Desde que o termo fácies foi introduzido por Gressly em 1830 tem sido discutido o
sentido e o uso do termo (ver Middleton 1978). Especificamente as discussões tem se
concentrado em: 1) se o termo implica em um conjunto de características em oposição ao
corpo da rocha em si mesmo; 2) se o termo deve-se referir apenas a partes espacialmente
restritas de uma unidade estratigráfica (Moore 1949) ou também a corpos rochosos não
confinados estratigraficamente (como originalmente utilizado por Gressly e outros
pesquisadores europeus), e 3) se o termo deve ser exclusivamente descritivo (por exemplo
Fácies de arenitos A) ou também interpretativo (por exemplo fácies fluvial). Discussões
sucintas destes problemas tem sido realizadas por Middleton (1978) e Reading (1978). Walker
(1983) utiliza o termo num sentido concreto mais que no sentido abstrato que implica apenas
um conjunto de características e o utiliza de uma forma não confinada estratigraficamente.
Middleton (1978) notou que : uso mais comum (moderno) é exemplificado por De Raaf et al.
(1965) que subdividiu um grupo de três formações numa repetição cíclica de um número de
fácies que se distingem litologicamente, estruturalmente e por aspectos orgânicos,
detectáveis no campo. |Às fácies podem ser dadas designações informais ( por exemplo Fácies
A) ou designações brevemente descritivas (por exemplo fácies de siltito laminado), porém
entende-se que elas são unidades às quais, posteriormente, será dada uma interpretação
ambiental. Mas a definição de fácies é, em si mesma, objetiva e baseada nos aspectos de
campo das próprias rochas.
A chave para a interpretação de fácies é combinar as observações feitas sobre
relações espaciais e características internas (litologia e estruturas sedimentares) com
informações de outras unidades estratigráficas semelhantes bem estudadas e
especialmente de estudos de ambientes de sedimentação atuais.
Definindo fácies
Dividir o corpo rochoso nas fácies constituintes é, em parte, um procedimento de
classificação. O grau de subdivisão é definido principalmente pelo objetivo do trabalho. Por
exemplo, se o objetivo é a interpretação de uma unidade estratigráfica particular, uma
subdivisão razoavelmente ampla pode ser suficiente. Por outro lado, se o objetivo é o
refinamento de um modelo de fácies existente, ou criar um novo modelo, então a subdivisão
das fácies no campo deverá certamente ser mais detalhada.
A escala da subdivisão é dependente não somente de um desses objetivos, mas
também pelo tempo disponível e pela abundância de estruturas físicas e biológicas existentes
nas rochas. Uma seqüência maciça de lamitos será difícil de subdividirem fácies, mas uma
seqüência de espessura semelhante composta por intercalações de arenitos e folhelhos (com
abundantes e variados exemplos de marcas onduladas, estratificação cruzada e fósseis ou
bioturbações) pode ser subdividida em um grande número de fácies distintas. Como regra
geral Walker (1983) diz que é preferível errar por excesso de subdivisão no campo. As fácies
sempre podem ser recombinadas em laboratório; mas, uma divisão muito grosseira no campo
não pode ser refinada em laboratório.
A subdivisão de um corpo de rochas em fácies, de preferencia, não deveria ser feita até
não se ter conhecimento geral de todo o corpo rochoso. Somente após este conhecimento é
que se pode ter uma idéia da variabilidade existente e quantas fácies diferentes serão
necessária para definir a unidade. No campo a maioria dos estudo sobre fácies tem sido
criadas da combinação de estruturas sedimentares e orgânicas (por exemplo De Raaf et al.
1965; Williams & Rust 1969; Cant & Walker 1976). Métodos estatísticos também podem ser
utilizados para definir fácies, especialmente onde há consenso entre os pesquisadores da
importância de parâmetros descritivos quantificáveis. Nas rochas carbonáticas, as
percentagens dos diferentes constituintes orgânicos e as percentagens de micrita e/ou calcita
esparítica tem sido utilizadas como um fator na análise de cluster, que resultou em
agrupamentos de amostras (no modelo Q), que foram interpretados como fácies (Imbrie &
Purdy 1962; Klovan 1964; Harbaugh & Demirmen 1964, 1968). Infelizmente os métodos
estatísticos não são apropriados para rochas clásticas, onde a maioria das informações
importantes (estruturas sedimentares e biológicas) não podem ser satisfatoriamente
quantificadas.
Seqüências de Fácies
Foi salientado por Middleton (1978) que: pressupõe-se que às fácies deve ser dada
uma interpretação ambiental. No entanto, muitas, se não a maioria das fácies definidas no
campo tem interpretações ambíguas. Por exemplo, fácies de arenitos com estratificação
cruzada. Estas podem ser formadas num rio meandrante ou entrelaçado, num canal de maré,
numa plataforma interna dominada por correntes longitudinais de deriva litorânea ou numa
plataforma dominada por correntes de maré. A chave da interpretação é analisar todas as
fácies em conjunto e num contexto. A seqüência na qual elas ocorrem contribui assim, com
tanta informação quanto as próprias fácies.
As relações espaciais entre ambientes deposicionais e a seqüência estratigráfica
desenvolvida ao longo do tempo, como o resultado de transgressões e regressões, foi
enfatizada pela primeira vez por Johannes Walther na sua Lei de Correlação de Fácies
(Walther 1894). Walhter estabeleceu que é um principio básico de amplo significação que
somente as fácies e áreas faciológicas que podem ser inicialmente sobrepostas são aquela
que podem ser observadas nos ambientes atuais umas ao lado das outras. A cuidadosa
aplicação desta lei sugere que, em uma seqüência vertical, a transição gradacional de uma
fácies para outra implica que as duas fácies representam ambientes que uma vez estiveram
lado a lado lateralmente. Os perigos de aplicar esta lei em uma forma grosseira à seqüências
estratigráficas com repetições cíclicas de fácies foram enfatizadas por Middleton (1973). A
importância de definir com precisão os limites gradacionais numa seqüência vertical, em
oposição aos limites nítidos ou erosivos, foi enfatizada por De Raaf et al. (1965) e Reading
(1978). Se os limites são nítidos ou erosivos, não há forma de saber se duas fácies sobrepostas
representam ambientes que uma vez foram lateralmente adjacentes. Ademais, quebras nítidas
entre fácies, especialmente se marcadas por finos horizontes boiturbados, que implicam não
deposição, podem significar mudanças importantes nos ambientes deposicionais e o começos
de novos ciclos deposicionais.
A primeira documentação formal sobre relações de fácies foi publicada por De Raaf et
al. (1965) num diagrama que parece uma teia de aranha. Um exemplo que atualmente é
referido como diagrama de relação de fácies (F.R.D.) (Figura 1). No diagrama o número de
transições de uma fácies para outra, observadas no campo, é indicado por uma seta numerada.
Note-se que os contatos gradacionais podem ser facilmente distinguidos dos contatos nítidos
ou erosivos.
Figura 1 de Exemplo de Diagrama de Relação de Fácies, onde pode se observar o número de contatos nítido e
gradacionais entre fácies observados no campo. Os dados são de Cant & Walker (1976) e se referem às fácies ao
Arenito do Devoniano Battery Piont de Quebec. SS) superfície de escavação; A) estratificação cruzada acanalada
incipiente; B) estratificação cruzada acanalada bem definida; C) estratificação cruzada planar de grande porte;
D) ) estratificação cruzada planar de pequeno porte; E) escavações isoladas; F) arenitos finos com laminação
cruzada acanalada e folhelhos; G) estratificação de baixo ângulo.
Modelo faciológicos
A construção e uso de modelos faciológicos é uma das áreas mais ativas no campo da
estratigrafia. Esta ênfase não é nova, muitas das idéias podem ser encontradas no livro
Princípios de estratigrafia de Dumbar & Rogers (1957) e se baseiam em estudos de Gressly e
Walther do final do século XIX (Middleton 1973). No entanto, a importância dos modelos
faciológicos na atualidade é devida à crescente necessidade de modelos e o ao rápido aumento
dos dados sobre os quais os modelos são formulados.
Os modelos faciológicos podem ser apresentados de diferentes formas: como
seqüências idealizadas de fácies, como bloco-diagramas ou como gráficos e equações.
Segundo Walker (1983)o termo modelo é mais genérico que o obtido a partir do estudo de
uma única formação. O Diagrama de Relação de Fácies (F.R.D.) final da Formação Point
Battery, não é um modelo para depósitos fluviais. Mas quando o F.R.D. da Formação Point
Battery é confrontado ou comparado com F.R.D.’s de outros depósitos de antigos rios
entrelaçados e os dados de rios entrelaçados modernos são incorporados, os pontos em
comum entre todos esses estudos começam a assumir uma generalidade que permite falar em
modelos.
Um modelo faciológico pode então ser definido como uma síntese geral de um
ambiente de sedimentação específico, descrita em termos que tornem esta síntese utilizável,
no mínimo, de quatro formas diferentes. As bases da síntese consistem em muitos estudos de
rochas antigas e de sedimentos recentes. O rápido aumento da base de informações é devido,
ao menos parcialmente, ao grande número de estudos de sedimentos recentes nos últimos 30
anos. A crescente necessidade por modelos faciológicos é devida ao aumento da necessidade
dos geólogos de melhorar a quantidade previsões a partir de dados locais limitados. Estas
previsões podem referir-se à geometria de arenitos em subsuperfície em reservatórios de
hidrocarbonetos , à associação de depósitos minerais com ambientes sedimentares específicos
(por exemplo conglomerados uraníferos) ou ao movimento de barras de areia em águas rasas.
Em todos os casos, uma quantidade limitada de informação local mais a guia de um bem
definido modelo faciológico potencializa as predições sobre esse ambiente local.
Ambientes de sedimentação
Na atualidade, existe certo grau de acordo entre os sedimentólogos de como subdividir
os ambientes de sedimentação existentes no mundo, em tipos recorrentes. Numa conta
realizada em 1972 foram apresentados 18 ambientes principais, 40 subtipos, 14 sub-subtipos e
20 sub-sub-subtipos. Walker (1983), deliberadamente (!), não cita a referência desta lista. No
entanto segundo Walker (1983) existe algum acordo numa divisão básica baseada na
morfologia, processos físicos, químicos e biológicos. Os geólogos que trabalham com
ambientes antigos gostariam de acrescentar à lista acima os critérios referentes ao registro
estratigráfico e à diagênese. Uma lista com um conjunto padrão de ambientes, à qual a
maioria dos geólogos não poria objeções, é apresentada na tabela 1