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Editora Garamond Ltda, Diagramagao Luiz Oliveira Capa Esttidio Garamond Revisdo técnica Sandra Aréca Preparacdo de originais Marco Schneider Revisdo Argemiro Figueiredo CATALOGAGAO NA FONTE DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO B313e Basaglia, Franco, 1924- Escritos selecionados em satde mental e reforma psiquiatrica / Franco Basaglia ; organizagao Paulo Amarante ; tradugdo Joana Angélica d'Avila Melo. - Rio de Janeiro : Garamond, 2010 336p. - (Garamond Universitaria ; Loucura XX1) ISBN 85-7617-057-4 1, Hospitais psiquidtricos. 2. Psiquiatria social. 3. Politica de satde ment i Servigos de satide mental. 5. Psiquiatria. 1. Amarante, Paulo. II. Titulo. 1 érie. 05-1862 CDD 36 CDU 616 Todos os direitos reservados. A reproducao nao-autorizada desta publica por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violacao da Lei n° 9.61 As instituigdes da Viol€nciat Nos hospitais psiquiatricos, costuma-se amont em grandes salas, das quais ninguém pode sair, — eee nantes a0 panheiro. Em caso de necessidade, o enformetra ae te ‘ terna toca ue campainha, para que um segundo oo ae a puscar 0 paciente e conduzi-lo ao banheiro, O ritual é at nora que muitos pacientes simplesmente decidem fazer suas newest . des ali mesmo. Essa resposta do paciente & Tegra desumana ne n. pretada como “desrespeito” para com a equipe terapéutica, ou coma expressdo do nivel de incontinéncia do doente, estreitamente ie pendente da doenga. Num hospital psiquiatrico, duas pessoas jazem iméveis no mesmo leito. Diante da falta de espaco, tira-se proveito do fato de os cataténicos nao incomodarem um ao outro e instala-se dois deles por leito. Numa escola de ensino médio, 0 professor de desenho rasga 0 papel em que um menino desenhou um cisne com patas, alegando “gostar mais dos cisnes na agua”. Numa escola maternal, enquanto a professora se dedica a trabalhinhos pessoais de tricd, as criangas séo obrigadas a ficar sentadas nos bancos, sem falar; ameacadas de permanecer durante horas com os bracos erguidos - o que é muito doloroso - se por acaso se mexerem, conversarem ou fizerem qualquer coisa que atra- palhe a professora e seu trabalho. ——__ 1 In: L’istituzione negata, Turim, Einaudi, 1968. 91 tor do um hospital civil. ter ialquer se! a mercé ado em qui tra-se & METCE dog Um enfermo ve de primeira classe ~ en00 . m cima se nio for Mico, que pode desafoger © dele a jetamente estranhas. een n som doente “agitado” € submetido 4 Num bos ae onhece o ambiente manicomial,ignorg cam sistema muito rudimentar ~ ainda utilizado em aa oistoente perder a consciéncia, Sufocandg.o, fazer 0 ‘a cabeca, quase sempre molhado ~ dg -, que é torcido estreitamente 4 a parte - pare wo um lengol sobre Jers nao Ihe peritir respirar ~» que ¢ oo sued escogo; @perda de consciéncia é i ' altura do p \ jo das mées e dos pais geralmente se resolve em A frase conta os filhos, que néo satisfazem suas as. violencia consi veo filho é inevitavelmente obrigado a ser piragbes eee a viver a propria diversidade como uma Sin na escola 6 motivo de castigo, como sea alba yunigao corporal ou psicolégica servisse para resolver a insufici- pl éncia escolar. . / Hé alguns anos, no hospital psiquiatrico em que trabalho, utiliza va-se um sistema elaboradissimo, por meio do qual o enfermeiro do turno da noite se assegurava que seria acordado por um doente a cada meia hora, a fim de poder marcar seu cartéo de presenga, como era obrigatério. A técnica consistia em encarregar um doente (que, ademais, nao podia dormir) de separar o tabaco de um cigarto que havia sido misturado com migalhas de pao. A experiéncia tinha demonstrado que essa tarefa ocupava justamente meia hora, depois da qual o doente acordava o enfermeiro e recebia como prémio 0 tabaco. O enfermeiro batia seu cartéo e voltava a dormir, encarte- aN ys eo Strozzina, diminutivo de strozea, garganta, gasganete, oe! (' gando outro doente, ou 0 mesmo, de recomecar ~ uma nova lepsidra® humana ~ aquela tarefa alienante Saiu no “Il Giorno”, ha algum tempo: sio de San Vittore vai finalmente perder trio. De fato, de uns dias para cé, alguns operétiosestie traba- Inando, ¢ um lado de um dos pavilhées, o que dé para a avenide Papiniano, jé pode ser visto recoberto de um belo amarela vibrante, que alivia 0 coragao. Quando todo o complexo estiver repintado, San Vittore possuiré um aspecto mais digno, menos pesado ¢ am. gustiante que o anterior”. E 1é dentro? Nas celas ainda se usam baldes como sanitérios, mas, enquanto isso, 0 muro amarelo vi- brante nos “alivia o coragéo”. Os exemplos poderiam continuar infinitamente, abrangendo to- das as instituigdes sobre as quais nossa sociedade se organiza, Mas 0 que aproxima as situagées-limite relatadas ¢ a violéncia exercida por quem esta com a faca na méo sobre quem se vé imemediavelmente subjugado. Familia, escola, fébrica, universi- dade e hospital sao instituigées baseadas em uma divisao nitida dos papéis, isto é, na divisdo do trabalho: seja em servo e senhor, professor e aluno, empregador e trabalhador, médico e doente ou organizador e organizado. Isto significa que o que caracteriza as instituigdes é a clara diviséo entre quem dispée e quem nao dispoe do poder, de onde se pode deduzir que a subdivisdo dos papéis Tepresenta a relacdo de abuso e violéncia entre poder e nao-poder, que se transforma na exclusao do ndo-poder por parte do poder: a Violéncia e a exclusdo esto na base de qualquer relacdo que se instaure em nossa sociedade. Contudo, os graus em que essa violéncia é administrada variam Segundo a necessidade do detentor do poder no sentido de velé-lae “Chega de tristeza! A pri- Seu aspecto sombrio e té- 3 Clepsidra: relégio de agua (N. do E.). as diversas nascar, Dal CE js: 8 Volancia © 2 excluSao jus, eda escola 3S ms csi como conseaiéncia da finaligg pease Os 8 “CE” © da “doenca”, ng de efcatva, 10 as podem et defnides COMO as inst, ios das outs. sss ses da violencia. Ges da re a en at atual) de uma sociedade Tal a isin onda ene quer fm (QUEM Poss organizada sobre e quem néo tem: dela deriva a subdivisig J, concreto) ‘ soso ray, 0 800 doente, 0 respeitévele ada entre o bom €0 aaa ae ae! ‘As posigbes~ nessa dimensao - ainda sao claras¢ riot precisas: a autoridade paterna ¢ opressiva @ arbitraria; a escola se 2 q xplora : taseia na chatagem ena ameace 0 empregador explora o trabalha dor; o manicdmio dest o doente mental. “Todavia, a socedade dita do bem-estar e da abundancia acaba de descobir que néo pode expor sua face violenta abertamente, pare io criar contradigées demasiado evidentes em seu seio, que se voltariam contra ela, encontrando, assim, um novo sistema: esten- der empritada do poder aos tecnicos, que o administrarao em seu ‘ome e continuario a criar - mediante formas diversas de violén- cia, como a violéncia técnica - novos excluidos. A tarefa dessas figuras intermedidrias seré, entdo, mistificat - or meio do tecicismo - a violéncia, sem no entanto modificar-he ‘natureza, apenas fazendo com que o objeto de violéncia se adap* ia da qual € objeto, sem nunca chegar a tomar consciéncié a 4 or sua vez, poder tomnar-se sujeito de violéncia real con® sue 0 vilenta. A tarefa dos novos encarregados seré @ de ampli as fonteiras da exclus te, 00" as formas de de &xcluséo, descobrindo, tecnicamente, 0 no, aé hoje consideradas dentro da norma. ovo psiquiatra social, 9 al, Bsicslogoorganizcionalg oe eo eeu © assistete 9008 ' © socidlogo industrial (para s6 citat ® 4 juns) néo passam de novos adminis Om que ~ suavizando os atrtos, detent do poder, ‘vendo 0s conflitos provocados pelas instituigdes pe is, resol técnica aparentemente reparadora e ndo-violenta, 36 foo ao a perpetuagéo da violéncia global. tarefadeles- defies en terapéutico-orientadora - &a de adapta o individuos ascot» propria condicio de “objetos de violncia”, dando como cota ne ser objeto de violéncia é a inca realidae a ees conceid, ia além das divers modaldades do adptagio qu poderin ado, O resultado, portanto, é 0 mesmo. 0 perfeccionismo téenico- ta faz. com que se aceite a inferioridade social do excluito, assim como conseguia fazé-lo ~ de maneira menos inidiosae refi nada ~ a definicéo da diversidade biol6gica, a qual, por outro cami- nho, também sancionava a inferioridade morale social do diferente: ambos os sistemas tendem a reduzir o conflito entre o excluido eo excludente, confirmando cientificamente a infrioridade original do excluido diante de quem o exclui, Nesse sentido, o ato terapéutico se revela uma reedi¢ao - revista e corrigida - da mesma aco discriminatéria perpetrada outrora por uma ciéncia que, para defen- der-se, criou a “norma” ~ esta norma que, mesmo quando supera- da, impoe a sangdo por ela mesma prevista Deste modo, 0 tnico ato possivel para o psiquiatra consste em esquivar-se de solugGes ficticias, fazendo com que se tome consci- éncia da situago global na qual vivem tanto os excluidos quanto aqueles que excluem. A ambigiidade da nossa figura de “werapeutas’ subsistird enquanto néo nos dermos conta do papel que nos é solic citado. Se o ato terapéutico coincide com 0 impedimento que @ tomada da consciéncia do doente quanto @ sua condicéo de excl do se desloque da esfera persecutéra particular (familia, vizinhos, hospital) para uma compreensio global (tomad ser excluido por uma sociedade que nao 0 quer), Ja de consciéncia de entio s6 nos resta 95 reso amiigar 0 720958 40 eXCIUGD gy exe mites orm, &PeCs0 QUE NOS, Que gy “nos conscientizemos de que Somgy mento em que Somos Objetificai rejeita-lo caso de quem 0 exclu Far 2 comos 0 poder @ @ Vidlen também excluidos, 90 ee ie excludentes. £8 5 (5 ARCHOS POU cdi, Quando ex are pores hospitalaes, a onquista de Uma seleta clion direcio de set ‘o-nos ao exame do establishment, 0 qual gg particular), submetom ondigdes de cumprit ~ tecnicamente ~ noe Bera a Spon desvios da nome: quer Ue The assegy sx taf, sem asin see técnica para sua defesa e tutela, Na aca, 2 cmgonesna eo eeputin que ni passa de um ato de violencia contra excluido, que nos é confiado para que controlemos ‘ecnicamente suas reagdes diante do excludente. Atuar dentro de uma instituicég da violéncia (mais ou menos mascarada), significa recusar o sy ‘mandato social, dialetizando no campo pritico esta negacdo: negar 6 ato terapéutico como prética de violéncia mistficada, aliando nossa tomada de consci&ncia sobre o fato de sermos simples empreiteiros da violéncia (e, desta forma, excluidos) a tomada de consciénc dos excluidos - @ qual devemos estimular - sobre sua exclu: evitando qualquer esforgo no sentido de adapta-los a essa exclusio. ‘A negacéo de um sistema é a resultante de uma reviravolta, da produgao de uma crise no campo no qual atuamos. E este 0 caso da crise do sistema psiquidtrico, como sistema cientifico e ao mesmo tempo institucional, que é subvertido e posto em discusséo pela tomada de consciéncia quanto ao significado do campo especifico, Particular, no qual se opera. Isto significa que o encontro com a rwalidade institucional tem evidenciado elementos - em nitida con- tradicio com as teorias cientificas ~ que remetem a mecanismos estranhos 8 doenca e ao respectivo tratamento, Isto nao pode deixar 96 de por em crise as teorias Clentificas sobre 9 conceito de doen hem como as institulcdes sobre as quais elas baeiam uaa arden verapéuticas,levando-nos & comprensio desse “merartnae! a tranhos” CUjas TaiZes estdo no sistema 4 que os determina, ‘A absorgio do doenteno corpus médica foi, por parte da céncia Testa e laboriosa Em medicina, o enconto entre médicoe rary se efetua no proprio corpo do doente, que é conside; rado objeto de investigagdo em Sua materialidadee objetualidade uss. Porém, quan, do se transfer o discurso para o plano do enconto psiqudtrice, 9 processo deixa ce ser tao simples, trazendio consigo novas vonce. ajncias. Se o encontro com 0 doente mental se eftua no corpo, s6 6 possivel efetué-lo num corpo presumivelmente doente, ope. rando-se uma ago objetificante de catéter pré-eflexivo, da qual se deduz a natureza da abordagem a estabelecer: nesse caso, impde-se 20 doente 0 papel objetivo sobre o qual viré a basear-se a instituicdo que o tutela. Assim, 0 tipo de abordagem objetificante acaba influ- enciando 0 conceito que 0 doente faz de si, conduzindo-o - por meio de tal processo ~ a s6 poder vivenciar-se como corpo doente, exatamente como é vivenciado pelo psiquiatra e pela insiticao que trata dele. Em suma, a ciéncia nos disse, de um lado, que o doente mental devia ser considerado o resultado de uma alteragao biol6gica, néo bem identificada, diante da qual nada havia a fazer, a néo ser aceitar com resignagao sua diversidade diante da norma: dai a agao excl sivamente de custédia por parte das instituigdes psiquiatricas, ex- bressdo direta da impoténcia de uma disciplina que, confrontada com adoenca mental, limitou-se a defini-la, catalogé-la e geri-la de algum modo. Por outro lado, as préprias teorias psicodinamicas, embora tenham buscado encontrar o sentido do sintoma através da investigacao do inconsciente, mantiveram o caréter objetual do pa- a7 ciente, ainda que mediante um tipo diferente de objetificacao: ig, objetficando-o néo mais como corp0, mas COMO Pessoa. De ig, modo, a subsegiientecontribuigéo do pensamento fenomenolgg, no conseguiu ~ apesar de sua desesperada busca da subjetivgas, do homem - tré-lo do terreno da objetificagao em que ele se encoy tra lancado: o homem e sua objetualidade ainda so considera, ‘como um dado, sobre o qual nao hé possibilidade de intervenes, além de uma compreensio genérica. 4 Séo estas as interpretacdes cientificas sobre o problema da dg, ‘enca mental. Mas 0 que foi feito do doente real s6 pode ser vig, dentro dos nossos manicdmios, onde nem as demtincias dos com, plexos de Edipo nem as atestagdes do nosso estar-com-no-mundo, dda-ameaga serviram para tiré-lo da passividade e objetualidade gg sua condigao. Se essas “técnicas” tivessem entrado verdadeiraments nas organizagées hospitalares, e se deixado confrontar e contestar pela realidade do doente mental, deveriam ~ por coeréncia ~ terse transformado até que se dilatassem e impregnassem cada ato da vvida institucional. O que minaria inevitavelmente a estrutura autos. taria, coercitiva e hierarquica sobre a qual repousa e instituicao psi quidtrica, Mas 0 poder subversivo desses métodos de abordagem permanece restrito a uma estrutura psicopatolégica que, em vez de pér em discussdo a objetificago que é feita do doente, continua a analisar os varios modos de objetualidade: ou seja, eles se mantém dentro do sistema, que aceita cada contradicéo como um dado inaliendvel. A nica alternativa teria sido sobrepor - como se fea, em certos casos ~ as outras terapias (biolégicas, farmacologicas)a psicoterapia individual ou de grupo, cuja ago, ainda assim, seria negada pelo cardter de custédia do hospital tradicional, ou pela ori- entacao paternalista do hospital fundamentado em bases apenés humanitérias. Assinalada essa impenetrabilidade estrutural das inst- tuigdes tricas a qualquer tipo de intervencdo que ultrapass? 98 Ye | sua fnalidade de cust6dia,nB0 podemos de ai aor. lca Fosiblidag de uma aon eo, terapéutica 86 & concedida na maioria das py © de uma relacig livre, 00 seja, Aquele que no é submetido a inorss cee mental pare quem #1012960 COM 0 psiguiata conan i? rad, @ reciprocidade, estreitamente vinculada ao seu pode oon margem de cqso, a fungéo intgrente do ato terapéutico¢evgenne ee NO posgdo das estruturas e dos papéis que, endorse =O" nao foram rompidos definitivamente pelo asilo, rise, ainda ‘A situacdo (a possibilidade de uma abor . dente mental) resulta, portanto, estaloment noo @o dente de um sistema em que toda relagio é rigiamente degen, pelas leis econémicas. Ito significa que nio ¢ tanto a doo médica que estabelece ou induz uma ou oureabordagem, masse pretudo o sistema socio-econdmico, que determina suas 1 es em diversos niveis. ovale: Se a examinarmos bem, a doen¢a, como uma condigéo comum, adquire significados concretamente distntos segundo 0 nivel eco. némico e social de quem esta doente Isto ndo significa a inexisténcia da doenca, mas destaca-se um fato real que deve ser levado em conta, sempre que nos pusermos em contato com o doente mental dos asilos psiquidtricos: as con- seqiiéncias da doenca mental variam de acordo com o tipo de abor- dagem que com ela se estabelece, Tais “conseqiiéncias”(e refiro- ‘me ao nivel de destruigéo e de insttucionalizagao do internado nos manicémios piblicos) nao podem ser consideradas como a evolu- Gao direta da doenca, mas sim do tipo de relagao que o psiquiatra, © por conseguinte a sociedade que ele representa, instaura com 0 paciente: 1) A relagdo de tipo aristocrético, na qual o paciente tem um oder contratual a opor ao poder técnico do médico. Neste caso, 99 ‘ela se mantém num plano de reciprocidade no nivel dos Papég se efetua entre o papel do médico (alimentag, medida em 1? al social do doente, o qyst mito do poder técnico) © 0 PaP' Wal ven tuir sua dnica garantia de controle sobre 0 ato terapéyy. ida em que identifica 0 médico coms » Sitéro de um poder técnco, o doente dito livre exerce simu mrenteo papel de depositrio de um outro tipo de poder: 0 eo co, que 0 médico projeta nele, Embora se trate de um enco poderes, mais que de homens, 0 doente néo permanece diante do poder do médico, plo menos enquanto seu Valor sit corresponder a um valor econdmico efetivo, © qual, uma vez xg rido, pée fim 20 poder contratual, ¢ 0 paciente Se verd iniciany concretamente a “careira do doente mental”, no lugar onde sy papel social néo tera mais peso nem valor. 2) A relagio de tipo “mutualistico”, em que se assiste a uy reducéo do poder técnico e a um aumento do poder arbitraro, diy. te de um “mutualista” que nem sempre tem consciéncia da préprg forga. Aqui, a reciprocidade da relacao jé esta atenuada, 5 reapresentando-se concretamente nos casos em que houver ung tomada de consciéncia, por parte do paciente, da sua prépria pos. 40 social e dos seus préprios direitos diante de uma instituigdo qe deveria ser criada para tutelé-los. Assim, neste caso, a reciprocide de s6 existe na presenca de um notavel grau de maturidade ede consciéncia de classe por parte do paciente; ao passo que o méti- 0, freqitentemente, conserva a possibilidade de determinar are do como melhor Ihe convier, reservando a decisdo de volta # terreno do poder técnico para o momento em que sua ago arbita ria for contestada, consti que é objeto. Na medi ei to ay Passing 3) A relacGo institucional, em que aumenta vertiginosamen# poder puro do médico (ja néo é nem necessdrio que seja pod técnico), justo porque diminui vertiginosamente o do doente, oh 100 ogy. pg laneg. | pelo proprio fato de estar ntemado nam nase automaticmente um cidadio som gat PSC, to. trio do médico e dos enfermeiros, que a entregue ao arbi. serem, sem possibilidade de apelacso, Na gine tl © We qu- reciprocidade néo existe, nem sua auséncia ee institucional, a carada. E aqui que se v8 ~ sem véus cn mee modo mas- cinciapsiquidtrica, como expressio da sociedans cee, 2M 8 delegatéria, quis fazer do doente mental, & § ey que faz dela sua como nao é tanto a doenca que esté em jogo, mag ie se evidencia valor contratual de um doente, a0 qual nio rest ong ne para opor além do comportamento anormal, tra alternative Esse esbogo de anilise dos diferentes modos de en, vivenciar a doenga mental, da qual sé conhecemos or eng ede esta face neste conte: a aie 0 poblens ao doenca em si (o que ela é, qual a causa, qual 0 prognéstico) nes somente 0 tipo de relagdo que vem a instaurar-se com o doente. A doenca, como entidade mérbida, exerce um papel puramente aces- sério, dado que, embora seja o denominador comum as ts situa. gées sugeridas, assume ~ no timo caso, sempre; no segundo, com freqiiéncia - um significado estigmatizante que confirma a perda do valor social do individuo, jé implicita no modo pelo qual sua doenga tinha sido vivenciada anteriormente Entdo, se ndo é a doenca o elemento determinante da condicio do doente mental, do modo como aparece nos noss0sasils psiqui- atricos, devemos agora examinar os elementos que, emboraestra- thos a ela, exercem um papel muito importante, Analisando a situagéo do intemado em um hospital psiquétrico (que insistimos em considerar 0 tinico doenteestigmatizado fora da doenca e, portanto, o tinico de quem pretendemos nos ocupar equi), Podemos comegar dizendo que ele aparece, antes de tudo, como lum homem sem direitos, sujeito ao poder da instituicdo,e portanto edade (08 MEGICOS) WUE 0 afay, ou expulsdo da sociedade ¢, v » ua falta de poder contraty, mente ligada @ U3 nem al ma tale econormice) 0 Ue 8 eer vcocon Qual pos, sua contigo Sor co, do diagn6stco clinico Om © qual g, ter o valor técnico, re pose fla de ung nto da internad foi definido nO mom ligado a dados cientfficos concrete trata-se, em vez disto, de um simples rtulo que cult, © no my, o prota de uma avaliagéo tecnica eSPeCializada, gy bem, sob @ apart ado discriminatorio? Um esquizofténico aha m eh a ‘hinica particular, teré Um Prognostico diy one ea do esquizofrénico pobre, read por Uma guia de internagdo @ um hospital psiquiatrico. oO que caract erizara a situagiy do primeiro ndo sera apenas 0 a de ele nao ser automaticamenis rotulado como um doente mental “perigoso para sie Para 0s otras ce escandaloso em piblico”, mas sim 0 tpo de internacdo de que se peneficia iré salvaguardé-lo de ser descontextualizado, separadod propria realidade. A internagdo “particular” nem sempre interrompe ‘continuum da existéncia do doente, € tampouco reduz ou extingue de modo ireversivel seu papel social. Por isso, superado 0 perioa ttitico, para ele seré fécil reinserir-se na sociedade. O poder descontextualizante, destrutivo € institucionalizante em todos os niveis da organizacdo manicomial, s6 atua sobre aqueles que nig tém outra altenativa além do hospital psiquiatrico. ‘A luz do que foi exposto, seré possivel continuar a pensar qué 0 iémero dos internados nos institutos psiquiatricos corresponde dos doentes mentais de todas as camadas de nossa sociedade & me portanto, somente a doenca é que os reduz ao grau de objetificacéo em que eles se encontram? Ou, em vez disso, no seria mais. justo considerar que esses doentes - justamente porque sécio-econom camente insignificantes - so objeto de uma violéncia original @ e excluit. porém, mais esteita 102 violencia do nosso sistema social) que os empurra para fe dugéo, para a margem da vida -ssociativa, ore da 0 vos do hospital? Nao sao eles, até encerré-los nos storno da nossa socie "uma, 0 refugo, os elementos ran! dade, , 05 element je trans tedade, que ndo quer reconhecer-se tes proprias contradig6es? Nao se trata simplesmente daqueles que partindo de uma posigio desfavorével,é estdo perdidos de inicio? Como poderemos continuar justificando nossa relaczo excludente diante desses internados, dos quais foi demasiado fécil definir cada ato e cada reagao em termos de doenca? (0 diagnéstico jé assumiu o valor de um etiquetamento que codi- fica uma dada passividade como irreversivel. Mas essa passividade pode ser de natureza diversa, © no s6, ou nem sempre, enferma, No momento em que ela é considerada somente em termos de do- enga é que se confirma a necessidade de sua separacéo e exclusio, sem que a minima divida intervenha para reconhecer no diagnést- co um significado discriminatério. Desta forma, a exclusio do do- ente para fora do mundo dos saos livra a sociedade dos seus ele- mentos criticos e, ao mesmo tempo, confirma e sanciona a valida- de do conceito de norma por ela estabelecido. A partir destas pre- missas, a relagao entre o doente e quem cuida dele s6 pode ser objetual, pois a comunicacao entre um e outro sé ocorre através do filtro de uma definigao, de um rétulo que nao abre possibilidade de apelacao. Esse modo de abordar a questéo exibe aos nossos olhos 0 aves- so de uma realidade, em que o problema jé nao é a doenca em si, mas sobretudo a relacdo que com ela se estabelece. Mas nessa rela- ao estao envolvidos, como partes em causa, tanto 0 doente com sua doenga quanto 0 médico e, por conseguinte, a sociedade, que a julga e a define: a objetificacao néo ¢ a condicao objetiva do doente, mas reside dentro da relago entre doente e terapeuta, e portanto dentro da relacao entre o doente e a sociedade, que delega 0 trata- 103 smécico. Isto significa que & 0 my, idade sobre @ qual Possa air, no 6noss sociedad que nec onde posse relegar © eSCOndET as pip di condigao desumana em UES encon, do nivel de objetficagio em que elegy Jem deixar de apresentarseesteitamente Tiga, Pe i psig, na ciéncla QUA et ref ae representa. O psiquiatra, @ Cléncia € a socja efonderam do doente mental e do problem, de sua presenca entre ‘nos: diante de um doente kB violentado Dey famfia, peo local de trabalho, pela caréncia, 16s €ramos os dee, tomes do poder, e nossa defesa transformou-se inevitavelmente nun ofensa desmedida, encobrindo a violéncia que continuamos a uy para com ele sob o véu hipécrita da necessidade e da terapia, Ora, de que tipo pode ser a relagdo com esses doentes, depois registrarmos o que Goffman‘ define como a “série de contingéncig de carrera” estranas & doenga? Na realidade, a relacio terapéutig nio age como uma nova violéncia, como uma relagao politica qx vise &integragéo, no momento em que o psiquiatra - como delegetn da sociedade ~ tem o mandato de tratar dos doentes mediante atu terapéuticos cujo inico significado é o de ajuda-los a adaptar-sed sua condigdo de “objetos de violéncia”? Isto néo significa queo psiquiatra confirma, aos olhos do doente, que ser objeto de viol cia é a tinica realidade a ele concedida, para além das diversas mo dalidades de adaptagao que ele podera adotar? Se, na aceitacdo do nosso papel, acatamos esse mandato de matt submisso, néo somos nés mesmos objeto da violéncia do pode que nos impée agir na direcdo por ele determinada? Nesse send, eg, doente 20 ta do at mento e@ tutel tual Ge dreas de compensa conraiges. Aes 2 ress deixado no produgéo de ‘ena sociedade que ele dade praticamente se di 4 E, Goffman, Asylums, Nova York, Anchor Books, Doubleday, 1961 104 nossa ago atual tem de ser uma negacéo qu, nascida como revi: volta institucional e cientifica, conduz a recusa do ato terapéutico como resolutivo de confites socials, que nao podem ser superados mediante a adaptacéo de quem 0s softe. Os primeiros passos desea reviravolta efetuaram-se, portanto, por meio da proposta de uma nova dimenséo institucional axe definimos, no inicio, como uma comunidade terapéutica, tomands por modelo a anglo-saxénica, De fato, pode-se dizer que as primeiras experiéncias psiquitri- cas de caréter comunitério remontam a 1942, na Inglatera, onde 0 pragmatismo anglo-saxénico, desvinculado do pensamento quase sempre ideol6gico dos paises continents de infuénciaalema, con. seguira libertar-se da visao esclerosada do doente mental como en- tidade irrecuperavel, mediante a énfase no problema da institucionalizacao, causa primeira da faléncia psiquidtrica asilar. As experiéncias de Main e as subseqiientes de Maxwell Jones foram, de fato, os primeiros passos daquela que viria a tomar-se a nova psiquiatria institucional comunitéria, baseada em pressupostos de cardter predominantemente sociologicos, Simultaneamente, iniciava-se na Franca um forte movimento institucional psiquiatrico encabegado por Tosquelles, Exilado antifranquista da guerra civil espanhola, Tosquelles entrara como en- fermeiro para o Hospital Psiquiatrico de Saint-Alban, pequena regido do macigo central francés, onde ~ depois de diplomar-se outra vez, agora em medicina ~ obtivera a direcao do asilo. Também ‘aqui, um pequeno hospital - e no um centro de estudos, nem um novo instituto de pes- antes de construir ao seu redor um novo espaco acolhedor, b= g 4 112 Hante do desejo de provoc a partir de cima e da necessidade de se desenvolvam a partir da base. 2 dade ene todos, diante da necessidade de manzer 0 nivel de confiiso r, em vez de reprimir, a agressivi de reacdo de cada doente (j do plano de realidade que susten um tal estado de tensio s6 pode posicdo radical por parte do psi concretize numa aco de desmantelamento da hievarquia de valoes sobre os quais se baseia a psiquiatria tradicional. I. 2. ge de nds que abandonemos nossos papeis para n essoalmente, para tentar 0 esboco de alg coiss que, ex traga em si os germes dos erros futuros, nos ajude por enquante a Tomper essa situagdo cristalizada, sem esperar que somente as les venham a sancionar nossas ages. ‘A comunidade terapéutica, assim entendida - baseada, coma ¢ em pressupostos (ue tendem a destruir 0 principio de autoridage nat de programar uma condigao comunitariamente terapiy, tica ~ nio pode deixar de opor-se @ realidade social na qual viyg, ‘ge em nitida anttese com 0s principios fundana, icada com as regrtas que a conduzen, independente de qualquer possivel ntervengao individual, para uy ritmo de vida andnimo, impessoal,conformista(fevereiro de 1956, wa ‘ontudo, ainda estamos presos @ um ceticismo eg mos, porque situa de uma sociedade ja ident ct ‘uma preguiga que nao tém justificagao, ‘A inica explicagao pare tal quadro é de cunho s6cio-econémier, nosso sistema social ~ bem longe de ser um regime econdmico de pleno emprego ~ néo pode estar interessado na reabilitagio do do. ente mental, que no teria condigdes de ser acolhido por uma soc- edade na qual nao foi plenamente resolvido 0 problema do trabalho dos seus membros sios. Nesse sentido, qualquer exigéncia de carater cientifico por parte de psiquiatria corre o risco de perder de vista seu significado maior ~ justamente o vinculo social ~ se, & sua acéo no interior de um sistema hospitalar jé gangrenado, nao se unir um movimento estru- tural de base, que leve em conta todos os problemas de carer social ligados & assisténcia psiquidtrica. Portanto, a adocao da comunidade terapéutica, embora posse ser considerada um passo necessério na evolugao do hospital rst quiatrico (necessério sobretudo pela funcao que teve, & ainda tem, de desmascaramento daquilo que o doente mental era considerado¢ nio é,e pela identificagdo dos papéis antes inexistentes fora d8 ae mensio de confinamento), nao pode ser vista como a meta final @ ser buscada, mas sim como uma fase transitéria, na espera de a a prOpria situacdo evolua de modo a nos fornecer novos elemeti® de clarificagao. importante) 08 Seus Componentes ~ doers, 0s - esta0 unidos num esforco as fade representam o himus de onde box a are proce. £0 jogo das contradigbes ~ dos Prodicos e enfermeiros,ente ent tes e médicoS ~ que permite a con rupture com uma situagdo a qua, de fe conduzir a uma cristalizacdo dos papéis ‘iver dialeticamente as contredicées do real ¢ pect terapéutico do nosso trabalho, Se ais coxacivies em de serem ignoradas ou programaticamente afesizdss, x de criar um mundo ideal ~ forem enftentades disiescemense s os abusos de uns sobre 0s OurTos € a técnica do bode expizsine f em que nao ha nem contradicdo nem dialetica. ‘Assim, o primeiro passo ~ causa e, a0 mesmo tempo, ef passagem da ideologia de custédia para aquela mais propria terapéutica - é a mudanga das relacdes interpessoais ent 0S qe atuam naquele campo. Mudanga que, com a variaga0 0u 2 co 45 ose dozrdo de si, que, mediante seu i onstru neCessiss. 0 (ou seja, de tomé-lo forte e pp "a, por sua vez, sentir-se forte); papel em que ico ihe permita - além da relacéo estritamente mé que vém a determinar-se, de modo a poder como 0 pélo dialético, que controla e a Seu mandato, no sentido de que o mé¢ico | preciso que a prépria sociedade estabelece para et: 40 hospitalar onde o doente mental seje ‘atado. Viu-se, todavia, como os conceitos de tutela ¢ ‘endem a se negar e a ser mutuamente excludentes:® , Feferindo-se as medidas de seguranca necessérias Pi Prevenir e conter a Periculosidade do doente, enquanto 0 segunda prim 16 de si areas de compensacio as propnas ogee zat a necessidede de parte da propria su racismo, em todas as suas face ou aos guetos - é a expresséo de u que se teme por ser descon! a vortade de exc ecido e inaces: una ps considerou 0 objeto dos seus estudos “incomp-een to tal, relegavel a fileira dos excluids O doente mental é um exclufdo que, numa soci dade come aan al, jamais poderd opor-se a quem o exclui, porque qualquer ato que venha a praticar est doravante circunscritoe definico pela doenca Assim, somente a psiquiatria, no seu 0 @ social Pode ter condigdes de revelar ao doente o queé @ Sociedade Ihe fez, excluindo-o dela: somen:e toman: de ter sido excluido e recusado é que o doen doenta eo que do conscigacta Porque foi dentro dos muros do manicémio que a psi. Classica demonstrou sua faléncia: no sentido de ¢: blema do doente mental, ela o resolveu negativam: do contexto social excluindo-o, portanto, de sua propria humenl- ur spao de congo, 0802 MORITCADBES, hay seonsttuer 2 eGP2, 0 HOMEM ~ seja quay * case gradualmente nas leis do interna 1, a construgao de uma Crosta & seria Sendo 0 seu aig 70 0 excl Aepais sim com o i experiencia dey im dade, Posto mu goes e arbitrariedades con tal ~ 0b) seu estado ment “ identificando-se com elas. Ass apatia, desinteresse & Cia de sus p, UE COUbe a oq, ional em que 0 doen vg durante adualmente por uma carga gp agressividade p ase resolver numa agio de aberta testagao do real, que ele agora recusa, ndo mais como ato de dogq, 4a, mas porque se trata realmente de uma realidade que nio poje ser vivida por um home yerdade sera entao fruto de sua conquista, e nio uma dédiva do mais forte... (dezembro de 1966) «$e, a principio, 0 doente sofria a perda da pripria identidade a inslituigio e os pardmetros psiquidtricos Ihe construiam uma nova, por meio do tipo de relagao objetificante que estabeleciam com eee dos esteredtipos culturais com os quais o rodcavam., Por isso pode. se dizer que o doente mental - confinado numa instituigao cuja lidade terapéutica mostra-se ambigua na obstinagéo em relacion ‘se com um corpo doente ~ assumiu a instituigdo como seu proprio corpo, incorporando a imagem de si que a instituigao Ihe impie. 0 doente, que ja sofre de uma perda de liberdade (como pode set interpretada a doenca), vé-se aderindo a um novo corpo que 606 instituigdo, negando qualquer desejo, qualquer agdo, qualquer ago automa que o fariam sentir-se ainda vivo e ainda ele me ‘mo. Tora-se um corpo vivido na instituigao, pela instituigao, a pom? 18 de ser consideredo como pate intagrane da fisicas desta “antes de sai, foram verficadosfechadures e duenes", Tals sio as frases que se leem nas anctagies deixadas por um ona ae enfermeir0s 40 tuo sequinte, a fim de garantie» fetor, Chaves, fechaduras, barra, doent rio hospitalar pelo qual enfermeico vis, som que uma diferenciagao qualita distinga uma e outra coisa, Agora, 0 doente é apenas um corpo insitucionalizado, que se vivencia como objeto e que ~ as vozes,enquanto nio sivereger pletamente domado - tenta, por meio de ating-outapmrenter incompreensi prio, de um corpo vivido, tituigao. 'S proprias estruturas %, Ludo isso faz parte do 1 € mé 08 S30 response , DOF menor que seja, ne ecusando-se a ident icar-se com a ins- Pela abordagem antropolégica do mundo institucional & poss vel, assim, dar interpretagies diferentes daquelas dadas as modali- dades tradicionalmente reconhecidas como priprias do internado psiquidtrico, O doente 6 obsceno, ¢ desorganizado, comporta-se de modo inconveniente, Essas sao manifestagbes agressivas nas quais ele ainda esta buscando, de modo diferente, num mundo diferente (0 da provocacao, talvez), sair da objetualidade em que se sente encerrado, para testemunhar que existe, seja como for. Mas, dentro de uma instituigao, hé uma razao psicopatologica para todo aconte- Cimento e uma explicagio cientifica para todo ato. Assim, o doente ue no podia ser imediatamente objetivado no momento de sua entrada no hospital, o doente para o qual o médico pudera somente Presumir um corpo enfermo, esta agora finalmente domado e en- Cerrado numa etiqueta que tem todos os crismas da oficialidade Cientifica, ... B nessa condigéo que o paciente se vé numa institui- S40 cuja finalidade é a invasdo sistemética do espaco, jérestringido ng so enferma De fato, 2 modalidade passiva& gy, instituigdo 0 constrange nao Ihe permite vive 08 aContecins Gialética intema. Nao Ihe permite Viver, oferece, Segundo um rg tendo ~ 20 mesmo t2MpO ~ & Possibiidade« esac snes re fhe 0 29080 ty yt mex simplesmente um ponto de passagem: UM COrpO indefey, deslocado como um objeto de setor em setor, a quem & impedig concreta eexplicitamente -, mediante @ imposicgo 0 corpo tinicy, aproblemético e sem contradigdes da instituicao, @ possibilidade ge rovonstairpara sium corpo préprio que consiga dialetizar omy, fo. Trata-se, portanto, de uma comunidade acentuadaneny antterapbutica, em sua obstinagao por apresentar-se como um eng, ‘me invélucro, cheio de tantos corpos que nao podem vivenciar-se¢ que fcam ali & espera de que alguém se ocupe deles facaos viv ‘ao seu modo: na esquizofrenia, na psicose manfaco-depressiva,n histeria. Definitivamente coisificados... (marco de 1967). ‘Se, portanto, @ situacdo asilar revelou a substancia antiterapeuticidade das suas estruturas, uma transformagao nio acompanhada de um trabalho intemo que a ponha em discussie partir da base seré totalmente superficial e aparente, O que se reve lou antiterapéutico e destrutivo nas instituigdes psiquidtricas néo fi uma técnica particular ou um instrumento especifico, mas sim tot «a organizagéo hospitalar, que - voltada, como 6, para a eficiénci sistema - inevitavelmente objetificou aos proprios olhos 0 doet!® que devia ser @ tinica finalidade da sua existéncia, Sobre essa bs 6 evidente que a introducGo de uma nova técnica terapéutica velho terreno institucional revela-se precipitada, ou mesmo até de nosa, no sentido de que, ao ser desnudada pela primeira vera dade institucional como um problema a se enfrentar, comes? "isco de recobri-larapidamente com um novo traje, que a aprest™™ Sob uma luz menos dramética, Também a “socioterapie”, ™ nele pela regress 120 expressao da escolha, feita pela psiquiatria, do caminho da integracao, sneaga ~ nO momento atval -reduzirsea um simples acoberamento de problemas, revelando-se ~ como as roupas do Imperador da fapula de Andersen - uma capa inexistente na realidade, pois que a estrutura que a contém s6 pode negé-Ia e destru-la... (abril de 1967). “Nao podendo mais excluir o doente mental como “problema” tenta-se agora integré-lo de fato nessa mesma sociedade - com todos os medos e preconceitos que, frente a eles, sempre a carac- terizaram ~ mediante um sistema de intituigdes que, de algum modo, vyenha a preservé-la da diversidade que o doente mental continua a representa... No momento, hé dois caminhos a seguir: ou decidimos encard- lo de frente, cessando de projetar nele 0 mal pelo qual nao quere- ros ser tocados, considerando-o um problema que deve fazer par- te da nossa realidade e, portanto, nao se pode eludir; ou nos apres samos - como nossa sociedade ja esta tentando fazer - em sedar nossa ansiedade erigindo um novo diafragma que aumente a distin- cia recém-preenchida entre nds e eles, e construindo logo um belissimo hospital. No primeiro caso, porém, o problema no pode manter-se dentro dos limites restritos de uma “ciéncia” como a psi- quiatria, que nao conhece 0 objeto de sua pesquisa, tomando-se assim um problema geral, revestido de um cardter mais especifica- mente politico, o que implica no tipo de relagdo que a sociedade atual quer ou no estabelecer com uma parte dos seus membros... Ganeiro de 1967). -~Todavia, a partir do momento em que discutimos a psiquiatria tradicional, que - ao atribuir um valor metafisico aos pardmetros Sobre os quais baseia seu sistema - se revelou inadequada a sua tarefa, corremos o risco de cair num impasse analogo, sempre que mergulharmos na praxis sem manter um nivel critico dentro da Prépria praxis, Isto significa que, a0 querer partir do “doente men- 11 « itiges como Sin realidad, erste do posi de MU PUMERE emg perigo veo negativo do sistema coercitivo-autoritétio do yay, ver nosso sentimento de culpa perante 08 GOST™® CO Um imps, cero, cap apenas de confundé NOVEMIN 0S ermos problema ... E por isso que se sente a exigencia de uma psiquiaia que deseje constantemente encontrar Sua confirmacao ne realidais Sue na realidad enconte,porém, os elementos de cones, tal”, do intenado em nossa para contestar @ si mesma .- Que a psquiatra asilar reconhega, enfim, haver perdido seu coy tato com o real, fugindo & confirmacao que — através daquela reay. dade - poderia ter efetuado, Uma vez que a Tealidade Ihe escapoy, ela limitou-se a continuar fazendo “literatura”, elaborando suas te. vias ideologicas, enquanto o “doente" se via pagando as conseqiés. ccias dessa fratura - encerrado na tnica dimensao considerada ade. quade ale: a segregagao.. Mas, para lutar contra os resultados de uma cincia ideol6gica, ¢ preciso também lutar para mudar o sists ma que a sustenta, Se, de fato, a psiquiatria - mediante a confirmagao cientifica da ininteligibilidade dos sintomas - exerceu sua parte no processo de exclusao do "doente mental”, ela deve ser considerada, ao mesmo tempo, a expresso de um sistema que até agora acreditou negar® anular as prdprias contradigdes afastando-as de si, recusando-lhes a dialética, na tentativa de reconhecer-se ideologicamente como um sociedade sem contradicdes. Se o doente é a tinica realidade aqul devemos reportar-nos, convém encarar as duas faces que just ‘mente constituem essa realidade: a de ser ele um doente, com unt problemética psicopatolégica (dialética e nao-ideoldgica), ea des* ele um excluido, um estigmatizado social, Uma comunidade pretenda ser terapSutica deve levar em conta essa realidade dil 122 __ a doenca e a estigmatizacio - a fim de poder reconstrui mente a face do doente como era antes de a sociedade, cor sem fumerosos at0s de exclusGo © Com a insttuclo por els inventae gait sobre ele com sua forea negative (junhode 1967) Na verdade, no campo rel da prixis, a relago diva terapéutica jibera dinamicas que - se as examinarmos bem - nada tém a ver coma “doenca”, mas que, ainda assim, exercem um papel digno de nota. Refiro-me aqui, em particular, &relagéo de poder que s taura entre o médico e o doente, relagao na qual o diagnéstico de doenga é um simples acidente, uma oportunidade para a cxieczo de um jogo de poder-Tegressao que, em contraparida,seré deterinante nos modos de desenvolvimento da prépria doenca. Quer se rate do “poder institucional”, de caréter quase absoluto, de que o psiqua:ra esta investido dentro de uma estrutura asilar, quer de um poder dito “terapéutico”, poder “técnico”, poder “carismitico” ou poder “fantasmético”, o psiquiatra goza de uma situacdo privilegiada dizn- tedo doente, que, j6 por si mesma, inibe a reciprocidade do encon- tro e, assim, a possibilidade de uma relacio real, Aliés, 0 do justamente enquanto doente mental, ié adequar-se tanto mais facil- mente a esse tipo de relacéo objetual e aproblemética quanto mais quiser evitar a problematicidade da realidade a que nio sabe fazer frente, Portanto, encontraré, exatamente na relagéo com o psiquia- tra, 0 aval para sua objetificacio e desresponsabilizacdo, mediante um tipo de abordagem que alimentara e cristalizaré seu nivel de regressio... edual- O psiquiatra dispde assim de um poder que, até agora, nfo Ihe serviu para compreender algo mais sobre o doente mental e sua doen- Ga, mas que, em ver disso, usou-o para defender-se deles, adotando ~ Como uma das armas principais - a classificacao das sindromes € as esquematizagdes psicopatolégicas. E por isso que o diagndstico Psiquiatrico assumiu inevitavelmente 0 significado de um juizo de 123 ede um etiuetamento, Visto que, reendeasconredigbes da nossa p' reside acurulada Sobre o op compreender: Isl0 significa, porg re parénteses pela psiq * ey entre pal siquiatria tag it ete sem Verge lidade gy, © siqui, valor e, por consegvin Jmpossibilidade de com 86 resta descarregar @ ac vocador que nao se delxa ado € posto . doente fe ial ocupar-se da definigao abstrata de uma q fosse pos jo das formas, da classificagéo dos sintomas, a possiveis desmentidos por parte de uma rea vale-se de um poder, de uma terminologia técnica, para sang ; que a sociedade ja executou, ao excluir de Sl aquele que nio se itty grou a0 jogo dossier, Mas tal Sango néo tem o mining gage terapéutico, limitando-se a distinguir entre o que é Tormal © 0 ques, 0 € distingdo em que a norma nao é um conceito elastico ¢ iscuting mas algo fio eestreitamente ligado aos valores do médicoe day edade da qual ele é 0 representante... 0 problema atuel do psiquiatra, entéo, 6 somente um probens de escolha, no sentido de que, mais uma vez, ele se vé na posi dade de usar os instrumentos a sua disposicao para defender-se dy doente e da problematicidade de sua presenga. A tentacio de seiz repidamente a ansiedade que essa relacao real com o doente lke Provoca é constante, e no entanto é justamente ela o sinal da re- procidade da sua relacio... te ida 0 Portanto, o perigo atual ¢ esse: a psiquiatria entrou numa crise real. Além da fissura produzida por essa crise, agora seria poss Comecar a entrever o doente mental, despojado das etiquetas q* até o momento o submergiram ou o classificaram num papel de tivo. Mas o reformismo Psiquidtrico ja esta pronto a partir para? Stamle com uma nova solugéo, que néo pode deixar de se U nova etiqueta a superpor-se as velhas estruturas psicoligices Prgvegem éfeclimenteapendida e consumida, em que PA 124 corresponda nevesseriamente a aio execwada oy a oqer vue de 1967). “Trata-se, entéo, de crise psiquistrica oy Ambas parecem tao estreltamenteligedas que nan de qual delas 6 conseqiéncia do outa, De fio, amas aprenn 6 denominador comum: tipo de relagio objetuat ean 0 doente. A ciéncia, quando 0 considera um ohjer desmembravel segundo um némero infinito de clase rmodalidades; a insituigdo, quando o considera (em n éncia da organizagéo, ou em nome do eiquetamento que eines the confirma) um objeto da estrutura hosptaar, a qual ele obsse, do a identificar-se, Nao seria necessério~ a ess altura - desu 9 que foi feito, por temor de ficarmos agarrados algo que conse=ve © germe (0 virus psicopatol6gico) dessa ciéncia, cujo resulnado paradoxal foi a invengao do doente & semelhance dos parémet-os em que ela mesma 0 definiu? A realidade nao pode ser definids ¢ priori: no momento exato em que ¢ definida, desaparece pare to- nar-se um conceito abstrato. No momento atual, 0 perigo é 0 de se querer resolver o problema 0 doente mental mediante um aperfeigoamento técnico,,. de crise in 0 de estude ieagies ou de lome da efici- Neste caso, a psiquiatria nao faria senéo perpetuar, em organiza- G0es equipadissimas ¢ modernamente edificadas, ou em Conceituacdes perfeitamente logicas, uma relacdo que eu chamaria, de metalica, de instrumento para instrumento, na qual a reciproci- dade continuaria a ser sistematicamente negada, O que transparece da andlise da crise é a absoluta incompreensio, Por parte da psiquiatria, da natureza da doenca, que ~ ainda desco- ‘hecida em sua etiologia - exige intitivamente um tipo de relacdo Cxatamente oposto aquele adotado até agora. O que caracteriza atu- almente uma tal relacdo, em todos os niveis (psiquiatra, familia, Instituigdes, sociedade), é a violéncia (a violéncia na qual uma soci 15 edade repressiva e competitiva se baseia) com que o Perturbady ental ¢ atacado e rapidamente descartado. O que é, senig ex Sao e violéncia, o que impele os membros ditos sos de uma fam, a canalizar para o mals faco a agressvidade acumulada plas ye tragées de todos? O que &, sendo a violéncia, a forca que leva uma Sociedade a afastare excluit os elementos que no partcipam to seu jogo? O que tivo preciso de destruir 0 que rest de pessoal no indviduo, pr salvaguardar 0 bom andamento e a organizacéo geral?., 0 0 mundo do terror, o mundo da violénciag uséo: se néo reconhecermos que esse mundo somoy Posiodes e as organizagdes; se ndo reconhecermos que are do mundo da ameaca e do abuso pelo qual o doente oberbado, nao poderemos compreender que a crise do 2 nossa crise. O doente sofre sobretudo por ser ‘compelido viver de modo aproblematico e adialético, visto queas es € as violéncias da nossa realidade podem, freqientemente, ser insuportaveis. A psiquiatria nio fez sendo acer ‘uar @ opcéo aproblematica do doente, apontando-Ihe o tinico espa co que Ihe era permitido: 0 espago de uma s6 dimensio, criado pare ele (junho de 1967), ‘Mas néo sera a comunidade terapéutica - como organizagéo data ¢ fixada dentro de novos esquemas, diferentes daqueles da psiquiatia asilar - que garantiré a terapeuticidade de nossas agdes. Sera, si. 0 tipo de relacao que vem a instaurar-se em seu interior, que a fart terapéutica, na medida em que conseguir focalizar as dinamicas de Violéncia ¢ de exclusdo presentes na instituigdo, assim como na socr edade como um todo, criando os pressupostos para uma gradtal tomada de consciéncia dessa violéncia e dessa exclusio, de modo® 16 ve 0 doent, 0 enfermeiro © 0 médi senstitivos da comunidad hospalr en ms dade global - tenham a possibilidade de a embaté-las, reconhecendo-as como Dentro dain nv ‘adoenga mental em si s6 é pos: todas as superest violéncia da fami ies (outubro de 1967), iga0 do proceso de revirevn ma de trabalho mais eficiente ox mais gosinwvs de tro, Arealidade de hoje nao ¢ 2 de amanhie xo = a estabelecemos, jé esta des om sper T vez aum modo mais humano de zelacde exz= os instituigo. Os problemas ¢ as maneires de exten x dualmente se modificando, gracas 20 exclarecimexro campo especifico no qual se agia ¢ a dilatacio desse campo nee um terreno mais vasto. Isto é 0 que nos 2 om nosse aco Cotidiana, Todavia, conforme a praxe - ja que a insatuicdo na qual se age e ‘uma instituicao terapéutica ~ habitualmente nos pergun’am se @ nove Condugao comunitaria ¢ a ‘solucao para as insntwicdes paquiamcas: ° que dizem os dados estatisticos sobre os resultados: se em resu- io, Curam-se mais doentes. E dificil responder em termos quant 'atvos, e, embora tambem nesse sentido possamos relatar dados Classicamente Positivos, este nao nos parece o melhor modo de Colocar a questa, uw?

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