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“AS DUAS FACES DE JANUS”: UMA DISCUSSÃO ACERCA DO CONCEITO DE

REPRESENTAÇÃO A PARTIR DE MOSCOVICI, JODELET E CHARTIER.

MOREIRA, Douglas Alves1

Introdução

É muito comum nos estudos da história, os historiadores utilizarem o conceito de


representação como forma de análise de suas fontes. Um bom exemplo é o estudo do cinema
como fonte para estudos históricos e, além das representações o historiador pode analisar
outros aspectos tais como a recepção do filme na imprensa, nas críticas especializadas, o
público ao qual a obra se destina etc. Entretanto podemos afirmar que há um grande número
de pesquisas em que o uso do conceito de representação ainda é a mais utilizado.
Este conceito ganhou importância após a publicação do artigo O mundo como
representação, nos Annales E.S.C. em 1989, na edição nº 6, de autoria do historiador francês
Roger Chartier membro da Escola dos Annales.
A ideia de representação utilizada pelo historiador francês se insere no que ficou
conhecido como a Nova História Cultural. Essa renovação da História Cultural foi
identificada como refúgio da história das mentalidades. Contudo, após a aproximação da
história com as ciências sociais entre elas a antropologia, sociologia e linguística a história das
mentalidades perdeu força já que essa nova história cultural procurou defender a legitimidade
do estudo do “mental” sem abrir mão do que era estudado pelos historiadores culturais tanto
como disciplina, bem como uma ciência especifica (VAINFAS, 1997, p. 147).
Vainfas vai destacar também que a nova história cultural tinha como característica a
rejeição do conceito de mentalidade por ser considerado vago, ambíguo e impreciso,
diferentemente da antiga história cultural. A nova história cultural não se interessava apenas
pelas expressões culturais das classes altas, mas também as manifestações das massas, que
revelaria uma afeição especial pelo informal, popular e anônimo. Outra característica
destacada pelo autor seria a intenção da história cultural em proteger o papel das classes
sociais tanto da estratificação quanto do conflito social o que iria ao desencontro com a
história das mentalidades. E por último, a história cultural é observada como uma história
plural, que proporciona alternativas para a investigação histórica que vai proporcionar falhas
assim como a história das mentalidades. (VAINFAS, 1997, p. 148-149).

1
Mestrando do Programa de Pós-graduação em História – PPGH – UNIMONTES.
Para Vainfas há três modelos diferentes de abordar a história cultural que permite
diferencia-la da história das Mentalidades. Tais modelos são apresentados por Vainfas através
de três historiadores.
No primeiro deles, a história da cultura é exercida pelo historiador italiano Carlo
Ginzburg no contexto da cultura popular bem como da ideia de circularidade cultural que
estavam inseridos em seus trabalhos de caráter teórico ou sobre a religiosidade feitiçaria na
Europa. O historiador italiano propõe o conceito de circularidade que era subentendida em
Bakhtin, Ginzburg vai se preocupar mais com a oposição entre as classes do que as
interpenetrações entre elas.
O segundo, através da história cultural exercida por Roger Chartier, que vai se afastar
da ideia de cultura popular / cultura erudita para observá-la de forma dicotômica, dando
preferência a uma visão mais abrangente, porém não homogênea. O historiador francês se
posiciona contra várias ideias da história das mentalidades entre elas o uso da longa duração
de forma exagerada, assim como o quantitativismo e o viés “psicologizante”. Chartier
valoriza, segundo Vainfas, o dimensionamento da cultura em contextos sociais, contanto que
não delimitassem as classes de maneira externa apenas para a produção e consumo cultural.
Chartier vai se afastar não só da história das mentalidades como das tradições da história
francesa devido ao que ele definiu como “tirania do social”. Para Chartier, é importante
procurar o social em conexão com diferentes formas de utilizar o equipamento intelectual.
Para isso, ele vai propor o conceito de cultura enquanto prática, aliada às categorias de
representação e apropriação, cuja finalidade é afastar da história cultural conceitos
esquematizados, fugindo da ideia indeterminada das mentalidades.
O terceiro e último é o historiador britânico Edward Palmer Thompson que vai
trabalhar com movimentos sociais e cotidianos nas classes sociais do século XVIII.
Thompson tem sua obra dedicada à classe operaria inglesa. Thompson era um historiador
marxista que migrou para a história cultural. Ele se preocupou com as massas bem como a
identidade da classe trabalhadora sob o contexto da industrialização, trabalhando também com
a ideia de resistência das classes inferiores. No campo teórico de classe popular, o historiador
britânico deu destaque aos estudos da resistência social e na luta de classes em conjunto com
tradições e ritos a partir do cotidiano das classes populares inglesas.
É a partir desses três modelos de estudos culturais, distintos entre si, porém
importantes ao evidenciar os conflitos sociais e suas lutas na esfera cultural e tendo como
característica comum o afastamento das imprecisões, e descrições, assim como da defesa de
uma classe, que se constitui a História Cultural em oposição à história das mentalidades
(VAINFAS, 1997, p. 150-158).
A nova história cultural tornou o estudo da cultura mais abrangente e o conceito de
cultura mais amplo devido à infinidade novas fontes e abordagens. A história cultural sai da
perspectiva de estudar apenas a cultura das elites e abraça a cultura popular. A intenção
principal neste trabalho é compreender o conceito de representação a partir de Roger Chartier
bem como seus desdobramentos através da psicologia social de Serge Moscovici e Denise
Jodelet.

A representação através da Psicologia Social: Serge Moscovici e Denise Jodelet

A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento principalmente do ser humano,


apesar de haver conflitos na ideia de comportamento .É possível observar a psicologia como
toda e qualquer ação, seja ela reflexa no limite entre a psicologia e a fisiologia, sejam os
procedimentos considerados conscientes que envolvem experiências, conhecimentos,
pensamentos e ações intencionais, e, num plano não observável diretamente, o inconsciente.
Assim, vai se preocupar primordialmente com os comportamentos que vão individualizar o
ser humano, e, ao mesmo tempo, buscar leis gerais que vão a partir das características da
espécie, abordando determinadas condições ambientais, antecipando os comportamentos
decorrentes (LANE, 1994, p.7-8).
Partindo dessa ideia, a Psicologia Social tem como intuito estudar o comportamento
dos indivíduos bem como o que os influencia socialmente. Tal fato ocorre desde o momento
em que nascemos ou até mesmo antes disso, o que vai depender das condições históricas do
indivíduo. Segundo Silvia T. Maurer Lane é por meio da influência histórico-social que é
possível sentir, antes de tudo, a aquisição da linguagem. Os significados que são atribuídos às
palavras vêm de um grupo social, de uma cultura que vão gerar uma visão de mundo, assim
como um sistema de valores, que consequentemente, vão gerar ações, sentimentos e emoções.
Para Silvia Lane
Da mesma forma, as emoções que são respostas do organismo e, como tais,
universais, se submetem às influências sociais ao se relacionarem com o que nos
alegra, nos entristece, nos amedronta. O se sentir alegre com a vitória do time, triste
com o filme ou com uma música, o ter medo do trovão ou do avião, são exemplos
que mostram o quanto nossas emoções decorrem desta visão de mundo que
adquirimos através dos significados das palavras (LANE, 1994, p.9-10).

A partir desta visão esclarecedora sobre a psicologia, é possível ter um vislumbre


sobre o que trataria a Teoria das Representações Sociais, termo resgatado pela psicologia
social através do psicólogo romeno naturalizado francês Serge Moscovici. O conceito de
Representação Social pertence à sociologia de Émile Durkehrim, porém havia sido esquecido.
O próprio Moscovici nomeou o capitulo inicial de La psychanalyse, son image et son public
1961, como Representação social: um conceito perdido, em referência a esse “esquecimento”
e ao mesmo tempo, trazendo de volta a aplicabilidade do conceitos em estudos que são
importantes para a Psicologia, História e as Ciências Sociais e que durante as últimas quatro
décadas influenciou pesquisadores de vários cantos do mundo. A ideia de representação social
saiu do entorno da sociologia, migrando para a Psicologia Social. (SÊGA, 2000, p,128)

Tal retorno proporcionado por Moscovici teve como intenção destacar os vários
fenômenos que foram observados e estudados como os termos de complexidades individuais e
coletivas assim como, psicológicas e sociais. Moscovici concorda que o conceito de
representação social tem sua base formadora na sociologia e na Antropologia, por meio de
Durkheim e Lévy Bruhl, além de contar com a contribuição da teoria da linguagem, de
Saussure, a teoria de representações infantis de Piaget e na teoria de desenvolvimento cultural
de Vigotsky. Para Robert Farr, a Teoria das Representações Sociais é considerada como uma
forma sociológica da Psicologia Social. Essa expressão também foi observada na notória obra
de Moscovici, La psychanalyse, son image et son public em que o autor desenvolve um
estudo sobre as Representações Sociais onde tenta compreender como a Psicanálise, ao sair de
um grupo fechado e cercado por especialistas vai apresentar um sentido diferente ao ser
interpretada pelos grupos populares. (ALEXANDRE, 2004, p.124).

Podemos compreender a Teoria de Representação Social, segundo Moscovici como


“entidades quase que tangíveis” ou algo palpável, que vai entrecruzar e se cristalizar de
maneira continua por meio de palavras, gestos, agrupamentos no mundo cotidiano. As
representações Sociais estão presentes na maioria das relações estabelecidas, através dos
objetos que consumimos, produzimos ou mesmo através da comunicação que é estabelecida
entre os indivíduos. Moscovici explica que as representações sociais vão corresponder de um
lado à substância simbólica que vai se inserir na preparação e do outro lado a uma prática
especifica que vai produzir tal substância “do mesmo modo que a ciência ou o mito vão
corresponder a uma prática cientifica ou mítica”. (MOSCOVICI, 2007, p.10)

As representações sociais são basicamente uma forma de verificar o pensamento, os


registros simbólicos de um determinado grupo que se deseja estudar, um conjunto de
explicações, pensamentos e ideias que vai permitir ao indivíduo chegar a uma informação, um
acontecimento, pessoa ou objeto. Uma das principais tarefas nesse estudo é a compreensão
histórico-social do grupo escolhido de forma profunda. De maneira mais objetiva, Mary Jane
P. Spink apresenta o conceito como uma forma de conhecimento prático que se inseri de
forma especifica entre as correntes que estudam o conhecimento do senso comum. Para a
autora é um privilégio, promove uma divergência com as demais classes do conhecimento,
pois, abordam o conhecimento como uma forma de saber vulgar, ou seja, segundo a autora, ao
focalizar no saber, que vai cruzar a fronteira do conhecimento, é formado conjuntos de
enunciados que vão definir as normas de verificação e coerência. (SPINK, 1993, p.302)

A psicologia social pode ser observada segundo Moscovici, como uma manifestação
do pensamento cientifico e desta forma, ao estudar o sistema cognitivo, estabelece que os
indivíduos ao reagirem aos fenômenos, pessoas e acontecimentos do mesmo modo que os
cientistas, também vão processar os as informações recebidas. Seguindo neste caminho, o
autor destaca que o indivíduo vai perceber o mundo a sua volta através de todas as suas
percepções, ideias e atribuições como uma resposta ao estímulo ao ambiente “físico” em que
vive. (MOSCOVICI, 2007, p. 29-30)

Para Moscovici o pensamento pode ser visto como um ambiente. Ele destaca que o
indivíduo está cercado tanto de forma individual quanto coletiva, por palavras ideias e
imagens que são percebidas pelos sentidos na qual são atingidos sem ser avaliado. Para o
autor, as representações sociais possuem duas funções precisas. Primeiramente as
representações sociais convencionalizam, ou “acomodam” os objetos, pessoas, e
acontecimentos encontrados, assim eles recebem um formato definitivo, sendo localizados em
determinada hierarquia e estabelecido como um modelo verificado, tipo que passa a ser
compartilhado com um grupo de pessoas. Segundo Moscovici:

Assim, nós passamos a afirmar que a terra é redonda, associamos comunismo com a
cor vermelha, inflação como decréscimo do valor do dinheiro. Mesmo quando uma
pessoa ou objeto não se adéquam exatamente ao modelo, nós o forçamos a assumir
determinada forma, entrar em determinada categoria, na realidade, a se tornar
idêntico aos outros, sob pena de não ser nem compreendido, nem decodificado
(MOSCOVICI, 2007, p. 29-30).

Em segundo lugar, as representações sociais são prescritivas, elas vão infligir uma
força sobre o indivíduo de maneira irresistível, tal força pode ser observada como uma
combinação entre a estrutura presente e de uma tradição que determina o que precisa ser
pensado. Para Moscovici:

Uma criança nascida hoje em qualquer país ocidental encontrará a estrutura da


psicanálise, por exemplo, nos gestos de sua mãe ou de seu médico, na afeição com
que ela será cercada para ajudá-la através das provas e tribulações do conflito
edípico, nas histórias em quadrinhos cômicas que ela lerá, nos textos escolares, nas
conversações com os colegas de aula, ou mesmo em uma análise psicanalítica, se
tiver de recorrer a isso, caso surjam problemas sociais ou educacionais. Isso sem
falar dos jornais que ela terá, dos discursos políticos que terá de ouvir, dos filmes a
que assistirá etc. Ela encontrará uma resposta já pronta, em um jargão psicanalítico,
a todas essas questões e para todas as suas ações fracassadas ou bem-sucedidas, uma
explicação estará pronta, que a levará de volta a sua primeira infância, ou a seus
desejos sexuais (MOSCOVICI, 2007, p.34-35).

O que caracteriza as representações sociais são as interações humanas que nascem


através do contato entre duas pessoas ou entre dois grupos. Sobre as interações humanas,
Moscovici através das palavras do Psicólogo Solomon Asch, afirma que elas são
acontecimentos, estando psicologicamente sendo representadas em cada um dos participantes.
Se tal fato for desconsiderado, o que sobraria seriam apenas trocas, meras ações e reações que
não teria nenhuma especificidade, sendo as trocas ainda mais pobres. Desta forma, a todo
instante, quando um indivíduo se encontra com uma ou mais pessoas ou mesmo com coisas a
qual lhes são familiares, essas representações estão presentes e as informações recebidas pelos
indivíduos, às mesmas eles tentam dar um significado, estão sob o seu controle, pois não
possuem outro sentido para o indivíduo além do sentido que os indivíduos dão a ele
(MOSCOVICI, 2007, p.40).

Outro grande autor que se destaca nas discussões sobre as Teorias de Representação
sociais é Denise Jodelet que atualmente atua como Diretora de estudos e como Professora do
Laboratório de Psicologia Social na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, em Paris e
que durante os seus estudos foi orientada por Serge Moscovici.

Jodelet acredita que o indivíduo tem a necessidade de ver o mundo que o cerca, e para
isso, caberia ao indivíduo ajustar-se, conduzir-se, e se localizar tanto física quanto
intelectualmente, para tanto, deve identificar e resolver os problemas que esse mundo propõe.
Segundo a autora, seria por isso que as representações são construídas, sendo que entre as
pessoas, coisas, eventos e ideias, os indivíduos não são munidos apenas da forma automática,
assim como não são isolados num vazio social, pois compartilham do mundo com os demais,
se apoiando, mas, porém, tendo também os seus desacordos (Jodelet, 1989, p.01). Devido a
tais fatores que as representações se tornam tão importantes para a vida diária, elas vão guiar
o indivíduo de forma a nomear e definir em conjunto, os diferentes aspectos da realidade
cotidiana, e a partir de sua interpretação, determinar e decidir qual posição tomar.

Jodelet observa as representações sociais como uma forma de conhecimento que é


socialmente elaborada e compartilhada, cujo objetivo prático vai convergir para a construção
de uma realidade comum a um conjunto social. As representações sociais são vistas como um
saber do senso comum, saber ingênuo ou natural, um tipo de conhecimento que vai fazer se
distinguir do conhecimento científico, mas apesar de tudo, pode ser observado como um
objeto de estudo tão importante e legitimo quanto este e que se dá devido a sua importância
para o mundo social, por tornar mais transparentes os processos cognitivos e as interações
sociais. As representações sociais são os sistemas de interpretação que conduzem a relação do
indivíduo com o mundo, assim como com os demais indivíduos guiando e estabelecendo as
condutas e as comunicações entre os integrantes dos grupos sociais.

Consoante a Moscovici e ao seu célebre trabalho referente às representações sociais na


psiquiatria na sociedade francesa, Jodelet se destacou por trabalhar as representações sociais,
relacionada à loucura e a AIDS2. Mas é através desse último trabalho, que a autora vai
destacar que as representações sociais podem ser observadas como fenômenos complexos que
estão de maneira constante agindo ativamente na vida social dos indivíduos. A autora da
ênfase na quantidade de elementos que as representações sociais produzem e que muitas vezes
são observadas de maneira individual, sem relação uma com as outras, tais como elementos
cognitivos, ideológicos, religiosos, atitudes, imagens, etc. e apesar de serem organizados
como uma forma de saber, vão produzir alguma resposta sobre a realidade vivida. É nesse
conjunto, que a investigação cientifica pode ser percebida. Esse conhecimento tem como
função investigar de todas as formas desses elementos. Esses objetos foram inicialmente
identificados como formas de produções mentais sociais por Durkheim em seu estudo sobre
Ideações Coletivas. Mais tarde, Moscovici renova a análise, trazendo a necessidade em se
explorar todas as particularidades dos fenômenos que são representados na sociedade atual
(JODELET, 1989, p.04).

A maneira como as pessoas adquirem o conhecimento, que pode ser observada, como
a relação entre a incitação e a resposta a esse estímulo, vai se associar a ideia de
pertencimento social. Segundo Jodelet, as implicações afetivas, normativas, a incorporação de
maneira inconsciente das experiências assim como das práticas e modelos de conduta e de
pensamento estão socialmente ligados ou são transmitidos pela comunicação social na qual
todos os indivíduos estão ligados. Desta forma, importância do estudo das representações
forma-se na contribuição crucial que possibilita a aproximação da vida mental individual e
coletiva, assim de maneira crucial as representações sociais são vistas como o produto e o

2
A autora tem vários trabalhos publicados. Foram usados esses exemplos devido à amplitude que esses
trabalhos tiveram. Eles podem ser encontrados em LOUCURAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS. Jodelet D.
Petrópolis: Editora: Vozes; 2005. 391 pp. E sobre a AIDS, JODELET, D. (Orgs). AIDS e Representações
sociais: à busca de sentidos. Natal: EDUFRN, 1998. p. 47-72.
processo de uma atividade de apropriação da realidade exterior em conjunto ao pensamento e
da psicológica e social da realidade. (JODELET, 1989, p.05).

Representar para a autora, corresponde ao ato de pensamento social aonde o sujeito vai
se relacionar com o um objeto podendo esse ser uma pessoa, coisa ou evento material,
psíquico ou social, podendo ser real ou imaginário, sempre necessita de um objeto, pois sem
ele não há representação. Já o ato de pensar, esse estabelece a relação entre o sujeito e o
objeto este apresenta características especificas na relação com outras atividades mentais
Segundo Jodelet:

De um lado, a representação mental, como a representação pictórica, teatral ou


política, dá uma visão desse objeto, toma-lhe o lugar, está em seu lugar; ela o torna
presente quando aquele está distante ou ausente. A representação é, pois, a
representante mental do objeto que reconstitui simbolicamente. De outro lado, como
conteúdo concreto do ato de pensar, a representação carrega a marca do sujeito e de
sua atividade. Este último aspecto remete ao caráter construtivo, criativo, autônomo
da representação que comporta uma parte de reconstrução, de interpretação do
objeto e de expressão do sujeito (JODELET, 1989, p.05).

Para Denise Jodelet, há características fundamentais para as representações sociais: é


sempre um objeto a ser representado; possui caráter imagético e a característica de se alternar
a sensação de ideia, percepção e conceito; tem característica simbólica com o objeto e de
interpretações ela oferece significações; Apresenta características construtivas, de
modelização do objeto; tem saber prático, referindo-se a experiência onde ele se produz.
(JODELET, 1989, p.9-10).

Para concluir essa parte inserida no contexto da Psicologia Social sobre as


representações sociais, é preciso destacar aos processos que dão origens as representações que
são a objetivação e a ancoragem. Moscovici trabalhou com esse enfoque na sua obra
Influencia Social e Mudança Social, de 1976. A obra tem como enfoque a investigação na
insatisfação com os modelos que vão influenciar os meios sociais, pois apreenderam apenas a
concordância ou a submissão.

No mecanismo inicial, chamado de ancoragem, propõe ancorar ideias que sejam


estranhas, transformando termos ou imagens em algo comum, familiar no sistema particular
de categorias e assim compara com um paradigma de uma determinada categoria que se pensa
ser a correta. O termo ancorar pode ser observado como uma forma de classificar algo ou
nomear algo que não foi classificado e aquilo que não tem um nome é estranha aos olhos dos
indivíduos, sendo ao mesmo tempo, visto como ameaçador (MOSCOVICI, 2007, p.61).
Moscovici vai observa-lo como um processo de domesticação, onde uma novidade, que está
sendo pressionada por regras de um determinado grupo, vai transformar-se em uma forma de
influenciar já que “nos limites em que ela penetrou numa camada social, também se constitui
aí num meio capaz de influenciar os outros e, sob esse aspecto, adquire status instrumental”
(MOSCOVICI, 1988 apud SPINK, 1993, p.306).
Já no processo de objetivação, vai tratar de unir aquela ideia que não é familiar com a
realidade que é vivida pelo individuo, tornando se o verdadeiro centro da realidade. Desta
forma, sob essa ótica, toda representação teria o seu lado real, pois ao alcançar o sentido
próprio do termo, ou seja, um nível diferente do real. Tais níveis são criados e mantidos para
um coletivo que aos poucos vai se dissipar acabando por fim não tendo mais sentido
(MOSCOVICI, 2007, p.71). A objetivação pode ser vista ainda de maneira mais clara, como
uma forma de proporcionar imagens, onde noções abstratas são criadas e transformadas em
algo concreto, “tão vívidos que seu conteúdo interno assume o caráter de uma realidade
externa” (MOSCOVICI, 1988 apud SPINK, 1993, p.306).

As representações pela história: Roger Chartier e a História Cultural

O trabalho da história se desenvolve a partir de um processo continuo, mas que não é


linear, assim como uma estrada, cheia de curvas, desvios, paradas, paisagens, mudanças de
pista, idas e vindas. Tudo o que acontece hoje tem sua ligação com o passado, as rupturas da
história não se originaram do nada, mas ocorrem através de um processo lento e gradativo. O
passado que é objeto de estudo do historiador, não está morto, ele ainda vive em algum lugar,
de alguma forma, no presente. Um fato passado pode não ter valor para o historiador, porém
se ele puder aprender o que está envolto no pensamento desse passado, esse passado ainda
vive.

Falar sobre as representações a partir de uma perspectiva histórica confere a


necessidade de falar da história cultural, mais precisamente da nova história cultural. Tal fator
ocorre devido à utilização do conceito de representação, estruturado por Roger Chartier,
considerada como o principal suporte de Clio sob os seus novos domínios. A nova história
cultural nasceu no que ficou conhecida entre os historiadores de Virada Cultural, uma
mudança de direção, na qual a história cultural tomou o rumo em direção aos estudos
antropológicos. Segundo Ciro F. Cardoso:
Donald R. Kelley propõe subdividi-lo em três outras viradas, componentes da
primeira: 1) a “virada linguística”, no sentido, por exemplo, de Georg Steiner, para
quem “a história seria uma rede linguística jogada pra trás”, que inclui posições e
influências variadas, como as de Quentin Skinner, Paul Ricouer, Hayden White ou
Dominick Lá Capra; 2) a “virada para o interior”, que poderia ser chamada de
“vingança póstuma do sujeito” após a proclamação enfática da “morte do homem” e
de diversos modos, preocupa-se com o individual, o privado, o gênero, etc.; 3) a
“virada para o exterior” – que para Peter Burke, é a “virada antropológica”- isto é, a
ênfase no outro cultural ou, segundo o neologismo preferido, na “alteridade”:
insiste-se, por exemplo, na “invenção da America” entendida como noção
“representacionista” (e neo-historicista); defende-se uma “ciência social
interpretativa” ou “hermenêutica” (e não explicativa), carregada de relativismo
cultural (CARDOSO, 2000, p.11).

Apesar das diferenças entre si, essas três viradas, vão convergir no que se denominou
de nova história cultural. Esse movimento iria mudar as ideias previstas tanto para os Analles
quanto para o Marxismo, indo contra as suas ideias estruturais e explicativas sobre tal
corrente. Desta forma, “a realidade é construída culturalmente e as representações do mundo
social é que são constitutivas da realidade social” (Cardoso, 2000, p.11) Nesse novo caminho
foi deixada para trás a história social da cultura em prol da história cultural do social. Outra
forma de ver esse contexto é através de um velho ditado marxista usado pelo historiador
britânico Edward P. Thompson em Folclore, Antropologia e história social3, que diz “sem
produção não há história, sem cultura não há produção”, o texto de Thompson, podem ser
visto como um modelo dessa virada principalmente na questão antropológica.

A ideia de representação já foi debatida e discutida em ocasiões anteriores aos estudos


de Chatier. Entre esses momentos, podemos destacar as representações em Émile Durkheim,
Marx Weber e Karl Marx. Esses três autores são responsáveis pelo que atualmente denomina-
se de Sociologia Clássica.

Segundo Durkheim, “a vida social era inteiramente feita de representações” o autor


foi o responsável por estabelecer a área de estudo entre a Sociologia e a Psicologia Social
através da construção do conceito de representações coletivas conceito esse de suma
importância, pois vai estar presente em toda sua obra4. Para Durkheim, as representações
coletivas podem ser vistas como as demonstrações do pensamento coletivo, tais como
crenças, comportamentos e sentimentos que são produzidos no meio social pela coletividade.
São as sociedades que vão determinar as representações coletivas. (COSTA, 2015, P.136)
Segundo Durkheim:

3
Texto presente na obra, As Peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Campinas: Editora da Unicamp, 2001.
4
Entre tais obras podemos observar A Divisão social do trabalho, 1893; O Suicídio, 1893; As regras do Método
Sociológico, 1895; entre outros.
As representações coletivas são o produto de uma imensa cooperação que não se
estende apenas no espaço e no tempo, para criá-las, uma multidão de espíritos
diversos associou, misturou, combinou suas ideias e seus sentimentos; longas séries
de gerações nelas acumularam sua experiência e seu saber. Uma intelectualidade
muito particular, infinitamente mais rica e mais complexa que a do indivíduo,
encontra-se, portanto como se concentrada aí (DURKHEIM, 2003, p. 23 apud
COSTA, 2015, P.136).

A noção de representação em Karl Marx pode ser observada pela obra Ideologia
Alemã, 1846 que permite debater a noção de representação observada como ideia e
pensamento além da ampla teoria sobre o materialismo histórico. Para Marx as ideias, a
consciência e as representações são produzidas pelo homem, contudo seria por aqueles que
trabalhassem pela vida, ou seja, aqueles homens que produzem e reproduzem a sua existência,
homens que mantém relações com as práticas sociais. Para Marx:

A produção das idéias, das representações e da consciência está a princípio, direta e


intimamente ligada à atividade material [...] São os homens que produzem suas
representações, suas idéias etc., mas os homens reais, atuantes, tais como são
condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e das
relações que a elas correspondem... (MARX e ENGELS, 2008, p. 18-19 apud
COSTA, 2015, p.136).

Para Marx, a consciência seria determinada através do processo de vida real, pois o
homem produz a sua consciência inserida em suas relações sociais e materiais que
transformam respectivamente a consciência, o pensamento, a realidade as ideias e o próprio
homem a partir da realidade vivida e desta forma, o autor a vai destacar que a consciência não
vai agir sozinha, pois não possui autonomia ou história sendo os indivíduos os seres sociais.
Marx concorda que existem as representações reais, aquelas que têm origem nas relações
provenientes das relações materiais dos homens reais, vivos, envolvidos em suas relações
sociais entre os indivíduos e a base material e concreta (COSTA, 2015, p.136).
Em Marx Weber, a idéia de representação é observada em Economia e Sociedade,
1922, onde Weber vai relacionar o conceito de representação às ações de dominação, pelo
poder representativo, as atitudes dos mandatários de associações que representavam ou eram
autorizados a exigir direitos, poderes, privilégios e responsabilidades estabelecendo desta
forma, acordos de aceitação entre os membros. Weber deixa claro que:
Por representação entendemos primordialmente a situação já exposta na qual as
ações de determinados membros de associação (representantes) são imputadas aos
demais ou devem ser consideradas por estes como vigentes de modo "legítimo” e
"vinculante", como de fato ocorre (WEBER, 2012, p. 193 apud COSTA, 2015,
p.139).

Apesar disso, para Weber a idéia de representação não teria a mesma noção de
representação, no que tange as idéias, o pensamento criado pelo indivíduo sem suas práticas e
as relações em sociedade, assim como a teoria ou fenômeno das representações sociais. Na
representação em Weber é possível perceber como ela possui vínculos com o método, objeto e
conceitos importantes, presentes na base da teoria sociológica do autor.

A noção de representação foi de suma importância para a nova história cultural. A


noção de representação proposta por Chartier teve várias influencias tais como Durkheim e a
sua noção de representação coletiva, Marcel Mauss, considerado o pai da antropologia
francesa, Pierre Bourdieu, Michel de Certeau, o sociólogo Norbert Elias, entre outros.

Segundo Chartier, com o passar dos anos, a noção de representação quase chegou a
determinar sozinha a História Cultural. Baseando -se no uso de dicionários, o autor destaca
que o conceito de representação era de uma imagem que remetia a idéia assim como a
memória, os objetos ausentes, sendo apresentados como são. Já nesse sentido, a representação
permitiria “observar” o “objeto” que estava ausente. A idéia da coisa, conceito ou pessoa que
é suprida por uma determinada imagem capaz de “substituí-lo” de maneira adequada. A
representação seria uma forma de conhecer as coisas sob a interferência de alguém sendo pela
imagem, gestos ou palavras. Já no sentido político e jurídico, também tem idéia de ocupar o
lugar de alguém, tendo nas mãos a sua autoridade (CHARTIER, 2011, p.17).

Através do contato que o indivíduo ou os grupos sociais vão manter com o mundo
social é possível observar as operações que classificam e organizam as produções assim como
as configurações múltiplas, onde é possível perceber a representação da realidade. As práticas
e os signos têm como intenção o reconhecimento da identidade social, exibindo uma maneira
própria de ser no mundo, significando simbolicamente um status, uma categoria social, um
poder. Através das formas institucionalizadas, em que alguns representantes sejam eles
indivíduos singulares ou instâncias coletivas examinam de maneira visível a coerência de uma
comunidade, a força de uma identidade ou a conservação de um poder. Segundo Chartier:

A noção de representação, assim, modificou profundamente a compreensão do


mundo social. Obrigou, efetivamente, a repensar as relações que mantém as
modalidades da exibição do ser social ou do poder político com as representações
mentais – no sentido das representações coletivas de Mauss e Durkheim – que dão
(ou negam) crença e credito aos signos visíveis que devem fazer reconhecer como
tal um poder ou uma identidade (CHARTIER, 2011, p.20).

As representações do mundo social são construídas, apesar de ambicionarem a


totalidade de uma análise fundamentada na razão. Representações são determinadas pelos
interesses dos grupos que as constroem, desta forma, em cada caso é necessário relacionar os
discursos foram pronunciados contrapondo-os com quem vai utiliza-los. O pensamento do
social não pode ser considerado, sob nenhuma circunstância, como neutro, pois vai produzir
estratégias e práticas. As estratégias sejam elas escolares, políticas ou sociais pretendem
impor a sua autoridade tendo como custo, os outros que são menosprezados por aqueles cuja
intenção é a legitimação de um projeto com características reformadoras para justificar aos
próprios indivíduos as suas escolhas e condutas. Desta forma, na investigação sobre as
representações observam-nas sempre em um campo de concorrências e de competições onde
os desafios se encontram principalmente em termos de poder e de dominação. Assim justifica-
se a importância das lutas de representações, pois as representações econômicas são tão
importantes quantos as demais. Elas são importantes, pois, visam a compreensão das
estruturas que os grupos tentam ou mesmo impõem, a sua visão de mundo social, assim como
os seus valores e a sua autoridade. Portanto, para Chatier investigar os conflitos que vão
classificar ou delimitar não seria um afastamento do social, mas pelo contrário, visa localizar
os pontos de inquietação, aqueles mais cruciais quantos os mais materiais (CHARTIER, 1990,
p.17).

A partir da obra de Chatier, História cultural: entre práticas e representações 1990,


podemos observar uma explicação mais abrangente da noção de representação, segundo o
autor, que diz:

... a representação como dando a ver uma coisa ausente, o que supõe uma distinção
radical entre aquilo que representa e aquilo que e representado; por outro, a
representação como exibição de uma presença, como apresentação pública de algo
ou de alguém. No primeiro sentido, a representação e instrumento de um
conhecimento mediato que faz ver um objeto ausente através da sua substituição por
uma imagem capaz de o reconstituir em memória e de o figurar tal como ele é. (....)
são as suas modalidades variáveis que permitem distinguir diferentes categorias de
signos(certos ou prováveis, naturais ou instituídos, ligados ou separados do que e
representado, etc.) e que nos permitem o símbolo (em sentido restrito) na sua
diferença relativamente a outros signos. (CHARTIER, 1990, p.20-21).

As práticas das quais as representações não podem ser desassociadas só podem ser
observadas como uma forma de dar significado ao mundo. É devido a isso que as práticas
discursivas podem ser caracterizadas como produtoras de ordenamento, afirmação de
distâncias, divisões. Devido a isso é possível reconhecer as práticas de apropriação cultural
como formas diferenciadas de representação. Em uma tentativa mais simples, seria possível
dizer que é através da prática que o indivíduo vai reconhecer o seu lugar social. É nesse
contexto que o autor francês daria ênfase na importância do título da obra; a história cultural
esta certada por práticas e representações. (CHARTIER, 1990, p.27-28).

Outro contexto na qual se torna crucial compreender é o de apropriação. A noção de


apropriação deve, segundo Chatier, ser reformulada e colocada no meio da discussão da
história cultural, pois ela vai se prender as práticas distintas de maneira alterada. O objetivo
da apropriação é uma história social das interpretações que vão referir as decisões
fundamentais que podem ser sociais, institucionais, culturais e que são constantes nas práticas
especificas que elas produzem. Desta forma, elas vão conceder atenção às condições e ao
processo que, de maneira concreta, determinaram as operações de criação do sentido, não só
por meio da leitura, mas por tantos outros, sendo assim, uma forma de se distinguir da antiga
história intelectual, e as compreensões que não são separadas. Vai na contramão das correntes
de pensamento que vão pressupor algo amplo, onde os conjuntos seriam visivelmente mais
constantes devendo ser construídos nas divisões das trajetórias históricas. A noção de
apropriação sugerida por Chatier vai na direção oposta naquela traçada por Foucault, que
considera a noção de “apropriação social dos discursos” como uma forma de confisco e
submissão, sendo eles mantidos fora do alcance dos sujeitos, onde a capacidade ou modo
inviabilizaria o seu acesso. (CHARTIER, 1990, p.26-27).

A importância da noção de representação foi fundamental para dar consistência à


nova história cultural, pois ela preencheu determinadas “lacunas” deixadas pelas
mentalidades. Depois de estruturada por Chatier, a noção de representação se configurou
como um importante instrumento para que fosse possível articular e distinguir uma noção
mais satisfatória de mentalidade. Além do mais a representação “à la mode Chatier” permitiu
a muitos historiadores a ferramenta necessária para tornar as suas pesquisas mais palpáveis,
próximas entre o que é pensado e o que é palpável podendo se encontrar nelas.

E as faces de Janus se encaram


As representações sociais, introduzida e trabalhada por Serge Moscovici e Denise
Jodelet, assim como a noção representação apresentada por Roger Chatier, apresentam suas
formas de estudar, compreender e entender o pensamento do indivíduo. A noção de
representação é tida por muitos autores como algo extremamente complexo, apesar de serem
complexos, os estudos e trabalhos desses autores nos mostram o quanto é importante a
compreensão e o estudo dessas mentalidades.

Sobre a noção representação a partir da abordagem na história cultural ficou claro o


quanto tal abordagem teve e ainda tem importância na historiografia, sendo ainda observada
como algo complexo, está inserida dentro da nova história cultural, cujo principal expoente é
o historiador francês Roger Chatier. Para esse autor a noção de representação, prática e
apropriação podem ser observadas como uma ligação estreita que vai adaptar a percepção da
realidade dos indivíduos de maneira plural e inovadora, essa noção mostra como os indivíduos
vão estabelecer relações. Tal noção gerou mudanças tão significativas dentro da
historiografia, que para muitos autores a noção de representação viabilizou novos trabalhos
para o historiador.

O que se pode criticar na noção estabelecida por Chatier é além do fato de o autor não
estabelecer uma comunicação direta sobre a noção de representação, prática e apropriação, ou
seja, a noção dada pelo autor não é suficiente para quebrar com o peso que a noção de
representação carrega de outras áreas do saber, assim como entre outros autores trabalhados,
tais como Durkheim. Outro ponto é que a noção de representação ficou tão atrelada à nova
história cultural que para falar de uma torna-se imprescindível falar da outra. Tal critica pode
não ser vista com bons olhos, mas essa observação se deu em trabalhos de historiadores já
consagrados no meio. Outro fator, foi à frase inicial do próprio Chartier no texto Defesa e
ilustração da noção de Representação, onde o autor destaca que “a noção de representação
quase veio a designar por si só a história cultural”. A nova história cultural ganhou
consistência com a noção de representação estabelecida por Chartier, porém como dito
anteriormente ela possibilitou uma grande ampliação “nos campos de domínios de Clio”.

Já na noção de representações sociais que foi estabelecida por Serge Moscovici e


ganhou abordagens bastante apreciadas pelas mãos Denise Jodelet, visa à valorização do
conhecimento do senso comum através dos processos de comunicação, os indivíduos e os
grupos vão construir representações que vão mudar o cotidiano, guiando práticas e dando
novos significados aos conhecimentos científicos através das crenças, valores e interesses. A
representação social pode ser vista como uma forma de expressão do pensamento social do
individuo, sendo um produto e processo já que vão construir formas de interpretar, observar e
os julgamentos que reduz seu conhecimento utilizando os processos sociocognitivos da
objetivação e da ancoragem.

A noção estabelecida por Moscovici trouxe certo desconforto, por não conseguir
observar a aplicação do conhecimento do senso comum em trabalhos que não carecem de
trabalho em campo, os trabalhos de Jodelet sobre a AIDS e a loucura e do próprio Moscovici
sobre a Psiquiatria deixam isso ainda mais claro. Diferente da noção de Chartier, a resposta
sobre a noção de representação social fica bem mais evidente. As duas noções tem aspectos
em comum, como ditos anteriormente ambos vão se interessar pela construção do mental,
valorizam a sociologia, em autores como, Marcel Mauss e Émile Durkheim sobre a
Representação Coletiva. Apesar de serem situadas na psicologia social, as representações
sociais são amplamente usadas pelos historiadores, de forma inversa a compreensão histórica
do grupo e de extrema importância para as noções de representação social. Assim, as faces de
Janus se encaram e mostram que apesar das similaridades e diferenças entre as noções de
representação é possível que os trabalhos nos extensos domínios de Clio contribuam ainda
mais para uma evolução disciplinas.

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