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25 de Abril: Dia da Liberdade

Antes do 25 de Abril

Estado Novo

Até ao golpe de estado de 25 de Abril de 1974, estava instaurado em Portugal um


regime ditatorial e autoritário que dava pelo nome de Estado Novo. O modelo não
era nosso e já existia noutros países da Europa, como era o caso da Itália, por
exemplo.

O Estado Novo era um sistema político desenvolvido a partir da afirmação da


necessidade de intervenção do estado na vida económica e social e da autoridade
do governo e condicionamento das liberdades individuais, em nome do interesse
geral e da protecção e promoção social das classes trabalhadoras num clima de paz
social. Esta nova concepção de gestão política surgiu face à falência da concepção
liberal e individualista do estado, generalizada um pouco por toda a Europa, após a
I Grande Guerra, durante o período em que diversas revoluções nacionalistas
tiveram lugar.

Em Portugal, o Estado Novo surgiu logo após a revolução de 28 de Maio de 1926,


que arrastou duas correntes de pensamento político reorganizador. Por um lado,
defendia-se que o objectivo da ditadura militar seria reestruturar o sistema
partidário e devolver o poder aos partidos políticos; por outro lado, afirmava-se a
criação de um novo regime republicano, livre das vicissitudes da democracia liberal,
com características de Estado Novo, isto é, o predomínio de um sistema
presidencialista aliado a um sistema económico e social corporativo. Foi esta
segunda corrente que prevaleceu, apoiada na Constituição de 1933. A primeira
referência à expressão “Estado Novo” foi proferida num discurso do ministro do
interior, Pais de Sousa, em 1931.

A grande figura do Estado Novo em Portugal foi António de Oliveira Salazar.


Ingressando como ministro das Finanças nos governos da ditadura militar a partir
de 1928, Salazar implantou em poucos anos um regime autoritário de fachada
eleitoral, com um partido único, uma polícia política, censura prévia e a repressão
das oposições políticas. Nascia o Estado Novo, uma ditadura do chefe de governo
com uma Constituição corporativa (1933). Alicerçado num estado forte, e com uma
austera política deflacionista e de contenção orçamental, Salazar governaria o país
sob o lema “orgulhosamente sós”, marcando profundamente o século XX
português.
Depois de Salazar abandonar o poder em 1968, devido à queda de uma cadeira e
consequente hemorragia cerebral, os destinos do regime ditatorial foram entregues
a Marcello Caetano, que viria a ser derrubado no dia 25 de Abril de 1974.

Antes do 25 de Abril
Marcello Caetano (1906-1980)

Professor universitário e estadista português, era chefe de governo à data da


revolução de 25 de Abril de 1974. Licenciado em Direito pela Universidade de
Lisboa, em 1927, foi o primeiro a doutorar-se nesta Universidade na especialidade
de Ciências Político-Económicas. Como jurista, desenvolveu a sua actividade na
área do Direito Público, devendo-se-lhe a criação do Código Administrativo em
vigor desde 1936. Impulsionou ainda a renovação dos estudos de Ciência Política
e Direito Constitucional e da Administração Ultramarina da época. Professor de
Direito Administrativo desde 1933, foi reitor da Universidade de Lisboa entre 1959
e1962 e director do Instituto de Direito Comparado na Universidade de Gama
Filho, no Rio de Janeiro, entre 1974 e 1980.

Na sua actividade política, foi vogal da União Nacional (1932), comissário nacional
da Mocidade Portuguesa (1940-1944), ministro das Colónias (1944-1947),
presidente da comissão executiva da União Nacional (1947-1949), presidente da
Câmara Corporativa (1949-1955), ministro da Presidência (1955-1958) e chefe do
governo (1968-1974). Foi precisamente neste último cargo que as suas acções
suscitaram maior polémica. Substituindo Salazar por motivos de saúde deste, a
sua política constituiu uma tentativa de abertura pacífica, que foi mal esclarecida,
suscitando críticas e resistências em vários sectores. Em plena guerra colonial,
Caetano promoveu a reforma constitucional (1971), alargando a autonomia
administrativa das colónias. Os sucessivos avanços e recuos no processo de
liberalização das instituições políticas reduziram a sua base de apoio político, o
que, paralelamente ao impasse da guerra colonial e ao alastrar do
descontentamento no seio da instituição militar, veio abrir caminho ao golpe de
Estado de 25 de Abril de 1974. Com este golpe, o Movimento das Forças Armadas
(MFA) derrubou o regime autoritário, destituindo Marcello Caetano (que se exilou
no Brasil) e entregando o poder à Junta de Salvação Nacional, presidida pelo
general António de Spínola.

Os rostos da Revolução

Salgueiro Maia (1944-1992)

No dia 1 de Julho de 1944 nasce, em Castelo de Vide, Fernando


José Salgueiro Maia, o principal protagonista da Revolução dos
Cravos.

Licenciado em Ciências Sociais e Políticas e em Ciências


Etnológicas e Antropológicas, ingressou na Academia Militar, em
Lisboa, em 1964 e, dois anos mais tarde, na Escola Prática de
Cavalaria (EPC) de Santarém. Combateu na Guerra Colonial em
Moçambique, já com a patente de capitão. Como tenente-coronel
de cavalaria, foi um dos membros mais activos do MFA (Movimento das Forças
Armadas), tendo sido o responsável pela tomada do Terreiro do Paço e pela
rendição de Marcello Caetano a 25 de Abril de 1974. Vindo de Santarém, com 240
homens e dez carros de combate, derrubou o poder em cerca de 12 horas.

Apesar de ter sido membro da Assembleia do MFA durante os governos provisórios,


o “capitão de Abril” nunca aceitou qualquer cargo político no pós-25 de Abril.

Otelo Saraiva de Carvalho

Otelo Saraiva de Carvalho foi um dos chefes operacionais da


Revolução de 25 de Abril. Do posto de comando instalado no Rádio
Clube Português, Otelo, com o nome de código de “Tigre”,
comandou as forças revoltosas que se foram instalando em todos
os pontos estratégicos definidos para o golpe de estado.
Indigitado comandante da Região Militar de Lisboa, posteriormente promovido a
general, tornou-se membro do Conselho da Revolução em Março de 1975. Após a
queda do I Governo Provisório, foi-lhe entregue o Comando Operacional do
Continente (COPCON), verdadeiro centro do poder militar, do qual Otelo nunca fez
uso efectivo, mostrando-se incapaz de seguir uma política de alianças coerente. A
apatia do COPCON no cerco de 13 de Novembro à Assembleia Constituinte originou
a ruptura entre Otelo e o governo e determinou a sua substituição à frente daquele
organismo. Otelo participou, então, numa tentativa de golpe, a 25 de Novembro de
1975, da qual o COPCON saiu derrotado. Decretada a sua prisão, Otelo conseguiu
ainda reabilitar a sua imagem, candidatando-se às eleições presidenciais de 1976 e
alcançando metade dos votos comunistas. Conotado com a extrema-esquerda,
voltou a candidatar-se em 1980.

Acusado de envolvimento com o grupo revolucionário FP-25 de Abril, responsável


por actos de violência civil, foi preso em 1984 e condenado à prisão em 1987.
Receberia indulto presidencial em 1995, saindo em liberdade e retomando a sua
actividade empresarial em Angola.

Spínola (1910-1996)

Na tarde de 25 de Abril de 1974, o general Spínola assumiu das mãos de Marcello


Caetano os destinos da nação. Membro da Junta de Salvação Nacional, foi
presidente da República de 15 de Maio de 1974 a 30 de Setembro de 1974.
Natural de Santo André, fez os estudos secundários no Colégio Militar. Em 1928,
ingressou na Escola do Exército, seguindo o curso de cavalaria, concluído em 1933
com promoção a alferes.

Em 1939, tornou-se ajudante de campo do comando da Guarda Nacional


Republicana e, em 1941, partiu para a frente russa (II Guerra Mundial) como
observador das movimentações da Wehrmacht (exército alemão) no início do cerco
a Leninegrado.

Em 1961, em carta dirigida a Salazar, ofereceu-se como voluntário para Angola.


Notabilizou-se no comando do batalhão de cavalaria n.º 345, em Angola, entre 1961
e 1963. Em 1968, foi nomeado governador da Guiné-Bissau, cargo que exerceu até
1973, tendo sido um dos principais responsáveis pelo esforço de democratização
daquele território. Após a invasão de Conacri (República da Guiné), em 1970, e a
rejeição de negociações com o PAIGC (1971), regressou à contestação do regime
com o seu livro Portugal e o Futuro</I< I>>, que seria publicado em Fevereiro de
1974, tendo vindo a exercer influência no desencadear do golpe militar de 25 de
Abril desse ano.

Em Janeiro de 1974, tinha assumido funções de vice-chefe do Estado Maior General


das Forças Armadas. Foi demitido desse cargo, após a publicação de Portugal e o
Futuro</I< I>>, livro em que criticava a política ultramarina do regime. Após o 25
de Abril de 1974, foi nomeado presidente da Junta de Salvação Nacional (JSN),
tendo a seu lado, entre outros, Costa Gomes. Este órgão máximo de poder decidiu
pela sua designação para presidente da República, funções que desempenhou até
30 de Setembro de 1974, dia em que apresentou a sua demissão do cargo.
A orientação esquerdista que a vida política nacional assumia, após a sua
demissão, levou-o a envolver-se no golpe militar de 11 de Março de 1975, com o
objectivo de travar o avanço do Partido Comunista Português (PCP). Spínola saiu
derrotado, sendo obrigado a procurar refúgio em Espanha. Posteriormente, veio a
criar um movimento de resistência anti-comunista, o MDLP (Movimento
Democrático para a Libertação de Portugal), dissolvido após o 25 de Novembro de
1975, quando os militares da esquerda moderada do MFA derrotaram militarmente
o sector pró-comunista das Forças Armadas.
Nomeado general em 1969, foi promovido a marechal em 1981. Em 1987, foi
designado chanceler das ordens militares e Grã-Cruz da Torre e Espada.

A Revolução
O contexto político e social

A Revolução de 25 de Abril de 1974, que ficou conhecida como a Revolução dos


Cravos, derrubou o regime autoritário iniciado por Salazar quarenta e oito anos
antes e abriu o caminho para a democracia em Portugal.

Contestação do regime

Apesar do seu carácter fechado e repressivo, o regime corporativo fora


profundamente afectado pela década de 1960. Depois da campanha oposicionista
do general Humberto Delgado (assassinado pela polícia política em 1965), a
contestação social e política atingira níveis nunca vistos, ultrapassando os círculos
intelectuais e alastrando aos meios operários e ao movimento estudantil. À medida
que se avançava na década, a Guerra Colonial entretanto iniciada (1961) tornava-
se o alvo especial da oposição - consumia os esforços e as vidas do país e revelava-
se como um combate longo, sangrento e inútil.

Entretanto, aumentara a pressão externa contra Salazar. O afastamento deste


último e a liberalização que se lhe seguiu, liderada por Marcello Caetano, não pôs
fim ao problema da guerra, acabando mesmo, na óptica do governo, por se revelar
prejudicial à sua condução. Enquanto a pressão à sua volta crescia, o regime
voltava a fechar-se, entrando nos anos 70 sem perspectivas de se modificar.

Derrube do regime

A solução acabou por vir do lado de quem fazia a guerra: os militares. No ano de
1973, um dos mais mortíferos da Guerra Colonial, nascia uma conspiração de
oficiais de patente intermédia, descontentes com a duração e as condições do
conflito. Começava o “Movimento dos Capitães”, depois designado por
Movimento das Forças Armadas (MFA). Este movimento politizou-se
rapidamente, concluindo pela inevitabilidade do derrube do regime em Portugal
para se poder chegar à paz em África. Depois de um golpe falhado nas Caldas da
Rainha (16 de Março), em que não teve intervenção, o MFA decidiu avançar: o
major Otelo Saraiva de Carvalho elaborou o plano militar e, na madrugada de 25
de Abril, a operação “Fim-regime” tomou conta dos pontos estratégicos da cidade
de Lisboa, em especial do aeroporto, da rádio e da televisão. Lideradas pelo capitão
Salgueiro Maia, as forças revoltosas cercaram e tomaram o quartel do Carmo,
onde se refugiara o chefe do governo, Marcello Caetano. Rapidamente, o golpe de
estado militar foi aclamado nas ruas pela população portuguesa, cansada da guerra
e da ditadura, transformando-se o movimento numa imensa explosão social e numa
revolução pacífica, que ficou conhecida no estrangeiro como a “Revolução dos
Cravos”.

A Revolução
O Movimento das Forças Armadas

Movimento de intervenção política criado por um grupo de oficiais das Forças


Armadas que planeou e executou o golpe de estado do 25 de Abril de 1974,
levando à queda do regime autoritário e transferindo o poder para a Junta de
Salvação Nacional, presidida pelo general António de Spínola.

Do seu programa político constava a intenção de formação de um governo civil que


preparasse eleições para uma assembleia constituinte, de forma a dotar o país de
instituições democráticas e de uma nova política económica e social de defesa dos
interesses das classes trabalhadoras contra o poder dos grandes grupos
monopolistas. Propunha igualmente a abolição da censura e a extinção da polícia
política, da Legião e da Mocidade Portuguesa, e autorizava a constituição de
«Associações Políticas». Quanto ao plano de operações, previa a concentração de
forças de vários pontos do país sobre Lisboa, o controlo de emissoras de rádio e
televisão, do aeroporto e do quartel-general da região militar, o aprisionamento dos
membros do governo e do presidente da República, e a apresentação ao país dos
membros da Junta de Salvação Nacional perante as câmaras da RTP.

A coordenação das operações do MFA, durante a revolução de Abril, foi assegurada


por um posto de comando único e um sistema de transmissões e escuta próprio.
Constituíam a direcção do movimento Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço e
Vítor Alves.
Revolução
De 24 para 25 de Abril... - Cronologia dos acontecimentos

24 de Abril de 1974:

22h55 – A primeira senha para o início da Revolução é ouvida nos Emissores


Associados de Lisboa. A voz do locutor João Paulo Diniz anuncia a canção E Depois
do Adeus, de Paulo de Carvalho.
É a palavra de ordem combinada para que o 10.º Grupo de Comandos assalte o
Rádio Clube Português, na Rua Sampaio Pina, para transformá-lo no posto de
comando do Movimento das Forças Armadas.

25 de Abril de 1974:

00h20 – É hora da segunda senha. A Rádio Renascença passa o tema Grândola Vila
Morena, de Zeca Afonso. Por esta hora, o movimento revolucionário do MFA já está
em marcha!

Os movimentos de tropas começam um pouco por todo o lado.

Em Vendas Novas, na Escola Prática de Artilharia (EPA), um grupo de capitães e


tenentes prende no seu gabinete o coronel que comanda a unidade, ocupa a central
telefónica e a central rádio e controla as entradas do quartel.

No Lumiar, na Escola Prática de Administração Militar (EPAM), os capitães e


subalternos preparam-se para a ocupação dos estúdios da Radiotelevisão
Portuguesa (RTP), na Alameda das Linhas de Torres.

Em Campolide, uma coluna militar apeada sai do Batalhão de Caçadores 5 para


reforçar o comando de assalto ao Rádio Clube Português, entretanto já tomado
pelo 10.º Grupo de Comandos.

Pouco depois das 02h00 – Uma coluna motorizada sai do Campo de Tiro da Serra
da Carregueira (CTSC) com o objectivo de ocupar a Emissora Nacional, na Rua do
Quelhas.

Entre as 03h15 e as 03h25 – Vão chegando as mensagens de êxito das


operações ao posto de comando, instalado no Regimento de Engenharia 1, na
Pontinha. O major Otelo Saraiva de Carvalho, encarregue da coordenação das
operações, recebe as mensagens de que Mónaco (nome de código para a RTP),
México (nome de código para o Rádio Clube Português) e Tóquio (nome de código
para a Emissora Nacional) já foram tomados. Estavam conseguidos os objectivos
prioritários dos canais de informação.
03h30 – Da Escola Prática de Cavalaria (EPC) de Santarém sai uma coluna militar
composta por dez viaturas blindadas, doze viaturas de transporte, duas
ambulâncias, um jipe e uma viatura civil de exploração. A liderar a coluna estava
aquele que viria a ser a figura mais importante da revolução: o capitão Salgueiro
Maia.
O objectivo principal desta coluna era o Terreiro do Paço e os seus ministérios
(cujo nome de código era Toledo).

Ao mesmo tempo, as forças do regime começavam a aperceber-se do que se iria


passar.

03h40 – A coluna do Regimento de Infantaria 10, de Aveiro, chega ao Regimento


de Artilharia Pesada da Figueira da Foz. É preso o comandante.
Para que o Agrupamento Norte esteja completo, falta a chegada das forças do CICA
2, da Figueira da Foz, e do Regimento de Infantaria 14, de Viseu.
O Agrupamento Norte tem como objectivos o controlo de um segmento da fronteira
com Espanha, a ocupação do Forte de Peniche e a PIDE/DGS do Porto.

Entretanto, outras forças dirigem-se para outros alvos: quartéis da Legião


Portuguesa, unidades da GNR e da PSP, fronteiras com Espanha, antenas de rádio,
etc.

04h20 – Apesar do atraso das forças da Escola Prática de Infantaria (EPI) de Mafra,
que deveria ter atacado o alvo às 03h00, o Aeroporto da Portela (com o nome de
código de “Nova Iorque”) é tomado e controlado.

04h26 – É emitido o primeiro comunicado à população pelo posto de comando do


MFA instalado no Rádio Clube Português. Neste comunicado, o Movimento das
Forças Armadas apela à calma e ao recolher da população às suas casas, para que
se evitem confrontos com as Forças Armadas.

04h45 – Outro comunicado aconselha as forças militarizadas e policiais a


recolherem aos seus quartéis e aí aguardarem as ordens do MFA.

05h00 – Silva Pais, director-geral da PIDE telefona a Marcello Caetano a informá-lo


de que a revolução está na rua. Para salvaguardar a segurança do chefe de
Governo, é decidida a sua ida para o quartel do Carmo.

05h15 – O MFA adverte as forças do regime para a responsabilização que lhes será
imputada caso enveredem pela luta armada.

05h45 – Mais um comunicado do MFA, desta vez para reforçar o que fora dito nos
anteriores e apelar ao civismo de todos os portugueses para que se evite um
confronto armado.

Nos intervalos destes comunicados, o Rádio Clube Português vai passando canções
de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Francisco Fanhais,
Luís Cília e José Mário Branco.

06h00 – A coluna militar que partira de Santarém sob a liderança de Salgueiro Maia
chega ao Terreiro do Paço. Os carros de combate cercam os ministérios, a divisão
da PSP aquartelada no Governo Civil, a Câmara Municipal, a Rádio Marconi e o
Banco de Portugal.
O posto de comando é estabelecido no centro da praça com uma chaimite e uma
autometralhadora EBR. À frente das operações continua Salgueiro Maia, que
comunica a Otelo Saraiva de Carvalho o sucesso na ocupação de Toledo (Terreiro
do Paço) e no controlo de Bruxelas (Banco de Portugal) e Viena (Rádio Marconi).

Pouco depois das 06h00 – As forças do regime enviam para o Terreiro do Paço
um pelotão de AML/Chaimites do Regime de Cavalaria 7. No entanto, o alferes
miliciano que comanda o pelotão, depois de falar com Salgueiro Maia, acaba por
aderir ao movimento revolucionário. Entretanto, outros dois pelotões, desta vez de
Lanceiros 2, aderem também às forças da revolução.

Entretanto, o ministro do Exército e outros elementos do Governo reúnem de


emergência no Ministério do Exército para encontrar uma solução que faça face à
rebelião militar.

A fragata “Almirante Gago Coutinho”, que na altura paticipava num exercício militar
da NATO, recebe ordens para abandonar as manobras no Atlântico e entrar no Tejo,
com o objectivo de abrir fogo contra as forças revolucionárias estacionadas no
Terreiro do Paço.

Cerca das 09h00 – A fragata surge no estuário do Tejo, em frente ao Terreiro do


Paço. No morro do Cristo-Rei, uma bateria da Escola Prática de Artilharia segue
todos os seus movimentos.
Sob a ameaça de tal poder de fogo, Otelo ordena a Salgueiro Maia que proteja os
militares e os tanques debaixo das arcadas da Praça do Comércio.

Cerca das 12h00 - O comandante Vítor Crespo consegue que seja anulada a
ordem de abrir fogo e que a fragata vá fundear em frente ao Alfeite.

Depois de vencida a ameaça da “Gago Coutinho”, Salgueiro Maia vê-se a braços


com um novo ataque das forças do regime. Cinco carros de combate M/47 de
Cavalaria 7, atiradores do Regimento de Infantaria 1 da Amadora e alguns soldados
da PM de Lanceiros 2 são as novas armas enviadas pelo Governo. A coluna é
comandada por um brigadeiro que recusa o diálogo com Salgueiro Maia e manda
abrir fogo. Ninguém lhe obedece e a coluna acaba por se juntar a Salgueiro Maia.

Depois de ser informado, pelo posto de comando, de que Marcello Caetano está
refugiado no quartel do Carmo, Salgueiro Maia deixa as suas forças a guardar os
ministérios e dirige-se para o Carmo. No Rossio, depara-se com mais uma coluna
militar enviada pelo regime para fazer frente aos revoltosos. Também esta coluna
acaba por se juntar a Maia, já que o próprio comandante da mesma está com a
Revolução, apesar de ter recebido ordens para prender o capitão Salgueiro Maia.

Cerca das 12h30 - Toda a baixa está repleta de populares que encorajam os
soldados e lhes colocam cravos vermelhos nos canos das G-3.

Salgueiro Maia já está no Carmo e recebe ordens do posto de comando para abrir
fogo sobre o quartel do Carmo, já que a guarnição que guarda Marcello recusa a
render-se e a entregar o chefe de Governo. Mas o capitão sabe que o disparo das
autometralhadoras num largo repleto de populares iria provocar muitas mortes.
Assim, opta por disparar armas automáticas para a parte superior do quartel.

Maia entra no edifício duas vezes. Da primeira vez, consegue entrar mas não
consegue a rendição. Da segunda vez, exige falar com o Presidente do Conselho.

Salgueiro Maia pede a Marcello Caetano a sua rendição formal e imediata. O chefe
de Governo declara já o ter feito ao general Spínola, pelo telefone. Diz ainda que
está apenas a aguardar a chegada de Spínola para lhe transferir o poder, para que
este não caia na rua.
Marcello pede para ser tratado com dignidade e pergunta para onde vai. Pergunta
também pelos destinos do Ultramar.

Cerca das 18h00 – O general Spínola chega ao quartel do Carmo.

19h30 – Marcello Caetano, Moreira Baptista e Rui Patrício são conduzidos a uma
viatura blindada. A multidão apupa-os com o grito de “assassinos!”.
Mesmo depois da rendição de Marcello Caetano, e a consequente vitória da
revolução, na sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso, os agentes do regime
disparavam das janelas, facto que resultou em cinco mortes – as únicas de toda a
revolução!

À noite – Os portugueses assistem pela televisão às declarações da Junta de


Salvação Nacional, composta pelo general Spínola, Rosa Coutinho, Pinheiro de
Azevedo, Costa Gomes, Jaime Silvério Marques, Galvão de Melo e Diogo Neto.

Na sombra dos cargos políticos ficavam os capitães de Abril...

A Revolução
O primeiro comunicado do MFA

Eram 4h26 da madrugada de 25 de Abril de 1974, quando o Movimento das Forças


Armadas emite o seu primeiro comunicado à população, numa emissão do Rádio Clube
Português:

“Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas


portuguesas apelam a todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a
suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calam. Esperamos sinceramente
que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer
acidente pessoal, para o que apelamos o bom senso dos comandos das forças
militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas.
Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que
enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.
Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de
qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica,
esperando a sua acorrência aos hospitais a fim de prestar a sua eventual colaboração, que
se deseja, sinceramente, desnecessária.”

A Revolução
A Junta de Salvação Nacional

Organismo constituído pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), após a revolução
do 25 de Abril de 1974, com o poder e a legitimidade exclusiva de executar o
programa do MFA.

A junta era composta por sete membros. Presidida pelo general António de Spínola,
integrava Rosa Coutinho, Pinheiro de Azevedo, Costa Gomes, Jaime Silvério
Marques, Galvão de Melo e Diogo Neto. Numa segunda fase, procedeu-se à
repartição de poderes por outros órgãos: o presidente da República (designado pela
Junta), o conselho de estado, o governo provisório e os tribunais.

Entre as suas múltiplas incumbências, competia-lhe promover eleições para uma


assembleia nacional constituinte, assumindo a própria junta uma posição de
directório supremo. A agitação e o descontrolo do processo revolucionário
comprometeram as linhas programáticas originais propostas pela junta, situação
agravada com a tentativa de golpe militar de António de Spínola em 11 de Março de
1975, vindo a fixar-se como dogma o modelo da revolução socialista.

O socialismo revolucionário assumiu-se, então, como linha inspiradora da nova


Constituição, por opção do MFA, decisão confirmada por Costa Gomes, então
presidente da República, na abertura da Assembleia Constituinte. Na sequência
destes factos, foi extinta a junta por determinação da lei n.º 5/75, de 14 de Março, e
instituiu-se o Conselho da Revolução.

Pós-25 de Abril
O fim da ditadura

O 25 de Abril ficou na história como um marco que indica o início da democracia e


o fim da ditadura em Portugal.

O Antigo Regime caracteriza-se por um conjunto de ideais e de práticas que


faziam do governo de Salazar e, posteriormente, de Marcello Caetanao, um
regime ditaurial, onde não existia liberdade de expressão nem de opinião.

Vejamos, então, quais as principais mudanças operadas pela “Revolução dos


Cravos” em Portugal:

A abolição da censura

A censura consistia na supressão, pelas autoridades, de material considerado


imoral, herético, subversivo, difamatório, violador do segredo de estado ou que
seja de algum modo ofensivo.

Em Portugal, exercia-se censura sobre a literatura, o teatro e os meios de


comunicação social. O “lápis azul” só deixava passar conteúdos que não fossem
contra os princípios e ideais do regime.

Além da censura “literária”, existia também a censura política. A Constituição de


1933 (em vigor até 1974) previa a censura para os casos de natureza política ou
social, que pudessem pôr em causa a ordem pública. Após a revolução de 1974, a
censura foi abolida da Constituição portuguesa e foi publicada nova lei de
imprensa (1975), que protege a liberdade de expressão e informação.

O fim da Guerra Colonial e a descolonização

Com início no norte de Angola, em Fevereiro de 1961, a Guerra Colonial apenas


terminou quando o regime de Marcello Caetano, foi derrubado a 25 de Abril de
1974, e com a abertura do processo de descolonização nos anos de 1974 e 1975.
Ao longo de treze anos de luta militar, Portugal enviou para África centenas de
milhares de soldados, com um número oficial de mortos que rondou os 9000
homens, e dezenas de milhares de feridos, a juntar a um número ainda superior
de baixas entre guerrilheiros e civis guineenses, angolanos e moçambicanos.

Em 1974, ao derrubarem o regime, os «Capitães de Abril» faziam da


descolonização um dos seus objectivos principais. A braços com uma grande
indefinição política interna, o novo regime português reconheceu, em 1974, a
independência da Guiné-Bissau e de Moçambique e, em 1975, a de Cabo Verde e
Angola. Só no Verão de 1975 cessaram definitivamente os combates envolvendo
portugueses em África. Chegava a hora da retirada, encerrando-se finalmente o
longo ciclo do império.

- Extinção da PIDE/DGS (Polícia de Informação e Defesa do Estado/Direcção-


Geral de Segurança)
Para garantir que todos “pensassem” de forma análoga à do governo, o Antigo
Regime possuía uma polícia política desde 1945. O seu objectivo era travar todos
os possíveis movimentos contrários às políticas do regime. Os que conspirassem
contra o Estado Novo eram, na maioria das vezes, presos.

Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, a PIDE/DGS foi extinta.

- Extinção da Mocidade Portuguesa

A Mocidade Portuguesa era uma organização oficial juvenil criada em 1936,


dirigida por um comissário nomeado pelo Ministério da Educação Nacional e com
um carácter notoriamente paramilitar. Os seus objectivos enquadravam-se no
espírito do regime da época, patente no regulamento da organização: “estimular o
desenvolvimento integral da capacidade física da juventude, a formação do
carácter e a devoção à pátria no sentimento da ordem, no gosto da disciplina e no
culto do dever cumprido”.
Esta instituição entrou em declínio em 1971 e acabou por ser extinta após o 25 de
Abril de 1974.

Extinção da Legião Portuguesa

A Legião Portuguesa era uma formação de milícias criada em 30 de Setembro de


1936, após a eclosão da guerra civil em Espanha, e inspirada na legião
nacionalista aí criada por Franco. Complementando a Mocidade Portuguesa, os
seus propósitos eram de «organizar a resistência moral da nação e cooperar na
sua defesa contra os inimigos da pátria e da ordem social».

Os filiados, portugueses do sexo masculino com mais de 18 anos, prestavam


juramento, comprometendo-se à acção política, cívica e moral. A organização
estendia-se a todo o território português (que incluía as colónias ultramarinas),
constituindo-se em pequenos grupos, integrados em formações maiores, fixadas
nos principais aglomerados urbanos. Dirigida por uma junta nomeada pelo
governo de então, prestava instrução militar. Em 1958 passou a ter a cargo a
organização nacional de defesa civil do território. Prestava serviços como polícia
de informação, com incidência em comícios oposicionistas ou actividades
editoriais consideradas «suspeita» pelo regime.

A organização foi extinta logo após a revolução de 25 de Abril de 1974.

As nacionalizações e a reforma agrária

A Revolução de Abril provocou uma viragem à esquerda nas políticas do país.


Uma das consequências desta viragem foram as nacionalizações que se seguiram
ao 25 de Abril e que colocaram nas mãos do Estado muitas empresas
portuguesas.

A Constituição Portuguesa de 1976 previa a expropriação de bens de grandes


latifundiários e empresários sem obrigatoriedade de indemnizações, ponto que foi
alterado na revisão constitucional de 1982.

O Pós-25 de Abril
Período revolucionário

Afastados os principais responsáveis do regime, seguiu-se a libertação dos presos


políticos e o fim da censura sobre a imprensa. Regressaram a Portugal inúmeros
exilados políticos, entre os quais o dirigente comunista Álvaro Cunhal e o
socialista Mário Soares. No programa do MFA apresentado ao país após o golpe, o
mote dos «três D» (democratizar, descolonizar e desenvolver) resumia as
aspirações dos militares, a que aderiram de imediato as forças políticas em
constituição. Entretanto, os oficiais generais Costa Gomes e António de Spínola
haviam sido atraídos para o movimento. O MFA entrava em compromisso com a
hierarquia militar e desse compromisso saía uma Junta de Salvação Nacional.

Consumado o golpe, a sucessão vertiginosa dos acontecimentos mostrava que se


estava a entrar num período propriamente revolucionário. Com efeito, os «três D»
teriam leituras diferentes por parte dos intervenientes no processo político, e essa
divergência esteve na base da intensa luta social e política que o país conheceu
em seguida. Para além das querelas entre os partidos políticos, foram complexas
as lutas entre estes e os militares, e no interior das várias facções do próprio MFA,
que a partir de muito cedo desempenhou um papel político autónomo. A Junta de
Salvação Nacional, que concentrou o poder até Maio de 1974, perdeu
progressivamente capacidade de acção, o mesmo sucedendo com o general
Spínola, obrigado a afastar-se da presidência da república na sequência dos
acontecimentos de 28 de Setembro, em que estiveram presentes sobretudo
divergências quanto ao ritmo e à forma de fazer a descolonização.

Descolonização

De facto, tomando como interlocutores os anteriores adversários de armas e


reconhecendo a sua legitimidade, os primeiros governos provisórios aceleraram o
ritmo da descolonização, facto que veio a tornar-se uma das maiores polémicas da
sociedade portuguesa do pós-25 de Abril. A pressa de resolver a situação militar no
terreno, a pressão internacional para a auto-determinação das antigas colónias e a
própria evolução dos acontecimentos em Portugal ajudam a explicar uma entrega
rápida dos territórios africanos: Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe,
Moçambique e, finalmente, Angola tornavam-se independentes entre 1974 e 1975,
e começava o regresso e a integração em Portugal de cerca de 500 000 retornados,
um dos mais importantes fenómenos sociais da nossa história.

Reforço do radicalismo de Esquerda

A partir de 1975, no entanto, passou a ser a situação interna do país que dominou a
agenda dos principais protagonistas. O afastamento de Spínola, substituído na
presidência pelo general Costa Gomes, era paralelo ao crescimento da influência do
MFA, com alguns dos seus membros a tomarem posições cada vez mais à esquerda.

Também os governos provisórios reflectiam esta orientação, sobretudo a partir da


chegada a primeiro-ministro de Vasco Gonçalves (III governo provisório). Num país
em mudança acelerada, que se abria ao exterior e se confrontava com o seu
próprio atraso a nível interno, a partir de 11 de Março (golpe «spinolista» com
imediata resposta das forças afectas ao MFA) reforçou-se a influência das posições
revolucionárias mais radicais. O MFA institucionalizou-se e dele nasceu o Conselho
da Revolução, que passou a assumir funções de soberania.

O Pós-25 de Abril
Avanço para o Socialismo

A par de viabilizarem as reivindicações democráticas contidas no programa inicial -


com a realização, a 25 de Abril de 1975, de eleições livres para a Assembleia
Constituinte -, os poderes civil e militar em exercício nortearam-se cada vez mais
por um socialismo económico e social. Tal incluía transformações estruturais no
tecido económico e produtivo português, defendendo-se um papel dirigente para o
Estado.

A nacionalização da banca e dos seguros, assim como o início da ocupação de


terras nos latifúndios alentejanos, foram as medidas mais polémicas dos governos
gonçalvistas (com especial destaque para o V Governo Provisório), com o apoio dos
comunistas e da ala esquerdista do MFA. Atravessava-se o célebre «Verão Quente
de 75», em que as divergências sobre as opções dos governos e do Conselho da
Revolução acenderam mesmo o rastilho dos atentados políticos, sobretudo no norte
do país. Ao nível dos partidos, verificou-se também uma crescente polarização em
torno das opções económico-sociais, que passou a ter como principais antagonistas
o Partido Socialista (e os partidos à sua direita) e o Partido Comunista, com a
questão da unidade sindical no centro da discórdia.

No entanto, a movimentação social e sindical ao longo do período revolucionário,


apesar da crescente hegemonia dos comunistas, foi muito diversificada e complexa,
não podendo ser reduzida à acção destes últimos. Tudo isto se reflectiu no
acidentado processo que levou à redacção da Constituição de 1976: consagrando
os direitos democráticos e civis fundamentais, o pluralismo político e a
descentralização administrativa, ela estipulava o avanço para o socialismo, o papel
dirigente do estado na economia, a irreversibilidade das nacionalizações e a
reforma agrária.

O Pós-25 de Abril
Normalização democrática

Por fim, depois do 25 de Novembro de 1975 e da contenção da ala mais radical do


Conselho da Revolução, tinham lugar as primeiras eleições legislativas livres para a
Assembleia da República (25 de Abril de 1976), tendo saído vencedor o Partido Socialista,
liderado por Mário Soares, um dos protagonistas da oposição ao antigo regime antes de
1974 e ao Partido Comunista durante os anos quentes da revolução. Acabava-se o ciclo dos
governos provisórios e entrava-se numa via de normalização democrática. As dificuldades
económicas e os problemas sociais iriam caracterizar a vida do novo regime. Mas também
a liberdade, tornando-se o 25 de Abril o seu símbolo por excelência.

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