Métodos Fronteiriços
Poiesis Editora
Marília
2016
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Antônio R. ESTEVES1
A modo de Overture
A grandiosidade da Amazônia me faz recorrer a outras vozes para
poder achegar a seu universo. Como modo de abertura incorpo-
ro o discurso de Todorov, da clássica obra que trata da perple-
xidade do europeu, e sua reação, ao ter diante de si a diversa e
monumental realidade americana. Faço minha a primeira pessoa
discursiva do pensador francês nascido na Bulgária:
Quero falar da descoberta que o eu faz do outro. O assunto é imenso.
Mal acabamos de formulá-lo em linhas gerais já o vemos subdividir-
se em categorias e direções múltiplas e infinitas. Pode-se descobrir
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[...] Hoje não há mais centro. [...]. Hoje o leitor é solicitado a comple-
mentá-la [a obra de arte], a participar dela, a entrar por suas aberturas
com ou sem fundo, atividade com que também o autor se identifica.
(COVIZZI, 1978, p. 31)
[...] A tendência irrealista ou de realismo mágico na literatura oci-
dental de nosso século corrobora a dúvida sobre a realidade de tudo,
encarando-se como realidade a padronização que se convencionou
chamar de realidade. (COVIZZI, 1978, p. 42, grifo meu)
[...] E essa inadequação [da realidade perceptual e sua representação
artística] é tanto mais perturbadora quanto se a reconhece não como
simples variante dentro de uma cultura, mas como oposição radical
(estrutural) à forma do pensamento e à práxis do homo occidentalis: a
mimese. (COVIZZI, 1978, p.46)
Apesar de longa, vale a pena repetir sua definição de insólito, visível a
partir da constatação da mimese em crise:
A aludida constante, que batizamos de insólito, no sentido do não-a-
creditável, incrível, desusado, contém manifestações congêneres que
englobamos como tal:
-ilógico – contrário à lógica; não-real; absurdo.
-mágico – maravilhoso; extraordinário; encantador.
-fantástico – que apenas existe na imaginação; simulado; aparente; fic-
tício; irreal.
-absurdo – que é contra o senso, a razão; disparate; despropósito.
-misterioso – que não nos é dado a conhecer completamente; enig-
mático.
-sobrenatural – fora do natural ou comum; fora das leis naturais.
-irreal – que não existe; imaginário.
-supra-real – o que não é apreendido pelos sentidos; que só existe ide-
almente; irrealidade; fantasia. (COVIZZI, 1978, p.36)
Dispenso, por reiterativa, qualquer outra definição do insólito.
Nessa categoria incluo outras formas de ver o mundo, como o
fantástico, o mágico, o realismo mágico, o real maravilhoso, te-
orizadas e discutidas à exaustão. De alguma forma representam
modos de reiterar a crise da mimese, que é mais antiga do que
desejaria o pensamento positivista do século XIX. Elas estão pre-
sentes, com mais constância, no pensamento do século XX, es-
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Crônica e história
Não pretendo reiterar a forma como os europeus, conquistadores
ou viajantes viram esse Novo Mundo e os “outros” que eram os
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História e memória
Entre maio e agosto de 1927, Mário de Andrade, acompanha-
do de Olívia Guedes Pendeado (1872-1934), a “rainha do café”,
e duas jovens da elite paulista, realiza uma “viagem etnográfica”
pelas regiões norte e nordeste do país. Durante a viagem o escri-
tor faz uma espécie de diário, além de tomar notas para futuras
crônicas jornalísticas. Durante certo tempo dedica-se ao projeto
de compor um livro de viagens que deixou incompleto e que foi
organizado posteriormente por Telê Porto Ancona Lopez, sendo
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Romance e história
Desde seu primeiro romance, Galvez, imperador do Acre (1976),
o amazonense Márcio Souza vem se dedicando aos delírios da
tentativa de ocupação da região amazônica pelo capital interna-
cional. Em sua primeira investida, ele recria, em um clima paró-
dico e onírico, a trajetória amazônica do aventureiro espanhol e
o episódio, que parece mais fantasia que história, da fundação
do Estado Independente do Acre, em 1899, em pleno período
da exploração do ouro negro amazônico. Encontrada a chave do
sucesso, uma vez que a obra foi traduzida para várias línguas e
publicada em mais de vinte países, Souza não abandona mais o
gênero. (ESTEVES, 2010, p. 215)
Quatro anos depois publica Mad Maria (1980), romance sobre
a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, cuja ação se
concentra em 1911. Repetindo o velho chavão, pode-se dizer que
se trata da história de uma estrada que vai de lugar algum a parte
nenhuma. Os vários focos fazem cruzar vários tempos e espa-
ços, tratando de mostrar, de modo debochado, a insensatez que
a cultura ocidental pode encenar na Amazônia. Em sua tarefa de
proporcionar uma releitura crítica da história, o romance dialoga
com textos de viajantes, entre outros. Um dos textos com os quais
dialoga são os diários do escritor Mario de Andrade, um dos visi-
tantes mais ilustres da Ferrovia Madeira Mamoré, quando visitou
a região em 1927, conforme comentamos no item anterior. Vale a
pena citar o fragmento completo, retomado pelo romance:
No dia 11 de julho de 1927, um poeta vestindo terno escuro, chapéu,
gravata, camisa de punhos e calças brancas, sentou-se sobre um trilho
da Madeira-Mamoré e sorriu. Na foto, o poeta sorri. O poeta sorri
porque tem uma razão muito forte para fazer isto. É um homem feliz.
[...] Mas o poeta sorri porque duas borboletas amarelas entraram no
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A voz local
Álvaro [Botelho] Maia (1893-1969), político amazonense (Hu-
maitá, seringal “Goiabal”), foi secretário da superintendência do
território federal de Guaporé (Porto Velho) e várias vezes inter-
ventor e/ou governador do Amazonas no período da decadência
da borracha. Também se dedicou às letras, como faziam os polí-
ticos de seu tempo. Deixou várias obras, exemplos de um gêne-
ro híbrido, onde se cruzam a alta cultura e a cultura popular, a
oralidade e a escrita, a narrativa, a crônica e os relatos populares.
Entre elas, Gente dos seringais (1956) e Beiradão (1958).
O próprio escritor informa que as narrativas que compõem Gente
dos seringais têm como cenário a região do médio rio Madeira,
na confrontação com os rios Maici, Machado e Jamari, à margem
direita, e com rios menores como o Puruzinho e o Mucuim, à
margem esquerda. É um espaço recorrente na obra do escritor.
(LIMA, s.d.)
Nesse volume há três conjuntos de textos (contos/crônicas/rela-
tos) dedicados ao insólito, na vertente mágico/fantástica dos rela-
tos populares das ribeiras do Madeira:
1- Lendário ameríndio (09 textos). Vale a pena deter-se, entre ou-
tros, a “Eutanásia ameríndia”, relato dramático sobre o suicídio
coletivo praticado pelos parintintin, etnia praticamente em ex-
tinção, que ocupa duas áreas indígenas da região, diante da cons-
cientização da inutilidade da resistência ante o avanço do branco
na época da borracha. Márcio Souza retoma este tema em Mad
Maria (1980).
2- Lendário bárbaro (09 textos). Aborda a violência, em geral.
Vale a pena retomar “Vingança de escravos”, sobre a resistência à
escravidão, tema pouco tratado na Amazônia.
3- Lendário místico (12 textos). Aborda os elementos mágicos tra-
dicionais da região, como a cobra-grande, o boto, entre outros.
Praticamente esquecido, Álvaro Maia carece ser relido. Sua obra,
apesar de datada, com pesada verborragia parnasiana, prenhe de
certo saudosismo, por isso mesmo pode suscitar interessantes re-
leituras. Vale a pena revisitar sua visão peculiar da fronteira: “A
terra é uma, pertence a todos; os nacionalistas estéreis erguem
marcos de pedra, mas não podem impedir o abraço dos que, se-
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Referências bibliográficas
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Alexandre PACHECO1
Trataremos, neste texto, de uma breve exposição da crítica literá-
ria de Francisco Foot Hardman e Allison Leão sobre a literatura
amazônica de Euclides da Cunha e Alberto Rangel no início do
século XX. Neste sentido, nosso objetivo será demonstrar como
estes críticos compreenderam certos traços ficcionais da narrati-
va dos autores, focalizando quando se apropriaram da natureza
amazônica.
Começaremos com Francisco Foot Hardman.
Segundo Francisco Foot Hardman a ideia da Amazônia vista pelo
imaginário das forças da civilização se fez presente nas visões de
vários cientistas, viajantes, religiosos, historiadores e literatos que
procuraram descrevê-la. Neste sentido, percebemos os indícios
desse imaginário na descrição que esse autor realiza em seu livro
A vingança da Hileia sobre a literatura constituída na região no
final do século XIX e início do século XX. Já que a Amazônia
surgiria a partir dessa produção literária como voragem da Histó-
ria, dos impasses contidos em suas representações e que em con-
junto a retratariam como o produto de uma gênese incompleta.
(HARDMAN, 2009, p. 25)
Foot Hardman nos dá exemplos de autores como Franklin Távora
1 Doutor em sociologia e professor do Departamento de História da Univer-
sidade Federal de Rondônia/UNIR - Campus Porto Velho.
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Por tudo que já foi dito, podemos perceber que o Euclides de Foot
Hardman, em A Vingança da Hileia, constituir-se-ia enquanto
um personagem tocado por um estranhamento e assombrado
pela tarefa de ter de descortinar tamanha região representada
pela Amazônia. Região, enfim, que tem na incompletude de sua
natureza e na incompletude da própria relação do elemento hu-
mano com ela, a sua característica histórica fundamental.
Ao contrário do escritor destemido Leandro Tocantins nas pá-
ginas de Euclides da Cunha e Paraíso Perdido, Francisco Foot
Hardman em seu livro A Vingança da Hileia revela um Euclides
assombrado com os horrores que os efeitos da modernidade im-
puseram aos modos de vida de populações inteiras da Amazônia.
Sobretudo daquelas que estiveram sob o jugo da economia da
borracha.
De acordo com Foot Hardman a Amazônia diante de sua trágica
inserção à racionalidade do capitalismo nacional e internacional
não teria lugar para heróis, mas apenas para escritores interessa-
dos em revelar as tragédias e as destruições em um mundo que se
mostra difícil de ser apreendido, a partir de uma suposta unidade
de análise que possa virtualmente possuir. (HARDMAN, 2009, p.
25-26).
Neste sentido, a Amazônia surgiria como voragem da História,
ou seja, como o produto de um realismo naturalista que incor-
porou o “fundamento do lugar-comum” que sempre descreveu
a Amazônia como um território violento e bárbaro, incluindo a
literatura de Euclides. (HARDMAN, 2009, p. 25)
Perspectiva literária que pode ser vista no capítulo “Uma prosa
perdida: Euclides e a literatura da selva infinita”, de A vingança
da Hileia.
Neste capítulo Foot Hardman selecionou alguns trechos do ar-
tigo “Os caucheiros”, de À margem da história, para relatar o
assombro de Euclides diante da visão de um indígena doente e
que foi abandonado em uma tapera de uma antiga propriedade
senhorial produtora de borracha de caucho. Episódio ocorrido
quando o escritor fluminense subiu uma das barrancas do rio Pu-
rus ao seu encontro no rio Chambuiaco. 3
3 Cremos que esse encontro com o indígena em Chambuiaco ocorreu na
subida do rio Purus, pois é relatado por Leandro Tocantins em Euclides da
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Vejamos o relato:
Piro, amahuaca ou campa, não se lhe distingue a origem. Os próprios
traços da espécie humana, transmudava-lhos a aparência repulsiva:
um tronco desconforme, inchado pelo impaludismo, tomando-lhe a
figura toda, em pleno contraste com os braços finos e as pernas esmir-
radas e tolhiças como as de um feto monstruoso.
[...] Esta cousa indefinível que por analogia cruel sugerida pelas cir-
cunstâncias se nos figurava menos um homem que uma bola de cau-
cho ali jogada a esmo, esquecida pelos extratores – respondeu-nos às
perguntas num regougo quase extinto e numa língua de todo incom-
preensível. Por fim, com enorme esforço levantou um braço, estirou-
-o, lento, para a frente, como a indicar alguma coisa que houvesse
seguido para muito longe, para além de todos aqueles matos e rios; e
balbuciou, deixando-o cair pesadamente, como se tivesse erguido um
grande peso:“Amigos”. (CUNHA, 1909, p. 98-99 apud HARDMAN,
2009, p. 45-46)
Vemos nesse sentido, como a narratividade de Euclides incor-
porou a partir de seu estranhamento da natureza e do humano
em relação a ela certos recursos literários expressivos, como por
exemplo, quando comparou o homem abandonado a um feto
monstruoso ou a uma bola de caucho, produzindo a partir de
imagens mitológicas como estas, imagens apocalípticas da Ama-
zônia. Imagens apocalípticas que formam fios condutores para o
entendimento não só da obra amazônica de Euclides, mas tam-
bém de sua obra mais ampla, de acordo com Foot Hardman.
Veremos, agora, a análise de Allison Leão sobre Alberto Rangel.
No capítulo “Inferno verde: razão e delírio, técnica e assombro
na origem de uma tradição”, do livro Amazonas: natureza e ficção,
Allison Leão analisa a literatura de Alberto Rangel do livro Infer-
no Verde que foi publicado em 1908.
Semelhante ao caminho tomado por Foot Hardman, Allison
Leão se debruçou sobre a obra de Alberto Rangel no intuito de
perceber como ela teria se constituído dentro de uma tradição
literária, ou seja, “[...] dentro de uma tradição literária da repre-
sentação da natureza na ficção amazonense.” (LEÃO, 2011, p. 25)
Cunha e o Paraíso Perdido que Euclides da Cunha à frente da Comissão de
Reconhecimento do Alto Purus constantemente subia as barrancas para co-
nhecer as comunidades peruanas ao longo do rio.
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Referências bibliográficas:
CUNHA, E. À margem da História. São Paulo: Ed. Martin
Claret, 2006. 234 p.
HARDMAN, F. A vingança da Hileia: Euclides da Cunha, a
Amazônia e a literatura moderna. São Paulo: Editora UNESP,
2009. 375 p.
LEÃO, Allison. Amazonas: natureza e ficção. São Paulo: Anna-
blume; Manaus: FAPEAM, 2011.
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Introdução
Neste ensaio buscaremos demonstrar a persistência do discurso
conquistador2 encampado pelos intelectuais sobre as populações
autóctones da Amazônia. Para isso seguiremos um caminho line-
ar e nesta trajetória nos apropriamos basicamente da análise de
Beatriz Pastor (1992) sobre as narrativas de conquista da Améri-
ca em The Armature of Conquest. A seguir nos apropriamos das
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The central meaning of the term “to discover”, that is, to unveil or to
make known, does not describe the actions and conceptualizations of
Columbus, whose method of inquiry, informed by his need to iden-
tify the newly discovered lands with preexisting sources and models,
was a mixture of invention, misrepresentation, and concealment.
(Pastor, p. 10)5
Conforme a autora, a descoberta de Colombo poderia ser carac-
terizada como a invenção do novo mundo conforme as suas con-
tingências históricas. Produzindo uma visão extremamente dis-
torcida desta nova realidade, ele não a enxergava, em si, como ela
se apresentava, e sim, como ele a via. Até mesmo o conhecimento
e a língua dos nativos foram desprezados, principalmente quan-
do as informações fornecidas pelos autóctones vinham a conflitar
com a sua “interpretação” das novas terras.
Colombo chegara ao extremo do contrassenso, ao afirmar que
os próprios aborígenes não sabiam pronunciar os nomes dos lu-
gares que supunha ter encontrado, tampouco sequer pronunciar
corretamente suas próprias línguas. Um episódio citado por Pas-
tor ilustra muito bem suas distorções representativas. Colombo
desembarcou em uma ilha denominada pelos nativos de Sobo e
disse que era a mesma ilha de Sheba do Rei Salomão. Diante da
negativa ameríndia ele improvisou uma “aproximação” linguísti-
ca para que esta se encaixasse no roteiro que estava procurando:
“Upon disembarking, Columbus and his men ask the inhabitants
what the name of the island is, and the answer they are given is
Sobo. At this, says Cuneo, ‘the Admiral said that the word was
the same, but that the natives did not know how to pronounce it’
(Pastor, p. 35-6, g. a.)6.
Ainda conforme a análise de Pastor, além da negligência à pro-
núncia e conhecimento local ele procurava itens prioritários. Em
5 O sentido preciso do termo “descobrir”, isto é, revelar ou tornar conhecido,
não abarca as ações e conceitualizações de Colombo, qual seu método de
investigação, muito mais constituído por sua necessidade de identificar as
recentes terras descobertas a partir de fontes e modelos preexistentes, isto era
uma mistura de invenção, distorção e deformação. (tradução nossa)
6 Ao desembarcar, Columbus e seus homens perguntaram aos habitantes
qual era o nome da ilha, e eles deram a resposta que se tratava de Sobo. Nisto,
diz Cuneo “O Almirante disse se tratar da mesma palavra, mas os nativos
ameríndios não sabiam como pronunciá-la”. (tradução nossa)
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Todavia, não se pode deixar passar que seu olhar citadino e mo-
derno, percebia o entorno como uma matéria que seria deco-
dificada, controlada e explorada racionalmente. Essa vertigem
diante do “vazio” era basicamente a sensação de um explorador
que negava as populações tradicionais e este modo de vida não
caberia mais em seu mundo desencantado. Paradoxalmente ele
próprio se rende diante da imensidão que acredita ser impossível
de ser sintetizada pelas gigantescas proporções e grande diversi-
dade, porém sempre desconsidera os saberes locais que convivem
com a esfinge. Para as populações nativas não havia esfinge algu-
ma desafiando o seu modo caboclo de interagir com a floresta e
seus recursos.
De início a influência incidiu diretamente sobre o engenheiro Al-
berto Angel, amigo pessoal, ao nomear a sua coletânea de contos
no termo emblemático, “Inferno Verde”. Neste sentido, o paraíso
perdido descrito por Carvajal, Rojas e Acuña, mantido por La
Condamine e Humboldt se esvaía na pena de Euclides. Diante da
imensidão assustadora ele se diz incapaz de traduzir a região, e
esse pessimismo vai sendo estabelecido pouco a pouco e a região
passa a receber outras designações que reforçavam a ideia de in-
fernismo.
Nos anos 20 passou a ser “Sibéria Tropical” para onde a capital
federal enviava os rejeitados sociais, os amotinados da Revolta
da Chibata e outros incômodos para o governo federal. Nos anos
30 passa a se tratada como área insalubre para o desenvolvimen-
to racional e, portanto, deveria ser transformada por meio de
investimento na sanitarização dos portos e vilas, drenagem de
pântanos, criação de agrovilas para fixar o homem no campo,
pavimentação de vias públicas e construção de canais e estradas
ligando as cidades.
A demonização das populações nativas construída entre os sé-
culos XVII e XVIII retornava com toda a força, pois além das
endemias, do clima, da imensidão da hileia, da imensidão de suas
águas, somavam-se outros elementos inibidores da submissão da
natureza amazônica, como suas feras e os povos indígenas que
ocupavam as terras. Reforçava-se assim a tradição histórica na
legitimidade do massacre aos aborígenes, um dos fortes empeci-
lhos em vingar o Inferno Verde, na visão euclidiana.
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Considerações finais
Até mesmo na poética, no campo da representação, é negado ao
Outro ser ele mesmo. Ele só pode existir se for um elemento de
formação da identidade nacional, ou seja, deve deixar de existir
enquanto Outro, para ser incorporado à realidade brasileira. Pois
ao se atrair e se apaixonar pela princesa europeia assume a sua
necessidade de troca e fusão com essa cultura dominante que está
avançando sobre o seu mundo. A cultura europeia metaforizada
na filha da Luz pode ainda significar a salvação daquele elemento
tradicional resgatado de sua primitividade, pelo esclarecimento
trazido pela racionalidade.
Ao inverter os papéis de dominante e dominado nas relações de
gênero somente ocorreu o contrário, pois foram exterminados
os homens aborígenes e raptadas suas esposas e filhas. Esta seria
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Referências bibliográficas
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mapa, a fronteira.” in I Encontro de Cartografia Histórica. Pa-
rati, 2011. pp. 01-11.
CUNHA, Euclides da. À margem da História. São Paulo, Martin
12 “Obstante uma Amazônia não mítica, povoada por legiões de brasileiros
muito pobres e que guarda na cultura, na fisionomia e na intimidade com os
elementos da floresta, a memória viva do índio ancestral, hoje o quase índio
ou quase nada, o errante dos lugarejos encravados no íntimo da mata, em
margens sem registro em nenhuma carta, nas beiras de rios, igarapés; ontem
destribalizado com violência, deculturado, hoje o desgarrado, a pairar num
tempo sem calendas, a gente dos entrançados de verdes e águas, caudais do
superlativíssimo rio Amazonas. É esta Amazônia da escassez que convive
com o el dorado real, de fauna, flora, riqueza, cujas contas do inventário ja-
mais se fecharam.” Tupiassú (2005, p. 299)
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HUGO, Vitor. Desbravadores. Humaitá, Missão Salesiana, 1959.
Vol. I.
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Preâmbulo
Este pequeno artigo deriva de minha palestra ocorrida em 10 de
abril de 2015, no Teatro Banzeiro, em Porto Velho, durante a re-
alização do I Congresso métodos fronteiriços: objetos míticos, insó-
litos e imaginários, organizado pelos professores da Universidade
Federal de Rondônia. A mesa da qual fiz parte chamou-se Obje-
tos raros, objetos híbridos: o que há nas fronteiras? Fui instigado
pelos organizadores do evento a falar de um Acre insólito.
Desta forma, resolvi partir dos três aspectos realçados no nome
dado à mesa redonda para discutir algumas questões relaciona-
das ao Acre em períodos de tempo distintos. Parto do entendi-
mento de que esses três elementos, ou objetos, podem ser pensa-
dos transitando no terreno pouco seguro da indeterminação: eles
trazem, entre outras ideias, a de escassez, misturas (sejam elas
homogêneas e heterogêneas) e transitoriedade.
Algo que é raro se apresenta como pouco usual e difícil de ser
1 Professor Adjunto da Universidade Federal do Acre – UFAC. Doutor em
História pela UFPR. Atua nos cursos de graduação em História (bacharelado
e licenciatura) e no Programa de Pós Graduação em Letras: Linguagens e
Identidades da mesma instituição.
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O Acre insólito
Partindo da premissa de que existe um Acre insólito, como seria
expor essa insolitude do Acre sem cair no lugar comum do exó-
tico e do caricato? Não sei bem, confesso. Mas a tentativa inicial,
de desbravar um caminho não palmilhado é algo instigante para
o pesquisador e qualquer curioso diletante.
Começo falando de um Acre, que antes de ser Acre era uma re-
gião desconhecida pelo olhar do colonizador. Por isso a região foi
nomeada como “tierras no descubiertas” durante a maior parte
do século XIX em mapas diversos. Partindo desta perspectiva, se
compreendia que havia um Acre a-histórico, espaço anacrônico,
destituído de história, a margem do olhar colonizador.
Um Acre que na virada do século XIX para o XX, torna-se obje-
to de desejo da Bolívia com a pretensão de ocupar o território e
exercer sua pretensa soberania e desejado domínio. Contudo, a
república andina nunca exerceu ali de forma consistente e firme
qualquer uma das duas formas de controle. A soberania era só
legal, mas não real, em um território boliviano palmilhado por
visitantes não convidados de outras nacionalidades.
O domínio, do latim domus, poder sobre a casa, nunca foi efeti-
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Mapa 02: Acre litigioso, por Horacio E. Williams (1905). Fonte: Biblioteca
Nacional, Brasil. (bndigital.bn.br).
O Acre torna-se assim pretexto para o discurso do outro, que o
traduz e o mostra muitas vezes como a imagem invertida de si.
Há um Acre onde de forma recorrente se evidencia o aparente, o
folclorizado, o exótico, o amargo, o vazio, o mortífero, o distante,
a selva selvagem, entre outros epítetos de negatividade tão recor-
rentes ao longo do tempo. Esse é o Acre da colonização à gandaia
e do povoamento tumultuário, de acordo com Euclides da Cunha
em A Margem da História. Um Acre de macieza e aspereza que
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CHARGE 01: As três graças... FONTE: Revista O Malho, 1909, nº 380, p. 44.
Como bem expressa Anne McClintock (2010), na fantasia de des-
coberta do Novo Mundo e de ocupação de regiões considerada
inóspitas, essas áreas são tornadas femininas e tudo é “espacial-
mente exposto a exploração masculina” (p. 47). Ela conclui sua
análise dizendo: “figuras femininas eram plantadas como fetiches
nos pontos ambíguos de contatos, nas fronteiras e orifícios das
zonas disputadas” (ibidem).
É tão forte essa imagem que as terras inexploradas colonialmente
seriam chamadas de virgens, a mata é também dita virgem e a
natureza “espera” os seus exploradores desvirginadores que um
dia chegariam para fincar os alicerces “civilizatórios”. Chegam
com seus canhões reais ou metafóricos, para ocuparem o que é
narrado como vazio, selvagem e virginal. Há aí uma erotização
do espaço colonial, inseminado pela conquista discursiva, bélica,
política e econômica do “civilizado” para que este espaço possa
ser dominado e explorado de forma justificada pelo adventício.
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FOTOS 01 e 02:
Outdoor na fronteira entre Brasiléia (BR) e Cobija (BOL). FONTE: Acervo
de Francisco Bento, 2006.
Nesta imagem acima e na seguinte temos um outdoor na mar-
gem esquerda do rio Acre, na fronteira Brasil – Bolívia. Aí fica a
cidade boliviana de Cobija, capital do Departamento de Pando,
ao fundo temos o quartel da marinha boliviana. Isso por si só já
é muito insólito, a Bolívia, junto com mais seis países no mun-
do todo tem marinha, mas não tem mar. Mas voltando a placa e
sua mensagem: ela foi fincada ali em 2006, próximo à ponte que
divide as cidades de Brasiléia e de Cobija, e fazia referência ao
centenário da cidade boliviana na fronteira. Quem ali passava era
recepcionado pelo outdoor com a chamativa frase: “Bienvenidos
a Cobija, la perla del Acre”.
Esse Acre ali referenciado é o que: rio? estado? região? todos es-
ses elementos juntos? a indeterminação e a leitura multifacetada
parecem ser a marca da frase. É uma frase que remete ao orgulho
ou a perca dele, diante das feridas não cicatrizadas do passado
conflituoso com brasileiros? O polissêmico, ambivalente e inde-
finido Acre citado na placa, acaba sendo o vértice que aproxima
brasileiros e bolivianos nas fronteiras. Mas é uma aproximação
que não tem a capacidade de fusão ou homogeneidade. Pelo
contrário há nas fronteiras heterogeneidade, separação, conflitos
latentes e abertos, comércio e relações de trabalho desiguais, lín-
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Insólito IV – a megalomania
FONTE: http://www.valor.com.br/arquivo/1000052370/acre-quer-ser-a-fin-
landia-brasileira-diz-governador. Acessado em 15 de março de 2015.
Temos acima uma manchete onde o então governador do Acre,
Jorge Viana, declara em 2002 ao jornal Valor Econômico que o es-
tado do Acre almejava ser o equivalente a Finlândia nos quesitos
qualidade de vida e proteção ao meio ambiente. Na sua entrevista,
os acreanos e seu governo estariam irmanados rumo ao progres-
so material e consciência ambiental explorando racionalmente a
natureza. Exalta o acordo com o Banco Interamericano de Desen-
volvimento - BID e destaca a contribuição acreana nesse quesito
como algo marcante no Brasil do século XXI. Não é megaloma-
nia somente. Há uma boa dose de altivez rombuda, adoçada com
muito mascaramento da realidade social e econômica do estado.
O Acre é alçado à condição de protagonista de um milênio que
mal tinha começado. Seria apenas piada se alguns dados apresen-
tados não colocassem no chão esse discurso etéreo, vazio. Diri-
gido notadamente ao grande centro do país através de um jornal
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orbis por silva et orbis. Contudo, a dureza dos dados oficiais tei-
mam em nos dizer que o Acre está longe de ser o melhor lugar
para se viver na Amazônia; de ter saúde de primeiro mundo; de
ter a tal da florestania ou democracia substanciais para a maioria
dos acreanos.
Vejamos a seguir outros dados, de acordo com o IBGE (2013) e
a Agência Nacional de Águas – ANA (2010): O estado do Acre
ocupa na federação brasileira o 23º lugar em saneamento básico;
o 19º lugar na coleta de esgoto e fossa séptica; é o 21º colocado na
coleta de lixo domiciliar e somente a 26º colocação no tocante às
residências com rede de abastecimento de água tratada. Nesses
dois casos insólitos apresentados acima, temos o exemplo de dis-
cursos voltados para um público externo e com o intuito de criar
factoides, narrativas de efeitos e que chamem a atenção. Discurso
que vende uma imagem falsa da chamada realidade em que vive
a população acreana.
A imagem do Acre foi muito cristalizada sob o espectro da negati-
vidade, chegando a ser durante a virada do XIX para o XX como
um lugar, vazio, de morte, isolado, selvagem, enfim, uma Sibéria
tropical como na charge que vem a seguir. Talvez isso em parte
explique essas tentativas de dizer ao “outro” que o Acre já é su-
perlativamente o melhor em alguma coisa, e no futuro servirá de
exemplo ao Brasil e ao mundo. Esses dois campos de representa-
ções diametralmente opostos e exagerados, dualistas e manique-
ístas, só servem para reforçar mitos e fantasias, pouco ajudando a
compreensão mais acurada do que somos e podemos ser.
Comentários finais
Partindo para as considera-
ções finais, gostaria de realçar
que ainda hoje o discurso e o
sentimento de Acre isolado
é algo presente na cabeça de
muitos. Vide a cheia do rio
Madeira em 2014, quando o
acesso ao Acre pela BR-364
tornou-se impossível. O Acre
FONTE: Jornal do Brasil, nº 334,
como solidão, que nasce isola-
29 de novembro de 1904. Biblioteca do e que continua isolado por
Nacional
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tico, do mítico e do maravilhoso, organização de Maria Celeste Tommasello
Ramos, Maria Cláudia Rodrigues Alves & Álvaro Luiz Hattnher. São Paulo:
Cultura Acadêmica; São José do Rio Preto, S.P.: HN, 2013.
2 Doutora em Literatura Comparada pela UFF; professora da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro; bolsista de produtividade do CNPq e do progra-
ma Prociência.
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das, não nos cabe aqui discutir nem polemizar a esse respeito, até
porque as definições teóricas do gênero são bastante cambiantes
e não existe unanimidade entre os críticos quanto aos limites do
que consideram “fantástico”, “maravilhoso”, “realismo mágico”,
“estranho”, entre tantos outros termos que nos remetem a gêne-
ros e subgêneros afins. Seria dessa forma mais prudente falarmos
de “fantásticos adjetivados”, que lhe completam o sentido e dão
formas mais perceptíveis ao gênero ou, como reivindicam alguns
críticos, a essa modalidade narrativa: grotesco, macabro, gótico,
alegórico, metafísico, fantástico mágico, fantástico surreal etc.
Conforme a predominância de um desses aspectos no texto fan-
tástico – terror, horror, sonho, melancolia, trágico ou grotesco
– desenvolveram-se as criações textuais e as teorias a respeito do
gênero.
Quanto às temáticas recorrentes, elas também são bastante vari-
áveis, mais ou menos exploradas em determinadas épocas, e re-
ceberam, a cada texto, um tratamento peculiar. Essas temáticas
oscilam entre a presença desconcertante das máquinas como sím-
bolo da modernidade incompreendida, como é o caso da maioria
dos contos de J. J Veiga, por exemplo. Outros contos recorrem ao
apoio de um objeto mágico: “O Espelho”, de Gastão Cruls (Histó-
ria puxa história, 1938); e “A luneta mágica”, de Joaquim Manoel
de Macedo (1869), narrativa em primeira pessoa, situada entre
o conto e a novela, e que relata a história de Simplício, míope
física e socialmente, a quem oferecem uma luneta mágica, com a
seguinte advertência: “Dou-te uma luneta mágica; verás por ela
quanto desejares ver, verás muito; mas poderás ver demais”.
A visão do futuro aproxima certos contos da ficção científica,
como nos casos de “A viagem de Caramuru”, em Quando o Brasil
amanhecia (fantasia e passado), de Alberto Rangel (1905); de “O
país das quimeras (conto fantástico)”, de Machado de Assis (O fu-
turo, 1982; republicado sob o título de “Uma excursão milagrosa”,
em Contos escolhidos de Machado de Assis, antologia organizada
por Raimundo Magalhães Jr., de 1973); de “A filha do inca”, de
Menotti del Picchia (1927); de “Amazônia misteriosa”, de Gastão
Cruls (1925); e de Zanzalá, de Afonso Schmidt (1936). Outra te-
mática recorrente é a presença do duplo: “Paulo”, de Graciliano
Ramos (Insônia, 1955), em que assistimos aos delírios de um mo-
ribundo que se vê dividido em um duplo seu, também escritor;
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Conclusão
Ao fim de nosso percurso panorâmico, seria pertinente destacar
que, durante os primeiros passos daquilo que se pode chamar
de “literatura brasileira”, ou seja, nos meados do século XIX, os
modelos adotados estavam todos fortemente marcados pelas li-
teraturas produzidas nas metrópoles europeias, notadamente
da França e da Inglaterra. O livro de contos fantásticos Noite na
Taberna, de Álvares de Azevedo, descende em linha direta dos
contos de Hoffmann e de Byron, que o escritor brasileiro tanto
admirava. A mesma inspiração alimenta uma parte da produção
ficcional fantástica de Machado de Assis, assim como a de muitos
outros escritores da época. Se os contos aos quais estamos nos
referindo estão ainda fortemente vinculados à estética do roman-
ce gótico, outros nos surpreenderam pelo ineditismo da temática
que abordaram e pela modernidade do tratamento da matéria
ficcional. É o caso do conto “O máscara”, de Nestor Victor, com
forte valor alegórico, antecipando aquilo que viria a ser conheci-
do como o modelo literário kafkiano.
Assim, quando pensamos em evolução do gênero fantástico no
Brasil, não se trata de uma evolução cronológica, pois os textos
que produzem efeitos de horror, terror, suprarrealidade, grotesco
e absurdo, por exemplo, associados a temáticas diversas, continu-
am a ser escritos. O importante é perceber que diferentes efeitos
de fantástico são produzidos de acordo com as épocas. Pouco a
pouco, o relato fantástico abandona suas temáticas de origem, os
chamados temas clássicos, para ampliar seu espectro temático e
incorporar outros suportes e estratégias narrativas, misturando,
inclusive, diferentes protocolos discursivos. Contudo, trata-se da
mesma interrogação, o mesmo questionamento radical e irreme-
diável do mundo cotidiano. O fantástico não se concebe em outro
cenário, em outra perspectiva senão a do mundo cotidiano; é daí
que ele tira sua essência e a razão de sua existência. É a banalida-
de do dia a dia que o fantástico vem abalar, colocando em risco
a frágil ordem das coisas em seus lugares, com seu horizonte de
convenções e comportamentos previsíveis. É a lancinante engre-
nagem das ideias preconcebidas, a monotonia do ritmo do mes-
mo repetido à exaustão e a pretensão dos ideais humanos que a
literatura fantástica vem insidiosamente abalar. Sabemos que a
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final.
Nesse momento, três ciclistas,
que, pedalando, margeiam a
encosta gramada, não conse-
guem deixar de olhar para a
paisagem que lhes aparece
diante dos olhos, mas seguem
seu passeio de todos os dias.
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Osvaldo DUARTE1
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(...)
Recrio o vazio do sonho ....
O fragmento, o não linear, a inversão, a bricolagem são traços
de estilo caros a este poeta e enquadram seus textos, seja como
prática discursiva, seja como motivo ou assunto, como mostram
os dois fragmentos em destaque, em uma organização similar ao
mundo que neles se organiza, buscando o virtual e o simulacro,
geradores da dúvida. Outro exemplo desse modo de realidade é
o que nos dá o texto “Antigamente e hoje”, que abre o livro Espa-
çopleno (1966, p. 1). Este é um dos textos que marca a gênese do
pensamento poético de André Carneiro e traz - algumas em la-
tência, outras em vidência - as principais características do autor:
200
Antigamente e hoje
Toca-se um botão,
nasce a tartaruga
exata, cibernética.
Agora é fácil,
a morte vem
da estratosfera
nas estrelas a jato.
O cogumelo derrama
a sombra radiante
sobre o mar.
201
202
(1988, p. 38)
– está marcado também por atos negativos: o poema, aliás, como
indica o verso onze, trata essencialmente da morte. Como já se
disse, há dúvida e temor, e o texto já no primeiro verso (“Toca-se
um botão”) diz o porquê. Contextualizemos o poema a seguir.
Escrito no final da década de 1950, o texto responde às condicio-
nantes da chamada “Era Espacial”. Os eventos desse período, hoje
apenas folclóricos, tanto coroam de êxitos os esforços em torno
da cibernética e dos primórdios da tecnociência, quanto açodam
o mal-estar e o estado de incerteza quanto ao futuro da humani-
dade, dado o acirramento da Guerra fria que adquire, a partir de
então, novos elementos, como o controle mais rigoroso da infor-
mação e a espionagem tecnológica. A vida, enfim, transfigurava-
se, com a criação do computador (1951), a descoberta do DNA
(1953), do chip (1957), enfim, inicia-se o período pós-industrial
e o mundo começa a se digitalizar. É nesse contexto, ainda sob
o impacto da destruição de Hiroshima e Nagasaki, que o livro
Espaçopleno é escrito. O Brasil experimenta um período de forte
industrialização, investimentos em infraestrutura e o surgimento
dos primeiros bens domésticos e de uma classe burguesa consu-
midora. Já no aspecto cultural, a revolta modernista parecia ter
se esgotado e a renovação que poderia sugerir o diálogo entre as
tendências em voga, recolhe-se ao monólogo, ora pelos caminhos
da tradição defendidos pela Geração de 45, ora pelas aventuras
de vanguarda.
As ciências se desenvolvem em ritmo jamais visto, vislumbran-
do, amedrontando e concorrendo com a imaginação. Surgem os
mecanismos autocomandados, a cibernética sugere artefatos ca-
pazes de substituir o cérebro humano; vive-se, portanto, em plena
era do botão, e basta acioná-lo, em casa, em Moscou ou em Wa-
shington para que tudo aconteça, inclusive a morte, como teme
o poeta:
a morte vem
da estratosfera
nas estrelas a jato.
Além do texto aqui estudado, outros poemas como “Ar”, “O pla-
netário”, “Corrida no espaço”, “Retrato da terra”, “Ficção Cientí-
203
204
(...)
Robot põe
a mão fria
no meu braço.
“Pensas abstrato”,
define com
ironia.
(...) avança
a galáxia.
Daqui mil anos
lego aos
trinetos,
este poema
205
arcaico.
Postura idêntica é o que se vê em Antigamente e hoje e no já alu-
dido Retrato da terra, onde “Discos telegrafam / que não estamos
sós” (1966, p. 22) “e o eu em deserção dos seus valores” aceita as
transformações, apesar do medo criar asas, alçar voo e cobrir o
sol.
Toda tensão e toda dúvida advém do medo diante da constatação
dos limites da condição humana. Em Antigamente e hoje, o foco
irradiador dessa tensão é a metáfora tartaruga presente no segun-
do verso do poema e formulada com base na semelhança côncava
entre a parte superior arredondada do casco desse quelônio e o
espectro, imagem gerada por uma explosão. A redução do hiato
de sentido entre o termo tartaruga e a imagem da explosão de
uma bomba atômica não se completa, contudo, nessa similitude.
Há outras leituras ainda mais contundentes: o formato do casco
da tartaruga composto de estrias e a imagem de algo prestes a
explodir, o fato desse quelônio vir a terra apenas para a desova,
como a bomba com sua carga mortífera e, ainda, ampliando a
crueza e o impacto dessa imagem, a exatidão da cena sugerida
pelo artigo definido (“nasce a tartaruga”) e pela composição fo-
nética do verbo “nasce(r)”, expressivamente oposta aos fonemas
que compõem o vocábulo “tartaruga”.
Uma leitura expressiva do verso “Nasce a tartaruga” poderia ser
representada da seguinte maneira: “Nasssscea - tar-ta-ru-ga”, já
que o determinante nascer simula certa leveza e chiado silencioso
e o objeto determinado como se surgisse ou irrompesse de modo
astuto, mas sorrateiro. Além do fonema /s/ representado por “sc”
(nascer), fricativa surda sugerir suspense, desenhando o modo
indesejadamente inesperado como nasce a tartaruga; a inversão
do determinante para o início do verso chama a atenção para o
seu significado e cria dissonância sintática e semântica pela re-
lação que mantém com o vocábulo tartaruga: nascer pertence à
esfera semântica de vida e criação ,e no entanto, é empregado
por sinonímia a “surge”, “aparece” ou “irrompe” determinando
tartaruga, uma das metáforas de morte presentes no poema e re-
alçando a oposição euforia-medo, vida-morte que domina todo
o texto na forma de crítica, talvez inconsciente, à época moderna,
já que “o tempo concebido como história e esta como progres-
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Na estratosfera
circula
estrôncio noventa.
(1966, p. 22)
e
Um pássaro despenca do céu
liquida a dourada juventude
(1988, p. 20)
Nota-se nos dois fragmentos a presença de elementos como es-
tratosfera, pássaro, estrôncio noventa e liquida, dos quais se po-
dem destacar as mesmas ideias matrizes: voo e material radio-
ativo, como ameaças. Estão no ar, aliás, como sugere Bachelard
(1989, p 104), os sanguinários com seus voos de pássaro; e na
terra, o homem, cujos medos, pensamentos e imagens são de en-
terro e sepulcro.
Na estrofe seguinte, quinta, do mesmo Antigamente e hoje (1966,
p. 1) –
O cogumelo derrama
a sombra radiante
sobre o mar.
– dá-se, por fim, o esvaziamento da tensão trágica, surpreendendo
à maneira da narrativa fantástica e da ficção científica do próprio
“eu” que se estrutura no poema e que até então se mostrava em
estado de crescente agonia. A metáfora “cogumelo” (v. 17), que
amplia e conclui a imagem de destruição presente nas estrofes
iniciais do texto assume, ao final, as características da água que
ao derramar-se sobre o mar, poupa (dessa vez), a humanidade.
A explosão atômica desencadeada pelo “toque de botão” revela-
se menos fatídica do que se presumiria. Atinge o mar, símbolo
materno para todos os homens, e apenas os habitantes das águas
perecem. Quanto aos homens, ironiza o poeta na última estrofe:
continuarão a “resolver” explosões nada inocentes, mas secretas.
E se o mundo continua existindo, a ideia de mundo parece estar
destruída para o eu enunciante, que em outro texto suplica:
Que brote um sorriso
neste túnel
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cenário
de sombras mortas.
(1966, p. 15)
Esta é a tônica do livro Espaçopleno (1966) e, em certo grau, de
toda a obra do autor. Se no poema inicial, Antigamente e hoje, im-
peram a insegurança e o medo pela destruição iminente, o texto
que encerra a obra confirma (à maneira de um prolongamento)
o ideal de transformação que se opera na lírica do autor. O tex-
to final, Trailler (p. 27), como se completasse a emolduracão do
livro, reitera a imagem contida no título da obra (espaçopleno),
sugerindo com ironia cáustica a permanência da vida e o eterno
recomeçar do planeta:
Início do planeta.
Religiões,
filósofos
Cibernética,
logo mais
foguetes expressos
Marte-Saturno.
O mundo novo, todavia, é mais uma vez a própria imagem do
progresso e da técnica à qual a humanidade está irremediavel-
mente presa. E essa aproximação de contraditórios, apesar de
inusitada, parece singularizar com muita propriedade aquele mo-
mento de coincidências cujo nome é “a busca da felicidade”, como
sugere Octavio Paz (1991). É a essa busca, portanto, que o poeta
procura dar forma, visto que para ele a “função do poema,” [é]
“desvendar o nascimento/ do desejo”, (1988, p, 29) confrontando,
portanto, o tempo apocalíptico.
Referências bibliográficas
BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaio sobre a ima-
ginação da matéria. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
CARNEIRO, André. Espaçopleno. São Paulo: Clube de Poesia,
1966.
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Marcelo DAMONTE1
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El conde de Lautréamont
Acabados de completar en el año 1867, Los Cantos de Maldoror
son una pieza clave para iniciar a sospechar una original y no-
vedosa progenie del horror gótico en clave de succión sanguínea
dentro de la literatura uruguaya. A modo de inspirar esta conje-
tura de color local, podemos decir que, inmerso en un “aire” no
lejano a la narrativa de corte fantástico y de horror del relato de
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su origen montevideano.
Hecha esta aclaración —y digresión—, resulta interesante obser-
var cómo aparecen en Los Cantos, junto al de la sangre, el tópico
del vampiro, primero, y luego el de los chupasangres de menor ta-
maño y jerarquía legendaria o mítica; a saber, entre estos últimos:
el piojo, la sanguijuela, el ácaro sarcopte. Maldoror (o Lautréa-
mont, o Ducasse) no recorta palabras al expresarse en torno a su
avidez de sangre, o al exagerar su instinto de crueldad alimenticia.
Así lo hace en el canto primero, cuando dice:
Oh! comme il est doux d’arracher brutalement de son lit un enfant qui
n’a rien encore sur la lèvre supérieur, et, avec les yeux très ouverts, de
faire semblant de passer suavement la main sur son front, en inclinant
en arrière ses beaux cheveux! […]. Ensuite, on boit le sang en léchant
les blessures; et, pendant ce temps, qui devrait durer autant que l’éter-
nité dure, l’enfant pleure. Rien n’est si bon que son sang, extrait com-
me je viens de le dire, et tout chaud encore, si ce ne sont ses larmes,
amères comme le sel (LAUTRÉAMONT, 2001, p. 88).5
El tema de la sangre merodea Los Cantos. Hay copas de sangre,
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Horacio Quiroga
Su interlocutor para esta ocasión, el escritor uruguayo Horacio
Quiroga, nace en la ciudad de Salto en 1878 (ocho años después
de la muerte de Lautréamont), bajo el signo de la generación del
900 y la impronta modernista de Ruben Darío y Leopoldo Lugo-
nes, entre otros, y publica en Caras y Caretas (1907) su cuento “El
almohadón de plumas”. En orden de aparición cronológica, Qui-
roga parece privilegiar en la lista de los chupasangres, al ácaro an-
tes que al vampiro, cuyo ícono en forma de cuento (“El vampiro”)
aparece recién en el año 1925.
En “El almohadón de plumas” el escritor salteño describe como
una garrapata o ácaro gigante y monstruoso se alimenta hasta el
exterminio de la sangre de una bella mujer, vampirizándola en
un insólito frenesí de sangre: «Parecía que únicamente de noche
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A modo de conclusión
Si bien las obras antes mencionadas de Lautréamont (inclasifica-
ble, en cuanto a generalización) y de Horacio Quiroga difieren en
cuanto a su discursividad, temática general y estilística, es posible
leer en ambas un tenor oscuro, guiado por una retórica de lo ma-
cabro, que coquetea con el horror y la presencia indisoluble de la
sangre. A la sombra del romanticismo y de autores como Gautier,
Baudelaire y Maupassant, en Francia; de los Byron y Polidori, en
Inglaterra; o la progenie alemana de los góticos, con sus zagas de
monstruos, fantasmas y demonios heredados de la más sombría
literatura medieval, ambos autores se vieron fascinados por una
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Referencias bibliográficas
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Mundo, 1987.
224
Virginia FRADE1
La novela distópica tiene como característica representar mun-
dos en un futuro, marcados por el avance tecnológico, la bioin-
geniería, gobernados por una elite que manipula, no solo su en-
torno natural, su ecosistema, sino también a los seres humanos
que allí viven. Los elementos de vigilancia, coerción y represión
están siempre presentes en este tipo de ficción, lo cual hace que
los seres humanos que no pertenecen a las capas altas de la socie-
dad, donde se ejerce el poder, sufran los desdenes de un gobier-
no caracterizado por la tiranía y la opresión. Quizá, los mejores
ejemplos son los de las novelas 1984, de George Orwell, o Un
mundo feliz, de Aldous Huxley.
En ocasiones, las novelas distópicas presentan escenarios de tipo
apocalíptico, donde alguna catástrofe (generalmente provocada
por el hombre), alguna peste, una gran batalla o guerra conducen
al fin de una era y comienzo de una nueva (peor que la anterior).
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do, es que creemos que esta novela puede también ser abordada
desde una lectura eco-crítica3, pues la novela funciona como una
eco-distopía4, que critica a la lógica del crecimiento científico y
tecnológico, derivado del capitalismo global, con sus posibles
consecuencias. Para ilustrar esto, se escribe en Zack:
Pinkus a Zack: No ven cómo se repiten los signos, los síntomas. Creen
que porque dominan tecnologías que nosotros apenas si osáramos
imaginar, y que porque han conquistado el espacio y la naturaleza,
están a salvo. Pero no es así. No están a salvo de ustedes mismos, son
el peor enemigo que tienen y contra el cual no pueden luchar (Solari,
1993: 10).
Esta novela se publica apenas finalizada la guerra fría, camino
hacia un fin del milenio marcado por una creciente democracia
capitalista, un incremento de la liberalización del comercio, un
aumento en el manejo de los recursos naturales (como el agua),
del ser humano, de animales (inseminación, clonación, etc.),
avances en la tecnología digital y en la ciencia. Paralelamente, se
comenzaba a hablar de los cambios climáticos y del calentamien-
to global. En 1992, se lleva a cabo la “Cumbre de la Tierra” en Río
de Janeiro, organizada por la Organización de las Naciones Uni-
das (ONU), donde uno de los puntos destacados que surgieron
era el de «prevenir una interferencia antropogénica (intervención
del hombre) peligrosa con el sistema climático» (1992).
El discurso centrado en la preocupación por el medio ambiente
se instaura en la década del ´90, y comienza a estar presente en
la literatura, especialmente en la de ciencia ficción, así como tam-
bién en una nueva vertiente crítica que surge en Estados Unidos
en la misma época: la eco-crítica, a partir de la creación de la
Asociación para el Estudio de la Literatura y el Medio Ambiente
(1992). Si bien este tipo de literatura futurista, donde aparece una
preocupación por el medio ambiente no es para nada nueva, lo
que sí llama la atención es la proliferación de la misma (no solo
3 En The Ecocriticism Reader (1996), Cheryll Glotfelty, define a la eco crítica
como el estudio de las relaciones entre literatura y el medio ambiente, es de-
cir, nuestro ecosistema. Con esto se refiere al conjunto conformado por una
comunidad de organismos que interactúan entre sí.
4 Se refiere a la postulación de un mundo distópico del cual participa, de ma-
nera comprometida, el tema del daño ambiental o ecológico.
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Referencias bibliográficas
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SOLARI, Ana. Zack. Montevideo: Trilce, 1993.
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so do outro.
O que somos capazes de ler, então, nos livros de autoria indígena
contemporâneos? Que eles existem, não param de existir como
uma experiência de alteridade para nós. Que nós podemos lê-los,
apesar de todas as impossiblidades, sempre caminhando entre
inevitáveis-irredutíveis equívocos tradutórios e insistentes desen-
contros nos modos de viver e de pensar.
Assim, ao tempo que fazemos, por meio de nossa prática de lei-
tura, as nossas escolhas estéticas e políticas, vamos inventando
historicamente os nossos modos de relação com o outro, com o
radicalmente outro. Não desejamos repetir o gesto dos coloniza-
dores conhecer para dominar; mas sim conhecer o outro ape-
nas conforme os nossos valores nos permitem. Ter consciência
disso me parece uma boa opção metodológica para aqueles que
habitam espaços culturais de fronteira, mundos limítrofes; para
aqueles que desejam ler literatura de autoria indígena. Não per-
der de vista, então, a míriade de objetos insólitos que cintilam
diantes de nós, irredutivelmente insólitos e incumensuráveis.
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“Si el Tío Lino anduviera por aquí todavía, seguramente diría que ha
mandado a esta ciudad de Trujillo, y a todo el Perú y el mundo, a sus
sobrinos, para que se encarguen de recordar a todos que la narración
oral no es sino la esencia humana en plena forma, maravillosamente
engastada en esa joya sublime que es la literatura y que es, en definitiva,
la base sobre la cual los pueblos constituyen su naturaleza primigenia,
la raíz de su vida: su cultura.” Luis Enrique Plasencia.
Las palabras se aproximan a nosotros para decirnos y significar-
nos. Cuando esto ocurre con los textos literarios, adicionalmente,
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nos seducen de tal forma que llegan a ser parte de nosotros. Por
ello, cuando hace unos quince años, adquirimos los Cuentos del
Tío Lino, en la versión de Andrés Zevallos (Lima: Lluvia editores,
1997, sexta edición, serie Alacitas, 1), supimos de inmediato que
una irremediable unión había surgido. La edición extraordinaria
que el editor Esteban Quiroz preparó tiene las ilustraciones que
el propio Zevallos dibujó sobre la base de cada uno de los cuentos.
Este detalle sumado a la brevedad abrumadora de los relatos, la
apelación a los usos idiomáticos locales y un espíritu narrativo
que enlaza la tradición costumbrista con la modernidad jocosa
de Lino León, el Tío Lino para todos, fueron suficientes para
entablar un diálogo a largo plazo con la literatura de Cosiete, de
Contumazá, de Cajamarca y de los Andes.
Desde entonces, he tomado en cuenta a los cuentos del Tío Lino
como parte del corpus de varios cursos y espero haber dejado esa
semilla de la lectura trascendente en los estudiantes con quienes
compartí los caminos de altura, la verborrea creativa y el inge-
nio de este pícaro andino. Del mismo modo, decidido a realizar
una investigación en torno a la literatura cajamarquina, en mis
búsquedas por librerías –principalmente las de viejo– los apus
me han permitido encontrar ediciones originales que no hubiese
imaginado tener, por ejemplo, Los cuentos del Tío Lino (Cuentos
contumacinos), de Fidel A. Zárate (Lima, Empresa Editora Perua-
na, 1939), considerada por todos los estudiosos del tema como la
primera recopilación de relatos del personaje nacido en Cosiete.
Mis vínculos con el Tío Lino, debo recalcarlo, no solo se fundan
en estos encuentros (el tinkuy siempre de por medio) entre los
libros, como compadres de toda la vida, como propone Alfredo
Mires, responsable principal de las Bibliotecas Rurales de Caja-
marca, y los lectores, en este caso mi persona que asume un rol
mediador con otros lectores, mis alumnos, mis amigos y quienes
deseen sentarse unos minutos y escuchar al cuentero contumaci-
no. De hecho, este factor es en sí mismo muy significativo, pero
debo sumar otros elementos.
El primero de ello es que tengo en la mente los relatos que me
contó mi abuela materna, natural de Cerro de Pasco, doña Teo-
dora Huatuco Cano, la vez que, en mi adolescencia, se los pedí
que los volviese a contar, para cumplir con una actividad en el
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