Gestão e Democracia
Limites da Autonomia
e do Controle do
Poder Executivo
Secretaria de Gestão
Ministério do Planejamento
Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Parcerias Institucionais:
Comitê Científico
2
Seminário Direito, Gestão e Democracia
Agradecimentos
Aldino Graef
André Stefani Bertuol
Antônio Carlos Fonseca
Berenice Tessarini Cemente
Carla Simões
Carlos Alberto Justo
Carlos Ari Sundfeld
Elzira Maria do Espírito Santo
Eugênio José Guilherme de Aragão
Fabiano Garcia Core
Fábio de Sá e Silva
Floriano de Azevedo Marques Netos
Francisco Gaetani
Geraldo Antonio Nicoli
Gilson Carvalho
Guilherme Francisco Alfredo Cintra Guimarães
Gustavo Justino de Oliveira
Heider Aurélio Pinto
José Augusto Dias de Castro
José Celso Pereira Cardoso Júnior
José Eduardo Sabo Paes
José Ênio Servilha Duarte
José Genoino
José Humberto Nozella
Juliana Sahione Mayrink Neiva
Julio Roberto Hocsman
Karine Andréia Eloy Barbosa
Lenir Santos
Luciene Pereira da Silva
Luiz Moreira
Mônica Silveira
Marcelo Viana Estevão de Moraes
Maria Aparecida Azevedo Abreu
Maria Coeli Simões Pires
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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Sumário
Apresentação............................................................................................. 6
5
Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
APRESENTAÇÃO
A Constituição Federal de 1988 impôs novos desafios às instituições democráticas,
especialmente os de efetivação dos direitos fundamentais e dos direitos sociais,
de descentralização federativa, e de atuação articulada e harmônica entre os
três Poderes do Estado brasileiro: Executivo, Legislativo e Judiciário. São desafios
que, para serem superados, exigem ampla concertação entre agentes públicos
e sociedade.
6
Seminário Direito, Gestão e Democracia
1 Introdução
Sob a ótica da governabilidade, do progresso econômico e da redução da
desigualdade social, o papel do Estado contemporâneo é fundamental
para o alcance de níveis crescentes de bem-estar coletivo. Indispensável
para o desenvolvimento dos países, o aperfeiçoamento do Estado passa,
necessariamente, pela profissionalização dos agentes públicos.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
3 Entrevista comportamental
É consenso entre os autores que a entrevista assume um papel central na
coleta de informações e na tomada de decisão da seleção, ainda que existam
diversos instrumentos de seleção. Por isso, em quase toda seleção há algum
tipo de entrevista.
No entanto, segundo muitos autores, nem mesmo a entrevista pode ser usada
isoladamente para selecionar os candidatos. Faissal et al (2005) ressaltam que
ela é mais bem aproveitada à medida que for utilizada como um instrumento
de síntese de todos os resultados. Segundo eles, a entrevista:
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
Nesse tipo de entrevista as perguntas são abertas e específicas, com foco nas
competências necessárias para o cargo, visando obter descrições de exemplos
comportamentais ocorridos na vida do candidato que indiquem evidências
de uma competência. Uma vantagem da entrevista comportamental
é o aumento das chances de conseguir uma resposta mais realista, com
informações mais precisas sobre as competências do candidato. Assim, ao
analisar os dados obtidos, o avaliador terá um indicador mais seguro para
contribuir em sua tomada de decisão.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
4 Regime jurídico do
concurso público
Desde a Antiguidade, os entes estatais vêm utilizando diversas formas de
selecionar pessoas para ocupar cargos públicos.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
Para alcançar esse interesse público específico, a APF não dispõe de lei
própria que discipline o concurso público. Logo, as normas que disciplinam
a seleção de servidores federais estão dispersas no regime jurídico da APF.
Sua principal fonte é a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988 (CF/88), seguida pela Lei Federal nº 8.112 de 1990 e pela Lei Federal
nº 9.784 de 1999.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
A CF/88 adota o sistema de mérito em seu artigo 37, incisos I e II. Esses
dispositivos também são conhecidos por tornarem expresso o princípio
do amplo acesso aos cargos públicos. Na medida em que exige que o
concurso público selecione os candidatos por intermédio de provas –
combinadas ou não com títulos – segundo a natureza e complexidade do
cargo público vago, o inciso II aborda o processo de seleção, enquanto
o inciso I restringe o acesso aos cargos públicos ao cumprimento dos
requisitos previstos em lei.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
5 Controle jurisdicional
O Poder Judiciário realiza o controle jurisdicional quando verifica a
legalidade dos atos da Administração Pública (artigo 5º, inciso XXXV, CF/88).
Assim, torna-se imprescindível conhecer como os Tribunais Superiores estão
interpretando as normas lacunosas e princípios do processo de seleção
de servidores públicos federais e estão aplicando-os aos casos em que a
entrevista foi utilizada em concursos públicos.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
7 Conclusão
A análise da entrevista comportamental como instrumento de seleção por
competências de servidores, confrontada com o regime jurídico do concurso
público federal e com a atual jurisprudência do STJ/STF, aponta que o controle
jurisdicional é o que impede sua utilização na APF (e não a legislação), na
medida em que o Judiciário reconhece a entrevista comportamental como
exame psicotécnico e não como prova ou avaliação.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Dessa forma, são propostas duas alternativas para que, além do domínio de
conhecimentos relevantes, competências e experiências passadas aferidas
na entrevista comportamental interfiram na ordem de classificação de um
concurso público federal: (i) modificar formalmente a legislação; ou (ii)
assumir uma nova interpretação da natureza jurídica desse instrumento de
seleção, admitindo uma mutação constitucional que o enquadre no conceito
de prova (art. 37, II, CF/88).
Referências
BERGUE, Sandro Trescastro. Gestão de pessoas em organizações públicas.
2. ed. rev. e atual. Caxias do Sul, RS: Educs, 2007.
BOHLANDER, George; SNELL, Scolt; SHERMAN, Arthur. Trad. Maria Lúcia
G. Leite Rosa. Administração de recursos humanos. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2005.
BRANDÃO, Hugo Pena; GUIMARÃES, Tomás de Aquino. Gestão de
competências e gestão de desempenho: tecnologias distintas ou
instrumentos de um mesmo construto? Revista de Administração de
Empresas – RAE. São Paulo, v. 41, n. 1, p. 8-15, jan./mar. 2001.
CARVALHO, Ieda Maria Vecchioni; PASSOS, Antônio Eugênio V. Mariani;
SARAIVA, Suzana Barros Corrêa. Recrutamento e seleção por competências.
Rio de Janeiro: FGV, 2008.
FAISSAL, Reinaldo. et al. Atração e seleção de pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
FREITAS, Liziane Castilhos de Oliveira. Avaliação psicológica em concurso
público: relações com o desempenho em treinamento de bombeiros.
Dissertação de mestrado em psicologia. Brasília: Universidade de Brasília, 2004.
GUIMARÃES, Tomás de Aquino. A nova administração pública e a
abordagem da competência. Revista de Administração Pública. Rio de
Janeiro: FGV, 34(3), p. 125-140, mai./jun. 2000.
LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina; ARELLANO, Eliete Bernal. Os processos de
recrutamento e seleção. In: FLEURY, Maria Tereza Leme (Org.). As pessoas
na organização. São Paulo: Gente, 2002.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
De acordo com Luís Flávio Gomes, pena é a sanção (castigo) imposta pelo
Estado (pela autoridade judicial competente e de acordo com o devido
processo legal) ao autor (culpável) de um fato punível. Mas, qual é a função
da pena? Ao longo do tempo a pena sofreu diversas transformações, desde a
humilhação em praça pública, castigos cruéis ao corpo à perda da liberdade
com a construção de prisões. A doutrina contemporânea defende que a
pena possui duas funções: proteger a sociedade e reeducar o indivíduo
para que volte ao convívio social quando supostamente estiver preparado.
Entretanto, será que o sistema prisional em seu formato atual, cumpre essas
duas funções? Será que a perda do direito à liberdade é a única forma de se
chegar a esse resultado? Se a resposta fosse afirmativa, não seria admissível
o índice de 60% de reincidência, assim como crimes cometidos por celulares
de dentro das unidades prisionais. Portanto, são necessárias novas penas
1. Especialista em Políticas Públicas, Secretaria de Gestão Pública do Estado de
São Paulo. Mestre em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos
(UNISANTOS), bolsista CAPES. Graduada em Direito pela mesma Universidade (2002).
É pesquisadora do Fórum das Federações, onde representou o Brasil nas duas últimas
Conferências Internacionais sobre Federalismo, em março de 2005 (Bruxelas) e
novembro de 2007 (Nova Délhi). Tem experiência na área de docência em Direito, com
ênfase em Direito Internacional Público, atuando principalmente nos seguintes temas:
federalismo, política externa, contratos internacionais, constituição e globalização.
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Referências Bibliográficas:
ADORNO, Sérgio. Violência, Controle Social e Cidadania: Dilemas na
Administração da Justiça Criminal. Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 41,
dez, 1994.
CÂMARA, Paulo Sette. A política carcerária e a Segurança Pública. Revista
Brasileira de Segurança Pública. Ano 1- Edição 1. PP. 72-90, 2007
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Editora
Vozes, 2004.
GOMES, Luís Flávio. Direito Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2000. Edição
revisada e atualizada.
SALLA, Fernando. De Montoro a Lembo: as políticas penitenciárias em São
Paulo. Revista Brasileira de Segurança Pública. Ano 1- Edição 1. PP. 72-90, 2007
_____; MIRAGLIA, Paula. O PCC e a gestão dos presídios em São Paulo.
Novos Estudos. CEBRAP 80. PP. 21-41, 2008
Sites:
Conselho Nacional de Justiça – www.cnj.gov.br
Imprensa Oficial – www.imprensaoficial.com.br
Jus Brasil Notícias – www.jusbrasil.com.br/noticias
Ministério da Justiça – Departamento Nacional Penitenciário - www.mj.gov.
br/depen
Ministério Público do Estado de São Paulo – www.mp.sp.gov.br
Núcleo de Estudos da Violência – USP – www.nevusp.org
Observatório de Segurança Pública – Boas Práticas do Estado de São Paulo –
UNESP – www.observatoriodeseguranca.org
Presidência da República – www.planalto.gov.br
Pontifícia Universidade Católica de Campinas - www.puc-campinas.edu.br/
Secretaria de Administração Penitenciária – www.sap.sp.gov.br
Supremo Tribunal Federal – www.stf.jus.br
Entrevista:
Mauro Rogério Bittencourt, coordenador de Reintegração Social da
Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
Aqui já podemos tirar uma primeira conclusão: o Poder Executivo não pode
solicitar a atuação do TCU, mas suas unidades administrativas podem ser
alvo dessa atuação, inclusive aquelas pertencentes à Administração indireta.
Em outras palavras, o Poder Executivo não pode ocupar o pólo ativo da
fiscalização, mas pode ocupar o pólo passivo.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
O TCU reconhece que seu trabalho, nestes casos, tem por objetivo orientar
o gestor público:
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
mar, então, que a auditoria operacional tem natureza distinta dos demais
tipos de auditoria. Esse fato é reconhecido pelo próprio Tribunal de Contas
da União:
“As auditorias operacionais possuem características
próprias que as distinguem das auditorias tradicionais.
Devido à variedade e complexidade das questões
tratadas, possuem maior flexibilidade na escolha de
temas, objetos de auditoria, métodos de trabalho
e forma de comunicar as conclusões de auditoria.
Empregam ampla seleção de métodos de avaliação
e investigação de diferentes áreas do conhecimento,
em especial das ciências sociais. Além disso, essa
modalidade de auditoria requer do auditor flexibilidade,
imaginação e capacidade analítica”.6
Esta talvez seja a atividade do TCU que possa gerar mais frutos para a
sociedade. Ao avaliar o resultado prático de políticas públicas, deixa-se
evidente quais ações e programas governamentais não estão atendendo sua
finalidade: o bem-estar social. A partir daí podem ser tomadas medidas para
corrigir o rumo de uma ação específica ou, até mesmo, de toda uma política
de governo.
Uma vez que a teoria está clara, devemos dar um passo adiante e analisar se
todo esse processo ocorre no mundo real. Pode-se fazer o seguinte tipo de
questionamento: o TCU realmente faz esse tipo de auditoria operacional?
Esse trabalho é realizado de forma a poder ser aproveitado pelo gestor
público? Em caso positivo, o Governo leva em consideração os resultados da
6. http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/programas_
governo, acessado em 29/07/10, às 21:30h.
7. Chiavenato, Idalberto – Adminitração Pública – 2. ed. – Rio de Janeiro: Elsevier,
2008, p. 343
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auditoria em suas decisões? Alguma medida prática já foi tomada com base
em uma inspeção realizada pelo TCU?
8. http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/programas_
governo/historico, acessado em 29/07/10, às 22:12h
9. http://portal2.tcu.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/programas_
governo/ciclo_anop, acessado em 29/07/10, às 22:45h
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(...)
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Podemos afirmar que sim. Já em 27/01/10, apenas dois meses após a publicação
da auditoria, o Presidente da República editou o Decreto Nº 7.082/10
instituindo o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários
Federais - REHUF, destinado à reestruturação e revitalização dos hospitais das
universidades federais, integrados ao Sistema Único de Saúde (SUS).
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Esta medida garante reposição mais rápida dos cargos vagos. Como os HU’s
atualmente se utilizam dos cargos das universidades, acabam sendo beneficiados.
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1 Resumo do artigo
O objetivo deste trabalho é analisar as mudanças efetuadas desde a década
de 1970 na regulação que ordena o provimento e a composição dos cargos
de Direção e Assessoramento Superiores (DAS). Considerando as frequentes
mudanças realizadas neste ordenamento em diferentes governos,
destacamos o caráter flexível e variável dessas normas. Para análise desse
tema procuramos detalhar alguns aspectos da teoria institucional da
Presidência de Terry Moe. Com esse aporte pode-se entender que as regras
sobre o ordenamento dos cargos de confiança são recursos de poder
manejados estrategicamente pelos presidentes conforme as necessidades
do governo. A partir desta perspectiva é possível concluir que essas reformas
têm como efeito o fortalecimento institucional e decisório do presidente.
2 Apresentação do tema
Este artigo procura discutir um aspecto marcante do comportamento
presidencial no Brasil, a alteração frequente de normas que regulam diversas
esferas do exercício do poder governamental. Especificamente, nos deteremos
no conjunto de regulações referentes aos cargos de confiança do Poder
Executivo federal, tendo como foco as mudanças implementadas nas regras
de provimento e de composição dos cargos de Direção e Assessoramento
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Fonte: Boletim Estatístico de Pessoal, nº 166, abril/2010 (ver págs. 34 e 107). Elaboração: autora. Em 1998 o
quantitativo de cargos efetivos era de 513.720 e o de cargos de DAS era de 17.183; em 2010 esses totais eram de
560.369 e 21.245, respectivamente.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
3 O modelo analítico de
Terry Moe
Desde a década de 1980, Terry Moe tem proposto em diversos trabalhos
o desenvolvimento de uma teoria institucional da Presidência, recorrendo,
para tanto, à metodologia da rational choice como um aporte analítico
para o entendimento da atuação presidencial. A proposição dessa nova
teoria supõe a compreensão do presidente como um ator institucional
cujo comportamento é um produto institucional, moldado pelo conjunto
de regras, normas e procedimentos que constituem a Presidência, mas,
também, definido pela capacidade do próprio presidente de estabelecer
inovações no sistema institucional em que está inserido. Segundo Moe, essa
capacidade seria inerente à autoridade pública (public authority) obtida
por um presidente ao assumir o cargo e se definiria como uma política de
escolha estrutural.
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legais específicas sobre como proceder significa que o presidente pode
realizar neste contexto decisões impositivas, agindo de forma unilateral e
segundo o seu juízo, exercendo o seu direito de decisão residual. A partir
deles o presidente pode organizar e dirigir a presidência como considerar
adequado; reorganizar, coordenar, impor regras, rever decisões, nomear
seu pessoal para posições relevantes, e, de outra maneira, colocar sua
marca estrutural nas instituições governamentais. Assim, embora existam
constrangimentos em relação ao que o presidente pode fazer e regras que
deve inquestionavelmente seguir, dentro desses limites, o direito de decisão
residual de que dispõe é substancial, principalmente para a execução de
decisões discricionárias sobre as estruturas de governo (1994:14).
9. Segundo Terry Moe, o presidente não consegue exercer sozinho muitas funções
essenciais para sua liderança: ele não consegue realizar suas próprias negociações
com o Congresso; recrutar, selecionar e contratar todo o seu pessoal; manejar suas
relações com a imprensa; planejar todos os detalhes de suas atividades diárias;
controlar pessoalmente a burocracia; e não sabe o suficiente, no âmbito técnico ou
político, para formular programas coerentes e realizar escolhas políticas acertadas
(1994:16). Resumidamente, “o presidente precisa de ajuda.”
Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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buscando, dentro das regras do jogo político, ampliar sua liderança. Esta
seria a força motriz do seu comportamento no exercício do poder. Dessa
forma, o presidente, em qualquer governo, estaria frequentemente impelido
a lutar por estruturas que ampliassem o seu poder e possibilitassem a
realização de seus objetivos no exercício da Presidência.
4 Mudanças na ordenação
dos cargos de DAS –
atores, procedimento e
instrumentos decisórios
O quadro abaixo apresenta todas as alterações nas regras de provimento
dos cargos de DAS efetuadas em quase 30 anos, de 1975 a 2003. A partir
dele é possível observar como a competência de realizar nomeações para os
postos de DAS foi ao longo do tempo distribuída. Essa atribuição constitui
um recurso de poder de grande relevância, pois faculta ao seu autor
controlar os ocupantes de funções centrais de direção, chefia, coordenação
e assessoramento em diferentes níveis da administração pública. São as
funções que, de fato, exercem o comando da burocracia no Brasil. Contudo,
o mais importante neste caso é entender que compete ao presidente o
controle dessa prerrogativa, de forma que pode tanto distribuí-la aos
diferentes agentes do Executivo, como alterar ou revogar essa delegação,
conforme considerar conveniente, a qualquer tempo por decreto. O
manuseio dessa atribuição é bastante flexível, e é, por isso, que se nota uma
constante variação nas regras de provimento.
50
Quadro 1 - Disposição dos atos de mudanças nas regras de provimento
dos cargos de DAS
Ministros de
Estado e titulares Cargos de níveis 2 e Alterado
de órgãos ** 1 (DAS 101) e níveis pelo Dec.
Titulares das 4, 3, 2 e 1 (DAS 102). 2.957 de
Dec. secretarias, Níveis 4 e 3 (DAS 101) 08/02/1999
1999 Cardoso II
2.947 autarquias e - após consulta ao Revogado
fundações, sob Pres. da Rep. por meio pelo Dec.
supervisão dos da Sec. de Relações 3.362 de
Ministérios Institucionais 10/02/2000
(subdelegado)
Subordinados
dos titulares
Cargos de níveis 2 e
das secretarias,
1 (DAS 101) e níveis
autarquias
4, 3, 2 e 1 (DAS 102). Revogado
e fundações
Dec. Níveis 4 e 3 (DAS 101) pelo Dec.
1999 Cardoso II (competência
2.957 - após consulta ao 3.362 de
subdelegada
Pres. da Rep. por meio 10/02/2000
pelos titulares
da Sec. de Relações
das secretarias,
Institucionais
autarquias e
fundações)
Ministros de
Estado e titulares
de órgãos ***
Titulares das Cargos de níveis 2 e
secretarias, 1 (DAS 101) e níveis
autarquias e Revogado
4, 3, 2 e 1 (DAS 102).
Dec. fundações, sob pelo Dec.
2000 Cardoso II Níveis 4 e 3 (DAS 101) -
3.362 supervisão de 4.243 de
após consulta ao Pres.
cada Ministério 22/05/2002
da Rep. por meio da
(art. 2º - prevê que Secretaria Geral
essa competência
poderá ser
seguidamente
subdelegada)
Ministros de Cargos de níveis 2 e
Estado 1 (DAS 101) e níveis
Revogado
4, 3, 2 e 1 (DAS 102).
Dec. Art. 2º prevê a pelo Dec.
2002 Cardoso II Níveis 4 e 3 (DAS 101) -
4.243 subdelegação da 4.579 de
após consulta ao Pres.
competência de 22/01/2003
da Rep. por meio da
provimento Secretaria Geral
52
Seminário Direito, Gestão e Democracia
Ministros de Revogado
Cargos de níveis 2 e 1
Dec. Estado pelo Dec.
2003 Lula I (DAS 101) e níveis 4, 3,
4.579 2 e 1 (DAS 102). Níveis 4.676 de
Art. 4º prevê a 4 e 3 (DAS 101) - após 17/04/2003
subdelegação da consulta ao Pres. da Rep.
competência de por meio da Casa Civil
provimento
Revogado
Dec. Não introduz mudanças nas regras de pelo Dec.
2003 Lula I
4.676 provimento dispostas no Dec. 4.579 4.734 de
11/06/2003
Alterado
pela Portaria
1.056 de
Ministro-Chefe da 11/06/2003
Casa Civil Alterado
Dec. Art. 4º prevê a Todos os níveis (6, 5, 4, pelo Dec.
2003 Lula I
4.734 subdelegação da 3, 2 e 1) 6.125 de
competência de 14/06/2007
provimento (apenas
dá nova
redação ao §
1º do Art. 1º)
Ministros de Cargos de níveis 2 e 1
Portaria Estado (DAS 101) e níveis 4, 3,
1.056 (subdelegado) 2 e 1 (DAS 102). Níveis Não consta
2003 Lula I
da Casa Art. 3º prevê 4 e 3 (DAS 101) - após revogação
Civil subsequente consulta ao Pres. da Rep.
delegação por meio da Casa Civil
* o Conselho de Governo, a Advocacia-Geral da União, o Alto Comando das Forças Armadas e o Estado-Maior das
Forças Armadas.
** o Advogado-Geral da União, a Secretaria de Estado de Comunicação de Governo e a Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Urbano.
*** o Advogado-Geral da União e a Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano.
53
Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
essa medida foi formalizada com a edição do decreto 83.937 de 1979 que
regulamentaria os artigos 11 e 12 do decreto-lei 200, segundo o qual “é
facultado ao presidente da República, aos Ministros de Estado e, em geral,
às autoridades da Administração Federal delegar competência para a prática
de atos administrativos.” Dessa forma, a partir de 1979 foram frequentes os
decretos que reiteravam a delegação dos atos de provimento para distintas
autoridades subordinadas ao presidente.
Esta medida chama atenção por duas razões: 1) concentra sob o chefe da Casa
Civil o controle total das nomeações dos cargos de DAS, o que o torna um ator
institucionalmente poderoso no âmbito do Executivo, já que passa a controlar
“quem” pode ser selecionado para ocupar esse montante de cargos; e 2) retira
do presidente essa prerrogativa, sobretudo no âmbito dos postos de DAS 5 e 6,
o que nunca sucedeu nos governos anteriores. Contudo, deve-se lembrar que
essa medida foi estabelecida pelo próprio presidente, certamente de forma
calculada, sugerindo que desejava privilegiar em sua gestão determinados
agentes, como, por exemplo, o chefe da Casa Civil. É importante reconhecer
que o principal aspecto dessa decisão não foi a centralização da prerrogativa
de realizar nomeações no chefe da Casa Civil, afinal pela Portaria 1.056 de
2003 da própria Casa Civil foi delegada aos ministros e demais autoridades do
Executivo a atribuição de prover os cargos de DAS dos níveis 1 ao 4, como era
antes. O que nos chama atenção é a evidência de que o presidente Lula, em
comparação aos seus sucessores, apresentou um estilo diferente de manejar
os recursos institucionais à sua disposição.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
11. Essa questão foi discutida no primeiro capítulo do livro “A Elite Dirigente do
Governo Lula.”
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Objeto de
Regra de
Ato legal Ano Governo regulação Situação
composição
- DAS
Art. 5º - são cargos em
comissão, de livre nome-
ação e exoneração: II - os
dois níveis hierárquicos
mais elevados da estrutura
organizacional do órgão
ou entidade; III - os de
Cargos de assessoramento (DAS 102)
Artigos
DAS níveis no limite de até quarenta
revogados
5 e 6 (os por cento do quantitativo
pela MPV
dois níveis constante no órgão ou
1.480 de
hierárquicos entidade.
Lei 8.911 1994 I. Franco 29/01/1998,
superiores), Art. 6º - designação para
converti-
e níveis 1 as funções de direção,
da na Lei
ao 4 (níveis chefia (DAS 101) e assesso-
9.624 de
hierárquicos ramento (DAS 102) recairá,
02/04/1998
inferiores) exclusivamente, em ser-
vidor ocupante de cargo
efetivo, da Administração
Pública Federal, Direta,
Autárquica e Fundacional,
exceto quando se tratar
do limite estabelecido no
inciso III do artigo 5º
Art. 37, item V - funções
de confiança, exercidas
exclusivamente por
servidores ocupantes de
Cargos em cargo efetivo, e os cargos
Emenda comissão e em comissão, a serem
Sem regula-
Constitucio- 1998 Cardoso I funções de preenchidos por servidores
mentação*
nal 19 confiança em de carreira nos casos,
geral condições e percentuais
mínimos previstos em lei,
destinam-se apenas às atri-
buições de direção, chefia
e assessoramento
56
Seminário Direito, Gestão e Democracia
Objeto de
Regra de
Ato legal Ano Governo regulação Situação
composição
- DAS
Art. 1º Serão ocupados ex-
clusivamente por servido-
res de carreira os seguintes
cargos em comissão do
Regula-
Grupo-Direção e Assesso-
mentado
ramento Superiores - DAS
pela
Cargos de da administração pública
Instrução
Dec. 5.497 2005 Lula I DAS níveis 1 federal direta, autárquica
Normativa
ao 4 e fundacional: I – 75%
Nº 2 de
(setenta e cinco por cento)
07/01/2010
dos cargos em comissão
do MP
DAS, níveis 1, 2 e 3; e II –
50% (cinquenta por cento
dos cargos) em comissão
DAS, nível 4.
* Ver PL 2535-1989, do PSDB-SP, PL 1650/1989 (PFL/MA), PL 1627/1989 (PDT-RJ),
PL 160/1989, do PMDB/SP,
O quadro acima mostra que a primeira regulação que estipulou limites para o livre
provimento dos cargos de DAS data de 1979, certamente no bojo do processo
de consolidação da estrutura de cargos comissionados na administração federal.
Observa-se também que esse tema fez parte da pauta de discussões no período
constituinte, chegando inclusive a ser incorporado na Constituição Federal
promulgada em 1988. O inciso V do artigo 37 da nova Constituição determinava
que os cargos comissionados deveriam ser preferencialmente compostos por
servidores públicos efetivo. Esse item, especificamente, gerou vários projetos de
lei propostos por deputados federais que pretendiam regulamentar as normas
de preenchimento dos cargos e funções comissionadas. Apenas em 1989
foram propostos três projetos de lei diferentes,12 mas todos foram arquivados
posteriormente, denotando, como sugerem Santos (2009) e Cruz (2009), que não
houve naqueles anos interesse por parte tanto do Legislativo como do Executivo
para, de fato, regulamentar a norma estipulada pelo texto constitucional. Em
1998, no entanto, com a aprovação da emenda constitucional 19, essa regra
foi remodelada, determinando que os cargos em comissão (de DAS) fossem
preenchidos por servidores de carreira “nos casos, condições e percentuais
mínimos” estipulados por lei. Essa nova redação ratificou a determinação de
que os cargos em comissão fossem ocupados por servidores efetivos de carreira,
mas estabeleceu a necessidade da elaboração de uma nova lei que defina a
composição desses cargos. Contudo, convém lembrar que já se passaram mais
de dez anos da promulgação da emenda constitucional 19 e nenhuma lei foi
estabelecida com o objetivo de regulamentar o inciso V do artigo 37.
12. PL 1.627 apresentado por Cesar Maia (PDT/RJ) em 08/03/1989, PL 1.627
apresentado por Costa Ferreira (PFL/MA) em 09/03/1989 e PL 2.535 apresentando por
Koyu Iha (PSDB/SP) em 05/06/1989.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
5 Considerações finais
Este trabalho procurou desenvolver uma análise inicial sobre a tendência
diagnosticada em diferentes governos de promover reformas no conjunto
de normas que regulam os cargos de DAS. Uma visão panorâmica sobre os
atos legais editados ao longo do tempo com o objetivo de alterar as normas
de provimento e composição desses cargos deixa claro que embora algumas
iniciativas pareçam complementar, ou estender, regras estabelecidas por
atos anteriores, de um modo geral predomina uma situação de completa
instabilidade. No âmbito das regras de provimento, em praticamente todos os
governos houve revogações de normas anteriores, o que demonstra que ao
longo de mais de 30 anos não foi possível fixar um marco regulatório estável ao
qual os presidentes devam se adequar. O que ocorre na prática é que as regras é
que são adaptadas aos governos. Por isso, o ritmo de mudança é frequente. Em
relação às normas sobre a composição dos cargos de DAS verificamos que nem
mesmo o seu status constitucional foi capaz de torná-las mais estáveis. Esta é
uma questão ainda pendente de regulamentação definitiva.
Além disso, é possível dizer que o Poder Legislativo tem se mantido afastado
da competência de legislar sobre questões relativas aos cargos de confiança.
Todas as propostas de lei prevendo a regulamentação dos critérios de
preenchimento dos cargos e funções de confiança (inciso V do art. 37 da
CF) foram arquivadas. Convém lembrar que o Legislativo é uma organização
coletiva e o processo decisório que leva à aprovação de projetos propostos
pelos deputados demanda a construção de acordos e consensos, e por isso
é passível de problemas de ação coletiva. Neste contexto é, então, notório o
controle do Executivo e especificamente dos presidentes da República sobre
a ordenação dos cargos de DAS. Isso os faculta a agir de forma discricionária
no estabelecimento das mudanças, muitas delas contraditórias e incompletas,
mais convenientes aos seus estilos de governar.
6 Referências bibliográficas
Cruz, Rachel Pellizzoni da. “Carreiras burocráticas e meritocracia: o impacto
do ingresso de novos servidores na última década sobre a dinâmica do
preenchimentos dos cargos em comissão no governo federal brasileiro”.
Trabalho apresentado no II Congresso CONSAD de Gestão Pública. Brasília,
maio de 2009.
D’Araujo, Maria Celina (coord.). Governo Lula: contornos sociais e políticos
da elite do poder. Rio de Janeiro: CPDOC-FGV, 2007.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
1 Introdução
O tema a ser abordado neste articulado restringe-se à análise do conteúdo
jurídico da súmula vinculante nº 13 do Supremo Tribunal Federal – STF - que
dispõe sobre a vedação à prática do nepotismo - e suas repercussões na
liberdade de atuação da Administração Pública Direta e Indireta.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Assim é que, por vezes, o Poder Legislativo exerce função judicante, quando,
por exemplo, o Senado processa e julga o Presidente da República nos crimes
de responsabilidade (art.52, inciso I, da Constituição Federal); do mesmo modo
que o Executivo, também atipicamente, poderá inovar na ordem jurídica,
criando o jus positum através da edição de medidas provisórias em casos de
relevância e urgência (art. 62 da CF/88); e o Judiciário, a sua vez, também
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Conforme se vê, o parágrafo primeiro do art. 103-A da CF/88 deixa claro que
essa modalidade de súmula tem por objetivo a validade, a interpretação e a
eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual.
Claro está que não constitui objeto da súmula a edição de norma jurídica,
aqui entendia como regra de direito dotada de generalidade e abstração,
cujo objeto seja a regulação de condutas sociais. A inovação na ordem
jurídica não constitui propósito da súmula vinculante.
2. GOMES, Luiz Flávio. Súmula vinculante nº. 13: o STF pode proibir o nepotismo?
Disponível em http://www.lfg.com.br 26 agosto. 2008.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
3 Da Súmula Vinculante nº 13
3.1 A edição da súmula e a necessidade de regulação
do tema por meio de Lei. O Princípio da preferência
de lei
A súmula vinculante nº 13 foi redigida nos seguintes termos:
Em que pese a existência dessas razões, não se afigura razoável defender, sob
o prisma da legitimidade constitucional, que tema tão delicado – vedação
à prática do Nepotismo – seja regulado por um ato emanado de um órgão
jurisdicional, a quem cabe aplicar a regras de direito previamente existentes,
e não ditar referidas regras, com o fim de regular diversas situações jurídicas
criadas no âmbito da Administração Pública de todos os órgãos de poder
3. Essa ideia de crise de Legalidade é muito bem abordada por Gustavo Binenbojm
no artigo “O Sentido da vinculação administrativa à juridicidade no direito
brasileiro” in ARAGÃO, Alexandre Santos de; MARQUES NETO, Floriano de Azevedo
(Coordenadores). Direito administrativo e seus novos paradigmas. São Paulo; Editora
Forum, p. 145-204.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
Bem analisado o conteúdo da súmula, será possível perceber que o STF definiu,
mediante escolha e valorações de cunho político, as modalidades de parentesco
(consangüíneo ou por afinidade); determinou até que grau (terceiro) estende-se
a vedação do nepotismo; prescreveu o âmbito espacial de aplicação da vedação
às Administrações Públicas de todos os órgãos de Poder em todos os níveis da
federação (União, Estados, municípios e Distrito Federal).
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Ao invés de uma reserva absoluta de lei, apregoa-se que haja uma preferência
de lei5 no tratamento da vedação ao nepotismo, em ordem a definir,
mediante edição de uma Lei Nacional, o regramento padrão acerca da
matéria, abrindo-se a possibilidade para que as Administrações Públicas de
todos os órgãos de Poder em todos os níveis da federação regulamentassem,
de acordo com a suas conveniências, proibições mais rigorosas ou mais
extensas, desde que não contravenham o disposto na Lei Nacional. Esse é o
exato sentido do princípio da preferência de lei6.
5. Poder-se-ia sustentar, pelas mesmas razões expostas, que houvesse uma reserva
relativa de Lei em relação ao Tema.
6. “O princípio da preferência de lei significa, para o Direito Administrativo, que
o administrador público, em sua atuação, seja ela regulamentar, seja ela de atos
concretos, não pode contrariar o que prescreve a lei, que terá preeminência em face
de qualquer outro ato contrário a ela. Os atos contrários à disposição legislativa
serão, assim, inválidos”. BINEBOJM, Gustavo. O Sentido da vinculação administrativa
à juridicidade no direito brasileiro. in ARAGÃO, Alexandre Santos de; MARQUES NETO,
Floriano de Azevedo (Coordenadores). Direito administrativo e seus novo paradigmas.
São Paulo; Editora Forum, p. 164.
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4 Regulamentação da Matéria
no âmbito da Administração
Pública Federal. Edição do
decreto nº 7.203 de 2010.
A vedação ao nepotismo no âmbito dos órgãos e entidades da administração
pública federal direta e indireta foi regulamentada pelo Decreto nº 7.203/2010,
editado pelo Presidente da República com fulcro na sua competência
constitucional para promover a organização da Administração Pública Federal.
Os estritos limites deste trabalho não permitem levar a cabo uma análise
mais detalhada e profunda da disciplina normativa constante do Decreto.
Contudo, tal limitação não nos impedirá de ressaltar os pontos altos da
regulamentação constante do Decreto nº 7.203/2010.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
Por igual, não se pode deixar de consignar que o decreto visou coibir uma
forma muito particular de nepotismo, na qual não há contratação ou
nomeação de pessoa natural, mas, diversamente, contratação de pessoa
jurídica na qual haja administrador ou sócio com poder de direção que
entretenha alguma relação com autoridades ou ocupantes de cargos
comissionados na Administração Pública. Reza o §3º do art. 3º do Decreto:
“É vedada também a contratação direta, sem licitação, por órgão ou
entidade da administração pública federal de pessoa jurídica na qual haja
administrador ou sócio com poder de direção, familiar de detentor de cargo
em comissão ou função de confiança que atue na área responsável pela
demanda ou contratação ou de autoridade a ele hierarquicamente superior
no âmbito de cada órgão e de cada entidade.”
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
5 Conclusão
De tudo quanto se expôs, é lícito concluir:
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6 Referências
GOMES, Luiz Flávio. Súmula vinculante nº. 13: o STF pode proibir o
nepotismo? Disponível em http://www.lfg.com.br 26 agosto. 2008.
BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo –
Os conceitos Fundamentais e a Construção do Novo Modelo. São Paulo:
Editora Saraiva.
MENDES, Gilmar Ferreira et alii. 4.ed. Curso de Direito Constitucional. São
Paulo: Editora Saraiva, 2009.
BINEBOJM, Gustavo. O Sentido da vinculação administrativa à juridicidade
no direito brasileiro. in ARAGÃO, Alexandre Santos de; MARQUES NETO,
Floriano de Azevedo (Coordenadores). Direito administrativo e seus novo
paradigmas. São Paulo; Editora Fórum.
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Todavia, é um tema ainda pouco estudado no Direito, fato que causa miopia
aos seus operadores, e dificulta, sobretudo, a atuação dos gestores públicos,
uma vez que, por meio de ações / decisões judiciais e interpretações legais,
não se consegue aplicar holisticamente este instituto, que passa, por sua
vez, pela percepção da correlação entre institutos jurídicos afins, tais como,
o controle, a execução, a avaliação e a eficiência.
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I - o plano plurianual;
II - as diretrizes orçamentárias;
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3. Política vem do grego pólis, tudo aquilo que diz respeito à cidade. Política está
ligada ao exercício do poder. A utilização do poder político se refere à condução das
coisas do Estado, da Administração. Nesse sentido está sendo utilizada a variável
política, como forma de determinação do rumo do Estado.
4. Há diversas técnicas para a elaboração do planejamento que não serão objeto
aqui porquanto fogem diretamente ao conteúdo jurídico aqui abordado. Mas é
interessante frisar que toda a Administração Pública, seja ela no Executivo, Judiciário
ou Legislativo estão se familiarizando como o chamado Planejamento estratégico,
facilmente vizualizado nos endereços eletrônicos destes órgãos).
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Por outro lado, diversos são os atores sociais envolvidos de forma organizada
(associações, sindicatos, Ministério Público, magistrados, acadêmicos,
entre outros) ou desorganizada, e as respectivas demandas devem ser
representadas no processo de alocação de recursos. Trata-se do campo de
discricionariedade do político dentro do instituto do Planejamento, onde
a sociedade diretamente ou por meio de seus representantes determinará
onde, quanto, como, quando, por quem os recursos do erário serão alocados
de modo a atender o chamado interesse público primário.
O art. 214 é um bom exemplo de tudo que foi explicado acerca do instituto
do Planejamento:
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I - erradicação do analfabetismo;
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1 Referência
ABRAMOVICH, Víctor; PAUTASSI, Laura (org). La Revisión Judicial de Las
Políticas Sociales: estúdio de casos. Buenos Aires: Del Puerto, 2009.
BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a Efetividade de suas
Normas. 9 ed atualizada. Rio de Janeiro: Renovar, 2009.
BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos
fundamentais, democracia e constitucionalização. – 2 ed. revista e
atualizada – Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
BREUS, Thiago Lima. Políticas Públicas no Estado Constitucional:
Problemática da concretização dos Direitos Fundamentais pela Administração
Pública brasileira contemporânea. Belo Horizonte: Fórum, 2007.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Políticas Públicas e pretensões
judiciais determinativa. In: FORTINI, Cristiana; ESTEVES, Júlio César dos
Santos; DIAS, Maria Tereza Fonseca (Org.) Políticas Públicas: possibilidades
e limites. Belo Horizonte: Fórum, 2008. P. 107-125.
GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução ao Estudo do Direito. 38 ed.Rio de
Janeiro: Forense, 2006
PEREIRA, Maria Fernandes Pires de Carvalho. O Estatuto da Cidade e as
perspectivas de novas receitas municipais. In: FORTINI, Cristiana; ESTEVES,
Júlio César dos Santos; DIAS, Maria Tereza Fonseca (Org). Políticas públicas:
possibilidades e limites. Belo Horizonte:Fórum. 2008.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27 ed ajustada ao novo
código civil. São Paulo: Saraiva, 2002
SARMENTO, Daniel; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de (Org). Direitos Sociais:
Fundamentos, Judicialização e Direitos Sociais em Espécie. 2ª tiragem.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
De plano, podemos apontar que o disposto no art. 196 enseja uma análise
histórica da saúde pública por trazer em seu bojo a visão da saúde como
resultante de condições sociais, culturais e econômicas e não apenas como
resultantes de fatores biológicos, genéticos e psíquicos da pessoa humana.
A saúde se assenta, conforme dispõe o art. 196 da CF, em fatores biológicos,
genéticos, psíquicos, sociais, econômicos, culturais, estilo de vida. A
qualidade de vida é um fator essencial na conceituação de saúde do art. 196
da CF.E a dicção do art. 196 compreende a mais moderna definição de saúde
que é a que contempla todos os fatores acima mencionados.
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Além do mais, a escolha desse tema se deve a uma recente decisão judicial
que, se não for revista, poderá desestruturar todo o sistema público de
saúde. Como fundamento decisório do caso que relatarei logo em seguida,
foi ignorada a necessária interpretação sistêmica da Constituição e leis que
a regulamentam. Sabemos todos que não se interpreta a constituição por
tiras. A hermenêutica exige uma sistematização. Mas no SUS isso não tem
ocorrido como se somente existe o art. 196.
O sistema público de saúde não tem sido considerado em seu todo: seus
princípios, diretrizes, competências e responsabilidades. Com a decisão
que abaixo citaremos e outras decisões estaremos adentrando o perigoso
caminho da destruição ao arrepio da Constituição e das leis que o organizam.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Explico.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Esse entendimento - que vem sendo firmado no STF desde 2000 - se assenta
numa decisão do Ministro Ilmar Galvão - RE 226.835/1999 – que, à época,
garantiu ao paciente internação em quarto privativo, sob o fundamento de
que o paciente acometido de leucemia mielóide aguda teria o direito de
manter-se internado em quarto individual em razão de sua doença não
permitir contato com outros pacientes, sob o risco de contágio em
razão da fragilidade de seu sistema imunológico.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
individual, sob pena de sua vida correr risco. Daí ter o Ministro ressaltado
que não estava havendo quebra de isonomia naquele caso pelo fato de a
Justiça estar tratando de maneira diferenciada situação diferenciada; as
situações eram desiguais, por isso não se estabeleceu tratamento desigual
entre pessoas numa mesma situação!
Por outro lado, a decisão judicial se faz acompanhar por outra medida
absurda que é permitir no SUS a escolha de médico privado – que não
integra o SUS – para atuar dentro do sistema público de saúde.
Isso fere de morte o principio basilar da isonomia, de que todos são iguais perante
a lei, ao criar diferenciação de qualidade de serviços: para muitos (os pobres)
internação em quarto com mais de um paciente; para poucos, os que podem
pagar, que se crie no serviço público de saúde, de acesso universal e igualitário
(art. 196, da CF), categoria diferenciada de serviços, na contra-mão do
disposto no art. 7º, IV, que define dentre os princípios do SUS, a igualdade
da assistência, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
O SUS é composto por todas as ações e serviços públicos de saúde (art. 198,
da CF), não estando incluídos os serviços privados. Ora, seria um descalabro
permitir que o SUS venha a ser um sistema de saúde complementar do setor
privado, permitindo que o paciente possa escolher um médico privado e
um tipo de hotelaria e nem precise ir às unidades básicas de saúde para
encaminhamento aos serviços de maior complexidade, como reza a própria
Constituição, ao definir, no art. 198, que o SUS deve se organizar em redes
regionalizadas e hierarquizadas de serviços. Rede hierarquizada significa
uma relação hierárquica em relação à complexidade de serviços.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
Uma pergunta que não pode deixar de ser feita: hotelaria hospitalar é saúde?
Ou é um conforto pessoal? Isso tem a ver com o direito à saúde? Em nome
de hotelaria especial as pessoas pobres ficarão com o seu acesso reduzido
aos serviços médico-hospitalares. E isso é isonômico? É possível permitir que
médicos privados adentrem serviços públicos e recebam por isso?
Por fim, a decisão proferida pelo Ministro Celso de Mello – por absolutamente
equivocada e fundada, toda ela, em decisão do STF que não previa a
internação em acomodação diferenciada, mas sim acomodação em
quarto privativo por ser ínsito à terapêutica do paciente – necessita
urgentemente ser revista pelo STF em nome do princípio da isonomia –
violado flagrantemente - e do sentido de justiça!
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O orçamento público é o instrumento por meio do qual todas as receitas
e despesas públicas são contabilizadas e distribuídas de acordo com as
atribuições e necessidades de cada poder e, no âmbito interno, entre os
órgãos e/ou entidades que os compõem. No Brasil, o poder Executivo de cada
ente da Federação é responsável por consolidar as propostas orçamentárias
dos demais poderes e órgãos autônomos.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
Julgamento do STJ,
De efeito, observa-se que a liberação contemplada
no artigo 168, Constituição Federal, não sendo auto-
aplicável, não é desordenada, obedecendo ao sistema
de programação da despesa (Lei 4320/64). Deveras,
deve efetivar-se de forma parcelada, em duodécimos
correspondentes a cada mês do ano, exigindo-se,
assim, a apuração do valor a ser repassado. Andante,
a liberação ou repasse não tem por base única a
previsão orçamentária e sem a receita real do mês
correspondente. O critério legal permite o equilíbrio,
de modo que não sejam repassados recursos superiores
a arrecadação, evitando-se o sacrifício de obrigações
fundamentais da alçada do executivo. Desse modo,
não se vislumbra o direito líquido e certo à previsão
(expectativa de receita).
4. BRASIL. STJ. Recurso Especial nº 189.146 – RN. Relator: Min. Milton Luiz Pereira.
Ementa: Administrativo. Receita e Despesas Orçamentárias. Transferência ou repasse
de Recursos Orçamentários à conta da Câmara Municipal. Previsão. Receita Real.
Duodécimos. C.F., artigos, 168, 4.320/64. Lei 1.533/51 art. 8º. Disponível em http://
www.stj.jus.br. Acessado em 30 de junho de 2010.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
Julgamento do STF,
2 FUNÇÕES DO ESTADO E
EQUILÍBRIO ENTRE OS PODERES
A função executiva do Estado sempre foi preponderante em face das demais
(legislativa e judiciária) em razão do domínio que exerce sobre duas atribuições
fundamentais: controle dos meios coercitivos estatais e das receitas públicas.
5. BRASIL. STF. Mandado de Segurança nº 23.267-3. Relator: Min. Gilmar Mendes.
Ementa: Mandado de segurança. 2. Ato omissivo do governador do Estado. 3. Atraso
no repasse dos duodécimos correspondentes às dotações orçamentárias do Poder
Judiciário. 4. Art. 168 da Constituição Federal. 5. Independência do Poder Judiciário. 6.
Precedentes. 7. Deferimento da ordem. Disponível em http://www.stf.jus.br. Acessado
em 30 de junho de 2010.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
Para desempenhar suas funções, cada poder necessita de uma série de recursos
(humanos, materiais, tecnológicos etc), para os quais os recursos financeiros
são a matriz geradora. Ou seja, os recursos monetários têm o condão de “se
transformar” em qualquer outro bem econômico demandado pelos poderes
estatais: remuneram a força de trabalho, viabilizam construções, adquirem
equipamentos e materiais de expediente, custeiam o consumo de energia,
os serviços de comunicação... Enfim, são imprescindíveis.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
A verdade é que, talvez não só por isso, mas também por influência dessa
metodologia, o poder Executivo tem adotado uma postura conservadora
quando da previsão da receita pública, conforme pode ser observado na
Tabela 1. Dificilmente ao final do exercício financeiro a receita arrecadada
não supera a previsão atualizada da receita. A taxa de execução da receita
tende sempre a ficar acima dos 100%. No entanto, a reestimativa de receita
foi expressamente proibida pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Devendo os
poderes valer-se dos estudos e estimativas realizados pelo poder Executivo
para elaboração de suas propostas orçamentárias11.
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Seminário Direito, Gestão e Democracia
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
14. BRASIL. Lei Federal nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui normas gerais de
direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios. Disponível em http://www.planalto.gov.br.
Acessado em 30 de junho de 2010. Titulo V – Dos Créditos Adicionais.
15. Notas: a) excetuam-se as despesas intra-orçamentárias; b) excetuam-se as despesas com
refinanciamento da dívida pública; c) a diferença entre dotação e empenho decorre de
superávit financeiro; d) a diferença entre inicial e atualizada decorre de créditos adicionais.
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16. BRASIL. Lei Ordinária Federal nº 12.017, de 12 de agosto de 2009. Dispõe sobre
as diretrizes para a elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2010 e dá outras
providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br. Acessado em 30 de junho
de 2010. Art. 57, §1º. Esse dispositivo compõe também as LDOs dos exercícios 2009,
2008, 2007.
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Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da execução orçamentária dos poderes disponível no SIGA BRASIL.
3 O MODELO PROPOSTO
Uma solução possível para o problema enfrentado seria criar um dispositivo
que pudesse ser interpretado no sentido de que os duodécimos deverão ser
calculados de acordo com o comportamento da arrecadação das receitas,
repartindo, assim, entre todos os poderes, os riscos de uma eventual frustração
de receita, mas também compartilhando entre eles eventuais excessos.
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Por outro lado, destaca-se que é justamente no GND 1 que os poderes Judiciário,
Legislativo e Ministério Público consomem a maior parte de suas despesas
(pouco mais de 80%); em seguida vem o GND 3 com aproximadamente 15%.
O menor volume de despesas dessas instituições está no GND 4, justamente
o que apresenta maior flexibilidade em razão de não ser, em regra, composto
por despesas obrigatórias de caráter continuado.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
4 BIBLIOgRAfIA
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível
em http://www.planalto.gov.br. Acessado em 30 de junho de 2010.
______. Lei Complementar Federal nº 101, de 05 de maio de 2000. Estabelece
normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão
fiscal e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br.
Acessado em 30 de junho de 2010.
______. Lei Ordinária Federal nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui
normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos
e balanços da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Disponível em
http://www.planalto.gov.br. Acessado em 30 de junho de 2010.
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1 INTRODUÇÃO
1.1 O Contrato de Gestão na Administração Pública
Federal
De acordo com o previsto em dispositivo constitucional, o contrato de gestão
tem como objeto a fixação de metas de desempenho e deve ser firmado
entre os administradores dos entes da administração direta, indireta e
entidades privadas qualificadas como organizações sociais e o poder público.
Desde a década de 1990, e especialmente a partir do processo de Reforma
do Aparelho do Estado, o contrato de gestão figura entre os instrumentos
utilizados pela Administração Pública para a melhoria do processo de gestão
(Pereira, 1997). No caso dos entes da administração indireta, aí incluídas as
agências reguladoras, o contrato é considerado um mecanismo de autonomia,
visando o deslocamento da ênfase do controle dos meios para o controle dos
resultados esperados e metas pactuadas (Mônaco, 2007).
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3 RESULTADOS
Os resultados obtidos apontam para a importância do fortalecimento do
acompanhamento como requisito para a incorporação do Contrato como
instrumento de planejamento, gestão e de expressão da efetividade das
ações de vigilância sanitária para a população. Como parte desse aspecto,
considera-se que a definição de critérios para a avaliação objetiva do
alcance das metas permite uma mensuração menos sujeita a interpretações
parciais dos resultados. A responsabilização da Agência no processo de
acompanhamento e avaliação, bem como o envolvimento de um número
maior de atores, disseminou o processo e fortaleceu a discussão interna.
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Limites da Autonomia e do Controle do Poder Executivo
4 BIBLIOGRAFIA
MÔNACO, Gabriel Santana. Agências executivas e contratos de gestão.
A possibilidade de ampliação da autonomia gerencial, orçamentária e
financeira deve ficar restrita apenas às autarquias e fundações? Disponível
em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10423 em abril de 2009.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. A reforma do Estado dos anos 90: lógica
e mecanismos de controle. Disponível em: http://www.clad.org.ve/
fulltext/0030101.html#n* em abril de 2009.
REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE. Indicadores e Dados
Básicos para a Saúde no Brasil (IDB): Ficha de Qualificação. Disponível em:
http://www.ripsa.org.br/php/level.php?lang=pt&component=68&item=2
em abril de 2009.
5 AUTORES:
Regina Célia Borges de Lucena (apresentadora do trabalho)
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1 Introdução
Um dos desafios centrais para as democracias contemporâneas é equacionar o
dilema entre o controle da atuação do Estado e a expansão da capacidade de
ação e resolução de problemas por parte de suas burocracias. Se por um lado,
a imposição de controles sobre o poder administrativo de agentes burocráticos,
encarregados de implementar políticas públicas e decisões políticas, favorece
o exercício de mandatos representativos e a integridade do sistema de checks
and balances; por outro lado, o excesso de controles limita a criatividade e a
capacidade de ação desses agentes na consecução de objetivos importantes
para bem-estar da sociedade. Este estudo parte do reconhecimento de que o
poder discricionário de burocratas nas linhas de frente do serviço público está no
centro do dilema entre controle e expansão da capacidade de ação do Estado.
Isto é, a discricionariedade é foco das investidas de controle assim como fonte
de flexibilidade e criatividade para ação burocrática. Portanto, uma análise
cuidadosa das alternativas existentes para o gerenciamento da discricionariedade
burocrática é passo fundamental na compreensão das condições e estruturas que
possibilitem a reconciliação entre controle e capacidade na burocracia.
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2 O Temor da Discricionariedade
e Respostas Contemporâneas
na Administração Pública
O tema da discricionariedade de agentes burocráticos nas linhas de frente do
serviço público foi tradicionalmente tratado como uma categoria residual por
estudiosos da administração do Estado (Davis, 1969; Hawkins, 1992)3. Isso se
deve, em parte, à ampla aceitação de interpretações relativamente superficiais
dos escritos de Max Weber sobre burocracia. Para Weber, burocracia
representava a forma organizacional de um sistema sociopolítico (sistema
3. De acordo com Davis (1969), antes dos anos 1970 havia numerosos estudos que
abordavam ainda que de forma tangente o tema da discricionariedade, porém,
poucos focaram o tema como objeto central de análise. Tal como afirma o autor,
tradicionalmente, estudos de jurisprudência focavam muito mais a legislação; estudos
na administração pública negavam o componente humano-inidividual e orientado
por valores na gestão de organizações; e estudos na área de direito administrativo
acabavam restringindo-se ao pequeno percentual de ações que envolviam
procedimentos formais e recurso judicial.
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A primeira estratégia tomou forma assim que o FGTS passou a ser considerado
uma prioridade nacional para a fiscalização do trabalho e, seguindo os
princípios da reforma gerencialista, a SIT determinou que cada fiscal em
qualquer ponto do país teria que se submeter às metas de desempenho na
arrecadação de tal receita governamental. A SIT instruiu os fiscais a verificarem
o cumprimento da legislação relativa ao FGTS em toda e qualquer inspeção
realizada por eles, mesmo quando motivadas por outros tipos de vioolação da
legislação trabalhista. Os impactos da definição da arrecadação do FGTS como
prioridade e da definição de metas de desempenho foram consideráveis: a
arrecadação de tal receita pelos fiscais em todo país aumentou em quatro
vezes no período de 1996 a 2005 (Tabela 1).
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A primeira medida adotada pelo GO-FGTS foi estreitar relações com a CEF
(Caixa Econômica Federal), instituição responsável pela administração dos
depósitos ao FGTS. O grupo de auditores-fiscais requisitou acesso aos dados
com os quais poderiam desenvolver um sistema informatizado capaz de
identificar as empresas no estado de Pernambuco com maiores débitos e
prever os setores com maior propensão à evasão e sonegação de FGTS. Uma
vez desenvolvida tal base de dados, o GO-FGTS produziu uma lista dos 1.000
estabelecimentos em Pernambuco com o maior potencial para arrecadação
de FGTS a partir do universo de 62.000 empresas formalmente registradas no
7. Em 2007, o projeto é ampliando e a SIT torna compulsória a criação de grupos
operacionais como esse em todas as 27 Superintendências Regionais.
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Zonea-
mento
(perfor-
141 12.959 12.583.883,16 98,57% 34,81% 971,05 89.247,40
mance
indivi-
dual)
GO-
4 188 23.568.255,16 1,43% 65,19% 125.363,05 5.892.063,79
FGTS
Total
Pernam- 145 13.147 36.152.137,96 100% 100% 2.749,84 249.325,09
buco
Total
3.174 285.462 566.486.244,08 -- -- 1.984,45 178.477,08
Brasil
4 Conclusões: modelos de
gestão, comportamento
burocrático e resultados
A comparação dos dois modelos de gestão ilustrada pela pelo caso da fiscalização
do FGTS, na Superintedência Regional de Trabalho e Emprego de Pernambuco,
deixa claro como os dois métodos para organização do trabalho de inspeção
(gerencialista x experimentalista) envolvem ferramentas significativamente
diferentes por meio das quais supervisores monitoram o desempenho de seus
subordinados, assim como práticas, rotinas e estratégias de fiscalização bastante
diversas. A observação dessas diferenças indica três possíveis conclusões.
Primeiro, cada modelo de gestão oferece sua própria estratégia por meio da
qual supervisores controlam o trabalho de seus funcionários na linha de frente.
As diferentes formas pelas quais superiores monitoram o desempenho de seus
subordinados afetam a motivação e o desempenho dos últimos na realização de
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10. Obviamente, a questão passa a ser quanto espaço ou recursos alocar para cada
modelo no âmbito de uma mesma organização. No caso da inspeção do trabalho
no Brasil, atualmente é possível observar um deslocamento gradual para uma maior
ênfase na organização da inspeção por meio de equipes e projetos especiais, deixando
para trás a predominância do sistema de gratificação por desempenho. Fiscalizações
responsivas e geograficamente circunscritas deverão permanecer, porém apenas
como uma categoria residual, suficientemente para cobrir denúncias emergenciais
feitas por trabalhadores em situações de grave vulnerabilidade (por exemplo, atraso
ou não-pagamento de salários, risco eminente de morte ou acidente, etc.).
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5 Referências Bibliográficas
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