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UNINASSAU

CAMPINA GRANDE-PB
CURSO DE DIREITO

JOSÉ AUDECI GOMES DE OLIVEIRA

ATOS INFRACIONAIS: AS CAUSAS E O PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS


ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE
INTERNAÇÃO NO CENTRO EDUCACIONAL LAR DO GAROTO EM LAGOA
SECA-PB

Campina Grande
2018
JOSÉ AUDECI GOMES DE OLIVEIRA

ATOS INFRACIONAIS: AS CAUSAS E O PERFIL SOCIEOCONÔMICO DOS


ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE
INTERNAÇÃO NO CENTRO EDUCACIONAL LAR DO GAROTO EM LAGOA
SECA-PB

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade Maurício de
Nassau – Campina Grande, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel
em Direito, sob a orientação da Professora
Mestre Mayza de Araújo Batista.

Campina Grande
2018
TERMO DE APROVAÇÃO

JOSÉ AUDECI GOMES DE OLIVEIRA

ATOS INFRACIONAIS: AS CAUSAS E O PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS


ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE
INTERNAÇÃO NO CENTRO EDUCACIONAL LAR DO GAROTO EM LAGOA
SECA-PB

Monografia aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau


de Bacharel em Direito, da Faculdade Mauricio de Nassau em
Campina Grande, pela seguinte banca examinadora:

Aprovada em ___ de junho de 2018

Banca Examinadora

Orientador Prof.ª. Mestre Mayza de Araújo Batista

Examinador 1

Examinador 2
Dedico este trabalho a minha família, razão
de minha existência.
AGRADECIMENTOS

À DEUS, que me proporcionou muitas realizações ao longo da vida.

Aos meus pais, Francisco e Eurides, que dedicaram suas vidas para criar a mim e a
meus dois irmãos.

Aos meus irmãos, Valdeci Gomes e Valdemir Gomes.

À minha esposa Lêda Maria, com todo amor e carinho, por estar sempre ao meu lado
durante todos momentos da vida, ajudando-me a ultrapassar todas as dificuldades
encontradas no percorrer do caminho.

Agradeço a Maira das Neves pela colaboração na etapa de pesquisa de campo.

À minha orientadora Mayza de Araújo, pelo paciência e auxílio na elaboração deste


trabalho.

A todos os meus professores da graduação, que proporcionaram conhecimentos que


levarei para o resto da vida.
RESUMO

O presente trabalho aborda um tema de bastante relevância, buscando nas


legislações brasileiras e mediante pesquisa de campo conhecer e explicar acerca do
tratamento conferido ao adolescente em conflito com a lei. Desse modo, a pesquisa
teve como objetivo geral analisar as causas e o perfil socioeconômico dos
adolescentes que cumprem medida de internação definitiva no Lar do Garoto Padre
Otávio Santos, na cidade de Lagoa Seca-PB. A pesquisa foi classificada como quali-
quantitativa e o método priorizado foi o indutivo, e foi conduzida através de entrevista
formulada por meio de questionário fixo, que conteve perguntas abertas e fechadas
sobre diversos fatores, como idade, sexo e tipo de ato infracional praticado. A visita à
unidade foi realizada em 18 de maio do ano de 2018. Os dados quantitativos foram
submetidos a tratamentos estatísticos, e os qualitativos à análise de conteúdo. Com
esse estudo pôde-se perceber que são diversas as causas que levaram os
socieoducandos a praticar atos infracionais, como dificuldade financeira e o uso de
drogas. Já em relação ao perfil dos socioeducandos prevaleceu o fato de que a
maioria são oriundos de famílias pobres e de pais separados.

Palavras-Chaves: Atos infracionais. Suas causas. Perfil socioeconômico. Medidas de


internação.
ABSTRACT

This present work presents a theme of big relevance, seeking in Brazilian legislation
and through field research know and explain about the treatment given to adolescents
in conflict with the law. In this way, the research had as general objective to analyze
the causes and the socioeconomic profile of adolescents that meet definitive measure
of hospital in the home of the Boy Father Otávio Santos, in the city of Lagoa Seca-PB.
Summary The study was classified as quali-quantitative and the prioritized method was
the inductive method, and was conducted through interviews made by means of a
questionnaire, which contained open and closed questions on several factors, such as
age, sex and type of offenses committed. The visit to the unit was held on 18 May of
the year of 2018. Quantitative data were submitted to statistical treatments, and the
qualitative content analysis. Abstract In this study, it is possible to realize that there are
several causes that led the socieoducandos the infracionais acts, such as financial
difficulty and the use of drugs. Already in relation to the profile of socioeducandos
overcame the fact that the majority are from poor families and separated parentes.

Keywords: infracionais acts. Their causes. Socioeconomic profile. Measures of


hospitalization
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - .................................................................................................................. 51
Tabela 2 - ................................................................................................................. 53
Tabela 3 - ................................................................................................................. 54
Tabela 4 - ................................................................................................................. 55
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - ................................................................................................................ 56
Gráfico 2 - ................................................................................................................ 57
Gráfico 3 - ................................................................................................................ 58
Gráfico 4 - ................................................................................................................ 59
Gráfico 5 - ................................................................................................................ 60
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1. PROCESSO HISTÓRICO DA POLÍTICA CRIMINAL DIRECIONADA À CRIANÇA


E O ADOLESCENTE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ................... 15
1.1 História da infância no Brasil Colônia .............................................................. 15
1.2 História da infância no Brasil Império .............................................................. 16
1.3 História da infância no Brasil República .......................................................... 17
1.4 Código de Menores de 1923 ........................................................................... 18
1.5 Código de Menores de 1979 ........................................................................... 19
1.6 O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 ........................................... 21
1.6.1 Do ato infracional ....................................................................................... 22
1.6.2 Conceituando Criança e adolescente....................................................... 23
1.6.3 Da imputabilidade ...................................................................................... 24
1.6.4 Da Apuração do Ato Infracional ................................................................ 26
2. DAS MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS ..................................................................... 27
2.1 Advertência...................................................................................................... 29
2.2 Da Obrigação de Reparar o Dano ................................................................... 31
2.3 Da Prestação de Serviço à Comunidade......................................................... 32
2.4 Da Liberdade Assistida.....................................................................................23
2.5 Da Semiliberdade ............................................................................................ 36
2.6 Da internação definitiva ................................................................................... 39
2.6.1 Dos Princípios que regem a medida de internação ................................ 40
2.6.2 Dos Direitos Individuais e das Garantias Processuais do Adolescente 41
2.6.3 Das hipóteses de cabimento ..................................................................... 43
3. METODOLOGIA ............................................................................................. 47
3.1 Caracterização da área pesquisada ................................................................ 48
3.2 Apresentação e análise dos dados.................................................................. 50

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 63

REFERÊNCIAS

APÊNDICE
12

INTRODUÇÃO

Ato infracional é o termo utilizado para designar infrações penais praticadas por
pessoas cuja idade não atingira a maioridade penal, levando em consideração a
época da ocorrência do fato. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
crianças e adolescentes que praticarem condutas tipificadas como crime ou
contravenção, no Código Penal Brasileiro, serão responsabilizados de acordo com o
Estatuto, e não com base na legislação penal. Ainda de acordo com o ECA, considera-
se criança aquela pessoa que ainda não completou 12 (doze) anos, e adolescente
àquela que conta com idade de 12 (doze) anos completos, mas que ainda não atingiu
18 (dezoito) anos
Não é de hoje a ocorrência de práticas delitivas com envolvimento direto
crianças e adolescentes. O índice de atos infracionais praticados vem apresentando
números alarmantes nos últimos anos. Em outubro de 2017, dados apresentados pelo
Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que o número de adolescentes
apreendidos, em razão de alguma prática delitiva, cresceu seis vezes no Brasil nos
últimos 12 anos.
Já em relação à cidade de Campina Grande, em setembro de 2016 houve um
aumento de 12% (doze por cento) no número de inquéritos abertos, para apurar atos
infracionais praticados por adolescentes com idade entre 13 e 17. Esses dados foram
divulgados pela Delegacia da Infância e Juventude da citada cidade.
Apesar dos dados divulgados apresentarem apenas índices relativos à pratica
de atos infracionais, o que ocorre em todo País é o aumento da violência e da
criminalidade de forma geral. Isso gera uma sensação de medo e impunidade na
sociedade. A Cada noticiário policial, onde mostra o envolvimento de jovens no
cometimento da infração, surge o clamor social por mudanças na lei penal. Isso ocorre
em virtude de existir, por parte da população, uma visão equivocada de que os
principais responsáveis pelo aumento do índice de criminalidade são os adolescentes,
e que as medidas socioeducativas previstas no ECA não têm efetividade, em razão
do seu caráter protetivo.
Essa é uma ideia distorcida da realidade, uma vez que a origem do problema
não está na carência de leis, e sim num conjunto de fatores que podem afetar o
comportamento do adolescente em seu processo pela busca da identidade, como
13

exclusão social, consumo de drogas, estrutura familiar, baixa escolaridade, dentre


outros.
Neste contexto, buscar uma solução para o problema da delinquência juvenil
não é algo simples, sendo necessário, portanto, analisar a parcela de
responsabilidade que tem a sociedade, o Poder Público, bem como a família, pois
muitos dos adolescentes em conflito com a lei adquirem o comportamento antissocial,
em razão das diversas mazelas sociais com que ele depara ao logo do
desenvolvimento de sua personalidade.
Diante dessa constatação, buscou-se reunir dados com o propósito de
responder ao seguinte problema da pesquisa: quais os principais fatores que estão
influenciando os adolescentes a cometerem atos infracionais?
Dentro desse problema, percebemos uma gama de situações a serem
exploradas, por esse motivo percebemos que o nosso maior objetivo ao realizar essa
pesquisa foi em apresentar dados estatísticos dos atos infracionais mais praticados
pelos adolescentes em regime de internação definitiva, analisando suas causas e o
perfil socioeconômico desses menores infratores
Assim, esse estudo consiste numa pesquisa orientada sob a forma de
monografia. Nele, faremos uma abordagem teórica sobre as políticas criminais
voltadas à criança e do adolescente, bem como uma análise do perfil socioeconômico
do jovem infrator, através dos dados obtidos por meio de um questionário fixo com
perguntas abertas e fechadas a adolescente submetidos à medida de privação de
liberdade no regime definitivo no Centro de Educação Lar do Garoto, no município de
Lagoa Seca
A pesquisa teve uma abordagem quali-quantitativa. Para o desenvolvimento
deste trabalho foram utilizadas pesquisas bibliográficas e de campo. A pesquisa
bibliográfica baseou-se em outros trabalhos publicados acerca da temática estuda,
bem como em livros e legislações pertinentes ao tema. A pesquisa de campo foi
desenvolvida no Centro Educacional Lar do Garoto, da mesma Comarca, onde se
buscou traçar o perfil do jovem infrator.
Este trabalho de conclusão de curso está estruturado em três capítulos,
apresentando-se no primeiro, a contextualização histórica da política criminal
direcionada à criança e ao adolescente no ordenamento jurídico brasileiro, num
espaço delimitado entre o Brasil Colônia até a Promulgação do ECA. Segue, no
14

segundo capítulo, a apresentação das medidas socioeducativas aplicadas ao menor


infrator, com ênfase à medida de internação.
O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada na pesquisa, bem como a
apresentação e análise dos resultados da pesquisa de campo. Os dados serão
apresentados em forma de gráficos e tabelas, contendo diversas variáveis como
idade, escolaridade, ato infracional praticado, dentre outros. O objetivo é procurar
traçar o perfil dos jovens em conflito com a lei que estão cumprindo medida de
internação no Lar do Garoto.
Consideramos que o presente trabalho justifica-se em razão da grande
relevância social, acadêmica e política, isto porque a prática de atos infracionais
praticados por adolescentes vem se tornando um assunto bastante debatido nos dias
atuais, pela magnitude que o problema vem se alastrando em nossa sociedade,
inclusive sendo discutido no âmbito do Congresso Nacional, o que demonstra que a
criminalidade juvenil requer uma atenção substancial por parte do poder público.
15

1. PROCESSO HISTÓRICO DA POLÍTICA CRIMINAL DIRECIONADA À CRIANÇA


E O ADOLESCENTE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Analisar o contexto histórico da política criminal direcionada aos jovens em


conflito com a lei no País, bem como as mudanças de paradigmas ao longo do tempo,
ajuda a entender toda a evolução dos direitos da criança e do adolescente no sistema
de normas jurídico brasileiro. Compreender isso é de suma importância para que
possamos identificar algumas das causas que podem motivar os jovens a cometerem
atos infracionais.
A evolução do Direito da Criança e do Adolescente no Ordenamento Jurídico
Brasileiro passa por diversos momentos históricos, sendo sua trajetória marcada por
situações degradantes. Durante décadas, os direitos da criança e do adolescente
foram negligenciados pela comunidade mundial. Eram escassas as legislações
direcionadas à infância e à juventude. Em razão disso, crianças eram abandonadas à
sua própria sorte. Para Souza (2008), a rejeição de crianças pelas famílias se dá
desde o início da colonização do Brasil, onde se verificava que crianças, filhas de
indígena, de escravos e até mesmo de famílias portuguesas mais pobres, eram
abandonadas por não se inserirem no quadro social da época.
Contudo, a sociedade foi se transformando ao passar do tempo. A situação na
qual se encontravam crianças e adolescentes passou a ser motivo de preocupações
e discussões em nível mundial. Diversos documentos tratando do direito menorista
foram elaborados, e por isso, a visão que se tem hoje da criança e do adolescente é
fruto das constantes transformações pelas quais passamos no transcorrer da
história. Conforme leciona Bujes (2001), essa mudança só foi possível em razão da
compreensão, por parte da sociedade, do que realmente é ser criança e da valoração
ao momento específico da infância, revestindo-se de fundamental importância essa
mudança de paradigma.

1.1 História da infância no Brasil Colônia

No período colonial, inserido entre os séculos XV e XVIII, o Brasil não possui


normas pátria, bem como nenhum dispositivo legal expresso direcionado ao bem-
estar das crianças e adolescentes. O Brasil era submetido às mesmas normas
16

vigentes em Portugal. As Ordenações do Reino, sistema de normas eminentemente


coercitivo, tiveram larga aplicabilidade no direito de família. Segundo Romão (2016),
a aplicação da legislação portuguesa se deu sem qualquer alteração por todo o
território colonial.
Em matéria criminal, vigorava as Ordenações Afonsinas, seguidas pelas
Ordenações Filipinas. Nelas, surgiu pela primeira vez a tutela jurisdicional de menores
na legislação brasileira, contudo as Ordenações limitaram-se a tratar da questão da
juventude em conflito com a lei, definindo, então, a imputabilidade da criança e do
adolescente.
De acordo com Soares (2003), a imputabilidade penal iniciava-se aos 7 (sete)
anos de idade, e embora vigorasse a pena de morte, a partir dos 17 (dezessete) anos,
ao menor de 7 (sete) anos não poderia ser aplicada tal pena, sendo a mesma
substituída por uma pena menor. E se fosse de idade entre 17 (dezessete) e 21 (vinte
e um anos), ao condenado poderia ser aplicada a pena total, até mesmo à de morte,
ou, a depender das circunstâncias, ter sua pena reduzida. Dessa forma,
a imputabilidade penal plena ficava para os maiores de vinte e um anos, a quem se
cominava, inclusive, a pena de morte para certos delitos.
Conforme explicado acima, a imutabilidade penal iniciava-se ao 7 (sete) anos
de idade. Assim, se o autor de uma infração penal contasse com essa idade, ele
deveria ser julgado, condenado e, de qualquer modo, punido, uma vez que a única
distinção em razão da idade se encontrava na escolha da sanção aplicada ao agente.
O fato de o agente ser um menor de idade constituía apenas uma atenuante penal.
Contudo a pena de morte só poderia ser aplicada aos maiores de 17 dezessete anos.

1.2 História da infância no Brasil Império

No século XVIII surgiu o primeiro Código Penal Brasileiro. Promulgado em


dezembro de 1830, o citado Código trouxe algumas alterações na política criminal,
introduzindo em seu texto o exame de capacidade de discernimento para aplicação
da pena, e tratando da inimputabilidade penal.
Diferentemente das Ordenações Filipinas, o Código Penal Imperial estabeleceu
uma idade mínima para o início da responsabilidade penal do Brasil, dispondo, em
seu artigo 10, que não seriam julgados como criminosos os menores de 14 anos.
17

Contudo, se o jovem, ao praticar o delito, tivesse agido com discernimento, ele deveria
ser recolhido à casa de correção, até que completasse 17 anos de idade.
Nesse sentido, o art. 13 do Código Criminal de 1830 despõe:

Art. 13. Se se provar que os menores de quatorze annos, que tiverem


commettido crimes, obraram com discernimento, deverão ser recolhidos às
casas de correção, pelo tempo que ao Juiz parecer, com tanto que o
recolhimento não exceda á idade de dezesete annos (BRASIL, 1830, p. 11).

Conforme explicações acima, o critério subjetivo de discernimento era o


utilizado para aferir a imputabilidade do menor de quatorze anos, ficando a cargo de
o julgador analisar se a época do fato o agente tinha discernimento para a prática da
conduta delituosa.
Segundo Sposato (2013), havia uma presunção de discernimentos para os
menores que contassem com idade entre quatorze e dezessete anos, o que resultava
em uma diminuição de 2/3 da pena prevista para os adultos. A autora deixa claro que
os menores com idade entre dezessete e vinte e um anos, apesar de estarem sujeitos
às mesmas penas previstas aos adultos, gozavam de atenuante da menoridade penal.
A imputabilidade penal continuava se dando a partir dos vinte e um anos de idade.
Desta forma, pode-se concluir que houve poucas alterações na política criminal
com o advento do Código Penal do Império, que teve como objetivo central a
investigação do discernimento do agente menor de 14 anos, não tratando, portanto
de medidas de proteção em relação à criança e ao adolescente.

1.3 História da infância no Brasil República

Em 11 de outubro de 1890, um ano após o início do período republicando, foi


promulgado o segundo Código Criminal do Brasil, também conhecido como Código
Penal Republicado. Ao contrário do código anterior, o Código da República
estabeleceu expressamente em seu texto a inimputabilidade penal absoluta para as
pessoas com idade de até 9 anos completos. Porém, o sistema de discernimento
permaneceu sendo o adotado para aferir a responsabilidade criminal dos menores
infratores com idade entre nove e quatorze anos.
Neste sentido, destaca Dupret:
18

O Código Penal Republicano de 1890 determinava a inimputabilidade penal


para os menores de nove anos completo; aumentando o marco anteriormente
adotado, que era de sete anos. Para os maiores de nove e menores de
quatorze, era verificado era verificado o discernimento para se aferir a
possibilidade ou não da responsabilidade Criminal (DUPRET, 2015, p. 25).

Do texto acima, depreende-se que o critério biopsicológico continuava a ser o


utilizado para aferir se o menor, com idade entre nove e quatorze anos, seria capaz
de entender o caráter ilícito da conduta delitiva praticada.
O recolhimento a estabelecimentos disciplinares industriais era a sanção
aplicada aos menores de quatorze, cuja conduta houvesse sido pratica com
discernimento. Assim determinou o Decreto Republicano de 1890:

Os maiores de 9 annos e menores de 14, que tiverem obrado com


discernimento, serão recolhidos a estabelecimentos disciplinares industriaes,
pelo tempo que ao juiz parecer, comtanto que o recolhimento não exceda a
idade de 17 annos (BRASIL, 1890, online).

Conformem o referido Decreto, o tempo de recolhimento era determinado pelo


magistrado, podendo o menor ficar cumprindo a medida até que o mesmo
completasse 17 anos.

1.4 Código de Menores de 1927

A partir do século XX, buscou-se uma nova acepção ao direito menorista,


deixando de lado aquela visão meramente punitiva em defesa da adoção de medidas
de proteção direcionadas aos menores, e que teve por finalidade afastá-los do sistema
penal. Nesse contexto, vários documentos foram apresentados pelos diversos juristas
da época, propondo uma maior proteção do Estado em prol das crianças e dos
adolescentes. Muitos desses documentos foram aprovados e transformados em leis,
como foi o caso da Lei 4242/21, que em seu artigo 3º, § 16 acabou por afastar o critério
biopsicológico vigente à época, que aferia a responsabilidade criminal do menor
infrator com idade até 14 anos.
Foi neste cenário que em 1927 foi promulgado o primeiro Código de Menores
do Brasil, consolidando assim as leis de assistência e proteção aos menores.
Conforme descreve Dupret: “O Código de Menores do Brasil ficou conhecido como
Código Mello Mattos, instituído pelo Decreto 17.943-A de 12 de outubro de 1927, que
19

consolidou todas as leis que à época assistiam e protegiam os menores.” (DUPRET,


2015, p. 28).
O referido instituto estabelecia que os menores de dezoito anos, abandonados
ou infratores, fossem submetidos a tratamento diverso do conferido aos adultos,
ficando a cargo do juiz definir, dentre as medidas de assistência e proteção contidas
no Código, qual a mais adequada ao caso concreto.
No que concerne à classificação dos menores infratores, Gonçalves discorre
em seu artigo que:

Existiam três divisões claras e distintas para a classificação dos menores


infratores. O Código determinava que a primeira divisão incluísse os menores
de quatorze anos que não eram sujeitados a qualquer processo; A segunda
divisão abarcava os maiores de quatorze e menores de 18 anos. Tais
indivíduos não eram sujeitos ao processo penal, a eles era imposto um
processo especial uma vez que o critério do discernimento havia sido extinto.
Os maiores de 16 e menores de 18 anos estavam inseridos na terceira
divisão. Se em decorrência da prática de crime grave fossem considerados
sujeitos perigosos, cabia ao magistrado, detentor de amplos poderes
concedidos pelo Código, encaminhá-los a um estabelecimento para menores
condenados, e na falta de tal estabelecimento poderia o juiz remetê-los à
prisão comum desde que separados dos adultos infratores (GONÇAVES,
2015, online).

Conforme exposto acima, seriam considerados inimputáveis os menores de 14


anos, não podendo ser responsabilizados penalmente. Desse modo, o Brasil passou
a utilizar o critério objetivo de responsabilidade penal a partir dos 14 anos. Já a
maioridade penal foi fixada em 18 anos.
Importa ressaltar que Código Melo Mattos apresentou mudanças significativas
no sistema de proteção ao menor. O mais preocupante, contudo, foi constatar que os
menores em situação de abandono eram submetidos às mesmas medidas jurídicas à
que eram impostas aos menores infratores, gerando com isso uma forte intervenção
estatal sobre a população em condições de pobreza.

1.5 Código de Menores de 1979

No início da década de 40, iniciaram-se os debates para a reforma da legislação


relativa às crianças e adolescentes, mas foi somente em 1979 que surgiu o segundo
Código de Menores, instituído pela Lei 6697/79. Segundo Rossato (2018), o novo
Código adotou a doutrina da situação irregular, por meio da qual crianças eram vistas
20

como meros objetos de intervenção do Estado, sem a observância de direitos a eles


já garantidos em diversos documentos internacionais, como a Declaração dos Direitos
da Criança de 1959, ratificada posteriormente pelo Brasil.

Art. 1. Este Código dispõe sobre assistência, proteção e vigilância a menores:


I - até 18, de idade, que se encontrem em situação irregular; II – entre 18 e
21 anos, nos casos expressos em lei; as medidas de caráter preventivo
aplica-se a todo menor de 18 anos, independente de sua situação” (BRASIL,
1979, online).

Pode-se perceber, com a leitura do artigo acima, que a expressão menor em


situação irregular1 era comumente utilizada, e que o referido instituto não se
preocupava com todos os menores, mas somente com aqueles que estivessem em
circunstância em que a lei estabelecia como “situação irregular” ou de “risco”,
abrangendo os casos de abandono, mendicância, práticas de atos infracionais, fala
de assistência ou de representação legal, dentre outros.
Como bem nos assegura Carvalho (2003), o Código não reconhecia crianças e
adolescentes como sujeitos de direitos, mas sim como mero objeto de medidas
judiciais. Além disso, não existia na legislação brasileira nenhuma previsão de sanção
a quem cometesse algum ato de violência contra os menores de 18 anos.
Segundo Gustavo de Melo Silva:

O menor de dezoito anos que praticasse infração penal deveria ser


encaminhado à autoridade judiciária. O menor de dezoito e maior catorze
anos de idade que praticasse qualquer infração submetia-se a um
procedimento para apuração de seu ato, sendo passível de uma das medidas
previstas no Código de Menores, conforme o arbítrio do Juiz. O menor de
catorze anos autor de infração não respondia a qualquer procedimento, mas
também estava sujeito à aplicação de medidas por se encontrar em situação
irregular(SILVA, 2011, apud SOARES, 2003, p.6).

1De acordo com o Código de Menores de 1979, considera-se em situação irregular, o menor: I – privado
de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente,
em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais
ou responsável de provê-las; II – vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou
responsável; III – em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário
aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV- privado de
representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V – com desvio de
conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI – autor de infração penal (BRASIL,
1979).
21

Da leitura do texto acima depreende-se que, apesar de também estarem


sujeitos à aplicação das medidas estabelecidas no Código de Menores, bem como ao
seu encaminhado à presença do juiz, àquele que praticasse ato infracional, mas que
ainda não contasse com idade de 14 anos, não estaria sujeito a nenhum
procedimento. Contudo, se maior de 14 e menor de 17 anos, estaria o menor
submetido a determinados procedimentos para que fosse apurada a sua
responsabilidade pelo ato praticado.
Conclui-se, portanto, que os dois últimos Códigos de Menores (1923 e 1927),
basearam-se na doutrina da situação irregular, em que crianças e adolescente, em
sua maioria pobres e em situação de abandono, sofriam fortes intervenções por parte
do Estado, servindo o documento como forte mecanismo de controle social sobre
essas pessoas.

1.6 O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990

Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069, de


13 de julho de 1990), surgiu a doutrina da proteção integral, onde crianças e
adolescentes passaram de meros objetos de proteção do Estado a sujeitos de direitos,
refutando assim o modelo da “situação irregular” anteriormente adotado. Do fruto
desse processo, deu-se a regulamentação do art. 227 do texto Constitucional ao
regular os direitos e deveres infanto-juvenis.
. O ECA, em seu artigo 3º, estabelece que:

Art. 3º. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade
(BRASIL, 1990, online).

Percebe-se, portanto, que o ECA redireciona o rumo no trato às crianças e aos


adolescentes quando lhes asseguram todos os direitos inerentes à pessoa humana,
atribuindo aos órgãos legislativos a elaboração de leis que viabilizem a materialização
de todos os direitos já garantidos na Carta Magna, o que demonstra uma visão oposta
às regras contidas nos Código de Menores anteriores, em que tratavam apenas das
medidas repressivas que eram aplicadas ao menor infrator.
22

Sposato descreve que o ECA normatizou os diretos das crianças e dos


adolescentes, fazendo cumprir o compromisso assumido pelo Brasil perante os
Órgãos Internacionais na Convenção Internacional das Nações Unidas2 sobre os
Direitos da Criança (SPOSATO, 2013). Isso fez com que o Brasil se tornasse
signatário de diversos tratados internacionais que vieram posteriormente.

1.6.1 Do ato infracional

Um ponto de destaque introduzido pelo ECA foi apresentar um conceito


diferente para as condutas delitivas praticadas por pessoas menores de dezoito anos.
A expressão “ato infracional” surgiu exatamente com o Estatuto, quando em seu art.
123 assim definiu: "Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal" (BRASIL, 1990). Dessa forma, crianças e adolescentes que
praticarem condutas tipificadas como crime ou contravenção3, no Código Penal
Brasileiro, serão responsabilizadas com base na legislação especial.
De acordo com Barbosa (2008):

O processo previsto no ECA encontra no direito penal correspondência


obrigatória. São atos infracionais aquelas condutas descritas como crime ou
contravenção no CP e na legislação especial (art. 103 do ECA). Se não fosse
adotada a tipicidade geral do ordenamento jurídico seria necessária a
redação de um Código Penal juvenil, com tipos penais específicos para os
adolescentes, o que se mostra evidentemente exagerado (BARBOSA, 2008,
p. 66).

Barbosa evidencia a nítida correspondência entre o conceito de ato infracional,


adotado pelo do ECA, e o de infrações penais, adotado pelo Código Penal Brasileiro.
O mais importante, contudo, é constatar que crianças e adolescentes não praticam
crimes ou contravenções penais, e sim atos infracionais.
Sposato destaca ainda:

2 Principal documento internacional sobre os Direitos da Criança, aprovado em 1989, na cidade de


Nova Iorque, durante à Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas.
3 Crimes e Contravenções são espécies do gênero infrações penais. A principal diferença diz respeito

à gravidade das penas. Conforme art. 1º da LICP (Lei de introdução ao Código Penal), considera-se
crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
23

É imperioso considerar que para o ato infracional será também a


antijuridicidade a marca distintiva de demonstração da relevância penal ou
infracional, pois ainda que nem toda conduta antijurídica seja deleito, todo
delito contém antijuridicidade, na medida em que representa uma quebra à
ordem jurídica e ao direito positivo. O ato infracional, portanto, corresponde a
um fato típico e antijurídico, previamente descrito como crime ou
contravenção penal. Impõe a prática de uma ação ou omissão e a presença
da ilicitude para sua caracterização (SPOSATO, 2013, p. 33).

Com base nas explanações acima, pode-se afirmar que o ato infracional, assim
como a infração penal, é toda conduta descrita na lei penal como crime ou
contravenção, que contraria o ordenamento jurídico e reprovável pela sociedade, além
de passível de punição. Em suma, para a caracterização dos atos infracionais devem
estar presentes os três substratos do crime, quais sejam, fato típico, antijuridicidade e
culpabilidade, que somados formam a infração penal.
Nesse mesmo raciocínio, leciona Rogério Sanches:

[...] Crime é composto de três substratos: (i) fato típico, (ii) ilicitude (ou
antijuridicidade) e (iii) culpabilidade. Presentes os três, o direito de punir do
Estado se concretiza, surgindo a punibilidade (não é substrato do crime, mas
sua consequência jurídica. (SANCHES, 2016, p. 176).

Portanto, a soma desses três elementos forma a estrutura do delito, gerando


como consequência o direito de punir do Estado. A punibilidade, porém, não compõe
o substrato do crime, apresentando-se, portanto, como possibilidade de punição do
autor da infração.

1.6.2 Conceituando Criança e adolescente

O Estatuto da Criança e do Adolescente apresenta aspectos diferenciados


acerca do tratamento dado ao menor em relação às legislações anteriores voltadas à
infância e a juventude, trazendo, inclusive, uma divisão conceitual diferente do que
seria considerada criança e adolescente. Saber diferenciá-los é de fundamental
importância para apuração da medida a ser aplica aos que cometem atos infracionais.
Segundo Guimarães (2004), apesar de haver uma distinção formal entre criança e
adolescente, a ambos é reconhecida a condição de pessoas em desenvolvimento,
gozando dos mesmos direitos e garantias fundamentais.
Em seu art. 2º, o Estatuto da Criança e da adolescente disciplina in verbis:
24

Art. 2º. Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze
anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos
de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente
este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade (BRASIL,
1990, p.19).

De acordo com o parágrafo acima, pode-se considerar criança aquela pessoa


que não atingiu a idade 12 (doze) anos, e adolescente àquela que conta com idade
de 12 (doze) anos completos, mas que ainda não atingiu 18 (dezoito) anos.

1.6.3 Da imputabilidade

A criança que comete ato infracional não pode de maneira alguma ser privada
de sua liberdade em razão do ato delitivo praticado, pois elas se sujeitam apenas às
medidas de proteção constantes no rol no art. 101, da Lei nº 8.069/90.101. Vale
destacar que tais medidas não se confundem com pena. Desse modo, a pessoa que
comete ato infracional, enquanto não tiver atingido a idade de 12 (doze) anos, será
tratada como criança mesmo após completar esta idade.
Esse entendimento decorre do fato de crianças e adolescentes serem
considerados inimputáveis, isto é, não ter eles o pleno discernimento das
consequências dos seus atos. Essa tese se fundamenta, em regra, na premissa que
afirma que aos seres humanos, até os dezoito anos, não se exigem os mesmos
deveres atribuídos aos adultos. No entanto, isso não significa que eles estão isentos
de qualquer responsabilidade, mas que por estarem em situação de desigualdade em
relação aos adultos devem ser tratados de forma desigual, e é por isso que o ECA
traz medidas específicas que devem ser aplicadas ao menor infrator, devendo o
julgador escolher a mais adequada ao caso concreto.
Carvalho (2012) ressalta que apesar de inimputáveis, crianças e adolescentes
em conflito com a lei podem sofrer medidas diversas, e que a idade do agente à data
do fato é de fundamental importância para a análise da medida a ser aplicada, dentre
às educacionais, terapêuticas ou repressivas
Importa ressaltar que os dispositivos do ECA não são restritos a crianças e
adolescente, haja vista o legislador pontuar algumas situações nas pessoas com
idade entre dezoito e vinte e um anos podem estar sujeitas a imposição de medidas
disciplinadas com base nas normas estatutárias.
25

O Estatuto é aplicável excepcionalmente às pessoas entre 18 e 21 anos de


idade. Isso se verifica tanto no campo infracional, quanto na área cível. Na
apuração de ato infracional, por exemplo, ainda que o adolescente tenha
alcançado a maioridade, o processo judicial se desenvolve no âmbito da
Justiça da Infância e Juventude. Vale dizer, aquele que já completou 18 anos
ainda está sujeito à imposição de medidas socioeducativas e de proteção.
(BARROS, 2014, p. 28).

Portanto, se durante apuração do infracional o agente vier a atingir a


maioridade penal, nada impede que ele continue respondendo pela sua conduta com
base no ECA até completar 21 (vinte e um) anos de idade. Seria um erro aplicar uma
sanção prevista no Código Penal Brasileiro a um fato praticado quando o agente
contava com menos de 18 (dezoito) anos, pois isso iria de encontro ao que estabelece
o art. 104 do ECA: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos,
sujeitos às medidas previstas nesta Lei” (BRASIL, 1990). Desse modo, a maioridade
penal se dar a partir dos dezoito anos, momento em que o infrator passará a responder
por sua conduta delitiva com base no Código Penal Brasileiro.
Conclui-se, portanto, que o ECA adotou o sistema cronológico para aferir a
imputabilidade do agente infrator, ou seja, a faixa etária será o fator preponderante
para que se venha a definir se o agente era capaz, ou não, de reconhecer o caráter
ilícito de sua conduta no momento do fato. Esse entendimento decorre do fato de se
considerar que o adolescente não tem o pleno discernimento das consequências dos
seus atos.
Apesar dos menores de 18 anos serem considerados inimputáveis
criminalmente, eles responderem por suas condutas delitivas com base na legislação
especial. Retomando as ponderações de CARVALHO (2012), as medidas protetivas
destinadas às crianças previstas pelo legislador são:

Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de


responsabilidade; orientação; apoio e acompanhamento temporário;
matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família,
à criança; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em
regime hospitalar ambulatorial; inclusão em programa oficial ou comunitário
de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; acolhimento
institucional; inclusão em programa de acolhimento familiar e colocação em
família substituta, [...] (CARVALHO 2012, p. 11).

Portanto, por seu caráter pedagógico, serão aplicadas às crianças que


cometem atos infracionais quaisquer das medidas protetivas acima citadas,
independentemente da gravidade do ato praticado. Ressalvadas as medidas de
26

proteção de acolhimentos institucional, acolhimento familiar e colocação em família


substitua, cuja competência é exclusiva da autoridade judiciária, toda as demais
medidas são de competência do Conselho Tutelar (BRASIL, 1990). Isso demonstra a
importância deste Conselho no tratamento ao menor.

1.6.4 Da Apuração do Ato Infracional

A apreensão do adolescente pode ser dar em flagrante de ato infracional, pela


autoridade policial, ou através de mandado de busca e apreensão expedido pela
autoridade judiciária. O Mandado poderá ser cumprido tanto pela Polícia Militar quanto
pela Polícia Civil.
Em seu artigo 173, o ECA estabelece que:

Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave


ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos artigos
106, parágrafo único, e 107 deverá:
I – lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;
II – apreender o produto e os instrumentos da infração;
III – requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da
materialidade e autoria da infração (BRASIL, 1990, online).

Assim, as providências a serem tomadas pela autoridade policial podem ser as


mais diversas e irá do tipo de ato infracional praticado. Se praticado com violência ou
grave ameaça a pessoa, faz-se necessária a lavratura do auto de apreensão e a oitiva
do adolescente infrator e das testemunhas, se for o caso. Além disso há a necessidade
de apreensão dos produtos e instrumentos da infração e a requisição de exames
periciais. Caso o ato infracional cometido tenha sido cometido sem violência ou grave
ameaça, o boletim de ocorrência poderá suprir a lavratura do auto de apreensão
(BRASIL, 1990).
De acordo com Araújo (2014), cumpridas as formalidades acima, e desde que
o ato infracional cometido não tenha sido de natureza grave, a autoridade policial pode
liberar o menor e entregá-lo aos pais ou responsáveis para que eles mesmos tratem
de apresentá-lo ao Promotor de Justiça, sendo este atuante na Vara da Infância e da
Juventude. Sendo o ato infracional de natureza grave, a própria autoridade poderá
encaminhá-lo.
Ao ser apresentado ao membro do Ministério Público, este poderá fazer a oitiva
informal do menor, para formar sua opinião delitiva; ou encaminhá-lo ao Juiz da Vara
27

da Infância, para audiência preliminar. Neste último caso, a presença do advogado de


defesa ou do Defensor Público se faz obrigatória.
Nesse contexto, o art. 180 do ECA dispõe:

Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo anterior, o


representante do Ministério Público poderá:
I - promover o arquivamento dos ·autos;
II - conceder a remissão;
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de medida sócio-
educativa (BRASIL, 1990, online).

Desse modo, após a entrevista realizada, pode ainda o represente do Ministério


Público promover o arquivamento dos autos, sendo o caso imediatamente encerrado;
ou conceder a remissão, sendo o adolescente liberado. Nestes dois casos, faz-se
necessária homologação do juiz da infância.
Retomando as ponderações de Neves (2018), caso o menor seja apreendido
durante o final de semana, ele será encaminhado diretamente para a internação
provisória, até se ouvido pelo representante do Ministério Público, devendo a
audiência de apresentação ocorrer até o prazo máximo de 45 dias. Se o ato cometido
for de natureza leve, ao fazer a representação, o próprio parquet poderá sugerir uma
opção de medida socioeducativa. Para os casos de atos infracionais mais graves, a
audiência de instrução e julgamento se faz obrigatória. Da sentença fundamentada do
juiz, será determinado o tipo de medida socioeducativa a ser aplicado, com a posterior
expedição da guia de execução.

2. DAS MEDIDAS SOCIEDUCATIVAS

As medidas socioeducativas são aplicadas aos adolescentes que praticam atos


infracionais, tendo como uma de suas finalidades a ressocialização do jovem infrator,
buscando-se evitar com isso a reincidência de delitos por eles praticados.
o art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 estabelece:

Art. 112: verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente


poderá aplicar ao adolescente as seguintes:
I – Advertência;
II – obrigação de reparar o dano;
III – Prestação de serviços à comunidade:
IV – Liberdade assistida;
V – Inserção em regime de semiliberdae;
VI – Internação em estabelecimento educacional;
28

VII – qualquer uma das previstas no art. 101, I ao VI (BRASIL, 1990, online).

Percebe-se nos incisos acima, que algumas das medidas aplicadas aos
adolescentes são mais severas do que às aplicadas às crianças, podendo,
inclusive, ocasionar a privação da liberdade do adolescente. A autoridade competente
a que se refere o artigo acima é o Juiz da Vara da Infância e da Juventude,
responsável por aplicar tais medidas.
Como bem define Karina Batista Sposato (2003), a medida socioeducativa em
nada se difere das penas, uma vez que possuem o mesmo papel de controle social,
onde o Estado, utilizando-se do seu poder de império, aplica sanções a quem
descumpre determinadas regras de comportamento, para, com isso, trazer novamente
a paz social. Esse entendimento revela o caráter sancionatório, impositivo e retributivo
das medidas socioeducativas, servindo de instrumento de defesa social, o que pode
justificar a sua natureza penal.
Em contraposição, afirma Saliba (2006, p. 29): “todas as medidas previstas
devem prever a reeducação e a prevenção. Pretendem estabelecer um novo padrão
de comportamento e conduta do infrator [...]”. Assim, mesmo evidenciando um caráter
punitivo, a execução das medidas socioeducativas deve objetivar, ainda, a prevenção
e a reeducação do adolescente.
Assim como os ocorre com os adultos que cometem infrações penais, os
adolescentes também podem sofrer sanções coercitivas pela prática de uma conduta
delitiva. A depender do tipo de ato infracional praticado, o adolescente poderá ficar
detido em unidades de internação ou apenas ser entregue aos pais ou responsáveis,
após gerado um boletim de ocorrência.

O adolescente pode ser apreendido pela polícia em um flagrante, ou em


decorrência de investigações policiais. Sua passagem pela delegacia é
estritamente técnica, pois se o caso não é considerado grave, a autoridade
policial faz um boletim de ocorrência e entrega aos pais ou responsáveis, que
têm prazo apresenta-lo ao promotor; se o caso é considerado grave, ele dever
ser detido em unidades especiais, ou, nas cidades que não possuem essas
unidades, em dependência separada da destinada a adultos, até ser
apresentado ao promotor, no prazo de 24 horas (SALIBA, 2006, p. 32).

Conforme exposto acima, o adolescente infrator é detido em unidades de


internação apenas quando da prática de atos infracionais considerados graves. Em
29

nenhuma hipótese será admitido que o adolescente fique detido juntamente com os
adultos.
Saliba (2006) ressalta que o boletim de ocorrência somente é lavrado e
transformado em processo quando não for caso de internação provisória. Além disso,
fica a família do adolescente com responsabilidade de apresentá-lo ao representante
do Ministério Público, que, após ouvi-lo, poderá adotar algumas das providências
estabelecidas no ECA, como promover o arquivamento, conceder a remissão ou
oferecer representação ao juiz da Vara da Infância e da Juventude, para aplicação de
uma das medidas socioeducativas.
Importa destacar o processo para aplicação de qualquer medida socioeducativa
deverá respeitar o devido processo legal, e a sua execução deve seguir as diretrizes
e determinações da Lei 12.594/2012 (Lei do SINASE)4, que regulamenta a execução
das medidas socioeducativas destinadas a adolescentes que pratique ato infracional.
As medidas estabelecidas no ECA se norteiam em princípios pedagógicos
como forma de ressocialização do adolescente infrator. A melhor maneira de
compreender todo esse processo é analisando cada uma das medidas
socioeducativas, especificando como se processa a execução e quais os critérios para
a sua aplicação.

2.1 Advertência

Como medida socioeducativa, o Estatuto considera advertência como sendo a


admoestação5 verbal feita ao adolescente, pela prática de ato infracional, devendo a
mesma ser reduzida a termo e assinada.

A advertência é a única das medidas socioeducativas que pode ser


executada diretamente pela autoridade judiciária. O Juiz deve estar presente
à audiência admonitória, assim como o representante do Ministério Público e
os pais ou responsável pelo adolescente, devendo ser este (inclusive por
força do “princípio da obrigatoriedade da informação”, consignado no art. 100,

4 SINASE: Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, instituído pela Lei 12.594, de 18 de


janeiro de 2012. Entende-se por Sinase o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que
envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas
estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de
atendimento a adolescente em conflito com a lei (MPPR, 2012, p. 2).
5 Admoestação: Repreensão ou advertência feita a alguém pela prática de uma determinada conduta

como forma de censura.


30

par. único, inciso XI, do ECA6) alertado das consequências da eventual


reiteração na prática de atos infracionais e/ou do descumprimento de
medidas que tenham sido eventualmente aplicadas cumulativamente
(conforme arts. 1137 c/c 998, do ECA). Os pais ou responsável deverão ser
também orientados e, se necessário, encaminhados ao Conselho Tutelar
para receber as medidas previstas no art. 129 9, do ECA, que se mostrarem
pertinentes (DIGIÁCOMO, M; DIGIÁCOMO,I, 2013, p. 38).

Conforme exposto acima, a única medida socioeducativa que pode ser aplicada
diretamente pelo magistrado em audiência é à advertência, devendo estar presente
ao ato o representante do MP e os familiares ou responsável pelo menor. O juiz deve
explicar ao menor as consequências advindas em caso de reiteração no cometimento
de novas condutas delitivas. Em relação aos pais ou responsáveis, caso a medida de
advertência seja a eles direcionada, estes deverão ser orientados pelo juiz acerca da
possibilidade de suspensão ou destituição do pátrio poder ou da guarda, bem como
da destituição da tutela, podendo até mesmo serem encaminhados ao Conselho
Tutelar para receberem as medidas cabíveis.
Conforme ensinamentos de Nucci (2014), a advertência é a mais branda dentre
as medidas socioeducativas, devendo ser aplicadas a adolescentes que cometem o
primeiro delito, e desde que o ato praticado seja de menor potencial ofensivo e atinja
bens jurídicos de menor relevância. Para o autor, o adolescente está passando um
uma formação de sua responsabilidade e, por isso, necessita de alertas e orientações,
para que não venha a se desvirtuar durante a trajetória da adolescência para a vida
adulta.

6 Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-
se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Parágrafo único. São
também princípios que regem a aplicação das medidas. XI - obrigatoriedade da informação: a criança
e o adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de compreensão, seus pais
ou responsável devem ser informados dos seus direitos, dos motivos que determinaram a intervenção
e da forma como esta se processa (BRASIL, 1990, online).
7 Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem

como substituídas a qualquer tempo (BRASIL, 1990, online).


8 Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100 (BRASIL, 1990, online).
9 Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: I - encaminhamento a programa oficial ou

comunitário de proteção à família; I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comunitários


de proteção, apoio e promoção da família; II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; III - encaminhamento a tratamento psicológico ou
psiquiátrico; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; V - obrigação de matricular o
filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e aproveitamento escolar; VI - obrigação de encaminhar
a criança ou adolescente a tratamento especializado; VII - advertência; VIII - perda da guarda; IX -
destituição da tutela; X - suspensão ou destituição do pátrio poder poder familiar.
31

Dentre os efeitos jurídicos da medida de advertência destaca-se o fato de que


a mesma permanece no registro de antecedentes do adolescente infrator, e caso este
venha a praticar novos atos infracionais, tal registro será considerado no momento em
que o magistrado vier a aplicar uma nova medida.
Em suma, a medida socioeducativa tem caráter educativo e corretivo, cujo
objetivo principal é fazer com que o adolescente compreenda como as suas ações
podem afetar a sua família, a coletividade e na formação de sua personalidade. É
importante que consideremos que tal medida acaba se apresentando bastante frágil,
e que a probabilidade de o adolescente voltar a praticar novos delitos é bastante
considerável, pois, em razão de sua imaturidade e fragilidade social, muitos
adolescentes acabam sendo seduzidos por adultos a praticarem outras infrações, sob
o argumento de que eles são menores e que nada irá lhes acontecer, caso sejam
detidos novamente.

2.2 Da Obrigação de Reparar o Dano

A medida socioeducativa de obrigação de reparação de dano encontra-se


fundamentada no artigo 116 do ECA, que a descreve da seguinte forma:

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a


autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a
coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o
prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser
substituída por outra adequada. (BRASIL, 1990, online).

A melhor maneira de compreender o artigo acima é considerando que a medida


de reparação de dano, ora analisada, não se confunde com a reparação civil prevista
no art. 932, inciso I, do Código Civil, onde ali está determinado que é incumbência dos
pais reparar os danos causados por seu filho. No ECA, tal responsabilidade é atribuída
ao próprio adolescente infrator, porém não havendo a efetiva capacidade de seu
cumprimento pelo adolescente, o juiz poderá substituir tal medida por outra mais
adequada. Na prática, isso é o que acaba ocorrendo na maioria das vezes, visto que
raramente o adolescente infrator dispõe de recursos próprios para promover o
ressarcimento à vítima que sofreu o dano, pois geralmente são oriundas de famílias
32

humildes. É importante frisar que a medida de reparação de dano é reservada apenas


aos atos infracionais que gerem danos patrimoniais.
Quanto a sua finalidade, Dupret (2015, online) descreve que “a obrigação de
reparar o dano visa desenvolver no adolescente o senso de responsabilidade,
compensando a vítima pelo dano patrimonial causado, seja pela restituição por sua
reparação, seja por outro meio de compensação”. Dessa forma, a autor demonstra o
caráter pedagógico da medida, uma vez que ensina ao adolescente o respeito pelo
patrimônio de terceiros, e o reconhecimento do caráter ilícito de sua conduta.

2.3 Da Prestação de Serviço à Comunidade

A medida de prestação de serviço à comunidade é uma medida socioeducativa


em meio aberto. De acordo com as informações colhidas na Vara da Infância e
Juventude de Campina Grande, a execução dessa medida se dá através do CREAS
– Centro de Referência Especializada da Assistência Social, que é considerada uma
unidade pública que presta serviços de proteção social para as famílias que se
encontram em situação de risco pessoal ou que teve seus direitos violados.
Tal medida encontra-se disciplinada no artigo 117, do ECA. Conforme o referido
artigo, “a prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas
gratuitas de interesse geral junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros
estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou
governamentais (ECA, 1990, online). Nesse contexto, compete a equipe técnica fazer
a inclusão do socioeducando numa instituição localizada dentro da própria
comunidade e avaliar se a medida aplicada é adequada ao perfil do adolescente ou
se é necessário fazer alteração, seja mudança, continuidade ou extinção do
procedimento, através de relatórios circunstanciais emitidos à autoridade judiciária
competente, isto significa dizer que o socioeducando deve ser avaliado
periodicamente.
Apesar de o ECA prever tal medida, importa ressaltar que a mesma deve
respeitar os comandos Constitucionais, como a proibição de trabalhos forçados, por
seu caráter desumano. Além disso, a jornada de trabalho não pode ultrapassar 8 horas
semanais, devendo ser prestadas em horário compatível com a frequência escolar ou
33

outras atividades profissionais desenvolvidas pelo adolescente, conforme dispõe o art.


117 do Estatuto, em seu parágrafo único:

Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do


adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas
semanais, aos sábados, domingos e feriados ou dias úteis, de modo a não
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho (ECA, 1990,
online).

Conforme exposto acima, os serviços prestados pelos adolescentes podem ser


realizados em qualquer dia da semana, inclusive aos sábados, domingos e feriados.
Vale destacar, que o período da medida não poderá exceder a seis meses
(DUPRET,2015).
A medida tem caráter educativo, uma vez tenta desenvolver a responsabilidade
do adolescente infrator, levando-o a repensar as suas condutas e dar um novo
direcionamento à sua vida. As atividades atribuídas ao socioeducando devem levar
em consideração suas capacidades intelectuais e físicas, isto é, compatíveis com os
seus interesses. Dentre as principais vantagens na aplicação desta medida é que ela
possibilita a ressocialização do adolescente infrator e a sua reintegração junto à
comunidade em que vive. Conforme ensinamentos de Guilherme F. M. Barros, “A
prestação de serviço à comunidade serve para que o adolescente desenvolva em si
um senso cívico, ou seja, que apure a percepção de cidadania, pois o serviço é
realizado em entidades assistenciais, hospitais, escolas, etc.” (BARROS, 2014, p.
207).
Apesar de semelhantes nomenclatura, as medidas de prestação de serviços à
comunidade previstas no Código Penal e no Estatuto não se confundem. Assim
leciona Dupret:

[...] a medida em análise não pode ser confundida com a prevista no Código
Penal, pois a prestação de serviços à comunidade, segundo o artigo 43 do
Código Penal, possui natureza de pena alternativa, substitutiva da privativa
de liberdade. No ECA, a prestação de serviços de serviços à comunidade é
medida socioeducativa que somente pode ser aplicada ao adolescente em
conflito com a lei por meio de processo judicial pela prática do ato, sendo
diretamente aplicada na sentença (DUPRET, 2015, online).

Segundo o autor, a medida prevista no Código Penal trata-se de uma pena


restritiva de direitos alternativa à prisão, sendo aplicada aos adultos em quaisquer
34

infrações. No entanto, a medida regulamentada pelo Estatuto trata-se de uma medida


socioeducativa aplicada pelo magistrado ao menor infrator no momento da sentença.
Dentre os vários problemas para efetivação do medida em discussão no
município de Campina Grande, segundo informações obtidas na Vara da Infância e
Juventude, pode-se destacar: a rejeição por parte de algumas instituições que se
recusam receber os socioeducando para a execução da medida de prestação de
serviços; a inexistência de capacitação contínua para os membros das equipes de
execução e falta de interesse do menor em cumprir a medida que lhe foi imposta.

2.4 Da Liberdade Assistida

O ECA trata em seus artigos 118 e 11910 da medida socioeducativa de


Liberdade assistida. Tal medida consiste no acompanhamento e orientação ao
socioeducando e a sua família. Desse modo, sempre que o magistrado vislumbrar a
liberdade assistida como a medida mais adequada a ser aplicada ao caso concreto,
ele designará um orientador para acompanhar a vida social do adolescente e da sua
família. “A medida de liberdade assistida busca evitar o internamento e deposita na
escola, na família e na sociedade a obrigação de reintegrar socialmente o adolescente
infrator” (SALIBA, 2006, p. 30).
Segundo Nucci (2014), a medida de liberdade assistida equipara-se à
suspensão condicional da pena (sursis)11, que é imposta ao criminoso maior de 18
anos para se evitar o seu recolhimento à prisão.
Em contraponto, Digiácomo e Digiácomo (2013) afirmam que:

Não se trata de uma mera “liberdade vigiada”, na qual o adolescente estaria


em uma espécie de “período de prova”, mas sim importa em uma intervenção
efetiva e positiva na vida do adolescente e, se necessário, em sua dinâmica
familiar, por intermédio de uma pessoa capacitada para acompanhar a

10 Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização
dos seguintes encargos, entre outros: I - promover socialmente o adolescente e sua família,
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio
e assistência social: II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do adolescente,
promovendo, inclusive, sua matrícula; III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente
e de sua inserção no mercado trabalho; IV- apresentar relatório do caso.
11 Sursis: Dentro do espírito de evitar o recolhimento do condenado à prisão (de curta duração), o

nosso ordenamento penal (CP, am. 77 a 82, LEI~ arts. 156 a 163) prevê o "sursis", instituto de política
criminal que suspende, por um tempo certo (período de prova), a execução da pena privativa, ficando
o sentenciado em liberdade sob determinadas condições (SANCHES, 2016, p. 472).
35

execução da medida, chamada de “orientador”, que tem a incumbência de


desenvolver uma série de tarefas, expressamente previstas no art. 119, do
ECA (DIGIÁCOMO, M; DIGIÁCOMO, I, 2013, p. 173).

Tendo como base esses pensamentos, apesar de a medida em tela ser similar
ao Sursis, ela vai mais além, pois a intervenção pode ocorrer, inclusive, convivência
familiar. Estabelece o ECA, em art. 118, § 2º: “A liberdade assistida será fixada pelo
prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou
substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor”.
Percebe-se que o legislador não estipulou o prazo máximo para o cumprimento da
medida, mas tão somente o seu prazo mínimo, o que vai de encontro ao princípio da
brevidade das medidas socioeducativas, que será abordado adiante.
Em razão disso, no julgamento do Habeas Corpus (HC) de nº 172017/SP, o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolidou o entendimento da seguinte forma:

HABEAS CORPUS. ECA. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE


ASSISTIDA.PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. AUSÊNCIA DE
FIXAÇÃO DE PRAZODETERMINADO. CONTAGEM PELA DURAÇÃO
MÁXIMA ABSTRATAMENTE PREVISTA.PRECEDENTES. 1. O art. 118, §
2º, da Lei n.º 8.069/90 não estabeleceu o prazo máximo de duração da
liberdade assistida, mas tão-somente a duração mínima, a qual pode ser
prorrogada até o limite de 3 (três) anos, pela aplicação subsidiária do art. 121,
§ 3º, da mesma Lei (BRASIL, 2011, online).

Dessa forma, não havendo previsão legal quanto ao prazo máximo para
cumprimento da aludida media, este prazo será fixado em 3 anos, em aplicação por
analogia da regra de medida socioeducativa de internação.
Como exposto anteriormente, para a prorrogação do referido prazo deverão ser
ouvidos a defesa, o membro do Ministério Público e o orientador. Para este, O ECA
estabeleceu diversas as atribuições, tais como observar suas atitudes perante a
família e a sociedade, tendo o dever de supervisionar a vida acadêmica do menor,
inclusive apresentando relatórios periódicos sobre a evolução do adolescente e, se
necessário, sugerir modificações da medida que lhe foi imposta.
Nesse sentido, Nucci descreve:

Designa-se uma pessoa capacitada para acompanhar o caso, devendo esse


orientador promover socialmente o adolescente e sua família, dando-lhes
orientação ou colocando-os em programas de auxilio e assistência social;
supervisionar o aproveitamento geral do adolescente na escola; diligenciar
pela sua profissionalização; relatar tudo ao juízo (Nucci, 2014, p.435).
36

Conforme o autor acima, o orientador deverá acompanhar o socieducando


durante todo o período de cumprimento da medida, dando-lhe todo o suporte
necessário para a reconstrução e fortalecimentos dos laços familiares. Para que o
programa seja plenamente eficaz, os profissionais indicados para exercer a função de
orientador devem estar devidamente capacitados. Nos casos de descumprimento da
medida pelo menor, o orientador deverá especificar em seu relatório a ocorrência, o
que pode ocasionar na substituição da medida em discursão por outra mais severa,
desde que garantido o contraditório e a ampla defesa do adolescente.
Por fim, para que seja liberado da medida, é necessário que o menor demonstre
mudanças favoráveis em sem comportamento, seja em convivência no trabalho, na
escola ou na comunidade em que vive. A família também terá papel fundamental neste
processo, tendo em vista que reassumirá o papel de guardião, antes conferido ao
Estado.

2.5 Da Semiliberdade

A medida de semiliberdade é regulada no art. 120 do ECA. Consiste numa


medida de privação parcial da liberdade do adolescente, sendo obrigado a sua
escolarização e a profissionalização, isto porque ele poderá permanecer durante o dia
em meio aberto, seja estudando ou trabalhando; e durante o período noturno ser
recolhido em unidade especializada, assemelhando-se, assim, ao regime semiaberto
de cumprimento de pena aplicada aos adultos que cometem infrações penais.
Nesse contexto, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que:

Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou


como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de
atividades externas, independentemente de autorização judicial.
§ 1º. É obrigatória a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre
que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.
§ 2º. A medida não comporta prazo determinado, aplicando-se, no que
couber, as disposições relativas à internação (BRASIL, 1990, online).

No artigo acima, depreende-se que o prazo para o cumprimento da medida de


semiliberdade não pode ultrapassar 3 anos. Desse modo, como ocorre na liberdade
assistida, aplica-se por analogia a regra de medida de internação. Além disso, a
37

autoridade judicial poderá determinar na sentença que a medida seja imposta de


imediato, ou utilizada como forma de progressão para um regime menos gravoso.
Importante destacar que aqui, ao contrário do que ocorre na medida de
internação, não depende de autorização judicial para execução de atividades
externas, havendo, inclusive Decisão do STJ neste sentido:

HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO


INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE ROUBO. REGIME DE
SEMILIBERDADE. ATIVIDADES EXTERNAS. DESNECESSIDADE DE
AUTORIZAÇÃO LEGAL. ART. 120 DO ECA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A
Sexta Turma desta Corte tem entendido que o cumprimento de medidas
socioeducativas pelo menor infrator no regime de semiliberdade dispensa a
autorização judicial para a realização de atividades externas, que será
exigível somente quando se tratar de regime de internação, consoante o
disposto no art. 120 da Lei nº 8.069/90. 2. Ordem concedida (BRASIL, 2005,
online).

Conforme julgado, somente no regime de internação é que será exigida


autorização do magistrado para a execução de atividades externas, sendo a mesma
dispensada quando se tratar de medida de semiliberdade.
Para aplicação da medida de semiliberdade, ou qualquer outra medida
socioeducativa, não se deve analisar tão somente a gravidade do ato infracional
praticado, e sim o conjunto de diversos fatores como, perfil socioeconômico e
psicossocial do menor, motivos que o levaram à pratica do ato, circunstâncias
pessoais e familiares, além das consequências do ato praticado.
Na mesma linha de entendimento, posicionou-se o STJ ao julgar o HC 254806
MG, em que o menor praticou ato infracional análogo ao crime de porte ilegal de arma
de fogo, previsto no art. 14, da Lei nº 10.826/0312:

HABEAS CORPUS. WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.


DESVIRTUAMENTO. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE
PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. SEMILIBERDADE. INEXISTÊNCIA
DE REQUISITOS TAXATIVOS. HISTÓRICO INFRACIONAL E
DESCUMPRIMENTO ANTERIOR DE MEDIDAS EM MEIO ABERTO.

12Art. 14 da Lei 10.286/03: Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder,
ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo,
acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste
artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. Disparo de
arma de fogo (BRASIL, 2003, online).
38

ARTIGO 120, § 1º, DO ECA. JUSTIFICATIVA IDÔNEA.


CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. [...] 2. A medida
socioeducativa de semiliberdade pode ser determinada desde o início pelo
magistrado e, além de não possuir requisitos taxativos de aplicação, deve
levar em conta a capacidade do adolescente para cumpri-la, as
peculiaridades do caso e a gravidade do ato infracional. 3. No caso, apesar
de o ato infracional análogo ao crime de porte ilegal de arma de fogo não se
revestir de gravidade concreta, fixou-se a medida socioeducativa de
semiliberdade ao paciente à vista de seu histórico infracional e do
descumprimento anterior de todas as medidas em meio aberto, aplicadas em
procedimentos infracionais. [...] 5. Habeas corpus não reconhecido (BRASIL,
2014, online).

Conforme se observa no julgado acima transcrito, mesmo nos casos em que o


ato infracional não se revista de gravidade, poderá o juiz aplicar a medida
socioeducativa de semiliberdade ao adolescente infrator, pois, além de outros fatores,
o magistrado também levará em consideração os seus antecedentes e o
comportamento durante o cumprimento de outras medidas. Outro ponto importante a
ser observado é o fato de que o Estatuto não apresenta um rol taxativo de requisitos
para aplicação da medida de semiliberdade, ficando a cargo do juiz, na análise do
caso concreto, decidir sobre a medida mais adequada.
Igualmente à medida de liberdade assistida, uma equipe multidisciplinar deverá
supervisionar a convivência familiar e comunitária do adolescente durante o todo o
período em que o menor estiver em regime de semiliberdade, devendo a mesma
encaminhar à autoridade judicial um relatório circunstanciado semestralmente.
Conforme a resolução nº 47 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente – CONAMA (1996), a qual regulamentou a medida socioeducativa de
semiliberdade, a medida de semiliberdade deve ser executada de forma que o
adolescente não fique ocioso durante o período diurno. Assim, atividades de lazer,
educativas e profissionalizantes devem sem oferecidas aos que estão sob esse
regime, devendo essas atividades ser supervisionadas por uma equipe multidisciplinar
especializada.
Diante de tudo que foi exposto, percebe-se que a medida socioeducativa de
semiliberdade visa garantir ao adolescente um melhor convívio com sua a família e a
sociedade, instigando-o a projetar um novo caminho para o seu destino e de todos os
que estão à sua volta.
39

2.6 Da internação definitiva

A medida socioeducativa de internação definitiva, objeto principal do presente


trabalho, está prevista nos artigos 121 ao 125, do ECA, e foi regulamentada pela da
Resolução nº 46 do CONANDA. Por constituir medida privativa de liberdade, a
internação é a mais grave das medidas socioeducativas, restringindo o adolescente
do convívio familiar e social.
Segundo o ECA, a adolescente é uma pessoa cuja personalidade está em
desenvolvimento. Ao praticar um ato infracional ele se coloca em situação de risco,
motivo pelo qual necessita de uma maior proteção estatal, devendo ser encaminhados
para estabelecimentos próprios para este fim.
Nesse sentido, destaca-se o artigo 123, do ECA:

Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidades exclusiva para


adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida
rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da
infração (BRASIL, 1990, online).

Portanto, pode-se observar que os adolescentes em regime de internação não


podem permanecer em estabelecimentos prisionais ou em Delegacias Policiais.
Apesar de os estabelecimentos especializados se assemelharem a verdadeiras
prisões. Além disso, deverá haver critérios de separação entre os internos, de modo
a evitar que os menores que representam maior periculosidade possam ficar na
mesma ala que os demais.
De acordo com o art. 1º da Resolução da CONANDA, “nas unidades de
internação será atendido um número de adolescentes não superior a quarenta”
(BRASIL, 1996, online). Assim, não são admitidas superlotações nas unidades de
internação, como ocorre na maioria dos presídios brasileiros.
Assim como as medidas vistas anteriormente, a medida de internação visa não
somente a reeducação e a ressocialização do adolescente infrator, mas também
retribuição pelo mal causado a sociedade, fazendo com que o adolescente reflitas
sobre suas ações e suas consequências em sua vida, de sua família e na sociedade.
Nesse sentido, Nucci (2014) descreve:
40

Parece-nos que a internação é uma medida socioeducativa, com o perfil


educativo, em primeiro plano, acompanhado da meta protetiva, em plano
secundário, com um natural toque punitivo, do qual não se pode arredar.
Mas o referido toque punitivo não constitui a essência da medida e, sim, a
sua consequência, da qual não se pode fugir, tendo em vista a real restrição
à liberdade, jamais aprazível por quem a sofre (NUCCI, 2014, p. 455).

Portanto, segundo o autor, a medida de internação tem sim um caráter


sancionatório, como consequência do mal causado, privando o adolescente de sua
liberdade, e mesmo não sendo o cerne da medida, ela traz em si conotações
coercitivas que não tem como passar despercebidas.

2.6.1 Dos Princípios que regem a medida de internação

Os princípios que norteiam a aplicação e execução da medida de internação


estão contemplados no art. 121, do ECA: “Art. 121. A internação constitui medida
privativa de liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito
à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento” (BRASIL, 1990, online).
Por ser considerada pessoa em desenvolvimento, deve ser ter o adolescente
um tratamento diverso do conferido ao adulto. Consequentemente, toda vez que o
Estado entender se fazer necessário privar o adolescente de sua liberdade, em razão
da prática de uma infração, tal medida deve respeitar os princípios estabelecidos no
Estatuto quando da sua aplicação, quais sejam o da excepcionalidade, brevidade e o
da condição peculiar de pessoal em desenvolvimento.
Tais princípios também se encontram previstos no texto Constitucional.
Vajamos o que menciona o art. 227, § 3º, V da Lei Maior:

Art. 227. [...]


§ 3º O direito à proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
[...]. V – Obediência aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito
à condição peculiar em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer
medida privativa de liberdade (BRASIL, 1988, p. 55).

Conforme verificado, os princípios que regem a aplicação e execução da


medida socioeducativa de internação encontram-se previstos tanto no Estatuto,
quanto na Carta Magna. O princípio da brevidade reza que a medida de internação
não excederá o prazo de 3 anos. apesar da mesma não comportar prazo máximo na
sentença. Logo, qualquer decisão judicial que estipule um prazo determinado para o
41

cumprimento da medida, tal decisão deverá ser anulada, evitando como isso a
perpetuidade da medida privativa de liberdade e seus efeitos danosos para aquele
que ainda não tem sua personalidade formada.
Do princípio da excepcionalidade extrai-se que a medida de privação de
liberdade deve ser a última opção a ser aplicada pelo juiz dentre as demais medidas
socioeducativas, devendo somente ser utilizada em casos excepcionais. Assim,
havendo a possibilidade de imposição de medida menos gravosa, deverá o
magistrado por esta decidir. O ECA, em seu art. 100, descreve que: “Na aplicação das
medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas
que visem o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários” (BRASIL, 1990,
online). Esse disposto fortalece o entendimento de que o principal objetivo do Estatuto
é a reeducação do menor infrator. Logo, se outras medidas cumprem este intuito,
nadas obsta que elas sejam aplicadas em detrimento à internação.
Por fim, o princípio do respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento visa a observância de que o adolescente é uma pessoa em fase de
desenvolvimento de personalidade e, portanto, vulnerável, razão pela qual deve ter
um tratamento diferenciado na legislação pátria. Nesse contexto, reza o ECA, em seu
art. 125: “É dever do Estado de zelar pela integridade física e mental dos internos,
cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança” (BRASIL,
1990, online). Nestes termos, pode-se afirmar que o magistrado, ao decidir pela
medida de internação, deverá respeitar os 3 princípios basilares da medida em
discussão.

2.6.2 Dos Direitos Individuais e das Garantias Processuais do Adolescente

Ao contrário de legislações anteriores, em que nada se falava acerca de direitos


e garantias em relação aos adolescentes, o ECA, em cumprimento aos mandamentos
Constitucionais, trouxe ao longo de todo o seu texto uma série de direitos e garantias
que devem ser respeitados, inclusive quando se tratar de adolescentes em conflito
com a lei.
Assim, reza o artigo 106, do ECA:
42

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em


flagrante ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente.
Parágrafo único: O adolescente tem o direito à identificação dos responsáveis
pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos (BRASIL,
1990, online).

Percebe-se, ao estabelecer que nenhum adolescente poderá ser apreendido,


exceto nos casos de flagrante ou por decisão fundamentada do juiz, que o ECA
assegurou ao adolescente a mesma proteção expressa no art. 5º, LXI, da CF, em
relação aos brasileiros e estrangeiros residentes no País, admitindo-se a pena de
prisão no Brasil somente quando se tratar de flagrante delito ou por ordem judicial.
Logo, ao praticar o ato infracional, surge para o Estado o dever de apurar e, se
for o caso, aplicar algumas das medidas socioeducativas estabelecidas no Estatuto,
como forma de reeducar e punir o menor infrator, desde que respeitados todos os
direitos previstos na legislação vigente, inclusive o de tomar conhecimento da pessoa
responsável por sua apreensão.
Conforme prevê o art. 107, do ECA (1990), o juiz da Vara da Infância e a família
do menor apreendido devem ser comunicados do fato e do local onde o mesmo se
encontra. Caso isso não ocorra, a autoridade policial deverá liberar de imediato o
adolescente.
Para que seja o adolescente colocado em regime de internação, deverá haver
sentença transitada em julgado. Se não houver sentença transita em julgado, o
adolescente só poderá permanecer internado pelo prazo máximo de 45 dias. Portanto,
após a apreensão do menor, a sentença deverá ser proferida no prazo máximo acima
citado, sob pena de incorrer a autoridade competente no crime previsto no art. 235,
com pena de detenção de 6 meses a dois anos (BRASIL, 1990).
No que se refere à identificação do adolescente civilmente identificado, o art.
109 do ECA, em consonância com o art. 5º, LVIII, da CF, dispõe que somente havendo
dúvida fundada, é que o adolescente poderá ser submetido à identificação
compulsória. Vejamos o que reza o referido artigo: “O adolescente civilmente
identificado não será submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de
proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida fundada”
(BRASIL, 1990, online). Em sendo assim, pode-se constar que o Estatuto da Criança
e do Adolescente um rol de direitos individuais ao adolescente que tem a sua privação
de liberdade sub judice.
43

Além das garantias individuais, o Estatuto assegurou aos adolescentes


diversas garantias processuais. Tais garantias encontram-se dispostas em seus
artigos 110 e 111, assim como segue:

Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido
processo legal.
Art. .111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes
garantias:
I – Pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante
citação ou meio equivalente;
II – Igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e
testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III – defesa técnica por advogado;
IV – Assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da
lei;
V – Direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI – Direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer
fase do procedimento (BRASIL, 1990, online).

Verifica-se, portanto, que o procedimento de apuração do ato infracional


assegura aos adolescentes uma série de direitos comuns aos adultos, demandando
das mesmas cautelas exigidas no processo penal. Nesse sentido, qualquer Decisão
Judicial que determine a execução de medida de privação de liberdade, sem a
observância de um processo adequado, que tenha assegurado ao adolescente o
contraditório e a ampla defesa, deve ser considerada nula. Dentre as garantias
processuais, destaca-se ainda o direito que tem o adolescente de ter conhecimento
de tudo o que lhe está sendo imputado; direito a um advogado ou, se for o caso, de
um defensor público, podendo produzir todas as provas admitidas em direito para a
sua defesa.

2.6.3 Das hipóteses de cabimento

O Estatuto da Criança e do Adolescente traz um rol exaustivo das hipóteses de


cabimento para a medida de internação. Segundo o artigo 122, do ECA, a medida
socioeducativa de internação só poderá se aplicada nos seguintes casos:

Art. 122. [...]


I – Tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência
a pessoa;
II – Por reiteração no cometimento de infrações graves;
III – por descumprimento reiterado da medida e injustificável anteriormente
imposta;
44

§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo, não poderá


ser superior a três meses. § 2º Em nenhuma hipótese será aplicada à
internação, havendo outra medida adequada (BRASIL, 1990, online).

O dispositivo acima traz novamente à baila o princípio da excepcionalidade,


onde a privação de liberdade é medida excepcional e só poderá ser aplicada nos atos
de maior gravidade, praticados com violência ou grave ameaça à pessoa; reincidência
ou descumprimento reiterado de medida anteriormente aplicada. Além disso, caso a
conduta seja passível de aplicação de medida mais apropriada, a medida de
internação deve ser evitada, em respeito ao citado princípio.
Segundo entendimento do STJ, conforme jugado a seguir, qualquer Decisão
Judicial determinando a aplicação de medida de internação, nos casos fora dos
previstos no rol taxativo do art. 122, deverá ser considerada nula.

PENAL. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO DELITO DE TRÁFICO DE


ENTORPECENTES. INTERNAÇÃO POR TEMPO INDETERMINADO.
MEDIDASOCIOEDUCATIVA MAIS SEVERA APLICADA SEM MOTIVAÇÃO
IDÔNEA. VIOLAÇÃOAO ART. 122 DO ECA. FLAGRANTE ILEGALIDADE A
SER SANADA. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. I. A medida extrema
de internação só está autorizada nas hipóteses previstas taxativamente nos
incisos do art. 122 do ECA, pois a segregação do adolescente é medida de
exceção, devendo ser aplicada e mantida somente quando evidenciada sua
necessidade, em observância ao espírito do Estatuto, que visa à reintegração
do menor à sociedade.
II. Não se admite a aplicação de medida mais gravosa com esteio na
gravidade genérica do ato infracional ou na natureza hedionda do crime de
tráfico de drogas, assim como nas condições pessoais do adolescente, dada
a sua excepcionalidade (BRASIL, 2012, online).

Na análise do julgado transcrito acima, entende-se que para aplicação da


medida de internação, não pode o magistrado fundamentos sua decisão baseando-se
apenas nas condições pessoais do adolescente, devendo levar em consideração
todos os requisitos previstos no art. 122, do ECA, e as peculiaridades do caso
concreto.
Percebe-se que o legislador, no art. 122, inciso II, do ECA, não ter estipulado
um quantitativo mínimo de atos infracionais de natureza grave que justifique a
internação do adolescente, o que gerou grandes discussões na Doutrina e na
Jurisprudência. Para uma primeira corrente, somente se enquadrava na hipótese de
reincidência prevista no referido artigo, o adolescente que tivesse praticado, no
mínimo, três atos infracionais de natureza grave. Já para uma segunda corrente, essa
45

exigência não se fazia necessária, por falta de fundamentação legal. Porém, ao julgar
HC 305987, no ano de 2014, o STJ pacificou o entendimento da seguinte maneira:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO. NÃO CABIMENTO. ECA.


ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO DELITO DE TRÁFICO ILÍCITO DE
ENTORPECENTES. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO
IMPOSTA EM RAZÃO DAS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO.
REITERAÇÃO DE ATO INFRACIONAL E RELATÓRIO POLIDIMENSIONAL
INDICANDO A NECESSIDADE DE ATENDIMENTO SISTEMÁTICO.
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ART. 122, INCISO II, DO ECA. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO DE UM NÚMERO MÍNIMO DE ATOS INFRACIONAIS GRAVES
ANTERIORES PARA A CARACTERIZAÇÃO DA REITERAÇÃO.
PRECEDENTES DESTE STJ E DO STF. REITERAÇÃO DE ATO
INFRACIONAL. AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO DE MEDIDA
ANTERIOR. POSSIBILIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. O
Superior Tribunal de Justiça, seguindo o entendimento firmado pela Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal [...] firmou o entendimento de que o
Estatuto da Criança e do Adolescente não estipulou um número mínimo de
atos infracionais graves para justificar a internação do menor infrator com
fulcro no art. 122, inciso II, do ECA (reiteração no cometimento de outras
infrações graves). Consoante a nova orientação, cabe ao magistrado analisar
as peculiaridades de cada caso e as condições específicas do adolescente a
fim de melhor aplicar o direito (BRASIL, 2014, online).

Logo, para a configuração da reiteração da prática de atos infracionais de


natureza grave prevista no inciso II, do art. 122, do ECA, não se faz necessário que o
adolescente tenha a seu desfavor duas outras sentenças, com o trânsito em julgado,
pela prática de infrações de mesma natureza, devendo o magistrado analisar as
peculiaridades de cada caso.
Embora a medida de internação não comporte prazo determinado, o período
de internação não poderá ser superior a 3 anos, e a liberdade compulsória se dará
quando o interno atingir a idade de 21 anos (BRASIL, 1990). Desse modo, a referida
medida respeita o princípio da brevidade.
De acordo com Dupret (2015):

O prazo máximo de três anos deve ser analisado conjuntamente com a idade
máxima permitida para o cumprimento da internação, que é de 21 anos, [...].
Tal limite máximo de idade foi estabelecido pelo legislador justamente
levando em conta o prazo máximo de três anos. Se não houvesse a
possibilidade de aplicação da internação até os 21 anos, o adolescente que
praticasse o ato próximo à data de completar a maioridade, provavelmente
não receberia a medida. O legislador pensou em atingir até mesmo o
adolescente que deixasse para praticar o ato infracional no último momento
antes de completar a maioridade (DUPRET, 2015, online).
46

Segundo o autor, para o limite máximo de idade estabelecida pelo legislador


para a ocorrência da liberdade compulsória, que se dá aos 21 anos, levou em
consideração o prazo máximo de três anos. Isso se deu para evitar a impunidade do
ato infracional praticado pelo adolescente que viesse a praticar atos infracionais as
vésperas de seu aniversário de 18 anos. Como bem exemplifica Dupret (2015), caso
um adolescente, a um dia de completar a maioridade, efetue disparos com arma de
fogo em outra pessoa, e esta só vier a óbito três dias depois, aquele terá praticado ato
infracional passível de medida de internação, tendo em vista a gravidade do ato,
podendo ele ficar em cumprimento do regime até o prazo de três anos, desde que não
ultrapasse a idade de vinte e um anos, haja vista a impossibilidade da continuidade
da internação após os 21 anos daquele que praticou o ato infracional.
Caso o adolescente não seja desinternado, após passados 3 anos de sua
internação, ou se já contar com 21 anos, a privação da liberdade tornar-se-á uma
medida ilegal, sendo cabível, neste caso, a impetração de habeas corpus para sanar
a ilegalidade. Além disso, se o a pessoa já conta com 21 anos de idade e praticou ato
infracional antes dos 18 anos, mas que ainda não houve sentença, a aplicação da
medida socioeducativa resta obstada, em razão de que “o decurso de tempo que faz
desaparecer o caráter pedagógico de qualquer medida socioeducativa” (DIGIÁCOMO,
2016, online). É o que a doutrina chama de prescrição educativa.
Nesse sentido, a 3ª Câmara criminal do Tribunal de Justiça do Estado de
Pernambuco o STF julgou o Recurso de Apelação de nº APL 2717624-PE:

PENAL E PROCESSUAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.


APELAÇÃO. PRELIMINAR MINISTERIAL. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EDUCATIVA. ARQUIVAMENTO DOS AUTOS. ALVARÁ DE
DESINTERNAÇÃO. I - Constatando-se que o representado atingiu a idade
limite de 21 (vinte e um) anos, restaram prejudicados o recurso defensivo e o
prosseguimento do processo originário, impondo-se o reconhecimento da
incidência da prescrição da pretensão educativa, com o consequente
arquivamentos dos autos, nos termos do art. 121, § 5º, da Lei 8.069/1990,
devendo ser expedido o Alvará de Desinternação, mormente por não constar
dos autos nenhuma informação de que o apelante tenha sido liberado. II -
Preliminar acatada. Decisão Unânime (BRASIL, 2013, online).

Desse modo, resta prejudicada a execução de medida socioeducativa de


pessoa que já atingiu a idade de 21 anos. Assim, sempre que o interno completar essa
idade, obrigatoriamente ele deverá ser liberado, cessando o regime de internação,
com o consequente arquivamentos dos autos do processo.
47

No máximo a cada 6 meses, haverá uma reavaliação da medida e, caso


necessário, poderá o magistrado, mediante Decisão fundamentada, revogá-la,
prorrogá-la ou substitui-la por outra mais adequada. Nesse contexto, caso o
adolescente demonstre que deixou de representar um perigo para a sociedade, ele
poderá se beneficiado com a progressão, passado a cumprir uma medida mais
branda.

3. METODOLOGIA

Esse estudo teve por finalidade realizar uma pesquisa para traçar o perfil
socioeconômico dos adolescentes em conflito com a lei, que estão cumprindo medida
socioeducativa de privação de liberdade no Cento Socioeducativo Lar do Garoto
Padre Otávio Santos, localizado na cidade de Lagoa Seca/PB.
Antônio Carlos Gil (20027) define o conceito de pesquisa da seguinte maneira:

Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem


como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A
pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para
responder ao problema, ou então quando a informação disponível se
encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente
relacionada ao problema (GIL, 2002, p.17).

Para um melhor tratamento dos objetivos e melhor apreciação desta pesquisa,


observou-se que ela é classificada como pesquisa exploratória e descritiva. Isto
porque a pesquisa exploratória visa a descoberta, a elucidação de fenômenos ou a
explicação daqueles que, apesar de evidentes, não eram aceitos. Enquanto na
pesquisa descritiva é realizado o estudo, o registro e a interpretação dos fatos reais
sem levar em consideração a opinião do pesquisador (GONÇALVES, 2014; BARROS
e LEHFELD, 2007).
Quanto à metodologia, a presente pesquisa fez a opção pelo método indutivo.
Essa opção se justifica porque o método escolhido permitiu estabelecer
probabilidades acerca da reincidência da prática da infração pelo menor.
Como procedimentos, este trabalho realizou-se por meio de observação
indireta, pois consistiu no levantamento de todos os dados possíveis sobre o assunto
a ser pesquisado, independentemente das técnicas utilizadas. Havendo a
necessidade de pesquisa Bibliográfica, pois baseou-se em outros trabalhos já
48

publicados acerca do tema pesquisado, constituído principalmente de livros, artigos


científicos, normas constitucionais e infraconstitucionais, na busca e alocação de
conhecimento pertinentes ao tema, correlacionando tal conhecimento com
abordagens já trabalhadas por outros autores.
Também entendemos como importante a realização do trabalho por meio de
pesquisa documental, que teve como base documentos contidos no Setor de
Atendimento Psicossocial Infracional (SAPSI), pertencente à Vara da Infância e
Juventude da Comarca de Campina Grande.
Já a pesquisa de campo foi realizada no Centro Educacional Lar do Garoto
Padre Otávio, com adolescentes que estavam cumprindo medida socioeducativa de
internação e teve uma abordagem quali-quantitativa, devido à necessidade da
aplicação de questionários com perguntas abertas para uma compreensão mais rica
do fenômeno, e as opiniões serão apresentadas em comparações entre relatos que
não podem ser comparados em números. Além disso, forma utilizados questionários
com perguntas fechadas, em que os dados obtidos foram apresentados em gráficos.
O material documentado, bem como, as respectivas análises foram organizadas em
relatório de pesquisa componente do estudo monográfico que se pretendeu construir

3.1 Caracterização da área pesquisada

Para a realização da pesquisa, o local escolhido foi o Centro Educacional Lar


do Garoto Padre Otávio Santos, situado no município de Lagoa Seca. Com a
finalidade de abrigar adolescentes em conflito com a lei, o Centro Socioeducativo Lar
do Garoto foi inaugurado em 12 outubro de 1990. Há época, a instituição tinha
capacidade para acolher 40 adolescentes. A instituição divide o espaço com o abrigo
provisório, e a Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente (Fundac)
é o Órgão responsável pela administração da unidade.
Conforme informações do atual Diretor Luiz Antônio, após a rebelião ocorrida
no ano de 2017, que acabou na morte de 7 internos, a instituição passou por diversas
reformas, aumentando sua capacidade para abrigar 120 internos, somando-se as
vagas dos regimes provisório e definitivo. Na data da entrevista, a unidade contava
com uma lotação de 92 internos, sendo 27 em regime provisório e 65 em regime
definitivo.
49

Em sua estrutura organizacional, segundo informações da direção, a equipe do


Lar do Garoto é formada pelo diretor e vice; 08 assistentes sociais; 01 advogado; 04
supervisores; 04 coordenadores; 01 pedagoga, que também é coordenadora da
escola cidadã; 04 técnicas de enfermagem; 01 dentista, que atende na cidade na
cidade de Lagoa Seca; 60 agentes, aproximadamente, com jornada em escala de
trabalho 12h por 36h; além de 03 psicólogos.
Além da área administrativa, percebeu-se que a unidade conta com três Alas.
As duas primeiras Alas são compostas por quatro quartos cada, num total de oito,
tendo capacidade para abrigar quatro pessoas em cada ambiente, porém alguns deles
chegam a abrigar o dobro da lotação. Os quartos possuem quatro camas construídas
de placas de cimento, e um banheiro, que apresenta certa precariedade. Já a terceira
Ala, também chamada de “triagem” por abrigar adolescentes considerados mais
perigosos, é composta por dez quartos com capacidade para apenas uma pessoa,
mas que chegam a abrigar o triplo da lotação permitida. A área da triagem dispõe de
apenas um banheiro para todos os socioeducandos.
Nas dependências da unidade existe 01 Auditório, onde os internos participam
de cursos, aulas do ensino fundamental e médio. No Auditório foram construídas 06
salas de aula, sendo uma delas destinada à realização de cursos de tecelagem. Esta,
já se encontra estruturada com todos os equipamentos necessários para a realização
das atividades. As aulas de ensino médio e fundamental são realizadas de segunda à
quinta-feira. Já a sexta-feira foi reservada às aulas de música e encontros com
membros da igreja católica.
Outros cursos profissionalizantes são oferecidos, como eletricidade e
mecânica. O local citado também é reservado às visitas de familiares. Para os
adolescentes em cumprimento de medida privativa de liberdade em regime definitivo,
as visitas são realizadas aos domingos no período da tarde. Para as atividades de
lazer, foram construídos 01 campo de futebol e 02 quadras poliesportiva. Foi
reservada uma hora por dia, de segunda a sexta-feira, para o banho de sol.
Os adolescentes realizam 06 refeições ao dia, sendo uma a cada 03 horas. As
mesmas são realizadas dentro do próprio quarto e são fornecidas por uma empresa
terceirizada.
50

A realização do estudo teve como sujeitos da pesquisa os adolescentes que


cumpriam medida socioeducativa de privativa de liberdade no regime definitivo na
citada instituição.

3.2 Apresentação e análise dos dados

Para a realização da visita ao Centro Educativo Lar do Garoto foi necessária a


autorização do Juiz da Vara da Infância, a qual se deu por meio de ofício. Após duas
tentativas frustradas, na data de 18 de maio do corrente ano foi possível a realização
da pesquisa de campo. Antes de iniciar a pesquisa com adolescentes em regime de
internação definitiva, houve um contato com a direção da instituição, onde foram
apresentados os objetivos da pesquisa.
Para a obtenção dos dados da pesquisa, foram realizadas entrevistas
individuais com os internos do sexo masculino. A amostra foi composta por 44 (93,2%)
participantes, dentre os quais 41 eram adolescentes; e 3 (6,8%) eram considerados
adultos.
Com objetivo de obter informações mais abrangentes acerca do o perfil dos
menores infratores que estão cumprindo medida de internação e das possíveis causas
que o levaram a praticar o ato infracional, a coleta de dados se deu por meio de um
questionário fixo contendo 22 perguntas, entre abertas e fechadas, relacionadas a
diversos fatores, como escolares, familiares e socioeconômicos, conforme
demonstrado no Apêndice “A”.
Para resguardar o anonimato e, consequentemente, gerar uma maior sensação
de liberdade na concessão das respostas, não foi exigida dos pesquisados a inclusão
de nome na folha de questionário. As entrevistas foram realizadas da parte externa
dos quartos em que se encontravam os internos, tendo em vista que a sua saída se
dar de forma bastante limitada. As informações coletadas foram registradas em uma
planilha do programa Excel, o que possibilitou a análise descritiva das informações.
O primeiro questionamento está relacionado à idade, bairro em que reside e a
escolaridade do socioeducando, conforme demonstrado na tabela 01.
51

Tabela 1 – Análise dos entrevistados quanto as características


Sociodemográficas
Característica nº Anos %
Idade
Faixa etária predominante 16 a 18
Mínima 14
Máxima 20

Procedência
Campina Grande 32 73,0%
Ouras 12 27,0%

Escolaridade
2º ano do 1º ensino fundamental 1 2,3%
3º ano do 1º ensino fundamental 5 11,4%
4º ano do 1º ensino fundamental 1 2,3%
5º ano do 1º ensino fundamental 2 4,5%
6º ano do 2º ensino fundamental 1 2,3%
7º ano do 2º ensino fundamental 6 13,6%
8º ano do 2º ensino fundamental 6 13,6%
9º ano do 2º ensino fundamental 12 27,3%
1º ano do ensino médio 6 13,6%
2º ano do ensino médio 2 4,5%
3º ano do ensino médio 1 2,3%
Não respondeu 1 2,3%

Repetência
Sim 29 65,9%
Não 2 4,5%
Não responderam 13 29,6%
Fonte: Elaborado pelo autor

De acordo com a tabela 1, a idade dos socioeducandos internados no regime


definitivo varia entre 14 e 20 anos. A faixa etária predominante se deu entre 16 e 18
anos, traduzindo uma fase de interesses individuais, marcada pela inconsequência e
o consumismo desvairado, sendo motivado por uma sociedade capitalista, que para
nela ser inserida faz-se necessário sempre está utilizando grandes marcas e produtos
de última geração, o que pode justificar, em tese, a participação desses adolescentes
na prática de atos infracionais, tendo em vista que, para esse fim, acabam por se
envolver em atividades ilícitas que lhes gerem alguma renda.
52

Soma-se a isso o fato de que adolescentes, nesta faixa, tornam-se alvos fáceis
nas mãos de aliciadores, que através de falsas promessas e ilusões acabam por
convencer esses adolescentes a cometer delitos. Importante frisar que nenhum dos
entrevistados contava com idade entre 12 e 13 anos na data da entrevista, porém não
se pode afirmar que adolescentes nesta faixa de idade não estão propícios a cometer
infrações.
Com base nos dados apresentados, percebe-se que 27% dos socioeducandos
não residem em Campina Grande, mas em diversas cidades como Lagoa Seca,
Monteiro, Araras, São Sebastião, Patos e Recife/PE. Isto pode se dar pelo fato de em
todo Estado da Paraíba só existirem cinco centros educativos de internação definitiva,
os quais estão distribuídos entre as cidades de João Pessoa (3), Sousa (1) e Lagoa
Seca (1).
Por causa desse reduzido número de centros educacionais, muitos dos
adolescentes apreendidos são encaminhamos de suas cidades para o Lar do Garoto,
gerando com isso grandes transtornos para os familiares desses menores, uma vez
que são obrigados a reduzir o número de visitas feitas aos filhos ou parentes por não
possuírem condições financeiras suficiente para arcar com os custos da viajem.
Do total de 44 entrevistados, apenas um deles se omitiu na resposta acerca da
escolaridade. Observou-se que muitos dos adolescentes continuam estudando dentro
da própria instituição. O mais preocupante, contudo, foi constatar o baixo nível de
escolaridade dos socioeducandos, haja vista que, dentre os entrevistados que
responderam a esse questionamento, 20,9% deles sequer concluíram o 5º ano do
fundamental 1, e que apenas 20,9% concluíram o ensino fundamental 2.
Este fato se evidencia mais claramente quando se analisa o índice de
repetência desses adolescentes, pois dentre os 70,5% que responderam a esse
questionamento, apenas 6,6% não repetiram de ano. Isso demonstra o problema da
evasão escolar, que atinge o nível de ensino, não só no município de Campina
Grande, mas em todo o País. Constatou-se nas entrevistas que todos os internos
frequentavam escolas públicas.
Esse quadro pode ser reflexo da soma de diversos fatores sociais como
condições precárias das escolas, violência dentro das escolas públicas, falta de
políticas públicas e, principalmente, a falta de condições financeiras da família, que
53

muitas vezes preferem colocar os filhos, precocemente, no mercado informal de


trabalho a incentivá-los a estudar, pois assim podem auxiliar nas despesas de casa.
Em razão disso, muito dos adolescentes entrevistados responderam que já
trabalhou em funções como engraxate, garçom, vendedor de balas, servente, auxiliar
de mecânico, carroceiro, embalador e reciclador de lixo. São atividades que
demandam quase o tempo integral desses menores, que por consequência acabam
afastando-os das salas de aula e prejudicando no seu desenvolvimento educacional.
Agrega-se a esse fator, o fato de que o sistema público de ensino se apresenta
praticamente falido, gerando nos alunos quase nenhum interesse em continuar
frequentando as salas de aula. Nesse cenário, a participação dos pais na vida escolar
do aluno é de fundamental importância, pois transmite no adolescente uma sensação
de proteção, e que é amado por seus familiares.
A tabela a seguir apresenta os bairros que residem os socieoducandos com
suas famílias.

Tabela 2 - Lista de bairros onde residem os adolescentes em conflito com a lei

Lista de Bairros Qtd. %


Bela Vista 1 2,3%
Catingueira 1 2,3%
Catolé 3 6,8%
Centro 1 2,3%
Cidades 1 2,3%
Distrito industrial 1 2,3%
Ligeiro 1 2,3%
Médici 1 2,3%
Monte Santo 1 2,3%
Velame 1 2,3%
Bodocongó 2 4,5%
Esperança 2 4,5%
Malvinas 2 4,5%
Pedregal 2 4,5%
Santo Antônio 2 4,5%
Jeremias 3 6,8%
Lagoa Seca 3 6,8%
Liberdade 3 6,8%
José Pinheiro 4 9,1%
Outras Comarcas 9 20,5%
Fonte: Elaborado pelo autor
54

De acordo com a tabela acima, não houve grandes variações em relação aos
bairros onde residem os socieoducandos. O bairro que acolhe mais adolescentes em
conflito com a lei é o bairro José Pinheiro, com 9,1% do total de entrevistados. Além
disso, 20,5 % deles não residem na cidade de Campina Grande, pertencendo a
cidades de outras Comarcas.
O questionamento que se fez em seguida se deu em relação ao responsável
familiar, ou seja: “Quem exercia a responsabilidade familiar sobre o socioeducando”.

Tabela 3 - Análise dos entrevistados quanto ao seu responsável familiar

Responsável familiar Qtd. %


Pais 17 38,6%
Mãe 20 45,5%
Pai 2 4,5%
Avós 3 6,8%
Sozinho 2 4,5%
Fonte: Elaborado pelo autor

Verifica-se nas Tabela 2, que 45,5% dos entrevistados têm a mãe como
responsável familiar, e 4,5% têm o pai. Isso pode implicar que metade dos
entrevistados são provenientes de família monoparental, que é aquele modelo de
família formada por um só pai ou chefe de família. Já 38,6% têm como responsável
familiar os pais (pai e mãe), e apenas 2% informaram ele próprio responde pelos seus
atos.
De acordo com os dados da pesquisa, a maioria dos pais adolescentes não
estão inseridos no mercado formal, realizando atividades autônomas, tais como
empregada doméstica, diarista, cabeleireira, catadora de material reciclável,
agricultora, moto-taxista, pedreiro e servente. Assim como os filhos, os pais mal
conseguem concluir o ensino fundamental, fazendo com que os mesmos não tenham
grandes oportunidades no mercado de trabalho.
Com base nas informações apresentadas, pôde-se perceber que os
adolescentes infratores advêm de famílias humildes, muitas vezes de pais separados,
cujas profissões são remuneradas por baixos salários, conforme se apresenta na
tabela seguinte (Tabela 3).
55

Tabela 4 - Análise dos entrevistados quanto aos dados socioeconômicos

Renda Qtd. %
Bolsa família 5 11,4%
Menos de 1 SM 14 31,8%
1 SM 10 22,7%
De 1 a 2 SM 5 11,4%
De 2 a 3 SM 1 2,3%
Acima de 3 SM 0 0,0%
Não responderam ou não souberam informar 9 20,5%
Fonte: Elaborado pelo autor

Conforme dados apresentados na tabela acima, 65,9% do total de


entrevistados responderam que seus pais ou responsáveis obtêm renda de até um
salário mínimo, já incluso nesse índice as famílias beneficiárias do bolsa família do
Governo Federal, que fora criado em 2003 para ajudar financeiramente famílias
pobres. Nesse cenário, fica constatado que a maioria dos internos são provenientes
de classe social de baixa renda, tendo em vista que as famílias sobrevivem com renda
de no máximo 1 salário mínimo. Este índice poderia ter se elevado consideravelmente,
uma vez que 20% do total de entrevistados não responderam ou não souberam
responder ao questionamento.
Esses números apresentados são bastante preocupantes, pois nenhum ser
humano consegue sobreviver e ter uma vida digna possuindo uma renda ínfima, que
mal dar para comprar o mínimo necessário para o sustento familiar, o que revela o
quadro de desigualdades sociais que assola não somente a cidade de Campina
Grande, mas várias regiões do País. Isso é resultado da má distribuição de renda,
onde poucos compartilham de toda a riqueza produzida no Brasil.
É fácil identificar pessoas sobrevivendo sem o mínimo de dignidade. O que
observamos com frequência são crianças em sinais de trânsito trabalhando em busca
de conseguir algum trocado para o sustento de sua família, o que demonstra o grande
problema social pelo qual passamos. Como exigir uma atitude diferente dessas
crianças ao atingirem a adolescência, pois elas são seres humanos, e como tais
carregarão consigo as marcas de sua infância?
Não se pode afirmar que somente os adolescentes provenientes de famílias
humildes cometem atos infracionais, todavia essa condição de vulnerabilidade, aliada
a outros fatores como falta de oportunidades, desestrutura familiar, exclusão social e
56

uso de drogas, podem ser determinante para que eles venham a delinquir e ingressar
para o submundo do crime.
O gráfico 1 apresenta dados estatísticos acerca dos atos infracionais cometidos
pelos socioducandos.

Gráfico 1 - Análise dos entrevistados quanto ao ato infracional cometido

59,09%
Homicídio
Roubo
Não respondeu
Latrocínio

15,91% Tentativa de Homicídio


9,09% Tráfico de drogas
6,82% 6,82%
2,27%

Fonte: Elaborado pelo autor

De acordo com o gráfico acima, pôde-se perceber que o ato infracional de roubo
foi praticado por 59,0% dos entrevistados, seguido do homicídio, com 15,9%. O
latrocínio e a tentativa de homicídio, atos infracionais mais graves que o roupo,
apresentaram índice de 6,82% cada. O tráfico de drogas apresentou o menor índice,
com apenas 2,27% do total de entrevistados. Não responderam ao questionamento
9,09%.
Embora o roubo (crime contra o patrimônio) predomine entre os adolescentes
infratores, é preocupante o alto índice de atos infracionais praticados com violência à
pessoa, como o latrocínio e o homicídio, uma vez que foram registradas 10
ocorrências, além de 3 adolescentes que estavam cumprindo medida socioeducativa
pela prática de estupro, e que se negaram a responder ao questionário, ficando, em
razão disso, fora da estatística apresentada.
A próxima questão está relacionada aos motivos que levaram o adolescente a
desviarem sua conduta e praticar o ato infracional: “o que levou você a cometer o ato
infracional?”.
57

Gráfico 2 - O que levou o adolescente a cometer o ato infracional

27,3% Não respondeu


25,0%
Necessidade financeira
Vingança
Falta de oportunidades
Medo de morrer
11,4%
9,1% Outros Motivos
6,8% 6,8% 6,8% Uso de Drogas

2,3% 2,3% 2,3% Má influência


Vontade de cometer crimes

Fonte: Elaborado pelo autor

Na análise do gráfico 2, pôde-se constatar que a “necessidade financeira” e a


“má influência” foram as principais causas que influenciaram os adolescentes a
cometer o ato infracional, apresentando índice de 27,3% e 25%, respectivamente. Do
total de entrevistados, 6,8% não se manifestaram acerta deste ponto.
O índice que merece atenção se refere aos que praticaram o ato infracional
sem apresentar nenhum motivo específico, mas apenas porque sentiram vontade de
fazê-lo, ficando entres as três maiores causas. Importante destacar que nenhum dos
adolescentes citou que o motivo para a prática do ato infracional havia se dado em
razão da isenção de culpabilidade. Este é um ponto positivo, pois geralmente quando
isso ocorre é pelo fato de que eles são aliciados por adultos a cometerem infrações.
O fato é que os motivos influenciadores para a prática do ato infracional citados
pelos socieoducandos estão diretamente ligados a desigualdades sociais, a entidades
por eles responsáveis, bem como a aspectos individuais como o biológico e a
característica da personalidade. Ninguém nasce bom ou mau. Muitas vezes essas
definições são preestabelecidas e a nós são apresentadas como possibilidades de
escolha de comportamento, em razão das condições que nos foram impostas desde
a infância, cabendo a cada pessoa escolher qual o melhor caminho a seguir.
Dando seguimento à pesquisa, foi questionado junto ao socioeducando se o
ato infracional pelo qual ele estava cumprindo medida socioeducativa teria sido o
primeiro por ele praticada: “essa foi a primeira vez que cometeu ato infracional?”.
58

Gráfico 3 – Análise dos entrevistados quanto ao primeiro ato infracional


praticado

2,3%
Sim
45,5% Não
52,3%
Não respondeu

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

O Gráfico acima demonstra que 45,5% dos entrevistados praticaram ato


infracional pela primeira vez. Já 52,3% deles responderam que são reincidentes na
prática de infrações. O índice de socioeducandos que se omitiu foi de apenas 2,3%.
Com base nos dados apresentados, o índice de reincidência expõe a fragilidade
na aplicação das medidas socioeducativas, bem como no acompanhamento dos
jovens liberados, colocando em cheque a eficácia das citadas medidas, por não
recuperar e nem reintegrar o socioeducando à sociedade, dando a entender que,
apesar de o ECA regular a prática de infrações praticadas por menores, ele, por si só,
parece não ser capaz de inibir a delinquência juvenil.
Ao sair da unidade, o jovem se depara com a realidade fora dos muros da
instituição. A descriminação por parte dos membros da comunidade em que vive, a
falta de oportunidades e, muitas vezes, o desprezo dos familiares não favorecem a
uma mudança de comportamento, longe disso, pois essas atitudes influenciam o
adolescente a aceitar a única opção que lhes é apresenta, ou seja, voltar a praticar
infrações.
Desse modo, uma parcela de culpa pelos problemas da criminalidade infanto-
juvenil também pode ser atribuída à sociedade. Muitas vezes adolescentes são
discriminados em razão de sua vestimenta, de sua cor ou de sua classe social,
principalmente aqueles que residem na periferia. Normalmente são tachados de
drogados e até de pequenos marginais.
Diante do exposto, pode-se afirmar que são necessárias ações preventivas e
de fiscalização por parte do Estado, a fim de evitar que esse índice evolua a cada dia.
Muitas vezes, em vez de implementar políticas públicas para tentar se resolver os
59

diversos problemas sociais em relação ao adolescente, o Estado apenas se utiliza do


ECA como forma de retribuição punitiva pelos atos infracionais por elas praticados,
uma vez que isso gera na sociedade uma sensação de segurança. Esse tipo de atitude
é no mínimo inoportuna, pois gera, também, uma falsa concepção da realidade,
sobretudo à de que o Estado está cumprindo o seu papel perante a sociedade.
No tocante à idade com que o socioeducando cometeu o primeiro ato
infracional, o gráfico a seguir apresenta os seguintes dados:

Gráfico 4 – Análise dos entrevistados quanto a idade que cometeu o primeiro


ato infracional

10 Anos
29,5%
11 Anos
12 Anos
20,5% 20,5%
13 Anos
13,6% 14 Anos
9,1% 15 Anos

2,3% 2,3% 2,3% 16 Anos


0,0% 0,0%
17 Anos

Fonte: Elaborado pelo autor

Verificou-se o primeiro ato infracional tende a ocorrer entre as idades de 15 e


17 anos, totalizando 41% do total de entrevistados. Dentre os que responderam a este
questionamento, a média encontrada foi de 14 anos. Aproximadamente 29,5% dos
entrevistados não responderam com que idade haviam cometido o primeiro ato
infracional.
De acordo com os dados apresentados, os adolescentes iniciam no mundo do
crime muito cedo. Gomide (1990) ressalta que se faz importante observar as diversas
variáveis que levam os jovens a cometerem atos infracionais como, a baixa
escolaridade, desestrutura familiar, baixo nível econômico, a comunidade em que
vive, etc. Outras razões que podem levar o adolescente a praticar infrações está o
desejo de se sentir respeitado na comunidade em que vive, pois diante da exclusão
social, acabam entrando fazendo parte de grupos criminosos que dominam certas
áreas dos bairros em que residem, começando por realizar pequenos crimes até se
perder totalmente pelo caminho.
60

O ponto seguinte tem relação com o uso de substâncias alucinógenas pelo


socioeducando: “você já fez uso de substâncias alucinógenas?”.

Gráfico 5 - Análise dos entrevistados em relação ao uso de substâncias


alucinógenas

9,1%

Não respondeu
Sim
38,6% 52,3%
Não

Fonte: Elaborado pelo autor

No que refere ao uso de drogas, os resultados revelam que, em média, 38,6%


dos adolescentes já haviam experimentado algum tipo de substância alucinógenas,
como álcool, loló, maconha e cocaína. Dentre as drogas apontadas com o as mais
ingeridas estão a maconha, citada por 14 adolescentes; seguida pela cocaína, com 6
citações de uso.
Essas são drogas que afetam profundamente o comportamento do usuário e
que causam dependência, fazendo com que seus usuários busquem todos meios
possíveis ao seu alcance para sustentar o seu vício, se tornando alvos fáceis de
aliciadores que tentam tirar proveito da situação de vulnerabilidade do adolescente
para inseri-los no mundo do crime.
Apenas 9,1% dos entrevistados relataram nunca terem ingerido nenhum tipo
de droga. Um índice significante, aproximadamente 52,3% dos entrevistados, não
quiseram responder ao questionamento. Esse índice apresentado pode se dar pelo
fato de haver resistência do adolescente em revelar que é usuário ou que existe
alguém na família que faz ou já fez uso de alguma substância psicotrópicas.
O fato é que o uso de drogas é um problema que cresce a cada dia, gerando
destruições de lares e influenciando adolescentes à pratica de infrações. Quanto mais
precocemente eles se desvirtuam para o mundo das drogas, maior as chances de
mais cedo se envolverem com prática de infrações, exigindo do Estado uma série de
61

medidas protetivas no combate a esse mal, para assim evitar o cometimento da


infração ou a sua reincidência.
Dando continuidade a coleta de dados, a fim de conhecer o perfil dos
socioeducando em privação de liberdade no Lar do Garoto, foram formuladas diversas
outras perguntas, tais como: existência de parentes que usam drogas; se existe
conflito familiar; como é o relacionamento do adolescente com a família, se existia
área de lazer no bairro onde mora, quem vinha visitá-lo na instituição; qual a sua maior
ocupação dentro da centro socioeducativo; qual o maior problema apontado na
unidade de internação e o projeto pós internação.
A maioria dos entrevistados responderam ter um bom ou ótimo relacionamento
com a família, não existindo conflito familiar e nem parentes na família que faz uso de
bebidas alcoólicas ou drogas. Esse foi um resultado atípico, pois geralmente quando
se realizam pesquisas sobre o mesmo tema, esses fatores apresentam fortes relação
com a delinquência juvenil, o que não ocorreu na presente pesquisa. Esse é um ponto
positivo, uma vez o bom relacionamento entre os familiares é de fundamental
importância para o desenvolvimento saudável de uma pessoa nessa fase da vida.
As regras de condutas muitas vezes são violadas em razão de um desgaste na
relação familiar. Assim a ausência de diálogos, uma má educação e a falta de
imposição de limites pelos pais ou responsáveis podem ser fatores preponderantes
que contribuem na origem do comportamento delinquente juvenil, afinal a maioria de
nossas atitudes são frutos das orientações recebidas e das experiências vivenciadas
ou observadas quando crianças.
Em relação à importância da família no processo de formação da criança e do
adolescente, Trindade (2002 apud SILVA, 2014) assim se posiciona:

O homem é um cidadão de dois mundos, de um lado participa da


natureza, firmada pelo princípio da causalidade, onde o ser acontece, de
outro, vem marcado pela cultura, inscrito na lei, onde radica o dever ser. É
por isso o importantíssimo papel da família, pois é ela quem forma o dever-
ser de uma criança, é ela quem instrui, orienta, ensina valores e mostra o
caminho certo (2002 apud SILVA, 2014, p.19).

Observamos acima, a importância do papel da família no desenvolvimento da


personalidade da criança e do adolescente. O mais preocupante, contudo, é constatar
62

que a influência que os pais exercem sobre os filhos não é o único fator que pode
desencadear a delinquência, haja vista ser este um fenômeno complexo.
Quanto a sua ocupação dentro da unidade, a maioria respondeu que passam
a maior parte do tempo realizando alguma atividade pedagógica e artesanato. Essas
duas atividades alcançaram o índice de 59,1%. A habilidade de fazer artesanato foi
adquirida com os outros adolescentes com mais tempo de internação, os quais foram
repassando o aprendizado com os socioeducandos novatos. Os demais informaram
que passam a maior parte do tempo dormindo, fazendo curso e, algumas vezes,
alguma atividade esportiva. O que mais chamou a atenção foi a responda de um dos
internos, que mencionou gastar o seu tempo lendo a bíblia, o que pode demonstrar
certo arrependimento por sua conduta delitiva.
Em relação ao lazer, foi constatado que 61,3% dos internos dispõe de área de
lazer em seus bairros para a prática de atividades recreativas. A participação em
atividades recreativas pode ocupar o tempo de crianças e adolescentes que passam
a maior parte do dia sem muitas ocupações, evitando que elas se envolvam com
drogas e ocupem a mente com coisas erradas. Mesmo assim, somente o fato isolado
de existirem tais pontos recreativos nos bairros não foi suficiente para afastar esses
adolescentes do mundo do crime. São necessárias outras ações por parte do poder
público em prol das comunidades, principalmente nas áreas mais carentes de
infraestrutura.
Foi questionado acerca do recebimento de visitas de parentes. Conforme dados
obtidos, 84,1% dos entrevistados afirmaram receber visitas de seus familiares, dentre
eles pais, avós, tios e irmãos. Portanto, mesmo diante desse cenário constrangedor,
que é ver o filho privado de sua liberdade em razão de sua conduta desviada, os
parentes não o abandonaram diante da situação vivenciada, evitando, com isso, a
quebra do vínculo familiar com o socioeducando.
Outro ponto questionado se deu em relação aos problemas apontados na
unidade de internação. Dentre os maiores problemas apontados estão a falta de
banheiros na ala de triagem (9,1%), agressões físicas por parte dos agentes (13,6%),
e a falta de tv nos quartos. Do total de entrevistados, 22,7% não apontaram problemas
dentro da unidade. Os que não responderam a este questionamento totalizou índice
igual ao anterior, ou seja, 22,7%. Os demais, responderam que vários eram os
problemas, mas não quiseram especificá-los.
63

Chama a atenção o índice dos que relataram sofrer agressões dos agentes.
Fato este que necessita de maior atenção e apuração dos fatos por parte da direção
da unidade
No último questionamento, foi indagado acerca dos projetos de vida após a
internação. As respostas apresentadas foram sempre as mesmas, quais sejam
trabalhar, estudar e cuidar da família. Isso pode implicar o desejo que os
socioeducandos têm em ser inseridos na sociedade e poder construir um projeto de
vida que possa transformar a sua vida a partir da conquista da liberdade. Para tanto,
faz-se necessário que a eles sejam apresentadas oportunidades. A sociedade é
marcada pelas desigualdades sociais e desrespeito às diferenças, o que já torna uma
tarefa árdua par os que estão na busca por melhores condições de vida perante a
comunidade.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise dos atos


infracionais praticados por adolescentes em conflito com a lei. Procuramos entender
o procedimento de execução das medidas socioeducativas, com ênfase no regime de
internação definitiva. Em seguida, analisamos o perfil dos adolescentes em
cumprimento de medida socioeducativa de internação no Centro Educacional Lar do
Garoto, na cidade de Lagoa seca, buscando compreender os fatores que os
influenciaram a praticar os atos infracionais pelos quais estão cumprindo a referida
medida.
De modo geral, as causas relatadas pelos adolescentes internos estão
relacionadas a desigualdades sociais existentes nesta região, do mesmo modo como
ocorre na maioria das regiões do País. Aliado a isso, há também a questão da
ausência de políticas sociais direcionadas a juventude.
Vivemos numa sociedade capitalista que incentiva a todo tempo o consumo,
porém a maiorias desses adolescentes são oriundos de famílias humildes, que dispõe
de poucos recursos financeiros, cujas ocupações de seus responsáveis são em
trabalhos informais e não especializados, o que torna o acesso a bens materiais
limitado ou quase inexistente. Esse fator econômico pode ser determinante para que
o adolescente venha a cometer infração.
64

A pesquisa revelou que a política de atendimento ao adolescente em conflito


com a lei no período pós-internação é algo que precisa ser revista. Há a necessidade
de se criar instrumentos eficazes com a finalidade de reintegrá-los à sociedade,
evitando, com isso, o aumento no índice de reincidência. A falta de oportunidades e o
preconceito social são verdadeiros obstáculos na ressocialização dos adolescentes
em conflito com a lei, pois ao saírem da unidade de internação são totalmente
excluídos do meio social, sem nenhuma proteção estatal, vivendo à margem da
sociedade em situações extremamente precárias.
Vivemos numa sociedade preconceituosa, o que dificulta a reinserção do
adolescente infrator no mercado de trabalho e na comunidade. Mesmo assim, os
adolescentes entrevistados demonstraram em suas respostas que os seus objetivos
e anseios são comuns, quando ao término de cumprimento da medida, os quais estão
relacionados o estudo, o trabalho e o cuidar de seus familiares.
Diante disso, torna-se necessário a realização do desenvolvimento de projetos
voltados para a integração desses adolescentes ao convívio social, e que atendam
aos seus projetos de vida. Apesar da evolução na legislação brasileira direcionada a
infância e juventude, ainda há muitos desafios a serem enfrentados até que tenhamos
uma redução no índice de criminalidade infanto-juvenil.
Desse modo, para traçar as causas e o perfil dos adolescentes que se inserem
na criminalidade foi preciso, além da entrevista, uma análise conjunta dos fatores
políticos, sociais e econômicos.
Por fim, é importante considerar que não é apenas com punição que se resolve
o problema da delinquência juvenil, mas sim com políticas públicas voltada à
educação, emprego, saúde, cultura e lazer, pois isso fará com que nossas crianças e
adolescentes vislumbrem um futuro além do crime.
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APÊNDICE

APÊNDICE A - PESQUISA DE CAMPO PARA VERIFICAR AS CAUSAS DOS


PRATICA DO ATO INFRACIONAL E O PERFIL DOS SOCIEDUCANTOS EM
CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO NO LAR DO
GAROTO

1. Qual a sua idade?


2. Qual o bairro onde você reside com a sua família?
3. Quem exerce a responsabilidade familiar sobre você? ( ) Pais ( ) Pai ( ) Mãe ( )
Avós ( ) Outros:
4. Qual o trabalho de seus pais ou responsável?
5. Qual a renda familiar?
( ) menos de 1 salário mínimo ( ) 1 salário mínimo ( ) 1 a 2 salários mínimos (
( ) 2 a 3 salários mínimos ( ) acima de 3 salários mínimos.
6. Alguém de sua família faz uso de bebida alcoólica com frequência ou drogas? ( ) não
( ) sim Quem? Que tipo?
7. Existe alguém em sua família que tenha se envolvido com a polícia ou com o
cometimento de delitos? ( ) não ( ) sim Quem?
8. Há existência de conflitos entre você e algum dos seus familiares?
9. Como é o relacionamento com seus familiares?
( ) ótimo ( ) bom ( ) ruim ( ) péssimo
10. Você já trabalhou? ( ) não ( ) sim Em que?
11. Você estudou/estuda até que série?
( ) 2º Ano do 1º Ensino Fundamental ( ) 3º Ano do 1º Ensino Fundamental
( ) 4º Ano do 1º Ensino Fundamental ( ) 5º Ano do 1º Ensino Fundamental
( ) 6º Ano do 2º Ensino Fundamental ( ) 7º Ano do 2º Ensino Fundamental
( ) 8º Ano do 2º Ensino Fundamental ( ) 9º Ano do 2º Ensino Fundamental
( ) 1ª Ano do Ensino Médio
12. Você já repetiu de ano alguma vez?
13. A escola que você frequentava/frequenta era: ( ) pública ( ) particular
14. No seu bairro existem áreas de lazer? ( ) não ( ) sim
15. Qual o ato infracional que você cometeu?
16. Esse foi a primeira vez que você cometeu um ato infracional? ( ) não ( ) sim Com
que idade?
17. O que levou você a cometer o ato infracional?
18. Quem vem te visitar na instituição? Com que periodicidade?
19. Você já fez uso de substâncias alucinógenas? ( ) sim ( ) não Qual?
20. Qual a sua maior ocupação dentro da instituição?
21. Qual o maior problema que você aponta na unidade de internação?
22. Qual o projeto para o período após a internação?
APÊNDICE B – TABULAÇÃO DE DADOS DA PESQUISA DE CAMPO

PERFIL DO ENTREVISTADO
SEXO QUANTIDADE DE RESPOSTAS
OBTIDAS
FEMININO 00
MASCULINO 44
IDADE QUANTIDADE DE RESPOSTAS
OBTIDAS
14 ANOS 01
15 ANOS 03
16 ANOS 12
17 ANOS 14
18 ANOS 11
ACIMA DE 18 ANOS 03
QUAL O BAIRRO ONDE VOCÊ QUANTIDADE DE RESPOSTAS
RESIDE COM SUA FAMÍLIA? OBTIDAS
BELA VISTA 01
CATINGUEIRA 01
CENTRO 01
CIDADES 01
DISTRITO INDUSTRIAL 01
LIGEIRO 01
MÉDICE 01
MONTE SANTO 01
VELAME 01
BODOCONGO 02
ESPERANÇA 02
MALVINAS 02
PEDREGAL 02
SANTO ANTONIO 02
CATOLÉ 03
JEREMIAS 03
LAGOA SECA 03
LIBERDADE 03
JOSÉ PINHEIRO 04
OUTRAS COMARCAS 09
VISÃO DO ENTREVISTADO
QUEM EXERCE A QUANTIDADE DE RESPOSTAS
RESPONSABILIDADE FAMILIAR OBTIDAS
SOBRE VOCÊ?
AVÓS 03
PAI 02
MÃE 20
PAIS 17
OUTROS 02
QUAL O TRABALHO DOS SEUS PAIS QUANTIDADE DE RESPOSTAS
OU RESPONSÁVEL? OBTIDAS
AGRICULTOR 01
CABELEIREIRA 01
EMPREGADA DOMÉSTICA 09
RECICLAGEM 01
SERVENTE 02
TAXISTA 01
MOTO TAXISTA 02
PEDREIRO 04
NÃO TRABALHAM 06
NÃO RESPONDERAM 06
OUTRAS PROFISSÕES 09
QUAL A RENDA FAMILIAR? QUANTIDADE DE RESPOSTAS
OBTIDAS
BOLSA FAMÍLIA 05
MENOS DE 1 SAL. MÍNIMO 14
1 SAL. MÍNIMO 10
DE 1 A 2 SAL. MÍNIMO 05
DE 2 A 3 SAL. MÍNIMO 01
ACIMA DE 3 SAL. MÍNIMO 0
NÃO RESPONDERAM OU NÃO 09
SOUBERAM INFORMAR
ALGUÉM DE SUA FAMÍLIA FAZ USO QUANTIDADE DE RESPOSTAS
DE BEBIDA ALCÓOLICA COM OBTIDAS
FREQUÊNCIA OU DROGAS?
SIM 14
NÃO 29
NÃO RESPONDEU 01
EXISTE ALGUÉM EM SUA FAMÍLIA QUANTIDADE DE RESPOSTAS
QUE TENHA SE ENVOLVIDO COM A OBTIDAS
POLÍCIA OU COM COMETIMENTO DE
DELITOS?
SIM 13
NÃO 30
NÃO RESPONDEU 01
HÁ EXISTÊNCIA DE CONFLITOS QUANTIDADE DE RESPOSTAS
ENTRE VOCÊ E ALGUNS DE SEUS OBTIDAS
FAMILIARES?
SIM 02
NÃO 26
NÃO RESPONDERAM 16
VOCÊ JÁ TRABALHOU? QUANTIDADE DE RESPOSTAS
OBTIDAS
SIM 37
NÃO 06
NÃO RESPONDEU 01
COMO É O RELACIONAMENTO COM QUANTIDADE DE RESPOSTAS
SEUS FAMILIARES? OBTIDAS
36
ÓTIMO 33
BOM 09
RUIM 02
PÉSSIMO 00
VOCÊ ESTUDOU/ESTUDA ATÉ QUE QUANTIDADE DE RESPOSTAS
SÉRIE? OBTIDAS
2º ANO DO 1º ENSINO 01
FUNDAMENTAL
3º ANO DO 1º ENSINO 05
FUNDAMENTAL
4º ANO DO 1º ENSINO 01
FUNDAMENTAL
5º ANO DO 1º ENSINO 02
FUNDAMENTAL
6º ANO DO 2º ENSINO 01
FUNDAMENTAL
7º ANO DO 2º ENSINO 06
FUNDAMENTAL
8º ANO DO 2º ENSINO 06
FUNDAMENTAL
9º ANO DO 2º ENSINO 12
FUNDAMENTAL
1º ANO DO ENSINO MÉDIO 06
2º ANO DO ENSINO MÉDIO 02
3º ANO DO ENSINO MÉDIO 01
NÃO RESPONDEU 01
VOCÊ JÁ REPETIU DE ANO ALGUMA QUANTIDADE DE RESPOSTAS
VEZ? OBTIDAS
SIM 29
NÃO 02
NÃO RESPONDERAM 13
A ESCOLA QUE VOCÊ QUANTIDADE DE RESPOSTAS
FREQUENTAVA/FREQUENTA ERA OBTIDAS
PUBLICA OU PRIVADA?
PÚBLICA 44
PRIVADA 00
NO BAIRRO EM QUE MORA EXISTEM QUANTIDADE DE RESPOSTAS
ÁREAS DE LAZER? OBTIDAS
SIM 27
NÃO 15
NÃO RESPONDERAM 02
QUAL O ATO INFRACIONAL QUE QUANTIDADE DE RESPOSTAS
VOCÊ COMETEU? OBTIDAS
HOMICÍDIO 07
ROUBO 26
LATROCÍNIO 03
TENTATIVA DE HOMICÍDIO 03
TRÁFICO DE DROGAS 01
NÃO RESPONDERAM 04
ESSA FOI A PRIMEIRA VEZ QUE QUANTIDADE DE RESPOSTAS
VOCÊ COMETEU ATO OBTIDAS
INFRACIONAL?
SIM 20
NÃO 23
NÃO RESPONDEU 01
O QUE LEVOU VOCÊ A COMETER O QUANTIDADE DE RESPOSTAS
ATO INFRACIONAL? OBTIDAS
NECESSIDADE FINANCIERA 11
VINGANÇA 01
FALTA DE OPORTUNIDADES 03
MEDO DE MORRER 01
USO DE DROGAS 03
MÁ INFLUÊNCIA 12
VONTADE DE COMETER 05
OUTROS MOTIVOS 04
ÓDIO 01
NÃO RESPONDERAM 03
QUEM VEM VISITÁ-LO NA QUANTIDADE DE RESPOSTAS
INSTITUIÇÃO? OBTIDAS
PAI 01
MÃE 20
PAIS 09
TIOS 02
AVÓS 04
NÃO RECEBEM VISITAS 01
NÃO RESPONDERAM 07
VOCÊ JÁ FEZ USO DE ALGUMA QUANTIDADE DE RESPOSTAS
SUBSTANCIA ALUCINÓGENA? OBTIDAS
SIM 17
NÃO 04
NÃO RESPONDERAM 23
QUAL A SUA MAIOR OCUPAÇÃO QUANTIDADE DE RESPOSTAS
DENTRO DA INSTITUIÇÃO? OBTIDAS
ARTESANATO 21
CURSO E ARTESANATO 06
ESTUDANDO 04
CURSO E ESPORTE 01
NENHUMA OCUPAÇÃO 03
NÃO RESPONDERAM 06
DORMINDO 02
LENDO A BÍBLIA E ARTESANATO 01
QUAL O MAIOR PROBLEMA QUE QUANTIDADE DE RESPOSTAS
VOCÊ APONTA DENTRO DA OBTIDAS
UNIDADE DE INTERNAÇÃO?
AGRESSÕES FÍSICAS 06
FALTA DE BANHEIRO NOS 04
QUARTOS
FALTA DE TV NOS QUARTOS 06
NÃO HÁ PROBLEMAS 10
OUTROS 08
NÃO RESPONDERAM 10
QUAL O SEU PROJETO PARA O QUANTIDADE DE RESPOSTAS
PERÍODO APÓS A INTERNAÇÃO? OBTIDAS
ESTUDAR 06
TRABALHAR 11
ESTUDAR E TRABALHAR 09
NÃO TEM PROJETO DE VIDA 01
OUTROS 08
NÃO RESPONDERAM 09

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