Pacto de neutralidade
Em maio de 2016, a Folha de S. Paulo publicou uma coluna de Mario Vitor Santos
em que este reverbera[2] (http://www.manchetometro.com.br/index.php
/publicacoes/serie-m/2018/06/27/pacto-de-neutralidade/#_ftn2) o entendimento
que muitos jornalistas têm da própria profissão. No texto, Santos afirma que as
normas e técnicas jornalísticas não são enfeites, mas, sim “peças essenciais para a
sobrevivência da democracia”. Na ocasião, o jornalista e colunista da Folha se
referia aos modos como o jornalismo brasileiro lidou com os vários escândalos de
corrupção envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT), colocando-se como um dos
principais promotores da derrubada da então presidente Dilma Rousse�. Essa fala
expressa uma compreensão sobre o jornalismo, sua cultura profissional e seu
propósito como instituição que serve de base para a re�exão que segue.
A maior parte dos estudos críticos à atuação da mídia se dedicam a mostrar que o
jornalismo praticado tem forte viés político, muitas vezes em violação da função de
crítica das ações do Estado, que a mídia arroga a si própria. Pretendemos aqui
adotar outra estratégia de investigação e perguntar: será que a suposta atividade de
vigilância crítica da mídia é igual no que toca os diferentes poderes e instituições
do Estado?
Tomemos como exemplo o Judiciário Federal, o Ministério Público e a Polícia
Federal. Juntas, essa tríade reúne, em média, 250 notícias por mês nos principais
jornais brasileiros. Ou seja, podemos concluir que essas instituições ocupam um
lugar de atenção na imprensa. São dignas de nota e de serem notadas, estão no
radar do vigilante jornalismo que busca expor os abusos de um Estado cada vez
mais envolvido em escândalos de corrupção. Até aí, nada de anormal.
Ainda de acordo com os dados desses primeiros três meses do ano, a valência
neutra em relação às notícias sobre o MP e a PF foi sempre mais do que o dobro da
valência contrária, o que causa um descompasso evidente. Juntamente com o
Judiciário Federal, essas instituições são as únicas que nunca tiveram valências
contrárias ou ambivalentes ultrapassando as neutras. Considerando que as análises
aglutinam dados de quase um ano, esse é um tempo considerável para se manter
em uma posição tão confortável, sendo instituições com tamanha visibilidade.
[1] (http://www.manchetometro.com.br/index.php/publicacoes/serie-m/2018/06/27
/pacto-de-neutralidade/#_ftnref1) Jornalista. Doutoranda no Programa de Pós-
graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM/UFF).
[2] (http://www.manchetometro.com.br/index.php/publicacoes/serie-m/2018/06/27
[3] (http://www.manchetometro.com.br/index.php/publicacoes/serie-m/2018/06/27
[4]
(http://www.manchetometro.com.br/index.php/publicacoes/serie-m/2018/06/27
/pacto-de-neutralidade/#_ftnref4) Decidiu-se por não incluir considerações a
respeito do Judiciário, por considerar que este poder tem especificidades que
mereceriam ser tratadas à parte, o que não poderia ser feito aqui por limites de
espaço. No entanto, vale lembrar que o Manchetômetro já deu pistas sobre essa
questão, ao abordar a falta de notícias, na grande mídia, a respeito do pedido de
impeachment do ministro Gilmar Mendes. Disponível em: <>.
[5] (http://www.manchetometro.com.br/index.php/publicacoes/serie-m/2018/06/27
[6] (http://www.manchetometro.com.br/index.php/publicacoes/serie-m/2018/06/27
[7] (http://www.manchetometro.com.br/index.php/publicacoes/serie-m/2018/06/27
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