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MARIA CELINA D'ARAUJO E CELSO CASTRO _ ERNESTO GEISEL

A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

p.313> “A partir de que momento, no governo Médici, o senhor soube que seria
o próximo presidente da República?
Fixar o momento, a data, em que surgiu minha candidatura, eu não sei. Com o
decorrer do tempo, começou-se a cogitar e a conversar sobre a sucessão,
especulando sobre quem seria o futuro presidente. Houve tentativas de se
prorrogar o mandato do Médici, mas ele reagiu a isso, não aceitou. Começou-
se a falar em vários nomes, entre eles o meu. Dizia-se que a ala castelista
estava trabalhando para eu ser presidente. Admito que alguns quisessem essa
solução, não tinham poder nem influência.”

p.316> “(...) Quando assumi a presidência, estabeleci que meu propósito era
alcançar a normalização da situação no país, mas que essa operação tinha que
ser feita com segurança. Não se podia liberar o país e daí a pouco ter que
voltar atrás. Era uma operação gradativa, lenta. Esse era mais ou menos o
conceito que se tinha dentro das Forças Armadas. Não se poderia, de repente,
estabelecer a liberalização de todos os problemas, porque as forças
subversivas continuavam. Em menor ritmo, em menor escala, mas
continuavam. Conspiração daqui, conspiração dali, movimento aqui, um roubo
de banco ou de armas acolá, um assassinato etc.”

p.317> “Como foi a transição para o seu governo? Enquanto o senhor queria
normalizar o país, o pessoal que estava no governo Médici não queria...
É, levou tempo para se chegar ao fim dessa história. Médici ainda
sofria muito a influência da linha dura. O pessoal daquele tempo, de
um modo geral, talvez meu irmão também, ainda achava que a luta
continuava. Eles olhavam esse problema com muita intransigência.”

p.318-319> “Na época da sucessão também foi lançada a anticandidatura de


Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho. Isso chegou a incomodá-lo?
Não, não dei importância, porque eles não tinham possibilidades de ganhar a
eleição. A Arena tinha uma grande maioria no Congresso.”

p.319-320> “O senhor deixou a presidência da Petrobras já como candidato,


para se desincompatibilizar. Foi então que se dedicou a elaborar seu plano de
governo? Como transcorreu esse período?
Como candidato, tive que fugir de uma série de coisas, inclusive da imprensa,
que vivia me assediando, querendo entrevistas. Recebi o oferecimento de
morar no Jardim Botânico, onde estava disponível a casa do ministro da
Agricultura. Saí do meu apartamento no Leblon e fui para lá. Além disso,
ocupava uma dependência do Ministério da Agricultura, no Castelo, onde
montei meu escritório. Trabalhavam comigo o Golbery, o Moraes Rego e o
Heitor. Aí começamos a analisar a situação, os homens capazes e disponíveis,
suas idéias, suas ações. Levamos algum tempo discutindo e acertando certas
idéias. Com o Golbery, sobre como e quando nós iríamos marchar para a
abertura. Fomos aos poucos montando um projeto de programa de governo.
Mais adiante, entre a eleição e a posse, procurei organizar o ministério.”
p.321> “Imaginava-se, por exemplo, o fim do AI-5, ou a anistia? Previam se
prazos?
Nós não tínhamos prazo prefixado, mas achávamos que quando deixássemos
o governo o país estaria mais ou menos normalizado. Não nos aventurávamos
a dizer: "Em tal data, em tal época, vamos fazer isso, vamos fazer aquilo". Não
éramos senhores das circunstâncias supervenientes. O que iria acontecer
durante o período de governo?”

p.330> “Pelo visto, nas escolhas para a área militar contaram muito suas
relaçõespessoais, de confiança.
Sim. No ministério civil havia ministros que eu nem conhecia, que vim a
conhecer depois. Mas a área militar, para mim, era mais sensível. Vejam como,
nessas escolhas, o problema era de relacionamento: na Aeronáutica eu tinha
escolhido o Araripe, que aliás já tinha sido ministro do governo Médici, depois
da demissão do Márcio de Melo. Mas por que eu escolhi o Araripe? Porque ele
era meu colega, meu companheiro, meu amigo de muitos anos. Foi para a
aeronáutica, eu fui para a artilharia, mas tínhamos boas relações. Eu sabia
quem era o Araripe.”

p.332> “Desde o início estava certo que o general Golbery ficaria no Gabinete
Civil?
Não. Pensei no começo em colocá-lo no Planejamento. Mas depois
começamos a ver o problema do Veloso, e aí a melhor solução foi o Golbery
chefiar a Casa Civil. Inclusive porque ficaria muito mais em contato comigo. Na
realidade, Golbery era um homem que podia ir para qualquer ministério.”

p.337> “Como o senhor lidava com seus ministros, como o governo


funcionava?
Quando assumi a presidência fiz uma reunião do ministério e estabeleci
diretrizes gerais para o governo e para a atuação dos ministros. Para assegurar
o adequado relacionamento entre os órgãos governamentais, os chefes dos
gabinetes Civil e Militar, do Estado-Maior das Forças Armadas e do SNI
passaram a ter o status de ministro. Resolvi, também, retirar do Ministério do
Trabalho a gestão da Previdência, para que se dedicasse inteiramente às
questões próprias da área trabalhista, e foi então criado por lei o Ministério da
previdência e Assistência Social.”

p.345-346> “O senhor sempre interferia quando havia divergências entre seus


ministros ou eles próprios podiam chegar a um acordo?
Às vezes eles se entendiam. Conversava-se e, no fim, sempre se conseguia
uma forma de harmonia. As divergências, quando se manifestavam, não eram
pessoais, eram objetivas e suscetíveis de solução. Não deixavam resíduos
nem incompatibilidade. Não pode haver um governo permanentemente
harmônico, tem que haver divergência!”

p.355> “Em seu governo a inflação era considerada uma variável secundária
em função da retomada do crescimento?
Não, era preocupante. Simonsen de vez em quando arrancava os cabelos e
vinha a mim com o problema da inflação. Pensávamos na inflação,
procurávamos adotar medidas para reduzi-la, mas não era o problema número
um do governo. Nosso problema número um era desenvolver o país, dar
emprego, melhorar as condições de vida da população. Para tanto, tivemos
que recorrer ao crédito externo, que na época era muito favorável. Havia muito
dinheiro disponível no exterior, proveniente da reciclagem da receita auferida
pelos países da Opep, os célebres petrodólares. E o Brasil tinha muito crédito.”

p.362> “O orçamento ia para o Congresso, mas parece que não era discutido
exaustivamente pelos parlamentares, não é?
O orçamento passava pelo Congresso para o necessário exame e aprovação,
e era discutido. O que o Congresso não podia fazer era incluir novas despesas,
de interesse dos deputados e senadores.”

p.369>” Daí o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha.


Sim. Achávamos que devíamos seguir o que outros países fazem, isto é,
construir usinas nucleares. O Japão tem grande número de usinas nucleares,
os Estados Unidos também. Na França, na Alemanha, na Inglaterra, quase
toda a base de energia é nuclear. No Brasil havia uma usina cuja construção
começara no tempo do governo Médici, mas que teve inúmeras falhas, porque
a companhia que a projetou e construiu, a Westinghouse, dos Estados Unidos,
fez um péssimo serviço. Nosso projeto era construir progressivamente, junto da
usina nuclear n° 1, que é a Angra I, duas outras. Mas no governo Figueiredo,
quando o Brasil se defrontou com dificuldades financeiras, devidas
principalmente ao segundo choque do petróleo e ao aumento das taxas de
juros nos Estados Unidos, o programa praticamente foi paralisado. Paralisou-se
inclusive a construção da usina n° 2, que já estava bem adiantada, com todo o
seu equipamento.”

p.369-370> “O senhor acha que o programa nuclear acabou fracassando


exclusivamente por causa das dificuldades econômicas do governo
Figueiredo?
Possivelmente. E talvez o governo do Figueiredo não tivesse a mesma
concepção que tínhamos com relação ao problema energético.”

p.383>” Seus ministros sentavam com o senhor para decidir as obras a serem
cortadas quando os recursos começavam a escassear?
Entre outras obras, eles cortaram a ferrovia primeiro. Achavam que a ferrovia
no momento não era tão necessária e que havia outras coisas mais urgentes. E
a opinião deles era muito razoável. Eram corresponsáveis, e eu não podia dizer
teimosamente: "Não, não corto, quero continuar com ela". Essa imagem do
ditador que se apresenta a meu respeito não era bem assim. Meu governo era
um governo cordato e que sempre procurou o consenso.”

p.384-385> “Mas de onde veio essa preocupação social, onde o senhor se


inspirou para criar, por exemplo, um Conselho de Desenvolvimento Social?
É a realidade brasileira! Não é? É a pobreza, é o analfabetismo, é a doença,
uma série de problemas.”

p.386> “Na área da saúde, quais foram suas principais preocupações?


Quanto à saúde, tínhamos uma concepção diferente da que existe hoje em dia.
Os ministérios, relativamente às suas atribuições e à sua área de atuação,
podem ser divididos em duas categorias. Há ministérios que são principalmente
normativos e há ministérios que são executivos. O Ministério do Trabalho, por
exemplo, é um ministério normativo; Preocupa-se com as leis trabalhistas,
procura acompanhar a sua aplicação, mas é sobretudo normativo. Já o
Ministério dos Transportes faz estradas, cuida de sua conservação, constrói e
opera portos etc. É, essencialmente, um ministério executivo. O Ministério da
Fazenda pode ter uma parte normativa, mas é executivo: cabe-lhe arrecadar
impostos, cuidar do tesouro e fazer os pagamentos. O Ministério da Saúde,
hoje em dia, é considerado executivo — é preciso fazer hospitais, é preciso
gerir hospitais, é preciso atender à saúde pública, proporcionar saúde para
todo mundo. Meu governo pensava de modo diferente.”

p.388> “Em sua opinião, o que acontece com o dinheiro da saúde? Qual é o
"buraco negro"?
Não sei. Acho que é a desonestidade. A pretexto de que o médico pode ter
vários empregos, ele é mal pago pelo governo. Todos, de um modo geral, são
mal pagos. Havia aqui no Rio de Janeiro um grande hospital, o dos Servidores
do Estado. Hoje em dia está decadente. Era um hospital extraordinário.”

p.392> “E quanto ao Mobral?


Encontrei o Mobral quando assumi o governo. Veio do governo do Médici.
Funcionou comigo, mas não deu os resultados que se esperava. O Mobral se
empenhou muito em alfabetizar adultos e velhos. Era um trabalho com uma
categoria que talvez não devesse ter prioridade. Era preferível fazer mais
esforço nas novas gerações. Uma certa época o Simonsen andou empenhado,
pilotando o Mobral.”

p.394> “Como foi definida a política salarial de seu governo?


O salário mínimo era reajustado anualmente, em função da variação dos
índices do custo de vida. Mas já a partir de 1975, as taxas de reajuste sempre
estiveram acima dessa variação.”

p.394> “Variação dos índices de custo de vida significava aumento da inflação,


não?
Sim. A inflação aumentou, mas não há nenhuma comparação com o que se
tem hoje. Sempre se procurou manter o nível adequado do emprego. Houve
muita preocupação na área do Ministério do Trabalho com salários de modo
geral. Arnaldo Prieto se entendia muito bem com o Veloso e com o Simonsen,
o que facilitou a tarefa de fazer os reajustamentos. Resolveu-se, também, dar
meio salário para os velhos a partir de 65 anos, Não imaginam a quantidade de
cartas que recebi, mesmo depois de sair da presidência, de velhos
agradecendo. Meio salário mínimo! Parece ridículo, não é? O INPS, no meu
governo, com o novo Ministério da Previdência que se criou, funcionou muito
bem. No fim do governo apresentou saldo financeiro.”

p.397> “Um outro problema que é estrutural no Brasil e que no seu governo até
apresentou uma melhora substantiva é o da concentração de renda. O
Brasil tem uma das maiores concentrações de renda do mundo. Qual é sua
compreensão sobre isso?
Meu governo mudou um pouco o perfil nessa matéria. Uma das teses que
parecem muito simpáticas diz: vamos tirar dos ricos para distribuir. Mas isso
não pode ser assim. O rico, pelo fato de ser rico, não é condenável. O rico é
condenável pela má aplicação que faz da sua fortuna. Entretanto, se aplicar os
seus recursos para desenvolver o país, para criar empregos, seja numa
indústria, seja no comércio, na agricultura, seja no que for, ele é muito bem-
vindo. Mas no Brasil o que vigora é isso: vamos acabar com os ricos para
melhorar as condições dos pobres. Aliás, no Brasil os ricos são poucos. A
quantidade de riqueza disponível em função da população é ínfima, não dá
para nada. Se tomarem o dinheiro dos ricos para distribuí-lo entre os pobres,
no sentido de estabelecer um equilíbrio de recursos, todos vão ser pobres.
Então, não é por aí que o problema se resolve. O problema se resolve
assegurando-se o desenvolvimento do país.”

p.398> “O senhor lembra que, no governo Médici, Delfim Neto dizia: "Vamos
deixar crescer o bolo para depois dividir"? O que o senhor pensa disso?
Quando e onde ele vai dividir? A divisão tem que se fazer na formação do bolo,
dividir depois é uma utopia. Uma vez o bolo formado, quem ficou com ele vai
reagir para não dividir. É possível que nessa concepção Delfim talvez não
tenha se explicado direito. Não dá para pensar em fazer o bolo primeiro para
depois dividi-lo. O que o governo tem que fazer é criar condições que
estimulem o homem de dinheiro a investir. Hoje em dia, infelizmente, ele vai
investir em banco. Não estou dizendo que os bancos não sejam necessários,
mas sim que não o são na quantidade que temos. O negócio é tão bom que já
há uma quantidade enorme de bancos estrangeiros no país. Agora vejam:
pelos dados do Ipea a situação no meu governo melhorou um pouco. Seria
bom que houvesse continuidade. E será que houve continuidade? Acho que
não.”

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