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Centro Federal de Educação Tecnológica

“Celso Suckow da Fonseca” - CEFET/RJ


Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais – PPRER
Disciplina: Necropolítica
Prof.: Fátima Lima
Aluna: Márcia Gonçalves

Ser branco, uma invenção conjugada entre a soberania e a


supremacia racial
Aos dez minutos de sua palestra na conferência Ted Talks1, a escritora nigeriana
Chimamanda Adichie sentencia o que particularmente considero como algumas das
mais estonteantes definições do que é “poder”: “poder é habilidade de não só poder
contar a história de outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa”.
Neste sentido, creio não haver quem duvide que alguns dos mais eficientes meios de
se contar histórias passa certamente pelas produções audiovisuais. Um filme ou uma
série de tv tem, na mais simples das análises, a complexa “tarefa” de contar a história
de outras pessoas, por meio da construção de personagens que de forma indireta ou
direta, representam determinados grupos raciais ou étnicos, por exemplo. Assim,
considera-se que as produções do audiovisual para o cinema e para a televisão tem
tornado única e definitiva a história da população branca, com seu presente e passado
de glórias, protagonismos e heroísmos de eventos históricos, além de alocá-la como
padrão estético de toda humanidade, como também tem definidos outros grupos
raciais como a antagonismo definitivo destes padrões de “normalidade” . Neste artigo,
pretendo, portanto, analisar que forma esta superexposição da pessoa branca nos
meios de comunicação corresponde ao fenômeno da branquidade e em que sentido o
exercício deste fenômeno é também exercício de soberania, em conjugação com
ideologias de supremacias raciais.

Se analisarmos as produções audiovisuais desde de o advento do cinema,


passando pelo videotape e alcançando os tempos atuais da popularização da

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TED Talks é uma organização sem fins lucrativos dedicada à divulgação de ideias, geralmente sob a forma de conversas
curtas de 18 minutos ou menos. A TED começou em 1984 como uma conferência em que a Tecnologia, o Entretenimento e
o Design convergiram e hoje abrange quase todos os tópicos - da ciência para o negócio para questões globais - em mais de
100 idiomas. Estas informações foram obtidas no site da conferência e a palestra de Chimamanda Adichie pode ser
assistitida neste link: https://goo.gl/2yN665, acessado pela última vez em 06/09/2017
transmissão via streaming2, veremos que os enredos dos conteúdos do audiovisual
obedecem, praticamente de forma imutável, a uma lógica de produção e distribuição
relacionadas com as estruturas de poder estabelecidas na sociedade em que estão
inseridas. Portanto, os espaços para a definição de a quem cabe protagonismo ou
antagonismo, quem caracteriza belo ou execrável nas tramas que apresentam, poderão
também ser destinados de acordo com o poder que determinado grupo representado
tenha estabelecido no tecido social que compõe.

Em outro sentido, pensado sobre escala global da produção de conteúdo e sua


distribuição numa velocidade fascinante em face à revolução dos meios de
comunicação a partir do advento da internet, acredita-se que o modo de
representação do(s) mundo(s) ainda tem se dado muito mais em um sentido
imaginário do que real, porque a produção das tecnologias que distribui imagens,
representação dos povos e permite sua integração, ainda se localiza, majoritariamente,
no mesmo eixo verticalizado pelo poderio econômico das nações. Deste modo, é pouco
prudente considerar que a aproximação, possibilitada pela expansão dos meios
digitais de comunicação, entre povos e nações, cultural e geograficamente distantes,
se dá, em seus processos de representações, desconsiderando a lógica de hegemonia
econômica que há entre eles. Por outro lado, como entendemos que a dominação
ideológica não se opera estritamente no terreno classista (Domingos, 2009), pode-se
perceber que uma associação entre as produções audiovisuais, para os meios de
comunicação de massa, que contemplem grupos étnico-raciais distintos nos impele ao
exame de quais formas estes conteúdos carregam mensagens equivalentes às
estruturas sociais/raciais em que foram concebidos. Portanto, parto do princípio que
se sociedades ocidentais são estruturalmente racista (FANON, 2011) é possível crer
que aquilo produzido em seu interior , a forma como produz e à quem é possibilitado
este produzir, em especial no que envolve contar da história do “outro” e,
consequentemente, determinar o que este “outro” é, obedece as lógicas das ideologias
hegemônicas e, em determinados sentidos, supremacistas.

Ao lançarmos luz sobre a impactos das representações dos sujeitos, de acordo


com suas origens raciais, estamos considerando sua importância no sentido em que

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Streaming é uma tecnologia que envia informações multimídia, através da transferência de dados, utilizando redes de
computadores, especialmente a Internet, e foi criada para tornar as conexões mais rápidas. Um grande exemplo de
streaming, é o site NetFlix, que utiliza essa tecnologia para transmitir vídeos em tempo real.
a partir do momento em que os sujeitos sociais e político
deixam de contar com o anteparo de um saber e de um poder
anteriores e exteriores à sua práxis, capazes de legitimar a
existência de certas formas de dominação, as representações
desses mesmos sujeitos, detidas no aparecer social e
determinadas pela separação entre trabalho e pensamento,
irão constituir o pano de fundo sobre o qual pensarão a si
mesmos, pensarão as instituições, as relações de poder, a vida
cultural, a sociedade e a política no seu todo.(Chauí, 2007)

Desta forma, creio que o poder da representação, de representar e ser


representado interfere diretamente na forma como os indivíduos se assumem ou não
como pertencentes a determinado grupo racial. Examinando negros e negras no
contexto em que o contar de sua história foi ao longo dos tempos, e de modo
praticamente irreparado até aqui, constituída de preconceitos, racismos e de
ideologias de inferioridade racial, temos que resta a eles e à elas serem o que não são,
a partir de um ilusório fecundo processo de branqueamento para libertar-se de si
mesmos.

Estes [negros e negras] por sua vez interiorizaram os


preconceitos negativos contra eles forjados e projetam sua
salvação na assimilação dos valores culturais do mundo branco
dominante. Daí a alienação que dificulta a formação do
sentimento de solidariedade necessário em qualquer processo
de identificação e de identidade coletivas. Tanto os mulatos
quanto os chamados negros puros caíram na armadilha de um
branqueamento ao qual não terão todos acesso abrindo mão da
formação de sua identidade de excluídos. (Munanga, 2008)

Estas questões são pautadas aqui também à luz dos tempos em que se discute a
presença, ou ainda a ausência, de negros e negras nas produções audiovisuais,
especialmente no Brasil e nos Estados Unidos. No entanto, invoca-se aqui ir um pouco
além do viés quantitativo da presença negra nas representações nos meios de
comunicação que também envolve estas discussões. Defende-se, portanto, que a
análise dos discursos e ideologias sobre o outro, nesse âmbito, também devam
investigar os sentidos evocados para aqueles se constroem e autoconstituem como a
norma da sociedade em um único plano: ser branco(a), significando ser régua de
mensuração que se estende do moral ao estético, coisa que considero contornos
primários do fenômeno da branquidade. É neste sentido que compreendo que ser
branco é uma construção magnificada pelos meios de comunicação de massa, o que
acaba por, não só impor seus padrões morais, culturais ou estéticos aos demais grupos
raciais, mas especialmente colabora para que o sentido de pertencer ao grupo racial
branco constitua-se como algo de fundo ideológico. Neste sentido, considero o
pensamento de HALL (2006) para quem ideologia se compreende como

referenciais mentais _ linguagens, conceitos, conjunto de


imagens do pensamento e sistemas de representação _ que
as diferentes classes e grupos sociais empregam para dar
sentido, definir, decifrar e tornar inteligível a forma como a
sociedade funciona. (Stuart Hall, 2006)

Não à toa, a mais desatenta das análises irá perceber que cabe ao branco, na
esmagadora maioria dos casos, o papel protagonista, de comando e monopólio dos
padrões estéticos aceitáveis das produções audiovisuais. A junção entre a construção
da negativa do significado de ser “negro”, “negra” com a supervalorização do
significado, inclusive intelectual e biológico, de ser “branco”, “branca” favorece a
manutenção de das ideologias de superioridade racial, uma vez que “para legitimar sua
dominação, parafraseando Marx, a ‘raça’ branca precisa que as demais raças e grupos
étnicos, inclusive negros, assimilem seus valores e passem a se comportar, pensar,
sentir e agir conforme sua ideologia racial’ (Domingos, p. 286). Vale ressaltar, no
entanto, que referências como “raça branca” têm sentido social e não biológico e, neste
sentido, ser “o branco, é, a vários respeitos, uma fantasia da imaginação europeia que
o Ocidente se esforçou para naturalizar e universalizar” (MBEMBE, 2014, p.84).
Ressalto também que tal esforço não pode ser considerado inócuo visto que não são
poucas as pessoas que nela acreditam, uma vez que
longe de ser espontânea, esta crença foi cultivada, alimentada,
reproduzida e disseminada através de um conjunto de
dispositivos teológicos, culturais, políticos, econômicos e
institucionais, dos quais a história e a teoria crítica da raça
acompanharam a evolução e as consequências ao longo dos
séculos. Em suma, em várias regiões do mundo trabalhou-se
intensamente no sentido de tornar esta crença num dogma,
num hábito. (Mbembe, 2014, p. 86).

À medida em que consideramos que a função de tais dispositivos é transformar a


crença na superioridade dos brancos em senso comum, e sobre tudo em desejo e
fascínio (MBEMBE, 2014, p.87), podemos também considerar a branquidade
consequência desta fantasia produzida por estes dispositivos, um sistema autônomo e
interiorizado na consciência dos indivíduos, que garante que pessoas brancas sejam
percebidas como superiores, tanto por brancos, quanto por negros, aí residindo a
razão de sua autonomia pois
só quando a crença se torna desejo e fascinação, impressionante para
uns e com dividendos para outros, pode operar como força autônoma
e interiorizada. A fantasia do branco age, deste ponto de vista, como
constelação de objetos de desejo e de sinais públicos de privilégio. Este
objetos e sinais implicam o corpo quanto a imagem, a linguagem e a
riqueza. Aliás, sabe-se que qualquer fantasia procurará sempre
instituir-se no real enquanto verdade social efetiva. A fantasia do
branco teve sucesso porque, por fim tornou-se um cunho de um modo
ocidental de estar no mundo, de uma determinada figura de
brutalidade e crueldade, de uma forma singular de predação e uma
capacidade desigual de submissão e de exploração de povos
estrangeiros. (Mbembe, 2014, p. 89).

Diante dos argumentos anteriores, arrisco-me a concluir que é a partir de uma


fantasia racista, fomentada pelos a imagem extremamente positivada das pessoas
brancas no meios de comunicação de massa, que pertencer a raça branca significa, de
muitas maneiras, pertencer a um estado supremo de existir no mundo. Se retomarmos
ao ponto inicial destes escritos e considerarmos que o poder de contar a história de
outras pessoas e, especialmente, tornar definitivas a história destas outras pessoas,
pode ser também compreendido como o direito de determinar os limites do seu
progresso e, portanto, seu próprio fim, arrisco-me também a relacionar a ideia de
supremacia racial branca ao conceito de soberania. Isso porque, ao menos
metaforicamente, pode-se compreender que a sub-representação da pessoa negra ou
a sua representação a partir de estereótipos negativos, aliadas a superexposição das
pessoas brancas nos meios de comunicação, constitui-se como o fim, a morte do
sujeito negro ou de sua configuração como lugar identitário. É neste sentido que aqui
pressuponho que “a expressão máxima da soberania reside, em grande medida, no
poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve morrer” (MBEMBE,
2017, p. 107), o que se pode considerar como o poder de determinar definitivas as
histórias de grupos raciais inteiros, a partir da necessidade soberana de existir
suprema e inabalável de seu posto de poder.

Referências

CHAUÍ, Marilena. Crítica e ideologia: o discurso competente e outras falas, Editora


Cortez, 2007

KABENGELE, Munanga. Rediscutindo a Mestiçagem, Editora Autêntica, 2008

DOMINGUES, Petrônio, Uma História não contada, Editora Sesc, 2003.

HALL, Stuart. Da Diáspora. Identidades e Mediações Culturais. Organização


Liv Sovik.. Belo Horizonte. Editora da UFMG, 2003
MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. Lisboa, 2014. Antígona.

MBEMBE, Achille. Políticas da inimizade. Lisboa, 2017. Antígona.

MUNANGA, Kabengele. Negritude. Usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica


Editora, 2012.

MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das noções de raça,


racismo, identidade étnica e etnia. Cadernos Penesb, Niterói, n.5 2000.

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