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especial ética em tempos de crise

ÉTICA NA PESQUISA
CIENTÍFICA
A sociedade é composta por diferentes tipos de conhe-

cimento, entretanto o científico é um dos mais relevan-

tes em nosso dia a dia. Assim, ética e moral devem prio-

rizar os interesses sociais, e não individuais

peter kevin spink, professor da FGV-EAESP, peter.spink@fgv.br

A
tarefa primária da pesquisa produto da pesquisa empírica, é, certa-
científica é a produção do mente, o mais barulhento.
conhecimento. Seja ele de
inspiração teórica, tecnológi- Ética nas decisões
ca ou prática, o conhecimento produzi- Apesar das diferenças, todas as
do pela ciência não é o único que utili- maneiras de se produzir conhecimento
zamos. Vivemos sob uma vasta ecolo- têm um único fim prático: contribuir
gia de maneiras de produzir e fazer para nosso dia a dia. Em outras palavras,
circular saberes, incluindo o óbvio (que sua finalidade é social. Quando investi-
não é óbvio) senso comum, os saberes mos nossos esforços para avançar o
tradicionais de múltiplas fontes e cultu- conhecimento, fazemos porque algo
ras, e os saberes práticos, com sua chamou a nossa atenção, seja um pro-
extensa biblioteca. Entretanto, quando blema, um desafio ou alguma coisa que
pensamos sobre nosso cotidiano de desejamos aperfeiçoar. Não é a realidade
equipamentos eletrônicos, redes sem lá fora que determina o que precisamos
fio, leite pasteurizado, remédios, moto- saber, mas nós mesmos. E, se decidimos
res de combustão interna, fibras artifi- o que é um problema, também decidi-
ciais e sacolinhas plásticas, temos que mos o que não é. Portanto, ao embarcar
aceitar que o conhecimento científico, em um empreendimento científico,

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assumimos simultaneamente questões
éticas (como pensamos que a vida deve
ser vivida) e morais (o que entendemos
como bem e mal, justo e injusto). A
expressão “simultânea” refere-se não
somente ao momento temporal, mas à
proposta filosófica de que ética e moral
se constituem mutuamente, na medida
em que a busca por compreender o que
é viver nos leva ao terreno prático de
como tratamos o outro, e o debate entre
o justo e o injusto leva-nos à reflexão
sobre justiça como tal. lo XIX, os tormentos morais que Charles
Darwin enfrentava, por exemplo, habi-
Ética na pesquisa taram um plano totalmente diferente
Quando me refiro a ética na pesquisa das suas coleções de espécies e suas
car
científica hoje, em plena modernidade observações microscópicas. Presumiu-se
Ao embar
tardia, a frase parece ter sentido óbvio. que a discussão dos fatos era uma ativi-
b a lh o
Porém, essa obviedade é bastante recen-
te. A ideia de ética acompanha o mundo
dade séria entre pessoas sérias.
Mesmo para as gerações recentes de
em um tra
c ie n t íf ic o ,
ocidental, pelo menos, desde a discus- pesquisadores, atentos aos debates
são sobre valores sociais nas cidades- entre filósofos e historiadores das
s
a s s u m im o
estados da confederação grega, que ser- ciências sobre o que é ciência, a suges-
viu de agenda para os questionamentos tão da necessidade de discutir a ética
de Sócrates. Já o mesmo não é válido na pesquisa provavelmente produziria é t ic a s
para a combinação do termo com o uma reação similar. A ética da ativida- questões
campo científico, que soaria estranha de científica era presumida como
para os fundadores da Sociedade Real natural porque, tal como os demais e m o r a is
mente
em Londres, no ano de 1661, cujo lema saberes (práticos, tecnológicos, sociais
a
nullius in verba expressou a determina- ou artesanais), era feita, em grande s im u lt a n e
ção de verificar proposições científicas parte, por pessoas honestas e sinceras
com base no apelo aos fatos que, para os que gostavam do que faziam, que acei-
seguidores de Francis Bacon, eram tavam os limites da negociação da
externos e pertencentes à natureza. verdade e reagiam contra proposições
Mesmo em plena modernidade do sécu- que consideravam insustentáveis.

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especial ética em tempos de crise

Ética na pesquisa científica

É essa prática de lidar com ques- Saúde, que trata da ética em pesquisa Desafios
tões éticas e morais como parte do em seres humanos. Há códigos e reco- O primeiro desafio decorre da cres-
cotidiano que está sendo questiona- mendações em outros países que já cente subordinação de certas áreas cien-
da hoje, como atestam os diversos ensaiam iniciativas em âmbito regional tíficas a poderosos grupos econômicos
códigos de conduta para pesquisa e (por exemplo, The European Code of privados que têm os meios para direcio-
publicação científica produzidos Conduct for Research Integrity, produ- nar atividades e criar exclusividade. Os
nos últimos anos. Somente em zido pela European Science estímulos econômicos e a pressão por
2011, no Brasil, tivemos o Código Foundation). Ao ler esses e outros produtos impactam de diferentes manei-
de Boas Práticas Científicas da documentos, parece que, de maneiras ras na produção de conhecimento.
Fundação de Amparo à Pesquisa do distintas, pesquisadores, gestores, edi- Biopirataria, uso de populações vulnerá-
Estado de São Paulo (Fapesp), o tores, usuários e financiadores estão veis para ensaios clínicos, reformatação
relatório e recomendações da chegando à conclusão de que a caótica criativa (tweaking) de resultados para
Comissão de Integridade de Pesquisa cultura democrática e coletiva que sus- facilitar a corrida do laboratório para o
do Conselho Nacional de Pesquisa tentava as diferentes comunidades mercado e o abuso da linguagem cientí-
Científica (CNPq) e a consulta científicas e garantia a circulação do fica para apoiar propostas de base ideo-
pública sobre a revisão da Resolução saber está com sérias dificuldades de lógica, são todos fatores propulsionado-
196/1996 do Conselho Nacional de enfrentar, pelo menos, três desafios. res de uma preocupação crescente,
expressa em questões éticas sobre como
fazemos as ciências.
O segundo desafio vem, em parte,
do impacto do primeiro na prática da
comunicação científica. Aqui, o desa-
fio maior é a dificuldade em lidar, de

u is a r e f e re-se, maneira séria e responsável, com as


pesq
A é t ic a n a pressões criadas pelos próprios pes-

n t e , à u t il id a d e d o quisadores na busca por recursos,


lm e
p r im o r d ia
posições acadêmicas, e pelas universi-
a
ado e par
dades, preocupadas com suas coloca-
in v e s t ig
conteúdo
ções em um cenário totalmente novo

ir e c io n a d o
de avaliação nacional e internacional.
le s e r á d A preocupação com a produtividade
quem e acadêmica é, em si, salutar, afinal
somos todos, de uma maneira ou
outra, usuários de fundos ou benefí-

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cios públicos. A dificuldade é enten- palavras: sobre o que e até onde as Na sua longa e difícil luta para ser
der o que a produtividade representa ciências podem ou devem opinar? considerada um agir válido entre as
diante uma tendência quase hegemô- artes do conhecer, a ciência, com muita
nica de medi-la pela quantidade de Relevância da ética na pesquisa razão, sempre argumentou sobre a
publicações em revistas e editoras de Podemos questionar se essa nova importância da liberdade de cada inves-
excelência, que, por sua vez, também cultura de códigos de ética será capaz tigador seguir seu próprio nariz. Não
competem entre si em termos de fator de substituir a prática anterior. sou o primeiro e, certamente, não serei
de impacto. A quase inevitável conse- Certamente, a experiência da humani- o último a apontar que – de maneira
quência tem sido um aumento de dade no campo do Direito sugere que o curiosa – esse princípio é frequente-
publicações compartilhadas entre convívio entre códigos e a dinâmica da mente suspenso em tempos de guerra
múltiplos autores, programas de pes- vida cotidiana nunca foi tranquilo e que (quando as ciências se envolvem ativa-
quisa cujos resultados são fatiados em as tentativas de enquadrar o bom senso mente nas questões de defesa nacional)
múltiplos artigos e exemplos crescen- permanecem sempre parciais. A ética e e raramente em tempos de paz. Quando
tes de plágio e autoplágio. Aqui, a a moral são dinâmicas, partes fundado- acontece, como na década de 1980,
questão ética é sobre como relatar ou ras e componentes ativos da vida social. com a mobilização em torno do HIV/
comunicar as ciências. Nesse contexto, é importante notar que AIDS, o resultado é uma contribuição
Em terceiro lugar, e não menos as recomendações e exigências presen- significativa à solidariedade humana e
importante, são as pressões, para ser tes nesses documentos são produtos de uma demonstração de que, sim, é pos-
mais transparente, sobre as situações diferentes versões e posições sobre ciên- sível articular a competência e o prota-
em que a expressão “a ciência nos cia. São, consequentemente, polissêmi- gonismo das ciências e dos demais
mostra que...” é utilizada, seja direta- cos em seus sentidos. A seu favor, ao saberes de maneira democrática para
mente – nas páginas de ciência nos apontar para práticas desejadas e inde- assumir a responsabilidade moral de
jornais diários – ou indiretamente - sejadas, levam a discussão sobre os atender os interesses coletivos.
pelo uso da expressão “ponto de vista saberes para a praça pública. Na direção Em suma, a ética na pesquisa cientí-
técnico”. Somos, assim, induzidos a contrária, precisamos reconhecer que fica não se reduz ao como fazer, como
aceitar que a ciência, como modo de seguir regras éticas não necessariamente comunicar e aos limites do que dizer.
produzir conhecimento, deve ocupar implica viver – no sentido performático Antes de mais nada, refere-se ao que foi
um lugar privilegiado no direciona- – de modo ético e que talvez a ciência investigado e para quem – eis a “ques-
mento de decisões e recursos públi- seja séria demais para deixar a determi- tão” que precisamos aprender a desem-
cos. Aqui, a questão ética é sobre a nação dos seus rumos e práticas nas brulhar. Se não, corremos o risco de ter
responsabilidade que as comunidades mãos dos cientistas. É aqui que precisa- uma ciência corretíssima – com proce-
científicas têm para com a sociedade mos nos perguntar sobre um quarto dimentos auditados, códigos de publi-
da qual fazem parte, em termos dos desafio, refiro-me à questão sobre: o cação e manuais de melhores práticas –,
limites das suas certezas. Em outras que investigar? mas moralmente irresponsável. ■

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