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A PRÁTICA DA PERCUSSÃO EM CONJUNTO NA ESCOLA ESTADUAL JUSCELINO


KUBITSCHEK DE UBERLÂNDIA-MG: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Lilia Neves Gonçalves


José Aparecido da Silva Costa
Mirtes Júlia de Sousa Ferreira
Severino Ramos de Lima
Romes Faustino de Medeiros Júnior
lilianeves@demac.ufu.br
gonzaleznybg@hotmail.com
mirtes@gmail.com
severosom@yahoo.com.br
romesfm@hotmail.com
Universidade Federal de Uberlândia/UFU

Comunicação – Relato de Experiência

1 - Introdução

Em um momento em que se anuncia a obrigatoriedade do ensino de música nas


escolas brasileiras, esse relato de experiência apresenta uma possibilidade de ensino de
música. Tem como objetivo apresentar um trabalho que vem sendo realizado na Escola
Estadual JK (Juscelino Kubitschek) por um grupo de alunos/estagiários da disciplina Prática
de Ensino 3, do Curso de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Uberlândia,
ministrada pela professora Lilia Neves Gonçalves. Um trabalho que tem como foco a prática
musical através da percussão em conjunto.
A proposta foi apresentada pelo estagiário José Aparecido da Silva Costa, que estudou
na Escola JK quando criança, no segundo semestre de 2007, mas a partir do primeiro semestre
de 2008 passou a ser um projeto de outros alunos/estagiários percussionistas. Se no início
tinha-se como objetivo proporcionar uma vivência musical através do contato com
instrumentos de percussão construídos a partir de materiais alternativos, no primeiro semestre
de 2008, a Escola JK adquiriu cerca de 30 instrumentos de percussão, além de dois violões.
Diante da disponibilidade desses instrumentos as aulas passaram a ser elaboradas utilizando
esses instrumentos, inclusive, os violões.

2 - Referencial de teórico
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O ensino da percussão é, sem dúvida, uma importante prática musical que pode ser
desenvolvida na escola. Envolvendo muitas habilidades e espírito de grupo, a prática de tocar
em conjunto consiste em uma forma de aprendizagem bastante profícua na escola.
Tendo como base a organização e os princípios do ensino coletivo do instrumento, a
organização e a preparação da performance musical, desse tipo de prática instrumental
coletiva, possibilita um processo de interação social que exerce um papel bastante importante
no processo de aprendizagem musical. Envolve um “aprendizado colaborativo” entre
“elementos de um grupo, que se motivam, se orientam, se verificam e se avaliam,
mutuamente” (MORAES, 1997, p. 71).
As aulas partem do princípio da música como sendo uma prática social construída
nas/pelas relações estabelecidas pelas crianças com a música nos seus grupos sociais
(SOUZA, 2004). Nesse sentido, consideramos a música “como uma comunicação simbólica e
afetiva, e portanto social” o que, geralmente, “desencadeia a convicção de que nossos alunos
podem expor, assumir suas experiências musicais e que nós podemos dialogar com elas”
(SOUZA, 2004, p. 9). As teorias do cotidiano dão subsídios para o entendimento das relações
sociomusicais estabelecidas no dia-a-dia das atividades pedagógico-musicais.
Acredita-se que em suas relações no mundo que as cerca as crianças adquirem
conhecimentos musicais. Conhecimentos musicais que vêm à tona em atividades musicais
rítmicas, como, por exemplo: na execução de instrumentos de percussão ou no movimento
corporal; melódicas ao entoar canções do repertório que lhes agrada; além de habilidades
envolvendo a aprendizagem dos instrumentos em vários locais e através de muitos meios.
Diante das muitas formas de contato e de vivências com a música no seu cotidiano as crianças
vão construindo seus conhecimentos e habilidades musicais.
Quando pensamos em cotidiano pensamos em “educação musical cotidiana”.
Educação que é construída a partir do “universo íntimo” de cada pessoa, nas relações
microssociais na família, com os colegas, com as mídias (livros, tv, internet, games, etc).
Segundo Souza (2000), o cotidiano

é visto como um lugar social de processos de crenças, de achar sentido comunicativo


e interativo, nos quais os participantes da sociedade constroem suas identidades
sociais e em cujas molduras se estabelece um entendimento sobre as normas sociais,
realizam-se as interações sociais e se reconhecem processos intersubjetivos como sua
parte essencial (SOUZA, 2000, p. 28).

Nesse sentido, segundo Souza (2000), a cotidianidade consiste “em uma categoria de
orientação didática para os professores” (p. 27), que é para nós, enquanto, professores de
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música, a direção teórica que faz com que estejamos atentos não só aos universos musicais
vividos pelos alunos, mas faça desses universos o sentido de orientação da prática
pedagógico-musical.

3 – O projeto “A prática da percussão em conjunto na Escola JK, de Uberlândia-MG”

3.1 – Quem são os alunos?


Participam desse projeto, que tem o foco, prioritariamente, na prática da percussão em
conjunto, 25 crianças com idade entre 11 a 15 anos. A Escola JK, localizada no Bairro
Aclimação, em Uberlândia-MG, está inserida na proposta de escola integral do governo
estadual de Minas Gerais.
Todas essas crianças que fazem parte desse projeto de escola integral foram reunidas
nessa turma por terem problemas de aprendizado e, em alguns casos, de comportamento
também. É apenas uma turma, na qual, no contraturno da escola, as crianças têm aulas de
reforço escolar, música, educação física, dança, capoeira.
O corpo diretor da escola considera a aula de música, assim como as demais
atividades, importantes para se trabalhar a autoconfiança, o espírito de cooperação e de
equipe, além de outros1. A escola depois de observar o trabalho realizado, aos poucos passou
a investir na compra de instrumentos de percussão que passaram a fazer parte das aulas.

3.2 – Etapas do projeto

3.2.1 - O primeiro momento do projeto


Como foi mencionado o referido projeto iniciou-se no segundo semestre de 2007.
Como não havia instrumentos de percussão ditos convencionais, optou-se pela construção de
alguns instrumentos de percussão como: chocalhos com latinhas, tambores com latas de óleo,
caixas com calota de caminhão e latão de alumínio. Com isso começamos a tocar um ritmo
‘parente’ do axé que eles tanto gostavam.
Inicialmente, foi um desafio realizar o trabalho com o grupo de crianças. Era
importante, antes de tudo, pensar em um trabalho que promovesse o diálogo entre os
participantes. Diálogo que viesse a diminuir a violência e as brigas na sala de aula.

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São afirmações da diretora e supervisora durante as reuniões para discussão do andamento do projeto dentro da
escola.
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Durante o planejamento das aulas, as discussões apontaram para a necessidade de


haver um diálogo entre os estagiários e as crianças. Um diálogo que ultrapassasse a barreira
da relação professor e aluno e que fosse estabelecida uma parceria entre os estagiários e as
crianças. Essa primeira proposta teve efeito imediato, já que logo percebemos a diferença no
modo como elas nos tratavam. Aos poucos começaram a perceber o cuidado necessário com
os instrumentos e, inclusive, ajudavam a guardá-los.

3.2.2 - O segundo momento


Diante dos resultados e da aceitação tanto dos alunos quanto da escola, o grupo
resolveu persistir na idéia da percussão em conjunto no primeiro semestre de 2008. O
investimento da escola na compra de instrumentos, como tambores, timbal, caixas, ganzás,
tamborins, pandeiros, violões e cavaquinho possibilitou um trabalho com instrumentos
convencionais.
A aquisição desses instrumentos fez com que fôssemos percebendo as habilidades dos
alunos também de cantar. Isso foi uma descoberta, o que de certa forma mudou um pouco os
rumos do trabalho, pois, além da proposta da execução dos instrumentos de percussão em
conjunto, também passamos a trabalhar as letras e melodias das canções músicas do
repertório. Houve, sem dúvida, um enriquecimento do trabalho do grupo, já que alguns alunos
gostam muito de cantar, além de serem afinados e com timbres vocais belíssimos.
Nesse momento, o desafio do projeto foi continuar a organizar estratégias
possibilitassem a interação e a convivência do grupo, já que problemas como falta de respeito
e diálogo entre os participantes deixaram de ser visíveis. A questão agora era apresentar
estratégias de ordem muito mais musical do que pessoal, como por exemplo, demonstrar a
importância de todos os instrumentos e executantes dentro do conjunto.
Essa não é uma tarefa fácil e que permeia qualquer prática de conjunto em música.
Tarefa que é amplamente amparada pela acuidade auditiva e performática. Isto é, em um
grupo musical é importante que cada componente ouça o som do outro e interaja com esse
som. No entanto, além das habilidades auditivas necessárias, o domínio técnico do
instrumento também é essencial, já que segurar as baquetas dos instrumentos de percussão,
entender as formas de equilíbrio, de segurar cada instrumento e de mudar os acordes nos
violões, interfere e muito no processo de execução instrumental.
Houve, sem dúvida, da parte da escola e das crianças um compromisso muito
interessante com a aula de música ministrada. Nesses, quatro meses, do primeiro de semestre
de 2008, foi possível tocar duas canções com o grupo. Duas crianças, que nunca tinham
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tocado pandeiro, terminaram o semestre com a técnica e qualidade sonora invejável. Isso
porque durante todas as semanas, eles procuraram a direção da escola para pedir o
instrumento para estudar em casa, comprometendo-se em cuidar do instrumento e devolvê-los
no dia seguinte. Assim, conseguimos trabalhar duas músicas, com todos os participantes
tocando os instrumentos e cantando.

3.2.3 - O terceiro momento


A terceira fase do projeto encontra-se, nesse momento, em andamento. Devido a
várias questões envolvendo as crianças que faziam parte do projeto, sentimos a necessidade
de trabalhar também outra proposta de prática musical, que é a composição.
A composição poderá permitir que as crianças vivenciem um outro tipo de produção
musical, já que a composição é vista como uma prática de poucos indivíduos. Mas, é
importante mencionar que essas composições também serão executadas nos instrumentos de
percussão por todo o grupo de crianças que participam do projeto.

3.3 - As aulas de música


As aulas de músicas acontecem todas as semanas e têm duração de mais ou menos
uma hora e meia. São aulas ministradas pelo grupo de estagiários com o acompanhamento da
professora orientadora do estágio.
O local dos ensaios constituiu-se em um elemento importantíssimo para a
aprendizagem. Descobrimos que o espaço físico interfere diretamente na pré-disposição em
aprender, isto é, quanto mais incômoda for a sala de aula mais difícil fica de manter a
concentração e disposição do grupo. Por isso, aos poucos fomos conseguindo outros espaços
de ensaio dentro da escola a qual, por sua vez, se manteve sempre disponível em buscar
soluções para que nossas aulas fossem realizadas da melhor maneira possível.
No primeiro semestre do projeto, houve uma iniciativa no sentido para que as crianças
conhecessem os instrumentos de percussão, bem como foi realizada uma sondagem dos
estilos musicais que cada um gostava de escutar. Pensando em trabalhar com músicas do
cotidiano deles, defrontamo-nos com ritmos como axé, sertanejo, forró e hip hop, dentre
outros. Dentre todos os participantes, apenas quatro tinham experiência com a execução de
algum instrumento musical.
O ritmo olodum fez parte dos planejamentos na primeira etapa. Tendo em vista toda a
preparação e habilidades musicais necessárias para a prática musical em conjunto, pode-se
dizer que tivemos avanços significativos em questões fundamentais quando falamos de
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educação. Percebemos que ali, o objetivo não poderia ser simplesmente tocar os instrumentos
de percussão. O ensino de música precisaria vir acompanhado de um processo educacional
amplo que considere a realidade, as limitações, os desejos e ansiedades de cada um.
As aulas são organizadas e trabalhadas a partir dos naipes da percussão que, são
divididos de acordo com o ritmo ou música do repertório. Cada estagiário trabalha com um
grupo em um momento da aula e, posteriormente, os naipes se juntam para execução da obra,
sendo que o grupo que toca violão é responsável pelo acompanhamento harmônico e
melódico das canções.
As crianças executam instrumentos de percussão ditos convencionais como: pandeiros,
triângulos, caixas, bumbos, timbas. No primeiro de semestre de 2008, foram trabalhados dois
ritmos: baião na canção música Asa Branca, de Luiz Gonzaga e o ritmo axé com a música
Berimbau Metalizado interpretada por Ivete Sangalo Considera-se para essas aulas a “música
do aluno” como o ponto de partida da aprendizagem musical podendo ser a “porta de entrada”
para os outros tipos de música. Mas, nesse momento, trabalhar com o imaginário performático
e musical desses alunos é uma meta.
Diante disso, nesse segundo semestre de 2008, estamos trabalhando com a elaboração
de composições musicais. Até esse momento os alunos têm se dedicado a compor os
seguintes gêneros: música sertaneja, funk, rap, pagode. Essa experiência também tem sido
muito rica. Um passo, posterior, é organizar os arranjos dessas obras para que as crianças
possam executar nos instrumentos suas próprias composições.

4 – Considerações finais
O projeto que tem como foco a prática da percussão em conjunto na Escola JK
possibilitou que todas as crianças cantassem e tocassem um instrumento, estando sempre
prontas a participarem das atividades propostas. Através da música, foi possível enxergar
várias facetas dessas crianças rotuladas como problemáticas. Elas se mostraram extremamente
afetivas e pré-dispostas a realizar várias atividades em prol de um bem comum: organizar um
conjunto de percussão.
Além dos muitos desafios que apareceram durante as aulas, experimentar e
experienciar a música competia com: as dificuldades das crianças de realizar um trabalho de
prática musical em conjunto, além de, muitas vezes, com os arroubos de violência entre elas.
No entanto, diante de uma postura de diálogo entre os estagiários e as crianças houve, aos
poucos, um processo de estabelecimento de confiança mútua entre o grupo. Isso possibilitou
um processo de interação bastante rica entre crianças, estagiários e e/ou direção da escola.
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As crianças se sentiram prestigiadas já que sempre que se propunha atividades que


envolviam tanto o cantar quanto o tocar os instrumentos, a escola parava para ouvir. Os
profissionais se emocionavam ao verem as crianças cantando, tocando e se divertindo ao fazer
música, longe dos problemas que as levaram a fazer parte do período integral. As atividades
musicais nos mostraram que essas crianças, rotuladas como problemáticas com uma aula de
música, que tenha como foco o seu cotidiano musical, podem se mostrar extremamente
afetivas e pré-dispostas a realizar as várias atividades musicais propostas.
O que está sendo feito na Escola JK é um pouco das inúmeras possibilidades que a arte
e, nesse caso específico, a música possibilita quando se focaliza a sensibilidade e a interação
entre as pessoas. Não sabemos o porquê as crianças agem de uma forma melhor quando estão
concentradas na música, só sabemos que nesse momento elas são diferentes, elas são crianças
alegres e muito capazes.
Nossa experiência, como orientadora do estágio e, enquanto, estagiários também não
pode deixar de ser salientada. O envolvimento com a prática pedagógico-musical que
ultrapassa os limites da disciplina Prática de Ensino, que não é só musical, mas, inclusive,
também humano e social.
Em relatórios para refletir sobre essa experiência, eu, Mirtes (2008), afirmo que

aprendi a ser mais flexível, a olhar mais pelo lado deles do que pelo lado da música.
Explicando-me melhor, sempre me preocupei se conseguiríamos formar um repertório
com o meu padrão estético de música. Meu questionamento era se o grupo de
percussão conseguiria tocar uma música atentando-se para questões musicais como
afinação, dinâmica, onde um teria que escutar o outro etc. Aos poucos fui me
desapegando dessa idéia. Percebi que o contato com o instrumento já fazia grande
diferença e que naquele momento, o padrão estético deveria mudar, já que também se
estava fazendo música daquela forma (Relatórios de estágio, 2008).

Estar nessa escola para eu, José Aparecido (2008), considero uma forma de “retribuir
àquela escola um pouquinho do que antes recebi ali, carinho, atenção, respeito e quem sabe
até ensinar, assim como anos atrás ali fui ensinado” (Relatórios de estágio).

5 - Referências

MORAES, Abel. Ensino instrumental em grupo. Uma introdução. Revista Música Hoje,
Belo Horizonte, v. 4, p. 70-78. 1997.

SOUZA, Jusamara (org). Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: Programa de Pós-
Graduação em Música, 2000.

SOUZA, Jusamara. Educação musical e práticas sociais. Revista da Abem, n. 10, p. 7-11,
mar. 2004.

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