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Universidades Lusíada

Cardoso, Tiago Barros, 1991-


Requalificação do tecido urbano através do uso
da praça
http://hdl.handle.net/11067/3751

Metadados
Data de Publicação 2018-02-19
Resumo A presente dissertação tem como objeto de estudo a análise da evolução
da praça ao longo dos tempos e o seu papel na requalificação do tecido
urbano, tendo como casos de estudo a Praça do Martim Moniz em
Lisboa e a Praça de Lisboa na cidade do Porto. A praça é o elemento
de maior permanência humana nas cidades, e um dos mais antigos
elementos morfológicos urbanos na cultura ocidental. Por conseguinte as
transformações de espaços públicos em praça possibilitam o encontro e a
socialização por part...
The purpose of this dissertation is to analyze the evolution of the square
over time and its role in the requalification of the urban tissue, taking as
a case of study the Praça do Martim Moniz in Lisbon and the Praça de
Lisboa in Porto. The square is the element with most human permanence
in the cities, and one of the oldest urban morphological elements in
Western culture. Consequently, the transformation of public spaces into
squares makes it possible for people to meet and socialize with each...
Palavras Chave Praças, Praças - Portugal - Lisboa, Praças - Portugal - Porto, Praças -
História, Praça Martim Moniz (Lisboa, Portugal), Praça de Lisboa (Porto,
Portugal)
Tipo masterThesis
Revisão de Pares Não
Coleções [ULL-FAA] Dissertações

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http://repositorio.ulusiada.pt
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura

Requalificação do tecido urbano através


do uso da praça

Realizado por:
Tiago Barros Cardoso
Orientado por:
Prof.ª Doutora Arqt.ª Susana Maria Tavares dos Santos Henriques

Constituição do Júri:

Presidente: Prof. Doutor Horácio Manuel Pereira Bonifácio


Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Susana Maria Tavares dos Santos Henriques
Arguente: Prof. Doutor Arqt. Bernardo D'Orey Manoel

Dissertação aprovada em: 15 de Fevereiro de 2018

Lisboa

2017
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A

Facu ldad e de Arqui tectura e Artes

Mestrado Integrado em Arquitectura

Requalificação do tecido urbano através do uso da


praça

Tiago Barros Cardoso

Lisboa

Novembro 2017
U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A

Facu ldad e de Arqui tectura e Artes

Mestrado Integrado em Arquitectura

Requalificação do tecido urbano através do uso da


praça

Tiago Barros Cardoso

Lisboa

Novembro 2017
Tiago Barros Cardoso

Requalificação do tecido urbano através do uso da


praça

Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e


Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitectura.

Orientadora: Prof.ª Doutora Arqt.ª Susana Maria


Tavares dos Santos Henriques

Lisboa

Novembro 2017
Ficha Técnica
Autor Tiago Barros Cardoso
Orientadora Prof.ª Doutora Arqt.ª Susana Maria Tavares dos Santos Henriques
Título Requalificação do tecido urbano através do uso da praça
Local Lisboa
Ano 2017

Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação

CARDOSO, Tiago Barros, 1991-

Requalificação do tecido urbano através do uso da praça / Tiago Barros Cardoso ; orientado por
Susana Maria Tavares dos Santos Henriques. - Lisboa : [s.n.], 2017. - Dissertação de Mestrado
Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa.

I - HENRIQUES, Susana Maria Tavares dos Santos, 1970-

LCSH
1. Praças
2. Praças - Portugal - Lisboa
3. Praças - Portugal - Porto
4. Praças - História
5. Praça Martim Moniz (Lisboa, Portugal)
6. Praça de Lisboa (Porto, Portugal)
7. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
8. Teses - Portugal - Lisboa

1. Plazas
2. Plazas - Portugal - Lisbon
3. Plazas - Portugal - Oporto
4. Plazas - History
5. Praça Martim Moniz (Lisbon, Portugal)
6. Praça de Lisboa (Porto, Portugal)
7. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
8. Dissertations, Academic - Portugal - Lisbon

LCC
1. NA9070.C37 2017
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer à minha família pelo apoio prestado durante os cinco anos do
curso de Arquitectura

Quero agradecer também a todos os docentes que contribuíram para a minha formação
académica, em especial à Professora Susana Henriques dos Santos pela ajuda na
elaboração do presente trabalho e por todo o conhecimento transmitido.

Agradeço aos meus amigos, pelas conversas e discussões que tivemos, e que
colaboraram para a conclusão deste trabalho.
Os que fazem a composição da cidade
empenham-se em nivelar os tecidos urbanos
sob um tecto uniforme, os compositores das
praças empenham-se em que os edifícios
que marcam a praça sejam perceptíveis de
longe e de perto, introduzindo modos novos
de apreensão da divisão interna do espaço.

(Delfante, 1997, p. 150)


APRESENTAÇÃO

Requalificação do tecido urbano através do uso da praça.


Tiago Barros Cardoso

A presente dissertação tem como objeto de estudo a análise da evolução da praça ao


longo dos tempos e o seu papel na requalificação do tecido urbano, tendo como casos
de estudo a Praça do Martim Moniz em Lisboa e a Praça de Lisboa na cidade do Porto.

A praça é o elemento de maior permanência humana nas cidades, e um dos mais


antigos elementos morfológicos urbanos na cultura ocidental. Por conseguinte as
transformações de espaços públicos em praça possibilitam o encontro e a socialização
por parte das pessoas. Contudo, a um nível mais formal a praça serve como elemento
de articulação quando o tecido urbano se encontra desunido.

Se a praça é inexistente em certas culturas, no ocidente é, por natureza, uma condição


necessária para o bom funcionamento urbano. Esta importância establece-se baseada
na Ágora grega e no Fórum romano como suportes espaciais de instituições cívicas das
quais nos consideramos herdeiros. No final da Idade Média e na Idade Moderna, a praça
teve múltiplas funções - comerciais, políticas, sociais e religiosas. Circundada pelos
edifícios públicos e privados de maior importância da cidade, reforçou o seu carácter
colectivo e deu-lhe uma importância destacada se comparada com os restantes espaços
públicos urbanos.

Contudo nos dias de hoje, a praça pública caracteriza-se por ser um lugar de encontro,
um espaço de paragem e reflexão, ou um simples vazio urbano circundado por edifícios,
sendo que a função de embelezar a cidade recaiu de forma a responder às principais
necessidades dos centros urbanos.

Palavras-chave: Praça, Praça do Martim Moniz, Praça de Lisboa, Tecido Urbano,


Requalificação.
PRESENTATION

Requalification of the urban tissue through the use of the square

Tiago Barros Cardoso

The purpose of this dissertation is to analyze the evolution of the square over time and
its role in the requalification of the urban tissue, taking as a case of study the Praça do
Martim Moniz in Lisbon and the Praça de Lisboa in Porto.

The square is the element with most human permanence in the cities, and one of the
oldest urban morphological elements in Western culture. Consequently, the
transformation of public spaces into squares makes it possible for people to meet and
socialize with each other. However, at a more formal level the square serves as an
articulation when the urban tissue is disjoined.

If the square is non-existent in certain cultures, in the West it is by nature a necessary


condition for good urban functioning. This importance is based on the Greek Agora and
the Roman Forum as spatial supports of civic institutions of which we consider heirs. At
the end of the Middle Age and in the Modern Age, the square had multiple functions -
commercial, political, social and religious. Surrounded by the most important public and
private buildings of the city, reinforced its collective character and gave it a prominent
importance if compared with the remaining urban public spaces.

However today, the public square is characterized as a meeting place, a place to stay
and reflect, or a simple urban emptiness surrounded by buildings, wich function of
beautifying the city fell in order to respond to the main needs of urban centers.

Keywords: Square, Praça do Martim Moniz, Praça de Lisboa, Urban Tissue,


Requalification.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1– Plano de Mileto – Ásia Menor em 479 a.C. (Galantay apud Lamas, 2014,
142) ............................................................................................................................ 20
Ilustração 2– Ágora de Mileto (Delfante, 1997, P. 62) ................................................. 20
Ilustração 3– Os Foruns de Roma. (Kiepert e Mulsen apud Delfante, 1997, p. 77) ..... 22
Ilustração 4– Ágora de Pompeia. (Kirpert e Mulsen apud Delfante, 1997, p. 78) ........ 22
Ilustração 5– Tecido urbano de Évora e identificação do Fórum romano (Martins apud
Coelho, 2015, p. 19). .................................................................................................. 23
Ilustração 6–O Fórum Romano sobre o tecido urbano contemporâneo de Évora..
(Martins apud Coelho, 2014, p. 149). .......................................................................... 24
Ilustração 7– Evolução da Praça de São Marcos. (Delfante, 1997, P. 125) ................ 27
Ilustração 8 – Siena. Praça da Igreja e do Mercado. (Delfante, 1997, P. 111) ............ 27
Ilustração 9– Roma. O Capitólio. (Delfante, 1997, P. 165) .......................................... 30
Ilustração 10– Bolonha. A Piazza Maggiore. (Delfante, 1997, P. 163) ........................ 31
Ilustração 11– Roma. Plano de Sixto V. (Goitia, 2014, P. 109) ................................... 32
Ilustração 12– Roma. Praça de São Pedro (Goitia, 2014, P. 138)............................... 33
Ilustração 13– Versalhes (Goitia, 2014, P. 140) .......................................................... 33
Ilustração 14– Diferentes tipos de praça. (Kier apud Lamas, 2014, p. 101) ................ 38
Ilustração 15- A Praça em Portugal. Tábua comparativa. (Coelho, 2014,P. 23) ......... 52
Ilustração 16– Tecido homogéneo da área central de Lisboa.(Coelho, 2014, P. 30) ... 55
Ilustração 17– A Mouraria no fim do século XIX, baseada nas plantas de Filipe
Folque.(Ilustração nossa) ........................................................................................... 62
Ilustração 18- Arco do Alegrete após demolição do palácio. (Portugal, 1947a) ........... 64
Ilustração 19– Resultado das demolições. (Portugal, 1947b)...................................... 64
Ilustração 20- Planta dos pavilhões provisórios, 1950. (Almeida, 2016. P. 144).......... 65
Ilustração 21- Fotografia dos mesmos pavilhões em 1952. (APS, 2017). ................... 65
Ilustração 22- “Apresentação” do Estudo de conjunto do Martim Moniz. (Almeida, 2016,
P.146). ........................................................................................................................ 66
Ilustração 23- “Perspectiva geral” do Estudo de conjunto do Martim Moniz. (Almeida,
2016, P.146). .............................................................................................................. 66
Ilustração 24- Proposta de José Lamas e Carlos Duarte em 1980. (Almeida, 2016,
P.157) ......................................................................................................................... 67
Ilustração 25- Proposta de José Lamas e Carlos Duarte em 1980. Perspectiva
axonométrica. (Lamas, 2014, P. 475) ......................................................................... 68
Ilustração 26- Proposta de José Lamas e Carlos Duarte em 1980. Esquiços de
ambientes urbanos. (Lamas, 2014, P. 475) ................................................................ 68
Ilustração 27- Plano de pavimentos desenhos por Eduardo Nery. (Almeida, 2016, P.
160) ............................................................................................................................ 69
Ilustração 28– A Praça do Martim Moniz. (Guerreiro, 2017)........................................ 70
Ilustração 29– A Praça do Martim Moniz, Luís Pavão, 2000. (Revelar Lx, 2005). ....... 71
Ilustração 30- Pormenor do revestimento arbóreo da Praça do Martim Moniz.( Ilustração
nossa, 2017) ............................................................................................................... 72
Ilustração 31– A Praça do Martim Moniz e o seu envolvente, tendo como base um
ortofotomapa da cidade.( Ilustração nossa, 2017) ...................................................... 73
Ilustração 32- Quiosque da praça do Martim Moniz. (Ilustração nossa, 2017) ............ 74
Ilustração 33– A Torre de Péla ( Ilustração nossa, 2017) ............................................ 74
Ilustração 34- Muro alusivo à antiga Cerca Moura. (Ilustração nossa, 2017) .............. 75
Ilustração 35- Tecido homogéneo e elementos de articulação da área central de
Lisboa.(Coelho, 2014, P. 30) ...................................................................................... 76
Ilustração 36-Articulação da Praça do Martim Moniz com o seu envolvente, tendo como
base um ortofotomapa da cidade. (Ilustração nossa, 2017) ........................................ 76
Ilustração 37- Mercado do Anjo. (Cunha, 2015) .......................................................... 78
Ilustração 38- Mercado do Anjo, (Cunha, 2015) .......................................................... 79
Ilustração 39- Mercado do Anjo, 1813. (SOCIEDADE SECRETA DE REABILITAÇÃO
URBANA, 2010).......................................................................................................... 80
Ilustração 40– Área envolvente do Recolhimento do Anjo em 1813, baseada na planta
José Francisco de Paiva. (Ilustração nossa) ............................................................... 80
Ilustração 41- Mercado do Anjo, 1839. (SOCIEDADE SECRETA DE REABILITAÇÃO
URBANA, 2010).......................................................................................................... 81
Ilustração 42- Mercado do Anjo, Estudo do projecto de reabilitação. José Marques da
Silva, 1905. (PORTO. Câmara Municipal. Arquivo Municipal (1904-1906) .................. 82
Ilustração 43- Mercado do Anjo, Plantas do projecto de reabilitação. José Marques da
Silva, 1905. (PORTO. Câmara Municipal. Arquivo Municipal (1904-1906) .................. 82
Ilustração 44- Mercado do Anjo, alçado sobre a rua da academia. José Marques da
Silva, 1905. (PORTO. Câmara Municipal. Arquivo Municipal (1904-1906) .................. 82
Ilustração 45- Mercado do Anjo, alçado sobre a rua da Carmelitas. José Marques da
Silva, 1905. (PORTO. Câmara Municipal. Arquivo Municipal (1904-1906) .................. 83
Ilustração 46- Mercado do Anjo, início do século XX. (SOCIEDADE SECRETA DE
REABILITAÇÃO URBANA, 2010) ............................................................................... 83
Ilustração 47– Proposta de Pedro Arrozeiro Ribeiro. (Divisare, 2014). ....................... 85
Ilustração 48– Proposta de Design-Factory (gmbh, 2011) .......................................... 86
Ilustração 49– A Praça de Lisboa. (Nunes, 2017) ....................................................... 87
Ilustração 50– Relação da Torre dos Clérigos com o nível superior da praça. (Ilustração
nossa, 2017) ............................................................................................................... 88
Ilustração 51– Relação da Torre dos Clérigos com os dois nível médio da praça
(Ilustração nossa, 2017) ............................................................................................. 88
Ilustração 52 - Planta de implantação da Praça de Lisboa, Pedro Blaonas 2010.
(Balonas & Menano - Architectural and Urban Concept, 2013). .................................. 90
Ilustração 53- Corte da praça paralelo à Torre dos Clérigos, (Balonas & Menano -
Architectural and Urban Concept, 2013). .................................................................... 90
Ilustração 54- Corte da praça paralelo à Reitoria da Universidade do Porto, (Balonas &
Menano - Architectural and Urban Concept, 2013). .................................................... 91
Ilustração 55– Esquiço do lugar, relação com a Torre dos Clérigos. (Ilustração nossa,
2017) .......................................................................................................................... 91
Ilustração 56– Esquiço do lugar. (Ilustração nossa, 2017) .......................................... 91
Ilustração 57 – A relação entre os níveis da praça. (Ilustração nossa, 2017). ............. 92
Ilustração 58 – A relação entre os níveis da praça. (Ilustração nossa, 2017). ............. 92
Ilustração 59– Articulação da praça de Lisboa com o seu envolvente, tendo como base
o ortofotomapa da cidade. (Ilustração nossa, 2017) ................................................... 93
Ilustração 60 - A praça de Lisboa e o seu envolvente tendo como base um ortofotomapa
da cidade. (Ilustração nossa, 2017) ............................................................................ 94
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS

CRUARB - Comissariado para a Renovação Urbana da Área de Ribeira/Barredo

EPUL - Empresa Pública de Urbanização de Lisboa

CML - Câmara Municipal de Lisboa

CMP - Câmara Municipal do Porto


SUMÁRIO

1. Introdução .............................................................................................................. 15
2. Evolução da definição de praça no tecido urbano .................................................. 17
2.1. A cidade na Antiguidade .................................................................................. 17
2.1.1. A Ágora: praça grega................................................................................ 19
2.1.2. O Fórum: praça romana ........................................................................... 21
2.2. A praça na cidade medieval ............................................................................ 25
2.2.1. A praça do mercado e a praça da igreja. .................................................. 25
2.2.2. As praças Maiores .................................................................................... 28
2.3. A praça na cidade Moderna............................................................................. 28
2.3.1. A praça no Renascimento......................................................................... 29
2.3.2. A praça Barroca........................................................................................ 32
2.4. A praça na cidade industrial ............................................................................ 34
2.5. A praça no movimento Moderno ...................................................................... 36
3. Estrutura do tecido urbano: caracterização da praça .............................................. 41
3.1. Acessibilidade e mobilidade ............................................................................ 42
3.2. Área verde ....................................................................................................... 44
3.3. O desenho do espaço público ......................................................................... 46
3.4. Design do mobiliário urbano ............................................................................ 48
3.5. Relação com o património histórico ................................................................. 50
3.6. Monumentalização do Tecido Urbano ............................................................. 53
3.7. Vivências sociais ............................................................................................. 57
4. Casos de estudos .................................................................................................. 61
4.1. Praça do Martim Moniz: Lisboa ....................................................................... 61
4.1.1. Análise histórica ....................................................................................... 61
4.1.2. Propostas de Reabilitação: ....................................................................... 63
4.1.3. Praça na actualidade ................................................................................ 70
4.2. Praça de Lisboa: Porto .................................................................................... 77
4.2.1. Análise Histórica ....................................................................................... 77
4.2.2. Do Recolhimento do Anjo ao Mercado do Anjo......................................... 78
4.2.3. Propostas de reabilitação ......................................................................... 82
4.2.4. Praça na actualidade ................................................................................ 84
5. Conclusão .............................................................................................................. 95
Referências ................................................................................................................ 99
Bibliografia ................................................................................................................ 109
Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

1. INTRODUÇÃO

Da Ágora grega aos dias de hoje, o espaço físico da praça sofreu inúmeras
transformações que de certa forma alteraram as suas características físicas, mas
também as suas características conceptuais. Até à revolução industrial, a praça
apresentou-se sempre como o espaço público de excelência. Contudo, o
desenvolvimento urbano ocorrido na segunda metade do século XIX transferiu as
características urbanas da praça pública para as ruas e avenidas. Actualmente as
praças apresentam-se como os principais centros urbanos e em novas tipologias de
espaço público. O papel da praça na constituição de tecido da cidade também mudou
consoante o tempo. Actualmente ela é essencial na consolidação do mesmo, ou seja,
cabe à praça a função de interligar os vários tecidos urbanos existentes numa cidade,
precisamente nos pontos onde estes se encontram interrompidos. Na maior parte das
vezes a solução consiste na reabilitação de um espaço degradado, onde este sofre uma
profunda alteração transformando-se em praça pública.

A motivação para a escolha do tema da dissertação teve por base as várias visitas
efectuadas à Praça do Martim Moniz em Lisboa e à Praça de Lisboa na cidade do Porto,
no âmbito da disciplina de Projecto. Com essas visitas surgiu o interesse em aprofundar
os conhecimentos na área da requalificação de espaços públicos em centros históricos,
principalmente o caso das praças. Por conseguinte, os dois casos de estudo abordam
precisamente a reabilitação de duas praças que, ao longo do tempo, sofreram inúmeras
intervenções, alterando a configuração do tecido urbano das respectivas cidades e que,
dessa forma, me motivaram a abordar o tema da requalificação do tecido através da
reabilitação de uma praça.

Neste sentido, no primeiro capítulo da presente dissertação é abordado o conceito de


praça e a sua evolução, desde a primeira praça que a civilização ocidental conheceu –
a Ágora – até às praças na actualidade. São também descritas as funções que a praça
exerceu enquanto elemento morfológico urbano e a sua importância nas vivências
sociais que nela ocorreram ao longo dos séculos.

Por sua vez o segundo capítulo debruça-se na caracterização da praça e no seu papel
na estrutura do tecido urbano através de vários tópicos, sendo que cada um destes
tópicos se refere a um factor que se considera fulcral na reabilitação de uma praça. Por
sua vez, é analisada a importância dessa mesma reabilitação na consolidação dos
tecidos urbanos de Lisboa e Porto em relação com os casos de estudo.

Tiago Barros Cardoso 15


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

O terceiro capítulo consiste na análise dos dois casos de estudo presentes na


dissertação: A Praça do Martim Moniz em Lisboa e a Praça de Lisboa no Porto sofreram
sucessivas alterações desde a sua existência. Porém, na actualidade, verifica-se as
melhorias que as respectivas reabilitações trouxeram, quer seja na consolidação dos
tecidos das cidades, na regeneração da paisagem urbana ou no aumento da
permanência das pessoas nas respectivas praças.

Por último, o quarto capítulo foca-se na conclusão da definição do conceito de praça e


nos benefícios que esta impõe no tecido urbano. Contudo, são também apresentadas
as conclusões do estudo da Praça do Martim Moniz e da Praça de Lisboa, enumerando,
respectivamente, as melhorias que as praças trouxeram nos tecidos urbanos das
cidades de Lisboa e Porto.

No desenvolvimento do trabalho foram realizadas várias visitas aos lugares referentes


aos casos de estudo, Praça do Martim Moniz em Lisboa, e Praça de Lisboa no Porto,
tendo sido também efectuados desenhos e fotografias dos locais, no sentido de melhor
conhecer os espaços em análise.

Como leituras de referência destacaram-se três obras de autores fundamentais na


história do urbanismo nos quais se realçam: “A grande Historia da Cidade” de Charles
Delfante, “Morfologia urbana e desenho da cidade” de José Ressano Garcia Lamas, e
“Breve História do Urbanismo” de Fernando Goitia.

Tiago Barros Cardoso 16


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

2. EVOLUÇÃO DA DEFINIÇÃO DE PRAÇA NO TECIDO URBANO

2.1. A CIDADE NA ANTIGUIDADE

O capítulo com que se inicía esta dissertação consiste numa análise histórica da
evolução da praça baseada em vários autores. A análise efectuada é dividida por
periodos históricos que marcaram uma profunda mudança no aspecto formal da praça,
mas também na sua função no ordenamento da cidade e a sua posição hierárquica no
tecido urbano.

As cidades Clássicas, tal como ficaram conhecidas, desenvolveram-se devido à


prosperação das civilizações Grega e Romana, que se baseavam em alargamentos
significativos de pequenas áreas rurais e que, devido à sua localização estratégica
prosperavam através de trocas comerciais. No caso da Grécia, segundo Charles
Delfante1 a partir do século VII a.C. “Passa então a ser normal que as cidades gregas
sejam construídas em altos ou em zonas dissimuladas e que as preocupações tenham
sido, por ordem, a defesa, o serviço, a beleza.” (Delfante, 1997, p. 49). O mesmo afirma
que “as cidades gregas têm, por um lado, uma acrópole seguida de uma cidade baixa
e, por outro, a ágora, centro da vida política e económica da cidade e da sua região”.
(Delfante, 1997, p. 49)

No auge da civilização grega as cidades apresentavam‐se como amontoados de


construções em que as ruas eram pequenas passagens sendo quase sempre
extremamente estreitas. Como refere Fernando Goitia2, “ A explicação evidente reside
no facto de as cidades do mar Egeu terem sido construídas em locais muito mais
acidentados, onde era necessária uma adaptação à topografia do terreno”. (Goitia,
2014, p.46)

A cidade de Roma, ao contrário das cidades-estado gregas, é a base a partir da qual


todo o Império Romano se desenvolve e é governado. Segundo F. Goitia, Roma deixou
de ser conjunto de edificações desordenadas para se transformar numa cidade
organizada.

1 Charles Delfante 1926-2012 - Arquitecto e urbanista francês, foi co-fundador e presidente do Instituto de
Urbanismo de Lyon. Foi também membro da Academia de Arquitectura de França e professor na
Universidade de Lyon. (Delfante 1997, contracapa)
2 Fernando Chueca Goitia 1911–2004 - Arquitecto, historiador de arte e ensaísta espanhol. (Goitia, 2014,

contracapa)

Tiago Barros Cardoso 17


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

A cidade tinha deixado de ser o amontoado de casas humildes, dominadas pelo palácio-
templo de um rei divinizado, para se converter numa estrutura mais complexa, onde
dominavam os elementos destinados a uma utilização geral: praças, mercados, pórticos,
edifícios da admistração pública, teatros, estádios, etc. (Goitia, 2014, p.48)

Os romanos eram um povo eminentemente prático e organizador, que procurava as


soluções simples e claras. Segundo o mesmo autor os romanos procuravam realizar
traçados regulares e geométricos e, quando isso não era possível, integravam nas
cidades conjuntos urbanístico-arquitetónicos de grande aparato que constituiam em si
próprios a parte mais impressionante e majestosa da cidade. O mesmo autor defende
que “[...] as cidades mais regulares eram as de origem militar, [...] e configuravam um
perímetro rectangular, geralmente rodeadas de muralhas.” (Goitia, 2014, p.56).

Estas cidades eram divididas por duas ruas principais, o cardo e o decumannus, como
refere Lewis Mumford3, “[...] o cardo, que corria de norte para sul, e o decumannus, que
corria de leste para oeste[...]”.(Mumford, 1982, p. 229).

3 Lewis Mumford (1895-1990) -Foi um crítico de arquitetura norte-americano, destacando-se na sua


investigação sobre a Escola de Chicago e por ser um ferveroso adepto da obra de Frank Lloyd Wright
(Wojtowicz, 1996, contracapa)

Tiago Barros Cardoso 18


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

2.1.1. A ÁGORA: PRAÇA GREGA

O uso da praça como local de encontro provém da Antiguidade Clássica,


desenvolvendo-se durante a ascensão das cidades Gregas através da Ágora.

A Ágora era um importante lugar da cidade, situando-se na zona mais plana, que servia
de centro politico da cidade e local de reunião para as várias classes sociais. “ A sua
função social e política adquire cada vez mais importância e os edifícios públicos
formam uma espécie de «remate arquitectónico» desta praça, com pórticos
ornamentados com altares, fontes e estátuas.” (Delfante, 1997, p. 61)

Nela situavam-se os edifícios de maior importância politíca e os mercados onde


aconteciam as trocas financeiras entre cidadãos. Segundo Goitia “Estes edifícios
estavam geralmente situados à volta da Ágora ou praça pública, na qual, em princípio,
se encontrava o mercado e que passou logo a constituir o verdadeiro centro político da
cidade”. (Goitia, 2014, p 48)

Na opinião de Delfante “[...] a plástica dos volumes, as relações que se estabelecem no


espaço criam efeitos pictóricos, propositamente assimétricos, que formam um só
conjunto com a natureza e a paisagem”. (Delfante, 1997, p. 61) Segundo Goitia, “O
agrupamento de praças relacionadas entre si e a sua localização em relação às vias de
tráfego são muito interessantes sob o ponto de vista da composição urbana. A Ágora
em geral, ficava à margem da circulação, como um local de descanso”. (Goitia, 2014,
p.52)

Contudo, o tratamento da praça como lugar arquitectónico era uma preocupação


presente na Ágora. L. Mumford afirma que a Ágora sofreu uma evolução com a
construção das Stoas, “ [...] colunatas ou pórticos cobertos – algumas vezes para dar
sombra às lojas, por causa do sol, algumas vezes para servir os pedestres”. (Mumford,
1982, p. 214)

Em algumas cidades mais desenvolvidas a Ágora ganhou um significado diferente. Por


exemplo, na cidade de Pérgamo segundo José Lamas4 “ O Ágora, de espaço público e
político, torna-se espaço simbólico. O lugar do Poder desloca-se para o palácio e a rua
adquire um valor decorativo.” (Lamas, 2014, p.144). A Ágora atinge o seu apogeu no

4José Manuel Ressano Garcia Lamas - é arquiteto, nascido e formado em Lisboa, Portugal, e doutorado
em urbanismo. Docente das cadeiras de Planeamente Urbano e Projecto de Arquitectura da Universidade
Técnica de Lisboa. (Lamas, 2014, contracapa)

Tiago Barros Cardoso 19


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

plano de Mileto5 protagonizado por Hipódamo6, através de um “[...] rectângulo formal,


rodeado por uma muralha de lojas, pelo menos por três lados.” (Mumford, 1982, p. 212);
situado próximo do mar e do mercado.

Carlos Delfante descreve a cidade de Mileto como “um conjunto, muito


arquitectonicamente tratado, acolhe, nas suas diversas partes, funções variadas
(políticas, comerciais, lúdicas e religiosas) e constitui, durante o apogeu da cidade, um
centro que polariza a região circundante”, (Delfante, 1997, p. 62). Deste modo, a partir
do século V a.C. a Ágora pode ser associada à praça do mercado, alterando a sua
função mais antiga de ponto de encontro. Em algumas cidades, a Ágora política e a
Ágora comercial partilhavam os mesmo espaço.

Ilustração 1– Plano de Mileto – Ásia Menor em 479 a.C. (Galantay apud Ilustração 2– Ágora de Mileto (Delfante, 1997, P. 62)
Lamas, 2014, 142)

5 Mileto – Antiga cidade clássica situada na actual Turquia, que se destacou pelo seu traçado ortogonal e
pela sua Ágora. (Lamas, 2014, P. 140)
6 Hipódamo (Mileto, 498 a.C. – 408 a.C.)- arquitecto grego do periodo Jónico, autor do plano ortogonal de

Mileto. (Lamas, 2014, P. 140)

Tiago Barros Cardoso 20


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

2.1.2. O FÓRUM: PRAÇA ROMANA

O Fórum surge com a ascensão do império Romano algures no século IV a.C que, sendo
uma evolução da Ágora, servia de local de encontro da cidade e principal centro político,
tal como nas cidades gregas. No início do império o Forum não tinha ainda a função de
praça principal da cidade. No entanto, C. Delfante defende que o Fórum é um “local de
mercado ou espaço sociopolítico, o fórum acolhe todas as actividades públicas incluindo
as actividades religiosas.” (Delfante, 1997, p. 66). O mesmo defende Lamas ao afirmar
que “(...) A monumentalidade é obtida pela saturação de construções pela sua dimensão
excepcional. É o crescimento por «acumulação» de volumes, de edifícios que
comprimem o tecido urbano (...)” (Lamas, 2014, p. 146).

É também importante destacar que a origem do termo “praça” nasce com o Império
Romano. A sua origem segundo Carlos Dias Coelho7, vem do latim – platea – um
espaço público com características invulgares de excepção, propícias ao encontro entre
as gentes para variados fins, pela sua grande centralidade. (Coelho, 2007, p. 4). A
descrição do Fórum feita por Camille Sitte8 na sua obra “A construção das cidades
segundo os seus princípios artísticos”, demonstra a preocupação que os romanos
tinham no que dizia respeito à qualidade do espaço público.

[...] Edifícios públicos ocupam maciçamente os seus quatro lados e apenas na parte mais
estreita a norte sobressai, isolado, o Templo de Júpiter, ao lado do qual aparentemente
se estendia, até a praça aberta, o átrio do edifício dos decuriões. De resto, o fórum é
cingido por uma colunata em dois andares, permanecendo livre o espaço no centro da
praça, enquanto nas suas borda erguiam-se numerosos monumentos, grandes e
pequenos, cujos pedestais e inscrições ainda hoje podemos admirar. [...] (Sitte, 1992, p.
19).

Mais tarde o Fórum ergueu-se como núcleo principal das cidades romanas onde,
através da arquitetura, se representava o poder e a monumentalidade do estado
romano. Inicialmente, durante a República, existia apenas um Fórum, sendo este o
principal núcleo da capital romana que também servia a cidade como centro politíco,
comercial e religioso. Contudo, com a ascenção do Império, vários imperadores fizeram
erguer foruns em seu nome, tanto em Roma como nas cidades e províncias
conquistadas, de forma a aumentar o seu prestígio perante a população.

7Carlos Francisco Lucas Dias Coelho – Arquitecto doutorado em Urbanismo pela Faculdade de
Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa; docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade de
Lisboa; coordenador do grupo de investigação FORMA URBIS Lab. (Coelho, 2014, P. 12)
8 Camille Sitte 1843-1903 - Arquitecto e urbanista austríaco. Destacou-se no seu papel como teórico do

planeamento urbano e à aplicação das ideias defendidas pela Escola de Viena. (Ruiza, 2017)

Tiago Barros Cardoso 21


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 3– Os Foruns de Roma. (Kiepert e Mulsen apud Delfante, 1997, p. 77)

Ilustração 4– Ágora de Pompeia. (Kirpert e Mulsen apud Delfante, 1997, p. 78)

Em Portugal a presença do império romano intensificou-se, por exemplo, na cidade de


Évora onde o tecido urbano no qual se encontrava o Forum sofreu adaptações até aos
dias de hoje. Na opinião de Pedro Martins9, “Na cidade de Évora é possível encontrar

9Pedro Martins – Arquitecto com especialização em Urbanismo pela Faculdade de Arquitectura da


Universidade Técnica de Lisboa. (Coelho, 2014, p. 140)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

vários exemplos de preexistências romanas readaptadas e preservadas pelo tecido


urbano medieval até à contemporaneidade, entre as quais se destacam o templo e a
sala circular destinada a banhos quentes” (Martins, 2014, P. 146). O mesmo autor
salienta ainda que o Fórum foi adaptado ao longo dos tempos ao tecido urbano actual.
“O Fórum de Évora apresenta-se, assim, como um exemplo representativo de um
complexo monumental romano, que após a perda da sua função inicial terá sido, em
grande medida, fragmentado e absorvido pelo tecido urbano comum.” (Martins, 2014,
P. 150)

Ilustração 5– Tecido urbano de Évora e identificação do Fórum romano (Martins apud Coelho, 2015, p. 19).

Toda a zona central da cidade corresponde à reutilização sucessiva do mesmo espaço,


verificando-se que a localização da catedral, palácios ou simples habitações se justifica
pela persistência, ou melhor pela resistência de elementos que compõem o tecido, neste
caso com particular destaque para as estruturas monumentais do fórum.(Coelho, 2014,
P. 19)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 6–O Fórum Romano sobre o tecido urbano contemporâneo de Évora.. (Martins apud Coelho, 2014, p. 149).

Segundo Alessandro Orlandi, “O fórum romano apresenta diferenças em relação à


Ágora, pelo seu traçado mais complexo, menos regular e pelos vários edifícios que
circundavam a praça, tais como a basílica, a praça central, o mercado, os templos e o
teatro, ou seja, os edifícios onde a população se reunia em maior quantidade.” (Orlandi,
1994, p. 12). A mesma opinião é defendida por Goitia, “No seu ponto de encontro
custumava situar-se o Forum e à volta deste, os templos, a cúria e a basílica.” (Goitia,
2014, p. 58). Aldo Rossi10 na sua obra “ A arquitectura da Cidade” faz uma descrição da
evolução do Fórum desde a sua origem até atingir a designação de praça:

O fórum romano, assim como a Ágora para os gregos, servia de espaço onde a
população se reunia para discutir e tomar decisões das actividades sociais da cidade.
Originalmente era um mercado comum, mas por volta século IV a.C. o fórum abdicou da
sua actividade comercial – que tinha sido fundamental no seu desenvolvimento – e
tornou-se numa autêntica e verdadeira praça. Na mesma época, em torno do fórum,
foram construídos templos, monumentos e estátuas (Rossi, 2001, p. 177).

10 Aldo Rossi- (1931-1997) Foi um arquitecto italiano natural de Milão. Em 1959 licenciou-se em
arquitectura no Politécnico de Milão e ganhou o Prémio Pritzker em 1990. (Rossi, 2001)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

2.2. A PRAÇA NA CIDADE MEDIEVAL

Devido à queda do Império Romano do Ocidente a população das cidades, sentindo-se


constantemente ameaças por invasões, muda-se para os campos, dando início a uma
desocupação das principais cidades europeias entre os séculos V e IX. Com o abandono
das cidades outras foram fundadas através de Burgos, que consistiam em alargamentos
de aldeias ou vilas menores, geralmente situados perto de rios ou colinas, onde a
principal preocupação era a defesa do território.

“A formação da cidade medieval vai processar-se organicamente por desenvolvimento


das antigas estruturas romanas ou pela fundação de novas cidades organizadas
segundo um plano regulador.” (Lamas, 2014, p. 151). Outro factor que influenciou o
abandono de algumas cidades e a criação de outras, foi o novo sistema de governação
na Europa -feudalismo- que se estenderia até ao século XV.

Por necessidades de defesa, o [burgo] fica geralmente situado em locais dificilmente


expugnáveis: colinas ou sítio abruptos, ilhas, imediações de rios, procurando
principalmente as confluências ou sinuosidades, de modo a utilizar os leitos fluviais como
obstáculos para o inimigo. (Goitia, 2014, p. 81).

Estas novas cidades, situavam-se em redor de um castelo e quase sempre delimitadas


por muralhas, definidos por Leonardo Benevolo11 como “refúgios precários, onde a
organização territorial do Estado romano se perdeu e uma nova organização acaba de
começar.”, (Benevolo, 1995, p. 40). O mesmo autor salienta que “ [...] a maior parte das
cidades em que vivemos foram inventadas – na sua parte essencial – na época
medieval” (Benevolo, 1984, p.18). Segundo J. Lamas, “a forma urbana medieval vai
permanecer nas cidades europeias e servir de referência, na medida em que irá
«simbolizar» a estrutura orgânica.” (Lamas, 2014, p. 158).

2.2.1. A PRAÇA DO MERCADO E A PRAÇA DA IGREJA.

Ao contrário das cidades Clássicas, o traçado de uma cidade medieval era irregulares
sem qualquer planeamento, sendo os principais lugares de encontro da população as
praças do mercado e da Igreja. Contudo, a estrutura e a forma das praças eram
definidas mais pela prática do que pela teoria e a importância do espaço em si era
determinada pelo carácter dos edíficios municipais e religiosos que as rodeavam.

11 Leonardo Benevolo- 1923-2017, - Foi uma das figuras mais importantes da história da arquitetura
italiana, principalmente na sua crítica ao planeamento urbano. Benevolo estudou arquitectura na
Universidade de Roma, onde se graduou em 1946. Ensinou história da arquitetura nas Universidades de
Florença, Veneza e Palermo. (Helm, 2017)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Na opinião de C. Delfante, os tipos e estruturas das construções determinaram o


carácter especial das praças europeias na Idade Média, uma vez que, à volta dessas
praças iriam aglomerar-se os edifícios comunais, aos quais era devolvido o papel de
exaltação do carácter arquitectónico. A praça da Idade Média não corresponde a
qualquer esquematização cartesiana tais como: paralelismo, axialidade ou a simetria.
Em vez disso a praça baseia a sua legitimidade e a sua realidade numa estrutura de
carácter orgânico, que se encontra justificada no próprio desenho da praça, no seu
carácter difícil de definir de maneira precisa e que só o processo lógico mas também o
abandono inventivo se lhe opõem.

O mesmo refere-se à praça do mercado como um alargamento de um eixo longitudinal


e que é, por consequência, uma praça alongada, à qual se hesitou em dar o nome de
praça. “ A praça do mercado é, sem dúvida, a mais conhecida, por ser também praça
cívica, sinónimo de paz, com a sua fonte e o seu poço... Na idade Média, estamos quase
sempre em presença de um sistema de praças que, em geral, serve de articulação ao
plano da cidade.” (Delfante, 1997, p. 96).

Lamas defende que a praça do mercado é um espaço que se abre espontaneamente


no tecido urbano e apresenta normalmente uma forma irregular independente de um
desenho prévio. Este autor explica ainda que a praça medieval é um largo de geometria
irregular mas com funções importantes de comércio e reunião social, dividindo-se
geralmente na praça do mercado e praça da igreja, o adro, ou o parvis12 medieval.

Na opinião de Francoise Choay13, “A praça do mercado, era um segundo centro de


atividades dos nossos antepassados”. (Choay, 2000, p. 206) De facto, o mercado ainda
nos dias de hoje tem uma função fundamental no funcionamento de espaços públicos,
como é o caso da Praça do Martim Moniz que será analisada posteriormente na
presente dissertação.

“O mercado corresponde à principal razão da cidade como lugar de trocas e serviços. A


posição do mercado varia, ou até duplica, desde o adro da igreja ao centro da cidade ou
junto a uma das suas portas. É o espaço aberto e público por excelência e a sua função
comercial prolonga-se pelas ruas”. (Lamas, 2014, p. 154)

Contudo, devido à influência da Igreja Católica na Europa, a praça envolvente da igreja


era o principal local de encontro da população situando-se, na maioria da vezes no
centro da cidade. Para L. Mumford, [...] o mercado situa-se perto da igreja porque é ali

12 Adro ou parvis- Refere-se ao espaço aberto que circunda as igrejas, e geralmente usado como principal
praça das cidades medievais. (Lamas, 2014, P. 154)
13 Francoise Choay- 1925 – É uma historiadora de urbanismo e arquitectura. Actualmente é professora de

Urbanismo, Arte e Arquitectura na “Université de Paris VIII” (Wook, 2017a)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

que os habitantes mais frequentemente se vão avistar”. (Mumford, 1982, p. 333). Porém,
na opinião de C. Delfante, “as praças não foram dotadas de um quadro arquitectónico
que limite o espaço público e os bairros residenciais. As ruas vão lá ter directamente e
a sucessão dos imoveis constitui as paredes da praça. (Delfante 1997, p. 95).

Ilustração 7– Evolução da Praça de São Marcos. Ilustração 8 – Siena. Praça da Igreja e do Mercado. (Delfante, 1997, P.
(Delfante, 1997, P. 125) 111)

Por outro lado, segundo Goitia “A mesma praça onde se encontrava a catedral servia
habitualmente também para as necessidades do mercado e era nela que se erguiam os
edifícios mais característicos da organização da cidade” (Goitia, 2014, p. 89). Contudo,
C. Sitte considera que o centro da praça deve ser mantido vazio, “as praças das igrejas
apresentam várias desvantagens ao colocar uma igreja no centro: dificuldade de
perceber a perspectiva, impossibilidade de criar passagens com outros edifícios,
invasão do edifício na praça, restando somente as ruas do entorno.” (Sitte, 1992, p. 43).
O caso de estudo analisado posteriormente vai ao encontro desta afirmação de Sitte,
visto que a Torre dos Clérigos se encontra numa das extermidades da Praça de Lisboa,
facto que serviu até de conceito projectual, como será analisado nos capítulos relativos
aos casos de estudo.

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

2.2.2. AS PRAÇAS MAIORES

As praças maiores são uma excepção, que tiveram origem em algumas cidades
espanholas já no final do século XIII. Para Goitia as praças maiores merecem ser
especialmente consideradas na história do urbanismo espanhol, visto que os seus
antecedentes perdem-se nas inúmeras praças medievais de espaço fechado. (Goitia,
2014, p. 107)

No início do século XIV a sua função era estritamente comercial. Contudo, esta passou
a ser palco de inumeras manifestações da vida social no decorrer do século. Era na
praça que se realizavam os espetáculos de carácter social, como por exemplo os teatros
e as touradas, mas também de carácter religioso como os autos de fé.

Na opinião de Goitia esta tipologia de praça resultava nas cidades espanholas devido à
reclusão perfeita que esta tinha com o resto da cidade, mantendo o espaço central
fechado e rodeado de edifícios. “Conseguiu-se, assim, uma reclusão perfeita, uma praça
separada e como que fora da circulação, que se evita para que nada perturbe a sua
característica de praça destinada a festejos e ágora pública.” (Goitia 2014, p. 110).

2.3. A PRAÇA NA CIDADE MODERNA

Até ao renascimento as cidades nao seguiam um plano urbano pré-definido sendo que,
só a partir do século XV é que as principais preocupações deixaram de ser apenas
defensivas. Inicialmente não havia necessidade de criar novos núcleos urbanos, pois a
maior parte das cidades desenvolvidas na Idade Média já apresentavam uma grande
extenção. Segundo Lamas, “no início do Renascimento, a Europa não necessitava de
novos núcleos, dada a armadura territorial urbana que se havia constituído e completado
na Idade Média.” (Lamas, 2014, p. 168).

Contudo, em Itália o conceito de uma praça como centro urbano começa a desenvolver-
se nas principais cidades, alastrando-se para as outras capitais europeias. Para Kevin
Lynch14, a “piazza” italiana é o protótipo mais comum.” (Lynch, 2007 p. 413). François
Ascher15 descreve na sua obra “Novos princípios do urbanismo” a cidade da
Renascença, destacando as principais evoluções depois da Idade Média.

14 Kevin Lynch (1918-1984) – Foi um reputado urbanista norte-americano, cuja vasta obra incidiu, em
especial, na forma como as pessoas entendem o espaço, a arquitectura e os diferentes ambientes urbanos.
(Lynch, 2011, contracapa)
15 François Ascher (1946-2009) - foi um dos mais influentes investigadores e profeta do novo paradigma

do urbanismo contemporâneo. (Ascher, 2010, contracapa)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

A cidade medieval dá lugar a uma cidade “clássica” na qual o novo poder do Estado entra
em cena de forma monumental e se oferece através da perspectiva ao olhar do indivíduo,
traça avenidas, praças e jardins urbanos que acabam com a amálgama de ruelas, vielas
e hortas, afasta e transforma as muralhas, redefine e separa o público do privado, os
espaço interiores e exteriores afecta-lhe funções, inventa os passeios e as montras.
(Ascher, 2010, p. 26)

2.3.1. A PRAÇA NO RENASCIMENTO

Contudo, na obra de Charles Delfante “A grande história da cidade”, está exposta a


opinião que Pierre Lavedon tem perante as praças renascentistas, considerando-as
como elementos de transformação dos tecidos urbanos e insistindo sobre três pontos:
a importância da construção geométrica como factos qualificados, a textura
arquitectónica, recebida dos pátios fechados por pórticos e as tendências para o fecho
do espaço da praça e a importância de arranjo e dos seus instrumentos (colunas, fontes,
estátuas), que qualificam as praças italianas.

Nas cidades italianas os arquitetos renascentistas começavam a dar importância à


higiene e bem estar público e ao embelezamento, tanto dos edifícios como de todo o
espaço público. Lamas defende que “a urbanística renascentista vai de início
manifestar-se em alguns campo especifícos [...] criação de espaços públicos ou praças.”
(Lamas, 2014, p. 168). O mesmo defende C. Sitte quando afirma que “Na vida pública
da Idade Média para a Renascença houve uma valorização intensa e prática das praças
das cidades e uma harmonização entre elas e os edifícios públicos adjacentes” (Sitte,
1992, p. 30).

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 9– Roma. O Capitólio. (Delfante, 1997, P. 165)

Segundo J. Lamas a praça era um espaço embelezado que demonstra uma


manifestação de vontade política e de prestígio. Estas podiam ser delimitadas por
edifícios públicos, por igrejas ou edifícios religiosos, por filas de habitações ou palácios,
e eram lugares de cenário urbano e decoração da vida social e de manifestações do
poder. Para Lamas, ainda que a praça Renascentista seja entendida como um recinto
ou lugar especial e não apenas um vazio na estrutura urbana, é o lugar público onde se
concentram os principais edifícios e monumentos. “A praça adquire valor funcional e
político-social, e também o máximo valor simbólico e artístico.” (Lamas, 2014, p. 176).
O mesmo autor afirma que “É a partir do Renascimento que a praça se inscreve em
definitivo na estrutura urbana e adquire o seu estatuto até fazer parte obrigatória do
desenho urbano nos séculos XVIII e XIX.”

Fernando Goitia defende que “O resto da Europa demorará algum tempo antes de seguir
os ensinamentos de Itália e ornamentar as suas cidades com grandes praças de
arquitetura espectacular e ordenada, com ruas e composições de nível estético
superior.” (Goitia, 2014, p. 112).

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 10– Bolonha. A Piazza Maggiore. (Delfante, 1997, P. 163)

Com o Renascimento surge a necessidade de impor a racionalidade em cada detalhe


da cidade e da vida dos seus moradores. Tais inovações só foram possíveis através da
descoberta dos tratados de Vitrúvio e do estudo das várias ruínas romanas espalhadas
pela Europa. “Numa época em que os arquitetos e os artistas já imitavam e
interpretavam os monumentos antigos, os escritos de Vitrúvio adquiriram um significado
cultural e místico talvez superior ao seu valor real.” Lamas, (2014, p.167).

Charles Delfante defende que a praça da Renascença “distingue-se da praça da Idade


Média, a maior parte das vezes, porque ela não é só entendida como o centro vital da
cidade, como uma composição espacial cuja concepção é consequência de novos
critérios de valor, estético e volumétrico.” (Delfante 1997, p. 151). O mesmo reitera que
a praça da renascença, vai influenciar, no decorrer dos anos, o tecido urbano vizinho e
imprimir-lhe uma nova dimensão, uma nova identidade ou, melhor ainda, formas
conjuntamente com outras praças, secundárias ou não, conjuntos de praças ou, mais
exactamente, séries de praças que obedecem a progressões ritmicas e que respeitam
as exigências rigorosas de uma planificação harmoniosa.

Durante o período renascentista, a praça maior adquiriu uma forma mais regular, bem
definida pelas quatro fachadas que tão caracteristicamente delimitam este tipo de
praças. Foi no período renascentista que as praças passaram a considerar-se espaços
públicos classificados pertencentes à estrutura urbana, cuja principal função era dar
sumptuosidade às cidades. Estas eram geralmente delimitadas por edifícios públicos,
por igrejas, edifícios de habitação ou palácios e apresentavam-se como lugares de
cenário urbano onde por vezes se colocava no centro das praças elementos como
estátuas, fontes ou obeliscos de forma a representar o prestígio da cidade.

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

De facto, segundo Lamas, “a praça adquire valor funcional e político-social, e também


o máximo valor simbólico e artístico. É a praça o elemento básico da energia e
criatividade do desenho urbano e da arquitectura... é também cenário, espaço
emblezado, manifestação de vontade política e de prestígio.” (Lamas, 2014, p. 176).

2.3.2. A PRAÇA BARROCA

A cidade barroca surge através da Contra-Reforma nas capitais onde a Igreja Católica
tinha mais influência e que por sua vez rompe com a ordens arquitetónicas do
Renascimento, utilizando a escala dos seus edifícios de forma a impressionar o
observador. “O urbanismo barroco propõe um espaço de grande dinamismo e
movimento [...] recorre ao poder da emoção para comover e subjugar com a força do
seu impacto; tende a dar uma impressão instantânea, enquanto o impacto de uma obra
do Renascimento é mais suave e lento, e também mais duradouro.” (Lamas, 2014, p.
170).

No Barroco foram criadas novas praças que, geralmente, primavam pelo refinamento
da arte. Estas praças tinham a função de exaltar o poder régio no caso de Versalhes, e
da Igreja no caso da cidade de Roma que sofreu uma alteração considerável com as
reformas de Sisto V entre 1585 e 1590. “A obra urbanística deste Papa é uma das mais
consideráveis que foram levadas a cabo para sistematizar uma grande e antiga cidade.”
(Goitia, 2014, p. 110).

Ilustração 11– Roma. Plano de Sixto V. (Goitia, 2014, P. 109)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

A praça barroca difere da praça renascentista, apelando mais ao lado monumental do


espaço do que ao lado funcional. De facto a arquitectura da praça assume um grande
valor ornamental de tal ordem que, para Lamas, “a composição do espaço recorre ao
poder de emoção de forma a comover e a render as mais altas expectativas do
utilizador.” (Lamas, 2014, p. 170).

Goitia refere que o urbanismo francês aproveitou o estilo monumental da praça barroca
“para servir de quadro à estátua equestre do rei.” ( Goitia, 2014, p. 143). O detalhe
ornamental do estilo barroco e ascenção da monarquia absoluta ajudaram a criar
diversas praças sumptuosas. As praças do período barroco foram edificadas com a
intenção de expressar emoções naqueles que a percorrem.

Ilustração 12– Roma. Praça de São Pedro (Goitia, 2014, P. 138)

Ilustração 13– Versalhes (Goitia, 2014, P. 140)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

2.4. A PRAÇA NA CIDADE INDUSTRIAL

Com a revolução industrial dá-se um impressionante crescimento demográfico e


populacional das cidades, primeiro na Grã-Bretanha seguida pela França e Alemanha.
Esse crescimento, de tal forma desmesurado, levou a uma transformação estrutural das
cidades, traduzindo-se na abertura de grandes avenidas e praças nos centros urbanos.

De acordo com Lucrécia Ferrara, “[...] o desenvolvimento urbano ocorrido durante o


século XIX na Europa transferiu a imagem urbana da praça pública para as ruas e
avenidas[...].” (Ferrara, 1988, p. 213) Este facto deveu-se principalmente ao processo
de industrialização iniciado com a Revolução Industrial, que se intensificou durante a
segunda metade do século XIX e ao movimento moderno, que colocava os espaços
públicos e consequentemente as praças para segundo plano, visto que o mais
importante era edificar rápidamente bairros para alojar a classe operária. “A violenta
apropriação do espaço levada a cabo pela indústria constitui uma verdadeira catástrofe
para a estrutura urbana, quando afinal passados poucos anos, já não representava
qualquer vantagem para essa mesma indústria.” (Goitia, 2014, p. 160). Benevolo afirma
que “[...] a cidade industrial não é com certeza ainda a cidade dos homens iguais, mas
nela a igualdade deixa de ser uma utopia teórica para passar a ser uma proposta
praticável”. (Benevolo, 1984, p. 36)

Com a industrialização das cidades, as ideia de monumentalidade da praça


protagonizada nos séculos XVIII e XVII eram postas de lado, principalmente devido ao
aumento desenfreado de população que levaria à necessidade de construção de redes
viárias e pedonais, permitindo a constante circulação dos grandes fluxos populacionais,
“[...]reconstruíram-se centros urbanos, em quantidades e ritmos nunca antes
conhecidos [...]”, (Lamas, 2014, p. 298).

Com a imposição dos novos modelos de desenvolvimento da cidade industrial, a praça


como espaço público de excelência deixou de ter a importância de outrora devido aos
constantes aumentos de infras-estruturas impostas nas cidades. Na opinião de Jan
Ghel16 e Lars Gemzoe17, “[...] os novos modelos de circulação, de comércio e de
comunicação foram de tal modo profundos que conseguiram interromper séculos de
tradição da praça pública urbana”. (Gehl e Gemzoe, 2002, p.13) O mesmo defende

16 Jan Ghel (1936)- É um arquitecto e professor de urbanismo da Escola de Arquitectura da Real Academia
Danesa de Belas Artes de Copenhaga. (Gehl e Gemzoe, 2002, contracapa)
17 Lars Gemzoe - É um arquitecto e professor de urbanismo da Escola de Arquitectura da Real Academia

Danesa de Belas Artes de Copenhaga e na DIS ( International Study Program) de Copenhaga (Gehl e
Gemzoe, 2002, contracapa)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Delfante ao afirmar que a praça concebida como um espaço fechado, pelo menos
limitada, que tinha atingido a sua plenitude e se tinha transformado num objecto de arte,
deixou de existir, passando a pertencer ao passado.

Delfante caracteriza as praças nos finais do século XIX em três categorias: as praças
que são a consequência de arranjos sectoriais ou do alargamento de ruas, as praças
que resultam de operações necessárias à expansão da cidade e as novas praças que
são construídos nos bairros novos do alargamento. Contudo, o mesmo afirma que “ não
é atribuida qualquer função específica a cada uma dessas praças, que acabam por se
multiplicar sem formarem um tecido de espaços livres, como era costume anteriormente”
(Delfante, 1997, p. 243).

Assim, segundo Delfante, desenvolveram-se expressões de geometria sistemática,


cujos parâmetros, muitas vezes fora de escala em relação aos tecidos urbanos
circundantes, obedecem às linhas directrizes das novas tendências positivistas e
generalistas, contudo as intervenções que se fizeram sentir nos tecidos urbanos antigos
durante os finais do século XIX, não respeitam nem a morfologia nem a história,
quebram a unidade existente sem conseguirem criar uma nova. “ A única intervenção
benéfica consiste na introdução de vegetação nos planos das praças: as árvores,
dispostas de acordo com uma visão de conjunto, criam relações directas com os
espaços naturais e podem tornar-se na origem de uma estrutura verde que está ainda
por definir.” (Delfante, 1997, p. 243).

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

2.5. A PRAÇA NO MOVIMENTO MODERNO

Na segunda metade do século XIX os centros urbanos na Europa encontravam-se num


estado de sobrelotação populacional de tal forma que as melhorias das condições de
vida eram prioritárias. Neste contexto, na transição para o século XX, surgiram novos
modelos de organização urbana tais como, A Cidade Jardim por Ebenezer Howard18,
19
caracterizada pelas zonas verdes, ou a cidade industrial de Tony Garnier , que
defendia o uso de betão em larga escala.

O período moderno caracteriza-se por uma ruptura total na estrutura, na forma na


organização distributiva e nos conteúdos e propósitos da urbanística e da cidade. O
mesmo defende Lamas quando afirma que no início do século XX formulou-se todas as
experiências de destruição e abandono do quarteirão, da rua e até da praça, facto que
quebrou a integração recíproca dos vários elementos morfológicos que constituem a
estrutura urbana.

Face aos sucessivos avanços da industrialização das cidades, várias capitais foram
alvos de intervenções urbanísticas que visavam melhorar a circulação viária e pedonal,
o saneamento básico, a melhoria do ambiente urbano através da criação de jardins
públicos e a reabilitação de áreas degradadas, factores esses que resultaram no seu
aumento demográfico. “Os exemplos de urbanismo até aos finais do século XIX estão
mais ligados ao desenho urbano”. (Lamas, 2014, p. 231) ” A cidade moderna continua
a ser uma gama de modelos teóricos e de realizações planificadas que ainda não
puderam transformar-se numa experiência difundida.” (Benevolo, 1984, p. 47).

Contudo, a preocupação em manter o património histórico foi um factor preponderante


nos planos que seriam aplicados. “A actuação sobre os núcleos antigos foi muitas vezes
enérgica, mas respeitando sempre os traçados originais, o que evitou que se perdesse
a ligação entre o tecido urbano e a forma de vida...” (Goitia, 2014, p. 172). As cidades
como París, Barcelona e Viena foram reorganizadas em redor dos seus centros
históricos utilizando a malha ortogonal para cruzar avenidas com ruas, criar espaços
públicos com novas praças que serviam de bolsas de ar entre os quarteirões. “Esta
intencionalidade reflecte a posição de relevo que a praça ocupa na organização da

18 Ebenezer Howard 1850-1928- foi um urbanista inglês que se tornou conhecido pela publicação da sua
obra -Cidades-jardins de Amanhã- em 1898, na qual descreve um modelo de cidade utópica caracterizada
pela existência de vastas áreas verdes. (EDITORS OF ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA, 2017a)
19 Tony Garnier 1869-1948- Foi um arquitecto e urbanista francês conhecido pelos seus planos para uma

cidade industrial. (EDITORS OF ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA, 2017b)

Tiago Barros Cardoso 36


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

cidade, na cumplicidade entre o desenho do espaço e dos seus edifícios, integrando-os


no seu contexto físico e cultural.” (Silva, 2014, p. 84).

“As preocupações com os espaços públicos começam a mudar ao redor de 1970. O


modernismo começou a ser desafiado e o debate público levantou as questões de
qualidade urbana, condições de vida na cidade, poluição, além da crescente invasão de
ruas e praças urbanas pelo carro. Espaço e vida públicos passaram a ser considerados
objectos significativos do debate e prática da arquitectura. A arquitectura do espaço
público tem estado sob constante desenvolvimento desde então e inúmeros espaços
públicos novos ou renovados foram criados na última quarta parte do século XX.” (Gehl
e Gemzoe, 2002, p.7)

Não obstante, ao contrário das praças renascentista que se articulavam com os edifícios
envolventes, no urbanismo moderno segundo J. Lamas, “a praça permanece, embora
suscitanto as dificuldades de delimitação e definição provocadas pela menor incidência
dos edifícios e fachadas na sua definição”. (Lamas, 2014, p. 102) O mesmo autor
salienta ainda que “No “novo urbanismo” actualmente, o recurso ao desenho de praças
tem sido por vezes um logro, na medida em que o desenho do espaço não é
acompanhado por uma qualificação e significação funcional.” (Lamas, 2014, p. 102).

Camillo Sitte afirma que “[...] as áreas construídas são distribuídas como entidades
fechadas de maneira regular e o que resta entre elas são as ruas e as praças [...] toda
sobra irregular é transformada em praça, pois reza a norma que “sob o aspecto
arquitetónico, o traçado das ruas deve garantir a conveniência das plantas de casas em
primeiro lugar”. [...] (Sitte, 1992, p. 97). Contudo, na opinião de J.Gehl e L. Gemzøe,
“[...]nos últimos 25 anos do século XX notou-se a vontade de querer recuperar as praças
dando- lhes novamente uso e dignidade”. (Gehl e Gemzøe, 2002, p. 7).

Assim, a praça passou a ser entendida como o mais importante elemento morfológico
do espaço público, distinguindo-se de outros espaços, pelas vivências geradas na sua
destacada importância urbana. A sua formação é o resultado de uma sucessão de
acções intencionais, do investimento preciso de várias culturas no tempo, modificando
o desenho, o uso e o carácter identitário do espaço à sua medida. Juan Carlos
Pérgolis20, afirma que “a praça sempre teve um significado comunitário na história
ocidental. Na sua globalidade sempre foi, e por vezes ainda é, um espaço de encontro
da sociedade e de alguns setores especializados.” (Pérgolis, 2002, p. 14).

20Juan Carlos Pérgolis- Arquitecto e Professor de História e Teoria da Arquitetura na Universidade


Nacional da Colômbia. (UNIVERSIDAD CENTRAL. Teatro Faenza, 2017)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 14– Diferentes tipos de praça. (Kier apud Lamas, 2014, p. 101)

Contudo, para C. Sitte, “Hoje em contrapartida, é designado por praça qualquer espaço
vazio entre quatro ruas. Talvez esta circunstância seja suficiente em termos de higiene
ou de outras considerações técnicas, mas, sob o ponto de vista artístico, um terreno
vazio não é uma praça [...]”. (Sitte, 1992, p. 47) O mesmo defende J. Silva ao afirmar
que actualmente a praça é um elemento urbano relevante na vivência social e cultural
da cidade, repleto de actores que procuram rever o cenário urbano como ideia de
espaço histórico, caracterizado tanto pela materialidade dos edifícios como pelas roupas
e vasos pendurados nas varandas justificando o comércio e as espalnadas que usamos
como plateia preferencial deste espectáculo. (Silva, 2014, p. 93).

A definição de praça nos dias de hoje é bem diferente dos conceitos de grandiosidade
e de espectáculo desenvolvidos no Renascimento e no Barroco. Estas são alteradas
constantemente de modo a responder às transformações da sociedade. José. Lamas
afirma que "na cidade moderna a praça continua a assumir um lugar de destaque, mas
que suscita as dificuldades de delimitação e definição provocadas pela menor incidência
dos edifícios e fachadas na sua definição.” (Lamas, 2014, p. 102).

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Concluindo, é possivel afirmar que na cidade moderna, o papel da praça decaiu. O


mesmo defende Fernando Brandão Alves21 ao afirmar que, “praticamente toda a vida
pública realiza-se em recintos fechados e espalhados pela cidade. A praça converte-se
num lugar de passagem/atravessamento ou de encontro momentâneo, por vezes de
passeio, onde raramente se perpetuam actividades. (Alves, 2003, p. 76).

21 Fernando Manuel Brandão Alves (1958)- Arquitecto e autor de várias obras, licenciou-se em
Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa em 1988. Actualmente é
professor da Faculdade Engenheiria da Universidade do Porto e membro da Mesa da Assembleia Geral da
Associação de Urbanistas Portugueses. (Alves, 2003, contracapa)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Tiago Barros Cardoso 40


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

3. ESTRUTURA DO TECIDO URBANO: CARACTERIZAÇÃO DA PRAÇA

Após uma análise histórica da praça e do seu papel na evolução da cidade, inicia-se no
presente capítulo uma descrição dos factores que fazem deste elemento morfológico
urbano uma ferramenta essencial e necessária na requalificação do tecido da cidade.

A praça é essencial para o tecido urbano devido à forma espontânea como interrompe
a malha que o constítui. Sérgio Fernandes22 afirma que, “A articulação dos diversos
elementos que compõem o tecido urbano produzem o esqueleto da cidade, garantem a
unidade de uma cidade através de sistemas de espaços públicos que conjugam largos,
praças e ruas e determinam relações de continuidade entre traçados distintos.”
(Fernandes, 2014, p.56). De facto, essas interrupções possibilitam ao tecido a formação
de espaços abertos que se transfiguram em espaço público, devido principalmente à
utilização que os habitantes das cidades lhes dão.

De acordo com C. Coelho, esses espaços são fortemente caracterizados pelos seus
valores sociais e arquitectónicos nos quais as praças, enquanto elementos de
destacada importância na organização da cidade, reforçam esse sentido identitário
compreendido em cada acção no tempo, na singularidade do sítio e da sua história.
Segundo o mesmo “a identidade do tecido urbano resulta da configuração dos seus
vários componentes que, apesar da particularidade de cada um por si, contribuem para
que um tecido tenha homogeneidade formal da qual resulta a compreensão da sua
identidade”. (Coelho, 2014, p.21).

A diversidade fisíca dos tecidos que, em grande medida, confere a riqueza formal às
cidades, resultando e possibilitando vivências próprias e indentitárias...o tecido urbano
condensa, sobrepondo e sedimentando acontecimentos de tempos e lógicas muito
distintas e não resulta necessariamente da sucessão de uma intenção, projecto e acção,
muito embora também os possa incluir. A complexidade do tecido urbano não pode ser
dissociada do modo de produção e este da questão do tempo. A existência de tecidos
que não sofreram qualquer sedimentação e são o resultado directo de um projecto,
mantendo-se cristalizados como foram concebidos, constituem uma excepção. (Coelho,
2014, p.18)

Dos vários componentes que constituem a identidade do tecido urbano cabe à praça e
à rua a função de interligar os restantes. Segundo C. Coelho “as ruas ou praças são
constituídas por um vazio entre quarteirões e, pelo contrário, esses espaços edificados
só podem existir pela definição dos vazios públicos.” (Coelho, 2014, p.32). Porêm, na
opinião de J. Lamas, em qualquer tipo de tecido a superioridade da praça na hierarquia

22Sérgio Padrão Fernandes- Arquitecto Doutorado em Urbanismo pela Faculdade de Arquitectura da


Universidade de Lisboa. (Coelho, 2014, p. 36)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

da cidade evidencia-se, não só pelas funções que suporta, como pela natureza finita do
seu espaço, pela sua dimensão relativa ou qualidade da arquitectura, qualquer que seja
a origem da sua formação. “As vicissitudes que marcaram as praças no contexto da
evolução dos tecidos urbanos, são indissociáveis das vicissitudes dos próprios tecidos,
pois deles fazem parte integrante, constituindo um dos principais suportes físicos da
vida urbana.” ( Lamas, 2014, p. 26).

Como referido anteriormente, a preocupação em requalificar o espaço público das


cidades só teve início no século XV nas cidades italianas, espalhando-se mais tarde
para outras capitais europeias. Contudo, os tecidos urbanos das várias cidades até nos
dias de hoje estão em constante transformação. Segundo C. Coelho, “O Tecido Urbano
exprime a realidade da cidade construída, que inclui o espaço e o edificado, o público e
o privado, as ruas, as parcelas, os edifícios, as infraestruturas, etc.” (Coelho, 2014,
p.14).

Porém, existem certos factores que se consideram fundamentais para que um espaço
público com as características de uma praça seja considerada como tal. No geral, as
fachadas dos edifícios envolventes são o factor que mais se relaciona com a formação
e usos da praça. Contudo, existem também factores morfológicos que acompanharam
todo o processo de evolução do espaço público e que são de seguida descritos:

3.1. ACESSIBILIDADE E MOBILIDADE

A noção de mobilidade está relacionada com o grau de liberdade com que nos podemos
movimentar em determinado espaço (capacidade de deslocação); é, assim, um conceito
que traduz o modo e a intensidade em que nós nos deslocamos. (Brandão, 2002, p. 191.)

As formas que configuram o tecido urbano a partir de grandes eixos, de espaços


públicos, de intervenções, ou lugares com alguma centralidade, devem ter em
consideração o compromisso entre a continuidade e a diferenciação presentes na
cidade. Esses aspectos são fundamentais para a integração de cada indivíduo no
ambiente urbano, para que, de forma espontânea, possa criar ligações com lugares
transferindo emoções para os mesmos. São essas heranças de cada indivíduo que
fazem com que as cidades se diferenciem umas das outras.

Contudo, as praças públicas existentes no meio urbano caracterizam-se por serem


lugares de paragem e de grande afluência e por isso continuam a ser o lugar de eleição
para a partilha de emoções entre pessoas. Assim, a praça actual permanece como um
marco urbano nas cidades contemporâneas, na qual se mantêm inalterados os seus

Tiago Barros Cardoso 42


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

fundamentos. Porém, a circulação pedonal teve de ser repensada devido à circulação


rodoviária que constantemente invadia estes locais, impossibilitando o uso devido das
praças por parte dos seus utilizadores.

Os acessos pedonais e rodoviários de uma praça constituem uma parte fundamental na


sua concepção, sendo a partir dos mesmos que a praça é pensada. Se o aceso
rodoviário não for devidamente planeado, a circulação dos transportes não é fluida e,
por sua vez, condiciona o acesso pedonal ao ponto da população não usar o espaço.

De acordo com J.Gehl, a mobilidade e a acessibilidade urbana assumem um papel


determinante para o bom funcionamento do espaço público. O mesmo refere que “[...]as
pessoas são sensíveis às condições do pavimento e da superfície, evitando superfícies
irregulares, ou demasiado polidas, inclinações no terreno e desníveis, o que muitas
vezes faz com que o pavimento se torne um obstáculo no usufruto do espaço.” (Gehl
2010, p. 35).

Os acessos no interior das praças devem ser diferenciados dos acessos pedonais
situados fora das mesmas. A solução usada na maioria das praças é a utilização de
diferente materialidades na sua pavimentação. A pavimentação de um espaço público
de referência, como é o caso da maioria das praças, requer um estudo e análise
criteriosa de modo a permitir fixar e cativar o interesse dos utilizadores e
simultaneamente regular os acessos no interior e no exterior do próprio espaço. Neste
contexto, é fundamental uma escolha adequada dos materiais, bem como uma
pavimentação correcta de plataformas e passeios, nomeadamente no que diz respeito
à sua natureza geométrica e textura. O mesmo autor referido anteriormente defende
que o espaço construído deve ser pensado em concordância com o espaço envolvente
e com o que nele ocorre. A caminhabilidade deve fazer parte do nosso dia-a-dia,
permitindo a convivência entre as pessoas que partilham o espaço público. (Gehl, 2010,
p. 124). É importante também salientar que são os acessos que mais condicionam a
utilização dos espaços verdes ou áreas arborizadas, outro dos factores presentes na
evolução das praças.

Concluindo, segundo F. Alves, “vários autores têm apelado para a urgência de recriar a
praça urbana, destinando-a a usos razoáveis, face às exigências da vida
contemporânea e devidamente inseridos na estrutura urbana.” (Alves, 2003, p. 76).
Contudo, o mesmo defende que “a praça deve compreender um espaço público aberto,
por formas harmoniosas, que se articulam aos restantes elementos morfológicos urbano

Tiago Barros Cardoso 43


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

(ruas, outras praças, pracetas ou largos, entre outros), com pavimentado rigído, na sua
maior extensão.” (Alves, 2003, p. 82).

3.2. ÁREA VERDE

Um traçado pode ser definido tanto por um alinhamento de árvores como por um
alinhamento de edifícios. Uma praça também. (Lamas, 2014, p. 106).

A existência de espaços verdes é um factor que sempre acompanhou a evolução da


paisagem urbana e da própria cidade. Nos séculos XVII e XVIII por toda a Europa
construíram-se inicialmente apenas jardins e parques reais, que correspondiam a uma
recriação estética da natureza integrada com a construção residencial e,
posteriormente, também os primeiros jardins públicos. Em Lisboa é criado o Passeio
Público que se inseria nos planos de reconstrução da Baixa, destinado a acolher as
classes mais altas da sociedade da época, no qual uso de área verde era usado
abundantemente.

A implementação desses mesmos espaços numa praça é uma prática que só ganhou
ênfase com a teoria das “Cidades Jardim” de Howard, cujo um dos objectivos era
combater os problemas higiénicos provocados pela Revolução Industrial.

É importante salientar que este conceito coloca as funções sociais e económicas ao


mesmo nível das estéticas, por considerar como relevante que a população possa
beneficiar dos espaços verdes no seu quotidiano. Contudo, a vegetação influenciou, de
facto, a melhoria do ambiente urbano, desempenhando uma função ecológica e estética
que embelezou a praça e consequentemente a cidade.

Segundo Manuela Raposo Magalhães23, “É sobretudo no século XIX com a Revolução


Industrial, com a necessidade de corrigir as más condições de salubridade, que surge o
conceito de espaço verde urbano, como espaço de recriar a presença da natureza e da
componente rural no meio urbano.” (Magalhães, 1992, p. 35). Para J. Lamas “[...] as
estruturas verdes constituem também elementos identificáveis na estrutura urbana...
Certamente que a estrutura verde não tem a mesma “dureza” ou permanência que as
partes edificadas da cidade.” (Lamas 2014, p.106).

De facto, em ambas as praças analisadas no capítulo seguinte notar-se-á que a


importância de espaços verdes é determinante para os centros urbanos, porque

23Manuela Raposo Magalhães- Doutorada em Arquitectura Paisagista. Professora Auxiliar do Instituto


Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. (Universidade de Lisboa. Faculdade de Letras,
2012. (WOOK, 2017b)

Tiago Barros Cardoso 44


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

desempenham a função de revitalizar a paisagem urbana e, “[...] constituem um


equipamento social, tanto mais indispensável quanto mais densamente urbanizadas
forem as áreas em que se inserem.” (Magalhães, 1992, p. 16).

Os benefícios da vegetação proporcionam diversas formas e cores consoante a estação


do ano, permitindo que o espaço em si se integre no conjunto de elementos
paisagistícos urbanos. “ Nos grandes aglomerados urbanos, o recurso à vegetação é
indispensável, para se obter uma integração na paisagem que os envolve. “Os espaços
verdes têm o papel de ligar os vários espaços diferenciados entre si e amenizar os
ambientes, pelo contraste entre a suavidade e qualidade de material vivo inerente à
vegetação, e o carácter inerte e rígido dos pavimentos e outras superfícies construídos.”
(Magalhães, 1992, p. 92).

A vegetação também ajuda na dinamização de espaços sem identidade, por exemplo


dissimulando aspectos mais negativos do edificado envolvente ou alguma área
degradada no espaço exterior. “O conjunto vegetal também modera a luz intensa, dando
lugar a diferentes vibrações e ritmos de luz, consoante as densidades, tamanhos,
formas e espessuras dos ramos e folhas, especialmente no contraluz.” (Alves, 2003, p.
189).

No entanto, ainda que os benefícios produzidos pelos espaços verdes urbanos sejam
um assunto há muito discutido, no planeamento urbano essa prática continua muitas
das vezes a ser posta de parte. O mesmo autor mencionado anteriormente refere que,
“um dos principais problemas que os espaços públicos apresentam, diz respeito à
ausência de vegetação e especialmente de árvores de sombra.” (Alves, 2003, p. 191).

Concluindo, perante as dificuldades expostas pela ausência de espaços verdes, estes


devem ser integrados no tecido urbano de forma equilibrada, não só de modo a
constituirem equipamentos colectivos, mas também de modo a exercerem o seu papel
de activação biológica, regularização climática e purificação da atmosfera.

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

3.3. O DESENHO DO ESPAÇO PÚBLICO

Espaço público é uma noção que revela a interacção social, que tem a sua riqueza na
sua inerente interdisciplinaridade: o facto de ela operar para lá dos “formatos”
uniformizados da produção do espaço. (Brandão, 2013, p. 32)

A qualificação do espaço público é essencial na formação da cultura urbana, cujo


principal foco é requalificar as zonas degradadas e esquecidas, com o objectivo de
valorizar a cidade enquanto espaço de ligações entre os lugares e os que os habitam.
Segundo Pedro Brandão24 “O papel do espaço público em lugares em transformação
será, por vezes, o de projectar uma imagem de como se reconstituirá a sua identidade”
(Brandão, 2011, p. 62). Esse espaço exige determinadas qualidades, que o tornem num
lugar atrativo e de paragem ao alcance de todos.

Segundo P. Brandão, “o espaço público e a sua qualidade dependem do modo como


são habitados. A interatividade é o resultado da vida quotidiana, na sociabilidade entre
pessoas e é esse o “serviço” do espaço público da cidade” (Brandão, 2011, p. 75). O
mesmo afirma que a missão do espaço público é recorrer à comunicação, na lógica da
maior interactividade possível com as realidades emergentes e deve levar à procura de
novos métodos de conjugação, feedback de propostas e soluções diferentes para
problemas formulados em processo comunicativo, envolvendo vários actores e
disciplinas.

Requalificar o espaço público é essencial para a cidade, pois são esses espaços
requalificados que vão libertar o tecido urbano, aliviando-o da tensão criada pelas
intersecções da malha urbana. O mesmo defende Brandão ao afirmar que “o espaço
público se assume como um elemento fundamental na estruturação do tecido urbano e
como elemento central no que respeita à organização da cidade.” (Brandão, 2011, p.
73). Segundo o mesmo, “o espaço público é sempre um factor decisivo, porque a
identidade, a urbanidade e a interactividade são as suas qualidades” (Brandão, 2011, p.
75).

Contudo, quando acontece uma requalificação de um espaço público, é inevitável não


alterar a paisagem urbana. O mesmo autor mencionado defende que a nossa paisagem
urbana é hoje objecto de vários processos de regeneração, decorrentes de
transformações diversas (novas extensões urbanas, novas infra-estruturas viárias,
novos equipamentos, a recuperação ou reciclagem de antigas zonas.) e que o espaço

24 Pedro Brandão (1950)- É um arquitecto doutorado em Espaço Público e Regeneração Urbana. Foi
presidente da Associação dos Arquitecto Portugueses e presidente do Centro Português de Design.
(Brandão, 2011, contracapa)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

público deixa de ser residual no desenho urbano e torna-se o seu principal activo
estratégico, é fundador e estruturante, trata de permanências. O mesmo defende Alves,
quando afirma que “A atividade na praça é importante para a sua vitalidade e também
para a sua atracção visual.” (Alves, 2003, p. 101).

Contudo, o espaço público urbano divide-se em várias tipologias espalhados pela


cidade, tais como jardins, parques, largos, ruas e praças, sendo estas últimas
caracterizadas por J. Silva como “o mais importante elemento morfológico do espaço
público, distinguindo-se de outros espaços, pelas vivências geradas na sua destacada
importância urbana.” (Silva, 2014, p. 84). Em Portugal a noção de espaço público só
comecou a ser pensada como elemento principal do desenho da cidade, com a
reabilitação dos centros históricos das mesmas.

A cidade do Porto, durante a primeira metade do século XX, sofreu um conjunto de


intervenções que, segundo J. Silva, “transformaram incisivamente partes do seu tecido
consolidado” (Silva, 2014, p. 87). De acordo com o mesmo, essas intervenções foram
criadas tendo como base três objectivo fundamentais: resolver o problema de circulação
através da criação de novos acessos ao centro antigo da cidade, afirmar os valores
simbólicos associados à nacionalidade e monumentalizar os elementos morfológicos
dominantes, recorrendo à restruturação de ambiências urbanas a partir da criação de
novos espaços públicos. Contudo, segundo Pedro Brandão, ”é possível ligar os espaços
públicos (polivalentes), não a uma só atividade (de trabalho ou privilegiada e “livre”, mas
à interacção de todas. Então haverá ganho em termos da liberdade e de “vida publica”.
(Brandão, 2013, p. 32).

Para concluir durante os anos 80 e 90 do século XX em muitas cidades portuguesas, a


ideia de uso do espaço público, nomeadamente das praças, era considerada como
essencial à revitalização do espaço físico e social, valorizando o seu usufruto por parte
da população, bem como a preservação histórica e o equadramento do conjunto
edificado envolvente. José Silva defende ainda que essas praças, criadas de raíz ou
recuperadas, ajudaram a valorizar os tecidos urbanos das cidades. “Desta forma, foram
concebidos espaços excepcionais, nem sempre de acordo com processos harmoniosos,
que poderão não ter existido como tal na sua forma original, mas que hoje ganharam
um sentido de valor patromonial a preservar” (Silva, 2014, p. 98).

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

3.4. DESIGN DO MOBILIÁRIO URBANO

Os “mobiliário urbano” da época (fontes,poços,escadarias...) concebido como objecto,


isto é, como elemento sem espaço interno as esculturas, estão dispostos em pontos
especiais de modo a criar atracções diagonais, eixos visíveis inclinados ou
descontinuidades entre cheios e vazios. (Delfante, 1997, p. 96).

Outro aspecto que é importante frisar na requalificação de espaços públicos é o papel


do design do mobiliário urbano e os benefícios que este trás ao espaço em si. O
mobiliário urbano consiste nos vários obstáculos nos passeios e em toda a rede de
percursos pedonais que inviabilizam a circulação contínua e regular por parte da
população, através da criação de irregularidades e interrupções no canal. José Lamas
considera o mobiliário urbano como “...elementos móveis que “mobilam” e equipam a
cidade: o banco, o chafariz, o cesto de papéis, o candeeiro, o marco do correio, a
sinalização, etc.” (Lamas, 2014, p. 108). Alguns dos elementos referidos estão de facto
presentes em qualquer praça urbana assim como na Praça do Martim Moniz e a Praça
de Lisboa e que será analisado posteriormente.

Por sua vez, o mesmo deve apresentar-se como um elemento funcional e de fácil
integração no espaço urbano e a sua implementação tem que ser pensada tendo em
conta os movimentos pedestres, bem como os espaços onde os mesmo se reunem.
Este deve apresentar-se como um meio de harmonizar o que nos rodeia, de forma
global, não diferenciando classes, atingindo e servindo igualmente todas as camadas
da sociedade, contribuindo para melhorar a qualidade de vida da população em geral.

Segundo José Lamas, “É também de grande importância para o desenho da cidade e a


sua organização para a qualidade do espaço e comodidade.” (Lamas, 2014, p. 108).
Assim, a implementação de mobiliário urbano, quando é devidamente executada, não
deve ocupar o espaço útil à deslocação do peão. Contudo, quando o mesmo beneficia
esteticamente o contexto urbano envolvente de forma funcional, constitui uma mais-
valia para a população.

Perante estes factores, F. Ascher afirma que os urbanistas contemporâneos


confrontados com exigências cada vez maiores e com múltiplas formas de
concorrências entre espaços, tentam oferecer nos lugares públicos e nos espaços
exteriores uma qualidade equivalente àquela que é oferecida nos espaços privados e
nos espaços interiores. P. Brandão designa o design urbano como um processo de
concepção do espaço urbano focalizado no espaço público, e que implica um especial
cuidado na caracterização da imagem urbana, da forma do espaço, dos recursos que
são necessários à sua produção e também da sua apropriação. “ A qualidade do espaço

Tiago Barros Cardoso 48


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

público desenha-se não como um desejo de desenho de igual definição em todos os


pontos, mas numa espécie de embraiagem entre traçado e objecto.” (Brandão, 2011, p.
164).

Contudo, as práticas urbanas fazem com que aqueles que desenham o espaço urbano,
integrem com mais intensidade os condicionalismos de exploração e de gestão dos
espaços e dos equipamentos urbanos. Para Ascher, “isto contribui para redefinir as
fronteiras e as modalidades de exercícios dos diversos ofícios do urbanismo, porque
este deve integrar mais directamente as exigências da gestão futura dos espaços que
ele próprio contribui para produzir.” (Ascher, 2010, p. 85).

Concluindo, na requalificação de um espaço público integrante da malha urbana, tanto


a arquitectura como o design do mobiliário urbano têm um papel fundamental na
caracterização do espaço criado. Segundo Ascher, esses espaços “são funcionalmente
múltlipos e propícios tanto à intimidade como a sociabilidades variáveis.” (Ascher, 2010,
p. 87). Enquanto que para P.Brandão “O conhecimento da arquitectura e do design
urbano existe, portanto, em práticas baseadas numa experiência de observação do seu
objecto, na interrogação, na decisão, conjugadas num saber-fazer.” (Brandão, 2011, p.
161).

Tiago Barros Cardoso 49


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

3.5. RELAÇÃO COM O PATRIMÓNIO HISTÓRICO

A história é, de facto, o lugar mais seguro onde podemos ler as vontades e acções que
nortearam a gradual evolução da cidade até ao que hoje conhecemos dela e, portanto,
a sua explicação seria menos reflectida sem essa lógica evolutiva que nos oferece
leituras –sicrónicas e diacrónicas- complementares e essenciais sobre o tecido
construído. Mais permite-nos reconhecer os diferentes tempos da cidade e o ritmo
evolutivo de cada elemento que dela faz parte, seja a rua, a praça, a parcela, o edifício
ou até mesmo o quarteirão. (Justo, 2014, p. 52)

A identidade de um lugar está ligada ao seu passado, aos acontecimentos que o


marcaram, articulando-os com aqueles que o viveram. O lugar reflete o psicológico de
cada indivíduo que cria uma relação com determinado ponto no tempo e no espaço.
Sendo que as principais praças urbanas serviram de palco para determinados
acontecimentos históricos, o mesmo influenciou emocionalmente um certo número de
indivíduos, criando assim a memória colectiva. Esta trata de permanência e
continuidade, sendo constituída pelo constante somatório de referências e por enlaces
entre várias recordações, integrando-se no espaço público como um elemento
estratégico na identificação com o lugar. O mesmo defende P. Brandão quando afirma
que “a identidade espacial resulta da memória colectiva – um lugar seria produto de uma
sedimentação de vivências das quais a comunidade teria a memória, não podendo
existir um (o lugar), sem o outro (a memória).” (Brandão, 2008, p.14).

Uma das principais características de uma cidade é o conjunto de memórias que dela
resultam e, nesse sentido, a preservação da arquitetura e dos ambientes urbanos
centrais adquirem importância fundamental na caracterização das cidades. É a partir
desses ambientes centrais que as mesmas se desenvolveram e que ainda hoje
influenciam o seu processo de evolução. A sua posição central no tecido e a forma como
influencia a cidade a nível social e histórico, faz com que esses centros possuam um
grande carácter urbano e, devido à complexidade presente na sua arquitectura,
constituem a zona valiosa das cidades. É nesses centros históricos que está expressa
a cultura daqueles que habitam os centros urbanos, sendo que a preservação dos
mesmo constitui uma salvaguarda da memória cultural das cidades.

Na opinião de Teresa Barata Salgueiro25, “Os conjuntos históricos e o seu


enquadramento formam um património universal insubstituível em que a sua

25Teresa Barata Salgueiro- Professora catedrática da Universidade de Lisboa. Directora do IGOT desde
a sua fundação em 2009 até dez 2013. (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE GEÓGRAFOS, 2016)

Tiago Barros Cardoso 50


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

salvaguarda e integração na vida coletiva devem constituir uma obrigação para os


governos e cidadãos em cujos territórios se encontram”. (Salgueiro, 1999, p. 391)

As cidades são o espelho de vários acontecimentos que nela ocorreram desde as suas
fundações. “A cidade é consequentemente reorganizada por processos culturais que de
algum modo sobrepuseram o seu modelo ao anterior e que encadeados no mesmo lugar
contextualizam e lhe dão valor suplementar.” (Silva, 2014, p. 98). Perante as várias
transformações que acabaram por conferir a imagem actual das cidades, a sua história
é recordada através de intervenções urbanas, de marcos históricos, e da arquitectura
presente nos vários monumentos.

São estes três factores que actualmente conferem às cidades a sua identidade e que,
por vezes, são conjugados num só espaço fisíco, concebendo um lugar de paragem e
de estar, basicamente um lugar com as caracteristícas necessárias de uma praça
pública. De facto, J. Silva considera que a praça na cidade ocidental “é pensada como
um marco da centralidade cultural, entendida como o fórum de encontros e
manifestações sociais, do indivíduo e da comunidade e, consequentemente, de funções
e arquitecturas significativas.” (Silva, 2014, p. 84). O mesmo afirma ainda que a
formação das praças resulta de “uma sucessão de acções intencionais, do investimento
preciso de várias culturas no tempo, modificando o desenho, o uso e o carácter
identitário do espaço à sua medida, reflectindo a posição de relevo que a praça ocupa
na organização da cidade.” (Silva, 2014, p. 84).

A praça, devido ao seu posicionamento na estrutura de uma cidade e às suas


características fisícas, fazem dela o principal palco de acontecimentos históricos que,
de certa forma, marcaram tanto a cidade como os próprios habitantes. Segundo F.
Alves, a importância da antiga praça é fundamental na estrutura das cidades históricas.
Contudo, “deve-se distinguir, hoje, a praça recriada da interligação de velhos e novos
usos, exclusivos ou não, mas onde permaneça a qualidade de ser recordada como
praça.” (Alves, 2003, p. 76).

No entanto, mesmo que a praça seja o resultado de várias intervenções feitas ao longo
do tempo, ela deve, além de criar um espaço de estar aberto ao público, enaltecer os
monumentos ou marcos históricos que a rodeiam e inserir-se na malha urbana já
existente de forma coerente.

Como será mencionado de forma mais detalhada nas análises dos casos de estudo, a
relação das praças com o envolvente histórico é notório e serviu de base conceptual
para a execução das mesmas. Tanto a Praça de Lisboa como a Praça do Martim Moniz

Tiago Barros Cardoso 51


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

foram reabilitadas em plena zona baixa das cidades interferindo com os tecidos urbanos,
mas que de certa forma criaram elos de ligação entre os centros históricos e as zonas
mais a norte das mesmas. Essas praças na opinião de Alves fazem face à urgência de
recriar a praça urbana, “destinando-a a usos razoáveis, face às exigências da vida
contemporânea e devidamente inseridos na estrutura urbana.” (Alves, 2003, p. 76).

Ilustração 15- A Praça em Portugal. Tábua comparativa. (Coelho, 2014,P. 23)

Concluindo, as praças apresentam diferentes formas, estando estas quase sempre


dependentes dos restantes elementos que as rodeiam. Segundo J. Lamas “as praças
configuram-se sempre tendo em conta o factor ou o conjunto de factores que as
originam e os papéis urbanos que lhes foram atribuídos.” (Lamas, 2014, p. 30). Por sua
vez, qualquer que seja a dimensão ou forma da praça em si, podem, segundo o mesmo
autor, “ser comparadas entre si e também com o restante tecido urbano. (Lamas, 2014,
p. 30).

Tiago Barros Cardoso 52


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

3.6. MONUMENTALIZAÇÃO DO TECIDO URBANO

Trata-se de um processo com incidência concreta sobre uma parte de cidade que, pela
sua condição monumental, fornece o motivo, ou motivos, que geram essa dinâmica.
(Costa, 2014, p. 163).

Relativamente ao tecido urbano, é importante entender o seu conceito de


monumentalização e a sua importância na requalificação do espaço público. De facto,
João Pedro Costa26 defende a opinião de F. Ascher quando descreve esse processo
como “uma âncora de identidade, um porto seguro colectivo perante uma sociedade em
rápida transformação” (Costa apud Ascher, 2014, p. 164).

Contudo, por vezes, durante o seu processo de monumentalização, o tecido urbano


segundo C. Coelho, “ vê-se desprovido do sentido que teve porque o quadro
tecnológico, económico, social, diria mesmo civilizacional, conhece profundas
transformações.” (Costa, 2014, p. 164).

O conjunto de elementos que integram a cidade permite-nos compreender a sua


evolução, em parte devido à sua articulação feita pelo tecido urbano. “As infraestruturas
que permitem a conexão entre um ponto e outro, os pontos marcantes que constituem
os locais identificáveis, seja pelos seus edifícios ornamentados ou pelas estátuas que
relatam um acontecimento histórico, as praças e as ruas que geralmente comunicam o
sistema de orientação das pessoas.” (Coelho, 2014, p. 18).

Todos estes elementos constituem uma fonte de informação que relata a história de
uma cidade e de uma população, mas também das sucessivas fases de crescimento do
tecido, que se caracteriza como um processo lento e constante. “ A qualidade do tecido
construído não reside necessariamente na sua longevidade, mas sobretudo no facto de
incorporar informação sucessiva ao longo do tempo.” (Fernandes, 2014, p. 51).

O tecido urbano, devido à sua complexidade e à articulação de todos os seus


constituintes, desenvolve um processo evolutivo que, segundo Coelho, “condensa toda
uma história que se traduz num resultado muito particular a cada momento e que explica
a riqueza formal das nossas cidades.” (Coelho, 2014, p. 14). Esse mesmo processo vai
alterando as formas das cidades e confere às mesmas as formas que configuram os
tecidos urbanos a partir de grandes eixos, de espaços públicos, de intervenções, ou
lugares com alguma centralidade, que devem ter em consideração o compromisso entre
continuidade e diferenciação. “Este processo dinâmico de produção urbana manifesta-

26 João Pedro Costa – Arquitecto doutorado em Urbanismo pela Universitat Politécnica de


Catalunya.(Coelho, 2014, p. 162)

Tiago Barros Cardoso 53


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

se na permanente evolução da forma e organização do tecido num claro esforço de


adequação, com transformações e permanências, que caracteriza o espaço e a
arquitectura que constrói a cidade.” (Fernandes, 2014, p. 51).

Porém, o mesmo afirma ainda que, “mesmo que consiga, por vezes, manter uma
configuração física pouco alterada, ou até a sua função, o tecido urbano vê-se
desprovido do sentido que teve porque o quadro tecnológico, económico, social, diria
mesmo civilizacional, conhece profundas transformações” (Costa, 2014, p. 164).

Por sua vez, o próprio tecido das cidades assume-se como parte histórica das mesmas,
através da sua monumentalização que, na opinião de J. Costa, se establece em duas
condições. Por um lado expressa um determinado critério de distinção, ou a combinação
de vários, relativamente à generalidade dos espaços urbanos e, por outro, reforça o
sentir e o sentido do tempo na cidade. O mesmo reitera que as cidades, mesmo que
sejam ricas em valor histórico, em valor arqueológico, e em valor estético, “é a distinção
que monumentaliza o tecido urbano”, (Costa, 2014, p. 165).

Em certa medida, durante as transformações que as cidades portuguesas sofreram no


decorrer do século XX, foram recriados cenários históricos que, através da composição
de um ideal de espaço, recriaram as praças como lugares de exaltação de uma cultura.
Assim, num período que J. Silva afirma ser marcado por uma renovação de tecido
constiuído, encontramos múltiplos exemplos de praças que tiveram a sua origem na
subtracção de partes dos conjuntos edificados com um potencial valor histórico.

A cidade não é constituída por tecidos uniformes e, portanto, certas áreas assumem-se
como representativas do todo, concentram e expõem um conjunto de valores físicos,
funcionais e simbólicos. Estas áreas resultam de acções de valorização que, na opinião
de J. Silva, são eleitas por serem representativas de uma época passada ou porque
configuraram conjuntos que se destacam, constituindo hoje os locais mais densos de
actividades culturais, artísticas, representativas e turísticas.

A evolução dessas praças em Portugal foi essencial para a monumentalização do tecido


urbano, adaptando o espaço físico à contemporaneidade, mas através de um processo
que procura conservar a qualidade e a identidade histórica do lugar em si, durante o
qual o espaço público é considerado como o principal elemento urbano, agregando todo
o espaço envolvente. “O que diferencia cada intervenção é a capacidade de
entendimento da história do lugar ou o gesto decidido que modifica a cidade antiga, na
qual o espaço público assume um papel importante na dinamização das vivências
locais.” (Silva, 2014, p. 85).

Tiago Barros Cardoso 54


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

A importância do processo de revitalização das praças nas cidades portuguesas foi de


tal forma essencial para a estruturação do espaço urbano que, segundo o mesmo autor,
transformaram os tecidos urbanos em Portugal no século XX, onde eram de certo modo,
homenageados os valores histórico-culturais do país. A opinião de J. Lamas a respeito
da revitalização da praça caracteriza-se pela relação desta com o restante tecido urbano
e pode, segundo o mesmo, “constituir o elemento gerador do próprio traçado, articular
dois ou três tecidos distintos, sobrepor-se ao princípio compositivo do tecido urbano, ou
mesmo existir como elemento autónomo de uma estrutura urbana.”(Lamas, 2014, p. 30).

“Esta busca incessante no espaço de uma representação identitária procurava elevar a


importância monumental e histórica da praças, constituindo-as como propulsoras de
lógicas espaciais e da organização da própria cidade.” (Silva, 2014, p. 84). O processo
de transformação dos espaços patrimorniais tinha a capacidade de valorizar e enaltecer
o lugar, mas em certos casos, resultou no desaparecimento de algumas das
características físicas e dos diferentes tipos de uso que a população destinava ao
próprio lugar. Ou seja, segundo defende o mesmo autor, “...no processo de
transformação são-lhe suprimidos elementos espaciais que retiram muitas vezes
interesse suplementar ao tecido urbano que o contextualiza.” (Silva, 2014, p. 95).

Ilustração 16– Tecido homogéneo da área central de Lisboa.(Coelho, 2014, P. 30)

Por sua vez, Charles Delfante defende que, no desenho compacto do tecido urbano, se
encontram praças que nos são apresentadas com uma forma de bipolaridade,
constituídas por uma pertença a um contexto de essência unitária e a sua oposição à

Tiago Barros Cardoso 55


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

densidade física do resto e que, enquanto vazia, a praça é o maior espaço perceptível
e preceptivo que permite recolher a capacidade e a homogeneidade do resto. É por esta
razão que, segundo o mesmo autor, “a praça tem um papel preciso na imagem da
cidade, porque ela é, em certa medida, um instante crítico, uma tomada de consciência
formal na qual devemos ver uma força primária para ser utilizada na educação da
percepção da cidade.” (Delfante, 1997, p. 96)

Os que fazem a composição da cidade empenham-se em nivelar os tecidos urbanos sob


um tecto uniforme, os compositores das praças empenham-se em que os edifícios que
marcam a praça sejam perceptíveis de longe e de perto, introduzindo modos novos de
apreensão da divisão interna do espaço. (Delfante, 1997, p. 150)

Deste modo, é possivel afirmar que ao inserir a praça urbana como peça-chave na
requalificação dos tecidos urbanos em Portugal, contribuiu-se para a comprensão
histórica dos mesmo. “[...] As praças portuguesas apresentam um conjunto de
características singulares, identitárias e históricas, contribuindo para a compreensão
deste elemento urbano e da própria cidade.” (Silva, 2014, p. 98). Essas praças recriadas
caracterizavam-se, segundo o mesmo, pela valorização do património edificado que
reorganizou e deu origem a novos cenários urbanos.

Assim sendo, a praça contemporânea permanece um marco histórico nas cidades,


apesar da concorrência de outras tipologias de novos centros urbanos. Embora existam
ainda algumas parecenças entre as praças contemporâneas e a antiga praça, na maior
parte dos casos a praça contemporânea surge muito mais reduzida em todos os
aspectos que as caracterizam, comparando-a com as praças no Renascimento ou no
Barroco, nomeadamente ao nível do tamanho e da forma arquitectónica. Assim sendo,
as praças públicas inseridas nos centros históricos fazem parte de uma prática que é
quase inexistente na construção moderna, sendo que, segundo os padrões do
urbanismo contemporâneo, a praça como espaço definido é abafado devido ao impacto
visual do edificado envolvente, não tendo oportunidade de se manifestar como outrora
fizera.

Para concluir, as reorganizações que as cidades de Lisboa e Porto sofreram no século


XX, modificaram o seu aspecto formal. Durante o mesmo, a preservação dos
respectivos centros históricos localizados em torno de praças urbanas foi essencial para
a requalificação dos tecidos urbanos de ambas as cidades. “Pelo papel reconhecido ao
elemento urbano praça, [...] é possivel observar-se no contexto patrimornial português
do século XX, que a praça foi recuperada ou criada como um processo de valorização
dos tecidos urbanos.” (Silva, 2014, p. 98).

Tiago Barros Cardoso 56


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

3.7. VIVÊNCIAS SOCIAIS

As pessoas usam o espaço público por uma razão plausível e racional, para realizar uma
determinada tarefa ou uma actividade específica, mas simultaneamente como um
pretexto para sair, ou uma ocasião para estar em contacto e estimulação. (Gehl, 2010,
p. 111).

Quando observamos a forma como as pessoas se comportam no espaço, a maneira


como interagem umas com as outras e como reagem faces aos elementos espaciais
que as rodeiam, testemunhamos o momento em que um organismo urbano construído
ganha vida. Nesse sentido, a importância da qualidade do espaço exterior urbano é
essencial, pois é dele a responsabilidade de conectar os seus utilizadores através dos
sentidos humanos, transmitindo aos mesmos contacto com o ambiente e com as
pessoas que o rodeiam.

O mesmo reitera que as “necessidades básicas e facilmente definidas servem muitas


vezes para explicar e fundamentar a satisfação de ambos os conjuntos de
necessidades”, as “necessidades físicas” de sair e desenvolver determinadas
actividades e “psicológicas básicas” de estar entre os outros. (Gehl, 2010, p. 117).

Por sua vez, a capacidade desses mesmo espaços facilitam o contacto entre pessoas
e aumentam consideravelmente o tempo de permanência das mesmas. Neste contexto,
a praça aparece como o principal espaço com as capacidades anteriormente referidas
e deve ser entendida como um espaço interior aberto que faz transparecer o sentido de
“estar”, establecendo pontos de referência para a orientação e adaptação ao ambiente
que nos envolve.

O sentido de “estar” deve coexistir com um nível mínimo de actividade, daí que a
essência da praça permita um máximo de controlo do espaço. Contudo, na maior parte
das vezes, existiu sempre um edifício simbólico numa das extreminades da praça, fosse
a Ágora, o Fórum, a Igreja ou palácio real, que devido ao seu forte sentido de conteção
favoreceu o desenvolvimento de determinados potenciais para a sua animação, como
a fixação de actividades atractivas, conforto, convívio, descanso, etc.

Uma das formas de estimular a permanência na praça por parte das pessoas é através
de actividades que estimulem o convívio. Para J. Gehl, a vida nos espaços públicos é
um processo de auto-reforço em que as pessoas e os acontecimentos se influenciam e
estimulam mutuamente. Segundo o mesmo, “se houver várias actividades a acontecer
num mesmo espaço, elas podem estimular-se reciprocamente, uma vez que se os

Tiago Barros Cardoso 57


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

participantes de um acontecimento têm a oportunidade de participar noutro.” (Gehl,


2010, p. 117).

A praça pública apresenta uma organização espacial determinante, que visa apoiar a
convivência humana e exprimir de modo físico alguns dos valores intelectuais, morais e
religiosos que podem dar sentido à necessidade de vivência espiritual das pessoas,
nomeadamente através do uso de elementos bastante comuns nas praças urbanas, tais
como peças de arte, fontes, ou jardins. No fundo, algo que faça as pessoas
permanecerem na praça e contemplar os respectivos elementos. “A percepção de um
ambiente é criada pela interacção entre as formas que compôem a cidade e o modo
como o homem recepciona e corresponde a essas mesmas formas.” (Lynch 2011, p.
10).

De facto, o uso desses elementos caracterizaram as praças desde a Antiguidade, fosse


através de um templo ou de uma estátua de um rei. De acordo com J. Lamas, “quando
uma praça se organiza em função de um edifício de importante valor colectivo,
estabelece-se uma relação de predomínio daquele em relação ao espaço,
condicionando a sua organização.” (Lamas, 2014, p. 35). Contudo, a praça também
acolhe funções diversas e susceptíveis de serem recordados no âmbito das vivências
colectivas ou pessoais, servindo também como ponto de referência para a orientação e
adaptação ao ambiente envolvente por parte daqueles que o utilizam.

Assim, o estudo das praças permite-nos entender a função deste elemento urbano na
hierarquia das cidades, principalmente no que diz respeito à capacidade de atrair as
pessoas. Além de um espaço de passagem, deve construir um lugar em si, cuja função
principal se caracteriza pela satisfação interactiva de necessidades humanas, onde o
individuo é exposto num ambiente que o relaciona com o espaço e com o seu
envolvente.

Desta forma, as ligações das pessoas a determinados espaços existem à medida que
vão partilhando o mesmo, sendo que a função de cada um na utilização dos espaços
referidos resulta da sua interacção com o meio envolvente e, portanto, quanto maior for
esta interacção das pessoas com a praça, maior será também a capacidade desta de
atrair e cativar mais utilizadores.

Concluindo, atualmente, face às exigências contemporâneas que se traduzem nos


fatores de qualidade do espaço, de segurança nas vivências e de rapidez nas
deslocações, a renovação nas praças é formalmente aceite se respeitar estas condições
e promover a organização urbana e social. Assim se justifica que, na renovação da

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

praça, os critérios da relação urbana e social, sejam componentes essenciais para uma
intervenção arquitectónica bem sucedida.

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

4. CASOS DE ESTUDOS

4.1. PRAÇA DO MARTIM MONIZ: LISBOA

4.1.1. ANÁLISE HISTÓRICA

O local onde se apresenta o caso de estudo em questão, a Praça do Martim Moniz


surgiu com a criação da Mouraria por ordem de D. Afonso Henriques, após a reconquista
de Lisboa em 1147. Nesse local deveria permanecer a população muçulmana, com a
condição de um pagamento ao rei. Em contrapartida desfrutava de protecção régia e da
possibilidade de eleger os seus representantes.

Segundo Augusto Vieira da Silva27, os muçulmanos que permaneceram em Lisboa


depois da Reconquista encontravam-se “Encravados entre as freguesias”. Contudo, o
mesmo afirma que, “ havia em Lisboa alguns tratos de território isentos de jurisdição
eclesiástica” – as judiarias e a mouraria (Silva, 1968: p.188). Este factor ajudou ao
desenvolvimento da cultura islâmica através da presença de mesquitas e do desenho
do próprio bairro, acentuando-se através de ruas estreitas e irregulares.

Entre 1373 e 1375 por ordem do rei D. Fernando, uma das principais estruturas de
influência muçulmana na Mouraria denominada de “cerca moura” foi perdendo a sua
importância devido ao início da construção de uma nova muralha defensiva – muralha
fernandina. Contudo devido à sua localização central na cidade a Mouraria foi sempre
um centro de trocas comerciais entre muçulmanos e cristãos.

Na segunda metade do século XV, com a conquista de Granada pelos Reis Católicos,
dá-se a expulsão de judeus e muçulmanos da Peninsúla Ibérica e, consequentemente,
em Portugal assiste-se à destruição de mesquitas e sinagogas por todo o país, facto
que afectou a Mouraria com o derrube das suas principais estruturas, dando sequência
à sua sucessiva ocupação por parte dos cristãos aristocratas que aí construiram os seus
palácios, como por exemplo, o Palácio do Marquês de Alegrete iniciado em 1694 e
demolido mais tarde. Permanecendo intacta após o terramoto de 1755 e não
beneficiando com o ordenamento imposto pela reconstrução pombalina, a Mouraria
entra no século XIX como vítima do êxodo rural provocado pela revolução industrial,
facto que contribuiu para a sua sobrelotação populacional.

27Augusto Vieira da Silva 1869-1951. -Foi um historiador e engenheiro português formado em Engenharia
na Escola do Exército em 1893, membro Associação dos Arqueólogos Portugueses e da Academia de
História. (Toponímia de Lisboa, 2003)

Tiago Barros Cardoso 61


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Sendo um dos bairros mais pobres da cidade e contrastando com o desenvolvimento


económico e tecnológico da época, a necessidade de ultrapassar as questões sociais
passava por redesenhar o espaço com o intuito de terminar com os problemas de
higiene e pobreza.

Ilustração 17– A Mouraria no fim do século XIX, baseada nas plantas de Filipe Folque.(Ilustração nossa)

1 – Rua da Palma 6 - Ermida da Senhora da Saúde

2 – Rua da Mouraria 7 - Travessa Silva e Albuquerque

3 - Palácio do Marquês do Alegrete 8 - Largo Silva e Albuquerque

4 - Rua do Arco do Marquês do Alegrete 9 – Rua Silva e Albuquerque

5 – Rua Martim Moniz

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

4.1.2. PROPOSTAS DE REABILITAÇÃO:

Até meados do século XX a Mouraria permanecia como uma zona degradada sem
qualquer sentido de estética, onde era urgente intervir. De facto, Marluci Menezes28
caracteriza-o como um foco de uma política urbana devido a insalubridade e más
condições do bairro, bem como a falta de cuidado para com o edificado envolvente.

Entre os anos 1930 e 1960, a Mouraria torna-se foco de uma política urbana
promulgadora de um “urbanismo civilizador” e difusor de uma perspectiva de
“higienização e embelezamento” que pretendeu renovar aquela zona da cidade numa
óptica de modernização, alterando radicalmente as suas dinâmicas sociais, culturais e
urbanas. Marluci Menezes. (Menezes,2009, p. 306)

Só a partir de 1948 é que a Mouraria foi incluída num plano de recuperação urbana –
Plano Geral de Urbanização e Expansão de Lisboa- definido por Étienne de Gröe. Neste
plano a Mouraria era considerada como área prioritária a intervir, visto que era um bairro
de construções degradas sem qualquer conceito de estética, com problemas de higiene
e de cariz social.

Na sequência do Plano Geral de Urbanização e Expansão de Lisboa, o arquiteto João


Faria da Costa29, discípulo de Étinne de Gröe, projectou um plano para renovar a baixa
lisboeta, que consistia em várias demolições, sobretudo na zona da Mouraria, como por
exemplo o Palácio do Marquês do Alegrete em 1946, e a Igreja do Socorro em 1949. No
decorrer das mesmas demolições deu-se origem a um largo onde se encontravam a
Rua Martim Moniz, o Largo Silva e Albuquerque e a Rua da Mouraria, largo esse que
ficaria conhecido pelo Largo do Martim Moniz, nome bastante conveniente às ideias da
politíca nacionalista defendida pelo Estado Novo, que utilizava a reabilitação de
espaços públicos e monumentos nacionais como um instrumento de propaganda
cultural.

Contudo, o recém formado Largo não desempenhava ainda a função de praça pública
da cidade. Segundo J. Lamas “[...] esses espaços nunca adquirem significado igual ao
de praça porque não nasceram como tal.” (Lamas, 2014, p. 102).

28 Marluci Menezes- É uma geógrafa doutorada em Antropologia Social e Cultural pela Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas. É também Investigadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil. (LNEC,
2017)
29 João Guilherme Faria da Costa 1906-1971- Foi um arquitecto e urbanista português formando em

arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1936 e em urbanismo pelo Instituto de
Urbanismo da Universidade de Paris em 1935. Nos seu trabalhos destacam-se o Plano director de Lisboa
em parceria com Étienne de Gröe em 1938. (Sintra. Câmara Municipal, 2017)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 18- Arco do Alegrete após demolição do palácio. (Portugal, 1947a)

Ilustração 19– Resultado das demolições. (Portugal, 1947b)

Com o fim da demolições em 1949, era necessário facilitar a circulação viária no centro
da Lisboa, resultando assim no fim de outros centros da cidade. Essa necessidade
acabaria por transferir para o Largo do Martim Moniz o mercado demolido que existira
na Praça a Figueira, e com ele as populações das minorias étnicas que se fixaram em
redor do largo e na Mouraria. Este fenómeno contribuiu para a configuração de uma

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

outra imagem do bairro que, assim, passava também a ser referido como contexto
multiétnico e multicultural. Contudo, atrasou o processo de transformação do largo em
praça pública. Para que tal processo acontecesse, foram ainda demolidos em 1957 e
1961 o Teatro Apolo e o Arco do Marquês de Alegrete, respectivamente, abrindo por
definitivo o espaço pretendido para criar a tão pretendida praça, que iria melhorar a
circulação entre a Avenida Almirante Reis e Praça da Figueira.

Ilustração 20- Planta dos pavilhões provisórios, Ilustração 21- Fotografia dos mesmos pavilhões em 1952. (APS, 2017).
1950. (Almeida, 2016. P. 144).

Nas décadas que se seguiram foram elaborados alguns projetos de reabilitação da


Mouraria, destancando-se o segundo Plano Geral de Urbanização, liderado por Meyer-
Heine em 1967, que seguia os mesmos princípios do anterior plano de João Faria Costa,
sugerindo a criação de uma praça que, de forma natural e consistente, fizesse a ligação
entre Avenida Almirante Reis e a Rua da Palma. Ainda assim, a circulação viária era
mais uma vez a permissa principal que mais pesava no desenvolvimento da cidade em
vez da criação de espaços públicos. No plano de Meyer-Heine eram propostos
aglomerados locais de forma a evitar a migrações diárias e uma via-rápida interior que
atravessaria as zonas mais densas do tecido urbano.

Tiago Barros Cardoso 65


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 22- “Apresentação” do Estudo de conjunto do Martim Moniz. (Almeida, 2016, P.146).

Ilustração 23- “Perspectiva geral” do Estudo de conjunto do Martim Moniz. (Almeida, 2016, P.146).

Perante estes factores, o Largo do Martim Moniz chega à década de 80 como um bairro pobre
com poucas condições de vida, onde era urgente intervir. Na opinião de José Manuel
Fernandes30, o Largo do Martim Moniz representava um buraco urbanístico com cerca de trinta
anos, transformado gradualmente pela cidade popular num espaço de feira permanente
caracterizada pelo mesmo autor de “espaço que tem horror ao vazio” (Fernandes, 1989, p. 46).

Em 1982 José Lamas e Carlos Duarte desenvolvem o Plano de Urbanização do Núcleo


Histórico da Mouraria, onde a ideia de criar uma praça como um espaço de união de áreas
urbanas distintas, como a Baixa Pombalina a Sul e a Avenida Almirante Reis a Norte, era vista
como a solução mais adequada para a recuperação do Largo. Segundo os autores do projecto,
“Pensamos que o primeiro problema de renovação de um lugar urbano consiste em compreender
as imagens dominantes, resolver a dificuldades da percepção e dar forma, dir-se-ia que
naturalmente, à sua personalidade latente.” ( Duarte, Carlos; Lamas, José, 1982, p. 26).

A proposta desenvolvida segundo J. Lamas dividia a zona de intervenção em três elementos


principais: uma praça reservada ao uso pedonal, limitada num dos lados pelo centro cultural e
sobreelevado em relação ao sistema viário envolvente; uma avenida que prolonga a Avenida

30José Manuel Fernandes- Nasceu em Lisboa, Portugal, em 1953. Arquitecto licenciado pela Escola de
Belas Artes de Lisboa em 1977. Professor, Doutorado em 1993, Catedrático (2010) em História da
Arquitectura e do Urbanismo da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica, Lisboa. (WOOK,
2017c)

Tiago Barros Cardoso 66


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Almirante Reis e que, canalizando todo o trânsito de passagem, atravessa o espaço e corta na
diagonal os eixos da estrutura urbana, remata a praça, é marginada por faixas arborizadas ou
alamedas, à imagem do boulevard do século XIX, agora em moldes contemporâneos; um anel
de circulação envolvente que distribui o trânsito, constitui a rua de animação e acesso directo
aos edifícios.

J. Lamas afirma também que a praça integrante do plano era constituída por três níveis de leitura
e definição espacial: o primeiro, definido pelo centro cultural e espaço de permanência imediato,
pavimentado, arborizado e elevado em relação às ruas envolventes. O segundo nível inclui as
vias envolventes, é limitado pelo plano marginal do novo hotel e dos edifícios da Rua da Mouraria
e pelo eixo arborizado que segue o traçado da antiga Muralha Fernandina no sentido nascente-
poente. Um terceiro nivel de leitura é já constituido pela encosta da Mouraria e o castelo de São
Jorge, as colinas envolventes, ou seja, a paisagem de Lisboa visível do vale. (Lamas, 2014, p.
476)

Este plano incluía também equipamentos, comercial geral, escritórios, instalações culturais,
habitação e estacionamento. Para tal, colaboraram com os arquitectos o designer Daciano
Costa31 que se ocupou do desenho do mobiliário urbano e Eduardo Nery 32para o desenho de
pavimentos.

Ilustração 24- Proposta de José Lamas e Carlos Duarte em 1980. (Almeida, 2016, P.157)

31 Daciano Henrique Monteiro da Costa 1930-2005 - Estudou pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa
até 1961. Em 2004 recebeu o titulo de Doutor Honoris Causa da Faculdade de Arquitectura por toda a
contribuição da sua obra para o desenvolvimento do Design em Portugal. (Universidade de Lisboa.
Faculdade de Arquitectura, 2013)
32 Eduardo José Nery de Oliveira 1938-2003 – Artista plástico, formado em Pintura, na Escola de Belas

Artes de Lisboa, tendo efectuado uma breve passagem pelo Curso de Arquitectura, na mesma escola.
Realizou a sua primeira exposição individual em 1964, na Sociedade Nacional de Bela Artes. (Freitas, 2013)

Tiago Barros Cardoso 67


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 25- Proposta de José Lamas e Carlos Duarte em 1980. Perspectiva axonométrica. (Lamas, 2014, P. 475)

Ilustração 26- Proposta de José Lamas e Carlos Duarte em 1980. Esquiços de ambientes urbanos. (Lamas, 2014, P. 475)

Tiago Barros Cardoso 68


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 27- Plano de pavimentos desenhos por Eduardo Nery. (Almeida, 2016, P. 160)

Contudo, mais uma vez o plano não foi cumprido na totalidade, levando o Largo,
segundo José Augusto França33, “a misérrima solução final” (França, 1997, p. 106). Do
plano proposto só foram executados o Centro Comercial da Mouraria em 1989 e o
suposto plano de pavimentos para este destinado. Em 1991 constroi-se o Centro
Comercial do Martim Moniz, reabilita-se o palácio dos Aboim, dá-se o prolongamento do
Hotel Mundial e a construção do edifício Marquês de Alegrete, levando J. França a
afirmar que o plano “que se pretendia definir como um centro terciário de grande
densidade não teria razões económicas de ser na crise de 1975-1980” (França 2009, p.
769).

A praça proposta para o Martim Moniz foi segregada ao trânsito automóvel e os próprios
movimentos dos peões foram controlados de modo a que os atravessamentos se façam
marginalmente ao espaço central. Recuperou-se no Martim Moniz a função de zona de
estar que se perdeu no Rossio, quando o tráfego mecânico, os atravessamentos
constantes e a destruição do seu pavimentos original transformaram a praça central
numa ilha inóspita. A praça do Martim Moniz pensámo-lo como um local de convívio e
encontro da população, animada por esplanadas e cafés e palco de iniciativas culturais
e populares. Ela será o complemento indispensável de instalações destinadas a fins
culturais e recreativos que junto a ela serão criadas. (Lamas; 1982, p. 19).

33José Augusto França (1922) - É um historiador, sociólogo e crítico de arte português. Licenciou-se em
1994 em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa. (WOOK, 2017d)

Tiago Barros Cardoso 69


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

4.1.3. PRAÇA NA ACTUALIDADE

A reabilitação do Largo só ficou concluída em 1997. Esta incluía os projectos de


arquitectura e paisagismo da autoria dos arquitectos João Paulo Bessa, Daniela Ermano
e do arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles34, respectivamente, cumprindo assim
o desejo de ter uma praça central numa das zonas mais antigas de Lisboa que fosse
um local de encontro e convívio das várias etnias que se estabeleciam na Mouraria
desde a sua fundação.

Ilustração 28– A Praça do Martim Moniz. (Guerreiro, 2017)

Segundo M. Menezes “A inauguração da praça, em 1997, foi durante algum tempo


motivo de visitas e tema privilegiado das conversas locais, desencadeando um interesse
generalizado por aquele novo espaço.” (Menezes, 2009, p.309). As consequências
deste interesse espontâneo pelo lugar, levou o mesmo autor a afirmar que “Era comum
encontrar os moradores do bairro a apreciar a praça, crianças a correr entre os repuxos
de água, grupos a conversar e a trocar impressões sobre os equipamentos.” (Menezes
2009, p. 309).

34Gonçalo Pereira Ribeiro Teles (1922) -Foi pioneiro em Portugal da defesa dos valores ambientais, da
necessidade de promover o ordenamento do território e da humanização das cidades. Desempenhou
funções de secretário de Estado do Ambiente, ministro de Estado e da Qualidade de Vida, e foi professor
catedrático da União Europeia. (Dinis, 2002)

Tiago Barros Cardoso 70


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 29– A Praça do Martim Moniz, Luís Pavão, 2000. (Revelar Lx, 2005).

Esta reabilitação, segundo João Paulo Bessa, pôs fim ao “ vazio residual de encontro
de tecidos urbanos de várias procedências, de diversas formas ou lógicas de utilização,
de transformação e de apropriação do espaço”. (Bessa, 1998). De facto, a reabilitação
efectuada vai ao encontro dos três parâmetros citados por Lamas que diferem a praça
do largo: “os espaços destinados ao tráfego e formando parte da rede principal de vias
urbanas, usada tanto por peões como por veículos; os espaços residenciais, pensados
só para acesso pelo tráfego local aos edifícios e com propósitos recreativos; e terceiro,
os espaços pedonais, nos quais é excluído o tráfego rodado” (Lamas, 2014, p. 174).

Segundo J. Bessa, a obra em si foi pensada a fim de resolver “a articulação do desenho


da praça com o eixo da avenida Almirante Reis, a integração visual dos edifícios
recentemente construídos e a defesa acolhedora - fisica e visual - do espaço-ilha
rodeado de vias de tráfego intenso.” (Bessa, 1998). E tem como objectivo prioritário a
criação de um espaço de paragem, de encontro, de estar, de relação e lazer
suficientemente protegido e enfático da memória do sitio e do espirito do lugar. (Bessa,
1998)

Assim sendo, a praça foi dividida, segundo o autor, em três zonas sendo que a primeira
tem como preocupação articular os eixos da nova praça com a avenida e estabelecer
uma relação integradora na envolvente urbana; a segunda procura, através de um
comércio especial e de qualidade, atrair as pessoas ao seu interior; a terceira criar um
clima lúdico que possibilite tempos dinâmicos de distracção. Por fim, segundo o mesmo
autor, para resolver os problemas criados pela intensidade do tráfego e enquanto

Tiago Barros Cardoso 71


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

“cortina de salvaguarda visual e articulação com a escala envolvente dos edifícios mais
modernos, decidiu-se rodear a praça de revestimento arbóreo denso e elevado.” (Bessa,
1998)

Ilustração 30- Pormenor do revestimento arbóreo da Praça do Martim Moniz.( Ilustração nossa, 2017)

Quem chega pela Almirante Reis ao Martim Moniz encontra um primeiro espaço de
paragem numa estrela, numa rosa dos ventos, que constitui uma placa giratória capaz
de inflectir um eixo e, na leveza dos seus jogos de água, relacionar e articular a escala
urbana com a redução necessária ao conforto de quem passeia. Na parte central criando
a atracção necessária para a frequência de uma população exterior às zonas
envolventes e para o entretenimento dos utentes habituais, um conjunto de quiosques
destinados à venda de artesanato qualificado desenha pequenos pátios a que as
laranjeiras darão a sombra para um tempo de espera a que os bancos convidam. A água
lançada dos repuxos de um caneiro central que acentua a simetria do espaço, trará, nos
quentes fins-de-tarde de verão, uma frescura convidativa ao sabor de quem está, dos
grupos, das conversas ou da solidão procurada para leitura de um livro ou de um jornal.
A envolvente de árvores e arbustos dará - logo que o seu tempo de crescimento se
adapte á dimensão esperada - o conforto, a protecção e a intimidade que este espaço-
ilha necessita para se autonomizar. (Bessa. 1998)

Apesar das intervenções executadas a praça não obteve a afluência desejada, visto que
não reunia as condições necessárias à permanência dos que ali passavam, conduzindo
à instalação de actividades marginais que, por sua vez, levaram ao afastamento de
outros indivíduos, funcionando apenas como ponto de conexão entre a Avenida
Almirantes Reis e a Baixa Pombalina e como ponto de passagem entre os centros
comerciais que a rodeavam.

Posteriormente, os quiosque colocados em 1997 foram encerrados devido à sua pouca


afluência, facto que “desafogou” a praça e permitiu à população voltar a usufruir do

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

espaço. Segundo M. Menezes “A retirada dos quiosques da praça deixou-a mais


desafogada, o que intensificou a sua apropriação, nomeadamente por quem já a
utilizava.” (Menezes 2009 p. 313). A praça começava finalmente a desempenhar a
função do espaço público que segundo o mesmo autor “é um contexto de mediação
através do qual as identidades sociais, as práticas e as imagens socioespaciais podem
ser criadas e contestadas, simbolizando quer a comunidade, quer a sociedade e a
cultura mais abrangente, na qual ele se integra.” (Menezes 2009, p. 302).

Ilustração 31– A Praça do Martim Moniz e o seu envolvente, tendo como base um ortofotomapa da cidade.( Ilustração nossa, 2017)

1 – Centro Comercial da Mouraria 2 – Centro Comercial Martim Moniz

3 – Hotel Mundial 4 – Igreja da Nossa Senhora da SaúdeS

5 - Fonte Norte 6 – Quiosque do Mercado de Fusão

7- Fonte Sul 8 –Muro alusivo à Cerca Moura

Em outubro de 2011 a Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, juntamente com a


Camara Municipal de Lisboa, criou um concurso que se destinava à requalificação da
praça e principalmente dos quiosques establecidos em 1997. O projecto do mercado da
autoria de José Rebelo Pinto35 foi o vencedor. Segundo o autor, o mercado tem como
objectivo revitalizar a zona, encaixando com o que já existe na zona envolvente. O
mesmo afirmou em intervista “Queremos trazer sangue novo à praça. Queremos criar
uma nova cidade dentro da cidade." (Costa, 2012)

35José Filipe Rebelo Pinto- Nascido em Agosto de 1974, empresário e fundador da empresa NCS
(Número de Ciclos por Segundo) que é responsavel pela concessão do mercado de fusão. (Simões, 2013)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 32- Quiosque da praça do Martim Moniz. (Ilustração nossa, 2017)

Concluindo, a praça do Martim Moniz é nos dia de hoje um enorme centro cultural
urbano devido à presença de várias étnias minoritárias, que continua a ser a
característica que mais se destaca naquele exacto lugar, fazendo dele um centro de
encontro de valores e formas de pensar distintas. Por outras palavras, a herança étnica
presente no lugar desde a fundação da Mouraria até à actualidade, proporciona ao
espaço uma das características mais presentes numa praça, que neste caso se manteve
e que faz dela um centro urbano onde se debate e troca informações sobre culturas
diferente.

Ilustração 33– A Torre de Péla ( Ilustração nossa, 2017)

Tiago Barros Cardoso 74


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

A herança da Lisboa medieval também se manteve com a presença da Torre de Péla,


na qual é possível visualizar todo o panorama da praça e com a criação de um muro
alusivo à antiga Cerca Moura situado a Sul da mesma. M. Menezes classifica a praça
do Martim Moniz como “um importante contexto na dinamização naquela da cidade.”
(Menezes 2009 p. 313).

Ilustração 34- Muro alusivo à antiga Cerca Moura. (Ilustração nossa, 2017)

A praça do Martim Moniz, embora apresente ainda algumas dificuldades na circulação


rodoviária, é compensada com os percursos pedonais no seu interior e com a
pavimentação caracterizada com elementos geométricos desenhados pelos autores,
que se relacionam directamente com a massa arbórea desenvolvida à volta da praça e
que, por conseguinte, desempenha a dupla função, tanto na renovação da paisagem
urbana bem como de proteger aqueles que percorrem a praça do ruído e da poluição
visual provocada pelo trânsito automovél. Ao nível das melhorias do tecido urbano, tal
como é visível na ilustração 4, a praça do Martim Moniz aparece referenciada por Carlos
Dias Coelho como uma área de consolidação do tecido urbano lisboeta.

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 35- Tecido homogéneo e elementos de articulação da área central de Lisboa.(Coelho, 2014, P. 30)

Ilustração 36-Articulação da Praça do Martim Moniz com o seu envolvente, tendo como base um ortofotomapa da cidade. (Ilustração
nossa, 2017)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

4.2. PRAÇA DE LISBOA: PORTO

4.2.1. ANÁLISE HISTÓRICA

No seguimento da reconstrução de Lisboa após o terramoto, dá-se em 1757 uma revolta


no Porto contra a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro que
acabaria suprimida pela figura nomeada pelo Marquês de Pombal como Governador de
Armas do Porto - João de Almada e Melo – que, mais tarde, ocupou o cargo de
Governador da Justiça e Relação do Porto em 1764.

Durante as três décadas em que chefiou a Junta das Obras Públicas, criada pelo rei
D.José em 1763, elaborou um plano estratégico para a cidade, respondendo ao rápido
aumento populacional que se fazia sentir, muito por parte das trocas comerciais.
Segundo Joaquim Ferreira Alves36, “Deveu-se à Junta de Obras Públicas do Porto, com
o apoio financeiro da Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, a
reorganização e alargamento da cidade do Porto entre 1763 e 1804”, (Alves, 1988, p.
197).

No miolo da cidade muralhada, promoveu e facilitou a relação do rio com a zona alta da
cidade; construiu praças; regularizou os bairros que se iam formando fora das muralhas
sem planificação. Confrontada com um traçado urbano orgânico, a Junta propõe, para
expansão da cidade, que os arruamentos fossem executados «segundo um plano prévio”
(Alves, 1988: 175).

O objetivo desse plano era aumentar a cidade para lá das muralhas fernandinas, de
forma a criar circulações viárias e alargar as vias já existentes na cidade medieval, mas
também criar arruamentos e espaços públicos. Contudo, segundo Manuel Teixeira37
“nas ruas transversais e no interior destas malhas continuavam a existir grandes
espaços por urbanizar” (Teixeira 1996, p. 19), facto que se agravou com a viragem de
século, que deu origem a uma série de acontecimentos tais como: as invasões
francesas, a crise comercial e, em particular, a instauração do liberalismo, que se
reflectiu num momento de paragem urbanística devido, principalmente, aos
bombardeios efetuados pelas tropas absolutistas durante o Cerco do Porto.

36 Joaquim Jaime Ferreira Alves- Professor Catedrático de Ciências e Técnicas do Património da


Universidade do Porto. (CEPESE, 2010)
37 Manuel António Correia Teixeira- Professor Catedrático da Universidade Técnica de Lisboa. Licenciado

em Arquitectura em 1974 pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. (Universidade de Lisboa.
Faculdade de Arquitectura, 2017)

Tiago Barros Cardoso 77


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

4.2.2. DO RECOLHIMENTO DO ANJO AO MERCADO DO ANJO

O Recolhimento do Anjo foi fundando em 1672 por uma viúva portuense, de seu nome
D.Helena Pereira38 e destinava-se a acolher apenas viúvas ou raparigas orfãs da
nobreza portuense. O Recolhimento situava-se na actual Rua Dr. Ferreira da Silva, de
frente para a Universidade do Porto e, embora não existam registos fotográficos do
edifício em si, Carlos Passos elabora na sua obra “ Lembranças da Terra”, publicada
em 1919, uma descrição pormenorizada do Recolhimento do Anjo, na qual descreve o
contexto histórico que levou à sua construção, bem como a análise detalha do edifício
em si.

Mui além da área do Mercado ia a do Recolhimento com sua capela e cerca, pois
ocupava a rua São Filipe Nery, então estreita viela de passagem, e parte das ruas das
Carmelitas e da Academia (local do Colégio dos Órfãos), também apertadas ruelas. O
edifício era de um andar único, paredes lisas, modesta arquitectura. A meio da fachada
três arcos ajeitavam o átrio de entrada assentando sobre eles o coro com três janelas
correspondentes aos arcos. Adentro da portaria corriam as coisas à moda dos conventos
- rodas, locutórios gradeados - porque, como essas casas, fora construido o
Recolhimento e como elas gozava dos mesmos privilégios, embora não houvesse
profissão para as recolhidas. A fachada dos dormitórios era bem monástica com suas
janelinhas gradeadas, quase postigos. (Cunha, 2015)

Ilustração 37- Mercado do Anjo. (Cunha, 2015)

38D.Helena Pereira - Viúva de Gonçalo Borges Pinto que era um fidalgo portuense, decidiu aplicar a sua
herança na construção de uma obra de utilidade pública. (Cunha, 2015)

Tiago Barros Cardoso 78


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 38- Mercado do Anjo, (Cunha, 2015)

Contudo passados quatro anos do Cerco do Porto, a cidade ainda se encontrava


danificada devido aos bombardeamentos das tropas Miguelistas e, consequentemente
era necessário intervir na construção de obras públicas.

Por sua vez, o terreno pertencente ao Recolhimento oferecia as condições


nececessárias para a construção de um mercado. Assim sendo, em 1833 o rei D. Pedro
IV concedeu à Câmara Municipal do Porto o terreno que pretencia ao Recolhimento do
Anjo e em 1837 a Câmara deu início à demolição do edifício e, posteriormente, às obras
de construção do mercado.

Tiago Barros Cardoso 79


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 39- Mercado do Anjo, 1813. (SOCIEDADE SECRETA DE REABILITAÇÃO URBANA, 2010)

Ilustração 40– Área envolvente do Recolhimento do Anjo em 1813, baseada na planta José Francisco de Paiva. (Ilustração nossa)

1 - Recolhimento do Anjo 2-Terreno pertencente ao 3 - Torre dos Clérigos


Recolhimento

4 - Praça da Cordoaria 5 - Calçada dos Clérigos 6 - Universidade do


Porto

Tiago Barros Cardoso 80


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Nos anos trinta do século XIX dá-se um novo impulso urbanístico na cidade do Porto.
Foi a partir dessa altura que foram criadas uma série de infra-estruturas públicas que
permitiram a reorganização de determinadas zonas da cidade. Destas estruturas
destacaram-se os mercados, nomeadamente o Mercado do Bolhão em 1837, o Mercado
do Anjo em 1839 e o Mercado Ferreira Borges em 1888.

Estes mercados eram espaços organizados, com melhores condições de higiene e de


funcionamento, tendo a sua criação tido como objectivo agrupar as feiras que até então
decorriam espalhadas pela cidade. Na opinião de José Rio Fernandes39, a actividade
comercial acompanhou as acções urbanistícas da época.

O comércio e locais de venda foram acompanhando as alterações da industrialização e


do urbanismo da cidade, verificando-se um gradual «declínio da venda ambulante e a
migração das feiras para a periferia, ou o seu desaparecimento a favor dos mercados.
(Fernandes, 1997: 57 e 82.)

O Mercado do Anjo, por sua vez, tinha uma forma triangular, onde os posto de venda
arrendado pela Camara se dispunham em redor do espaço envolvente com a frente
voltada para o seu interior, sendo que no centro apresentava-se um chafariz para uso
público. O Mercado do Anjo foi inaugurado em 9 de julho de 1839 mantendo-se em
actividade durante um século.

Ilustração 41- Mercado do Anjo, 1839. (SOCIEDADE SECRETA DE REABILITAÇÃO URBANA, 2010)

39 José Alberto Rio Fernandes- Professor Catedrático do Departamento de Geografia da Faculdade de


Letras da Universidade do Porto e Presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos. (FLUP, 2013)

Tiago Barros Cardoso 81


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

4.2.3. PROPOSTAS DE REABILITAÇÃO

No início do século XX, a Câmara Municipal do Porto propôs a construção do novo


Mercado do Anjo respondendo assim, à necessidade de reabilitar o mercado antigo por
razões de ordem urbanística e devido à sua falta de higiene.

Assim sendo, a 13 de Abril de 1905 o projeto de reabilitação da autoria do arquitecto


José Marques da Silva40 foi aprovado pela Câmara Municipal, destacando-se pelas
áreas ajardinhadas e pelo edifício que marcava a entrada do mercado, localizado ao
lado da Torre do Clérigos, no cruzamento da Rua de São Filipe de Nery com a Rua da
Carmelitas.

Ilustração 42- Mercado do Anjo, Estudo do projecto de reabilitação. José Ilustração 43- Mercado do Anjo, Plantas do projecto de reabilitação. José
Marques da Silva, 1905. (PORTO. Câmara Municipal. Arquivo Municipal Marques da Silva, 1905. (PORTO. Câmara Municipal. Arquivo Municipal
(1904-1906) (1904-1906)

Ilustração 44- Mercado do Anjo, alçado sobre a rua da academia. José Marques da Silva, 1905. (PORTO. Câmara Municipal. Arquivo
Municipal (1904-1906)

40José Marques da Silva (1869-1947) - Foi o arquitecto que moldou a fisionomia do Porto no início do
século XX. A sua obra funda-se na aprendizagem da arquitectura académica, primeiro no Porto na
Academia de Belas Artes entre 1882 e 1889, e depois em Paris onde frequentou a École Nationale de
Beaux-Arts entre 1889 e 1896. (FIMS, 1994)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 45- Mercado do Anjo, alçado sobre a rua da Carmelitas. José Marques da Silva, 1905. (PORTO. Câmara Municipal. Arquivo
Municipal (1904-1906)

A proposta de José Marques da Silva nunca seria terminada devido à suspensão da


mesma pela Câmara Municipal. Mesmo assim, o mercado do Anjo permaneceu em
funções. Contudo, face à degradação que espaço apresentava numa zona tão nobre da
cidade, iniciaram-se em 1948 as demolições do mercado. Durante as mesmas a Camara
Municipal do Porto optou por manter a entrada do mercado, da autoria de Marques da
Silva, que só seria demolido com a construção da praça actual.

.
Ilustração 46- Mercado do Anjo, início do século XX. (SOCIEDADE SECRETA DE REABILITAÇÃO URBANA, 2010)

Até sofrer nova intervenção que só seria planeada na década de 90, a Praça do Anjo
tornou-se num lugar esquecido e sem identidade, funcionando como local de
estacionamento automóvel.

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Em 1992 numa intervenção promovida pelo CRUARB41 inicia-se novamente mais uma
reabilitação da praça do Anjo no qual o projecto vencedor denominado “Shopping
Clérigos”, da autoria dos arquitectos António Moura, Luís Oliveira e Susana Barbosa, se
revelaria um fracasso, visto que a relação que este tinha com o envolvente era
inexistente. Devido à pouca afluência da população o espaço foi encerrado em 2006 e
até à sua reabilitação final apresentou-se sempre como uma zona degradada e mal
frequentada da cidade do Porto.

4.2.4. PRAÇA NA ACTUALIDADE

Em 2008 a Camara Municipal do Porto e a Sociedade de Reabilitação Urbana Porto


Vivo dão início a um concurso público denominado de ”NO RULES, GREAT SPOT!
PROCURAM-SE IDEIAS PARA A PRAÇA DE LISBOA | PORTO42”, sendo que objectivo
era reabilitar toda a Praça do Anjo, devolvendo-lhe a sua característica principal, a
actividade comercial através da abertura de lojas e restaurantes e criar um espaço
aberto ao público, lado a lado com a Torre dos Clérigos.

Das várias propostas apresentadas destacam-se a do arquitecto Pedro Arrozeiro


Ribeiro43. Este descrevia a antiga praça como uma falha no tecido urbano da cidade,
que devido à pouca permanência da população, se tornou num lugar esquecido, sem
vida pública e fechado para si próprio, que não conseguiu conectar-se com as várias
intersepções que o rodeiam, fazendo com que as pessoas não circulem pela praça,
preferindo sempre circundá-la.

41 CRUARB - Comissariado para a Renovação Urbana da Área de Ribeira/Barredo, foi a entidade


responsável pela recuperação e reabilitação do Centro Histórico do Porto, em Portugal, entre 1974 e 2003.
(Sá, 2016)
42 NO RULES, GREAT SPOT - Designação que a Camara Municipal do Porto utilizou para dar nome ao

concurso de ideias para a Praça de Lisboa, frase essa que foi escrita nas paredes por moradores
descontentes com o estado de degradação que a praça apresentava. (Jordana, 2011)
43 Pedro Arozeiro Ribeira – Arquitecto português que actualmente exerce profissão na cidade Oslo na

Noruega. (Divisare, 2014)

Tiago Barros Cardoso 84


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 47– Proposta de Pedro Arrozeiro Ribeiro. (Divisare, 2014).

Na sua proposta o conceito projectual “pretendia fundir o espaço com o tecido urbano,
acabando com o que é antigo, fazendo-o nascer outra vez.” (Divisare, 2014) Ao mudar
a geometria da praça e, consequentemente, o desnivel do terreno, “o projecto propõe a
melhoria da paisagem urbana e vários acessos entre o centro da praça com as principais
artérias urbanas que constituem a praça, trazendo de novo vida áquele lugar.” (Divisare,
2014)

Outra proposta de praça apresentada embora de pouca relevância por não se enquadrar
com o envolvente, é da autoria do gabinete de arquitectura e urbanismo “design-factory
gmbh” que segundo a memória descritiva “ considerou-se o contexto envolvente à praça
que inclui a Universidade, a Torre dos Clérigos, escritórios e habitações e construi-se
uma plataforma que faça a troca do antigo para o novo, do espaço pobre para o espaço
rico.” (gmbh, 2011)

“Quanto ao vazio que há muito se apresentava naquele lugar, foi usado como conceito
projectual através do centro vazio que se encontra na base da proposta, sendo acessível
por qualquer lado e preenchido com elementos naturais como água e madeira, procura
uma atmosfera maritima que encaixa perfeitamente no passado marítimo do porto.
(gmbh, 2011)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 48– Proposta de Design-Factory (gmbh, 2011)

A proposta vencedora, assinada pelo arquitecto Pedro Balonas, previa três permissas
principais para a reabilitação da praça: a primeira previa a revitalização das áreas
degradas existentes e da circulação pedonal no interior da praça; em segundo lugar a
proposta pretendia utilizar a topografia do terreno e a variedade de inclinações
existentes na concepção do projecto; e por fim a proposta da nova praça pretendia
renovar a paisagem urbana através do uso de áreas arborizadas. (Balona & Menano,
2013).

Desta forma, a antiga Praça do Anjo foi inaugurada em Julho de 2012 como Praça de
Lisboa, acabando de vez com os problemas urbanísticos que as intervenções anteriores
nao tinham conseguido resolver, nomeadamente o desnível que a praça apresentava
há vários séculos.

Tiago Barros Cardoso 86


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 49– A Praça de Lisboa. (Nunes, 2017)

Como solução, o projecto de Pedro Balonas propõe uma vasta área verde denominada
pelo próprio autor de Jardim Urbano. Este mantém-se no mesmo nível do início da rua
de São. Filipe de Nery, de forma a renovar por completo a paisagem urbana e propõe a
criação de uma nova rua situada numa cota intermédia da praça que se encontra
abrigada numa estrutura de betão e vidro e que se destina ao comércio e às áreas de
lazer da praça, fazendo assim a ligação pedestre entre dois marcos históricos
envolventes áquele lugar – a Torre dos Clérigos e a Livraria Lello.

Em declarações à imprensa o arquitecto explicou que a superfície ondulada em betão


seria coberta por relva "tipo prado" e receberia um olival. "Serão plantadas cinquenta
oliveiras. Historicamente, aquilo era um olival e esta é uma forma de repor o jardim que
existia naquela zona". (Carvalho, 2013)

Tiago Barros Cardoso 87


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 50– Relação da Torre dos Clérigos com o nível Ilustração 51– Relação da Torre dos Clérigos com os dois nível médio da
superior da praça. (Ilustração nossa, 2017) praça (Ilustração nossa, 2017)

O autor propõe ainda a criação de três quiosques, para que os portuenses possam
usufruir do espaço sentados nas esplanadas. Este afirma ainda que esses quiosques
"com uma forma tradicional" serão "muito pequeninos, quase estruturas efémeras" e
que irão permitir usufruir da praça de outra vertente.” (Carvalho, 2013)

A Praça de Lisboa, ao contrário da praça do Martim Moniz, apresentou uma forma quase
triangular desde a edificação do Recolhimento do Anjo, facto esse que se apresentou
como principal obstáculo para que o espaço se transformasse numa praça pública.
Contudo, na opinião de K. Lynch, “num aglomerado populacional grande, a forma em
triângulo faz com que o espaço aberto esteja mais próximo de todas as pessoas”, (Lynch
2007 p.408). O mesmo autor salienta, ainda, que “o modelo abandona a ideia de atribuir
uma forma ao conjunto através de um padrão de triângulos verdes e concentra-se numa
distribuição equitativa do espaço aberto através de tecido urbano, juntamente com uma
interligação geral do sistema de espaços abertos” (Lynch 2007 p.409).

Segundo Lamas “a geometria da praça pode variar do quadrado ao triângulo, passando


por círculos, semicírculos, elípses, paralelogramas regulares, irregulares” (Lamas, 2014,
p. 102). Desta forma tanto a Praça de Lisboa como a Praça do Martim Moniz embora
possuam formas distintas podem considerar-se praças segundo o autor.

Tiago Barros Cardoso 88


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Além da forma em triângulo, outro obstáculo na concepção da praça foi o desnível do


terreno na Rua de São Filipe de Nery. Contudo, face a estes problemas, a proposta de
Pedro Balonas encontrou forma de interligar o triângulo existente com o desnível da rua,
através da criação de uma rua abrigada no interior da praça, como já foi anteriormente
referido.

Assim sendo, a solução proposta, encontrou forma de usar os dois principais obstáculos
como conceito projectual, indo assim ao encontro das afirmações de K. Lynch, ao
defender que as ligações podem ser reduzidas a caminhos estreitos próximos das
estradas principais, para que não seja usurpado demasiado terreno importante
destinado ao desenvolvimento, ao mesmo tempo que o espaço aberto se expande nos
interstícios da grelha de ruas.(Lynch 2007 p.409)

O mesmo autor afirma que, “uma vez que o modelo é um sistema interligado e, todavia,
intimamente enredado em toda a área urbanizada, pressupõe um controlo alargado e
pode necessitar de separações desniveladas nos pontos em que atravessa as ruas
principais.” (Lynch 2007 p.409).

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 52 - Planta de implantação da Praça de Lisboa, Pedro Blaonas 2010. (Balonas & Menano - Architectural and Urban Concept,
2013).

Ilustração 53- Corte da praça paralelo à Torre dos Clérigos, (Balonas & Menano - Architectural and Urban Concept, 2013).

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 54- Corte da praça paralelo à Reitoria da Universidade do Porto, (Balonas & Menano - Architectural and Urban Concept, 2013).

Desde a extinção do Recolhimento do Anjo que o espaço referente à Praça de Lisboa,


representou um “nó urbanístico” na baixa do Porto. As demolições de 1948 e a
intervenção de 1992 não conseguiram proporcionar um espaço de estar naquele lugar,
mantendo-se, assim, abandonado e sem qualquer ponto de interesse que chamasse a
atenção das pessoas.

Contudo, a proposta que acabaria por ser construída baseava-se, segundo os autores,
numa “solução arquitetónica que, com plena consciência e respeito pela importância do
património circundante, procurasse dialogar com ele” (Balona & Menano, 2013). “O
projeto foi concluído como um esforço para melhorar uma área em declínio no meio do
Porto e cria um espaço para a comunidade e meios de subsistência.” (Lee, 2013).

Ilustração 55– Esquiço do lugar, relação com a Torre dos Clérigos. Ilustração 56– Esquiço do lugar. (Ilustração nossa, 2017)
(Ilustração nossa, 2017)

Tiago Barros Cardoso 91


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

A intervenção de 2010 tal como afirmam os seus autores, divide o programa da praça
em três níveis: “um jardim no nível superior que se encontra ao nível do jardim da
Cordoaria e da Praça Gomes Teixeira, uma rua comercial no nível médio que liga a
livraria Lello e a Torre Clérigos, e um parque de estacionamento já existente no nível
inferior que tem ligação com as ruas mais baixas.” (Balona & Menano, 2013).

Um dos pontos em que a Praça de Lisboa se destaca é precisamente na continuação


das lajes superiores. A sua junção proporciona áqueles que percorrem o espaço, um
abrigo e a possibilidade de permanência, algo que até então era inexistente na praça.
No seu primeiro nível, a praça é constituída por cinco áreas ajardinadas e uma estrutura
de betão interligadas no meio por uma claraboia que, segundo os autores, “É
essencialmente um telhado verde pontuado por árvores. Essas oliveiras invocam uma
das antigas portas da cidade formalmente conhecida como Porta do Olival” (Balona &
Menano, 2013).

Ilustração 57 – A relação entre os níveis da praça. (Ilustração Ilustração 58 – A relação entre os níveis da praça. (Ilustração
nossa, 2017). nossa, 2017).

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Concluindo, o modo como as pessoas compreendiam a praça mudou radicalmente, visto


que a possibilidade de encontros e vivências acontece no piso médio, deixando o nível
superior da praça livre apenas com um percurso e espaços de estar arborizados. Esta
maneira de ver uma praça urbana é algo que até então era pouco ou nada usual numa
cidade portuguesa. Por norma as acções de vivências partilhadas entre as pessoas
aconteciam a céu aberto e, por vezes, os espaços verdes e os espaços comerciais
juntavam-se no mesmo espaço. É precisamente por haver uma separação dessas áreas
que faz da Praça de Lisboa um caso único no contexto da praça portuguesa.

Por outro lado, os novos acessos criados nos dois níveis da Praça de Lisboa permitem
ao mesmo tempo, tal como na Praça do Martim Moniz, melhorias consideráveis na
paisagem urbana, mas também uma renovação do tecido urbano, visto que as duas
praças fazem a ligação entre os vários acessos pedonais e rodoviários das respectivas
cidades.

Ilustração 59– Articulação da praça de Lisboa com o seu envolvente, tendo como base o ortofotomapa da cidade. (Ilustração nossa,
2017)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Ilustração 60 - A praça de Lisboa e o seu envolvente tendo como base um ortofotomapa da cidade. (Ilustração nossa, 2017)

1 – Torre dos Clérigos 2 – Quiosque central

3 – Rua das Carmelitas 4 – Livraria Lello

5 – Universidade do Porto 6 – Jardim da Cordoaria

7 - Rua de S.Filipe de Nery 8 – Rua Dr. Ferreira da Silva

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

5. CONCLUSÃO

Da antiguidade clássica à actualidade, apesar das diferentes organizações político-


sociais que estão por detrás da evolução das praças públicas, estas têm, de forma
consistente, conseguido manter algumas das mesmas funções pelas quais foram
concebidas. Desde a Ágora até ao período Barroco as funções principais da praça
urbana consistiam na troca de informação, na transmissão de conhecimentos, no debate
de ideias de carácter político ou religioso, no exercício do comércio ou na simples prática
de actividades ligadas ao lazer e ao ócio.

As praças eram o reflexo da vida das cidades. Contudo, a partir do século XIX, as
cidades não conseguiam dar respostas às consequências da Revolução Industrial como
o aumento da população e o aparecimento do automóvel que obrigava a repensar os
acessos nos centros urbanos. Tais acontecimentos evidenciaram em profundas
alterações nos tecidos urbanos das grandes cidades contemporâneas alterando
profundamente a natureza da praça em si, que actualmente desempenha um papel
fundamental na renovação da paisagem urbana, no aumento de interacções sociais
através de actividades tais como comércio e restauração, mas também na requalificação
de espaços públicos.

No início do século XX, a praças públicas com algum significado histórico sofreram um
abandono que resultou na sua degradação, perdendo assim as suas características
sociais e culturais. A noção de qualidade de espaço público perdeu-se devido às novas
tendências de espaços comerciais, comunemente denominados de shopping. Deste
modo, as praças não serviam para mais do que parques de estacionamento e circulação
automóvel, facto que contribuiu para o aumento da poluição, tanto ambiental como
sonora, tornando assim as praças em locais pouco procurados e mal frequentados.

Deste modo, os urbanistas no final do século XX começaram a responder à necessidade


de requalificar e reabilitar os centros urbanos de acordo com as tendências
contemporâneas, salvaguardando sempre a identidade da praça e os valores que nela
prevalecem.

A praça como elemento morfológico é essencial na malha urbana, devido principalmente


à interligação que esta faz entre ruas, construindo, deste modo, um sistema urbano
funcional. Este sistema confere uma forma e um significado ao espaço urbano,
permitindo que os espaços públicos se liguem entre si de forma lógica, relacionando o

Tiago Barros Cardoso 95


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

público com o privado e garantindo a utilização e a permanência dos espaços por parte
da população.

A praça é vista como um factor actuante na estrutura urbana, mas também como o
elemento que agrega e referencia a paisagem local, adquirindo um simbolismo de tal
forma importante que aqueles que percorrem a cidade a usam como ponto de
referência. Como parte integrante da estrutura urbana, a praça conforma a imagem
através da relação espacial entre a mesma e o seu envolvente, integrando ambos os
elementos num único conjunto. A praça urbana promove a fundamental diferenciação
entre lugares e confirma a nova percepção do espaço urbano.

Na Europa as praças mantêm na maior parte das vezes uma forte relação com o tecido
urbano, tal como acontece nos casos de estudo apresentados, que demonstram duas
possíveis soluções na articulação das praças com os restantes elementos urbanos.
Tanto a Praça do Martim Moniz como a Praça de Lisboa foram pensadas de forma a
revitalizar os espaços públicos que se encontravam saturados e sem qualquer relação
com o envolvente. Os mesmo casos de estudo desempenham um papel gerador na
malha urbana, ligando pontos de referência que se caracterizavam por serem livres de
construção e que por conseguinte “desafogavam” o tecido urbano.

No caso da Praça do Martim Moniz, a sua configuração actual apresenta melhorias em


vários aspectos que lhe conferiram (à Praça do Martim Moniz) a imagem de um espaço
diferente mais alternativo, onde se dá um choque de culturas. Por exemplo, no Mercado
de Fusão que apresenta um conjunto de dez restaurantes multiculturais, zonas de lazer
como quiosques e esplanadas e também exposições de arte e concertos musicais.

O Mercado de Fusão da Praça do Martim Moniz representa um acto de valorização da


diversidade de culturas que está ligada áquele lugar, e à população cosmopolita que
nela habitam e que fazem da praça um centro multicultural. Este facto tem atraído à
praça pessoas novas e contribui para a regeneração urbana da zona e sua consequente
revitalização.

Numa abordagem mais histórica a praça tem uma relação mais próxima com os
monumentos que mais se destacam para aqueles que a percorrem, tais como o Castelo
de São Jorge ou a Torre de Péla que retrata a Lisboa Medieval e a presença da antiga
Muralha Fernandina. Contudo, o factor do comércio local entre etnias continua a estar
bem presente no lugar.

Tiago Barros Cardoso 96


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

Porém, a praça conseguiu também consolidar os tecidos urbanos que provinham da


Baixa Pombalina e da Avenida Almirante Reis, facto que até então não tinha sido bem
sucedido com todas as propostas criadas durante o século XX. Por fim, no plano
urbanístico, o processo de criação da praça inclui a criação de novos acessos
automóveis em torno da mesma, e de estacionamento subterrâneo.

Por sua vez a Praça de Lisboa apresenta uma forma pouco usal e um percurso dividido
por três pisos, que conferem ao espaço não só uma adaptação da praça ao contexto
urbano que a rodeia, mas também novas funcionalidades que revitalizaram o espaço
em vários níveis. A forma quase triangular veio a tornar-se mais eficaz na consolidação
da zona histórica do que a praça-rotunda que é usada na maioria dos casos, como por
exemplo na Praça do Martim Moniz.

No panorama histórico a praça é coberta por áreas arborizadas com Oliveiras, que
fazem referência à antiga Porta do Olival44 que ali existira e que seria uma das entradas
para a cidade. Os percursos no nível superior da praça são acessíveis apenas para
peões, facto que conferiu aos monumentos que rodeiam a praça a grandeza de
antigamente. A relação da Reitoria da Universidade do Porto e, principalmente, da Torre
dos Clérigos são evidentes para aqueles que percorrem o espaço, seja pelo jardim ou
pelo acesso intermédio.

A nível social, os sinais de degradação que a praça apresentava deram lugar a espaços
lúdicos, tanto nas áreas ajardinadas, como no piso intermédio que inclui zonas de
comércio e restauração que oferece aos seus habitantes inúmeras possibilidades de
lazer e de vivência, sendo actualmente lugar de grande afluência. Ao nível urbanístico,
os problemas de longa data, como por exemplo o problema da circulação pedonal e do
estacionamento automóvel foi minimizado com a construção de um parque de
estacionamento subterrâneo.

Contudo, também a requalificação da paisagem urbana foi revitalizada. A antiga praça


que se encontrava degradada e sem qualquer relação com os espaços verdes
envolventes, reconciliou-se com o Jardim da Cordoaria através do já referido Jardim
Urbano, aumentando assim a mancha arbórea da Baixa portuense.

Por sua vez, tal como a Praça do Martim Moniz uniu dois tecidos urbanos distintos, parte
do tecido urbano da zona histórica da Baixa do Porto foi também consolidado, devido à

44Porta do Olival- Antiga entrada da Muralha Fernandina do Porto que se encontrava no Campo do Olival.
(Balonas & Menano - Architectural and Urban Concept, 2013)

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Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

requalificação executada, muito por parte da estratégia de adaptação da forma da praça


à topografia do terreno. Desta forma, foi possível pôr fim a um nó urbano com mais de
três séculos de existência, através de uma forma pouco habitual para uma praça no
centro de uma cidade portuguesa, mas que se revelou harmoniosa e conseguiu tirar
partido dos defeitos espaciais que o lugar possuía, mantendo a actividade comercial
que tanto caracterizava aquele lugar.

Concluindo, actualmente as exigências da contemporaneidade focam-se em factores


como protecção do ambiente, a qualidade do espaço público, a diversidade das
vivências humanas e a rapidez de deslocação de um ponto para o outro na cidade.
Perante estas exigências a renovação das praças é fortemente aceite em todas as
cidades que se consideram globalizadas ,isto se a proposta de revitalização respeitar
as condições mencionadas. Deste modo, considera-se que na reabilitação de uma
praça, as qualidades da arquitectura do espaço em si, bem como a sua adaptação no
tecido urbano são premissas fulcrais para que uma intervenção seja bem concebida.

Tiago Barros Cardoso 98


Requalificação do tecido urbano através do uso da praça

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