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Maria Elisa Cevaseo DEZ LIGOES SOBRE ESTUDOS CULTURAIS Com © Mars ns Coes 3003) ‘Copyright® Boiape Edi 2005, Cons eat ‘ram ikige iene eee ‘Sind er ish Caper Lee Benn | Gatco Rn id Ce Agua Gaye Hl Acai Ke | solu Wand ei Gnd de prio ‘en Foo ave Macel tbe Irene Sumge Ci Bon, Tad cx dis maead ‘tga ae eon See, + pan de gus pve delim wn epi scree der edge el de 2003 2 cls mage 2008 impo a 2012 BOTTEMFO EDITORIAL lig Eres Azide Li Rontw Law 379 ‘542000 So al SP “Ten 3075739013259 dimebotepanlzoalcomb “rnbetesposom SUMARIO INTRODUCGAO PRIMEIRA LIGAO O tema “cultura esociedade” SEGUNDA LICKoO ‘Antecedentes o Inglés TERCEIRA LICAO Contrapontos tedricos: cultura de minoria x cultura em comum QUARTA LICKkO A formagio dos estudos culturais QUINTA LIGAO Formagées intelectuais: a Nova Esquerda SEXTA LIGKO PosigBes sobre cultura: omaterialismo culeural SETIMA LIGAO Didlogos pertinentes: marxismo e cultura OITAVA LIGKO Estudos literdrios x estudos culeurais NONA LIGKO Estudos culturais contemporineos DECIMA LIGA Estudos culturais no Brasil 27 42 60 20 99 138 155 173 Spee eee eee INTRODUGAO Um espectro ronda os departamentos de literatura das univessida- des, da Austrdlia a0 Alabama: os estudos culturais. Nas versbes mais horrorizadas, a nova disciplina veio para desteuir a alta livera- cura, transformando refinados amantes de um Shakespeare ou de um Guimaraes Rosa em fis de cultura pop e analistas de shopping centers. Na versio apologética, ela veio para fazer a revolucio e nao deixar pedra sobre pedea nos modos tradicionais de se fazer exitica decultura, Este livro visa dar vida concreta 2 esse fantasma, mostrando como os estudos culturais surgicam em um determinado ambien- te sécio-histérico, suas elagSes com os estudos literrios, suas pri- meirasconquistastedricas escu projero intelectual —que inclui cer- tamente o estudo da cultura dita popular e dos fendmenos da vida cotidiana ~, mas reserva espago pata um novo modo de ler a alta cultura. Como tantas outras disciplinas anteriores, vieram para suprir as necessidades intelectuais de uma nova configurasio sécio-histdrica. Estas det ligbes sio dedicadas aos estudantes de ciéneias huma- rnas ¢ demais interessados no debate cultural contemporineo. Oferecem uma visio introdutéria, que pode ser complementada pelas sugestdes de leitura que acompanham cada licio. Procuram, fazer um acompanhamento histérico, desde o surgimento da dis- ciplina na Gra-Bretanha dos anos 1950 —em aulas noturnas para trabalhadores— sua floragio como item de exportago da acade- mia inglesa e especialmente norce-americana. Buscam tragar a for- ‘maio social de onde surgem, suas formulagGes tedricas posturas 8 ESturos cuLtunais politicas eas transformagées que novos tempos determinam na disciplina. Como se ratade um fen6meno que, nasua origem eno atual ponto central de disseminagio, esté localizado na Gri-Bre- tanha ehoje mais nos Estados Unidos, o foco destas de ligbes est4 voltado para esses paises e em especial para a ebra mais produciva de Raymond Williams (1921-1988) e a de Scuare Hall (1932-) = afinal, como brinca Hall, os estudos culturais surgiram no ‘momento em que ele conheceu Raymond Williams ¢ em seguida trocou um olhar com Richard Hoggart! Para beneficio do estudan- te brasileiro, a tims ligéo procura estabelecer uma ligacio entre cestudos culturais e formagées intelectuais brasileiras, Certamente estas primeiras ligées apresentam um ponto de vista espectfico sobre os estudos culturais e visam contribuir para estabelecer uma posigio a partir da qual seja possivel avaliar, com base no que jéf0i, 0s rumos que interessa dara essa nova disciplina «em sua importagio para a academia brasileira e para nossa conver- sagio sobre cultura rer O TEMA “CULTURA E SOCIEDADE” “Toda definigiodedisciplina da érea de cignciashumanas pressupde, em menor ou maior grau, uma concepsio do significado de culeu- ra, Esse grauestd maximizado em uma disciplina como estudos de cultura, que jéa coloca como seu clemento fundante. Certamente muitos outros pafses tiveram uma ou outra forma de estudos de cultura muito antes que essa etiqueta se transfor- masse na marca de uma disciplina ascendente nos departamen- tos de humanidades a partir da segunda metade do século XX. Mas o fato é que a disciplina se consticuiu primeito na Inglaterra nos anos 1950, e daf o interesse maior em examinar essa forma- ‘gdo especifica. VERSGOES DE CULTURA A palavea “cultura” entrou na lingua inglesa a partir do latim colere, que significava habitar dai, hoje, “colone” ¢ “colénia’; adorar ~ hoje com sentido preservado em “culto”;e também cul- tivar—na acepgio de cuidar, aplicado tanto 4 agricultura quan- to aos animais. Esta a acepsio preponderante no século XVI. Como metafora, estendeu-se ao cultivo das faculdades mentais cespirituais, Atéo século XVIII, cultura designava uma ativida- de, era cultura de alguma coisa. Foi nessa época que, 20 lado da palavra correlata “civilizagio", comegou a ser usada como um substantivo abstrato, na acep¢io nao de um treinamento espect- fico, mas para designar um processo geral de progtesso intelec- tual e espiritual tanto na esfera pessoal como na social ~ 0 pro- 10 Estudos currurats cesso secular de desenvolvimento humano, como em cultura e civilizagio européia’. Durante 0 romantismo, em especial na Inglaterra e na Ale- manha, passoua ser usada em oposi¢ao a seu antigo sinénimo, civi- lizagéo, como uma maneira de enfatizar a cultura das nagées ¢ do folclote e, logo, o domfnio dos valores humanos em oposigg0 a0 caritet mecinico da “civilizagao" que comesavaase estruturar com a Revolusio Industrial. Teata-se de ura virada seméntica notdvel, ‘que dé noticia de uma intensa transformagio social, “Couleur” e “ci izagio” sio palavras a um sé tempo descri- a0 asteca) e normativas: denotam o que é mas também o que deve ser (basta pensar no adjetivo “civili- zado” e seu oposto, “birbaro”). No decorrer dos processos radi cais de mudangas sociais da Revolugio Industrial, foi ficando tivas (como em civili cada ver mais evidente que o tipo de “desenvolvimento huma no” em curso em uma sociedade como a inglesa nao era necessa- -tiamente algo a ser recomendado, O fato de, em especial a0 longo do século XIX, a palavra ter adquirido uma conoragéo imperialista (“civilizar os bdrbaros” era um mote que justificava a conquista ¢ a exploragio de outzos poves) contribuiu para a virada de sentido. E nesse processo que “cultura”, a palavra que designava o treinamento de faculdades mentais, setransformou, ao longo do século XIX, no termo que enfeixa uma reago e uma crftica—em nome dos valores humanos 3 sociedade em proces- so acelerado de transformagio. A aplicagio desse sentido &s, artes, como as obras e praticas que representam e dio sustenta- 0 a0 processo geral de desenvolvimento humano, é preponde- rante a partir do século XX. Em meados desse século os sentidos preponderances da palavra cram, além da acepcio remanescente na agricultura ~ cultura de * Ver a cise espeito Reymond Wiliams. Koponde A Vecebalary of Cuba and Sei. Landes, Fontana, 1976. re PRImEIRA LIGKO IT comates, por exemplo-, 0 de desenvolvimento intelectual, espiri tual e estético; um modo de vida especifico; eo nome que descre- veas obras praticas de atividades artisticas. ‘Uma das coisas que ficam evidentes nesse apanhado répido das mudangas de significado de cultura é que o sentido das pala- veas acompanha as transformagSes sociais ao longo da histéria e conserva, em suas nuangase conotagées, muito dessa hiscéria, Na Inglaterra dos anos 1950, momento de estruturaso da disciplina de estudos culturais, o debate sobre a cultura parece concentrar muito do sentido de mudanga em uma sociedade que se reorga- niza no segundo pés-guerra. Raymond Williams (1921-1988), figura central na fundagio dos estudos culturais, conta como a palavra cultura comega a ser cada vez mais usada como eixo dos debates desses rumos. No processo, uma de suas acepgses de antes da guerra, a da distingdo social, cultura como posse por parte de um grupo seleto, comega a desaparecer ¢ a dar lugar & preponderincia do uso antropolégico, cultura como modo de vida. O outro sentido de cultura, designando as artes ¢, no con- texto inglés em especial, 2 literatura, se inflete com a predomi- nincia da critica sobre a criagio, um dos eixos do projeto intelec- tual dominante na academia inglesa, 0 Cambridge English, assunto de nossa préxima ligio. ‘© que Williams percebia nessa concentragio do debate eram os primeitos passos gigantescos da nossa “era da cultura”, assim deno- minada pelo predominio dos meios de comunicagao de massa € pelo desvio do conflito politico ¢ econémico para o cultural, mar- casdo tempo presente, Um bom exemplo para seentenderessatilti- matendénciaéaénfasede um estrategista militar, Samuel Hunting ton, que, em um ensaio paraa revista Foreign Affzirsde 1993, prev quea fonte fundamental dos conflitos em nossos dias ndo éprimor- 2 Sunuel Huntington. The Cath of Gilnacon, In Forign Affi. 72 (3), 1993, p22. algae bestia O chague das czas Rio de Jane, Bete, 1997) 12 estupos cucrurais dialmente ideolégica ou econdmica, “As grandes oposigées entreas espécies humanas e a fonte dorainante dos conflitos sero cultu- ais”, E claro que Huntington pressupSe af que acultura € dissocia- da da economia, da ideologia e da histéria, Ironicamente, éinter- penetragio cada vez mais evidente dessas esferas que marca nossa cra dacultura, quando o poderio econdmicose entrecruza com aexpan- so culeural basta pensar no cinema de Hollywood ow na america- nizagio do modo de vida de larg faixas do planeta — ea produgio econdmica com o convencimento ideolégico — mercadorias ¢ pro- paganda sio duas faces da mesma compulsio de criar novas necessi-

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