Descartes nunca discute o ceticismo antigo de forma detalhada, nem dá indicações claras sobre quais
obras ele leu ou não, no entanto, o autor acredita que é razoável admitir que Descartes tinha familiaridade
com as ideias presentes na obra de Sexto, mesmo que fosse por intermédio de seus contemporâneos.
Mesmo que não conheçamos as fontes de seu conhecimento do ceticismo antigo, podemos ver o que ele
pensa sobre o assunto em determinadas passagens de suas obras.
Seção 3: evidências textuais de que Descartes equipara os escopos do ceticismo antigo e moderno
Em determinadas passagens, Descartes nega que o ceticismo apresentado em sua obra é mais radical que
o ceticismo antigo, entretanto, isso não deve ser considerado decisivo, pois Descartes pode não ter
percebido o caráter inovador de sua obra ou estava deliberadamente esquivando-se de uma acusação de
heresia.
As passagens indicam que Descartes avalia que o ceticismo antigo ultrapassa os limites do ceticismo de
propriedades; ao duvidar de que ele tinha um corpo e da existência do mundo exterior, o ceticismo de
Descartes também ultrapassa os limites do ceticismo de propriedades; o autor sustenta que estas
constatações reforçam sua sugestão de que Descartes pensava que os céticos antigos também duvidavam
destas coisas.
O autor acredita que é claro que os céticos antigos rejeitam não apenas o conhecimento, mas também a
crença, mas que não é claro se os céticos sustentam uma visão do tipo “nenhuma crença” ou uma visão
“alguma crença”, isto é, se eles rejeitam todas as crenças ou apenas algumas crenças.
Ele sustenta que os céticos possuem crenças sobre como as coisas aparecem para eles, mas suspendem
o juízo sobre se tais aparências são verdadeiras: as aparências sobre as quais eles têm crenças são
não-doxásticas.
Seção 5: resposta ao argumento da apraxia
O próprio Descartes utiliza esse argumento para criticar os céticos antigos enquanto alega que sua
admissão temporária do ceticismo na Primeira Meditação não o faz agir de maneira descuidada, pois
restringe suas dúvidas ao âmbito da busca da verdade e não as estende para o âmbito da ação.
Esse isolamento do ceticismo em relação ao âmbito da ação consiste, na interpretação do autor, numa
rejeição tanto do conhecimento quanto da crença: Descartes apoia-se naquilo que parece ser verdadeiro
para agir, mas não afirma que as aparências são verdadeiras, ou seja, tais aparências são não-doxásticas.
O autor utiliza a distinção terminológica entre crença e aceitação para sustentar sua interpretação.
Sexto distingue critérios de verdade e critérios de ação: os céticos suspendem o juízo quanto a existência
de critérios de verdade, mas apoia-se “naquilo que aparece” como o seu critério de ação.
O autor entende que esse critério de ação consiste em aceitar e agir com base nas aparências
não-doxástica sem, no entanto, tomar os conteúdos dessas aparências como verdadeiros.
O autor conclui, contrariamente ao posicionamento de Descartes, que existe mais uma similaridade entre
o ceticismo dos pirrônicos e o ceticismo moderno: ambos respondem ao argumento da apraxia dizendo
que eles aceitam as aparências não-doxásticas.
Além disso, o autor começa a apontar mais algumas similaridades entre as respostas de Sexto e Descartes
ao argumento da apraxia: ambos distinguem os âmbitos teórico (critério de verdade/busca da verdade) e
prático (critério de ação/questões de ação); ambos os códigos de conduta de conduta contêm quatro
elementos (observações cotidianas/máximas) que são aceitos a fim de evitar a inatividade.
1. a posição de Descartes parece envolver crenças de primeira ordem; 2. Sexto chega ao modo de vida de
forma passiva enquanto a moral provisória é estabelecida de forma ativa; 3. Descartes não rejeita a crença
de forma genuína e por isso pode agir; 4. os céticos antigos nunca duvidavam de que tinham um corpo
para agir ou que existia um mundo onde agir, pois sua preocupação principal era prática (os antigos
tentavam viver o ceticismo que, para Descartes, era uma questão estritamente metodológica).
Seção 9: conclusão