Uberlândia
2018
Introdução
Esse trabalho se dividirá em dois momentos. Em primeira instância irei levantar algumas
questões sobre buscando pontuar o que mais me afetou emocionalmente enquanto leitor
e o que mais me instigou enquanto historiador em formação. Em um segundo momento
farei uma breve conclusão buscando determinar minha perspectiva sobre a obra, seu
impacto e relevância, dentro da ótica dos debates feitos durante a disciplina Um Olhar
sobre a História dos Estados Unidos.
Ao desenvolver do primeiro capítulo, Ifemelu nos traz seu olhar sobre um negro
não americano na américa, e de que forma isso impacta sua essência. Até mesmo sobre a
questão de peso, em um país com altos índices de obesidade. No mais é interessante ver
como os pontos de contato entre cultura e cotidiano se dão. A dança das máscaras, mostra
que nem todo branco com dread tem consciência, assim como nem todo gerente
conservador de banco, vive os ecos da KKK. É interessante ver que esse balanço feito por
Ifemelu nos leva a compreender, o que isso fez a ela, não apenas as surpresas dos
indivíduos, mas também estar em um país que viveu regime de escravidão.
Sua persona nigeriana, nada significava ali, com exceção do exótico creio eu.
Ifemelu era apenas mais uma estudante negra, dentro de uma leitura estadunidense,
carregada de preconceitos e determinações. Não surpreende que aos poucos, isso vá
permeando Ifemelu, até chegarmos em suas angústias, onde ela se vê engessada em um
relacionamento frustrante, cansada de um lugar que lhe fez perder o contato com seu eu,
e de certo modo com um amargor americano, que se reflete no processo de manutenção
do lócus de sua resistência, enquanto mulher negra e nigeriana, o seu cabelo.
Uju é uma figura importante, pois nos apresenta a certa medida, um espelhamento
de Ifemelu, à medida que anseia ser aceita em uma faculdade nos EUA e ir morar com tia
Uju, é importante não descartar as, mas condições das faculdades nigerianas. É claro que
isso vai levar as angústias do começo do livro, pois Ifemelu se distância dos seus lócus
enquanto ser, suas raízes e afetos, e isso pela busca de melhores condições dentro de um
contexto de apontamentos ruins, a dificuldade de entrada de nigerianos nos EUA, a
diferença econômica e racial, que influem diretamente no cotidiano. É o ímpeto do
aventureiro social, que se envereda pela selva econômica em busca dos louros de uma
possível descoberta, nesse caso de uma condição melhor de vida.
Uju também traz consigo, mais questões relacionadas ao sexo e sexualidade, nesse
caso o aborto e gravidez. Embora Ifemelu aponte ter uma sexualidade mais aberta, existia
uma tensão muito grande com a gravidez e o possível aborto de Uju. Temos também a
questão moral a respeito do sexo, já Uju era uma mulher que transava com vários sujeitos
a fim de alcançar objetivos, o que não é muito diferente do que Obinze fez pra conseguir
um upgrade na condição social, se levarmos em conta que o sexo é o único elemento que
está em cheque aqui.
Quando Ifemelu vai viver com tia Uju, temos uma dimensão social importante,
que sem dúvidas enriquece muito mais a construção romântica do livro. O drama de
imigrantes nigerianos nos EUA, escola ruins, o receio de perder a identidade, o meio
urbano como um solvente das singularidades e a mídia como instrumental de medo e
lucro, a medida que gera insegurança e vende a mesma. Podemos pontuar a personagem
Jane que tinha medo que seu filho se tornasse um negro americano. Dike, primo de
Ifemelu também sofria com essa insegurança fomentada pela mídia, era vítima de
racismo, tem uma passagem no livre em que seu cabelo era chacota, e sem contar na
“esteriotipização “, de negro viciado, quando alguns colegas sempre o indagavam sobre
possuir drogas.
A parte em que Ifemelu volta pra Lagos na Nigéria, traz a o resultado desse embate
cultural, Ifemelu passa a ser um não lugar, embora soe estranho, Ifemelu se torna a negra
não americana na América e a negra não africana na África, ela se torna uma Americanah.
O livro vai se tornando o choque dos não espaços, Ifemelu não sabe responder o motivo
dos negros serem representados como bandidos através da Deo Cops, e é interessante ter
contato com essa visão dos Nigerianos sobre os estereótipos e a recepção dos produtos
culturais pela mídia.
Obinze busca espairecer a mente e acaba concluído que Ifemelu é seu ideal
naquele momento, mas a mesma ignora suas ligações. Ifemelu se distância dos clichês de
garota apaixonada, é uma personagem forte e bem construída e isso fica evidente em sua
postura quanto a situação que fica com Obinze após o reencontro. Após a trama
envolvendo o reencontro é interessante que situações passadas voltam a acontecer,
Ifemelu sai com alguém com quem não tem o mesmo afeto que Obinze. Obinze se vê
cercado por uma esfera de “puxa saquismo”, que o mandam esquecer Ifemelu, afinal de
contas não a lugar para sentimentos na escalada social. Sete meses depois Obinze aparece
na porta de Ifemelu e se encontram novamente, buscando começar um novo
relacionamento, a medida que ambos não são mais os mesmos.
Considerações
Após a leitura do livro, tive um abala muito grande, não só pela história muito
cativante escrita pela Chimamanda Ngozi Adiche, mas também pelos debates que o livro
proporciona, ao leitor consigo mesmo. Creio que o mais impactante é o choque cultural
que Ifemelu sofreu e que a levou, pelo menos em um olhar externo, ao seu não lugar, a
ser uma americanah. O livro aborta várias temáticas contundentes, racismo, os
estereótipos, sexismo, feminismo, corrupção, e permite que, de forma quase espontânea
o leitor faça essas abstrações e confronte e realidade. Sem cerca de dúvidas é uma obra
que impacta e dialoga muito bem com todas as esferas passadas na disciplina, a música
conflitante entre ela e Obinze, e o como se dá as recepções desses produtos culturais.
Filmes nigerianos e filmes americanos, e o oposto de estéticas. A literatura, que claro,
está atrelado não só a questões de um público específico, mas trata questões que vão além
do racial, o amar, o ser mulher, a insegurança, paixões, frustrações e raiva. Ifemelu não é
rasa como uma personagem clichê de romance, mas sim uma personagem forte e a qual
me identifico, por mais estranho que possa parecer, ou não.
Referência Bibliográfica