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Resumo do livro Metafísica:

Antiga e Medieval.

INTRODUÇÃO

METAFISICA ANTIGA E MEDIEVAL

A PERGUNTA PELO SER

Mas, afinal, se o ser é o núcleo do desenvolvimento deste trabalho e o


elemento “sine qua nom” da metafisica, como a pergunta sobre o ser do
ente surge à investigação filosófica? O homem, devido ao fato de possuir
uma natureza questionadora, não se contenta com a realidade
simplesmente dada. A partir da constatação da existência das coisas,
pouco a pouco a mente humana percebe algo com maior fundamentação.

A investigação metafísica somente existe a partir da questão do ser. A


metafísica é a indagação sobre o ser, sobre o fundamento último das coisas,
sobre os princípios primeiros e constitutivos da realidade.

Quando o filosofo abandona a questão sobre o ser, dando prioridade a


outro aspecto particular da realidade, afaste-se da investigação metafísica.
O nascimento da metafísica coincide com o próprio nascimento da
filosofia. Os pré-socráticos deram início á reflexão metafísica. Mas o estudo
do ser somente ganhou consistência a partir da proposta de Parmênides,
de que o ser é e o não-ser não é. Parmênides fez surgir a investigação
metafísica, que prosseguiu com as contribuições de Platão e a de
Aristóteles.

A metafísica caracteriza a reflexão filosófica até René Descartes. A partir


daí, a metafísica cedeu a supremacia à teoria do conhecimento. Voltou-se
ao problema do valor e do alcance do conhecimento. A filosofia voltou-se
ao problema do valor e do alcance do conhecimento. Somente após a
resolução positiva desse problema, tornar-se-ia lícito passar à investigação
sobre o ser. Pois a investigação sobre o ser é a questão central da filosofia,
desde o seu surgimento até o principio do século XIX.

AS CRÍTICAS À METAFÍSICA

As criticas feitas à metafísica são bem conhecidas, especialmente depois de


David Hume. O próprio Aristóteles já havia indicado sua inutilidade. A
vida poderia ser trilhada sem nenhuma necessidade de interrogar-se sobre
o ser, ou sobre à existência do suprassensível.

Se por um lado Aristóteles mostra a não necessidade da metafísica, por


outro, evidencia o seu primado. A metafisica possui liberdade, não precisa
prestar conta a nenhuma instância externa a si, pois seus resultados não
devem ser julgados por aplicação ou finalidade utilitarista ou mecânica. É
significativo que a “liberdade” da metafísica esteja deduzida de seu caráter
não “produtivo”, quer dizer, não técnico. É fácil de imaginar os efeitos que
tal afirmação pode desencadear num tempo em quer as técnicas invadiram
a vida de todos os homens e de todas as idades.

Mais do que nos tempos de Aristóteles, hoje é possível acusar a metafísica


de inatualidade: a ciência menos necessária é destinada por sua natureza à
inatualidade porque aquilo que, historicamente, não produz nada, não
pode nem mesmo ter uma visibilidade história. Mas será que a metafísica
foi sempre uma ciência fora do tempo? O homem esteve mais de dois mil e
quinhentos anos de sua história fascinado por este ideal cientifico.

METAFISICA E ONTOLOGIA

Enfim, a metafísica é ontologia como ciência do ente enquanto ente e


enquanto busca as suas primeiras causas e princípios. É teologia, porque
na elucidação inteligível do ente enquanto ente se revelará, dentro dos
limites da razão, o ato puro do seu como a fonte originária dos entes. É a
lógica no sentido clássico que a palavra sugere. Buscando as últimas causas
e princípios dos entes, a inteligência investiga o logos dos seres. E o logos é
a inteligibilidade.

A critica no seu aspecto mais radical, está no interior da própria metafísica.


Desse modo, a metafísica articular-se-ia em três tratados: a crítica, a
ontologia e a teologia filosófica. A metafísica só é possível como ciência se
no ato pelo qual o homem conhece as coisas do seu mundo estiver
necessariamente incluída, como condição necessária de inteligibilidade,
afirmação do transcendente.

CAPÍTULO I

1. A FILOSOFIA PRIMEIRA

A metafísica fundamenta-se no pressuposto de que existe uma realidade


em si, que pode ser estudada pela razão humana, resultando num
conhecimento verdadeiro.

Aristóteles, considerado o pai da metafísica, chamava aquilo que nós


conhecemos por metafísica de filosofia primeira, em oposição à filosofia
segunda, que era a física.

Para Aristóteles, existe uma substância imaterial, imóvel e divina. Trata-se


do Primeiro Motor Imóvel, que, por atração, iniciou o movimento cujo
resultado foi o surgimento do Universo. A metafísica é a investigação sobre
os princípios primeiros e as causas mais elevadas da realidade e por isso é
denominada primeira. Aristóteles dava preferência à expressão “filosofia
primeira” “ciência do ser enquanto ser”, substância, da verdade.

2. METAFÍSICA: A AVENTURA DE UM TERMO

A palavra “metafísica” encontra-se na Idade Média como metaphyca,


utilizada, particularmente por Averróis, o comendador, para referir-se à
Philosophia próte, isto é, à filosofia primeira de Aristóteles. Portanto, a
tradição medieval começou a usar o termo “metafísica” vinculado à
filosofia aristotélica.
No processo de classificação das obras de Aristóteles, Andrônico de Rodes
subdividiu-as em obras de lógica, de física, de moral e de poética. Contudo,
depois de ter organizado as obras de física, deparou-se com uma série de
escritos sem títulos, e que, pelo conteúdo, não se encaixava em nenhum
dos blocos já classificados. Colocou-os, então, depois das obras de física.
Podemos resumir o que passou, na sequencia, do seguinte modo:
precisando rever esses escritos, Andrônico de Rodes pediu a seu escravo
que pegasse os escritos que estavam postados depois dos da física. Nascia,
então, a palavra “metafísica”. Esses escritos tratavam das realidades que
não se encontram ou não se restringem ao mundo físico, mas vão além,
estão depois, após a física, isto é, são metafísicos.

O relato sobre a aventura do surgimento da palavra “metafísica” apresenta


uma ideia importante: expressão “metafísica” surgiu de maneira casual.

Metà significa: após, depois de, além de, supra, independente de; tà:
aqueles, aquelas; e physik” física, natureza. A expressão grega metà tà
physikà significa aquelas coisas ou aqueles objetos que estão depois, que
vêm depois das coisas físicas ou estão para além da natureza física. Aqui,
indica os escritos de Aristóteles que tratam de coisas ou dos abjetos ou
assuntos que estão além da física, cuja natureza é transcendente. Portanto,
sem Aristóteles e seus escritos, talvez a metafísica não existiria enquanto
palavra, nem possuiria conteúdo.

3. A RELAÇÃO ENTRE METAFÍSICA E ONTOLOGIA

A palavra “ontologia”, cunhada no século XVII, é constituída por dois


vocábulos gregos: onto e logia, e significa estudo do ser ou “doutrina do ser
e de suas formas”. Nesse sentido, a etimologia permite o uso do termo
“ontologia” como sinônimo de “metafísica”. Aristóteles não definiu sua
filosofia primeira somente como o “estudo do ser enquanto ser”, mas
também como o estudo dos princípios primeiros e constitutivos da
realidade.

4. O OBJETO DA METAFÍSICA
O termo “objeto” deriva da palavra latina objectu e significa aquilo que é
lançado ou colocado diante de, em frente de. Em sentido claro, é tudo
aquilo que se dirige ao ato consciente do sujeito.

O objeto da ciência divide-se em material e formal, sendo que o objeto


material é constituído pelo ser concreto e total, que se estuda e o objeto
formal é a característica particular, o aspecto especial que se quer das ao
objeto material.

A distinção entre objeto material e formal permite entender o fato de


várias ciências possuírem o “homem” como objeto de estudo e
apresentarem diferenças fundamentais, que as distinguem. A biologia
estuda o “homem” como ser vivo; a zoologia, enquanto animal, e a
psicologia, em psyché. Portanto, embora as três possuam o mesmo objeto
material, o homem diferencia-se pela especialidade de seus objetos
formais.

O objeto material da metafísica são todas as coisas, todos os entes que


compõem a realidade. Já seu objeto formal é o ser enquanto ser. A
metafísica estuda todos os entes. A metafísica tem por objeto material o ser
descrito por Aristóteles em sua metafisica.

5. O ENTE: PONTO DE PARTIDA DA METAFISICA

A palavra ente, grego= ens, é de uso raro na língua portuguesa e, quando é


empregado, designa alguma coisa sem determinação precisa: “ente
querido”, “ente de outro mundo”, “entidade filantrópica”. Na metafísica,
ente é usado para designar todo gênero de realidade. Uma pedra, um
elefante, um cachorro, uma flor, um homem, uma árvore. O ente é toda e
qualquer coisa que possui ou participa do ser. Portanto, todas as coisas que
são. O ente é toda e qualquer coisa que possui ou participa do ser. O ente
possui o ser, porém não é o ser. O ser manifesta-se como uma propriedade
constitutiva do ente, fazendo-o ser. Sem o ser o ente não seria, decairia no
nada e nem existiria,

No geral, ente significa.


1) O que é;

2) O que existe;

3) O que é real.

Existem três tipos de entes:

1) O ente atual: trata-se do ente que é, existe e é real, independente da


consciência humana, como, por exemplo, um livro, um cachorro:

2) O ente de razão: são conceitos ou realidades mentais que são reais e


existem, mas somente na inteligência humana e não podem vir a se
atualizar.

3) O ente possível: são entes que estão na razão, mas que, por suas vez,
podem vir a se atualizar, é o que permite a invenção humana.

6. A ESSÊNCIA: MODO DE SER DOS ENTES.

O termo “essência” deriva da palavra grega ousía e designa aquilo que faz
uma coisa ser tal qual é. Os entes são composto por dois princípios
constitutivos: o ser e a essência. Aparecem ao sujeito cognoscente com uma
determinação particular, por exemplo, como um homem, uma árvore, um
pássaro, uma pedra. O ser manifesta-se nos entes. É por isso que a
metafísica possui como ponto de partida o ente particular, pois o ser não se
manifesta por si só, mas somente no ente.

7. O SER: FUDAMENTO DOS ENTES.

Em metafísica, o ser é o elemento principal do ente, aquilo sem o qual o


ente nada seria. O ser não é uma realidade física, mas metafísica. Se o ser é
uma realidade metafísica, quais são seus usos possíveis? Na verdade, o ser
possui três usos principais:

1) Uso predicativo: a predicação é a ligação entre o sujeito e o predicado, é


aquilo que se diz do sujeito.
2) Uso existencial: o ser aparece como sendo a existência do ente.

3) Uso participativo: o ser aparece como um ato, uma perfeição do ente,


que é compreendido como aquilo que possui o ser.

O ser é o elemento constitutivo do ente, o que o faz ser, existir e possuir


atributos.

1) O ser é um ato, uma perfeição das coisas: ato é o estado do ser presente
no ente como perfeição.

2) O ser é um ato universal: o ser é o elemento que se faz presente em


todos os entes, não sendo exclusivo de nenhum e particular. O elefante é, a
arvore é, a TV é, o cavalo é, você é. Toda realidade é, possui ser, sem o qual
nada haveria.

3) O ser é um ato total: o ser não é uma perfeição parcial, mas abarca tudo
o que o ente é. O elefante em sua totalidade. O ser não é o mesmo que
existir, ambos não são sinônimos.

8. A QUESTÃO DO VOCABULÁRIO

O aluno que se põe a estudar metafísica vai se deparar com uma série de
termos e expressões nada comuns. Por toda a parte os termos vão surgindo
carregados de significado. Muitos filósofos empregam termos idênticos
encontrados em outros filósofos, mas com sentido muito diferente ou,
então, empregam palavras diferentes para dizer o mesmo que os outros já
disseram.

As palavras mudam de sentido por meio de desvios, muitas vezes, por


especificação, outras, por aproximações sucessivas, ou por irradiação à
volta de vários centros sucessivos, possivelmente devido a descuidos
causados pela sua semelhança com uma palavra próxima. Por isso, os
iniciantes em metafisica se dão ao trabalho de consultar constantemente os
dicionários de filosofia para irem de familiarizando com os termos, os
conceitos e os vários sentidos que possam ter adquirido.
CAPITULO II

1. O NASCIMENTO DA METAFISICA

A filosofia teve sua origem na Grécia. Surgiu no final do século VII e início
do VI a. C., nas colônias gregas da Ásia Menor, especificamente, na cidade
de Mileto. A palavra “filosofia” e significa “amigo ou amante da sabedoria”.

O nascimento da filosofia caracteriza-se pela ideia revolucionária da


existência de uma ordem natural no Universo, capaz de ser decodificada e
entendida.

O nascimento da filosofia marca a passagem do mito (mythón) ao logos, e


tem como um tema principal de reflexão a physis, que é a natureza. A
physis diz respeito à origem e à estruturação de toda a natureza, do
universo, do cosmo.

O termo grego physis é o que nós entendemos por natureza o que se move
no espaço e no tempo, para os antigos, as ciências físicas.

Se a filosofia surgiu objetivando encontrar o principio primeiro da


realidade, o que caracterizou seu nascimento foi um problema metafísico,
mesmo que a resposta a essa indagação tenha sido physis, isto é, um dos
quatro elementos constitutivos da matéria. O nascimento da filosofia
coincide com o nascimento da metafísica.

2. PARMÊNIDES: O CAMINHO PARA O SER

A história da filosofia reconhece o mérito de Parmênides e ter posto, pela


primeira vez, o ser como o problema primordial da reflexão filosófica. O
pensamento de Parmênides é de fundamental importância para a filosofia
e em especial, para a própria metafísica. Parmênides escreveu uma obra,
na verdade, um poema, conhecido com o titulo: “Sobre a natureza”, do qual
chegaram até nós apenas fragmentos.

3. O PRELÚDIO DO POEMA

Em seu livro introdução aos pré-socráticos, Álvaro José dos penedos


destaca as seguintes ideias, tiradas do prologo do poema de Parmênides:
1ª) Parmênides realizou uma viagem: 2ª) passou pelos portões do caminho
da Noite e do Dia: 3ª) o poema é uma revelação de uma divindade a um
mortal 4ª) Parmênides aprenderá tudo, tanto o caminho da doxa quanto o
da alétheia. A viagem descrita por Parmênides não ocorre em um espaço
físico, mas refere-se à viagem da reflexão filosófica. Onde o mundo do não-
ser é abandonado em favor do ser. A filosofia é uma viagem perigosa, pois
coloca o filosofo- viajante em contato com o mundo dos conceitos.

4. A REVELAÇÃO DA DEUSA

O terceiro ponto destaca que todo o poema é uma revelação da deusa a um


mortal. Na mitologia grega, esse recurso era natural. A veracidade do mito
vinhas da autoridade do narrador, assim, o mito era considerado
inquestionável e sagrado, pois era uma revelação dos deuses.

O posicionamento de Parmênides é estranho. A investigação filosófica não


faz uso do apelo à autoridade divina, nem da humana. Parmênides
recorreu à autoridade da deusa para destacar que a verdade, não está no
homem, mas é uma descoberta. Portanto, a verdade é o desvelamento do
ser. O último ponto do poema destaca que Parmênides não se limitará a
conhecer somente o caminho da verdade, mas também o da opinião dos
mortais, doxa. Dois caminhos que se excluem mutuamente. Parmênides
rejeitará o segundo e considerara no primeiro como a verdadeira realidade.

5. OBJETIVO E ESTRUTURA DO POEMA

O principal objetivo de Parmênides é o de reivindicar o conhecimento de


uma verdade que não é alcançada pelo homem comum.

O poema de Parmênides compreende a seguinte estrutura:

Via de alétheia

Poema-------- Prelúdio Via de dóxa

Via de identidade do ser e do não- ser.


6. REFLETINDO SOBRE O POEMA: ALÉTHEIA E DÓXA

Para Parmênides, a procura do quê das coisas, deve seguir dois caminhos,
o imutável e o perfeito (alétheia); e o dos sentidos, da opinião, do costume
(dóxa), que traduz a experiência confusa dos sentidos. Tais caminhos se
opõem: aceitando-se um, nega-se o outro. a alétheia está ao lado dos ser, é
o ser enquanto a doxa se identifica com o não ser, já que produz um
discurso que não leva em consideração a identidade e a permanência do
ser.

Na língua grega, o verbo central do ponto de vista semântico é o verbo


“ser” (eînai). Todas as afirmações sobre a realidade podem ser
reconduzidas simplesmente a duas, e só a duas: “é” e “não é”. Mais tais
afirmações são contraditórias, e uma exclui a outra.

Se o único caminho viável é aquele do “é”, só nos resta, então,


compreender quais são as características “daquilo que é”. As características
daquilo que é são, à primeira vista, surpreendentes, porque parecem
contradizer aquilo que parece mais evidente.

7. OS PREDICADOS DO SER

1) O ón é presente. As coisas, enquanto são, estão presentes no


pensamento, no noûs. O ente não foi nem será senão o que é.

2) Todas as coisas são entes, isto é, são. Permanecem envoltas pelo ser.
Permanecem reunidas, unas.

3) Além disso, esse ente é imóvel. Entende-se o movimento como um modo


de ser. Chegar a ser ou deixar de ser supõe uma dualidade de entes, e o
ente é uno.

4) O ente é um pleno, sem vazios. É continuo e indivisível. Se houvesse


algo fora do ente, esse algo não existiria.

5) Por idêntica razão, é indestrutível e incriado. O contrario suporia um


não-ser, o que é absolutamente impossível.
Mas, afinal, qual é a relação entre o pensamento e o ser?

Na teoria do ser e do não-ser, subjaz a valorização do pensamento em


detrimento da percepção sensível. Para Parmênides, o ser é uno, eterno e
imutável, invisível aos nossos sentidos é uma ilusão. O que isso significa?
Significa que não existe, que é o não-ser, o nada. A verdadeira realidade,
isto é, por estar subsumido às aparências sensíveis, não pode ser captada
pelos sentidos, mas apenas pelo pensamento.

8. AS CARACTERISTICAS DA DÓXA

A via do que não é impraticável e vincula-se à dóxa, isto é, à opinião dos


mortais.

1°) A dóxa limita-se às informações do mundo, das coisas. Essas


informações são múltiplas e mutáveis.

2°) Mas a dóxa interpreta esse movimento, essa mudança, como um chegar
a ser.

3°) A dóxa (opinião) é dos mortais.

Por isso, Parmênides interpreta o movimento como luz e trevas, como uma
iluminação e um obscurecimento. Uma vez que não existe o movimento, a
multiplicação é apenas um engano dos sentidos, uma ilusão.

CAPITULO III

1. A METAFISICA DE PLATÃO

A questão que preocupa Platão é a mesma que, há mais um século, ocupava


os filósofos precedentes: o problema do ser e do não- ser.

Na linha de Parmênides, Platão aprofunda a pesquisa do ser, diferenciando


entre aquilo que verdadeiramente é aquilo que, ao contrario, é somente de
modo aparente, finito, contingente.
O mundo ideal é para Platão o fundamento, a causa do mundo material. A
metafísica de Platão surge objetivando encontrar a solução para a seguinte
questão fundamental: como compaginar o uno e o múltiplo? A solução
platônica consiste na descoberta da existência de uma realidade
suprassensível, uma dimensão suprafísica do ser, o hiperurânio, onde não
há mudanças, onde o ser permanece sempre igual a si mesmo.

A solução do problema levou Platão à síntese epistêmica entre a filosofia de


Parmênides e a de Heráclito. Heráclito tinha razão no que se refere à
mutabilidade do mundo sensível.

Parmênides tinha razão no que se refere à identidade do ser e recuperou


sua teoria naquilo que denominou de mundo das ideias. A resposta de
Platão é denominada, simbolicamente, de “segunda navegação”.

“Segunda navegação” descreve o encontro platônico de uma nova rota, de


um n ovo caminho: a descoberta do suprassensível, ou seja, do ser
inteligível.

Platão abandonou a filosofia dos físicos e pôs-se à procura da verdadeira


causa. Se desejássemos compreender ou explicar por que determinada
coisa é bela, o naturalista invocaria elementos puramente físicos. Segundo
Platão, essas não são as “verdadeiras causas”, mas, ao contrario, apenas
meios ou “con-causas”.

Pela “segunda navegação”. Platão chega ao reconhecimento da existência


de dois mundos ou dois planos do ser: um fenomênico e visível, sensível;
outro, invisível, metafenomênico. O mundo das ideias, o mundo real,
inteligível. Por essa razão, a “segunda navegação” constitui a fundação da
metafisica.

2. O SER DAS IDEIAS

Para nós modernos as ideias são construções mentais peculiares a cada


mente. O eidos/Idea, de onde veio o termo ideia, tem muitos significados
entre os pensadores antigos.
Já antes de ser consagrado por Platão, o termo estava enraizado e seu uso
era corrente em Homero. Seu primeiro significado é “aquilo que se vê”,
então “aparência”.

Idéa significava exatamente visão, instituição intelectual. Depois, o termo


Idéa foi apropriado pelo latim, que traduziu eídos como forma.

Em Platão, o verdadeiro conhecimento (epístéme) é impossível. Para


Platão, a Idea- forma é algo que não existe apenas na consciência humana,
mas é também exterior a ela.

Embora os eide sejam o fulcro da metafísica platônica, em nenhuma parte


Platão apresenta prova cabal da sua existência.

Os eide são a causa dos aistheta e diz-se que estes últimos participam dos
eide. O aisteheton é explicado como uma cópia do seu modelo eterno, o
eídos. Eíkon, por sua vez, é imagem, reflexo. Assim, o universo visível, no
qual estamos é o eíkon, isto é, uma imagem ou reflexo do universo invisível
ou inteligível que abrangem os eide e o tempo é uma imagem da
eternidade. Esse ato de criação artística é obra de um artífice supremo.

Mas ele não é onipotente; faz o kosmos tão bom “quanto possível” e tem
que competir com os efeitos contrários da “necessidade”. Para Sócrates e
Platão, a verdadeira causalidade opera sem fim, enquanto as operações dos
elementos físicos são apenas condições ou “causas acessórias”.

Para Platão, a palavra ideia tem três sentidos: a) Significa forma; b)


Representa princípios de unificação das coisas sensíveis; c) Finalmente, é o
fundamento do ser e principio de todo o saber, é a plenitude da existência.

3. DEMONSTRAÇÃO DO MUNDO DAS IDEIAS

- Não é, pois, às coisas compostas ou àquelas cuja natureza é composta,


que cabe corresponder precisamente a composição?

-Os seres que sempre se conservam imutáveis e sempre se conservam


imutáveis e sempre se comportam do mesmo modo, não é altamente
verossímil que sejam esses mesmo o precisamente os seres que não se
decompõem? Ao contrário, o que jamais é o mesmo, o que ora se comporta
de modo, ora de outro, é ou não é isso o que chamamos composto?

- admitamos, portanto, que há duas espécies de seres: uma visível, outra


invisível.

4. AS IDEIAS E AS COISAS SENSÍVEIS

Em Platão as Ideias podem representar princípios de unificação das coisas


sensíveis. A ideia em si mesma é a consistência. Platão confere a ela
existência real, as ideias são a essência existente das coisas do mundo
sensível. Cada coisa do mundo sensível tem sua ideia- forma no mundo
inteligível.

Determinado objeto é o que é em virtude da ideia- forma que o define. Essa


ideia- forma é o paradigma, o modelo, o exemplo do qual as coisas que
vemos, ouvimos e tocamos participam de alguma maneira, e por isso a
representam imperfeitamente.

Dizer que uma coisa é “melhor” do que outra pressupõe a existência de um


bom absoluto, caso contrário, “bom” seria apenas uma palavra sem base
estável na realidade, e a moral, desprovida de fundamento. Para ser justo,
é preciso saber o que é a justiça acima arbitrariedades, assim como para
ser virtuoso é preciso saber o que é a Virtude.

5. A IDEIA- FORMA: FUNDAMENTO E PRINCÍPIO DO SABER E DO


SER

A Ideia é também o fundamento do ser e o principio de todo o saber, é a


plenitude da existência. A doutrina das Ideias nasce da convicção de Platão
de que este mundo físico, material, é a cópia do mundo superior, eterno,
inteligível. Este nosso mundo é um mundo derivado, um mundo cópia.

Os sentidos não revelam um mundo real, mas apenas uma informação


acerca da multiplicidade das coisas. Só o pensamento, ao mundo das Ideias
ou das Formas. É o mundo do pensamento que revela o ser. O problema do
conhecimento está unido ao ser de forma inseparável, e, por isso, é
estritamente metafísico.

O ser é o ser do ente, e, ao mesmo tempo, conhecer uma coisa é saber o que
essa coisa é: compreender o ser daquele ente. Sem ver a ideia do homem
não se pode ver um homem.

A beleza de uma pessoa passa, mas Afrodite (a Forma ou a Ideia de Beleza


arquetípica) continua viva, é eterna. A mente humana e o Universo são
ordenados segundo as mesmas estruturas ou essências arquetípicas,
devido às quais a verdadeira compreensão das coisas é possível para a
inteligência humana.

Os arquétipos se revelam na contemplação (theoria), pelo intelecto e não


pelos sentidos, pelas sensações. O conhecimento baseado nos sentidos é
uma opinião subjetiva, as ideias são os elementos fundamentais de uma
ontologia e de uma epistemologia. Elas constituem essência básica e a mais
profunda realidade das coisas dos seres. Por isso a filosofia de Platão não é,
como se habitou classificá-la, idealista.

As ideias de Platão não são unidades sintéticas de nosso pensamento e que


este imprime as sensações para lhes dar unidade e substantividade. Para
Platão, como para Parmênides, as ideias são realidades que existem, as
coisas que vemos, que caem sob nossas sensações, são sombras, imagens
efêmeras delas. Segundo essa interpretação, que parece ser mais exata,
Platão considerou as ideias como entes reais, que existem em si e
constituem um mundo inteligível, distinto e separado do mundo sensível.
Constituem o mundo do ser composto ao mundo sensível, que é o mundo
não-ser, o da aparência.

6. A ALEGORIA DA CAVERNA

A teoria das ideias foi reproduzida no livro VII da República, por meio de
um dialogo entre Sócrates e seu interlocutor, Gláucio, que enfatiza a
existência de uma realidade projetada para além da existência sensível.

7. ENTENDENDO O TEXTO
Platão fala da existência de dois mundos: o sensível, que corresponde ao
nosso mundo, e o inteligível, que corresponde ao verdadeiro, ao mundo
superurânico.

A caverna descrita é o mundo sensível no qual o ser humano vive. Para


Platão, a realidade percebida pelos sentidos são as sombras projetadas no
fundo da caverna, é o conhecimento do ouvir dizer, o saber sem
julgamento. Os grilhões que prendem os cativos são os preconceitos, as
opiniões. A tragédia condição humana consiste em viver numa realidade
ilusória com absoluta certeza de que é verdadeira.

O prisioneiro que se liberta da caverna é o filosofo, que, após lenta


ascensão, se eleva ao mundo inteligível, contemplando a verdadeira
realidade dos conceitos. O sol é a fonte e a causa do conhecimento que se
tem do mundo. O sol é a fonte do conhecimento sensível, e o Bem, o meio
pelo qual as ideias chegam ao mundo.

8. O DEMIURGO: O DEUS- ARTESÃO

O demiurgo é a divindade platônica plasmadora do cosmo, é a causa de


uma ordem primordial fixada na matéria preexistente. Sua função é a de
organizar a matéria caótica, fazendo- a passar da desordem à ordem.

O mito platônico descreve a existência do cosmo, isto é, do mundo


ordenado, a partir de três elementos: 1) um modelo; 2) um material; 3) um
Demiurgo. O Demiurgo, a matéria e o modelo preexistente ao cosmo. Não
é o criador da matéria, apenas seu organizador a partir de ideias e de
números inscritos no mundo inteligível.

O Demiurgo, ao transformar o caos em cosmo, move-se por um desejo, o


de dar forma ao mais belo dos mundos possível. O mais belo dos mundos é
organizado pela atividade intelectual. O deus-artesão de Platão, apenas
organiza a matéria preexistente em função de um modelo existente no
mundo inteligível.

9. METAFISICA DA ALMA
A propósito do tema perene da “imortalidade da alma”, Platão aprofunda a
busca do sentido inteligível da forma no Fédon. Imortal, a alma é
preexistente e separada da condição corporal e sensível. Aqui, Platão
retoma as tradições pitagóricas do dualístico soma- sema = corpo- prisão.

“O próprio dos filósofos é o deslace (lúsis) e a separação (chorismós) da


alma em relação ao corpo, não só não tendo medo da morte, mas afrontado
e aspirando o trespasse dessa simplificação”

Para Sócrates, o “cuidado com a alma” é missão suprema do homem.


“cuidado com a alma” significa “purificação da alma”. A purificação
coincide com o processo de elevação ao conhecimento supremo do
inteligível.

10. O PROBLEMA DA IMORTALIDADE

Nos diálogos anteriores ao Timeu, Platão parecia propor que as almas não
nascem, assim como também não morrem. Para Platão, o problema da
imortalidade da alma se torna essencial.

A prova central do Fédon pode ser resumida da seguinte maneira: a alma


humana é capaz de conhecer coisas imutáveis e eternas. Assim como as
coisas da alma conhece são imutáveis e eternas (as ideias/formas) a alma
também é eterna e imutável.

Mas só podemos ter uma ideia precisa do destino da alma se conhecermos


a concepção platônica de “metempsicose”. A alma pode renascer em
diferentes formas de seres vivos.

Almas que viveram na prática da virtude comum, encarnar-se-ão em


animais mansos, dóceis, sociáveis, até em homens honestos. Dissociar-se
do corpo e das coisas corpóreas é concedido apenas àqueles que foram
amantes da sabedoria.

CAPITULO IV

1. MATAFISICA DE ARISTÓTELES
Em vários de seus escritos, com muita frequência, Aristóteles polemiza
contra Platão combatendo o mundo das ideias, porém, mantém sempre o
máximo respeito para com aquele que chama de mestre ou amigo.

Uma primeira objeção é a desnecessária duplicação das coisas. Aristóteles


mostra que o mundo das ideias é uma duplicação insustentável do mundo
das coisas sensíveis.

A segunda objeção pode ser explicitada assim: quando varias ideias


particulares são semelhantes a uma ideia geral da qual participam, a
semelhança que existe entre elas deve ser explicada por uma nova ideia.
Sendo assim, o numero das ideias tem de ser infinito.

A terceira objeção consiste no seguinte: se há ideias de cada coisa, terá que


haver também ideias das relações, uma vez que percebemos as relações,
intuitivamente, entre as coisas.

A quarta objeção se põe assim: se há ideias do positivo, deverá haver


também ideias do negativo. Por exemplo, se há ideias da beleza, deverá
haver ideia da feiura. O que multiplicaria ao infinito, desnecessariamente,
o numero de ideias.

Aristóteles formula ainda uma quinta objeção: a doutrina das ideias não
explica a produção, isto é, a gênese das coisas. Por fim, a última objeção de
Aristóteles se refere à transcendência absoluta que põe uma cisão entre o
mundo das ideias e o mundo das coisas. Aristóteles não vê necessidade de
cindir e dividir as ideias e as coisas.

Percebemos as diferenças entre Platão e Aristóteles nas suas concepções e,


especialmente, na investigação do ser. Platão desprezava a matéria.
Aristóteles amava a natureza, estudava tudo: pedras, peixes, rãs, homens,
os astros. Platão valorizava só o “mundo das ideias”. Aristóteles valorizava
este mundo.

Aristóteles foi mais um cientista, um sistematizador, fundando a lógica


como ciência. Aristóteles se opôs categoricamente à filosofia de Platão,
considerando a teoria das ideias supérflua e inútil, uma teoria criativa, mas
que nada explicaria.

A metafísica investiga: 1) Aquilo sem o que não há seres nem


conhecimento dos seres; 2) Aquilo que faz um ser ser necessariamente o
que ele é; 3) Aquilo que faz um ser existir como ele é; 4) Aquilo que faz um
ser existir como algo determinado.

Se há tão diferentes tipos de substancias/ essências, se para casa uma delas


há uma ciência, deve haver uma ciência geral, é a filosofia primeira,
escreve Aristóteles no I livro de sua Metafísica.

2. A ESSÊNCIA ESTÁ NA PRÓPRIA COISA

Diferentemente de Platão, Aristóteles considera que a essência verdadeira


das coisas naturais, não está no mundo das ideias. As essências estão nas
próprias coisas.

A essência de um ser ou ação é conhecida pelo pensamento que capta as


propriedades internas desse ser ou ação. A metafísica é o conhecimento da
essência do que existir em nosso mundo. Ser é agir e agir é ser. A atividade
é a essência da substancia.

Aristóteles coloca em primeiro lugar na filosofia as noções de atividade e


individualidade negligenciadas por Platão.

3. A SUBSTÂNCIA

A substancia é, para Aristóteles, aquilo que existe numa unidade


indissolúvel com o que é, com sua essência e com seus acidentes.
Aristóteles distingue três elementos: a substância, a essência e o acidente.
Ele distingue dois sentidos. No primeiro, significa a substancia individual,
composta de matéria e forma. Quanto ao segundo, significa o elemento
formal ou a essência especifica que corresponde ao conceito universal.

A substância individual é o conjunto do sujeito ou subtratum e a essência


ou forma. É o individuo o que é verdadeiramente substância, e só ele.

O curso de seu pensamento o leva a sustentar a opinião de que a única


substância verdadeira e primeira é a forma pura. As únicas formas puras,
são Deus, as inteligências e as esferas, e, no homem, o entendimento
agente, resulta que essas formas são as substâncias primeiras. E como a
metafisica estuda a substância, fácil é compreender que equivale à
“teologia”.

Aristóteles continuou considerando evidentemente a matéria como


elemento impenetrável para o pensamento, e a fora pura como o
inteligível. A herança do platonismo é clara nesse ponto.

Tudo o que dizemos da substância é o que Aristóteles chama essência. A


essência é a suma dos predicados que podemos predicar da substância. Se
perguntarmos a Aristóteles, quem existe? Certamente, ele responderia: as
coisas individuais. Os demais não existem, são substâncias “segundas”.

A substância se compõe de matéria e forma. De matéria- prima e forma


substancial. O universal é a forma. A matéria é a potência. A substância é o
que existe per ser.

4. DOUTRINA DO ATO E DA POTÊNCIA

Os pré-socráticos concluíram que havia uma única substancia que


permanecia sem sofrer quaisquer mutações em corpos diferentes. Para
Tales, era água; para Anaxímenes, o ar; para Heráclito, o fogo; para
Anaximandro, o indeterminado. Parmênides, por sua vez, nega toda
espécie de mudança.

Para Platão, a mudança se dá somente no mundo sensível. Portanto, a


mudança não se dá no ser, no mundo das ideias, mas só no mundo de
baixo, só neste mundo.

Aristóteles responde a Parmênides. Aristóteles explica que o ser é o que é, é


o que existe. Esse ser se chama ser se chama ser em ato. É a forma de como
o ser se apresenta. O exemplo é o da estatua. Ela foi arquitetada a partir de
um ser em ato e em potencia. A estátua já está na mente do escultor e no
bloco de mármore. Não existe ainda, mas, a partir do momento em que o
material bruto é trabalhado pelo escultor e se transforma em estatua,
opera-se aí uma passagem da potencia para o ato.

A potência é a capacidade de receber perfeição. Capacidade real de receber


um ato. Potência é a possibilidade que está envolvida no ser. O ato é a
realização dessa possibilidade.

A potência é ou o poder de efetuar uma mudança em outro ser, ou um


poder de autorrealizar-se. A doutrina da potência e do ato é, do ponto de
vista metafísico, de grandíssima importância. Aristóteles afirma a
prioridade do ato sobre a potência.

O ato é primeiro que a potência. Por isso o que atual é sempre


temporariamente primeiro que o potencial. O que eterno é primeiro, desde
o ponto de vista da substância, daquilo que é perecível. O que é eterno é
atual no mais elevado sentido: Deus existe necessariamente, e o que existe
desse modo há de ser totalmente atual. Deus tem que ser a plena e total
atualidade, primeiro motor imóvel.

Aristóteles deduz que as coisas eternas hão de ser boas: não pode haver
nelas defeito, nem maldade ou perversão. O que não tem matéria é pura
forma. Ato e enteléquia refere-se à realização, perfeição atuante e atuada. É
ato e enteléquia do corpo e Deus será enteléquia pura.

5. MATÉRIA E FORMA

Ao trazer as ideias para o mundo das coisas, Aristóteles queria lhes dar
força genética e geradora. Por isso estabeleceu em cada coisa uma
distinção fundamental. Distingue a forma e a matéria.

Matéria, para ele, é simplesmente aquilo com que alguma coisa é ou está
feita. Matéria é o principio constitutivo das realidades sensíveis, a madeira
é o substrato da forma do móvel, a argila o é do vaso.

Eliminar a matéria é eliminar o mundo sensível. Matéria é potencialidade


indeterminada, podendo tornar-se algo determinado assim que receber
uma forma. E forma? Que significa forma para Aristóteles?
Aristóteles entendeu por forma, primeiro e principalmente, a figura dos
corpos, a forma no sentido mais vulgar da palavra, a forma que um corpo
tem, a forma como terminação- limite da realidade corpórea vista desde
todos os pontos de vista; a forma no sentido da estatuaria, no sentido da
escultura. Entrando também o imaterial. Confunde-se com a essência. A
forma em Aristóteles é a essência.

Portanto, é o principio que determina que concretiza e realiza a matéria.


Constitui aquilo “que é” alguma coisa, como sua essência, quod quid est,
não é a Forma/Ideia hiperurânica transcendente de Platão, mas o
constitutivo intrínseco da própria coisa. Na metafisica lê-se: “chamo de
forma a essência da cada coisa e a substância primeira”. Assim, a forma é a
causa de algo ser aquilo que é. Isso o leva a examinar a noção de “causa”
nesse contexto, e ele acaba por dividir o conceito de “forma” em quatro
tipos diferentes, complementares de causa. As quatro causas constituem as
razões de uma coisa ser como é. “quatro porquês”.

6. AS QUATRO CAUSAS

A substância ou essência de uma coisa; a matéria ou o sujeito; a fonte do


movimento ou causa eficiente; a causa final ou o bem. Aristóteles
identificou o estudo do ser como o estudo das quatro causas. As quatro
causas são, precisamente, causas do mundo material e dividem-se em dois
grupos:

a) intrínsecos: a realidade corpórea é o resultado de dois princípios


complementares, um que é a matéria, que é a forma.

b) Extrínsecos: toda realidade corpórea depende, de dois princípios


constitutivos externos, a causa eficiente e a final.

Os seres dependem de quatro causas: causa material, que é a


potencialidade, é a matéria de que a coisa é feita; causa formal, a
especialidade do ser, aquilo pelo qual um ser é o que é, um isto ou um
aquilo, e não outro; causa eficiente, aquilo pelo qual o ser tem existência; e
causa final, que corresponde à intenção- projeto, aquilo em vista do que
uma coisa existe. As quatro causas são inseparáveis.

A humanidade, por exemplo, não existe fora dos indivíduos que a realizam
ou do pensamento que a concebe. Aristóteles faz do individuo o tipo do ser
contrariamente a Platão.

Vimos que Aristóteles decompõe o individuo em dois princípios: a matéria


e a forma. O que constitui o ser, exclusivamente, é a forma. Ora, a forma
não é individual. Ela é geral por que ela é um principio.

7. O PRINCIPIO DE INDIVIDUAÇÃO

Por que não somos iguais, se somos todos iguais? A natureza especifica ou
essência do homem é a mesma, em Sócrates e em Aristóteles. Isso suposto,
a forma pode ser o principio de individualização nos objetos sensíveis.
Qual é, segundo Aristóteles, esse principio de individualização? A matéria.

Tomás de Aquino, disse que o que individualiza é a matéria signata é a


matéria signata quantitate, isto é, a matéria como dotada de uma exigência
antecipadora da quantidade, a qual terá em virtude de sua união com a
forma. Essa teoria de que é a matéria que individualiza costuma ser vista
como uma consequência ou um legado do platonismo, para o qual a Forma
é o universal.

8. SER E ACIDENTES: AS CATEGORIAS

De inicio, deve-se distinguir o ser do acidente, não pode ser objeto de


ciência. Quanto aos modos, o ser é por essência ou por acidente. Não pode
ser objeto de ciência. Quanto aos modos, o ser é por essência ou por
acidente.

Categoria é o modo pelo qual se revela o que uma coisa é ou age, o


predicado de uma coisa ou de um sujeito. As categorias são substância
(homem); quantidade (um metro); qualidade (amarelo, roxo); lugar (na
Grécia); tempo (critica, escreve); paixão/ poder de sofrer ação (cortar-se,
enfeitar-se, enfurecer-se; situação/ posição (deitado, em pé, inclinado);
posse/ estado (despido, trajado). Dessas dez categorias, só a primeira
existe nela mesma, as outras são apenas maneiras de ser. O ser verdadeiro
está na substância. Toda a substancia é indivisível. O ser é, pois , uma
unidade. Tudo o que é é um, e tudo o que é um é. Sobre todos estes pontos
Aristóteles está de acordo com Platão.

9. O MOVIMENTO – KÍNESIS – OU O PROBLEMA DA MUDANÇA

A distinção do ser nos modos do ato e da potência permite explicar o


movimento e a transformação das coisas. Assim, o movimento, a mudança
ou mutação faz com que as coisas sejam ou não sejam, cheguem a ser ou
deixem ser, mudem de quantidade e de qualidade.

O movimento faz com que o ser passe de um estado a outro estado


contrario, e se torne aquilo que não era. O movimento supõe, pois, suas
coisas: uma coisa que não é ainda realizada, mas que é possível, e a
realização dessa coisa. É o que Aristóteles chama a potência e o ato.

A árvore está em potência na semente. Estará em ato quando a semente


germinar ou lhe der nascimento.

10. DEUS: A METAFISICA COMO TEOLOGIA

A filosofia primeira de Aristóteles desemboca, inevitavelmente, numa


teologia, numa teoria de Deus. Não podemos nos esquecer de que, devido
ao fato de a filosofia primeira estudar o ser imaterial, imóvel e divino,
também foi definida, por Aristóteles, como teologia.

Aristóteles formula algo que parece com o que chamamos provas da


existência de Deus. As existências que encontramos diariamente, em nossa
vida, são existências “contingentes”.

Significa que o ser dessa existência, a existência dessa existência não é


necessária. Se há existência que não são necessárias, então essa
existências supõem que foram produzidas por outra coisa existente, têm
seu fundamento em outra.
Desse modo, tanto na persecução das existências individuais como na
consideração de uma série infinita de existências individuais, tanto numa
como na outra, tropeçamos com a absoluta necessidade de admitir uma
existência que não encontre seu fundamento em outra senão nela, por si
mesma, necessária, absolutamente necessária.

Essa existência não contingente, mas necessária, que tem em si mesma a


razão de seu existir, a causa de seu existir, o fundamento de seu existir, é
Deus. A existência de Deus é tão certa como a própria existência das coisas.

Na Metafisica, Aristóteles aponta para a existência do movimento (Kínesis)


e para o tempo (chronos), como elementos eternos. Para justificar o
movimento perpetuo, deve haver uma substancia não movida, isto é, algo
que, como causa final, mova: essa causa é o Primeiro motor. Esse primeiro
motor imóvel é Deus. o primeiro motor é a eterna fonte do movimento
eterno.

Ora, o primeiro motor, que é imóvel, jamais passivo. Ele é sempre em ato.
Ele é o ato puro que exclui a potência e o movimento. O primeiro motor
imóvel move o mundo pela irresistível atração de sua beleza, de sua
perfeição, pelo desejo que lhe inspira como bem supremo.

A crítica de Aristóteles aos pré-socráticos mostra que a causa final é o


grande problema da metafísica, e que nenhum dos pré-socráticos
conseguiu alcançar. O ser unívoco existe separado do mundo sensível: é
pura essência, à qual não se pode atribuir nenhuma outra categoria além
da própria essência.

Na compreensão de Aristóteles, a transcendência separa completamente o


mundo de Deus. Podemos nos perguntar: é o Deus de Aristóteles um Deus
pessoal?

Aristóteles não parece que se preocupara muito com o numero dos deuses,
porém, se temos de reter o Motor Imóvel como o principio absoluto, como
origem, e identifica-lo com Deus, temos que dizer, então, que Aristóteles é
monoteísta. É pessoal no sentido filosófico.
A concepção de Aristóteles acerca de Deus não é muito clara nem muito
satisfatória. O Deus aristotélico é Causa eficiente tão só por ser Causa
Final. Ele nem mesmo conhece este mundo, e não traçou nenhum plano
divino para o Universo.

A metafísica é ciência universal, “filosofia primeira”, porque não estuda


este ou aquele aspecto do ser, mas o ser enquanto tal, ou seja, enquanto
confere o ser a toda coisa que é.

A metafísica estuda aquelas substancias eternas, “separadas” da matéria e


do devir, que nós dizemos “divinas”. Ela é por isso, ciência do divino,
teologia e, como tal, tem mais valor do que qualquer outra ciência.

CAPITULO V

1. PLOTINO: A METAFISICA DO UNO

O filósofo nasceu na cidade de Lyko, identificável com Licópolis do Alto


Egito ou com Lycon, no delta do Nilo. E só descobriu a filosofia
tardiamente. Encontrou Amônio Saccas, do qual afirmou: “Eis o homem
que procurava”. Frequentou- o por onze anos (232- 243). Estabeleceu em
Roma, onde abriu uma escola filosófica.

Nela teve Porfírio, Amélio e Eustáquio entre os mais famosos discípulos.


Sua obra Enéadas está colocada entre as maiores obras do pensamento
humano. Fundador da linhagem do neoplatonismo, exegeta de Platão,
sábio religioso e místico.

2. UNO

O uno não é objeto de discurso ou ciência, pois é inefável, já que a própria


linguagem está sempre determinada por algo (que é) e o Uno está “além do
ser”.

O Bem é “causa da vida, do pensamento e do ser”. Fala-se então, das “três


hipóstases”. O termo hipóstase significa fundamento, base, substância,
realidade, união o verbo com a natureza divina, e constitui, de fato, um dos
termos mais indeterminados na língua de Plotino. O hipostático não
designa nada por si, pois ele se aplica tanto ao ser e à alma como ao não-
ser. O Uno, além do ser é hipóstasis próte – a primeira hipóstase.

O Uno ou o Absoluto é o primeiro e sumo principio. É simplicíssimo,


puríssimo, sem quantidade e qualidade. Infinito em seu ser está além de
todas as descrições ou categorias. É isento de toda e qualquer mistura. É
destituído de forma, transcende toda forma, o movimento e o repouso. O
Uno é anterior a tudo e acima de qualquer coisa. É diferente de todas as
outras coisas e não pode identificar-se com nada. Todas as coisas finitas
são não só uma imagem, mas também sua caricatura, pois misturam o
diverso e a unidade. Ao mesmo tempo, porém, é tudo, enquanto encerra
em si potencialmente todas as coisas num estado indiferenciado.

3. A SEGUNDA HIPÓSTASE: O NOÛS-INTELIGÊNCIA

A primeira emanação do Uno é, o Noûs- Inteligência, a sabedoria difusa do


Universo, na qual estão contidas as Formas ou Ideias arquetípicas que
causam e ordenam o mundo. A beleza, como a eternidade, é
essencialmente associada a essa segunda hipótese. O Noûs- Inteligência é a
única realidade que tem origem imediata o Uno.

O Noû- Inteligência não é inteligência de uma coisa só, mas é inteligência


universal. A hipóstase do Noûs- Inteligência sintetiza a ordem inteligível
platônica.

4. A TERCEIRA HIPÓTASE: A ALMA DO MUNDO

Do Noûs- Inteligência procede a Alma do mundo (anima mundi). Nasceu o


Noûs, assim como o Noûs nascera do Uno. Contempla o Noûs assim como
este contempla o Uno.

Ela contém em si todos os logoi e ela mesma é Logos universal. Desperta o


Universo e é a causa de sua vida. A Alma é "espírito de vida". Sendo
iluminada pela inteligência, ilumina, por sua vez, as coisas sensíveis.

5. A ORIGEM DA MATÉRIA
O último fruto que procede da Alma do mundo é a matéria. Ela sai da Alma
por uma emanação normal, natural e sem perversidade. "A matéria tem
como causa a razão" e "os princípios superiores que lhe deram ser fizeram-
no gratuitamente". Desse modo, casa ser é um "vestígio do Uno". Embora
de forma imperfeita, a matéria reflete a gloriosa unidade diversificada
existente sob uma conceituação superior no mundo de Formas espirituais
da inteligência.

6. A ANTROPOLOGIA PLOTINIANA

Plotino discute, não apenas a essência da alma, mas, as várias dificuldades


relativas à imortalidade, à encarnação e ao retorno da alma. Da Vida, a
Alma Universal, a alma de cada homem. Composto de alma e corpo,
espírito e matéria, o homem é, no sistema plotiniano, o centro nevrálgico.
Entre os deuses e os animais.

Por seu uma emanação de grau superior, a alma preexiste ao corpo. A


descida da alma não é, portanto, pura e simplesmente uma queda.

Para Plotino, a matéria emana necessariamente dos princípios divinos. A


causa do mal é a matéria, que, no entanto, sai da alma, mas por uma
emanação normal, natural e sem perversidade. A matéria, que é o não-ser,
é o último grau das coisas, o último grau das coisas, o "último sujeito".

A alma individual é compêndio de todo o universo e o campo de luta no


qual é decidida a sorte do homem. A alma que se encarna não fica
prisioneira no corpo. Antes, é o corpo que está na alma.

O retorno da alma ao Uno é obra da liberdade. A alma racional do homem


pode refletir criativamente as Formas transcendentais e, por meio dessa
percepção da ordem final das coisas, movimentar-se em direção à
emancipação espiritual.

7. O RETORNO DA ALMA AO UNO

Sendo o Uno o Único que é o que é, está presente no mais íntimo de nós
mesmos. A percepção humana supõe uma síntese que "converge para
alguma coisa una". A alma não se recolhe no Uno, mas retorna ao Uno.

"É um abandono de nós mesmos, um contato". É uma "Conversão". Nossa


eu é a alma individual capaz de vencer as paixões e de conservar sua
natureza individual quando reencarna ou mesmo quando retorna para
junto a Alma universal, à espera de unir-se inefavelmente ao Uno. A
possibilidade desse retorno constitui o otimismo da filosofia de Plotino. O
retorno para o absoluto não anula a alma.

CAPITULO VI

1. TOMÁS DE AQUINO: A METAFÍSICA DO SER

Santo Tomás apresenta a metafísica como física divina ou teologia,


metafisica e filosofia primeira.

Tomás de Aquino aborda e resolve os principais problemas filosóficos, tais


como o problema de Deus, do conhecimento, do mundo e do homem. Por
ser, Tomás de Aquino entende não só a realidade em geral que está na base
de todas as possiblidades, mas a plenitude ilimitada de todas as perfeições.
Portanto, todas as outras perfeições são relativas e dependentes dessa
perfeição primeira, que é o ato do ser.

O ser é denominado, de preferencia, por Tomás, ato de ser ou do ser. O ser


constitui o âmago de todos os seres finitos ou limitados, o que neles existe
de mais íntimo e profundo.

O ser difere dos seres existentes finitos e múltiplos pela sua infinidade e
unidade: embora diferentes entre si pelas essências, todos os seres
participam no ser e nele se unificam. É por isso que o ser é caracterizado
muitas vezes como comum a tudo quanto existe.

Os dois sentidos capitais da palavra ser são a essência e a existência. Porém


em Deus, não há essa distinção. Da essência de Deus deriva
necessariamente a sua existência.

2. O CONCEITO TOMISTA DE SER


O ser é a causa universal de todas as coisas, porque é receptáculo de toda a
perfeição e a fonte última de toda a realidade. "Antes de possuir o ser, a
essência é um puro nada". "O ser é a atualidade de todo ato e, portanto, a
perfeição de toda perfeição".

"Em todos os efeitos, o que há de mais perfeito ser." O ser, concebido como
raiz de tudo, é o que põe em ato tudo aquilo que existe. Consequentemente,
o ser é a perfeição absoluta, plena.

O ser é a atualidade de qualquer forma ou natureza. O ser, o fundamento e


o complemento de todas as perfeições, as quais se revelam como
participações do ser.

Na linha ontológica, o ser é também o supremo valor: é o ser que confere


"realidade" a todos os outros valores. Santo Tomás absolutiza o ser, mas
não absolutiza os entes.

3. O ENTE REAL

O ser é a realidade mais universal que se encontra em tudo que existe,


finito ou infinito, real ou conceito, Deus ou homem. Tanto o mundo como
Deus são entes, porque ambos existem. O ente diz respeito a tudo, tanto ao
mundo como a Deus, mas de modo analógico, porque somente Deus é ser,
mas o mundo tem ser. Em Deus, o ser se identifica com sua essência, razão
pela qual também é chamado "ato puro" e "ser subsistente". Na criatura, ao
contrário, a existência se distingue da essência.

Esses dois conceitos tão frequentes de essência e ato de ser, são as duas
pilastras do ente real. A essência indica "o que" é uma coisa, ou seja, o
conjunto dos dados fundamentais pelos quais os entes - Deus, o homem, o
animal, a planta - se distinguem entre si.

O ser ato que realiza a essência, que em si mesma não passa de um poder-
ser. Não se trata, portanto, de uma filosofia das essências, mas do ser que
permite às essências realizarem-se e se transformarem em entes.

4. O ENTE LÓGICO
Tomás afirma que há o ente lógico e o ente real, é o conceito de ente. Ele
pode ser tanto lógico ou puramente conceitual, como real ou extramental.
O ente lógico e o ente real são duas vertentes distintas, e é preciso mantê-
las assim. O universo não é real, porque somente o individuo é real.

5. O SER POR PARTICIPAÇÃO

Aqui chegamos a outro conceito muito importante da metafisica de Tomás


de Aquino: o de participação. A participação significa que os entes não são
o ser em si, mas participam do ser, do ato puro de ser que é Deus.

"Participação", não significa que o ente "recebe uma parte do ser", significa
que o ente possui de modo "particular", "limitado" e "imperfeito" aquela
perfeição, que, em Deus, Ser subsistente, encontra-se de modo total,
ilimitado, perfeito. Quando uma coisa recebe parcialmente aquilo que a
outro pertence de modo universal, diz que dele participa.

Só a Deus cabe o titulo de criador. Deus permite à natureza e ao próprio


homem criar. Mas não criam, a partir do nada. Para Tomás de Aquino,
criar do nada significa criar, ao mesmo tempo, a matéria e a forma.

6. A ANALOGIA DO SER

O termo "analogia" é de origem grega. Os gregos forjaram o vocábulo


analogon para indicar a proporção ou a relação entre as coisas. Santo
Tomás emprega analogia que, além de esclarecer a relação entres os entes
finitos, apura a relação entre Deus e as criaturas, entre o infinito e o finito.
Na medida em que participam do ser de Deus, as criaturas, mas também
não há identidade entre Deus e as criaturas, mas também não há
equivocidade, pois a imagem de Deus está refletida no mundo.

O conceito ser é aplicado a tudo o que existe, porque tudo o que existe é,
mas obedecendo a certa proporcionalidade, porque nem todos são do
mesmo modo, nem todos têm a mesma substância e os mesmos acidentes.
Assim, há entre Deus e as criaturas uma relação de semelhança e de
dessemelhança ou, ainda, uma relação de analogia no sentido de que
aquilo que se fala das criaturas pode ser falar de Deus, não do mesmo
modo, nem com a mesma intensidade, mas guardando as devidas
proporções. O conceito de ser não é unívoco. Um termo é equivoco quando
uma mesma palavra indica coisas totalmente diferentes.

A analogia tornar-se, assim, fundamental para a compreensão da


metafisica e da argumentação de santo Tomás. Ela é a base para explicar
como se relacionam Deus e os seres finitos, isto é, o Criador e as criaturas.

Não há identidade, unicidade entre deus e as criaturas. Mas também não


há equivocidade, pois sua imagem está refletida no mundo. Assim, há entre
Deus e as criaturas uma relação de semelhança e dessemelhança ou, ainda,
uma relação de analogia.

7. O DEUS CRIADOR

O centro da metafisica de Tomás de Aquino é ocupado pelo Deus criador


da cosmovisão cristã. Trata-se do Deus da cosmogonia judaico- cristã, isto
é, o Deus de Abraão e de Jacó.

O Deus criador não é o Demiurgo Platão, também não é o Primeiro Motor


Imóvel de Aristóteles. O Deus criador não depende do cosmos, nem das
criaturas que o habitam. Trata-se do Deus que cria o céu e a terra a partir
do nada.

A criação do cosmos é um ato próprio e exclusivo de Deus a partir do nada,


sem qualquer tipo de intermediação. Tudo o que existe foi causado por um
ser infinito, que é Deus.

Deus é a única realidade que, enquanto agente primeiro, cria simplesmente


para “comunicar sua perfeição, que é sua bondade", às criaturas, sem
precisar ou desejar nada.
A criação somente se justifica pela bondade de Deus, que é a comunicação
de sua perfeição, isto é, do ser à criatura. Deus produziu as coisas no ser
para comunicar sua bondade às criaturas. Como uma única criatura não
seria capaz de representá-la suficientemente, ele produziu criaturas
múltiplas e distintas.

8. AS VIAS DE DEMOSTRAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Para Tomás de Aquino, há entre a filosofia natural e a teologia, sacra


colaboração e não separação. Deus só pode "revelar" o que não pode ser
provado pela razão.

Portanto, a teologia encontra suas provas, não na razão, mas no acervo


daquilo que é revelado, que nos é conhecido como o “depósito da fé”.

Nesse “depósito” está incluído tudo o que está nas Escrituras, nos
ensinamentos dos santos Pais e nos Concílios Ecumênicos. Segundo santo
Tomás, há duas ordens de conhecimento distintas, a da fé e a da razão. Não
há oposição entre filosofia e teologia. Contanto que a filosofia obedeça aos
parâmetros da fé, nunca será oposta à fé. Mas no âmbito do visível, do
experimentável, é justo que o homem confie na razão, que é também ela
um significativo dom divino.

A razão pode também ser se auxilio à fé, seja defendendo- a dos ataques
dos descrentes, seja ilustrando com semelhança conceitual as verdades de
fé, seja, enfim, demonstrando os preâmbulos da fé.

Santo Tomás radicaliza o problema do ser. A filosofia tem que partir do


existente real. Daí a critica à prova ontológica de santo Anselmo. Por isso
santo Tomás julga impossível demonstrar a priori a existência de Deus.

Mas a razão, permanecendo no âmbito das coisas visíveis e da experiência


que lhe compete, pode mostrar a plausibilidade e também a necessidade da
hipótese de que Deus exista.

A razão, permanecendo fiel às próprias possibilidades e ao campo próprio


de sai aplicação, pode demonstrar com argumentos sólidos e convincentes
a necessidade da existência de Deus.

Na metafísica tomista, a demonstração da existência de Deus é necessária e


possível. Tomás de Aquino parte da constatação de uma realidade
sensível, para elevar-se à sua causa, que é Deus.

Pode- se demonstrar a existência de Deus, por cinco vias:

A primeira, e mais clara, parte do movimento. Neste mundo algumas


coisas se movem. Ora, tudo o que se move é movido por outro. O que move
o faz enquanto se encontra em ato.

Nada pode ser levado ao ato senão por um ente em ato. É preciso que tudo
o que se move seja movido por outro. Ora, não se pode continuar até o
infinito, pois nesse caso não haveria um primeiro motor.

A segunda via parte da razão de causa eficiente. Encontramos nas


realidades sensíveis a existência de uma ordem entre as causas eficientes;
mas não se encontra, nem é possível, algo que seja a causa eficiente de si
próprio, porque desse modo seria anterior a si próprio: o que é impossível.

Portanto, se não existisse a primeira entre as causas eficientes, não haveria


a última nem a intermediaria. Logo, é necessário afirmar uma causa
eficiente primeira, a que todos chamam Deus.

A terceira via é tomada do possível e do necessário. Ei- La. Encontramos


entre as coisas as que podem ser ou não ser. Se tudo pode não ser, houve
um momento em que nada haveria. Ora, se isso é verdadeiro, ainda agra
não existiria; pois o que não é só passa a ser por intermédio de algo que já
é. Por conseguinte, se não houve ente algum, foi impossível que algo
começasse a ser; logo, hoje, nada existiria: o que é falso.

Ora, tudo que é necessário tem ou não a causa de sua necessidade de um


outro. Assim como entre as causas eficientes, como se provou. Portanto, é
necessário afirmar a existência de algo necessário por si mesmo, que não
encontra alhures a causa de sua necessidade, mas que é causa da
necessidade para os outros: o que todos chamam Deus.
A quarta via se toma dos graus que se encontram nas coisas. Encontra-se
nas coisas algo mais ou menos bom, mais ou menos verdadeiro, mais ou
menos nobre etc.

O que é um sumo grau verdadeiro, é ente em sumo grau. Assim o fogo, que
é quente no mais alto grau, é causa do calor de todo e qualquer corpo
aquecido, como é explicado no mesmo livro. Existe, então, algo que é, para
todos os outros entes, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição: nós o
chamamos de Deus.

A quinta via é tomada do governo das coisas. Vemos que algumas coisas
que carecem de conhecimento, como os corpos físicos, agem em vista de
um fim, o que se manifesta pelo fato de que, sempre ou na maioria das
vezes, agem da mesma maneira, a fim de alcançarem o que é ótimo.

Existe algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordenadas ao
fim, e a isso nós chamamos Deus. as provas, ou “vias”, apresentadas por
Tomás e, em parte, adotadas e retomadas de precedentes tradições de
pensamentos são, resumidamente:

1. Via do movimento;

2. Via das causas;

3. Via da contingência;

4. Via dos graus de perfeição;

5. Via da finalidade.

Analisando com olhos filosóficos, vemos que as vias convergem para um


Primeiro Ser.

9. DEUS: O SER QUE SUBSISTE POR SI MESMO

Santo Tomás de Aquino, ao invés de Santo Agostinho, não procura Deus


numa mística interiorizante, mas no seio de uma reflexão sobre o ser e
sobre a essência das coisas, dos entes.
As “cinco vias”, pelas quais Tomás demonstra a existência de Deus pela
razão natural, nada mais são do que as provas de Aristóteles. Mas a
teologia natural não substitui a teologia revelada. Esta ensina-nos muito
sobre Deus do que a razão.

Deus, quanto à sua natureza, é Uno, incorpóreo, infinito, imutável, eterno.


É a plenitude da perfeição do ser. É aquilo que é: Sua essência é ser-
existir.

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