1 - Introdução
2 - Referencial de teórico
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O ensino da percussão é, sem dúvida, uma importante prática musical que pode ser
desenvolvida na escola. Envolvendo muitas habilidades e espírito de grupo, a prática de tocar
em conjunto consiste em uma forma de aprendizagem bastante profícua na escola.
Tendo como base a organização e os princípios do ensino coletivo do instrumento, a
organização e a preparação da performance musical, desse tipo de prática instrumental
coletiva, possibilita um processo de interação social que exerce um papel bastante importante
no processo de aprendizagem musical. Envolve um “aprendizado colaborativo” entre
“elementos de um grupo, que se motivam, se orientam, se verificam e se avaliam,
mutuamente” (MORAES, 1997, p. 71).
As aulas partem do princípio da música como sendo uma prática social construída
nas/pelas relações estabelecidas pelas crianças com a música nos seus grupos sociais
(SOUZA, 2004). Nesse sentido, consideramos a música “como uma comunicação simbólica e
afetiva, e portanto social” o que, geralmente, “desencadeia a convicção de que nossos alunos
podem expor, assumir suas experiências musicais e que nós podemos dialogar com elas”
(SOUZA, 2004, p. 9). As teorias do cotidiano dão subsídios para o entendimento das relações
sociomusicais estabelecidas no dia-a-dia das atividades pedagógico-musicais.
Acredita-se que em suas relações no mundo que as cerca as crianças adquirem
conhecimentos musicais. Conhecimentos musicais que vêm à tona em atividades musicais
rítmicas, como, por exemplo: na execução de instrumentos de percussão ou no movimento
corporal; melódicas ao entoar canções do repertório que lhes agrada; além de habilidades
envolvendo a aprendizagem dos instrumentos em vários locais e através de muitos meios.
Diante das muitas formas de contato e de vivências com a música no seu cotidiano as crianças
vão construindo seus conhecimentos e habilidades musicais.
Quando pensamos em cotidiano pensamos em “educação musical cotidiana”.
Educação que é construída a partir do “universo íntimo” de cada pessoa, nas relações
microssociais na família, com os colegas, com as mídias (livros, tv, internet, games, etc).
Segundo Souza (2000), o cotidiano
Nesse sentido, segundo Souza (2000), a cotidianidade consiste “em uma categoria de
orientação didática para os professores” (p. 27), que é para nós, enquanto, professores de
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música, a direção teórica que faz com que estejamos atentos não só aos universos musicais
vividos pelos alunos, mas faça desses universos o sentido de orientação da prática
pedagógico-musical.
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São afirmações da diretora e supervisora durante as reuniões para discussão do andamento do projeto dentro da
escola.
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tocado pandeiro, terminaram o semestre com a técnica e qualidade sonora invejável. Isso
porque durante todas as semanas, eles procuraram a direção da escola para pedir o
instrumento para estudar em casa, comprometendo-se em cuidar do instrumento e devolvê-los
no dia seguinte. Assim, conseguimos trabalhar duas músicas, com todos os participantes
tocando os instrumentos e cantando.
educação. Percebemos que ali, o objetivo não poderia ser simplesmente tocar os instrumentos
de percussão. O ensino de música precisaria vir acompanhado de um processo educacional
amplo que considere a realidade, as limitações, os desejos e ansiedades de cada um.
As aulas são organizadas e trabalhadas a partir dos naipes da percussão que, são
divididos de acordo com o ritmo ou música do repertório. Cada estagiário trabalha com um
grupo em um momento da aula e, posteriormente, os naipes se juntam para execução da obra,
sendo que o grupo que toca violão é responsável pelo acompanhamento harmônico e
melódico das canções.
As crianças executam instrumentos de percussão ditos convencionais como: pandeiros,
triângulos, caixas, bumbos, timbas. No primeiro de semestre de 2008, foram trabalhados dois
ritmos: baião na canção música Asa Branca, de Luiz Gonzaga e o ritmo axé com a música
Berimbau Metalizado interpretada por Ivete Sangalo Considera-se para essas aulas a “música
do aluno” como o ponto de partida da aprendizagem musical podendo ser a “porta de entrada”
para os outros tipos de música. Mas, nesse momento, trabalhar com o imaginário performático
e musical desses alunos é uma meta.
Diante disso, nesse segundo semestre de 2008, estamos trabalhando com a elaboração
de composições musicais. Até esse momento os alunos têm se dedicado a compor os
seguintes gêneros: música sertaneja, funk, rap, pagode. Essa experiência também tem sido
muito rica. Um passo, posterior, é organizar os arranjos dessas obras para que as crianças
possam executar nos instrumentos suas próprias composições.
4 – Considerações finais
O projeto que tem como foco a prática da percussão em conjunto na Escola JK
possibilitou que todas as crianças cantassem e tocassem um instrumento, estando sempre
prontas a participarem das atividades propostas. Através da música, foi possível enxergar
várias facetas dessas crianças rotuladas como problemáticas. Elas se mostraram extremamente
afetivas e pré-dispostas a realizar várias atividades em prol de um bem comum: organizar um
conjunto de percussão.
Além dos muitos desafios que apareceram durante as aulas, experimentar e
experienciar a música competia com: as dificuldades das crianças de realizar um trabalho de
prática musical em conjunto, além de, muitas vezes, com os arroubos de violência entre elas.
No entanto, diante de uma postura de diálogo entre os estagiários e as crianças houve, aos
poucos, um processo de estabelecimento de confiança mútua entre o grupo. Isso possibilitou
um processo de interação bastante rica entre crianças, estagiários e e/ou direção da escola.
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aprendi a ser mais flexível, a olhar mais pelo lado deles do que pelo lado da música.
Explicando-me melhor, sempre me preocupei se conseguiríamos formar um repertório
com o meu padrão estético de música. Meu questionamento era se o grupo de
percussão conseguiria tocar uma música atentando-se para questões musicais como
afinação, dinâmica, onde um teria que escutar o outro etc. Aos poucos fui me
desapegando dessa idéia. Percebi que o contato com o instrumento já fazia grande
diferença e que naquele momento, o padrão estético deveria mudar, já que também se
estava fazendo música daquela forma (Relatórios de estágio, 2008).
Estar nessa escola para eu, José Aparecido (2008), considero uma forma de “retribuir
àquela escola um pouquinho do que antes recebi ali, carinho, atenção, respeito e quem sabe
até ensinar, assim como anos atrás ali fui ensinado” (Relatórios de estágio).
5 - Referências
MORAES, Abel. Ensino instrumental em grupo. Uma introdução. Revista Música Hoje,
Belo Horizonte, v. 4, p. 70-78. 1997.
SOUZA, Jusamara (org). Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: Programa de Pós-
Graduação em Música, 2000.
SOUZA, Jusamara. Educação musical e práticas sociais. Revista da Abem, n. 10, p. 7-11,
mar. 2004.