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snrre017 ACONTRADIGAO DO CINEMA AFRICANO | Filme no Mundo Filme no Mundo A CONTRADICAO DO CINEMA AFRICANO Um breve ensaio sobre a relagao entre producao e independéncia no cinema africano francéfono. Por Gibran Khalil Em 1965, em plena efervescéncia das revolugées sociais e movimentos anticoloniais de libertago em boa parte da Africa, dois grandes cineastas, nomes concretos da histéria do cinema produzido na Africa, entraram em uma polémica discussao. De um lado, o cineasta francés, expoente da nouvelle vague e do cinema-verité, Jean Rouch. Francés de nascimento, antropélogo, passou sua vida filmando o “outro” africano, principalmente no Niger e na Costa do Marfim, produzindo muitas das obras mais lembradas quando se pensa na Africa, como por exemplo; “Eu, um negro”, “Jaguar” e “A piramide humana”, Do outro lado, Ousmane Sembéne, talvez 0 nome mais conhecido dentre os cineastas africanos por ter suas primeiras obras alcancado o piblico dos festivais do mundo inteiro. Neste embate, a palavra de ordem é explicita; identidade, africanidade, alteridade, colonialismo e liberacao. © mundo vivia o alvorogo das teorias pés-estruturalistas. Franz Fanon impactava os paises do terceiro mundo com seus textos efervescentes sobre a necessidade de se descolonizar ndo sé a economia ¢ a politica, mas também as mentes. Nos paises colonizados, armas eram levantadas e 0 grito de independéncia era evidente. As estruturas vigentes ruiam em todas as esferas. Era a era de ouro dos desejos de mudanca, das novas ideias, da ruina das velhas praticas. Um espaco perfeito para o florescimento de um cinema nico, independente e principalmente, capaz de unir o sujeito filmado e o sujeito que filma numa posigao de paridade, de semelhanga. Por isso, era necessaria a defesa com unhas e dentes da bem recente independéncia. Ousmane Sembéne, assim, defende suas posicdes contra Jean Rouch e seus filmes que olham a Africa de fora. Radicaliza a necessidade de tornar o cinema africano um cinema feito por africanos, para africanos, trazendo assim a diversidade de tematicas que problematizam seu pais naquilo que tange as necessidades e os pontos relevantes; as dicotomias impostas pela natureza violenta da presenca estrangeira: modernidade/tradigao, urbano/rural, ete. O cinema, desta forma, foi visto e colocado como um instrumento politico importantissimo para 0 processo de descolonizacéo da mente, uma necessidade latente das novas nagées africanas recém- emancipadas. No entanto, o cinema ¢ tanto arte como industria. E foi justamente as caréncias hitpesfimenomunde.wordpress.con/2014/02/1Bia-contradicao-de-cinema-afrcanal 18 snora017 [ACONTRADIGKO DO CINEMA AFRICANO | Filme no Mundo financeiras para a produgao de filmes nos paises africanos que gerou — em maior escala nos paises de colonizacao francesa — uma de suas maiores contradicdes. Necessitando de capital para a produgio dos filmes, o cinema africano necessitou ¢ ainda necessita do apoio financeiro de paises europeus, notadamente, o capital francés: “Apés as independéncias, a Franga tentou manter os vinculos com suas antigas colénias, se tornando uma das principais financiadoras do cinema que surge no periodo, Mas 0 envolvimento francés em suas ex-colénias nao se baseia apenas em solidariedade, tal como observa D.B.C. O° Brien, citado por Roy Armes: ‘a verdadeira justificativa para o investimento da Franga na Africa pés- imperial, um investimento muito mais substancial que o oferecido pela Gra-Bretanha a suas antigas colénias africanas, é a manutencao do prestigio nacional francés’. (in: MELEIRO, 2007: 147)’. (In LIMA JUNIOR, 2013: 13). Aqui se encontra a grande contradigio enfrentada pelo cinema africano no seu inicio e que sobrevive até hoje gracas as dificuldades politica e econémicas que vivem estes paises. De um lado, um cinema independente, pois que surge junto com os processos de formacao de uma identidade nacional e independéncia ao julgo colonial dos anos 60. Do outro, a necessidade constante de financiamento dos paises estrangeiros, colonizadores Para amenizar a dependéncia do capital estrangeiro no cinema, varios paises criaram forcas estatais de financiamento, porém, diante das dificuldades, muitos dos cineastas, Sembéne, algumas vezes, acabam por voltar seu interesse ao mercado estrangeiro, problematizando assim uma produgao que tem que se enquadrar ao interesse de um piblico que nao ¢ africano e que possui um interesse expressivo para que o cinema africano aborde determinadas tematicas que nao necessariamente so aquelas do interesse dos africans. O nivel de sucesso dos filmes africanos no mercado europeu evidenciam o interesses pelos aspectos mais exéticos destes povos; seus costumes tradicionais, sua magia, suas particularidades singulares. Filmes que abordavam temas mais atuais, da vida urbana, por exemplo, nao vingaram e nao ganharam o interesse do publico internacional. Assim, por mais que sobrasse vontade de mostrar a Africa em seus aspectos mais verdadeiros — nao se pode questionar isto - o interesse dos ex-colonizadores acabaram por moldar o material produzido, as narrativas e suas principais questdes, limitando 0 espaco de atuacao ¢ a liberdade criativa dos realizadores Assim, o cinema africano nas tltimas décadas voltou-se ao folclore, a magia e as tradigdes. Cineastas africanos, conhecedores de sua cultura, posicionam-se apesar de todo o apelo anticolonial a uma postura de “olhar” para o outro — mesmo que muito mais préximo do que uma alteridade europeia — para atingir 0 mercado internacional. © que Sembéne demonstrou em sua irritagdo com Jean Rouch em 65, um alerta ao que acontece ainda hoje. Existe cinema africano se este perpetua as necessidades e fetiches do mercado europeu? Escraviza-se a producao local aos fins que concernem aqueles que os financiam. A imagem de uma Africa mdgica, do anciao debaixo de uma rvore contando lendas, escraviza 0 olhar de uma Africa que também quer olhar para o futuro tendo sua cultura e sua histéria como luz para guié-los. Basta ver que filmes sobre o presente, mostrando as mudangas sociais e urbanas dos paises africanos sao escassos — apesar de insistentes. Filmes que tentam tracar tal rumo narrativo nao atingem ao publico estrangeiro, acostumados a ver a Africa como o territério da magia, o contraponto ao mundo da razao, e falham no mercado interno diante de um piblico africano ainda muito escasso, que nao assiste suas préprias produgées. Assim, perpetua-se a enorme contradigo que enfrenta o cinema africano, talvez, qualquer cinema periférico — Fazer filmes para quem? hitpesfimenomunde.wordpress.con/2014/02/1Bia-contradicao-de-cinema-afrcanal 23 snora017 [ACONTRADIGKO DO CINEMA AFRICANO | Filme no Mundo De um lado, vemos um crescimento importante da produgao com verba estatal, recursos nacionais que possibilitam maior liberdade aos cineastas falarem de si proprios - recursos estes, ainda escassos, ainda com poucos exemplos de sucesso. Por outro lado, a necessidade constante de financiamento exterior — bem superiores em capital — com todas as suas contrapartidas que pée em cheque a ideologia original de um cinema surgido para a emancipago das mentes, de um cinema surgido diferente de muitos outros. A luz de uma releitura, passados quase 50 anos desde do famoso debate entre Ousmane Sembéne e Jean Rouch, compreende-se a imensa irritagio, muitas vezes exageradamente radical e injusta para com o cineasta francés por parte do senegalés. Resta ainda uma luta imensa pela real construgio do cinema africano como ele foi idealizado. Na minha opiniao, enquanto o capital estrangeiro for 0 principal financiador do cinema produzido na Africa, 0 processo de descolonizagao da mente africana nao tera sido concluida. E 0 sonho de Sembéne e de tantos outros nao terd sido realizado. 50 anos tornam qualquer irritagao passada ou presente, extremamente compreensivel. REFERENCIAS: MELEIRO, Alessandra (org.). Cinema no Mundo: Africa Volume 1 — Industria, politica e mercado. Sao Paulo: Escrituras Editora, 2007. BAMBA, Mahomed. O(s) Cinema(s) Africano(s): No singular e no plural. In: Cinema Mundial Contemporaneo. BAPTISTA, Mauro; MASCARELLO, Fernando (orgs.). Campinas: Papirus, 2008) LIMA JUNIOR, David Marinho de. A AFRICA OCIDENTAL FRANCESA E O SURGIMENTO DO CINEMA NA AFRICA NEGRA. XXVIII Simpésio Nacional de Hist6ria: Conhecimento histérico e dialogo social. Natal/RN. 22 a 26 de julho de 2013. STAM, Robert. Introducao a teoria do cinema. Campinas — SP: Papirus, 2013 (Pag 230 - 236). nineios ‘Smartphone Positive Twis. Postivo, Twist, $520 M, 8.0 MP, 3G, Wi-Fi, Bluetootn, Meméria Intema 16GB, 2 Crips RS 429 Confira ‘Smartphone LG K4 8GB K... Postado em Africa como fevereiro 18, 2014 por filmenomundo. Deixe um comentario M WEBS) SU BLOG GRAT NO WORDPRESS. hitpesfimenomunde.wordpress.con/2014/02/1Bia-contradicao-de-cinema-afrcanal a3

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