Professor:
Tadeu Costa
Equipe:
Dóris Karoline Rocha da Costa 201704540017.
July Anne Silva Pereira 201704540008.
Maiara Brena Gomes Malato 201704540003.
Belém
Maio de 2018
Resumo:
O trabalho abordará o conceito de Heterotopia. O pensador responsável por desenvolver este conceito foi Michel
Foucault, que nomeia a descrição, análise e leitura sistemáticas destes sítios como Heteropologia, a qual é feita
em conferência no Círculo de Estudos Arquitetônicos, em 1967, e publicada anos mais tarde, em 1984, na revista
Architecture, Mouvement, Continuité. Além disso relacionaremos a Heterotopia e seus possíveis desdobramentos
no campo da arte ampliando os exemplos dado pelo filósofo.
Palavras chave: Heterotopia, De outros espaços, Michel Foucault, Artes.
Abstract:
The article will address the concept of Heterotopia. The thinker responsible for developing this concept was Michel
Foucault, who appoints the systematic description, analysis, and reading of these places as Heteropology, which
was made at a conference in the Circle of Architectural Studies in 1967 and published years later in 1984 in the
magazine Architecture, Mouvement, Continuité. In addition, we will relate Heterotopia and its possible
developments in the field of art by extending the examples given by the philosopher.
Keys-words: Heterotopia, From other spaces, Michel Foucault, Arts
Figura 1: Las Meninas, Diego Velásquez, 1656. .................................................................................... 10
Figura 2: Sara Bernhardt, Felix Nadar, 1859. ........................................................................................ 12
Figura 3: Parangolés, Hélio Oiticica, 1960. ............................................................................................ 13
Sumário
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 4
DESENVOLVIMENTO ..................................................................................................................... 5
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 14
REFERÊNCIA .............................................................................................................................. 16
INTRODUÇÃO
As obras e conceitos do francês Michel Foucault (1926-1984) são atuais e, mesmo que
tenham sido produzidas no século passado, dizem muito sobre a sociedade contemporânea e,
por que não, sobre a arte contemporânea e seus processos. Sua filosofia tem a capacidade de
nos instigar, e não seria diferente com este conceito, a Heterotopia, que aparece pela primeira
vez no prefácio do livro Les Mots et les choses, em português: As Palavras e as coisas, 1966.
Pela estrutura da palavra (hetero= do outro + topia= espaço) podemos ter uma noção do
conceito, que seria o lugar do outro. O outro corresponde ao diferente, este lugar é, pois, o lugar
da diversidade, seja ela de tempo, de espaço, de pessoas, etc. O trabalho tratará das questões
postas em pauta dentro da Heteropologia, como o filósofo define o estudo desse lugar do outro,
em sua fala na conferência De outros espaços, no Cercle d'Études Architecturales (Círculo de
Estudos Arquitetônicos), em 14 de Março de 1967. Além disso trabalharemos nas intersecções
que podem ser feitas entre a arte e as heterotopias, buscando materializar o conceito com
exemplos da arte.
DESENVOLVIMENTO
A Heterotopia, como dito, surge na obra de Foucault no prefácio do livro As Palavras
e as Coisas (1966). Desde o início este conceito emerge em paralelo ao conceito de utopia e a
ideia de simultaneidade, só que ligado de forma mais intensa ao discurso - ou a ruína de sua
sintaxe, já que diante destas encontra-se o justaposto:
“As utopias consolam: é que, se elas não têm lugar real, desabrocham,
contudo, num espaço maravilhoso e liso; abrem cidades com vastas avenidas,
jardins bem plantados, regiões fáceis, ainda que o acesso a elas seja quimérico.
As heterotopias inquietam, sem dúvida porque solapam secretamente a
linguagem, porque impedem de nomear isto e aquilo, porque fracionam os
nomes comuns ou os emaranham, porque arruínam de antemão a “sintaxe”, e
não somente aquela que constrói as frases — aquela, menos manifesta, que
autoriza “manter juntos” (ao lado e em frente umas das outras) as palavras e as
coisas. Eis por que as utopias permitem as fábulas e os discursos: situam-se na
linha reta da linguagem, na dimensão fundamental da fábula; as heterotopias
(encontradas tão frequentemente em Borges) dessecam o propósito, estancam
as palavras nelas próprias, contestam, desde a raiz, toda possibilidade de
gramática; desfazem os mitos e imprimem esterilidade ao lirismo das frases.”
(FOUCAULT, 1966. p. 12)
Para Foucault o século XIX foi o século dos obcecados com a história, com o passado,
com o tempo e isso provocou acúmulo e sobreposição do próprio tempo sobre si mesmo. Mas
o tempo que ocupamos agora e até então, é o tempo da preocupação com o espaço, já que
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vivemos a época da simultaneidade, em que algo é próximo e longínquo ao mesmo tempo, em
que os lugares estão justapostos e não se opõe, no sentido de que são uma face de um mesmo
sólido geométrico de demasiadas faces. A nossa experiência de mundo se assemelha mais a
uma rede do que a uma progressão cumulativa.
Contudo, apesar de ser uma preocupação do agora, o espaço possui sua história na
experiência Ocidental, na qual este espaço era amarrado ao tempo e possuía suas dicotomias e
uma hierarquia acabada: o que o filósofo chama de espaço da disposição, em que cada coisa
tinha seu sítio específico: “essas oposições e intersecções de lugares formavam uma hierarquia
acabada e é o que nós podemos indicar, ainda que muito imperfeitamente, como espaço
medieval: o espaço em que cada coisa é colocada no seu sítio específico, o espaço da
disposição” (FOUCAULT, 1967). Na Idade Média os lugares estão associados à vida do
homem, então sempre havia a dicotomia em relação aos lugares. O lugar que não era sagrado,
por sua vez, era considerado profano e proibido, havia o protegido e o exposto, o urbano e o
rural, entre as teorias cosmológicas do lugar celeste e do supraceleste, e da ideia do lugar da
estabilidade natural contra a ideia das coisas deslocadas e realocadas em outro lugar.
Galileu1 expande o espaço ao infinito quando redescobre que a Terra gira em torno do
Sol, e não o contrário, causando um abalo não apenas na concepção de “infinito”, porém de sua
ideia de que os objetos não estavam lá fixos em seus determinados lugares. Perde-se o sentido
da estabilidade natural, pois agora este lugar é apenas o ponto de uma rota, girando no seu ponto
e ao redor de uma outra força celestial. Do mesmo modo, associa-se a ideia de que mesmo um
objeto parado já não representa mais a estabilidade, pois representa apenas um ponto de seu
movimento, da infinita desaceleração dele. “Por outras Palavras, Galileu e todo o século
dezessete foram os primeiros de todo um movimento que substituiu a localização pela extensão”
(FOUCAULT, 1967).
Primeiro a disposição foi substituída pela extensão, que agora foi substituída pelo sítio:
a hierarquia em detrimento dos ciclos, em detrimento das redes, respectivamente. Segundo o
autor, mesmo o espaço contemporâneo ainda não foi completamente dessacralizado, quando na
modernidade certas barreiras foram mantidas. Barreiras que diferenciam o espaço público do
espaço privado, o familiar do social, o lazer e o do trabalho, dentre outros exemplos, que
demonstram a presença oculta do sagrado. “Na verdade, uma certa dessacralização do espaço
ocorreu (sublinhada pela obra de Galileu), mas ainda não atingimos o ponto ótimo dessa
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Galileu Galilei (1564-1642). Itália. Conhecido como o “pai da ciência moderna” por revolucionar os estudos
científicos.
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dessacralização. A nossa vida ainda se regra por certas dicotomias insuperáveis, invioláveis,
dicotomias as quais as nossas instituições ainda não tiveram coragem de se dissipar”
(FOUCAULT, 1967). Toda essa dicotomia e demarcação que buscamos fazer do espaço limita
nossa percepção a respeito do mesmo, que na verdade está imerso em quantidade
Para começar a adentrar de forma mais precisa no conceito em questão, Foucault fala
sobre as reflexões de Bachelard2 e dos Fenomenologistas: o espaço está imerso em quantidades,
é múltiplo e ao mesmo tempo fantasmático, já que em se tratando de percepção, ela acontece
no interior do indivíduo, nos espaços internos. Foucault prefere debruçar-se sobre o espaço
externo. Então, traz do pensamento fenomenológico o múltiplo e aplica o no espaço externo,
considerando que este espaço por si só é heterogêneo, já que não uma “espécie de vácuo no
qual se colocam os indivíduos e as coisas, num vácuo que pode ser preenchido de luz”, ou seja
não é um espaço que contém coisas com comportamentos lineares como o da luz. Vivemos sim
numa série de relações, que delineiam sítios decididamente irredutíveis uns aos outros e que
não podem sopre-impor” (FOUCAULT, 1967). De todos esses sítios múltiplos, o conceito de
heterotopia recai naqueles que: relacionam-se com todos os outros sítios, de uma forma que
neutraliza, secunda ou inverte a rede de relações por si designadas, espelhadas e refletidas”.
Dito isso, partimos então para o conceito central: a Heterotopia é algo como um
contra-sítio, uma utopia realizada, que existe em todas as civilizações e nasce com a fundação
da cidade, é um lugar geograficamente bem delimitado e que está fora de todos os outros
lugares. “Devido a estes lugares serem totalmente diferentes de quaisquer outros sítios, que eles
refletem e discutem, chamá-los-ei, por contraste às utopias, as Heterotopias” (FOUCAULT,
1967). O filósofo recorre ao exemplo do espelho para nos esclarecer sobre as utopias e
heterotopias, já que este é um exemplo que contempla ambas, sendo um exemplo de situação
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Gaston Bachelard (1884-1962). Filósofo e poeta Francês.
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em que há uma espécie de experiência de união entre as duas: o espelho é um lugar sem lugar,
uma virtualidade, um rastro que mostra a minha ausência no lugar onde estou me vendo - uma
utopia. Mas o espelho não é o intangível, ele existe e se contrapõe, ele nega a posição que ocupo
no tangível, pois no momento em que me vejo, desapercebo-me de onde realmente estou, para
só depois disso voltar à mim e com isso ver também o mundo ao meu redor - a Heterotopia.
Então Foucault parte para a descrição sistemática da Heterotopia, que viria a ser a
Heteropologia. O filósofo pontua os princípios desse tipo de sítio. O primeiro é que nenhuma
cultura no mundo deixa de crias suas Heterotopias, no entanto ela assume variadas formas para
diferentes culturas. Sendo assim, tais Heterotopias, as que existem em quaisquer civilização e
nascem com a sua fundação, serão classificadas em duas categorias: as de crise e as de desvio.
As de crise eram comuns nas sociedades mais primitivas e compreendiam o lugar sagrado ou
proibido em que indivíduos considerados em crise pelos outros componentes da sociedade eram
isolados: mulheres grávidas ou menstruadas, adolescentes, etc. O internato é um exemplo
destas, apesar de ser uma realidade dos séculos XIX/XX, já que neste lugar o rapaz é afastado
do seu lugar de origem para suas primeiras manifestações de virilidade, assim como a viagem
de lua de mel é para a noiva, nesse mesmo sentido. As Heterotopias de desvio são mais comuns
atualmente, já que lá são colocados os indivíduos que o comportamento ou necessidade foge à
norma ou média, exemplos desses lugares são as casas de repouso, hospitais psiquiátricos, e, é
claro, os presídios.
3
Caio Fernando Loureiro de Abreu (1948-1996). Jornalista, Dramaturgo e Escritor brasileiro.
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suposta ordem inabalável do arrumado (e por isso mesmo “eterno”) cotidiano. A morte de
alguém conhecido ou/e amado estupra essa precária arrumação, essa falsa eternidade”
(ABREU, 1986), este trecho da crônica Em Memória de Lilian também nos remete a ideia de
que a Heterotopia quebra a sintaxe do discurso, tal qual é dito em As Palavras e as coisas.
O quarto princípio é de que as Heterotopias podem ser aqueles lugares que visam uma
espécie de pequenas acumulações de tempo, que por muitas vezes acabam por quererem ser
uma acumulação perpétua do tempo. Por exemplo, as Heterotopias acumulativas: lugares em
que diferentes coisas de diferentes tempos são organizadas e estruturadas para não serem
desgastadas ou perdidas. As bibliotecas são um exemplo disso, assim como museus, em suas
configurações ocidentais modernas. O cemitério também se enquadra nessa Heterotopia, ou
como Foucault chama, Heterocronia, por analogia. Mas também existem aquelas heterocronias
de festival, que estão relacionadas ao tempo transitório, como as colônias de férias, os circos,
as feiras.
Por fim, o princípio das Heterotopias que dão função ao espaço que sobra,
desdobrando-se em polos extremos. Tem o papel de ser ou criar um espaço ilusório que espelha
todos os outros espaços reais, onde a vida é compartilhada, e expondo-os como ainda mais
ilusórios. Segundo Foucault, esse espaço poderia ser ter tão perfeito e meticulosamente
organizado que entra em desconformidade com nossos espaços desarrumados e mal
construídos, essa heterotopia já não seria de ilusão, mas de compensação. Os bordéis e as
colônias são exemplos disso: buscam uma perfeita organização, linear, hierárquica, mas em que
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nada condiz com a organização real e maltrapilha. A construção do distrito federal de Brasília
é um bom exemplo, já que busca essa organização do espaço que é um tanto ilusória na prática
e que em nada, quanto à questões organizacionais do espaço, é a realidade do Brasil que se
ergue ao redor.
No final de sua fala, Michel Foucault coloca o navio como Heterotopias por
excelência: “Um navio é um pedaço flutuante de espaço, um lugar sem lugar, que existe por si
só, que é fechado sobre si mesmo e que ao mesmo tempo é dado à infinitude do mar. E, de porto
em porto, de bordo a bordo, de bordel a bordel, um navio vai tão longe como uma colônia em
busca dos mais preciosos tesouros que se escondem nos jardins. […] O navio é a heterotopia
por excelência. Em civilizações sem barcos, esgotam-se os sonhos, e a aventura é substituída
pela espionagem, os piratas pelas polícias”. (FOUCAULT, 1967) Ou seja, em uma civilização
sem Heterotopias, sem este lugar do outro, do diverso, não existiram sonhos e só policiais que
vigiam, punem e buscam a normatização, seria um mundo nada fácil de viver.
Feita este apanhado heteropológico, já podemos direcionar nosso olhar para o campo
das artes. De cara lembramos da tela sobre a qual Foucault trata no primeiro capítulo de As
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Palavras e as coisas: As meninas de Velásquez (figura 1). Num olhar atento à pintura, Foucault
observa o pintor e o seu objeto, a representação que ele se aplica em produzir, o seu modelo.
Este pintor olha para nós, espectadores e nós o olhamos de volta. Seríamos então o modelo?
Estaríamos então, no momento em que percebemos o olhar do pintor sobre nós dentro da
situação virtual? Estaríamos nesse lugar sem lugar, que também é tangível e nega o lugar onde
estou da mesma forma que um espelho?
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que existia nas fotografias do século XIX, gerada pela mão do artista que criava seus artifícios
para alcançar a imagem perfeita.
Vamos pensar em uma das obras do artista carioca Hélio Oiticica, os Parangolés
(figura 3), que aconteciam da seguinte forma: existiam as estruturas feitas de camadas de pano
coloridos e que precisavam serem vestidas para emergirem em forma de arte por meio do
movimento do corpo, em consequência e como finalidade, das cores. Os parangolés não
precisavam estar em um museu para estarem no circuito da arte e nem pediam ao espectador a
função de observador. A obra e o espectador, de forma semelhante ao exemplo das Meninas,
no momento em que os parangolés emergiam enquanto arte, tornavam-se a mesma coisa e ainda
assim duas coisas diferentes, estavam em um movimento que “não cessa de mudar de
conteúdo, de forma, de rosto, de identidade”. Naquele momento o espaço da arte era o corpo
e seu meio de efetivação. Portanto, neste caso e circunstância, o corpo é o lugar em que diversas
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significações de corpo e de arte se encadeiam, um dos princípios tratados anteriormente. Além
disso, o corpo torna-se uma espécie, dada as diferenças, de heterocronia de festivais, que dizem
respeito à este tempo transitório e efêmero, neste caso, o efêmero momento em que se veste o
parangolé e se dança. Eu me nego enquanto espectador, passo pela situação de corpo-arte para
só então voltar ao lugar que ocupo. Este corpo é uma heterotopia, é um corpo multifacetado
naquela circunstância, um corpo ressignificado, que também ressignifica a relação entre a arte
e o espectador.
Deste exemplo vem à tona a questão do corpo. Segundo Nietzsche não existe a
separação entre a alma (intangível) e o corpo (tangível), até porque ele tenta, em toda sua obra,
romper com as dicotomias vigentes e tão disseminadas pela tradição. Portanto o indivíduo passa
a ser composto de uma coisa só, e dentro dessa coisa só: a alma e o corpo, o imaterial e o
material, duas faces de uma mesma moeda, ou melhor, duas faces simultâneas em um mesmo
sítio. Nesse ponto fica evidente a leitura de Foucault da obra de Nietzsche, pois como vimos
anteriormente, a simultaneidade permeia o conceito de Heterotopia. Para Friedrich Nietzsche
o corpo era composto de uma multiplicidade de forças em conflito, mas que dependiam umas
das outras para funcionarem. A consciência não era superior para o filósofo - como a tradição
costuma considerá-la - é apenas mais uma das forças que exerce suas funções orgânicas. Se
levarmos a discussão por este viés, todo o processo criativo e racional, que acontece na
consciência e faz da arte previamente uma ideia, um conceito a ser trazido à materialidade por
meio da sensibilidade, faz parte do corpo. A execução vem do corpo, mas a ideia reside no
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corpo. O corpo é o lugar da arte enquanto conceito. E não só isso, o corpo é Heterotopia, é
simultaneidade, encadeamento de forças: o lugar da arte é uma heterotopia.
Não só por esse viés podemos chegar a tal conclusão, se levarmos em conta a
consideração de alguns estudiosos sobre o indivíduo pós-moderno. O jamaicano Stuart Hall,
por exemplo, trabalha com a ideia de fragmentação do núcleo do sujeito pós-moderno em seu
livro A identidade cultural na pós-modernidade, 1996. Depois do sujeito ser constituído de um
núcleo imutável - sujeito cartesiano - e na modernidade de um núcleo que dialoga com o meio
- sujeito moderno -, o núcleo é fragmentado na pós-modernidade. Agora o sujeito possui
múltiplas e simultâneas identidades, que podem ser, até mesmo, contraditórias. Por exemplo
um juiz negro que apoia ideias conservadoras, como Hall exemplifica. Apesar de o
conservadorismo não apoiar ideias progressivas quanto a questão racial, ou seja, não achar que
existir um juiz negro seja certo, este juiz negro adota essa visão conservadora que o nega. Isto
faz desse indivíduo uma Heterotopia, ainda mais se pensarmos na Heterotopia como a quebra
da sintaxe do discurso, já que este sujeito não segue uma lógica linear e hierárquica, a lógica
do sujeito pós-moderno é simultânea. Se o espaço da arte pode ser o corpo e este corpo, o espaço
inteiramente pertencente a este indivíduo, o lugar-diverso da arte é, por consequência, o corpo.
CONCLUSÃO
Michel Foucault instigou não somente seus alunos, mas todo um posterior de estudos
relacionados ao espaço, ao tempo, e principalmente o estudo do conceito de Heterotopia. Ele,
o arqueólogo do silêncio imposto ao louco, atreveu-se a dar voz aos excluídos, aos que
divergiam da norma, exilados. A Heterotopia se mostra - num primeiro momento em As
Palavras e As Coisas - como aqueles lugares ou aquelas artes ou aquelas pessoas que quebram
com a ordem do discurso, que causam incômodo por não seguirem a lógica vigente, o louco.
Num segundo momento, em conferência, o conceito se mostra como um sítio no qual são
colocados os outros, os diversos, aqueles que fogem à norma, servindo para isolá-los e/ou
protegê-los e/ou purificá-los. Cada cultura, nas suas formas mais primitivas ou atuais, têm as
suas próprias Heterotopias, com sua particular importância social, lugares específicos ao redor
de onde elas se desenvolvem ou nos lugares onde ela se desenvolve isolada. Por todos esses
motivos é importante compreendê-las no seu contexto e mais importante ainda constatar sua
existência em nosso espaço e tempo, como foi feito ao longo do trabalho.
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Percebemos que estes sítios estão mais perto de nós do que imaginamos, estão tão
perto que somos, ou podemos ser, Heterotopias. É nesse ambiente que Heterotopia se
manifesta também na arte, no corpo-arte, desde suas formas mais clássicas até alcançar suas
formas mais recentes, da dança até a performance, e além: na ideia, no corpo e na alma. No
campo da arte, a Heterotopia busca o outro, o diferente no espectador e na sua forma de
percebê-la, ela busca a forma como que este outro participa da obra; como ele a percebe no seu
tempo fazendo uma analogia com o tempo da obra, participando de ambas atemporalidades.
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REFERÊNCIA
BIOGRAFIA DE MICHEL FOUCAULT. ESTUDO PRÁTICO. Disponível em:<
https://www.estudopratico.com.br/biografia-de-michel-foucault/> Acesso em: 23 maio 2018
ABREU, Caio Fernando de. Em memória de Lilian. In.: Pequenas Epifanias. 4. edição. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
BARROS, Thiago. O corpo na Filosofia de Nietszche. Rio de Janeiro: Revista Trágica: Estudos
sobre Nietzsche, 2010. Disponível em:<http://tragica.org/artigos/v3n2/tiago.pdf> Acesso em:
28 maio 2018.
BENJAMIN, Walter. A pequena história da fotografia. In.: Magia e Técnica, Arte e Política.
Coleção Obras Escolhidas. 3a. edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
PARANGOLÉ . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo:
Itaú Cultural, 2018. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3653/parangole>. Acesso em: 28 de Mai. 2018.
Verbete da Enciclopédia.
ESPAÇO MICHEL FOUCAULT. Esboço Biográfico. Disponível em:<http://michel-
foucault.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/bio2.pdf> Acesso em: 23 maio 2018.
FOUCAULT, Michel. Prefácio e Las Meninas. In.: As Palavras e as coisas: uma arqueologia
das ciências humanas. 8ª Edição. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, Michel. De Outros Espaços. Paris: Cercle d’Études Architecturales, 1967.
(Comunicação oral)
HALL, Stuart. A Identidade em Questão. In: A Identidade cultural na pós-modernidade. 10.
edição. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2005.
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