996, n.° 242, p. 297).

Em outra passagem, elucida:

"Entende-se por contrato de representação


comercial aquele em que uma parte se obriga, mediante remuneração, a
realizar negócios mercantis, em caráter não eventual, em favor de uma
outra. A parte que se obriga a agenciar propostas ou pedidos em favor
da outra tem o nome de representante comercial; aquela em favor de
quem os negócios são agenciados é o representado. O contrato de
representação comercial é também chamado de agência, donde
representante e agente comercial terem o mesmo significado.
Alguns códigos já regulamentaram esse contrato,
com o nome de agência ou agência comercial. (...).
O contrato de agência ou representação comercial é
muito difundido, servindo os representantes ou agentes como
prestimosos auxiliares dos comerciantes para a realização dos seus
negócios. Convém, entretanto, frisar que os representantes comerciais
não são empregados dos representados; sendo a representação uma
atividade autônoma" (cf. obra citada, n.° 206, p. 269).
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No mesmo sentido: WALDÍRIO BULGARELLI,
"Contratos Mercantis", 8a edição, Editora Atlas S/A, 1995, p. 502 e
seguintes.

RUBENS REQUIÃO esclarece:

"O contrato de representação comercial é, a nosso


ver, uma convenção típica. Pode tal contrato conter o mandato, mas com
este não se confunde; não é comissão mercantil; não é simples locação
de serviços, pois, nele, não se remunera o trabalho do agente, mas o
resultando útil dele decorrente.
Não é mandato, com efeito, pois este constitui,
segundo a doutrina, uma relação interna entre mandante e mandatário,
sendo projetado no mundo exterior pela representação, que com ele foi
conjugado no direito brasileiro.
A representação comercial deriva do instituto geral
da representação nos negócios jurídicos, pela qual uma pessoa age em
lugar e no interesse de outra, sem ser atingida pelo ato que pratica. O
representante comercial é, assim, um colaborador jurídico, que, através
da mediação, leva as partes a entabular e concluir negócios" (cf. "Curso
de Direito Comercial", 22a edição, São Paulo, Editora Saraiva, 1995, I o
vol.,n.°123,p. 157).

Ainda que tivesse havido mandato, seria ele parte


de outro contrato, mais abrangente e específico, o de representação comercial
ou agenciamento, que define a competência em razão da matéria.

Em suma, cuidando-se de representação comercial


ou contrato de agenciamento marítimo, a competência é mesmo do Egrégio
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SÃO PAULO
SEGUNDO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL
APELAÇÃO COM REVISÃO N.° 662.810-0/4 - VOTO N.° 60
Primeiro Tribunal de Alçada Civil, consoante decorre do artigo Io, inciso III,
da referida Resolução n.° 108/98, ou seja, compete ao Primeiro Tribunal de
Alçada Civil, em grau de recurso ou originariamente, processar e julgar as
ações oriundas de representação comercial, comissão mercantil, comodato,
condução e transporte, depósito de mercadorias e edição.

Em conseqüência, não se conhece do recurso e, nos


termos dos artigos 29, inciso II e 123, do Regimento do Segundo Tribunal de
Alçada Civil do Estado de São Paulo, suscita-se conflito negativo de
competência ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

ROMEU RICÜPERO
Juiz Relator

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