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Rev. IG.

São Paulo, Volume Especial 1995

A EXPERIÊNCIA EM ENCOSTAS OCUPADAS DO RECIFE:


INTEGRAÇÃO TÉCNICA, INSTITUCIONAL E COMUNITÁRIA

Jaime de Azevedo GUSMÃO FILHO

RESUMO

O trabalho dá um quadro geral do ambiente físico do Recife e mostra como a carta geo-
técnica pode contribuir para a solução dos inúmeros problemas da cidade. O mais sério
deles, hoje, é o geológico de deslizamento, durante o inverno, que atinge as encostas ocupa-
das. A experiência de uma ação integrada, do ponto de vista técnico, institucional e comuni-
tário, mostrou pleno êxito.

ABSTRACT

This paper gives an overview of the physical environment of Recife and shows how the
geotechnical map can contribute to the solution of the several problems of the city. The most
serious problem today is the geological risk of landslides affecting the occuppied slopes
during winter. The experiment of an integrated action envolving the technical, institutional
and populational contributions resulted greatly successful.

1 INTRODUÇÃO 2 DADOS DO MEIO FÍSICO

A Cidade do Recife apresenta várias situa- A Cidade do Recife espalha-se pela planí-
ções de risco geológico, em que os processos cie fluviomarinha, formada pela junção do Rios
do meio físico resultam deflagrados ou subs- Capibaribe e Beberibe ante o Oceano
tancialmente acelerados pela presença do Atlântico, e pelos morros que a circunscrevem,
homem. Efeitos danosos podem-se apresentar, tendo ao norte a Cidade de Olinda e ao sul os
com perdas de vida e bens econômicos, além Montes Guararapes, ambos sítios históricos
do prejuízo na qualidade de vida dentro do ligados ao patrimônio artístico e cultural do
espaço urbano (GUSMÃO FILHO, 1993). Brasil. A cidade tem um subsolo reconhecida-
É o caso dos processos de erosão e desliza- mente complexo, do ponto de vista geotécnico
mento nos morros urbanos ocupados, onde são (GUSMÃO FILHO, 1982). A figura 1 mostra o
freqüentes os escorregamentos de várias formas mapa geológico da cidade.
e extensão. São milhares de pessoas ameaçadas
no inverno, já tendo sido alto o número de víti- 2.1 Os morros
mas fatais, atingindo mais de 50 mortes anuais. O Grupo Barreiras é a unidade geológica
Este trabalho mostra a contribuição da mais importante nos morros ocupados da
carta geotécnica na solução desses problemas e Cidade do Recife. No fim do Terciário, o limite
descreve a experiência desenvolvida nos morros do continente e resultante do basculamento de
do Recife, caracterizada pela integração da ação sua borda, depositou-se o Grupo Barreiras ,
técnica, institucional e comunitária, de modo a constituído de sedimentos de granulometria
reverter o quadro de risco. São apresentados os variada, caracterizados por uma mistura de
condicionantes do meio físico, social e político areias e argilas, com horizontes de seixos subo-
que tiveram rebatimento no trabalho técnico. A rizontais, levemente direcionados para o mar
nova filosofia de trabalho envolve a concepção na forma de tabuleiros elevados (SOm). A
das soluções, a definição das prioridades e a deposição dessa unidade geológica se deu sob a
execução de obras. A avaliação dos resultados forma de leques aluviais e de depósitos fluviais
conclui pelo êxito com a integração de ações e de canais entrelaçados, apresentando as fácies
aponta as dificuldades e limitações dos agentes fluviolagunar e planície aluvial (ALHEIROS et
para garantir a sua continuidade. aI., 1988).

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Os estudos geológicos identificam duas dade à erosão menor do que nos morros da
formações litologicamente distintas do Grupo zona sul onde o solo é mais friável (MELO &
Barreiras dos morros do Recife. O nível supe- MENEZES, 1987, a e b). Tal fato se correlacio-
rior do Grupo Barreiras é representado pelos na com a ocorrência de voçorocas nos morros
sedimentos da Formação Guararapes. Nos mor- da zona sul, de horizontes mais arenosos, e com
ros da zona norte da cidade observa-se a ocor- os deslizamentos mais freqüentes nos morros
rência do Solo Riacho Morno, que se apresenta da zona norte, de sedimentos mais argilosos.
cobrindo e/ou intercalando os sedimentos da Outras unidades geológicas presentes nos
Formação Guararapes. Os sedimentos do Solo morros do Recife são solos derivados do
Riacho Morno são de textura mais argilosa, Cristalino e da Formação Cabo, limitados a
diante dos sedimentos mais arenosos integran- pequenas manchas na zona oeste do município,
tes da Formação Guararapes . A mistura ou onde também a ocupação é mais rarefeita. Já as
intercalação de ambos os sedimentos nos mor- Formações Beberibe e Gramame limitam-se a
ros da zona norte resulta em uma susceptibili- afloramentos sem expressão geográfica.

L
OLINDA

1:<f':1 MANGUES

a PRAIAS

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TERRAÇO MARINHO
INDIFERENCIADO

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BARREIRAS i::'

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CABO

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2 ZKm
FIGURA I - Mapa Geológico do Recife (ALHEIROS et ai. , 1989).

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Quanto às encostas ocupadas, levantamen- tam alguns vestígios em áreas de preservação


to recente de campo abrangendo mais de 200 rigorosa, tendo sido substituída por gramíneas,
localidades do Recife mostra que têm os árvores frutíferas de diferentes portes ou
seguintes valores médios: altura 39m, declivi- mesmo nenhuma cobertura vegetal. A principal
dade 29% e extensão de 314m. A maioria apre- causa do desmatamento pode ser identificada
senta curvas de nível sinuosas (41 ,5%) ou côn- pela ocupação do homem para assentamentos
cavas (35,1 %) e o perfil de encosta tamhé m urbanos. Os morros têm, também, uso intensivo
côncavo (45 ,8%). A forma de cabeceira de dre- como jazidas para aterros.
nagem propicia a concentração do fluxo d' água
no talvegue formando córregos. Em 60 áreas 2.2 A planície
críticas do ponto de vista de risco à população, O espaço confinado entre o morro e a orla
a maioria das encostas é do tipo plana na marítima constitui-se em uma grande planície
forma, subvertical em declividade e tem menos fluviomarinha, cujos sedimentos são bastante
de 20 m de altura (GUSMÃO FILHO, 1990). variáveis. Aí os estudos geológicos para a con-
Constituídos de sedimentos não consolida- fecção da carta geotécnica da cidade identifica-
dos em uma região onde os índices pluviomé- ram dois níveis de terraços marinhos arenosos ,
tricos são, em média, 2.000mm anuais, os mor- correspondentes à penúltima e última transgres-
ros da Cidade do Recife têm na cobertura vege- são marinha, além de depósitos de mangues,
tal um fator de estabilização contra os proces- sedimentos fluviolagunares e aluviões (LIMA
sos erosivos. Da primitiva Mata Atlântica res- FILHO & ALHEIROS , 1990).

Areio fino t pouco argilosa,


amarelado e parda , muito
compacto a compacto .

Areio fino e média 1


siltosa, amarelodo e
cinzo claro, mediana-
mente compacta .

Areia média e fina, siltoso


cinza cloro, medianamente
compacta .

Areio fino e médio t siltosa,


cinzo claro, medianamente
compacto o compacta .

Sondagem interrompido por


solicitação do client • .

FIG URA 2 - Perfil de Sondagem no Terraço Marinho Pleistocênico, Bairro do Ibura, Recife.

II
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Os terraços marinhos pleistocênicos se totais anuais médias para estes dois ciclos são
apresentam em cotas mais elevadas (7 a 8m) e de 1.008mm e 2.483mm, respectivamente. O
oferecem, em geral, excelentes condições de último ciclo identificado, 1963-1986, é um
subsolo para fins de fundações de edifício, a período mais chuvoso, onde 87,5% das precipi-
exemplo da sondagem mostrada na Figura 2, no tações totais anuais são superiores à média do
bairro do Ibura. As areias de quartzo formam ciclo, tendo havido a ocorrência de inúmeros
um arenito compacto a partir dos 3 a 5m de desabamentos com vítimas fatais.
profundidade e os depósitos finos fluviolaguna- O monitoramento das chuvas constitui uma
res se constituem em argila arenosa de consis- estratégia extremamente importante na preven-
tência crescente, geralmente pré-adensadas no ção de acidentes em áreas de risco, como as dos
trecho inferior. morros da Cidade do Recife. Neste sentido uma
Os terraços marinhos holocênicos se apre- significativa contribuição foi trazida pelas pes-
sentam em cotas mais baixas (2 a 5m) e se quisas realizadas visando identificar o mecanis-
adentram pelo restante da planície como indife- mo de movimento de morros de Olinda, que
renciado, em face das modificações trazidas também são do Grupo Barreiras, e ficam na
pelo Rio Capibaribe, que deixou terraços flu- divisa junto aos morros da zona norte do Recife
viais, pântanos turfosos, meandros abandona- (GUSMÃO FILHO et aI., 1987). Há uma
dos e bancos de areia, em sua trajetória para importante interação entre a precipitação local
uma foz depositária dos sedimentos transporta- e o desempenho do maciço. Foi constatado que
dos para o mar e retidos pelos arrecifes à frente a estabilidade das encostas é reduzida com a
do continente. elevação do nível piezométrico que, por sua
As propriedades geotécnicas dos depósitos vez , depende de uma dada configuração de
holocênicos respondem pela complexibilidade chuva. A instabilidade das encostas, numa certa
que caracteriza o subsolo da planície do Recife. época do ano, resulta de uma combinação da
A figura 3 mostra uma sondagem executada na intensidade de chuva acumulada Pac, a partir
praia de Boa Viagem, onde há grande concen- de janeiro até àquela data, com a ocorrência de
tração de edifícios altos. Nela estão indicados uma nova chuva de intensidade mínima 11. Foi
os resultados do ensaio de campo de penetração então definido o parâmetro R=Pac x 11. A
dinâmica (SPT) que reflete as condições de figura 4 mostra a envoltória dos níveis piezo-
capacidade das camadas de areia ou de consis- métricos medidos em três sítios históricos e os
tência das camadas argilosas. Quanto mais correspondentes valores de R . O valor
compacto ou consistente o solo, maior é o valor R=60.000mm2 foi encontrado como representa-
do índice N obtido no ensaio SPT. Observa-se tivo de movimento iminente, porque a partir
que os solos superficiais apresentam N baixo a deste valor de R o nível d'água é máximo e
moderado (N < 10) e o nível d' água é alto. A assim permanece. Por exemplo, se já choveu
topografia plana em cotas baixas favorece a 600mm, basta uma chuva de 100mm para
inundação, sendo generalizado o número de desestabilizar o maciço.
aterros nestas áreas. Os morros do Recife podem ter um desem-
São freqüentes nestes terraços os depósitos penho próximo ou semelhante ao observado em
de argila siltosa com muita matéria orgânica, de Olinda, ainda que possa haver alguma diferença
consistência muito mole a mole (N < 1 a 3), nos resultados devido à diferença no tipo de
alta compressibilidade e espessura acima de ocupação do solo.
25m (COSTA, 1960; FERREIRA et aI. , 1986 ;
COUTINHO & FERREIRA, 1988). 2.4 Geotécnica do Grupo Barreiras
Também é freqüente a ocorrência de turfa O estudo das propriedades geotécnicas dos
trazendo sérios problemas de engenharia urbana. depósitos do Grupo Barreiras começou a ser feito,
de modo sistemático, no início dos anos 80, com
2.3 Pluviometria
as pesquisas desenvolvidas sobre os deslizamen-
O estudo dos registros de 75 anos de chuva tos dos morros de Olinda e Recife, estendendo-se
(1912-1986) mostrou a ocorrência de ciclos a algumas situações na Região Metropolitana
menos chuvosos e ciclos mais chuvosos, sem (GUSMÃO FILHO et ai., 1982; 1986a; 1986b;
existir uma tendência definida quanto ao tempo 1986c; 1987; GUSMÃO FILHO, 1990).
de alternância (MENEZES, 1987). Entretanto, Os resultados das pesquisas revelam que as
para o período de 1940 a 1986 existem dois camadas de argila siltosa têm índice de plastici-
ciclos bem definidos, com 23 anos de amplitu- dade alto, entre 30 e 40%. O material não se
de. O primeiro vai de 1940 a 1962 e se apresen- apresenta saturado e a sua uITÚdade natural é em
ta como o menos chuvoso. O segundo está esta- média 23 %. O ITÚneral argílico preponderante é
belecido de 1963 a 1986. As precipitações caulinita, situando-se na faixa das argilas inati-
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vas e normais. É pré-adensada, com pressões de torno de 10% destes valores. No trecho de com-
pré-adensamento entre 150 e 260 kPa. O pré- pressão virgem, o coeficiente de adensamento
adensamento pode ser atribuído a válias causas, vertical varia de 10.8 a 10.7 m 2/S (GUSMÃO
como ressecamento, erosão supercial e/ou varia- FILHO et al. , 1986a).
ção do nível d'água. A hipótese de ressecamen- Os resultados da pesqui sa também mos-
to é justificada pela existência de grau de satura- tram que a influência da compressão secundária
ção inferior a 100%. (índice de 0,13 a 0,32) na deformação total é
Os parâmetros de compressibilidade obti- pequena comparada com a deformação de com-
dos para os depósitos argilosos do Grupo pressão primária. A influência da água na satu-
Barreiras, nos morros de Olinda vizinhos ao ração do maciço é, assim, mais significativa do
Recife, mostram valores baixos para o índice que a influência da compressão secundária. Daí
de compressão, variando entre 0 ,15 e 0,30, a importância das chuvas e da infiltração efeti-
enquanto o índice de recompres são fica em va, que são fatores mais importantes do que o

COTA DA OO}:A 100.05m DIÂMETRO NOMINAL 00 REVESTIMENTO 2 1' 2"


DATA DE INICIO 28 ,08 .86 =
AMOSTRADOR /li •• 2" "",,,= i3/S"
DATA DE TÉRMINO 04.09.86 MARTELO 65 kg QUEDA 75em

PROF.
CLASSIFICAÇÃO DO MATERIAL
(o)

.
5 ;:- '- '~ 095

B ~ '.
- \
Areio médio e fino, pardo e creme,
pouco compacta (Aterro)

' - - - - - - -- - - - - - --1

1t ~ ..
Areio média e fina, pouco siltosa I
pardo, pouco compacta o medianamente
,. - / . -. compacta .

5,95
19 ! tt

15 II ,;. 7 Areio fino, siltoso, com pouco


~-II matéria oro~nico, cinza J medianamente
2/53 .!I."11 8 compacto Q fôfo
-:;.{ - 9,00
Areio fino, argiloso,
com matéria orgClnico J
cinzo fõfo.

Areio fina J siltoso I com pouco


mohiria orgãnica, cinza J f6fo o
medianamente compacta

Argila siltosa,
organica 1 com
pOUC05 fragmentos
de conchas, cinza
escuro 1 muito mole

Argila siltosa, com


pouca areia fina e
matéria orgllnica ,
cinza, mui to mole
o mole

Argila siltosa J orgânico,


com poucos fragmentos
de Gonchas ,cinzo escuro
média a muito rija

Areia fino e média, siltosa 1


cinzo, medianamente compacto
a muito compacto .

FIGURA 3 - Perfil de Sondagem no Terraço Marinho Holocênico, na Av . Boa Viagem, Recife.

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tempo, nos recalques observados nos monu- resistência residual, na qual deve ser adotado
mentos de Olinda. um valor 2/3 dos indicados no Quadro l, para o
Quanto à resistência dos solos do Grupo ângulo de atrito.
Barreiras, o quadro l apresenta resultados de Em certas camadas do Grupo Barreiras
ensaios de resistência ao cisalhamento direto em foram encontradas propriedades expansivas, a
vários locais da Região Metropolitana do Recife. exemplo do morro Burity (Fig. 6). Na implanta-
Nos morros de Olinda foram realizados ção de um conjunto da COHAB, vários cortes
ensaios de cisalhamento direto com reversão foram dados para execução das plataformas de
múltipla, para vários ciclos consecutivos de assentamento das casas. Na plataforma de cota
ruptura na mesma amostra cisalhada, com inun- S7m, onde o corte correspondeu a mais de 10m,
dação inicial. O ensaio realizado difere do con-
foi constatada a presença de argila expansiva,
vencional para obtenção do ângulo de atrito
provocando danos nas casas de alvenaria ainda
residual 1<\. O resultado pode, então, ser chama-
em construção, após as primeiras chuvas.
do de ângulo de atrito quase residual (Ó qr e seu
Ensaios de laboratório confirmaram uma pres-
valor obtido é 2/3 do ângulo de atrito de pico
(Fig. S). são de expansão entre 11 e 23 kPa, com inun-
Para fins de análise de estabilidade, dação da amostra a partir da umidade natural. A
enquanto as encostas do Grupo Barreiras se pressão de expansão se elevou a mais de 100
saturam com as chuvas de inverno, as pressões kPa quando a inundação da amostra foi feita
neutras se elevam no interior do maciço, e pode após algum tempo de exposição ao ar livre,
se iniciar movimentação lenta para baixo simulando a situação das cavas de fundação no
(GUSMÃO FILHO et al., 1987). Ultrapassada campo. A solução dada foi a substituição de
a resistência 0 de pico, a análise de estabilidade O,SOm do solo expansivo abaixo da cota de fun-
no trecho de argila siltosa é, então, feita pela dação.

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PARÂMETRO R = II x PAC (mm 2 f day )

FIGURA 4 - Relação entre Nível Piezométrico e Precipitação, Olinda (GUSMÃO FILHO et ai., 1987).

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QUADRO I - Parâmetros de Resistência do Grupo Barreiras

LOCAL ZONA DESCRIÇÃO COESÃO ÃNGULO


DO SOLO (kPa) ATRITO
Encosta Olho D'água Norte Argila siltosa 32 24
Casa Amarela/Recife
Alto do Reservatório Norte Areia argilosa 7 31
Corro Joaquim/Recife Areia argilosa 11 28
Alto N.S . de Fátima Norte Areia argilosa 25 17
Boqueirão/Recife amarela
Morro do Carmo Norte Argila siltosa e arenosa 53 18
Olinda/PE
Morro do Carmo .Norte Argila siltosa e arenosa 46 23
Olinda/PE
Monte Guararapes Sul Areia siltosa 10 35
Jaboatão/PE
Monte Guararapes Sul Areia siltosa argilosa 22 31
Jaboatão/PE
Monte Guararapes Sul Silte arenoso 64 35
J aboatão/PE
Morro em Paulista PE Norte Argila arenosa amarela 22 38
Morro em Curado Oeste Areia argilosa 28
Recife/PE siltosa roxa

Morro São Francisco Norte Argila siltosa 50 21


Olinda/PE Argila siltosa 85 22
Lot. Jardim Petrópolis Oeste Areia siltosa 30
Camaragibe/PE
Rua Belmiro Correa Oeste Areia argilosa 15 26
Camaragibe/PE
Morro do Burity Areia argilosa 39 26
Recife/PE Norte na umidade natural
na umid. saturação 30
Morro do Burity Recife/ Norte Argila arenosa 52 25
PE na umidade natural 43 20
na umid. saturação

160
LOCAL 51MB. LL (%) lP(-/.) e/. 2).1, C(kPo)

CARMO 31 42 16

sÃo
120 66 40 32 16
FRANCIS

/' 56 36 50

o
~ 80 4Jqr = ~ ~piCO
1'9
40

40 80 120 160 200 2 o


U (kPa)

FIGURA 5 - Resistência ao Cisalhamento das Argilas, Grupo Barreiras (GUSMÃO FILHO et ai., 1986a).
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Areia fina com oreio médio,


pouco areio orosso, compacto
o medianamente compacto.

Aroila pouco siltosa, poucos veios,


com areio fina de consistincio ~rQ
roseo com veios cinzo-claro e pardo.

Argila pouco siltoso de consisfincio


duro, roxo com veios cinzo - claro,
vermelho .

Areia fino e média, muito pouco


oreio grosso medianamente canpacto.

Areio fino, pouco oreio médio


pouco argilosa, de compacto a
medianamente compacto .

Areio fino, pouco areia média I

pouco oroilosa , medianamente


compacta a compacto, vermelho .

FIGURA 6 - Perfil de Sondagem no Grupo Barreiras, Morro do Burity, Recife.

3 A EXPANSÃO URBANA Pesquisa recente, ainda inédita e realizada pelo


Autor, com base nos mapas de cartografia his-
A Cidade do Recife tem 220 km 2 e cresceu
tórica (MENEZES, 1988) e perfis de sondagens
do mar para o interior, em círculos crescentes,
tomando o espaço das águas dos mangues e dos geotécnicas, mostra o aumento de área nos
alagados por sucessivos aterros. Sua população bairros mais antigos da cidaoe, até o início
hoje é cerca de 1,40 milhão de habitantes. deste século, conforme se verifica no quadro II.

QUADRO II - Crescimento da Cidade do Recife



BAIRROS TEMPO (anos) PERCENTUAL DE AUMENTO
DA ÁREA PRIMITIVA
Recife 275 316%
Santo Antônio 275 276%
Boa Vista 145 118%
Total (ponderado por área) 275 190%

Observa-se que o aumento da área da cida- hoje a drenagem sufocada e em muitos pontos
de, como um todo, foi quase duas vezes a área afunda sob o peso dos aterros.
inicial dos três bairros, em 275 anos de cresci- A história da ocupação da Cidade do Recife
mento. Ou seja, 2/3 da área atual destes bairros é a história dos mocambos, escrita pela popula-
foi tomada do rio, mangue e mar, mobilizando ção pobre que só tem alternativa de moradia se
para aterro um volume de 4 a 5 milhões de invadir áreas urbanas desocupadas, sejam públi-
metros cúbicos, até o início deste século. Tal cas ou privadas. Hoje cerca de 2/3 de seus habi-
volume simplesmente dobrou com o aterra- tantes vivem nesta condição irregular, ocupando
mento dos mangues e alagados da planície os alagados e os morros periféricos.
durante o século XX. Tão ampla foi esta inter- Estima-se em 400.000 habitantes a popula-
venção no seu meio físico, que a cidade tem ção dos morros do Recife. Aí também se con-

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centra um grande índice de pobreza urbana. O entre a urbanização e o meio físico, procuran-
fluxo migratório, acentuado em conseqüência do o entendimento dos condicionantes e os
do êxodo rural, formou um cinturão na perife- mecanismos dos fenômenos envolvidos e a
ria da cidade que concentra, também, a perife- sua distribuição espacial de ocorrência ou de
ria econômica e social da população. potencial manifestação (COUTINHO et ai.,
1990). Os trabalhos foram divididos em 4
4 A CARTA GEOTÉCNICA DO RECIFE subáreas básicas: Cartografia,
Geologia/Geologia de Engenharia, Água
Em sua evolução, o Recife acumulou erros Subterrânea e Geotecnia, com o objetivo de
que o planejamento não foi capaz de evitar. A obter os seguintes produtos:
cidade cresceu ignorando os condicionamentos mapas analíticos ou básicos, pertinentes a
do meio físico. Algumas das conseqüências daí informações e levantamentos específicos de
decorrentes estão entre os atuais problemas da cada uma destas subáreas;
cidade. Estes problemas se caracterizam como mapas de aptidão ou interpretativos, onde
situação de risco geológico podendo apresentar a informação dos mapas básicos é sintetizada
sérios prejuízos financeiros, ambientais e até para um determinado fim ou utilização prática;
perdas de vida. Trabalho recente (GUSMÃO
banco de dados de informação geotécnica,
FILHO, 1993) apresenta um levantamento
obtida junto a empresas executoras, ou usuárias
detalhado dos riscos da cidade: deslizamentos,
de prospecção geotécnica;
subsidência de aterro, uso de água subterrânea,
inundação, erosão marinha e sedimentação. A carta geotécnica da cidade, onde é feita a
Carta Geotécnica do Recife pode ser um dos síntese das informações relevantes em zonas
instrumentos de ajuda para reduzir estes riscos homogêneas para fins de uso do solo.
e disciplinar o uso do solo urbano. O quadro III mostra os estudos temáticos
procedidos por subáreas.
4.1 Histórico
4.3 Resultados
Com os trágicos deslizamentos dos morros
no início dos anos 80, o Laboratório de Solos e O Mapa Geológico, direcionado para fins
Instrumentação, do Departamento de de engenharia e já concluído, contém dez uni-
Engenharia Civil da UFPE, apresentou projeto dades geológicas. O memorial descritivo que o
à FINEP visando à confecção da carta geotéc- acompanha traz informação relevante para fins
nica. Foi exigida contrapartida financeira do de projetos de urbanização e execução de
órgão municipal, que se interessou pelo projeto obras, como as características texturais e pro-
sem contudo dar-lhe apoio. Somente em 1987 o fundidade dos depósitos, o perfil dos solos
convênio foi firmado, por interferência exitosa desenvolvidos, posição do NA, forma do rele-
da mesma Prefeitura Municipal. Ao negociar vo. A resistência relativa dos materiais encon-
vários projetos de pesquisa com a FINEP, a trados pode ser inferida com descrições, a
Empresa de Urbanização do Recife exemplo de presença de argila orgânica mole,
(URBIRECIFE) apresentou o plano de trabalho areia concrecionada, conchas etc. (ALHEI-
nos morros em convênio com a UFPE, no qual ROS, et ai., 1989).
a carta geotécnica foi incluída. A FINEP pro- O Mapa Previsional de Explotação de
pôs o financiamento para a própria URB exe- Água Subterrânea identificou seis zonas homo-
cutá-la, tendo o município defendido e, afinal, gêneas. Com o respectivo memorial descritivo,
a universidade conseguido ser a estância de constitui um guia muito útil para os usuários
competência para um trabalho daquele nível. deste recurso hídrico, contendo dados práticos
A Carta Geotécnica do Recife encontra-se para a captação em função dos resultados espe-
hoje em fase de fechamento, dependendo da rados, além de restrições e recomendações
liberação dos recursos conveniados com a específicas para cada zona (COSTA & SAN-
FINEP. Está em ponto de discussão a escolha TOS, 1990).
das zonas homogêneas, onde os sérios proble- O quadro IV mostra as aplicações da Carta
mas geotécnico-ambientais da cidade estarão Geotécnica do Recife sob o ponto de vista de
incluídos e devidamente avaliados. delimitar as áreas da cidade sujeitas a risco
geológico e de ajudar a prever e solucionar os
4.2 Metodologia
problemas geotécnicos inerentes ao meio físi-
A metodologia utilizada para a confecção co, quando do uso do solo. É dado destaque
da carta geotécnica visou abranger os proble- para os mapas de aptidão cujos subsídios são
mas reais e potenciais oriundos da interação usados nas aplicações da carta geotécnica.

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QUADRO IV - Aplicações da Carta Geotécnica do Recife

MAPA DE APTIDÃO APLICAÇÕES


RISCO GEOLÓGICO PROBLEMA GEOTÉCNICO
• Elementos morfológicos • Deslizamentos • Tratamento dos morros
• Erosão • Jazidas urbanas
• Sedimentação • Assoreamento na planície
• Dragagem
• Áreas de depósitos • Subsidência por aterros • Drenagem da área
de argila mole • Subsidência por uso de • Infra-estrutura/saneamento
água subterrânea • Greide das edificações
• Inundação • Fundações
• Escavações
• Aterros
• Explotação de água • Exaustão • Abastecimento
subterrânea • Contaminação • Aterros sanitários
• Subsidência • Problemas de subsidência

O Plano Diretor do Recife prevê um elen- pio. A ocupação dos terrenos de encosta, de
co de projetos, planos, códigos e controles um modo geral, se dá de forma ilegal, desorde-
para fins de urbanização, preservação ambien- nada e concentradora de problemas, uma vez
tal e implantação de obras de infra-estrutura, que se transformam em áreas de risco geológi-
muitos deles ainda não iniciados. A carta geo- co urbano. O quadro V sintetiza o modelo de
técnica poderá, então, dar relevante contribui- ocupação nos morros da zona norte, oeste e sul
ção ao planejamento da Cidade do Recife. do Recife.
5 MODELO DE OCUPAÇÃO DAS ENCOSTAS São as seguintes as características princi-
As encostas ocupadas do Recife abrangem pais do modelo de ocupação observadas nos
uma área de 33 km>, correspondente à metade morros habitados do Recife:
da área dos morros e 15 % da área do municí- • remoção de vegetação natural;

QUADRO V - Ocupação dos Morros do Recife

PARÂMETROS ZONA NORTE ZONA OESTE ZONA SUL

• Modelo de ocupação • Desordenada por • Conjuntos habitacionais, ·Conjuntos habita-


população de baixa ocupação informal cionais da COHAB
renda, com predomi- consolidada e algumas nos topos planos e
nância de invasões invasões invasões nas encostas
• Área ocupada 1850 ha 425 ha 1.025ha
• População 280.000 hab 8.000 hab 92.000 hab
• Densidade média 150 hablha 20 hab/ha 90 hab/ha

• corte horizontal para o assentamento da • drenagem natural obstaculada por lixo.


casa; Com o tempo, novos cortes são feitos para
• corte íngreme atrás, para um terreno aumentar a área de ocupação da casa, devido
maior; aos novos filhos, ao casamento ou à chegada de
• casa localizada no bordo do talude; outros familiares vindos do meio rural. É um
• plantação de árvores no bordo do talude; quadro que propicia a desestabilização das
• ausência de calhas, biqueiras e calçadas; encostas no inverno, ameaçando a segurança de
• ausência de drenagem pluvial; seus moradores.
• fossa localizada no bordo do talude; Este modelo de ocupação desordenada é,
• lixo jogado sobre o talude; de longe, a maior causa de desequilíbrio das

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encostas, No modelo conservacionista prevale- geológicos e geotécnicos, permitindo, ao


cem os fatores fisiográficos e geológicos sobre termo, o mapeamento das áreas com potenciali-
os antrópicos. Mas no modelo de ocupação dade de risco geológico em diferentes graus. A
caótico prevalecem os efeitos ambientais da partir daí, dispõe-se de um poderoso instru-
ação do homem sobre os outros fatores (GUS- mento para estabelecer prioridades, definir as
MÃO FILHO et ai., 1984). intervenções mais efetivas e instalar sistema de
Análise de risco coordenada pelo Autor, controle nos pontos críticos.
em mais de 200 encostas ocupadas do Recife, Esta programação foi conduzida por uma
ainda inédita, confirma esta conclusão. Os equipe técnica de alto nível, de engenheiros e
resultados mostram que a maior contribuição geólogos do município trabalhando com pro-
para o risco final à erosão e deslizamento des- fessores e pesquisadores da universidade. A
tas encostas é dada pelos fatores ambientais em sua missão era não só gerar a informação técni-
55,4% dos casos, pelos fatores topográficos em ca mas dar, também, formação adequada ao
44,1 % e pelos fatores geológicos em somente pessoal técnico de campo envolvido diretamen-
0,5% do total. Nas encostas onde o grau de te com as comunidades.
risco é alto a muito alto, a contribuição dos Outra ação programada foi discutir com a
fatores ambientais para esta situação de risco população o que significa morar no morro. Era
sobe 75,4%. O uso do solo pelo homem é, necessário que cada morador e cidadão tivesse
assim, a principal causa que induz eventos consciência do que representa a moradia nos
desastrosos. morros e da sua responsabilidade na própria
segurança e na segurança dos outros morado-
6 PROGRAMA DE AÇÃO INTEGRADA res . Foi neste contexto que se desenvolveu a
concepção de tratar o morro como um condo-
Os órgãos municipais vinham convivendo mínio, pois a solução não deve ser individual,
com esta situação de risco geológico perma- mas coletiva. Assim, além da estratégia de ação
nente nos morros e atuando mais sobre o técnica, partiu-se para tratar o problema di reta-
impacto das pressões e dos fatos consumados mente com a população, mobilizada através de
do que do planejamento através de ações pro- suas lideranças.
gramadas, a exemplo de: Esta ação integrada de técnicos e popula-
• intervenções tópicas, isoladas, sem se ção tem a sua jutificativa no fato de que o con-
interligarem na lógica de um tratamento trole para assegurar estabilidade em áreas de
ambiental da área em questão; risco deve ser efetuado através de medidas de
• ênfase na construção de muros de arrimo caráter corretivo, seguido de outras de caráter
de pedra atrás das habitações, sem que fossem preventivo, necessitando de um permanente
parte de uma intervenção global; acompanhamento e conservação das soluções
• atendimento a pleitos individuais dos adotadas.
moradores, encaminhados por políticos;
• trabalho concentrado na estação das chu- 7 O PROCESSO E OS RESULTADOS
vas em decorrência dos seus efeitos calamito-
sos. A nova concepção instalou um processo de
No triênio 1986/1988 a nova administra- intervenção nas áreas de morro do Recife com
ção municipal deu prioridade à questão dos o qual as popul nções e técnicos passaram a
morros , resultando numa programação de conviver.
ações e responsabilidades técnicas, institucio- Inicialmente foi realizado um levantamen-
nais e da população envolvida. As ações deri- to geológico-geotécnico de todas as áreas de
vam do entendimento de como se comportam o instabilidade, resultando num conjunto de
meio físico e o corpo social ocupante da área informação especializada obtida através de
(GUSMÃO FILHO, 1987). visitas, estudos e pesquisas feitas nos morros.
Ao invés de soluções individuais com A própria população informava diretamente
intervenção tópica e emergencial, partiu-se aos técnicos as áreas consideradas críticas pelo
para conhecer a unidade receptora, cujas carac- povo. Com base em todos estes dados e no
terísticas morfológicas, litológicas e hidráulicas registro de acidentes ocorridos nos últimos
devem ser devidamente avaliadas na definição anos, as áreas foram, tentativamente, agrupadas
de soluções globais para reduzir o risco geoló- em quatro categorias de risco e degradação
gico dos deslizamentos. ambiental (MELO et aI., 1987 c).
A partir desta conceituação, a metodologia A partir destes grupamentos eram então
de trabalho envolve estudos e pesquisas das estabelecidas as áreas prioritárias e as solu-
características gerais da área e de cada encosta, ções a adotar. Considerando a importância da
da cobertura vegetal, dos dados hidrológicos, participação da população na solução dos pro-
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Rev. IG. São Paulo, Volume Especial 1995

blemas, a seleção das áreas era, também, com- Para ampliar a participação e o conheci-
patibilizada com o grau de organização e rei- mento da população rea li zavam-se palestras
vindicação do movimento popular representati- sistemáticas com a apresentação de slides pelos
vo em cada área. técnicos, para levar a população à tomada de
Definida a área, partia-se para elaborar o consciência de suas responsabilidades e apre-
projeto básico, estabelecendo as intervenções. sentar as responsabilidades do poder público.
A partir do projeto básico iniciava-se o ciclo de Aliado a isso, uma cartilha sobre os desli-
negociação com as comunidades, através de zamentos dos morros em linguagem popular
uma série de reuniões com as entidades e gru- chamava a atenção para a necessidade da cons-
pos sociais organizados e a presença dos diri- ciência coletiva dos moradores , difundia ensi-
gentes, engenheiros e técnicos da área social, namentos e cobrava a conservação das obras já
com o objetivo de: concluídas.
• expor a filosofia do programa e projetos Este processo, pela primeira vez executado
básicos de infra-estrutura física; na administração do Recife, permitiu total
• propor a participação e o envolvimento transparência junto à população do conteúdo
dos moradores das áreas de intervenção; do projeto. A população já conhecia, quando do
• propor a formação de comissões para início das intervenções, o que seria e o que não
acompanhar e fiscalizar as obras; seria executado, permitindo sua fiscalização
• criar foruns semanais, onde são discuti- real. O processo, inclusive, também explicitava
dos e encaminhados os problemas das obras. os grupos de moradores que não seriam atendi-

QUADRO VI - Experiência de ação integrada nos morros do Recife

AGENTES PERFIL EXIGIDO DIFICULDADES


• Gestor municipal • Reconhecer as camadas • Visão elitista do mundo embasada
como interlocutor privilegiado em compromissos políticos com o
na definição do seu espaço. conservadorismo.
• Compromisso com a • Uso do sigilo para barganhar
transparência. vantagens.
• Aceitar a prática da • Compromissos eleitorais ; demora
negociação sobre a prática nas negociações em face da rapidez
clientelista. das decisões isoladas.

• Instituição • Democratizar internamente a • Esferas de poder na instituição que


instituição, como rebatimento não dividem as decisões.
da ação externa.
• Assunção do servidor público • Baixos salários como defesa do
à condição de "servo do povo" imobilismo e corporativismo.
• Criar canais de comunicação • Burocracia como forma de evitar
informal com a população. mudanças no poder.

Técnicos • Qualificação para dar soluções • Formação técnica dirigida para dar
técnica e socialmente soluções caras e complicadas.
apropriadas. • Falta de cultura geral
• Trabalhar com equipe • Doutrina de autovalorização dos
multidisciplinar. técnicos como os donos da verdade
• Discutir o trabalho técnico • Cultura da pequena burguesia de
com as comunidades envolvidas, desprezo pelo conhecimento popular.
aceitando-as como interlocutoras
na solução, no cronograma,
na fiscalização e na avaliação
de qualidade das obras .

Comunidade • Organização em entidades • Luta política, quebrando a unidade


representativas. dos pleitos.
• Contrapartida de responsabi lidades • Falta de prática política como
que a negociação exige. cidadãos.
• Visão política do processo de • Nível de carência da população,
participação como resgate da que luta por ações imediatas .
cidadania.
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dos em suas reivindicações, seja por não haver grada. O quadro VI mostra o perfil esperado
razões técnicas, ou por haver outras prioridades dos agentes e as dificuldades para obtê-lo.
mais urgentes.
O processo de participação popular e de 8 CONCLUSÕES
negociação coletiva, quando instalado concre-
tamente, educa e conscientiza a população dos É apresentado um quadro da realidade físi-
caminhos reais para resolver seus problemas, ca e ambiental da Cidade do Recife, bem como
qualifica a intervenção da prefeitura e aumenta a contribuição que a carta geotécnica, atual-
a capacidade da cidade de resolver seus proble- mente em condições de fechamento , pode vir a
mas. No caso do Recife, ela permitiu, também , dar para a solução dos inúmeros problemas
outros ganhos: urbanos.
• implantar uma concepção nova e ade- Entre estes, estão as encostas ocupadas ,
quada na solução de problemas técnicos até sob o risco de deslizamento no inverno . A
então resolvidos pelo clientelismo; experiência de uma ação integrada do ponto de
• desmistificar o muro de arrimo junto à vista técnico, institucional e comunitário, reve-
população pobre, como única solução para os lou-se de pleno êxito. O trabalho faz a descri-
problemas dos morros; ção do processo, as dificuldades encontradas e
• ampliar a capacidade e a diversidade téc- os resultados obtidos.
nica das equipes do poder público no trato mul- A experiência nos morros do Recife foi
tidisciplinar; possível em face de um contexto político
• assegurar segurança à população, não excepcionalmente favorável. A isso se somou a
tendo ocorrido perda de vida por deslizamento decisão de um grupo técnico, de vários saberes,
naquele período. de contribuir com o seu trabalho para uma efe-
Por outro lado, são inúmeras as dificulda- tiva melhoria na segurança e qualidade de vida
des em um processo como este, de ação inte- de milhares de concidadãos.

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Endereço do autor:
Jaime de Azevedo Gusmão Filho - Uni versidade Federal de Pernambuco - A v. Agamenon Magalhães, 2.901 - Espinheiro - 52.02 1-170-
Recife - PE - Brasil.

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