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TED Talks é uma organização sem fins lucrativos dedicada à divulgação de ideias, geralmente sob a forma de conversas
curtas de 18 minutos ou menos. A TED começou em 1984 como uma conferência em que a Tecnologia, o Entretenimento e
o Design convergiram e hoje abrange quase todos os tópicos - da ciência para o negócio para questões globais - em mais de
100 idiomas. Estas informações foram obtidas no site da conferência e a palestra de Chimamanda Adichie pode ser
assistitida neste link: https://goo.gl/2yN665, acessado pela última vez em 06/09/2017
transmissão via streaming2, veremos que os enredos dos conteúdos do audiovisual
obedecem, praticamente de forma imutável, a uma lógica de produção e distribuição
relacionadas com as estruturas de poder estabelecidas na sociedade em que estão
inseridas. Portanto, os espaços para a definição de a quem cabe protagonismo ou
antagonismo, quem caracteriza belo ou execrável nas tramas que apresentam, poderão
também ser destinados de acordo com o poder que determinado grupo representado
tenha estabelecido no tecido social que compõe.
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Streaming é uma tecnologia que envia informações multimídia, através da transferência de dados, utilizando redes de
computadores, especialmente a Internet, e foi criada para tornar as conexões mais rápidas. Um grande exemplo de
streaming, é o site NetFlix, que utiliza essa tecnologia para transmitir vídeos em tempo real.
a partir do momento em que os sujeitos sociais e político
deixam de contar com o anteparo de um saber e de um poder
anteriores e exteriores à sua práxis, capazes de legitimar a
existência de certas formas de dominação, as representações
desses mesmos sujeitos, detidas no aparecer social e
determinadas pela separação entre trabalho e pensamento,
irão constituir o pano de fundo sobre o qual pensarão a si
mesmos, pensarão as instituições, as relações de poder, a vida
cultural, a sociedade e a política no seu todo.(Chauí, 2007)
Estas questões são pautadas aqui também à luz dos tempos em que se discute a
presença, ou ainda a ausência, de negros e negras nas produções audiovisuais,
especialmente no Brasil e nos Estados Unidos. No entanto, invoca-se aqui ir um pouco
além do viés quantitativo da presença negra nas representações nos meios de
comunicação que também envolve estas discussões. Defende-se, portanto, que a
análise dos discursos e ideologias sobre o outro, nesse âmbito, também devam
investigar os sentidos evocados para aqueles se constroem e autoconstituem como a
norma da sociedade em um único plano: ser branco(a), significando ser régua de
mensuração que se estende do moral ao estético, coisa que considero contornos
primários do fenômeno da branquidade. É neste sentido que compreendo que ser
branco é uma construção magnificada pelos meios de comunicação de massa, o que
acaba por, não só impor seus padrões morais, culturais ou estéticos aos demais grupos
raciais, mas especialmente colabora para que o sentido de pertencer ao grupo racial
branco constitua-se como algo de fundo ideológico. Neste sentido, considero o
pensamento de HALL (2006) para quem ideologia se compreende como
Não à toa, a mais desatenta das análises irá perceber que cabe ao branco, na
esmagadora maioria dos casos, o papel protagonista, de comando e monopólio dos
padrões estéticos aceitáveis das produções audiovisuais. A junção entre a construção
da negativa do significado de ser “negro”, “negra” com a supervalorização do
significado, inclusive intelectual e biológico, de ser “branco”, “branca” favorece a
manutenção de das ideologias de superioridade racial, uma vez que “para legitimar sua
dominação, parafraseando Marx, a ‘raça’ branca precisa que as demais raças e grupos
étnicos, inclusive negros, assimilem seus valores e passem a se comportar, pensar,
sentir e agir conforme sua ideologia racial’ (Domingos, p. 286). Vale ressaltar, no
entanto, que referências como “raça branca” têm sentido social e não biológico e, neste
sentido, ser “o branco, é, a vários respeitos, uma fantasia da imaginação europeia que
o Ocidente se esforçou para naturalizar e universalizar” (MBEMBE, 2014, p.84).
Ressalto também que tal esforço não pode ser considerado inócuo visto que não são
poucas as pessoas que nela acreditam, uma vez que
longe de ser espontânea, esta crença foi cultivada, alimentada,
reproduzida e disseminada através de um conjunto de
dispositivos teológicos, culturais, políticos, econômicos e
institucionais, dos quais a história e a teoria crítica da raça
acompanharam a evolução e as consequências ao longo dos
séculos. Em suma, em várias regiões do mundo trabalhou-se
intensamente no sentido de tornar esta crença num dogma,
num hábito. (Mbembe, 2014, p. 86).
Referências