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HEGEL: O movimento do pensamento


Seleção, adaptação e tradução: Iná Camargo Costa

Advertência sobre o texto

Hegel não publicou nenhum dos seus trabalhos em que tratou dos mais legítimos objetos
do pensamento, como religião, arte e o próprio movimento do pensamento. Mas como
dava aulas sobre estes temas, deixou em planos de cursos, aulas e palestras as suas
anotações que foram publicadas postumamente por alguns de seus alunos, juntamente
com as notas destes últimos.

Uma destas publicações é Filosofia da religião, de 1832, com material relativo aos cursos
dos anos de 1821, 1824, 1827 e 1831 sobre este tema. Traduzida para o inglês e o espanhol,
esta obra pode ser encontrada tanto no sítio de Hegel na Internet quanto no volume
publicado em 1985 por Arsenio Guinzo pela editora Fondo de Cultura Económica do
México. Este tomou por base a edição de 1840 (Lasson).

A leitura destes textos permite acompanhar o que Hegel chama de movimento do


pensamento, que é o objeto da Filosofia. Este movimento já começa em sua manifestação
mais elementar, que é a observação de um objeto exterior pelo sujeito e culmina no
Conceito, que é obra do próprio pensamento.

O texto a seguir consiste em uma série de recortes selecionados pelo critério “formas de
manifestação do pensamento”, independente do objeto específico (a religião, neste caso),
só referido aqui nos raros casos em que pode esclarecer alguma questão pontual.

Finalmente, é importante alertar para o fato do material não provir do texto em alemão,
bem como para o esforço de tradução para o português corrente, ou melhor, inspirado nas
traduções para caçanje de Manuel Bandeira1, de modo a evitar ao máximo possível as
formulações mais técnicas que só fazem sentido para os leitores das obras publicadas pelo
próprio Hegel, como é o caso de Fenomenologia do Espírito, Ciência da Lógica,
Enciclopédia das Ciências Filosóficas e Filosofia do Direito. Se o material aqui
apresentado servir como estímulo à leitura destas obras, daremos a nossa missão por
cumprida.

1 Um exercício poético muito produtivo de Manuel Bandeira consistia em submeter poemas da


tradição brasileira a uma rigorosa limpeza a que chamou “tradução pra caçanje”.
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Advertência sobre Movimentos

O chamado senso comum, correspondente àquilo que todo mundo sabe, ainda não
incorporou conhecimentos científicos a respeito do movimento universal que começaram a
ser conquistados a partir do século XVI por gente como Copérnico e Galileu. Prova disto
está no persistente emprego de expressões como “o sol nasce” e o “sol se põe”, que foram
cientificamente desmentidas pelas pesquisas sobre os movimentos de rotação e translação
do nosso planeta. Mesmo sabendo que o “nascer” e o “pôr” do sol são “evidências
sensíveis” (porque aos nossos olhos é o sol que transita de leste a oeste e não a terra que
gira de oeste a leste, no chamado “sentido horário”) que a pesquisa científica já desmentiu
há séculos, continuamos aferrados, pelo menos no plano da linguagem, à “evidência”
sensível.

E assim como continuamos afirmando que o sol “nasce” e “se põe”, em nossas referências
ignoramos de maneira igualmente irredutível uma série de movimentos há muito
demonstrados pela ciência. Por exemplo: já se sabe que o planeta Terra, além de girar
sobre seu próprio eixo (rotação) e em torno do sol (translação), junto com alguns outros
planetas faz parte do sistema solar e que este sistema, por sua vez, junto com uma série de
outros sistemas similares integra uma galáxia chamada Via Láctea que, por sua vez, assim
como a Terra, gira em torno de seu próprio eixo. Todo mundo sabe disso, mas ninguém
incorpora estes conhecimentos às referências espaçotemporais.

Não incorporamos às nossas referências a informação de que a Via Láctea se move a cerca
de 550 quilômetros POR SEGUNDO, nem que UMA rotação da Via Láctea demora 240
milhões de anos. Não incorporamos em nenhum sentido que se conheça a informação de
que a Terra orbita a 107 mil quilômetros por hora, ou 30 quilômetros por segundo em
torno do sol, nem que a rotação da Terra é de 15 graus por hora, ou 15 minutos (graus
também se dividem em minutos e segundos) por minuto. Muito menos incorporamos –
quando dizemos, por exemplo, “voltar” para algum lugar – o conhecimento de que o Sol
acompanha a Via Láctea, e a Terra junto com ele, na mesma velocidade da galáxia, ou a
550 km/s, de modo que é fisicamente impossível “voltar” para qualquer lugar, assim como
simplesmente ignoramos que ao enunciar a conhecida expressão “aqui e agora”, ao final da
enunciação já não estamos mais “aqui”, nem o tempo é mais “agora”.

Da mesma forma que ignoramos estes movimentos elementares do plano físico, ignoramos
que pensamento também é movimento. Este é o assunto preferencial do presente trabalho.
É Hegel quem explica que “aqui” e “agora” só têm o sentido que lhes atribuímos por
referência ao pensamento e não à realidade física pois, entre outros, o pensamento tem o
poder de suprassumir o tempo e o espaço.

E já que falamos em suprassumir, detenhamo-nos pelo menos neste conceito fundamental


de Hegel, que traduz a palavra alemã Aufhebung. Suprassumir é a principal ação do
pensamento. Estamos adotando a palavra encontrada por Paulo Meneses para a sua
tradução da Fenomenologia do Espírito. Apesar das objeções de seus leitores, ele a
manteve na segunda edição2 por inúmeras excelentes razões, mas não disse naquela
exposição de motivos que o próprio Hegel contrapõe suprassunção a subsunção quando
define Aufhebung. Para uma língua neolatina como o português, mesmo quando se trata
de Filosofia, é muito mais produtivo dispor de um par de opostos que tenham as mesmas

2 HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Trad. Paulo Meneses, 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
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raízes latinas. “Subsum” em latim significa “estar debaixo”. Por oposição a “sub-”, o prefixo
“supra-” significa estar acima e é disto mesmo que se trata: enquanto subsumir é
enquadrar um objeto em seu conceito, suprassumir vem a ser forjar um conceito que se
coloque acima dos já existentes incluindo em si mesmo todos os anteriores. Paulo Arantes
expôs de modo exaustivo em seu Hegel: a ordem do tempo3, no capítulo “A temporalidade
cumulativa”, os mais variados modos nos quais suprassumir resume o trabalho do
pensamento ao forjar seus conceitos, destacando nestes processos o papel central da
linguagem – que Hegel chamava de “instrumento de trabalho do espírito” –, a começar
pela suprassunção do “aqui” e “agora”.

3Cf. ARANTES, Paulo Eduardo. Hegel: a ordem do tempo. 2ª ed. São Paulo: Hucitec/Polis, 2000,
pp. 213-301.
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Preliminar

Em Hegel há uma distinção importante – exposta na Fenomenologia do Espírito – que


vale a pena referir logo de início, porque ajuda a identificar os seus mais imediatos
interlocutores, os filósofos iluministas. Estes seriam personificados no conceito de
Intelecto, praticantes do pensamento raciocinante. Em oposição a ele, a Filosofia do
próprio Hegel se reivindica como pensamento racional: o pensamento raciocinante
consiste no arbítrio subjetivo em relação ao conteúdo e na vaidade de pairar acima dele. O
pensamento racional exige que o arbítrio se transforme em liberdade que deixa o conteúdo
se mover segundo a sua própria natureza e contempla esse movimento. O Conceito, ou a
Verdade, é o resultado desta atenção do pensamento para com o seu conteúdo4.

Esta espécie de aviso nos permite desde já lembrar que para Hegel uma das determinações
fundamentais da Filosofia é a de que para o sujeito só vale o que se confirma em seu
próprio espírito. Este é um princípio que também está vivo na representação do senso
comum; já existe como pressuposto em todos os espíritos. A diferença é que a Filosofia não
se detém neste conteúdo.

De agora em diante, todos os textos são do próprio Hegel. Eles apenas foram traduzidos
(como foi dito, mas não custa reiterar, do espanhol e do inglês) para um português que
espera ser legível por qualquer adulto alfabetizado.

4 HEGEL, mais ou menos conforme a tradução de Henrique Vaz para a primeira edição brasileira da
Fenomenologia do Espírito, apud ARANTES, Paulo Eduardo. Ressentimento da Dialética. São
Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 35. Paulo Arantes ainda complementa: “a atenção penosa exigida pelo
Conceito é o fruto circunspecto de uma ascese cuja etapa mais significativa implica a renúncia ao
intelectual para que possa nascer o pensador na sua função propriamente especulativa”.
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I - FILOSOFIA

Os segredos do pensamento raciocinante

Se o saber permanecer só no sujeito, ele é finito e imediato. A Filosofia dissolve o caráter


unilateral e desprovido de verdade da afirmação do saber imediato. Este só sabe da relação
do objeto com a consciência porque a unidade inseparável destas duas determinações –
objeto e consciência – já pressupõe a identidade.

O pensamento raciocinante questiona a possibilidade da razão humana conhecer a


verdade. Afirma que, em relação à Vida, ao Espírito, ao Infinito, o conhecimento só produz
erros e tem que renunciar a qualquer pretensão de apreender o Espírito de forma positiva.
É por isto que entra em cena a supervalorização do sentimento, que é uma das operações
do ceticismo moderno, que valoriza a subjetividade contingente e questiona as condições
de possibilidade de qualquer conhecimento. Este ponto de vista é extremamente
materialista, pois reduz tanto o espírito quanto o pensamento ao meramente material, para
o qual a própria verdade se torna questão de sentimento.

O problema que este ceticismo se recusa a enfrentar é que aquilo que se enraíza no
sentimento só existe para o sujeito e não por si, não tem objetividade.

Kant formulou por extenso a exigência que o intelecto faz à Filosofia: é preciso investigar a
natureza do conhecimento antes de conhecer. Esta é uma analogia indevida que a própria
experiência desmente: assim como se aprende a nadar nadando, a investigação sobre o
conhecimento se faz conhecendo. A investigação sobre a Razão tem que ser racional. Nós já
adotamos uma atitude cognoscente sobre a razão absoluta ao investigar e conhecer a razão
absoluta. Espírito Absoluto é saber, saber determinado e racional sobre si mesmo. A
ocupação com este objeto é, portanto, imediata. Abordamos e investigamos o
conhecimento racional imediatamente e este conhecimento é saber, é investigação racional
e compreensiva.

O segredo do pensamento raciocinante é muito simples: sua concepção de razão e de


espírito é restrita ao espírito finito. Mas ele não reconhece que as próprias ciências que
tratam do finito e do contingente precisam do socorro da Filosofia quando querem
ultrapassar a contingência.

Foi justamente na experiência religiosa que a humanidade conquistou a capacidade de se


elevar acima do finito em geral, acima da existência, das condições, finalidades e interesses
finitos; dos pensamentos e das relações finitas de todos os gêneros. A Filosofia se beneficia
desta experiência e a explica. Seus inimigos usam como argumento contra ela pensamentos
finitos, relações limitadas, categorias e formas do finito, como “imediatidade do saber” e
“fato da consciência”. Estas categorias são as oposições entre finito e infinito, sujeito e
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objeto. No Espírito há determinações muito diferentes delas, mas é delas que o intelecto se
serve para combater a Filosofia.

A partir de suas categorias, o intelecto estabelece uma oposição ao Conceito, à Ideia e ao


conhecimento racional. As categorias são usadas acriticamente, de modo totalmente
ingênuo, como se não existisse a Crítica da Razão Pura em que Kant as combateu,
chegando ao resultado de que elas só se prestam ao conhecimento dos fenômenos. Chega a
ser constrangedor o modo como são desfraldadas estas categorias contra a Filosofia para
demonstrar triunfalmente um conhecimento daquilo que todo mundo sabe: que finito é
diferente de infinito; sujeito é diferente de objeto; imediato é diferente de mediado e assim
por diante. Os que combatem a Filosofia com as armas do pensamento finito são inclusive
incapazes de compreender a mais elementar proposição filosófica, pois não compreendem
a sua infinitude e nela introduzem relações finitas.

Mas a Filosofia é incansável e se submete à penosa tarefa de investigar cuidadosamente o


ponto de vista dos seus adversários, porque isto é necessário segundo o seu próprio
Conceito. É da sua natureza conhecer a si mesma e a seu contrário. Mas como a recíproca
não é verdadeira, não são os adversários os nossos interlocutores.

Saber imediato e mediado

Não é preciso ter muita experiência para perceber que todo saber imediato também é
mediado e vice-versa. Tomados separadamente são unilaterais. A unilateralidade torna as
determinações finitas. A conexão entre saber imediato e mediado é uma relação de
infinitude. O mesmo acontece com sujeito e objeto. Num sujeito – que em si é objetivo –
desaparece a unilateralidade, mas não a diferença. Não é mera união de sujeito e objeto,
pois a diferença não se extingue, mas ela é suprassumida. O pensamento raciocinante do
intelecto usa estes conceitos de modo primário e grosseiro, porque não os examina a
fundo.

O método da Filosofia consiste em que o Conceito se explica a si mesmo. Primeiro vem o


conceito e em seguida o conceito em suas formas determinadas.

O Conceito é o universal. E vem primeiro por ser a própria coisa, a substância. O conceito
contém toda a natureza do objeto e conhecimento nada mais é que o desenvolvimento do
conceito, daquilo que está contido no conceito e que ainda não chegou à existência, ou não
está explicitado nem exposto.

O conceito de qualquer objeto é o próprio objeto em sua finitude. Ele é finito e unilateral.
Está em relação com os demais objetos como algo particular com outros particulares. A
consumação da determinação do conceito é a sua posição, é sua reduplicação. O conceito
volta a si a partir da sua determinidade e sua finitude. Ele se estabelece a partir desta
finitude e limitação. O conceito restabelecido é o conceito infinito, verdadeiro, é a Ideia
Absoluta.
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O método verdadeiro e absoluto do conhecer é acompanhar o conceito em todo o seu


movimento. As etapas são: 1) conceito; 2) conceito em seu ser determinado e 3) conceito
infinito.

Representação e subjetividade

A consciência subjetiva representa; o pensamento racional compreende. Através do exame


das representações é possível ver a relação entre espírito finito (c0nsciência) e infinito
(razão), tal como se dá em cada uma daquelas três etapas.

Todos temos representações e intuições e elas constituem um conteúdo determinado: esta


casa, esta árvore, etc. São intuições do Eu, o Eu as representa, por exemplo, através de
imagens. Mas não poderia representá-las se não apreendesse em si mesmo o seu conteúdo.
O conteúdo deve ser posto em mim de um modo simples, isto é, ideal. Idealidade significa
suprassumir o ser exterior ao Eu, suprassumir a espacialidade, a temporalidade, a
materialidade, a dispersão. Na condição de objeto do meu saber, estas representações se
encontram em mim de modo simples.

Espírito é saber. Mas para chegar a ser saber, o conteúdo do que é sabido pelo espírito
precisa ter alcançado esta forma ideal, isto é, precisa ter sido negado.

Sentimento é sempre apenas sentimento. Há inúmeros sentimentos, os mais variados. Eles


são diferentes entre si e determinados. Pela observação do sentimento, aprendemos que
dele interessa a determinação particular, não o sentimento.

Pensar de forma determinada significa pensar um conteúdo. Pensamento é um movimento


mediador. O pensamento compreensivo (ou racional) desenvolve sua matéria a partir de si
mesmo. De início ele é imediato, indiferenciado, pura identidade consigo mesmo. Também
o objeto se mostra como identidade pura, como universalidade abstrata. A atividade do
pensamento é universalizar. O Eu só pensa quando dissolve a particularidade na simples
universalidade. O pensamento está presente o tempo todo, por mais concreta que seja a
atitude do Eu. Mas só se chama pensamento quando o seu conteúdo tem a determinação
de algo abstrato e universal.

Ao contrário do pensamento mediador, o pensamento imediato só contém o universal sem


mediação nem particularização. Seu produto imediato é o mero universal indeterminado.
Nele o objeto tem o mesmo conteúdo que o sujeito. Seu único conteúdo é o “Eu penso” –
uma tautologia. Por isso a relação é imediata. O conteúdo do saber imediato é apenas o
universal, sem nenhum outro conteúdo nem significação determinada. Ele apenas não é do
âmbito da intuição sensível.

No saber imediato, a consciência só sabe que o universal é. O que ela não sabe é que este
universal é resultado do pensamento e que, portanto, o próprio saber imediato já depende
do pensamento.
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A Lógica explica o que é o ser: é a própria universalidade tomada em seu sentido mais
abstrato, vazio, a pura referência a si mesmo, a exclusão de toda relação, tanto para dentro
quanto para fora. É a total ausência de determinações, a unidade consigo mesmo, antes de
qualquer outro, antes de qualquer mediação. O ser exclui toda relação, toda determinação
concreta. Quando se diz “este objeto é”, se manifesta o ponto extremo da aridez da
abstração. Trata-se da determinação mais vazia, mais pobre.

A própria unidade consigo mesmo também já é o universal, embora o universal já expresse


uma relação do sujeito com o particular e o singular. Eu posso representar o particular e o
singular como fora do universal, mas na verdade o universal é o trânsito pelo particular. O
particular está contido no universal. O universal, propriamente, não é uma imediatidade.
Quando o universal se relaciona consigo mesmo na particularização, está sendo aplicada a
ele a imediatidade do ser, mas não pode haver concepção mais vazia do universal do que
esta.

Saber é pensar. Saber imediato é o universal que contém em si apenas a determinação do


universal abstrato, a imediatidade, o ser. Este é o âmbito da lógica abstrata. Isto ocorre
sempre que acreditamos estar num terreno concreto, o da consciência imediata, que é o
mais pobre e o mais vazio dos pensamentos. Não há ignorância maior do que pensar que o
saber imediato está fora do domínio do pensamento. Na verdade, o “saber imediato”
consiste em afirmar que “eu só sei que o universal é”. Este é o ponto de vista do
Iluminismo.

Dialética do saber imediato

De acordo com o pensamento raciocinante, imediatidade exclui a mediação. O problema é


que mesmo quando nos comportamos empiricamente, de um modo voltado ao exterior,
não há nada de imediato. O imediato já é mediado; a imediatidade é essencialmente
mediada. Cada coisa, cada indivíduo, é resultado de mediação. As coisas finitas – das
estrelas aos animais – resultaram de mediação. Quando dizemos que um homem é pai, o
filho será algo mediado e o pai aparece como imediato, mas este homem, ao gerar,
também é algo que foi gerado e, portanto, é mediado. Todo ser vivo é mediado.

O ser só é imediato se não levarmos em consideração a relação. Como parte da relação, ele
é sempre mediado. Causa só é causa se tiver um efeito, de modo que a causa também é
mediada. O mediado é relativo, é essencialmente relação; precisa de outro para ser, para a
sua imediatidade.

O pensamento raciocinante – ou mau intelecto – acredita que na imediatidade temos algo


autônomo frente ao mediado. Para o pensamento racional, que é dialético, o ser enquanto
ser não é verdadeiro. A verdade do ser é o devir. Devir é uma determinação que se refere a
si mesma, totalmente imediata, que contém em si as determinações de ser e não ser. Não
há nada de imediato. A tese do saber imediato é “sabedoria escolástica” que só ocorre ao
mau intelecto.
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A verdade é que saber imediato é aquele em que não temos consciência da mediação.
Temos sentimento e ele aparece como imediato, assim como a mediação aparece sob a
forma da imediatidade.

Numa intuição, eu sou ao mesmo tempo saber e intuir. Depois é que vem o objeto. Se ele
vier de fora, é chamado objeto e se vier de dentro é chamado determinidade.

Sempre que um conteúdo é dado, são necessárias duas coisas. O saber é totalmente
simples, mas eu devo saber algo. Se eu for só saber, não sei nada, assim como puro ver é
não ver nada.

A intuição é um processo no qual se dão conjuntamente o universal – o saber, que é


subjetivo – e um objeto. Em todo saber há algo subjetivo e um conteúdo. Trata-se
essencialmente de coisas diferentes que já contêm essencialmente uma mediação.

Temos então que “saber imediato” não existe e no entanto nos dizem que ele é o
verdadeiro. Por outro lado, no saber real – que é mediado – há o eu que sabe e o objeto que
é sabido. Mas também é preciso saber que saber meramente mediado não é
necessariamente real. Um saber simplesmente mediado também é abstração vazia.

Qualquer pessoa educada – instruída pelo senso comum, por doutrinas religiosas e teorias
científicas desde a mais tenra infância – tende a se esquecer de todo este saber mediado
que lhe foi transmitido. Ao afirmar seu “saber imediato”, deixa no passado toda a história
da sua formação enquanto indivíduo, ou abstrai todas as mediações. Todas as crenças,
todas as convicções são mediadas.

Isto posto, é importante não perder de vista que este saber – dito imediato, mas que na
verdade é mediado – é necessário. Mas exige ser compreendido como mediado. Aliás, era a
isto que Platão se referia quando dizia que o ser humano (adulto) não aprende, apenas
recorda. Não se trata da referência mística a alguma vida anterior, mas sim à formação, a
tudo o que é saber em matéria de justiça, de direito, de vida em comum e constitui aquilo a
que chamamos de esfera espiritual. O ser humano é espírito em si, a verdade se encontra
nele e ele deve se tornar consciente dela.

A forma do sentimento

Quando digo “eu tenho este sentimento”, isto significa apenas que um conteúdo é meu
enquanto este indivíduo particular. Este conteúdo me pertence, é para mim, eu sei dele em
sua determinação e ao mesmo tempo sei de mim nesta determinação. É ao mesmo tempo
um conteúdo e o sentimento de si. O conteúdo é de tal ordem que a minha particularidade
está unida a ele.

No sentimento temos duas realidades – a consciência e um objeto –, ambas com o mesmo


conteúdo. Passamos do sentimento para a consciência e surge uma separação que não
estava presente no sentimento enquanto tal. Esta separação é feita pela reflexão, pois não
se encontra no sentimento, uma vez que aquele que sente e aquilo que é sentido são a
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mesma coisa. Não se separam sujeito e objeto enquanto sentimento de alguma coisa.
Duplo ser vale para o sentido (visão, audição). No sentimento, a determinação do objeto se
torna minha. Se o objeto permanecer autônomo, não será encontrado no sentimento – não
se gostará dele, por exemplo. Mas no sentido objetivo realizamos imediatamente o trânsito
do conteúdo: pressupomos que existe um objeto externo que corresponde ao sentido. A
visão é o sentido ideal, que deixa o objeto livre. Ela inclusive o rejeita imediatamente e, ao
fazê-lo, conduz o sentimento à consciência. Por isto a consciência é a forma do sentimento.

O sentimento é capaz de assumir os conteúdos mais inumeráveis. Não temos sentimento


só das coisas sensíveis, temos sentimento também de outro tipo de conteúdo: justiça,
direito, cores, sons, amizade, inimizade, amor. Em nosso sentimento, além do real,
também se encontra o imaginário, o falso, todo o bem e todo o mal, todo o real e o irreal.
No sentimento se encontra uma coisa e seu oposto – justiça e injustiça, por exemplo.
Encontra-se o mais contraditório (amor e ódio ao mesmo tempo), o mais vil, o mais
elevado e o mais nobre. E todos sabemos disto por experiência. Sinto objetos imaginários e
posso me entusiasmar com o que houver de mais indigno. Tenho medo, coragem,
desânimo e esperança. A esperança é um sentimento no qual, assim como no medo, está
presente o futuro de modo imediato, como algo que ainda não existe, que pode existir mais
tarde e pode não existir nunca. Da mesma forma, posso me entusiasmar com algo que já
passou e com algo que nunca existiu nem existirá. Posso me imaginar como um homem
hábil, um grande homem, capaz de me sacrificar pelo direito, por minhas convicções,
posso imaginar que fui muito útil, ter realizado muitas coisas. O problema é saber se isto é
verdade, se as coisas são como as sentimos.

O fato de alguma coisa integrar meu sentimento não significa grande coisa a seu favor. O
caráter verdadeiro do sentimento não depende dele, mas do conteúdo encoberto pela
forma. Não importa que o sentimento tenha um conteúdo em geral, pois o que pode haver
de pior também pode estar nele. A existência do conteúdo não depende (como acabamos
de ver) de estar no sentimento. O sentimento é forma adequada a qualquer conteúdo
possível sem que por isto o conteúdo receba qualquer determinação. No sentimento, o
conteúdo é posto como totalmente contingente. O conteúdo pode ser posto como eu bem
entender, tanto pelo meu arbítrio quanto de acordo com a sua natureza. Como o conteúdo
é contingente para mim, nele eu me encontro no grau máximo de dependência – que é o
oposto de liberdade. O próprio arbítrio é do âmbito da contingência. O arbítrio não está
determinado em-e-para-si, não é posto pelo universal. O sentimento é, portanto, o
particular, o limitado, e deste modo é indiferente que ele seja este ou aquele conteúdo, já
que em meu sentimento pode haver qualquer conteúdo. O sentimento não possui nele
mesmo a forma da autodeterminação que acontece no pensamento. O pensamento dá a si
mesmo todo conteúdo através de sua forma enquanto pensamento. No sentimento, o
conteúdo mais elevado não se distingue do pior dos conteúdos, da mesma forma que a flor
mais majestosa cresce junto com a erva daninha. Finalmente: para que alguma coisa se
encontre no sentimento, ela tem que ter sido conhecida em outro lugar.

Para ser justo e verdadeiro, o sentimento depende de suas determinações, que são o seu
conteúdo. O direito é um deles. Ele constitui o meu sentimento, ou faz parte do meu
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caráter, do meu ser. Este mesmo conteúdo pode existir como inclinação, como lei ética ou
como lei do Estado.

Um conteúdo não é verdadeiro ou justo porque se encontra no meu sentimento, mas é


comum a afirmação contrária, na qual o sentimento é convertido em critério do ético e do
verdadeiro. O passo seguinte é a representação de que o sentimento é a fonte deste
conteúdo, como neste exemplo: o sentimento de igualdade seria a fonte do direito. Este
ponto de vista afirma que se deve perguntar ao coração para verificar o que é justo e ético.

Toda a nossa consciência contradiz terminantemente essa afirmação. A valorização do


sentimento decorre da crença de que quando sentimos estamos implicados, pessoal e
subjetivamente, segundo o nosso modo de ser particular. No sentimento faríamos valer a
coisa e nós mesmos. É por isto que a Filosofia considera o sentimento como a subjetividade
no pior sentido da palavra. Para nós, a personalidade – a suprema identidade do espírito
subjetivo consigo mesmo –, a autodeterminação, precisa ser considerada como a
subjetividade num sentido muito superior ao do sentimento. É também pela subjetividade
inferior que, quando não temos mais argumentos (racionais), apelamos para o sentimento.
Quando alguém apela para o sentimento, não há mais diálogo, pois os interlocutores se
fecham no sentimento, na unidade da sua particularidade, que é inatingível. Com o apelo
ao sentimento, a comunidade se desintegra.

Ao contrário, mediante o pensamento, mediante o conceito, estamos no terreno na


universalidade, da racionalidade, e temos diante de nós a natureza da coisa. Sobre isto
pode haver acordo, porque a coisa é o comum e a ela nos submetemos. Mas se passarmos
ao sentimento, abandonaremos o terreno em que é possível uma compreensão objetiva
universal e nos fecharemos na esfera da contingência. Nesta esfera não se considera a
natureza necessária da coisa, só se olha para o modo como ela se encontra em nós.

Sentimento é o que o ser humano tem em comum com os animais. É por isto que ele é a
pior forma de demonstrar ou fundamentar conteúdos como o direito e a vida ética. Estes
conteúdos têm por base o pensamento e não sentimento. Tudo o que tem base no
pensamento pode revestir a forma do sentimento. Direito, liberdade, eticidade têm raiz na
determinação superior em que o ser humano não é apenas animal, é também espírito. O
sentimento de justiça, por exemplo, procede de um terreno totalmente distinto dele. No
entanto, o sentimento de justiça ou de liberdade é a pior forma destes conteúdos, porque o
sentimento não assegura a sua verdade. O sentimento é o ponto de vista do ser subjetivo,
contingente. O indivíduo tem como missão dar a seu espírito um conteúdo verdadeiro. O
sentimento permanece no plano empírico, não é livre. O verdadeiro e o autêntico se devem
ao cultivo do pensamento. Só através do pensamento se alcança o conteúdo da
representação e do sentimento.

No pensamento nos esquecemos de nós, só está presente o conteúdo objetivo. Um


indivíduo de caráter que fixa um fim sólido para si e o persegue por toda a vida pode se
comportar com toda a frieza em relação a ele. Vive apenas para a coisa, para o fim. Ao
contrário disto, o calor do sentimento (que costumamos chamar de paixão) significa
apenas que o indivíduo está na coisa com a sua particularidade – mas isto não interessa à
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Filosofia e sim à Antropologia. O caráter particular de uma pessoa é a corporeidade e o


sentimento pertence a este aspecto da corporeidade. O âmbito do sentir é o que se chama
coração, ânimo.

É certo que devemos ter a justiça, a ética, no coração. Mas o sentimento enquanto tal é
fugaz e momentâneo. No coração, ele já se expressa como persistente, como existência
estável. O coração expressa o que eu sou como uma realidade universal concreta e singular.
É meu caráter, são os meus princípios. Um conteúdo deve me pertencer assim, como
minha realidade última, meu modo de proceder, minha realidade. É, portanto, essencial
que todo conteúdo verdadeiro se encontre no meu sentimento e no meu coração. E é por
isto que existe a exigência de que o indivíduo seja educado, isto é, formado ética e
juridicamente. Não basta saber, ter consciência do direito e da justiça. É preciso estar
convencido, tudo isto tem que estar no sentimento e no coração. Esta é uma exigência
justa. Ela significa que estes interesses também devem ser nossos essencialmente, que
devemos nos identificar com este conteúdo. Eu devo ser totalmente dominado por esta
forma. Esta determinação deve ser algo próprio do meu caráter e, para isto, é essencial que
todo conteúdo verdadeiro se encontre no sentimento e no coração. O que temos no coração
constitui a nossa forma de pensar: assim somos nós. O sentimento expressa esta
identificação do conteúdo com a subjetividade, com a personalidade do indivíduo. Para
agir segundo princípios, além de conhecê-los é preciso tê-los no coração. Uma mera
convicção pode ser contrariada por inclinações opostas mas, se uma convicção está no
coração, o agente atua de acordo com o seu ser.

Sentimento e representação

O que está presente no coração está presente na autoconsciência, na inteligência e na


vontade. É neste sentido que o conteúdo se encontra no sentimento.

O pensamento raciocinante contrapõe a forma da representação à forma do sentimento,


relacionando o sentimento à subjetividade e a representação à objetividade. Em parte esta
contraposição é correta pois, como já vimos, por sua subjetividade, o sentimento é tão
indeterminado que não pode justificar nenhum conteúdo. É na representação que o
conteúdo aparece pela primeira vez em sua objetividade. A representação é a forma mais
objetiva da presença do conteúdo na consciência. Se o verdadeiro e válido para mim tem
que estar no sentimento, este é o limite extremo da subjetividade. A representação, ao
contrário, contém o mais objetivo, aquilo que constitui o conteúdo, a determinação do
sentimento. Na representação, o conteúdo tem que se legitimar, se dar a conhecer como
verdadeiro.

A representação é necessária para que o conteúdo chegue ao sentimento e à consciência.


Esta representação exige a doutrina, a teoria e o ensino. A formação começa por aqui.

As determinações do direito e da justiça são determinações da vontade racional, ou do


pensamento. Eu sou vontade. Não sou apenas desejo e apetite; não me limito a ter
inclinações. Sou muito mais que isto. Sou dotado de vontade racional, que é muito
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diferente da vontade animal e contingente do querer segundo impulsos e inclinações


contingentes. A vontade racional se determina segundo o seu conceito, ou sua substância,
que é a liberdade pura. Todas as determinações racionais da vontade são
desenvolvimentos da liberdade. Estes desenvolvimentos são os direitos e os deveres
racionais. Constituem um conteúdo que pertence de modo essencial ao pensamento. A
vontade só é racional enquanto pensante. É um erro pensar que vontade e inteligência são
compartimentos distintos no espírito e que, sem o pensamento, a vontade pode ter um
caráter racional e ético.

Se a forma verdadeira de qualquer conteúdo só se encontra no pensamento, ela estará de


forma no mínimo inadequada no sentimento. Isto porque a determinação fundamental do
sentimento é a particularidade, é o caráter particular da subjetividade do indivíduo. Os
conceitos de justiça, do ético, do bem, não podem depender de que o indivíduo faça valer
como tais a sua particularidade, o seu egoísmo, a sua mesmidade pois, nestas formas, antes
teremos o mal que o bem. Se o sentimento justificasse algum conteúdo, desapareceria a
diferença entre bem e mal, pois em todos os seus graus, matizes e modificações o mal se
encontra no sentimento da mesma maneira que o bem. Tudo o que é mau, todo delito,
todas as paixões negativas – ira, ódio, rancor – tem raiz no sentimento. O indivíduo mau
passa por cima do justo e do ético movido por seu sentimento, que antepõe seu interesse
particular, seu fim determinado, a todas as outras determinações. O mesmo acontece com
a mera opinião: um opina e sente isto, outro aquilo, o primeiro muda para aquilo e aquele
outro. Um assassino age movido por sentimento: ele sente que deve agir assim. Toda e
qualquer vilania pode se expressar pelo sentimento.

Não é, portanto, o sentimento que importa (já que ele pode ser qualquer coisa), mas sim o
seu conteúdo. Para que o sentimento também seja verdadeiro, seu conteúdo deve ser
verdadeiro independente das circunstâncias, e isto consiste em ser universal. E por isto se
diz que o sentimento deve ser purificado, ou seja, formado, pois os sentimentos naturais
não são móveis de conduta adequados. Isto também significa que o conteúdo do coração
enquanto tal não é verdadeiro. Como já vimos, só se apreende o verdadeiro, em primeiro
lugar, pela representação e, em segundo lugar, pelo pensamento.

A certeza imediata, ou sensível, reveste a forma do sentimento e da representação. Mas


também assume a forma do pensamento. A esta chamamos convicção. O pensamento
raciocinante assimilou convicção a sentimento. Mas convicção consiste em reconhecer um
conteúdo, apropriar-se dele. A presença do conteúdo na convicção está mediada pelo
pensamento, pela inteligência. Quando um indivíduo age por convicção, a palavra
convicção significa que o conteúdo é um poder que o dirige. O conteúdo é o seu poder e o
sujeito é o poder do conteúdo. Neste caso, ele age com tanta intensidade como quando é
levado pelo sentimento, pelo coração. O conteúdo foi totalmente apropriado por ele.

O ser humano ama o sentimento porque nele está exclusivamente a sua particularidade.
No sentimento se produz constantemente a reminiscência do Eu, ao passo que quem vive a
própria coisa (o conteúdo), seja ela ciência, arte, direito, se esquece de si mesmo. É por isto
que a frivolidade, a autocomplacência, querendo continuamente o próprio prazer, remete
prazerosamente ao sentimento. E assim o arbítrio e o capricho se apoiam exclusivamente
14

em si mesmos – e não no conteúdo –, assim como não se baseiam numa conduta objetiva.
Quem só se preocupa com o sentimento ainda não completou a sua formação, é um
principiante no saber e no agir.

Representação e pensamento

A forma do sentimento constitui a certeza subjetiva do conteúdo. A da representação


constitui o aspecto objetivo, ou o conteúdo da certeza. Pode-se também chamar a
representação de intuição, desde que se tenha o cuidado de não a confundir com intuição
sensível. No caso da representação, intuição designa sempre a consciência de um objeto.

Pertencem à representação as formas, ou configurações, sensíveis. Imagens são formas


sensíveis cujo conteúdo fundamental e cujo modo fundamental de representação provém
da intuição imediata. Somos imediatamente conscientes de que são imagens e de que
significam coisa distinta daquilo que a imagem propriamente dita significa em princípio.
Sabemos que se trata de algo simbólico, metafórico, ou alegórico, que estamos diante de
uma dupla realidade. Temos, por um lado, o imediato exterior e, por outro, o que se
entende por ele (o interior). Existem muitas representações que procedem ao mesmo
tempo de uma intuição sensível imediata e de uma intuição interna. Alguns exemplos: ira
divina, caixa de Pandora, Prometeu criador da humanidade. São todas imagens com um
significado impróprio.

No que se refere ao sensível, o modo da representação, além de abarcar o que é


manifestamente imagem, abarca o que devemos entender como histórico. Há as
representações de caráter histórico que podem ser levadas a sério, como as de Heródoto,
mas não podemos levar a sério o que Homero diz sobre os deuses, por mais que nos
agradem aquelas narrativas. Assim como todo mito possui um significado, uma alegoria,
toda história possui em geral esta dupla dimensão. A dimensão interna da história – seu
conteúdo verdadeiro – é objeto da razão. A externa, que apela aos sentidos (à
representação) é objeto do intelecto.

Toda história contém uma série externa de acontecimentos e ações que dizem respeito a
um ser humano, um espírito. Quando se trata da história de um Estado, trata-se da ação,
da obra, do destino de um Espírito Universal, que é o espírito de um povo. Todo povo já
possui em si mesmo uma universalidade em si mesma.

Até no sentido mais superficial se pode dizer que de toda história é possível extrair uma
moral. Esta moral contém no mínimo os poderes (e valores) éticos que intervieram em
uma ação, que produziram um acontecimento. Os poderes éticos constituem a dimensão
interna, substancial, de qualquer história. Toda história possui de início um caráter
particular, singularizado, individualizado ao máximo. Mas também é possível e
recomendável reconhecer nela as leis universais, os poderes éticos.

A representação não reconhece estes poderes éticos. Ela concebe a história tal como esta
se apresenta no mundo fenomênico. Mas até para o indivíduo cujos pensamentos e
15

conceitos ainda não experimentaram nenhuma elaboração determinada, qualquer história


contém aqueles poderes internos. Ele os sente, tem uma consciência pensante destes
poderes. Até uma imagem, para a consciência mais comum, para a consciência em seu
nível geral de formação, é essencialmente um conteúdo que à primeira vista se apresenta
de forma sensível, numa série de ações, de determinações sensíveis, que se sucedem no
tempo e depois se justapõem no espaço. O conteúdo é empírico, concreto, múltiplo,
diversificado. A união desta diversidade se produz em parte mediante a justaposição
espacial e em parte mediante a sucessão temporal. Mas ao mesmo tempo este conteúdo
tem uma dimensão interna. Nele está presente um espírito objetivo que atua sobre um
espírito subjetivo. O espírito subjetivo dá testemunho do espírito que encontra no
conteúdo, mesmo que de início através de um reconhecimento não muito claro, pouco
elaborado pela consciência.

É da natureza da representação expor o conteúdo espiritual em sua simplicidade, numa


ação, numa atividade, numa relação em sua forma simples. A “criação do mundo” é uma
representação. O próprio Deus é esta representação. Quando dizemos mundo, também
estamos no modo da representação simples. Ainda não é conceito, porque está no nível da
representação.

Todo o conteúdo do espiritual, todas as relações em geral, qualquer que seja o seu tipo
(determinação, causa e efeito, ação recíproca, etc.), um soberano, um tribunal, um
parlamento, etc. são representações. O próprio Espírito é uma representação. São
representações que têm origem no pensamento, mas têm a forma da representação porque
se referem simplesmente a si mesmas e se dão de uma forma autonomizada.

As formas por excelência de conexão da representação são e e também. Outras da mesma


ordem: ou, ou; por um lado, por outro. Conceitos, como bom, justo, sábio, pertencerão à
esfera da representação enquanto não forem analisados em si mesmos, segundo a sua
relação recíproca.

O conteúdo espiritual contém em si múltiplas determinações. Quando a conexão desta


multiplicidade é concebida de modo externo, temos a representação dele. A representação
põe apenas uma identidade externa e diz: “acontece alguma coisa”; “muda-se”; “se isto,
também aquilo e, portanto, é assim”. Nestas fórmulas da representação, as determinações
possuem um coeficiente de contingência que só perderão na forma do conceito. Na
representação, o conteúdo essencial se mantém na forma da simples universalidade que o
encobre. Para chegar ao conceito, o conteúdo precisa passar para outra coisa por si mesmo,
por sua identidade com as outras coisas. Enquanto estiver na representação, ele só é
idêntico a si mesmo. Na representação, o pensamento universal não é determinado em si;
assim que expresso, ele é suprassumido.

É fácil distinguir imagem de representação, assim como distinguir imagem e representação


dos objetos sensíveis. A imagem extrai seu conteúdo da esfera do sensível e o apresenta na
forma imediata de sua existência, em sua singularidade e na arbitrariedade da sua
manifestação. Mas como a massa infinita do singular, tal como aparece no ser
indeterminado, não pode ser reproduzida em uma totalidade, nem mesmo pela exposição
16

mais detalhada, a imagem é sempre limitada. Nela, a ideia se decompõe numa infinidade
de figuras que a tornam limitada e finita. Por isto a ideia permanece oculta na imagem.

A representação é a imagem que foi elevada à forma da universalidade, do pensamento, de


modo a manter a determinação fundamental que constitui a essência do objeto e a ter
diante de si o espírito que a representa. Por exemplo: a palavra mundo sozinha reúne e
unifica uma riqueza infinita. Quando a consciência do objeto se reduz a esta simples
determinação do pensamento, temos uma representação que, para a sua simples
manifestação, só precisa da palavra, desta simples expressão que permanece em si mesma.
Esta é a essência da representação em geral.

Na representação, portanto, o conteúdo essencial se põe sob a forma do pensamento, mas


ainda não está posto como pensamento. A representação se comporta negativamente em
relação ao sensível e à imagem, mas não se liberta absolutamente do sensível de modo a
pô-lo em sua idealidade acabada. Só o pensamento real está apto a elevar as
determinações sensíveis do conteúdo à condição de determinações universais do
pensamento, aos momentos internos, ou à própria determinabilidade da Ideia. Como a
representação não é esta elevação concreta do sensível ao universal, sua atitude negativa
em relação ao sensível simplesmente significa que ela ainda não se libertou do sensível,
ainda se encontra essencialmente implicada nele e, para ser ela mesma, precisa do sensível
e desta luta contra ele. A representação pertence de forma essencial ao sensível, por menos
que possa deixá-lo valer em sua autonomia. Além disso, a universalidade da qual a
representação é consciente é apenas a universalidade abstrata do seu objeto, a sua essência
indeterminada. E, para determiná-lo, novamente precisa do sensível, da imagem, mas
confere a esta, enquanto sensível, uma posição na qual ela difere do significado. Não pode
se deter nela porque ela só lhe serve para representar o conteúdo propriamente dito, que é
distinto dela.

Consequentemente, a representação está em permanente tensão entre a intuição sensível


imediata e o pensamento propriamente dito. Sua determinação é de natureza sensível, mas
o pensamento já se introduziu nela. Ou melhor: nela, o sensível já se elevou até o
pensamento por meio da abstração. Mas na representação nem o sensível nem o universal
se interpenetram internamente. O pensamento ainda não se impôs totalmente sobre a
determinabilidade do sensível e, embora o conteúdo da representação seja universal, ele
ainda está afetado pela determinabilidade do sensível, precisa da forma da naturalidade e
continua assegurando que este momento do sensível não tem valor por si mesmo.

Da representação ao pensamento

A representação possui todo o conteúdo sensível e espiritual, mas de modo que este
conteúdo é tomado isoladamente em sua determinabilidade, enquanto que a forma do
pensamento é a da universalidade. A universalidade também aparece na representação e é
por isso que nós só utilizamos pensamento quando se trata do pensamento reflexivo e,
mais ainda, compreensivo. Não meramente pensamento em geral, mas só na medida em
que é, antes de mais nada, reflexão e, depois, conceito.
17

Na reflexão, o pensamento decompõe a forma do simples em que se encontra o conteúdo


na representação. O pensamento concebe e mostra que na forma do simples se encontram
distintas determinações. O pensamento dá a conhecer no simples algo que é múltiplo. Nós
chegamos a este ponto sempre que perguntamos “o que é isto?”. Azul, por exemplo, é uma
representação sensível. A intuição sensível – a que temos do azul diante dos nossos olhos –
já está contida na representação. Mas com esta pergunta também se quer saber o conceito,
o azul em sua relação consigo mesmo.

Para a pergunta “o que é justiça?”, de início temos a sua representação de forma simples.
Mas depois pensamos. E quando se pensa algo, este algo é posto em relação com outra
coisa. O sujeito em si mesmo sabe que é uma relação recíproca entre coisas distintas, ou
relação dele mesmo com outro, que sabe que se encontra fora dele. Mas na representação
as diferentes determinações se encontram para si, formando parte de um todo, ou
separadas entre si. Já no pensamento o simples se decompõe em diferentes determinações;
o pensamento estabelece uma comparação entre as determinações dispersas, toma
consciência da sua contradição que, entretanto, deve constituir ao mesmo tempo uma
unidade. Quando as determinações se contradizem, parece (à representação) que elas não
podem pertencer a um mesmo conteúdo. A consciência da contradição e de sua solução é
do âmbito do pensamento. Na representação, tudo coexiste pacificamente: o ser humano é
livre e dependente; no mundo há bondade e maldade, etc.. O pensamento estabelece as
relações e faz aparecer as contradições.

A categoria que só surge com o pensamento é a de necessidade. Na representação, há


espaço, por exemplo. O pensamento exige conhecer a sua necessidade. No pensamento o
objeto não é concebido como existente, não é concebido apenas em sua simples
determinabilidade, na determinação pura consigo, mas essencialmente em relação com
outra coisa, de modo que o objeto consiste essencialmente na relação entre realidades
diferentes. Necessário é algo que, ao se dar uma coisa, com ela também se põe outra. A
determinabilidade do primeiro existe apenas na medida em que existe o segundo e vice-
versa.

Para a representação, o finito é o “é”. Para o pensamento, o finito é só um conteúdo que


não é para si, que exige um outro para o seu ser; ele é através de outro. Para o pensamento
em geral e, mais concretamente, para o compreender, não há nada que seja imediato.
Imediatidade é a categoria fundamental da representação, na qual o conteúdo é sabido em
sua relação simples consigo mesmo, enquanto que para o pensamento não há nada
imediato. Só é imediato o que se dá essencialmente na mediação. Estas são determinações
universais e abstratas, a diferença abstrata entre representação e pensamento.

Determinação imediata do pensamento

No saber imediato, o objeto não aparece como existente porque seu ser se encontra no
sujeito do saber, isto é, no sentimento. Mas no sentimento ele é contingente. Tem que
haver uma região da consciência em que ele não se apresente como contingente e
corresponda melhor à representação. Trata-se de uma consciência em que os opostos
18

(sujeito e objeto) se diferenciam: eu sei de um objeto e, ao voltar para mim, opondo-me a


ele, eu o sei como meu outro e me sei como finito, porque limitado por ele. Eu e o objeto
somos respectivamente o outro do outro, mas de modo determinado. O Eu se descobre
como negativo e finito.

Sermos finitos é uma determinação firme. Em toda parte encontramos um limite. O


simples fato de termos um objeto já nos torna finitos. Pela existência física, temos limites,
nossa vida é finita. Enquanto seres vivos estamos remetidos ao exterior e dependemos
externamente de outros, temos necessidades físicas, etc. E somos conscientes destes
limites. Temos esta consciência em comum com os animais. O vegetal e o animal também
são finitos, mas não têm o sentimento deste limite. É um privilégio do ser vivo espiritual
conhecer o seu limite.

Eu só sinto a negação quando me coloco acima dela. Para o animal, só existe o limite
quando ele o ultrapassa. O animal sente a sua limitação como universalidade negada, como
necessidade. Ele tem necessidades e o impulso de superar esta negação de si mesmo.
Todos os impulsos são afirmação da necessidade e oposição a esta negação que está nele.

Enquanto sujeito, o ser humano também é unidade negativa de si mesmo, tem a certeza da
unidade que é e, assim como o animal, sente a si mesmo. No sujeito – diferente do animal
– o sentimento do distinto se converte em sentimento do limite. E ele supera esta negação
satisfazendo a sua necessidade, reconciliando-se consigo mesmo, restabelecendo a sua
mesmidade.

Mas como a consciência permanece presa ao limite, ela não realiza esta reflexão. Para ela, o
objeto é o seu não-ser. E como o Eu é o finito (porque o objeto o limita), o objeto aparece
como infinito, o que se encontra além do meu limite. Como ele é o outro do limitado que
sou Eu, ele é o ilimitado, o infinito. Finito e infinito aparecem assim para a consciência.

A consequência é que se o Eu, o finito, é o singular, o particular, o infinito, que é seu


objeto, é o não singular, o não particular. É o universal, a que o finito se refere como o seu
outro, o seu negativo, do qual o finito depende e diante do qual ele desaparece. (Eis uma
contradição que produz o sentimento do medo e só se resolve na suprassunção do finito –
que não está ao alcance da consciência, nem do sentimento, nem da representação).

Esta relação tem outro aspecto: se eu sou a minha própria negação e me relaciono comigo
mesmo, sou também a minha afirmação: eu sou. Nisto consiste a consciência
determinada. Este é o limite da observação e resume toda a sabedoria do nosso tempo.
Para esta sabedoria, a finitude do sujeito é o ponto máximo, último, irremovível, imutável;
é a base sólida sobre a qual se afirma o pensamento: nossa condição finita é firme e
absoluta; o infinito está diante de mim, mas é um além ao qual eu aspiro.

Temos então duas representações no mesmo Eu: minha finitude e minha aspiração pelo
infinito. Eu permaneço em mim mesmo. Trata-se da dupla negatividade em mim que
produz uma divisão: uma em direção a mim e outra em direção ao além. O Eu é esta
negatividade com seus dois aspectos. E como toda dupla negação é positiva, o próprio Eu
19

que se divide é positivo. Ao afirmar “Eu sou”, estou suprassumindo minha finitude. Mas
este ainda é o ponto de vista da consciência subjetiva.

Dialética de finito e infinito

A finitude significa que o ser humano singular, em sua existência temporal e espacial,
como indivíduo determinado, se encontra em uma relação negativa com o outro e por isto
se manifesta como excludente e excluído. Suas exigências singulares se comportam como
autônomas entre si. Enquanto seres vivos e dotados de sensibilidade, como seres que
ouvem, veem e sentem, estão sempre remetidos a algo que é imediatamente outro,
singular, e se encontram em relação permanente com tudo o que não é eles mesmos. Estão
relacionados a objetos que permanecem distintos deles e os determinam a ser o que são. A
relação prática – a suprassunção do outro – também é uma relação com o outro e os
objetos que me dão satisfação também têm um caráter singular. Este é o ponto de vista da
existência natural, na qual os seres vivos são movidos por impulsos e sentimentos
continuamente mutantes, excitados por necessidades sempre novas, também mutantes,
em dependência constante e em limitação ininterrupta por toda parte.

Mas no caso dos seres humanos a superação da finitude já acontece na própria esfera da
finitude. Enquanto interioridade subjetiva, o impulso é infinito, é uma falha, é um
sentimento de limitação. Mas é a limitação de um infinito em si, em sua relação consigo
mesmo, que suprassume esta limitação. A autossatisfação, que já é infinitude, é apenas
infinitude formal, não é concreta. A satisfação da fome, por exemplo, é a suprassunção da
divisão entre o objeto e o Eu, é a suprassunção apenas formal da finitude porque o
conteúdo permanece constantemente finito e continua produzindo novos impulsos, novas
finitudes e novas suprassunções. Volta a aparecer sempre que a necessidade é satisfeita,
porque o natural é constituído pela finitude. Nossa consciência sensível, na medida em que
se ocupa do singular, permanece no âmbito da finitude natural. Enquanto finita, consiste
em suprassumir a sua própria imediatidade. A última manifestação desta suprassunção é a
morte.

A morte é a primeira autolibertação espontânea, natural, do finito em relação à sua


finitude. A vida sensível do singular acaba na morte. Na morte, a vida sensível põe
efetivamente o que ela é em si. É a vida que se suprassume. Mas a morte nada mais é que a
negação abstrata do negativo em si; ele mesmo é nulo, é a nulidade manifesta. Mas a
nulidade posta é ao mesmo tempo a nulidade suprassumida e a volta ao positivo. O
positivo chega à vida na consciência como pensamento. No pensamento, tudo o que é
singular, temporal e finito é suprassumido. No pensamento a categoria viva é a da
universalidade. No pensamento ocorre a libertação da finitude. Na consciência não
aparece o que é a morte. Esta dimensão superior se encontra no pensamento, mas por
certo ela já aparece na representação, na medida em que o pensamento é ativo na
representação.

O ponto de vista da consciência pensante já se elevou a partir da vida imediata e da certeza


sensível, mas ainda não se desembaraçou da finitude. Nesta esfera, a infinitude ainda só se
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mostra como a finitude superada. Trata-se da infinitude da reflexão, que volta a se destruir
e se põe como finita. Ela mantém perenemente a oposição diante do infinito. A reflexão só
passa ao infinito como negação abstrata do finito. Mas o finito permanece porque não
possui em si o infinito. Assim, a reflexão produz a má infinitude, ou progressão infinita.

O finito é o múltiplo, o disperso, o diverso. A consciência finita é limitada, particular, uma


relação entre muitas coisas diferentes entre si. Mas a consciência limitada também tem
relação com o ilimitado, com a universalidade e com a unidade entre particular e múltiplo.
Em outras palavras, possuímos uma quantidade infinita de conhecimentos, sabemos
muitas coisas, queremos uma variedade de coisas. Isto porque, enquanto vontade singular,
o espírito é determinado por fins e interesses particulares. Mas tanto na representação
quanto na vontade o espírito se comporta como particularidade excludente e está em
conexão com outras coisas autônomas. Esta multiplicidade não lhe basta. No múltiplo, um
contradiz o outro; os seres determinados estão em mudança, mostram-se finitos. É diante
deles que a pura superabilidade da diversidade, da finitude e da dispersão se situa como o
simples, o único e o infinito. O múltiplo se suprassume por si mesmo; ele é uno por
natureza. É por isto que a multiplicidade não satisfaz a consciência; ela está em relação
com a unidade e a universalidade.

Mas na reflexão a universalidade – ou totalidade – é pensada só como pluralidade e


permanece separada da finitude que não pode alcançar o todo. Também na reflexão o Eu
continua excludente diante de um Outro também excludente. Ou: uma multiplicidade é
absolutamente excludente de outra e o todo em relação à multiplicidade é apenas uma
abstração que permanece em um nível externo. Os conhecimentos não têm nenhum limite:
enquanto inúmeros, vão sempre além de si mesmos. O voo de uma estrela para as outras é
ilimitado. Na História Natural, não se chega a conhecer todas as espécies de animais, da
mesma forma que na Ética jamais se alcançará a felicidade. Com a satisfação dos impulsos
acontece a mesma coisa: o ser humano pode conquistar muitas metas e muitos interesses,
mas nem todos, nem a felicidade. Isto porque, para a reflexão, a totalidade é
inalcançável. A finitude permanece precisamente porque, para a reflexão, ou pensamento
raciocinante, ela é verdadeira, porque o infinito que se opõe a ela é o próprio finito. É um
infinito posto como o outro do finito. É este infinito, pensado como finito, que corresponde
à universalidade para a reflexão. Permanecem, portanto, a multiplicidade, a diversidade
dispersa, porque não se chega ao verdadeiro infinito que é Uno e Ideal. A reflexão afirma
que este Ideal é falso e portanto inalcançável. Deve prevalecer a multiplicidade, não a
unificação, porque a multiplicidade teria que renunciar a seu caráter, próprio do seu ser
singular, para ser posta como algo unitário. A reflexão se detém aquém do Ideal, da
Finalidade e da Totalidade. E, mesmo que os alcançasse, na verdade só alcançaria a
progressão infinita, ou o mau infinito, ou má infinitude, que é falsa porque nada mais é que
a reposição do finito.

Não sendo (conscientemente) dialética, a reflexão não percebe que finito e infinito são
opostos que se opõem essencialmente. Isto significa que cada um tem seu outro nele
mesmo, cada um só é o que é na unidade com o outro. Assim, o finito é o negativo e o
infinito é o positivo. Recapitulemos: finitude é negatividade; não-finitude, ou infinitude, é
21

negação da negação e, portanto, é o positivo. Enquanto um-fora-do-outro, finito e infinito


não têm nenhuma verdade.

O outro do finito, o seu limite, já começa nele. Só temos um limite quando estamos além
dele. Como seres determinados, estamos em unidade diferenciada com tudo o que
constitui o nosso não-ser, ou a nossa determinabilidade. Mas, enquanto consciência do
limite, já nos encontramos além desta unidade imediata e aquilo que, na
determinabilidade (nosso não-ser), por sua vez constituía o nosso ser é posto como não-ser
no limite. O limite deixa de ser o afirmativo. Quando nos encontramos nele, já não nos
encontramos mais nele. O finito tem que ser o limitado. Seu limite é o infinito. Ele só existe
mediante o seu limite e o possui nele mesmo. O finito possui o infinito nele mesmo e, na
reflexão, o possui como um Outro. O finito da reflexão se opõe ao infinito e, no entanto, o
limite é o próprio infinito.

O infinito para-si só é negação daquilo que nega e se opõe a seu outro. Mas esta oposição
desaparece porque o finito tem seu outro pensado nele mesmo. No infinito da reflexão, que
tem seu limite no finito, só encontramos o próprio finito; no infinito do pensamento
racional encontramos a realidade suprema, que é resultado do pensamento e desta
dialética de finito e infinito.

Ter presente na consciência a oposição entre finito e infinito é de extrema importância no


que se refere a todas as formas de consciência reflexiva e da Filosofia. Na oposição absoluta
– a do pensamento racional – desaparece a própria oposição. Os dois aspectos da reflexão
ficam reduzidos a momentos vazios, permanecendo a unidade de ambos, na qual eles
foram suprassumidos.

A consciência concreta permanece aferrada à oposição. A consideração lógica – do


pensamento racional – considera cada um dos termos como momentos.

Como vimos, o Eu finito põe o infinito como finito. E ao ter o infinito como finito se
identifica consigo mesmo no infinito. Isto constitui o limite extremo da subjetividade que
se mantém aferrada a si mesma, a finitude que permanece e se põe como infinita na
relação consigo mesma. Esta subjetividade elimina todo e qualquer conteúdo, sem se dar
conta de que assim liquida a si mesma: este é o limite extremo da finitude onde tudo é
eliminado na fogueira da vaidade. Só fica a vaidade. Esta é a consciência abstrata que
permanece em si mesma, sem nenhum conteúdo. É o pensamento puro enquanto poder
absoluto da negatividade, mas ainda é um poder que se mantém como um Eu para si que,
ao renunciar à finitude, expressa-a como infinitude e como o afirmativo universal. Este
ponto de vista é o poder da negatividade que dá tudo por liquidado.

Seu defeito é a ausência de qualquer objetividade. Ao invés de negar o finito, só nega o


infinito como um além, determinando-o como finito. A subjetividade abstrata constitui a
reflexão completa da autoconsciência em si mesma. Enquanto existência singular imediata,
Eu sou a negação de tudo e, mediante esta negatividade, sou a afirmação absoluta em mim
mesmo. Só admito a existência daquilo que é posto por mim. Eu sou o Ser do Absoluto.
Mas como eu sou abstrato, meu conteúdo é contingente e indiferente. Eu e apenas Eu sou o
elemento determinante enquanto existência singular e imediata em si mesmo. Aquilo que é
22

posto por mim é negativo, porque diferente de mim. Sou esta realidade excludente
segundo meus sentimentos, segundo a arbitrariedade e a contingência das minhas
sensações e da minha vontade. Sou o afirmativo em geral, o Bem. Não reconheço como
verdade nada que esteja fora de mim, leis, deveres, nada de objetivo. Para que algo seja
verdadeiro e bom, a única exigência é que o Eu esteja convencido, ou o reconheça como tal.
Nesta idealidade de todas as determinações, só o Eu é o afirmativo, o positivo.

Não se pode considerar este ponto de vista como humilde, só porque ele renuncia a todo
conhecimento do que está fora dele. Esta é uma humildade que se refuta a si mesma e,
portanto, é orgulho, ou pretensão. A verdadeira humildade renuncia a si e só reconhece o
verdadeiro e o existente em-e-para-si como o afirmativo. Já a falsa humildade converte o
finito, o negativo e o limitado no infinito, no afirmativo e no absoluto: Eu sou o único
essencial, Eu, o finito, sou o infinito, porque o infinito que está além foi posto por mim.
Como já vimos, há aqui unidade de finito e infinito. Mas como é posta pelo Eu finito, ela se
converte numa unidade finita, na qual o finito se converteu em Absoluto e eterno. É este o
ponto de vista do limite extremo da subjetividade finita que se põe como Absoluto. O Eu
finge ser humilde e por orgulho não renuncia nem à vaidade nem à nulidade. Faz
desaparecer o saber superior, mantendo apenas a emoção subjetiva e o capricho. Com isto,
desaparece o ponto em comum que une os indivíduos e, na diferença arbitrária do
sentimento, os indivíduos se enfrentam movidos a ódio e desprezo recíprocos.

O mesmo acontece com a unidade de finito e infinito segundo este ponto de vista. Ela tem
caráter unilateral por ser posta pelo finito, não havendo a suprassunção dos opostos numa
unidade superior. A finitude não se suprassume na infinitude porque a reflexão as separa.
Sua unidade é meramente finita. Além disso, a reflexão omite a separação que operou. E
como não tem o cuidado das mediações, concebe imediatamente o singular (o Eu) como
Universal, ficando o singular sem consistência própria.

Quando a reflexão se aproxima da Filosofia, usando expressões similares às da Filosofia, o


que se nota é um processo de esvaziamento e superficialidade, que se pretende profundo.
Todo o conteúdo, para a reflexão, já está superado como ideal. Ela não aceita nada em sua
imediatidade. Ela contém ao mesmo tempo a idealidade de todo o existente e a
subjetividade (e isto é um momento essencial da liberdade), mas aqui a subjetividade e a
infinitude são apenas forma pura, desprovida de conteúdo. A subjetividade é só um
momento, um aspecto da ideia especulativa: é uma negação incompleta. O Eu singular não
é livre; o que passa por liberdade do Eu abstrato é arbítrio, ou capricho. Aqui verificamos a
contradição do pensamento raciocinante enquanto reflexão: ele eleva a idealidade a
princípio, mas o próprio princípio realizador desta idealidade não é ideal. Ele ainda
contém aquilo que precisa ser negado, a saber, o Eu singular que, enquanto tal, não possui
verdade nem realidade.

No momento em que a Filosofia passa a valorizar o arbítrio pessoal e descarta direito,


dever e justiça, ela entra em conflito com a própria comunidade. A verdadeira relação entre
Finito e Infinito é a solução de sua oposição na Razão.
23

Pensamento racional

Todos concordamos imediatamente que o Eu, enquanto finito, é nulo. O finito que avança
se repondo até o infinito é apenas identidade abstrata, vazia em si mesma. É a forma
suprema do não-verdadeiro, é a mentira e o mal. Precisa haver um ponto de vista em que a
singularidade se negue efetivamente, de modo que o Eu, renunciando verdadeiramente a
si, seja de fato a subjetividade particular que se suprassume. Para que isto seja possível, o
Eu tem que reconhecer algo objetivo como verdadeiro e afirmativo. Ao fazê-lo, o Eu se
nega como o afirmativo e o verdadeiro. Mas ao mesmo tempo a sua liberdade se conserva
naquele objeto. Isto exige que o Eu se torne universal e somente enquanto tal tenha
validade, para ele mesmo, o vir-a-ser-para-si da singularidade particular imediata a partir
da universalidade que se autodetermina.

Este universal é o ponto de vista da razão pensante, ou pensamento racional. A atividade


da razão pensante consiste em se pôr, enquanto singular, como universal. E,
suprassumindo-se como singular, ela produz a sua verdadeira mesmidade como universal.
Filosofia é a razão na forma mediada do pensamento. A arte expressa esta mesma razão
imediatamente no tempo e no espaço, na pedra e no som. A religião invoca a mesma
exterioridade que a arte, mas de início o faz de modo imediato e ingênuo na representação.

Para o pensamento racional, subjetividade é a forma pura da singularidade que se refere a


si mesma e nega todo conteúdo. Nesta medida, a subjetividade se suprassume e se põe
idealmente por sua própria contradição. Se, enquanto finita, ela se põe como
suprassumida, então o finito suprassumido é o infinito, o universal, o que é em-e-para-si e
por isto mesmo não pode ser sensível. Na consciência sensível eu sei de um objeto, mas
sem liberdade nem reflexão sobre mim mesmo. O ponto de vista da razão pressupõe,
porque já a sabe, a não-verdade da consciência sensível. Isto porque o objetivo tem que se
mostrar como verdadeiro na determinação da universalidade, em cujo reconhecimento o
Eu renuncia à sua singularidade imediata sem a conservar nem diante nem dentro desta
universalidade. Se o Eu persistir, o universal só valerá para ele como sentimento ou, no
máximo, como representação puramente subjetiva. O universal só é em-e-para-si quando
apreende em si todo o conteúdo. Trata-se do conteúdo absoluto, determinado em-e-para-si
e não mediante o sujeito. É este o objeto da Filosofia.

Neste ponto de vista, o sujeito é pensante, pois o pensamento é a atividade do universal.


Aqui temos o absolutamente universal. A relação com o objeto constitui o pensamento do
sujeito. E este sujeito-objeto é o saber acerca do universal, de modo que o objeto é para o
sujeito a essência da coisa. O pensamento é ao mesmo tempo subjetivo e objetivo. Para a
reflexão, só tenho pensamentos subjetivos sobre a coisa, mas não a própria coisa em seu
ser em-e-para-si. No pensamento da própria coisa, desaparece a subjetividade do meu
pensamento. É verdade que no início eu me comporto de modo subjetivo, mas quando
reflito e penso a coisa – e disponho do pensamento da coisa – fica eliminada a minha
relação como um particular diante da coisa e me comporto de modo objetivo, porque Eu
renunciei a mim mesmo enquanto particularidade. Esta renúncia é o próprio pensamento,
é o saber de que o universal é o meu objeto. E se a coisa constituir a essência do sujeito,
então a renúncia é efetiva e real.
24

O pensamento é uma atividade mediadora. Quem pensa se desprende da sua imediatidade


e, ao mesmo tempo, pela mediação com o universal, mantendo-se a si mesmo, restabelece
a sua imediatidade.

Universalidade e substância são pensamentos que só existem como mediação e


suprassunção. É por isto que, quando o Eu se aferra à imediatidade, está procedendo de
modo unilateral.

Saber é atividade pura, que acontece quando nega o impuro, ou o imediato e, como já
vimos, o imediato é resultado de inúmeras mediações. Por exemplo: uma peça de piano
difícil pode ser facilmente interpretada depois de detalhadamente estudada e ensaiada
inúmeras vezes. Cada nota concreta se gravou na consciência do pianista e o conjunto,
agora, aparece como imediato, mas nada mais é que o resultado de todas as mediações. A
interpretação da peça parece atividade imediata, mas na realidade é resultado da mediação
de muitas ações. A descoberta da América por Colombo é o resultado de muitas ações e
reflexões singulares e anteriores. Os próprios costumes que se convertem em segunda
natureza e assumem a figura da imediatidade são resultado de mediações: sua natureza é
diferente da sua manifestação fenomênica. A mesma coisa se passa na natureza do
pensamento em sua igualdade a si mesmo: é transparência pura da atividade para si, que
consiste na negação do negativo e é o resultado que se converte em imediato, que aparece
como imediato.

Na Filosofia, estou determinado como pensante em relação ao objeto. O saber do Eu acerca


do absolutamente universal como sua essência, ao qual se chega pela autossuprassunção
do finito, poderia ser designado como introspecção. Meu objeto é o pensamento da minha
própria substância, uma forma da consciência. Um modo segundo o qual eu sou o que sou:
eu sou enquanto pensante. E posso pensar o Absoluto, o Infinito. Aqui eu me determino
como finito de modo verdadeiro, isto é, como finitude suprassumida. Eu sou finito
enquanto me diferencio do universal pensado, enquanto particular diante do universal,
como o acidental na substância, como uma diferença, um momento que ao mesmo tempo
não é para si, que renunciou a si e se sabe como finito. Eu não sou o ser particular que
repousa sobre si mesmo para mim, mas sim o que renuncia a si e desaparece na substância
como um acidente dela. Ao mesmo tempo, permaneço consciente de mim, porque agora o
Absoluto tem conteúdo e a substância que se move a si mesma – o pensamento – não é
vazia, mas plenitude absoluta. A ela pertence toda determinação, toda particularidade,
inclusive Eu. Enquanto universal, ela se apodera também de mim. Eu me sei como
particular, me contemplo como momento do universal e tenho consciência de que é só
nesta substância que tenho meu ser e minha consciência particulares. Deste modo sou
efetivamente posto como finito em si. E por isto não me mantenho como imediato,
afirmativo.

No pensamento, a verdadeira relação é a unidade de finito e infinito. O finito é momento


essencial do infinito na medida em que o infinito, enquanto negatividade absoluta, só
existe como mediação de si mesmo. Mediação é autossuprassunção. E, através desta dupla
negação, o verdadeiro infinito se produz a si mesmo; é assim que ele é infinito.
25

Há, portanto, duas infinitudes. A má, que é a do intelecto, ou pensamento raciocinante, e a


verdadeira, que é a da razão ou pensamento racional. Na infinitude verdadeira o finito é
um momento do infinito. O infinito deixa de ser um outro do finito e o finito se reconhece
no infinito. Isto é pensamento.

Para o pensamento, o finito não é o existente nem o infinito é fixo. Finito e infinito são
apenas determinações negativas, são apenas momentos do processo. O verdadeiro, a Ideia,
só são totalmente como movimento.

Em suma: o resultado é que temos que nos libertar do fantasma da oposição entre finito e
infinito. Este fantasma é um veto à Filosofia. Filosofia é a consciência da Ideia. Sua tarefa é
apreender a totalidade como Ideia. Ideia é o verdadeiro no pensamento, não na
representação e muito menos na intuição. O pensamento é especulativo: apreende o
concreto como unidade das determinações.

A intuição e a representação têm totalidades diante de si. A reflexão estabelece diferenças


entre elas, mas as mantém separadas, isoladas. Esquece a unidade que existe entre elas,
considera sua união só num terceiro elemento, que está fora delas, não como unidade nelas
mesmas. Um exemplo: a ciência distingue um animal por espécie e indivíduo e não
reconhece a unidade entre universalidade e singularidade, porque esta unidade é
especulativa. Outro: o pensamento raciocinante, ou representação, admite que o devir
contém ser e não ser, mas não a unidade de ser e não ser, que é o próprio devir.

Especulação é o reconhecimento desta unidade, porque ela é pensada. A Filosofia é a


consciência do especulativo. Ela reconhece todos os objetos do pensamento puro, tanto os
da Natureza quanto os do Espírito, na forma do pensamento. Ela pensa o verdadeiro
enquanto verdadeiro, enquanto unidade do diferente.

Na Filosofia o pensamento se pensa a si mesmo. Seu objeto é o universal que, enquanto


ativo, é o pensamento. Pensamento é a elevação a partir do limitado para o absolutamente
universal.

O erro mais absurdo do nosso tempo é a opinião de que o pensamento é prejudicial à


religião e esta ficaria mais segura renunciando a ele. Este mal entendido tem origem no
desconhecimento radical das condições superiores do Espírito. Nesta ignorância também
se considera, no caso do Direito, que a boa-vontade é oposta à inteligência, sem se dar
conta de que isto implica que o ser humano de maior boa-vontade seria aquele que menos
pensa. O mesmo valeria para os sentimentos e gostos: quanto menos pensamento, melhor.
Mas, como já ficou exposto, ética e direito só existem porque a humanidade é constituída
por seres pensantes, que não entendem por liberdade a liberdade da pessoa empírica. A
liberdade da pessoa empírica, que lhe pertence enquanto particular, entre outros abusos,
permite submeter os demais pela astúcia e pela violência, reivindicar privilégios e dar
rédea solta ao arbítrio. O ser humano pensante considera a liberdade como universal,
existente em-e-para-si. Neste sentido pensado, todo ser humano é livre.

Como o ilimitadamente universal constitui o pensamento supremo, Absoluto, falta


distinguir o pensamento subjetivo do objetivo. O universal é objeto absoluto e o
26

pensamento ainda não está desenvolvido, não está determinado em si. Todas as diferenças
ainda estão ausentes do pensamento, mas neste éter do pensamento desapareceu tudo o
que é finito. É preciso determinar com mais precisão o elemento universal. Ainda não há
nada configurado nesta água e nesta transparência.

Esquematizando o processo, temos numa ponta o universal que tem que se autodeterminar
até constituir a Ideia. Seu desenvolvimento assume diferentes figuras; ele se configura. Na
outra ponta, temos a particularização, a consciência em sua singularidade – o sujeito em
seu caráter empírico total, que é temporal.

Para o pensamento, o conceito do objeto é a sua ideia, seu devir e seu tornar-se objetivo. O
objeto só é verdadeiramente para si na autoconsciência. A autoconsciência é a sua
determinação suprema. O conceito do objeto é imperfeito: ele se integra, só possui verdade
quando aparece como ideia absoluta. E a questão da sua realidade é posta para si na
identidade com o conceito.

Os seres humanos vivem no Estado. Eles são a vida, a atividade e a realidade do Estado.
Mas nem por isso têm consciência do que é o Estado, enquanto o Estado perfeito consiste
em que tudo o que ele é em si – em seu Conceito – seja desenvolvido, posto, convertido em
direito, lei, dever. É do Estado, segundo o seu conceito, que derivam direitos e deveres
totalmente distintos para os cidadãos.

O espírito é essencialmente consciência. O que para o espírito é sensação, tal como está
determinado subjetivamente, tem que se apresentar a ele também como objeto. O objeto
tem que ser intuído no espírito. O momento objetivo exige o sujeito e o objeto.

O espírito se revela como ser para si no mundo ético, no Estado. No Estado, a liberdade do
espírito aparece como um objeto presente, dado, como uma necessidade e um mundo
existente. Da mesma forma, é no Estado que a consciência alcança a sua realização e que
todos os indivíduos têm liberdade. No Estado, a consciência – o ser-para-si – e a essência
substancial – o espírito – se adequam.

O mundo espiritual faz parte do mundo objetivo. O mundo espiritual é objeto na medida
em que conformou e assumiu o mundo natural na representação e no pensamento. Isto
porque a consciência objetiva se cultiva e se aprofunda em si mesma na interação com o
seu mundo.

A atividade cognoscitiva é objetiva. Consiste em superar, omitir, abstrair, em ser forma e


em superar a finitude. A finitude é oposição à natureza e ao espírito como em si. A
consciência representa o mundo, tanto o natural quanto espiritual.

A necessidade do mundo representado na consciência é superar a sua finitude. Esta


finitude primeiro é suprassumida no conceito. O lógico é a sua identidade. A necessidade
da natureza é se tornar espírito no qual a ideia que a natureza é em si se torne para si, no
qual o Conceito, que constitui o seu ser íntimo, também se converta em seu objeto, em sua
dimensão externa, em que chegue à sua unidade.
27

A ação da vida intelectual é o mesmo que a vida do mundo. Mas enquanto a vida do mundo
é finita, a intelectual é intemporal. Na vida intelectual, a vida do mundo aparece na forma
da eternidade.

O conceito se desenvolve até se tornar ideia. Primeiro o conceito é unidade substancial, é a


ideia em sua afirmação, igual a si mesma. Em segundo lugar, esta unidade tem que se
diferenciar, mostrar-se como ser para outro. Finalmente, tem que voltar desta divisão, ou
diferenciação, para a unidade substancial; tem que pôr a diferença e a afirmação absoluta.

Pensamento é um aspecto da nossa consciência. Ele tem por objeto o universal em geral e
já está determinado em si, abstrata ou concretamente. Pensamento é o universal em sua
atividade, em sua efetividade. É a apreensão do universal, aquilo para o qual o universal
existe. O produto do pensamento, aquilo que é elaborado pelo pensamento, é um conteúdo
universal. Forma é aquilo que apreende o universal; é também pensamento. A realidade
universal, que pode ser produzida pelo pensamento e constitui o objeto do próprio
pensamento, pode se revestir de um caráter totalmente abstrato. Estamos diante do
incomensurável, o infinito, a suprassunção de todo limite, de toda particularidade. Esta
universalidade negativa só ocorre no pensamento.

O pensamento estabelece uma diferença entre ele mesmo e o universal. Esta


universalidade é seu ponto de partida e de chegada. É sua morada absoluta.

Objetividade e subjetividade

O cristianismo deu uma importante contribuição para a autoconsciência ao estabelecer a


diferença entre o espírito divino e o espírito humano. Mas não ultrapassou o limite da
representação ao conceber o divino como criador, pois criação é experiência humana.

Nosso primeiro saber imediato é o de nós mesmos. Segue a pergunta: como chegamos à
diferenciação, ao saber de um objeto? A resposta já foi dada: porque somos seres que
pensam. E podemos pensar o absolutamente universal em-e-para-si.

O ser-para-outro em geral se apresenta de modo sensível e particularizado. Até o


pensamento, para ser para outro, necessita de um meio sensível de comunicação, na
medida em que o outro também é ser pensante. Este meio sensível é a linguagem, os gestos
ou os signos.

Mostrar conexões é o significado de demonstrar. A conexão pode ter diversas índoles.


Tanto podem ser internas quanto externas ou mecânicas. A conexão entre as paredes de
uma casa e o teto é interna porque, devido às condições meteorológicas, a finalidade, que é
interna, das paredes é sustentar o teto. Já para madeira, tijolo e telhas a conexão é externa.
Estas possibilidades são ilimitadas, porque conexões envolvem o nosso processo de
intelecção de qualquer coisa.

O ser humano observa o mundo e, como é ser pensante, racional, e não encontra nenhuma
satisfação nas suas contingências, ele se eleva, a partir do finito, para o absolutamente
28

necessário. Ele afirma que, como o finito é contingente, tem que haver algo necessário e em
si que seja o fundamento desta contingência. É assim que a razão, ou o espírito humano,
procede. Os seres humanos sempre percorrerão este processo e se perguntarão pela razão
interna do modo como tudo se relaciona entre si.

Em outra formulação: temos uma consciência do mundo como um conglomerado de


fenômenos contingentes, de uma multiplicidade de objetos singulares que para nós se
determinam como finitos. E como o contingente não tem verdade, ele se apresenta como
ser, mas na verdade é não-ser (e a verdade mesmo é o devir). Este não-ser do finito em sua
forma positiva é afirmativo em si. O não-finito, afirmativamente, é o infinito – o ser
absoluto. Aqui mesmo já ocorreu a mediação entre finito e infinito. Infinito é o negativo do
finito: ser absoluto. Negamos o finito porque ele consiste em ser em si mesmo
contraditório; ele não consiste em ser, mas em se destruir a si mesmo, em se superar a si
mesmo, em virar outra coisa. As coisas finitas perecem. Isto é negar o finito. E aqui começa
a divergência entre pensamento raciocinante, o do intelecto, e pensamento racional, o da
razão. O intelecto adere ao mau infinito, pois o concebe como progressão infinita do finito,
ou repetição do finito. O pensamento racional afirma que o verdadeiro trânsito não é a
mudança, a mutação perpétua. O verdadeiramente outro do finito é o infinito. O infinito
não é a mera negação do finito; ele é, afirmativamente, o Ser. A Filosofia é a consciência
disto. Para a Filosofia, o próprio infinito é primeiro negativo, finito. Depois o infinito é
afirmativo. É este o processo que o espírito realiza em si.

Mas o pensamento raciocinante afirma que, como existe o finito, existe também o infinito.
São separados, duas realidades. Para o pensamento racional, aqui há uma dialética. Uma
vez que o finito não é verdadeiro, ele é uma contradição que se suprassume. Por isto a
verdade do finito é a afirmação que se chama infinito. O finito não é verdadeiro, não
subsiste. Só o infinito possui verdade. O mundo sensível – ponto de partida – não
permanece, ele renuncia a si mesmo, é suprassumido pelo pensamento. A diferença entre
finito e infinito diz respeito às abstrações mais sutis que constituem precisamente as
categorias mais universais do nosso espírito.

O pensamento raciocinante do intelecto não aceita esta concepção porque está preso à
determinação inadequada de que “o finito é”. E também afirma que não se pode passar do
finito ao infinito porque não há ponte entre os dois. Para o intelecto, nós somos finitos e
portanto nossa consciência também é; não pode ultrapassá-lo. O pensamento racional já
refutou esta concepção. Se é certo que somos limitados e que nossa razão é limitada,
também é certo que esta finitude não tem nenhuma verdade. A razão consiste
precisamente em compreender que o finito nada mais é que um limite. E o simples fato de
saber que algo é um limite já nos coloca acima dele. O infinito é a abstração totalmente
pura, a primeira abstração do ser, uma vez que é a suprassunção do limite. É o universal no
qual toda fronteira é ideal e foi suprassumida. Como o finito não permanece, e não há um
abismo entre ele e o infinito, deixam de valer as duas realidades que o intelecto afirma; o
finito se converte em aparência, em sombra. É certo que o ponto de partida é o finito, mas
o Espírito impede que ele subsista.
29

Conceito e ser

Na vida cotidiana se chama conceito, por exemplo, a uma representação de 100 táleres.
Mas isto não é um conceito. É apenas uma determinação do conteúdo. A uma
representação abstrata como “azul”, ou a uma determinação do intelecto como “causa”,
que se encontra em minha cabeça, pode muito bem faltar o ser. Mas a isto não se pode
chamar de conceito. O Conceito, que é absoluto, em-e-para-si, tem que ser pensado em
geral e este conceito contém o ser como uma determinação. O desenvolvimento
pormenorizado deste ponto se encontra na Ciência da Lógica.

Nós podemos representar o movimento do Conceito como uma atividade. Antes de mais
nada, ao abordar o Conceito em geral, é preciso abandonar a opinião de que se trata de
algo que só nós temos, que o Conceito é algo que formamos em nós. O Conceito é a alma, a
finalidade de um objeto, do Ser Vivo. Conceito é o que o senso comum chama de alma e
este conceito alcança a sua existência no Espírito, na Consciência, como conceito livre,
distinto de sua realidade em si, ou em sua subjetividade. Sol, animal, vegetal, são conceitos
mas não o possuem. O conceito não se converte em objeto para eles. No sol e no animal
não aconteceu esta separação, mas na Consciência o que chamamos Eu é o conceito
existente, o conceito em sua realidade subjetiva e este conceito, Eu, é o subjetivo. Mas
nenhum ser humano se satisfaz em sua egoidade. O Eu é ativo e esta atividade consiste em
se objetivar, em se dar realidade, em ser determinado. Uma representação mais
determinada, que é válida para qualquer animal e não só para o ser humano, é o impulso.
Toda satisfação do impulso implica para o Eu o seguinte processo: superar a subjetividade
e pôr ao mesmo tempo esta subjetividade, esta interioridade, como algo exterior, objetivo,
real, efetivo, produzir a unidade entre o meramente subjetivo e o objetivo e eliminar o
caráter unilateral de ambos. Enquanto o Eu permanecer como simples desejo ou
inclinação, ele ainda não é efetivo. O desejo tem que chegar ao ser determinado. Toda
atividade no mundo consiste em suprassumir o subjetivo e pôr o objetivo e, assim,
produzir a unidade dos dois. Em outras palavras: atividade é a suprassunção do oposto
(um obstáculo), e produção da unidade entre subjetivo e objetivo.

Conceito é o ser vivo, o que se media a si mesmo. Por isto ser é uma das suas
determinações. O conceito é o universal que se determina, se particulariza, numa atividade
que se chama julgar. Julgar é se particularizar, se determinar, pôr uma finitude, negar esta
finitude e, por meio desta negação, identificar-se consigo mesmo. Este é o Conceito em
geral, ou Conceito Absoluto. No conceito em geral – e mais ainda na Ideia – em geral
ocorre o seguinte: ser idêntico a si, estar relacionado a si mesmo mediante a
particularização da qual ele constitui ao mesmo a atividade que põe.

À pergunta “o que é ser”, esta propriedade, esta determinabilidade, esta realidade, o


pensamento racional responde que ser nada mais é que o inefável, o que não tem conceito,
no sentido da realidade concreta que é o conceito. Ser é apenas a abstração da relação
consigo mesmo. Pode-se dizer que ser é a imediatidade. É o imediato em geral e vice-versa,
o imediato é o ser, está em relação consigo mesmo, e isto significa que a mediação é
negada, porque a imediatidade é determinação totalmente abstrata, é a mais pobre tanto
no conceito em geral quanto no conceito absoluto. No próprio conceito se encontra de um
30

modo imediato esta relação abstrata consigo. É uma simples constatação. O Ser difere do
Conceito na medida em que não é todo o conceito, é apenas uma das suas determinações.
Sobre o Ser, reina esta espécie de inconsciência que afirma que o ser não se encontra no
conceito. Se é certo que ser se distingue de conceito, esta distinção consiste em que Ser é só
uma determinação do Conceito.

Em formulação mais avançada, Conceito é Totalidade, Ser é imediatidade. Ou: enquanto o


Conceito aponta para o infinito, o que é pensado, o Ser aponta para o finito, para o
sensível. Portanto, Conceito e Ser não são imediatamente idênticos; eles exigem mediação.
A diferença entre Ser e Conceito é suprassumida pelo Conceito.

Dando mais um passo adiante, o Conceito é a Totalidade, o movimento, o processo que


consiste em se objetivar. Conceito meramente enquanto tal é subjetivo e isto é uma
deficiência. Mas ao mesmo tempo ele é o mais profundo, o mais elevado. Todo conceito
consiste em suprassumir seu caráter deficiente, sua subjetividade, em relação ao ser. O
conceito consiste na atividade de se produzir como objetivamente existente. Em outras
palavras: por um lado, o conceito tem esta determinação do ser que é pobre e abstrata; mas
na medida em que, enquanto ser vivo, é diferente, ele consiste em superar a sua
subjetividade.

A inseparabilidade entre Conceito e Ser só acontece absolutamente no Espírito. A finitude


das coisas consiste em que o conceito e a determinação do conceito e seu ser são diferentes.
Finito é o que não corresponde ao conceito. Presente, por exemplo, na concepção cristã de
separação entre corpo e alma, na qual o corpo é finito (morre) e a alma é infinita. No
Conceito, corpo e alma são inseparáveis.

O modo como se dá a relação entre o espiritual e o natural está contido no conceito.


Espiritual e natural são dois modos do conceito e constituem os dois aspectos da diferença
entre ambos. A Consciência constitui, no Espírito, o momento da diferenciação.
Diferenciar é pôr duas realidades que só têm a diferença como determinação. A
diferenciação se converte assim numa relação que tem de um lado a sólida unidade
substancial da Ideia e, de outro, a consciência que diferencia e se autodetermina como a
parte finita da relação.

Teoria e prática

A consciência finita representa a Ideia como realidade infinita no plano teórico e, na


prática, efetiva a suprassunção da divisão entre ela mesma e a Ideia em sua atividade livre.
É na atividade que se encontra a forma da Liberdade.

Nas relações de caráter teórico, o Eu submerge no objeto e nada sabe a seu respeito. Por
isto considera o seu saber sobre o objeto como imediato. Isto acontece nos casos mais
triviais. Por exemplo: eu sei deste papel em que escrevo (e do lápis, etc.). Neste saber estou
dominado pela representação do papel (e demais objetos) sem saber nada de mim mesmo.
Eu “me esqueço”, por exemplo, de quem me ensinou a ler e a escrever. Mas esta relação,
31

este saber ou, mais exatamente, esta relação teórica não é tudo o que de fato está presente.
Eu me oponho ao objeto. O fato de que eu existo e possuo um objeto é um ato de reflexão
sobre a consciência. No meu saber sobre o objeto, temos Eu e o objeto. Na medida em que
realizo esta reflexão, Eu e Objeto constituímos duas realidades diferentes. Na intuição – ou
relação teórica – só se dá um objeto cuja realidade me domina; não sei nada a meu
respeito. Mas a verdade consiste na relação entre Eu e Objeto.

Aqui começa a relação prática. Nesta, eu sou para mim, me oponho ao objeto e tenho que
produzir a minha unidade com ele. Esta unidade consiste em, além de saber sobre ele, de
estar dominado por ele, me saber como dominado por ele, em saber dele enquanto se
encontra em mim e em saber de mim enquanto me encontro nele. Esta é a Verdade. A
função da atividade é produzir esta unidade. Somente nas relações práticas, somente na
vontade começa a separação entre subjetividade e objetividade. Na relação teórica, estou
dominado pelo objeto, não me oponho a ele. Na medida em que sei deste objeto, ele existe
e não eu. Só na vontade é que existo para mim, sou livre, me relaciono comigo mesmo
enquanto sujeito e só agora me oponho ao objeto. É por isto que a limitação começa na
relação prática e não na teórica. No ato de querer eu existo para mim. Há outros objetos à
minha frente e assim eles constituem o meu limite. A vontade tem uma finalidade e a
persegue. Ela consiste na atividade de suprassumir a finitude, a contradição de que o
objeto seja para mim um limite. Na medida em que atuo, sinto a necessidade de assimilar o
objeto, de suprassumir a minha finitude em relação a ele, de restabelecer meu sentimento
de mim. Na necessidade eu sou limitado e o caráter deficiente da necessidade aparece de
forma que o objeto se apresenta como externo para mim.

No âmbito da prática, portanto, o ser humano tem um outro como objeto. No âmbito da
teoria, o ser humano se une a este objeto. E podemos descrever a consciência teórica por
seus resultados e conclusões. Na prática, o objeto está de um lado e eu de outro. A
determinação consiste em Eu me unir a Ele, saber-me nele e dele em mim; consiste nesta
unidade concreta. A consciência teórica também é concreta, mas apenas em si. É
precisamente a relação prática que implica que ela seja concreta também para o sujeito.

A relação substancial com o conceito, o fundamento, é o pensamento, mas pensamento


universal, do ser humano, e não da introspecção individual. Mas a introspecção já é a
tendência abstrata e pura à elevação para acima de tudo o que é limitado e finito. Aqui
estamos tratando do pensamento que tem por objeto o Conceito, o Direito e a Ética. Só
posso me apropriar do direito e da ética se souber que sou livre, substancialidade livre.
Direito e ética só são objetos da minha vontade na medida em que sou essência e
universalidade. O direito e a ética não são objeto da minha vontade particular, dos meus
interesses particulares, das minhas finalidades enquanto ser individual e particular,
porque nesta determinação a minha vontade é ambição, cobiça, violência e arbitrariedade.
Um dos erros mais grosseiros e nefastos do nosso tempo é não reconhecer que, nas esferas
do direito e da ética, o pensamento é o elemento, a forma essencial e o conteúdo
fundamental. É à Razão que compete explicá-los.

Pelo pensamento eu me elevo ao Absoluto, acima de todo o finito e me torno consciência


infinita. Mas ao mesmo tempo continuo autoconsciência finita de acordo com toda a
32

minha determinação empírica. As duas consciências são para mim e sua relação para mim
é a unidade essencial do meu saber infinito e da minha finitude. Estes dois lados se buscam
e se repelem entre si. Às vezes ponho o acento em minha consciência empírica e finita e me
oponho à infinitude. Outras vezes me excluo de mim, me condeno e dou prioridade à
consciência infinita.

Com o famoso “eu sou” se produz em mim e para mim este conflito e esta união: enquanto
infinito, eu sou para mim mesmo o oposto a mim a enquanto finito. E enquanto
consciência finita, me oponho a mim mesmo, a meu pensamento e à minha consciência
determinados como infinitos. Eu sou a intuição, a sensação, a representação – que é
unidade e conflito. Eu sou o seu elemento unificador, o esforço desta unificação, o trabalho
do ânimo para dominar esta oposição que é para mim.

Segundo a minha dimensão individual subjetiva, empírica, eu me sinto como finito e me


intuo assim, ou então me represento, ou me penso também assim no pensamento formal.
O pensamento formal, que é o raciocinante, não trata destas diferenças com precisão:
comparadas com a consciência, que é o fundamental, para ele elas são formas indiferentes.

Mas eu sou a relação entre os dois lados. Cada um dos extremos é o Eu, aquele que
relaciona. O unificar e o relacionar consistem em se converter na união e em se unificar na
luta. Melhor ainda: eu sou a luta. Pois a luta é precisamente este conflito, que não é uma
situação de indiferença entre os dois lados enquanto distintos, mas sim a conexão deles. Eu
não sou um dos elementos em luta, sou os dois, sou a própria luta. Sou o fogo e a água que
se tocam e também o contato entre ambos. Sou a unidade do que se repele absolutamente e
sou precisamente este contato entre elementos ora separados, ora cindidos, ora
reconciliados e ora unidos. Unidade que, por sua vez, constitui esta dupla relação enquanto
relação.

Distanciamento e conhecimento

Esta relação – a consciência enquanto tal –, por um lado, é introspecção, elevação pura e
simples. É representação em sentido superior, supremo, universal. E, antes de mais nada,
esta introspecção é sensação.

A sensação é uma relação na medida em que eu me encontro nela de modo imediato, em


que ela é minha relação imediata, isto é, na medida em que eu existo como autoconsciência
individual, empírica. De um modo geral, eu sou sensível na medida em que sou
imediatamente determinado. Um objeto que eu vejo ou toco é para mim outra coisa, fora
de mim. Ver o azul, sentir um objeto quente, etc., é apenas uma determinação subjetiva em
mim. Sentir é uma fluidez, uma reflexão imediata em mim, o objeto me determina assim.
E, assim, a minha determinabilidade é só finitude e vida, uma diferença em relação a mim
mesmo, não em relação a outro que (por enquanto) não se converte em meu objeto.
Enquanto ser particular eu me sinto, sou a minha unidade comigo mesmo que entretanto
se mantém neste objeto absolutamente diferente de mim.
33

Tanto na intuição quanto na representação já entra em jogo a minha atividade para


distanciar, exteriorizar, objetivar esta determinação como minha. São duas determinações.
Primeiro, eu a tenho em mim. Segundo: ela não se encontra em mim. É assim que eu me
distancio, me afasto, me alieno, ou me estranho da minha determinabilidade. Neste
distanciamento eu suprassumo a minha imediatidade. Ao fazer isto, entro na esfera do
universal, do pensamento em geral, que é identidade de realidades diferentes.

A mesma coisa acontece com a sensação interna. Eu posso estar colérico, amigável, etc. E
isto me determina. Aqui não é o trânsito de uma intuição externa, como no caso do calor. É
o trânsito para a representação, para a memória. Eu tenho que representar o conteúdo
para mim. Tenho que converter em objeto da representação o ódio, a injustiça, o prejuízo
que sofri, a tristeza, a dor; o objeto perdido e a perda. A dor e a tristeza falam comigo, mas
o prejuízo e a perda não se identificam imediatamente comigo, porque de um modo geral
eu me distancio da perda, da determinabilidade. Aqui ocorre uma distinção entre sujeito
(Eu que sente) e objeto (a perda). Precisamente o ser para mim da subjetividade em
relação à objetividade é a forma objetiva da subjetividade universal, ou a alienação, ou o
distanciamento da individualidade.

Para o pensamento formal, ou raciocinante, hegemônico, a sensação é meramente


subjetiva, uma peculiaridade individual. Esta tese parece se opor ao fato de que só na cisão
eu me constituo como sujeito diante de um objeto e de que a subjetividade só é tal diante
de uma objetividade. Na realidade, esta oposição e o fato de que eu me constituo como
sujeito diante de uma objetividade é uma relação, uma identidade distinta desta diferença.
Aqui começa a universalidade. Ao contrário do que supõem as teorias formais, a sensação
enquanto tal é o Eu na simples unidade imediata realizada pela determinação do objeto. O
Eu não vai além disto. O Eu é um ser particular, nada além deste conteúdo, que fica
rebaixado quando é separado do Eu na intuição externa e da representação do conteúdo na
sensação interna. Enquanto ser sensível, o Eu é totalmente particular, imerso totalmente
na determinabilidade. Em sentido próprio, é totalmente subjetivo, puramente subjetivo,
sem objetividade nem universalidade.

Na intuição e na representação o Eu é subjetivo – é um conteúdo particular com a forma da


objetividade. Na sensação, o Eu é um conteúdo particular sem a forma da objetividade. E
por isto está determinado de modo totalmente subjetivo.

Já a relação pensada – a sensação da luta acima referida – conduz para além da sensação
“subjetiva”. Primeiro, é sentida de modo imediato, sem que haja a depuração de seus dois
aspectos em relação ao universal e ao objetivo. Esta relação é a luta da determinabilidade
do Eu. A própria luta conduz o Eu a se elevar da sensação à representação. Há diferentes
espécies de sensação e esta nada mais é que um aspecto da representação, pois a sensação
ocorre junto com a representação.

A sensação determina de forma sucessiva (temporal) e justaposta (espacial). Nela eu me


sinto precisamente determinado no outro em oposição a mim; determinado como
diferente de mim enquanto sem esta sensação. Pelo conteúdo da sensação sou levado à
oposição, isto é, à consciência enquanto tal, à representação em geral, mesmo que esta
34

última seja só intuição. A intuição se diferencia da sensação pela reflexão, pela passagem à
diferenciação entre o objeto e o Eu (um sujeito).

Diferença entre consciência e representação

Diferentemente da autoconsciência, a consciência tem um objeto como algo externo em


geral. A intuição tem por objeto a exterioridade em sua totalidade objetiva, uma
determinação no espaço e no tempo, uma determinação verdadeira, determinada. A
representação tem o mesmo objeto, mas agora ele está posto em mim.

O essencial é que a sensação passe por si mesma imediatamente para a consciência, para a
representação. Isto porque o ser humano é Espírito E Consciência – representação.

Segundo um preconceito muito generalizado, a intuição, a representação e o conhecimento


excluem a sensação. No entanto, sempre podemos ter sensação diante de uma
representação, uma intuição ou um conhecimento objetivos. A sensação se alimenta da
representação, que a torna estável. Na representação, a sensação se renova e se inflama
novamente. A ira, o desagrado, se mostram muito ativos em sua manutenção e em sua
reanimação através da representação dos múltiplos aspectos da injustiça sofrida, dos
inimigos, etc., assim como o amor, a boa vontade e a alegria por meio das igualmente
múltiplas relações do objeto que se apresentam diante deles. Dizem que se não pensarmos
no objeto do ódio ou do amor a sensação e a inclinação diminuem. Da mesma forma,
desaparecendo o objeto da representação, desaparece também a sensação. Colocar outros
objetos diante da intuição e da representação é um modo de distrair o espírito. A
representação deve esquecer o objeto. Para o ódio, esquecer é mais que perdoar, assim
como, para o amor, não ouvir é mais grave que meramente ser infiel.

A sensação precisa avançar até a representação e a teoria. O ser humano não é puramente
sensível, precisamente porque sensação também é consciência. O ser humano sabe de si
precisamente na consciência, quando se retira da identidade imediata com a
determinabilidade. Aquilo que fica somente na sensação se consome aos poucos,
convertendo-se em algo desprovido de representação e atividade, porque perde todo o seu
conteúdo determinado. É preciso, portanto, combater a tese de que a sensação exclui a
representação, o conhecimento e o pensamento.

Filosofia e Ideia

Não é tarefa da Filosofia ser edificante. Proselitismo é trabalho de ativistas. Filosofia é,


antes de mais nada, Ideia Lógica: ideia tal como se encontra no pensamento. O conteúdo
da Filosofia são as determinações do pensamento.

Natureza, Vontade e Estado são modos especiais de manifestação da Ideia; são


configurações determinadas nas quais a Ideia ainda não chegou a si, o que só acontece na
Filosofia.
35

O objeto da Filosofia é o pensamento tal como ele é em si em sua manifestação infinita.


Espírito Absoluto. É a razão pensante que examina este conteúdo.

A Filosofia especulativa é a consciência da Ideia. Ideia é a verdade no pensamento, não na


intuição ou na representação.

Pensar especulativamente é dissolver uma realidade e a ela se opor de forma que as


diferenças se contraponham segundo as determinações do pensamento e o objeto seja
concebido como a unidade das diferenças e determinações.

A intuição tem diante de si o objeto em sua totalidade. A reflexão distingue e percebe no


objeto os aspectos distintos, reconhece neles a diversidade e os opõe uns aos outros. Mas a
reflexão não mantém a unidade nesta diversidade. Às vezes esquece o conjunto, e às vezes
esquece as diferenças. E quando tem diante de si conjunto e diferenças, ainda assim separa
as propriedades do objeto e concebe objeto e propriedades de modo que aquilo em que
ambos coincidem resulta num terceiro que deles se diferencia. O objeto fica reduzido a um
substrato morto, um ajuntamento de diferenças e a sua qualidade que forma uma unidade
não passa de uma coleção de objetos externos.

No pensamento, o verdadeiro objeto, que não é um mero conglomerado nem uma


pluralidade que se vincula externamente, constitui uma e a mesma coisa que suas
diferentes determinações. Só a especulação concebe a unidade dos contrários enquanto
tal. Sua tarefa é conceber todos os objetos do pensamento puro – da natureza e do espírito
– na forma do pensamento e, assim, como unidade das diferenças.

Enquanto o finito precisa de um outro para alcançar a sua determinabilidade, o verdadeiro


possui em si mesmo a sua determinabilidade, o seu limite. Ele não é limitado por outro,
porque este outro se encontra nele mesmo.

Para o senso comum, filosofia é saber finito do finito. Mas Filosofia é um conhecimento
racional através daquilo que há de comum no conhecimento de todos os seres humanos.
Rejeitá-la consiste em rejeitar o princípio comunitário da razão e do espírito para deixar o
campo livre para a opinião particular, que passa a ocupar o primeiro plano.

A filosofia iluminista usurpa a razão ao defini-la como intelecto abstrato. Trata-se de


usurpação do nome razão pelo intelecto abstrato porque é uma “razão” que renunciou à
possibilidade de conhecer. Ela concebe o infinito segundo o modo finito do intelecto, que é
um infinito abstrato. O intelecto abstrato tem um pensamento sem conteúdo.

O Iluminismo é uma Filosofia Negativa para a qual todo conteúdo parece ser um
obscurecimento do espírito. Esta filosofia negativa quer permanecer na noite a que chama
ilustração, quando na verdade ela deve considerar como inimiga a luz do conhecimento. O
ponto máximo a que esta filosofia chegou foi a negação da possibilidade de conhecer a
coisa em si após ter reconhecido que esta é uma criação da razão. Se a razão não pode
conhecer o que ela mesma criou, ela não pode conhecer mais nada.
36

Quanto mais o ser humano deixa que no pensamento racional a própria coisa se faça valer,
quanto mais renuncia à sua própria particularidade e se comporta como consciência
universal – Espírito – maior o seu conhecimento, pois a razão é a própria coisa, o Espírito.

Para a Filosofia, enquanto saber imediato é convicção sobre algum conteúdo que tem por
base o assentimento do próprio espírito, conhecer não é só saber que um objeto existe. É
também preciso saber o que ele é. Mas não só o que ele é em geral, ou ter algum
conhecimento e certeza sobre ele e sim saber acerca de suas determinações, acerca do seu
conteúdo. Este saber tem que ser completo e demonstrado, no qual eu saiba da
necessidade da conexão de suas determinações.

Uma das determinações fundamentais da Filosofia é a de que para o sujeito só vale o que
se confirma em seu próprio espírito. Este é um princípio que está vivo na consciência de
todos, ou na representação ordinária. Ele já existe como pressuposto em todos os espíritos.
A diferença é que a Filosofia não se detém neste conteúdo ingênuo.
37

II – A ARTE

Intuição e imagem da verdade

Na arte há representações e pensamentos do conteúdo. Para o artista, a obra de arte é


consciência subjetiva; para a comunidade (os espectadores), são imagens.

A arte tem por base e origem o interesse em expor a Ideia Espiritual para a Consciência.
Antes de mais nada, para a intuição imediata, precisamente porque o ser humano é
consciência, consciência intuitiva, não meramente sensação. A lei e o conteúdo da arte é a
verdade. Sua exposição é produzida, posta e realizada numa forma externa, sensível para o
ser humano. A intuição sensível que a arte produz é necessariamente um produto do
espírito, não é uma configuração imediata e sensível, pois tem a Ideia como seu centro
animador.

Não é demasiado lembrar que Verdade tem dois sentidos. No primeiro, o do senso comum
e do pensamento raciocinante, significa simples correção. Neste sentido, uma
representação ou exposição de acordo com um objeto conhecido é verdadeira. O conteúdo
pode ser o que for, pois sua lei não é o belo. Mas se aqui também o belo for tomado como
lei, ele será meramente formal e nos arriscaremos a tomar qualquer conteúdo limitado
como verdade autêntica. No segundo sentido, o verdadeiro, a verdade é a adequação do
objeto a seu conceito, que é a Ideia. Enquanto livre manifestação do conceito, a Ideia não é
perturbada por nenhuma contingência ou arbitrariedade. É este o conteúdo da arte,
existente em-e-para-si, que diz respeito aos elementos substanciais, totalmente universais,
ao que é essencial na natureza e no espírito.

O artista tem que expor a verdade de forma que a realidade na qual o conceito exerce seu
poder e seu domínio seja algo sensível. Ele expõe a Ideia em forma sensível e, portanto,
limitada e individualizada na idealidade e, neste sentido, não tem como evitar as
contingências do mundo sensível. A obra de arte é concebida no espírito do artista, onde se
dá a união entre conceito e realidade. Quando o artista exterioriza seus pensamentos e
conclui a obra, ele se retira dela. E assim sua obra se apresenta, por sua vez, para a
intuição, como um objeto externo totalmente comum, inclusive para ele. Este objeto não
sente nem sabe de si, não tem consciência de que está presente na intuição enquanto a
ideia que expõe. A ideia só existe enquanto tal no sujeito da intuição, na consciência
subjetiva. Para que isto ocorra é necessária a existência de uma comunidade que saiba do
objeto exposto e o represente como a sua verdade substancial. Para a obra de arte que em
si mesma não é o que sabe, o momento da autoconsciência é o outro. Enquanto não se
sabe, a obra de arte está inacabada em si; só se completa quando o autoconsciente se
relaciona com ela. E como esta determinação de adentrar-se em si a partir da exterioridade
acontece no sujeito, há uma separação entre ele e a obra de arte. Este sujeito pode
considerar a obra a partir de uma perspectiva totalmente externa, pode destruí-la ou até
mesmo fazer observações impertinentes, estéticas ou eruditas, sobre ela. Mas o processo
38

essencial à intuição, que é o complemento necessário da obra de arte, supera esta


separação prosaica.

A intuição artística pressupõe a liberdade superior da autoconsciência que pode opor a si a


sua verdade e sua substancialidade. Quando isto não acontece, não se chega à perfeição da
intuição artística. No mundo ocidental a alma da obra de arte é constituída pelo espectador
e pela comunidade.

Representação, imagem e pensamento

A imagem é sensível, tirada do sensível, é mito. A representação é a imagem elevada à


universalidade, ou pensamento. É rica em pensamento e é forma para o pensamento. Há
representações do direito, da eticidade, da virtude, do valor, do mundo, do mal. São
representações que procedem essencialmente do pensamento, da liberdade. Mas
conteúdos mais sensíveis, como batalhas e guerras, são representações e não imagens.

Representações e descrições são intuições espirituais do pensamento. Já o pensar versa


sobre relações. Assim como o sensível, a representação é uma forma da subjetividade, está
limitada à finitude.

O conteúdo representado pode ser comunicado através da palavra. Através da palavra é


possível levar a emoção ao coração e suscitar sensações. Trata-se do interesse da
subjetividade por alguma coisa. Quando se parte do sentimento, é certo que representações
também procedem do sentimento. Mas o sentimento é tão indeterminado que tudo pode se
encontrar nele. O saber sobre o que há no sentimento não cabe ao próprio sentimento. Ele
só é transmitido pela cultura e pela teoria que a representação comunica.

Para chegar ao pensamento, o ser humano precisa se libertar do egoísmo. Seu espírito se
liberta na medida em que se exterioriza e considera o substancial como um outro. O que é
verdadeiro, em-e-para-si, deve se manifestar ao ânimo como autônomo e, neste, quem
renuncia a si, através do próprio autorrestabelecimento, alcança a verdadeira liberdade.

O pensamento introduz o raciocínio, a oposição entre os conceitos, princípios e leis. A


oposição deve se tornar identidade. Além disso, ele distingue os modos, a forma do
conceito e seu conteúdo.

Representação e conceito

A Filosofia tem necessidade de penetrar o conteúdo com o pensamento. Tem necessidade


de levar o pensamento a uma conclusão a fim de que o ser humano se sobreponha à
subjetividade e não permaneça na vacuidade da subjetividade.

A necessidade do Conceito, segundo a liberdade, primeiro é o Conceito em si mesmo e,


depois, em oposição a mim enquanto compreensão subjetiva da minha liberdade. A
liberdade não é uma coincidência contingente.
39

Em sua verdadeira liberdade, o pensamento é diferente da reflexão. Além de ser coração,


ânimo e reflexão, eu tenho outras necessidades superiores. Sou também um Eu
absolutamente concreto, sou o pensamento que se determina em si. Eu sou enquanto
Conceito. Esta é a minha outra maneira de ser concreto. É o Conceito – que sou Eu –, o
pensamento concreto em si que se faz valer como o impulso da compreensão racional. Se o
termo “racional”, “compreensão racional” não se reduz meramente a que haja algo certo
em mim como determinação externa, mas exige que o pensamento seja determinado no
sentido em que o objeto se mantenha diante de mim, como algo estável para si mesmo e
esteja fundado sobre si, então se trata do Conceito enquanto pensamento universal, que se
particulariza em si e, em sua particularização, permanece idêntico a si mesmo. Qualquer
que seja o conteúdo disponível no âmbito racional, no que se refere à vontade e à
inteligência, sempre se trata do substancial, de forma que sei deste conteúdo como
fundado em si e de forma que aqui eu tenho a consciência do conceito. Não é só a
convicção (que é subjetiva), a certeza, a conformidade com princípios tidos por
verdadeiros. Aqui eu tenho a Verdade enquanto verdade, na forma da verdade, na forma
do absolutamente concreto, do pura e absolutamente de acordo consigo mesmo.

A mesma relação que há entre vigília e sono existe entre pensamento e representação.
Assim como é acordado que eu explico o sono e não o contrário, o pensamento explica a
representação, mas o contrário é impossível. A representação em todas as suas formas – da
religião às ciências naturais – tem o mundo por objeto. Seu conteúdo é extremamente
diversificado. O pensamento examina o modo de conexão que as representações têm entre
si e o modo como o Eu conecta essas representações – com a sua interioridade, com as
suas convicções e com o seu saber sobre a conexão.

A representação é para si mesma um todo, uma realidade concreta, que pode ser o mundo,
uma batalha. Ela é afirmada como autônoma na simples forma da universalidade. Para a
representação, nenhuma conexão realiza em si a mediação do conteúdo por si mesma. Por
isto o conteúdo não é apresentado como verdadeiro e necessário em si. Isto significa que a
representação não apreende nem o aspecto da identidade entre conceito e realidade, nem o
aspecto das diferentes determinações desta mesma identidade. Representação é reflexão,
raciocínio. As determinações do pensamento são formas de relação que, por sua vez,
também podem ser fixadas como representações. Quando isto ocorre, o próprio
pensamento assume a forma da representação. Nesta forma, o pensamento é raciocinante,
é o intelecto. É da natureza da conexão que não pertence ao pensamento enquanto tal ser
conexão da representação emprestada da analogia, do âmbito da imagem, ou mesmo da
representação indeterminada de alguma conexão incerta. Este último caso é exclusividade
do conteúdo religioso. Criar não significa funcionar como fundamento ou causa, que são
conexões. Criar é algo superior a estas determinações limitadas da representação porque
contém a relação especulativa, a produção da Ideia. Engendrar, ao contrário, é uma
expressão (no sentido de imagem) da Ideia Absoluta em si mesma, tirada da vida que por
certo contém a Ideia, mas de modo natural.

É o modo da conexão que constitui a necessidade do conteúdo. Mas na representação o


conteúdo está em relação consigo mesmo e não na conexão necessária. Da mesma forma, a
conexão por analogia – no nível da imagem – não é uma conexão pensada, posta como
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identidade na diferença. Como consequência, a verdade do conteúdo da representação


acaba sendo afirmada como dogma e a relação entre o Eu e esta verdade acaba sendo de
submissão: quer dizer que ela tem e conserva diante do Eu a figura da exterioridade. O Eu
se apropria dela, seja pelo coração, pela indigência, pela disposição, mas não se encontra
nela enquanto conceito, não se identifica com ela. Além disso, na representação há uma
conexão deficiente entre o universal e o particular. Esta deficiência, uma vez apreendida,
constitui a necessidade, o impulso para a compreensão racional que corresponde a
determinações, necessidades e exigências concretas. O termo indeterminado “razão”
(significando compreensão racional) se reduz ao fato de que no Eu não há nada certo e
firme, mas se mantém certo e firme no Eu para-si-mesmo, se assenta objetivamente, em-e-
para-si-mesmo, no Eu. Isto é: está fundado em si mesmo. Está determinado em-e-para-si.
Isto é o conceito puro, qualquer que seja seu conteúdo a ser determinado depois na relação
com a vontade e a inteligência. Aqui o substancial consiste em que este conteúdo seja
assim sabido pelo Eu como fundado em si, em que o Eu tenha a consciência do conceito,
não mais apenas a certeza, a convicção. No Conceito, o Eu tem a Verdade enquanto tal e
não mais a mera submissão ou conformidade a princípios tidos e aceitos como verdadeiros.
A verdade enquanto tal no Conceito aparece na forma da verdade, na forma do
absolutamente concreto, do absoluta e puramente de acordo consigo mesmo.

É sobre a diferença entre representação e pensamento que se funda a diferença entre


religião e filosofia. A Filosofia consiste em transpor o que se encontra na forma da
representação para a forma do conceito. O conteúdo é o mesmo: a verdade. A verdade é o
conteúdo para o Espírito do Mundo em geral, que é o espírito humano. Esta realidade
substancial não pode ser uma coisa quando é representada e outra quando conceituada, ou
compreendida. Mas na medida em que o ser humano pensa e a necessidade do
pensamento é essencial para ele, este conteúdo passa para a forma do pensamento e,
portanto, para o conceito. Aqui aparece a dificuldade de separar em um conteúdo o que é o
próprio conteúdo – o pensamento – do que pertence à representação. Em geral a Filosofia
é acusada de eliminar as formas da representação.

A tarefa da Filosofia é elevar o conteúdo à forma do pensamento, inclusive o conteúdo da


representação. A consciência comum não tem consciência da diferença porque para ela a
verdade está vinculada às determinações da representação. Por isso, o senso comum pensa
que, sem as determinações da representação, ficaria também sem conteúdo e entende a
transformação do conteúdo como a sua destruição. Neste momento, o intelecto entra em
ação e se aferra às formas da representação. Mas a conexão interna e a necessidade
absoluta através das quais o conteúdo da representação é elevado ao pensamento é
simplesmente o conceito em sua liberdade, de modo que todo conteúdo é determinação do
conceito em adequação com o próprio Eu. Aqui a determinabilidade é do Eu de um modo
absoluto. Aqui o Espírito tem a sua própria essência como objeto – desaparece a
exterioridade do conteúdo em relação ao Eu.

A representação sempre tem um modo de configuração mais ou menos sensível. Ela se


encontra entre a sensação imediatamente sensível e o pensamento propriamente dito. O
conteúdo da representação é de natureza sensível, mas nela o pensamento já se atreveu a
entrar em ação, ainda que não tenha penetrado, ou dominado, o conteúdo. A
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representação não apreende o sensível em sua imediatidade singular. Ela apreende O


sensível, O singular, em sua universalidade, em sua interioridade pensante. Mas a sua
consciência desta interioridade e desta universalidade ainda ocorre na forma da
singularidade e da sensibilidade. Por isto o objeto representado sempre contém ainda um
caráter espacial e temporal; ainda não pode se libertar do natural, pois ele mesmo é o
natural apreendido em sua universalidade e esta universalidade está na forma da
naturalidade. O pensamento também está presente, mas o sensível também se encontra no
pensamento. O resultado é uma mescla impura. E por consequência a representação
facilmente recorre a imagens, a analogias ou a formas indeterminadas como meio de
expressão.

Como no objeto representado o conteúdo geral aparece na forma sensível, ele se mostra
como espacial e se apresenta em sucessão temporal. O pensamento suprassume esta
sucessão na eternidade. Para a representação, a conexão das determinações internas do
conteúdo aparece como ocorrências na forma sucessiva, não em sua necessidade, que só
pertence ao conceito. Só o conceito, que está fora do tempo e da sensibilidade, pode
compreender o encadeamento necessário das determinações do conteúdo absoluto. Na
representação, elas permanecem na contingência da série temporal. A representação nos
oferece um relato, uma narrativa. O conteúdo abstrato é o primeiro; sua realização
concreta aparece como natural, como um acontecimento no tempo. O que é essencialmente
um momento do conceito aparece no plano da imagem como ocorrido naturalmente no
tempo. O interior, o em-si da conexão, sua unidade verdadeira só se revela ao pensamento
compreensivo. Mas na representação as determinações se mantêm separadas entre si
espacial e temporalmente. Por isto permanecem separadas em sua relação. O universal fica
separado do particular. E assim a representação renuncia à verdadeira conexão.

O pensamento propicia à autoconsciência a relação absoluta da liberdade. A representação


se mantém na esfera da necessidade externa porque todos os seus momentos, ao se
relacionarem entre si, o fazem de forma a não renunciar à sua autonomia. No pensamento,
a relação entre estas configurações é a da idealidade, de modo que nenhuma configuração
se apresenta autônoma e isolada das demais. Cada uma se reveste de uma aparência em
relação à outra. Cada diferença, cada configuração, é uma realidade transparente que não
existe para si de modo opaco e impenetrável. As diferenças não oferecem resistência umas
às outras, como se fossem autônomas para si, como ocorre na representação. Ao contrário,
estão postas em sua idealidade. No pensamento desaparece a relação da não-liberdade,
tanto do conteúdo como do sujeito, porque foi alcançada a adequação absoluta do
conteúdo e da forma. O conteúdo é livre em si e seu aparecer em si mesmo constitui a sua
forma absoluta e, no objeto, o sujeito tem diante de si a atividade da ideia, do conceito que
é ele mesmo, em-e-para-si.

Esta determinação é a contribuição do conhecimento filosófico da Verdade. Disto se deduz


imediatamente que só a Filosofia totalmente especulativa pode realizar este trabalho. Mas
não é demais lembrar que a humanidade não precisou esperar pela Filosofia para alcançar
a consciência e o conhecimento da verdade.
42

Há uma importante distinção entre conhecimento conceptual e intelecto abstrato. O


intelecto é reflexivo e nele se encontram as pressuposições da finitude, às quais ele confere
valor absoluto, convertendo-as em regra e medida. Ele aplica os pressupostos da finitude à
ideia e à verdade absoluta, degradando-as, pois elas são infinitas.

Para o intelecto abstrato, a forma sensível é o fundamental. Ele converte em relações


totalmente determinadas e finitas expressões relativas a imagens e expressões analógicas
nas quais esteja contido um pensamento em si especulativo que entretanto tenham sentido
figurado. Além do mais, como já vimos, o intelecto abstrato entende infinito como mera
abstração. E nomeou com a expressão “tornar compreensível” o seu processo de finitização
do absoluto, no qual o relativizou através das relações da finitude. Um representante deste
pensamento raciocinante diz que demonstrar é passar do finito ao finito. É verdade: a
reflexão do intelecto abstrato parte de relações finitas e não as ultrapassa. Ela segue o fio
da identidade e não passa para a negação. Mas a razão e o conceito fazem exatamente isto:
passar para a negação.

A Filosofia, enquanto conhecimento conceptual, se opõe à limitação às sensações, às


formas da representação e à reflexão abstrata. O conhecimento conceptual se opõe à
particularização, à subjetividade, à falta de visão do mundo em suas determinações. A
representação é apenas a forma enquanto aspecto do todo. O conteúdo da representação
não contém a necessidade. O conhecimento conceptual se opõe à reflexão enquanto
abstração, puro intelecto frio, sem matéria nem conteúdo. O conhecimento conceptual se
opõe à representação sem necessidade, sem liberdade, sem adequação entre conteúdo e
forma.

Estado

O cultivo da subjetividade, que é a purificação do coração em relação à sua condição


natural, imediata, se for realizado totalmente e criar uma situação permanente que
corresponda à sua finalidade geral, se consuma na vida ética, nos costumes e no Estado.

O Estado é a verdadeira forma da realidade, no sentido da efetividade, ou produto da


atividade humana. Nele se realiza a vontade verdadeira, ética, e o Espírito vive em sua
veracidade. A verdade, mais precisamente determinada, é o espírito livre. O Estado é a
liberdade no mundo, na realidade. Trata-se do conceito de liberdade que todo povo tem
em sua autoconsciência. É no Estado que se efetiva o conceito de liberdade e a esta
efetivação pertence essencialmente a consciência da liberdade em-si.

O conceito de liberdade é supremo e é realizado pelo ser humano. Um povo que tem um
conceito inadequado de liberdade também tem um mau Estado, um mau governo e leis
más.

Quando a liberdade, em vez de pensada, é representada, corre-se o risco de tomar o Estado


e suas leis de modo totalmente abstrato e não se determinar como se explicam as leis e
quais são as leis adequadas à Constituição fundamental. Em consequência, adere-se à tese
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de que as leis devem ser obedecidas quaisquer que sejam. Neste caso, o governar e o
legislar ficam abandonados ao arbítrio dos que governam.

Mas, para a Filosofia que pensa a liberdade como racional, antes de mais nada é preciso
saber que sua tarefa consiste em saber em que consiste o racional, além da tarefa da
cultura do pensamento. Neste sentido a Filosofia pode ser chamada de sabedoria
mundana. Para esta sabedoria, é indiferente a manifestação externa na qual as verdadeiras
leis se fizeram valer, se foram ou não arrancadas de um soberano. O que importa é que o
desenvolvimento do conceito de liberdade, de direito, de humanidade entre os seres
humanos é necessário por si mesmo. Princípios enquanto tais nada mais são que
pensamentos abstratos. Eles só alcançam a verdade em seu desenvolvimento. Mantidos na
abstração, estão totalmente desprovidos de verdade.

Formas da eticidade

Na realidade substancial, a constituição de família [para assegurar a continuidade da


espécie] é a primeira forma da eticidade. Em seguida, enquanto existência singular, o ser
humano tem que se confrontar com a realidade natural. Para ele, é uma lei ética se tornar
autônomo por sua atividade e seu intelecto. No plano natural, o ser humano depende de
muitos fatores. Por meio do espírito, ele se vê obrigado a prover o seu sustento e assim se
liberta da necessidade natural. Isto é a probidade humana.

A forma mais elevada da eticidade é o Estado, que tem por base a execução da vontade
racional universal. É no Estado que o sujeito tem liberdade, é nele que ela se realiza. Em
oposição a isto, a religião fixa como dever que a liberdade não deve ser o fim último dos
seres humanos; define que estes devem se submeter a uma obediência rigorosa,
permanecer sem vontade própria.

Quando a religião se apropria assim da atividade humana, pode impor prescrições


estranhas, opostas à racionalidade do mundo. A sabedoria do mundo surgiu em oposição a
isto e reconhece o verdadeiro na realidade. Na consciência do Espírito despertaram os
princípios de sua liberdade que entraram em colisão com os religiosos.

Os princípios da liberdade são verdadeiros, mas não podem ser tomados abstratamente. O
saber de que o ser humano é livre por natureza, ou de acordo com o seu Conceito, é próprio
dos tempos modernos.

O intelecto afirma que os princípios da liberdade são verdadeiros porque estão em conexão
com a autoconsciência humana. Mas se de fato é a razão que os descobre, ela só os
confirma na medida em sejam verdadeiros e não permaneçam num nível meramente
formal. Eles precisam se referir ao conhecimento da verdade absoluta e esta é objeto
exclusivo da Filosofia. Este conhecimento deve ser completo, tem que ser levado às últimas
consequências. O conhecimento que não se consuma assim fica exposto ao formalismo
unilateral do pensamento raciocinante. Neste caso, o conhecimento se converte em
44

preconceito, pois o pensamento ainda não penetrou em seu fundamento último, onde
existe a reconciliação com o absolutamente substancial.

Quando o Espírito humano está reconciliado consigo mesmo, a interioridade se conhece


como ser na esfera da sua própria natureza, sabe que está em si e este conhecimento é o
pensamento. Pensamento é o estado de reconciliação, o ser em si, o ser em paz consigo
mesmo. Como no início esta condição é inteiramente abstrata e não desenvolvida, surge a
exigência da verificação da verdade do seu conteúdo.

O pensamento é o universal, a expressão ativa do universal e se contrasta com o concreto


em geral, que representa o exterior. O pensamento é a liberdade da razão que se conhece
no espírito como existente por si. Esta liberdade se opõe à exterioridade puramente não
espiritual, à servidão, porque a servidão se opõe diretamente à concepção de reconciliação
e libertação. Assim, o pensamento entra em cena, destrói e confronta a exterioridade em
todas as suas formas.

No plano histórico, o Iluminismo foi a forma concreta do ato negativo e formal da


afirmação da liberdade do espírito envolvida na reconciliação consigo mesmo. Mas a regra
do intelecto, que pensa abstratamente, é a da identidade abstrata. Por isto este tipo de
pensamento tem o objetivo de dissolver tudo o que é concreto, todas as determinações,
todo o conteúdo. Sua reflexão tem por resultado final meramente a objetividade da própria
identidade.

O iluminismo racionalista dá um estatuto abstrato e independente ao ser humano, de


modo que este só reconhece o universal afirmativo que está nele. Mas como isto se faz de
modo abstrato, o que dá corpo e substância ao ser humano provém do acidental e
arbitrário. Mas mesmo assim há uma reconciliação nesta forma. Uma vez que todo
conteúdo desaparece efetivamente desta subjetividade particular que se conhece
infinitamente em si, o princípio da liberdade subjetiva tem por consequência o
conhecimento do que é se tornar consciente. A vida interior se desenvolve em si mesma.
Não é apenas algo interno, consciência. É subjetividade que se diferencia e faz distinções
em si mesma, é concreta. Ela aparece como sua própria objetividade, conhece o universal
como ser-em-si, como algo que ela produz a partir de si. É a subjetividade independente,
para si, autoconsciente, que se determina em si e, portanto, como se pode verificar na
Crítica da Razão Pura de Kant, é um desenvolvimento tão completo do lado subjetivo que
alcança a Ideia em si. Seu defeito é ser meramente formal, não ter verdadeira objetividade.
Mas representa o limite extremo do desenvolvimento espiritual formal, apesar de ainda
não haver a necessidade interna.

Como a Ideia deve ter uma forma verdadeiramente completa, é preciso saber que Forma,
ou determinação, não é meramente finitude, ou limite. Forma é, sobretudo, enquanto
totalidade da forma, Conceito. As formas que são conceito são necessárias e essenciais.

No Conceito, o conteúdo encontra a sua justificação e se concebe como concreto e livre,


preservando as diferenças não como se elas fossem apenas postas ou dependentes de
alguma coisa, mas permitindo-lhes aparecer como livres e consequentemente
reconhecendo o conteúdo como objetivo.
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Limitando-se ao sujeito, o Iluminismo é uma pretensão, é a vanidade do conceito. Neste


limite, é o mais violento adversário da Filosofia. A forma do sujeito, enquanto indivíduo
que sente e pensa, diz respeito ao sujeito enquanto indivíduo singular e a seus sentimentos.
Mas o sentimento enquanto tal não é descartado pela Filosofia. Ela apenas pergunta se o
conteúdo do sentimento é a verdade, se o sentimento pode provar que é verdadeiro no
pensamento. A Filosofia pensa o que sujeito sente e deixa que o sujeito se entenda com o
que sente. Portanto, o sentimento não é rejeitado pela Filosofia. Pelo contrário, é através
da Filosofia que o sentimento chega a seu conteúdo verdadeiro.

Mas, na medida em que o pensamento se opõe ao concreto, seu processo passa a ser o de
atravessar por completo esta oposição até chegar à reconciliação. Esta reconciliação é a
Filosofia, é a reconciliação entre Espírito e Natureza. A Filosofia produz esta reconciliação
mostrando que a natureza – o Outro – em parte pertence à própria natureza do espírito
finito, que deve ser levado ao estado de reconciliação e, em parte, alcança este estado de
reconciliação na história do mundo.

Há uma nota dissonante na realidade, assim como havia no Império Romano decadente,
porque havia desaparecido a unidade universal, porque a política estava universalmente
desprovida de princípio, de ação, de confiança e o pensamento se refugiou na forma do
direito privado. Tendo desaparecido o que era essencial por natureza, o bem-estar
individual foi promovido a bem supremo. O mesmo está acontecendo agora. Pontos de
vista morais, opiniões e convicções individuais sem verdade objetiva se transformaram em
autoridade e a busca de direitos privados e seu desfrute estão na ordem do dia. A chamada
“consciência cívica” é o pensamento burguês. Caracteriza-se por se preocupar somente
com o interesse individual, sem a preocupação com o todo ou com o interesse geral.
Quando não há justificação pelo Conceito, não existe mais a unidade interior e exterior na
consciência imediata, no mundo real. Nada se justifica. A rigidez de um comando objetivo,
de uma direção externa – o poder de Estado – nada pode fazer, porque o processo de
decadência é muito profundo.

Quando o tempero perdeu todo o sabor, quando todos os fundamentos foram tacitamente
removidos, o povo não sabe mais que rumo dar a seus impulsos, emoções e sentimentos. A
solução será dada pelo próprio mundo – esta não é uma tarefa imediata da Filosofia.

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