EDUCADOR

Editorial
ISSN 1984-8668
Ano XXIV – Nº 93

EDUCADOR é uma revista destinada a

educadores religiosos, professores de EBD,
estudantes e líderes em geral
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Colaboradores desta edição
Israel Belo de Azevedo, RJ
Izia Barbosa Brito de Araújo, PE
Jabes Nogueira Filho – PE
Lécio Dornas – USA
Madalena de Oliveira Molochenco – SP
Marília Gomes Lengruber Morais – SP
Marjorie Esquina Navarro – BA
Oswaldo Luiz Gomes Jacob – RJ
Rosangela Conceição de Souza – RJ
Vânia Thomaz Lacerda Costa – MG
A igreja é agência do reino
de Cristo
O compromisso mais desafiador que a igreja tem diante de si, como
agência do reino de Deus, está na formação do cristão como um verda-
deiro discípulo de Jesus Cristo (Mt 28.18-20). Para alcançar este grande
objetivo, ela só terá pleno êxito se investir tudo o que pode na prática
do ensino bíblico. Tal investimento deve ser feito com muito amor e
dedicação na formação daqueles que estão caminhando na construção
do reino de Deus (Rm 12.7). A formação da consciência missionária
de um indivíduo ou de uma comunidade passa, necessariamente pelo
processo da educação. Nos primeiros e mais conhecidos objetivos da
Escola Bíblica Dominical, está declarada a necessidade da formação
missionária da igreja: ganhar almas para Jesus, formar o caráter cristão e
treinar obreiros para o serviço do Senhor Jesus.
Além destes conhecidos objetivos, a EBD quando bem estruturada
deve se propor sempre à seguinte missão: evangelizar durante sua rea-
lização e fora dela; integrar os novos decididos na igreja; promover o
ensino sólido da Palavra de Deus a pessoas de todas as idades; dinami-
zar a solidariedade, a comunhão e cooperação; estimular o surgimento
de novos líderes na igreja; despertar o espírito e a ação missionária;
colaborar com a formação dos valores morais, éticos e espirituais que
proporcionam o equilíbrio da família; tornar os professores e alunos
mais piedosos.
Como agência educadora que é neste mundo, a missão da igreja de
Jesus Cristo continua sendo a de ensinar o conteúdo da fé às presentes
e futuras gerações. Enquanto comunidade reunida, ela aprende sobre
Deus e como desenvolver sua missão nesta sociedade pluralista e per-
meada por conflitos e violência. A despeito das previsões mais pessimis-
tas, a EBD como a principal coluna pedagógica da igreja se mantém viva
imprimindo sua marca através dos tempos, preservando a memória e
os sonhos daqueles que, atendendo ao chamado de Deus, se preparam
para ensinar e fazer discípulos.
O Pr. Jabes Nogueira Filho, em seu artigo “Obediência voluntária”,
diz que pela liberdade que vem da graça somos livres para fazer qual-
quer escolha.
No artigo “A pessoa do educador cristão”, a Profa Madalena de Oli-
veira Molochenco afirma que, mais do que nunca, o educador cristão
deveria estar atento à religação dos saberes.
O Pr. Oswaldo Luiz Gomes Jacob, em seu artigo “Cristo antes do
cristianismo institucionalizado”, diz que o cristianismo preconizado
pelo Mestre é o do relacionamento que traz crescimento mútuo, trans-
formação do homem, culminando com a glória de Deus Pai.
1
ÍNDICE Educação Geral
1 Expediente e Editorial
A igreja é agência do reino de Cristo
Jane Esther Monteiro de Souza de Paula Rosa, RJ

2 Índice

3 Educação Geral
Seu filho tem dificuldade para aprender?
Marília Gomes Lengruber Morais, SP
Educação Geral

10 Resenha
Simplesmente cristão
Vânia Thomaz Lacerda Costa, MG

11 Educação Teológica
Cristo antes do cristianismo institucionalizado
Oswaldo Luiz Gomes Jacob, RJ

13 Educação Teológica
Obediência voluntária
Jabes Nogueira Filho, SE Educação Teológica

16 Educação Cristã
A pessoa do educador cristão
Madalena de Oliveira Molochenco, SP

19 Educação Cristã
Gestionar a EBD com eficiência
Izia Barbosa Brito de Araújo, PE

23 Educador em Destaque
Educação Cristã

Seu filho tem dificuldade

Rosângela Conceição de Souza, RJ

24 Da Mesa da Redação
Espaço do Leitor

25 Para Pensar
Como será o futuro?
Marjorie Esquina Navarro, BA
para aprender?
Como identificar e tratar problemas de aprendizagem
26 Vale a pena LER de novo Vale a pena LER de novo
O que acontece quando a igreja dorme
Lécio Dornas, USA
Introdução a um distúrbio – pode ser gerado Crianças com dificuldades
por uma série de problemas cogni- de aprendizagem
31 Sugestão de Livros O termo dificuldade de aprendi-
tivos ou emocionais – que pode afe- geralmente apresentam
1. A igreja autêntica – Autor: John Stott zagem (DA) começou a ser usado na
2. Ensinando para transformar vidas – Autor: Howard Hendricks década de 60 e até hoje – na maioria tar qualquer área do desempenho desmotivação e
3. Irmãos, nós não somos profissionais – Autor: John Piper das vezes – é confundido por pais e escolar. incômodo com as tarefas
professores como uma simples de- Na maioria dos casos o professor, escolares gerados
32 Última Palavra satenção em sala de aula ou “espírito o primeiro a identificar que a criança por um sentimento de
Educação ninguém nos rouba bagunceiro” das crianças. Mas a difi- está com alguma dificuldade, os pais incapacidade, que
Israel Belo de Azevedo, RJ Última Palavra culdade de aprendizagem refere-se leva à frustração
e demais membros da família devem
2 3

ficar atentos ao desenvolvimento e
ao comportamento da criança.
Segundo especialistas, as crianças
com dificuldades de aprendizagem
podem apresentar desde cedo um
maior atraso no desenvolvimento da
fala e dos movimentos do que o con-
siderado “normal”.
Os pais têm que ter cuidado para
não confundir o desenvolvimento nor-
mal com a dificuldade de aprender.
Toda criança tem um processo dife-
rente de desenvolvimento – umas
aprendem a andar mais cedo, outras
falam mais cedo – e isso é absolu-
tamente normal, não existe um “pa-
drão” de desenvolvimento. Portanto,
é importante que os pais respeitem
o desenvolvimento geral da criança.
Crianças com dificuldades de apren-
dizagem geralmente apresentam des-
motivação e incômodo com as tare-
fas escolares gerados por um senti-
4 5
mento de incapacidade, que le-va à
frustração.
Neste caso, os pais e professores
devem valorizar o que a criança faz
para fortalecer sua autoestima. Mos-
trar para a criança o quanto ela e boa
em tarefas na qual tem habilidade e
incentivá-la a desenvolver outras ta-
refas nas quais ela não é tão boa é
fundamental.
Os pais têm que dar segurança e
atenção para ensinar a criança a acei-
tar as frustrações. Criar um ambiente
adequado para que ela desenvolva o
estudo e estabelecer limite de horá-
rios para a realização das tarefas são
dicas importantes.
Mas não se deve confundir difi-
culdade de aprendizagem com falta
de vontade de realizar as tarefas.
Problemas de aprendizagem podem
ser causados por uma simples prefe-
rência por determinadas disciplinas
ou assuntos. Nesses casos, um pro-
fessor particular pode, muitas vezes,
resolver o problema.
Se os pais acreditam que seu filho
apresenta dificuldades de aprendiza-
gem, devem procurar um profissio-
nal para receber as orientações.
Os problemas de
aprendizagem atingem
a uma de cada dez
crianças em idade escolar
Nesse caso, os psicólogos, com es-
pecializações em clínica infantil, são
os profissionais adequados para rea-
lizar avaliações e tratar da criança,
se o problema for gerado por fator
emocional. Caso o diagnóstico da
criança for dificuldade cognitiva, a
criança deve ser encaminhada para
um psicopedagogo que poderá aju-
dar no desenvolvimento dos proces- Mas o que é As causas psicológicas
sos de aprendizagem. dificuldade de podem estar relacionadas
Para obter resultados concretos aprendizagem? a um trauma emocional
é preciso ser feito um trabalho em sofrido ou vivenciado pela
conjunto com pais, psicólogos, esco- Basicamente essas dificuldades são
apresentadas em função de uma si- criança, podem também
las e professores, que deverão estar estar relacionadas a
envolvidos com um único objetivo: tuação orgânica ou psicológica que
envolve a memorização, o armaze- não existência de um
ajudar a criança. E é imprescindível
namento de informação por parte da vínculo afetivo com seus
que os pais conheçam seus filhos e
conversem frequentemente com eles criança e, muitas vezes, a sua con- educadores
para que possam detectar quando centração.
algo não vai bem. Entendemos por situação orgâni- Como detectar
Os problemas de aprendizagem ca ou impedimento orgânico aque- problemas de
atingem a uma de cada dez crianças las dificuldades cujas causas advêm aprendizagem nas
em idade escolar. em função de déficits, dificuldades, crianças
Podem ser detectados em crian- até quadros de baixa auditiva e vi-
sual. Por outro lado, as causas psico- A criança com problemas especí-
ças a partir dos 5 anos de idade e
lógicas podem estar relacionadas a ficos de aprendizagem tem padrões
constituem uma grande preocupa-
um trauma emocional sofrido ou vi- pouco usuais em perceber as coisas
ção para muitos pais, já que afetam
o rendimento escolar e as relações venciado pela criança, podem tam- no ambiente externo. Seus padrões
interpessoais dos seus filhos. bém estar relacionadas a não exis- neurológicos são diferentes das ou-
tência de um vínculo afetivo com tras crianças da mesma idade. No
Uma criança, com problemas de seus educadores. Até mesmo difi- entanto, têm em comum algum tipo
aprendizagem, pode ter um nível culdades provenientes de técnicas, de fracasso na escola ou em sua co-
normal de inteligência, de acuidade métodos e ações educacionais ina- munidade.
visual e auditiva. É uma criança que dequados, que dificultem alguns co-
se esforça em seguir as instruções, em nhecimentos. Sem eles, não é pos-
concentrar-se e portar-se bem em sível acompanhar as atividades e o Sinais mais
sua casa e na escola. Sua dificuldade conteúdo escolar, pois a sequência
está em captar, processar e dominar frequentes
didática já se perdeu e, sozinhos,
as tarefas e informações, e a desen- estes alunos não conseguem fazer o Não é nada difícil detectar quan-
volvê-las posteriormente. A criança resgate e o acompanhamento destes do uma criança está tendo problemas
com esse problema não pode fazer para processar as informações e a for-
saberes.
o que outros com o mesmo nível de
inteligência podem conseguir.
Imagine a surpresa dos pais quan-
do são chamados na escola e infor-
mados que seu filho apresenta “pro-
blemas de aprendizagem”, ou que
não está conseguindo acompanhar a
turma. Essa informação pode alterar
a dinâmica familiar, gerando preocu-
pação e insegurança a respeito do
futuro dessa criança.
Essas dificuldades são encontra-
das em aproximadamente 15% da
população escolar. São crianças que
não conseguem aprender da mesma
forma que outras, apesar de possuí-
rem uma inteligência normal. Elas
têm um perfil cognitivo diferente,
um estilo diferente de aprender, mas,
nem por isso , são menos criativas e
capazes que as demais.
mação que recebe. Os pais devem
estar atentos e conscientes dos sinais
mais frequentes que indicam a pre-
sença de um problema de aprendi-
zagem, quando a criança:  além de observar os alunos em sala
33 Apresenta dificuldade para enten-
der e seguir tarefas e instruções;
33 Apresenta dificuldade para relem-
brar o que alguém acaba de dizer;
33 Não domina as destrezas básicas
de leitura, soletração, escrita ou ma-
temática, pelo que fracassa no traba-
lho escolar;
33 Apresenta dificuldade para distin-
guir entre a direita e a esquerda, para
identificar palavras etc. Sua tendên-
cia é escrever as letras, palavras ou
números ao contrário;
33 Falta-lhe coordenação ao cami-
nhar, fazer esportes ou completar
atividades simples, tais como apon-
tar um lápis ou amarrar o cordão do
sapato;
33 Apresenta facilidade para perder
ou extraviar seu material escolar,
como os livros e outros artigos;
33 Tem dificuldade para entender o
conceito de tempo, confundindo o
“ontem”, com o “hoje” ou “amanhã”;
33 Manifesta irritação ou excitação
com facilidade.
Confira algumas características que
poderão ser observadas em crianças
com dificuldades de aprendizagem:
Em relação ao aspecto cogniti-
vo:
33 Dificuldade em aprender cores;
33 Dificuldade nos trabalhos de coor-
denação (cobrir pontinhos, pintar
etc.);
33 Dificuldade durante o processo de
alfabetização (falha na identificação
das letras e seus sons);
33 Dificuldade para memorizar da-
tas, dias da semana, meses do ano,
número de telefones;
33 Dificuldade para decorar tabua-
das, fórmulas e músicas;
6 7
33 Dificuldade para reconhecer rit-
mos diferentes;
33 Pouca objetividade na resolução
de problemas simples;
33 Dispersão e desatenção;
33 Trocas de letras;
33 Dificuldade para generalizar as
aprendizagens;
33 Desorganização com o material
escolar;
33 Lentidão para realizar os deveres
de casa.
Em relação ao aspecto emocio-
nal/comportamental:
33 Baixa autoestima;
33 Elevado nível de ansiedade;
33 Não se percebe como capaz de a-
prender, sempre solicita ajuda do
professor ou da família;
33 Desvaloriza-se e desvaloriza suas
produções;
33 Não tem persistência nem autonomia;
33 Frustra-se com facilidade;
33 É uma criança inquieta, costuma
perturbar a classe;
33 Tende ao isolamento, não tem a
sensação de pertencer a um grupo;
33 Possui pouca competência social,
com um atraso de 2 a 4 anos em rela-
ção aos seus colegas.
Para tratarmos a dificuldade de
aprendizagem é imprescindível a ob-
servação dos pais. Ao menor sinal
das características acima, ou se você
tem dúvida de algum comportamen-
to ou dificuldade escolar de seu filho,
procure uma avaliação fonoaudio-
lógica. Ou, se tiver acesso, até uma
equipe multidisciplinar composta por
Para tratarmos
a dificuldade de
aprendizagem é
imprescindível a
observação dos pais
fonoaudiólogo, psicopedagogo, psi-
cólogo e, por vezes, até um neuro-
pediatra. Não esquecendo do papel
importantíssimo do professor que,
de aula, também pode auxiliar no
processo de aprendizagem, tornan-
do a aula mais motivada e dinâmica,
não rotulando o aluno, mas dando a
oportunidade de descobrir o seu po-
tencial.
Como os pais e
os professores
podem melhorar
o rendimento da
criança na escola
O âmbito em que as crianças
com dificuldades de aprendizagem
podem ter mais dificuldades é o es-
colar, já que é quando se percebem
mais as suas complicações ao ler,
escrever ou calcular. Muitas vezes o
fato de não avançarem como os seus
companheiros pode ocasionar nes-
tas crianças ainda mais frustração e
nervosismo, aumentando sua insegu-
rança.
Quando isso acontece, é fácil os
pais perceberem que a criança se sempre seguindo as orientações do que cumprirem uma tarefa. Deve-se ma de ajudá-las é ler com elas uma
frustra com mais facilidade, se irrita e professor. Por isso, é decisivo que levar em conta que as tarefas que meia hora por dia. Primeiro a criança
fica triste e nervosa diante das tarefas ambas as partes trabalhem de forma pedirem à criança devem ser aces- deve ler em voz alta, logo ler em si-
como ler, escrever ou realizar algum conjunta pelo bem-estar da criança, síveis para ela e sempre em seu be- lêncio e, por último, voltar a ler em
problema matemático e, muitas ve-
compartilhando em todo o momen- nefício. Com isso, assegura-se que a voz alta. Os pais devem estar com
zes, não quer ir a aulas de reforço.
to sua evolução tanto em casa como criança possa realizar o que se pede, ela em todo o momento para tran-
Diante dessa situação, muitos pais
na escola. Levando isso em conta, as evitando que se frustre. Ela mesma quilizá-la e ajudá-la se errar alguma
sentem a necessidade de ajudar seus vai perceber como melhora e ga-
dicas que estamos apresentando es- palavra, e uma vez que a leitura fina-
filhos de alguma forma, mas a grande nhar confiança no que faz dia após
tão focadas em ajudar as crianças a lize é importante perguntar à criança
maioria não sabe por onde começar.
se organizarem, como é o caso dessa dia. Para isso, é muito importante para assegurar que ela compreendeu
atividade: que as recompensas sejam coisas do a história, por exemplo: “Como se
agrado da criança e que não possa chama o protagonista?” “Onde ele
Como ajudar Uma das atividades é buscar
ter sempre, por exemplo, de brincar foi?”, “O que aconteceu na história?”
a criança com motivar a criança com tarefas diárias
com o tablet durante 30 minutos. “Quantas pessoas participaram da
dificuldade de concretas, além de ser uma boa for-
ma de estabelecer uma rotina para Além dessa dica, se você quiser história?”
aprendizagem nas
ela. Para realizar esta atividade, os reforçar especificamente as capaci- Para os pais que têm crianças
tarefas da escola pais devem marcar quatro tarefas dades afetadas por algum transtorno com dificuldades na hora de escrever:
de aprendizagem, outras atividades
É importante relembrar que os que possam ser complicadas para o como aquelas crianças que têm pro-
para ajudar as crianças com tais di-
pais devem apoiar seus filhos nas ta- seu filho, por exemplo, meia hora de blemas de disgrafia, uma boa opção
refas da escola com o objetivo de ani- leitura em voz alta ou a realização ficuldade: é escrever um conto ou uma história
má-los a superar suas dificuldades, de três atividades matemáticas e ofe- Para as crianças com dislexia ou ou, inclusive, uma carta para algum
não resolver os assuntos para eles e
recer um prêmio para eles cada vez dificuldades na leitura: uma boa for- amigo ou familiar, com as crianças.
Escola, família e
sociedade são responsáveis
não só pela transmissão
de conhecimentos,
valores, cultura, mas
também pela formação da
personalidade social dos
indivíduos
A ideia é redigir com a criança um
pequeno parágrafo por dia, o que vai
ajudar a criança a melhorar e ainda
vai passar bons momentos com os
pais.
Quando se trata de problemas
de cálculo: é recomendável levar a
criança às compras, por exemplo, e
fazer a conta do que está compran-
do. É uma boa ideia propor como
um jogo em que se compete com os
pais para motivar ainda mais a crian-
ça, e dar a ela alguma recompensa
quando ganhar. 
Sobre o
encaminhamento
ao Psicopedagogo
Muito discutida e ainda não to-
talmente resolvida é a questão do
encaminhamento de crianças com
problemas escolares a profissionais
especializados em dificuldades de
aprendizagem – os psicopedagogos.
Quer por haver diferentes profissio-
nais com múltiplas especialidades,
quer pela dificuldade da escola em
avaliar a quem encaminhar cada caso,
o que se vê é que existe certa dúvida
nessas conduções, que em nada be-
neficia a criança e a sua família.
Apesar de toda controvérsia quan-
do o assunto se refere às dificul­dades
de aprendizagem de nossas crianças,
a prática nos aponta para dois fatos
inegáveis: esses problemas devem-se
a diferentes fatores isolados ou as-
sociados entre si, e somente a ava-
liação e a intervenção precoce das
dificuldades podem levar ao sucesso
na aprendizagem escolar. O papel
8 9
da escola nesse e em muitos outros
sentidos na vida das crianças, ultra-
passa o âmbito pessoal e se reflete
no crescimento da sociedade como
um todo.
Escola, família e sociedade são
responsáveis não só pela transmissão
de conhecimentos, valores, cultura,
mas também pela formação da per-
sonalidade social dos indivíduos.
Escola, família e sociedade são
responsáveis não só pela transmissão
de conhecimentos, valores, cultura,
mas também pela formação da per-
sonalidade social dos indivíduos.
As dificuldades de aprendizagem
que se apresentam na infância têm
sempre forte impacto sobre a vida da
criança, de sua família e sobre o seu
entorno, pelos prejuízos que acarre-
tam em todas as áreas do desenvol-
vimento pessoal, assim como de sua
aceitação e participação social.
A aprendizagem é um processo
que se realiza no interior do indivíduo
e se manifesta por uma mudança de
comportamento relativamente per-
manente.
A dificuldade de aprendizagem
é compreendida como uma forma
peculiar e complexa de comporta-
mentos que não se deve necessaria-
mente a fatores orgânicos e que são,
por isso, mais facilmente removíveis.
Ela ocorre em razão da presença
de situações negativas de interação
social. Caracteriza-se fundamental-
mente pela presença de dificuldades
no aprender, maiores do que as na-
turalmente esperadas para a maio-
ria das crianças e por seus pares de
turma e é, em boa parte das vezes,
resistente ao esforço pessoal e ao de
seus professores, gerando um apro-
veitamento pedagógico insuficiente
e autoestima negativa.
Essa dificuldade é relacionada a
questões psicopedagógicas e socio-
culturais, ou seja, não é centrada
exclusivamente no aluno e somente
pode ser diagnosticada em crianças
cujos déficits na aprendizagem não
se devem a problemas cognitivos.
A dificuldade de aprendizagem
(DA) não tem causa única que a de-
termine, mas há uma conjugação de
fatores que agem frente a uma pre-
disposição momentânea da crian-
ça. Alguns estudiosos enfatizam os
aspectos afetivos, outros preferem
apontar os aspectos perceptivos, mui-
tos justificam esse quadro alegando
existir uma imaturidade funcional
do sistema nervoso. Ainda há os
que sustentam que essas crianças
apresentam atrasos no desempenho
escolar por fatores como a falta de
interesse, perturbação emocional ou
inadequação metodológica.
De modo mais pontual, acredita-
se que as dificuldades de aprendiza-
A dificuldade de
aprendizagem é
compreendida como
uma forma peculiar
e complexa de
comportamentos que não
se deve necessariamente
a fatores orgânicos e
que são por isso, mais
facilmente removíveis
gem surgem, por exemplo, a partir de:
33 Mudanças repentinas de escola,
de cidade, de separações;
33 Problemas socioculturais e emo-
cionais;
33 Desorganização na rotina familiar,
excesso de atividades extracurricula-
res, pais muito ou pouco exigentes;
33 Envolvimento com drogas, sepa-
rações;
33 Efeitos colaterais de medicações
que causam hiperatividade ou so-
nolência, diminuindo a atenção da
criança.
Encontramos assim crianças com
baixo rendimento em decorrência de
fatores isolados ou em interação.
Conclusão
Pode ser percebida pelo profes-
sor e diagnosticada por profissionais
especializados já na pré-escola.Po­
de ser evitada tomando-se cuidado
em respeitar o nível cognitivo da crian-
­ça e permitindo que esta possa in-
teragir com o conhecimento: obser-
var, compreender, classificar, anali-
sar etc.
Marília Gomes Lengruber Morais
Membro da Igreja Batista da Esperança,
SP. Psicóloga. Especialista em
Psicopedagogia e em Educação Especial.
Professora da classe de adolescentes
da EBD.
 Resenha
N. T. Wright
Informações
N. T. Wright é professor de uni-
versidades como a Harvard Divinity
School, da Universidade Hebraica de
Jerusalém e da Universidade Grego-
riana de Roma, e um dos mais co-
nhecidos e respeitados estudiosos do
Novo Testamento.
O livro Simplesmente cristão é
uma das melhores obras da literatura
cristã contemporânea. Faz jus ao seu
subtítulo “por que o cristianismo faz
sentido” mostrando várias diferenças
entre o pensamento agnóstico, deís-
ta e panteísta, expondo claramente
por meio de sua argumentação as
falhas destas formas de pensamentos
humanos, apresentando em contra-
partida a filosofia cristã, que preen-
che por completo o homem.
Apresenta a essência do cristia-
nismo, tanto para recomendá-lo aos
de fora como para explicá-lo aos de
dentro. É claro que ser cristão no
mundo de hoje é qualquer coisa,
10
Simplesmente
cristão
menos simples. Mas se há um tempo
em que é necessário dizer, do modo
mais simples possível, o que cada
coisa significa é agora.
Resumo
N. T. Wright, através dos capítulos
disserta sobre a história bíblica, tra-
zendo também consigo curiosidades
sobre a autenticidade das Escrituras, a
leitura é realmente a centralidade de
Jesus Cristo, sua divindade e sua vinda
como homem há dois mil anos, todo
o plano de salvação e como chegar à
intimidade com Deus. O interessante
desta leitura é que o autor consegue
tocar em pontos polêmicos como
Gênesis sem colocar o leitor em pa-
rafuso com teologia e ciência, desta
forma ele acaba de trazer outro bom
argumento na hora de discutir ou não
este tema com uma pessoa que não
possui a fé cristã.
A obra Simplesmente cristão che-
ga ao fim com dois últimos capítulos
que são uma verdadeira lição para
a vida cristã, abordando também a
importância da igreja que tanto entra
na guilhotina de críticas, de alguns
teólogos e pessoas desgostosas da
vida em comunidade.
Conclusão
Posso concluir que o livro acres-
centa o entendimento de como as
pessoas que não são cristãs enxer-
gam o mundo, as formas de chegar
por meio da argumentação no cristi-
anismo, enfim ele pode ser conside-
rado um grande manual de evangelis­-
mo, sendo sua leitura muito agradá-
vel. A dissertação de N. T. Wright
é clara e objetiva, realmente o livro
surpreende.
Vânia Thomaz Lacerda Costa
Membro da Igreja Batista em Belo
Horizonte, MG. Bacharel em História e
Sociologia. Pós-graduada em História
Contemporânea e Mestrado em
Sociologia da Educação. Professora da
EBD para adolescentes e professora
universitária.
antes do cristianismo
institucionalizado
A
nossa fé na pessoa e obra
de Cristo definirá a nos-
sa atitude como cristãos.
Será fundamental para o
nosso estilo de vida. Sabemos que
ao longo dos séculos, especialmente
depois do primeiro século, o Senhor
Jesus se tornou menor do que o cristia-
nismo institucionalizado. Um cristianis-
mo com um viés legalista e mercanti-
lista ou um cristianismo de mercado,
que considera a organização mais im-
portante do que o organismo. Neste
mundo pós-moderno o Senhor Jesus
se tornou um produto de consumo.
Também, uma tábua de salvação de
problemas corriqueiros. O seu nome
tem sido citado inadequada e desres-
peitosa mente. Vivemos um cristia-
nismo mais como sistema religioso
do que como estilo de vida, discipu-
Cristo
lado dinâmico, compromisso com a
pessoa de Cristo e com as Escrituras
como fundamento para nossas ati-
tudes e ações. O Cristo concebido
hoje é o do imediatismo, da devoção
com um foco meramente religioso,
de final de semana, do quantitativo,
do utilitarismo ou pragmatismo (o re-
sultado é mais importante). Um cris-
tianismo estilista. Uma ênfase muito
forte na aparência. Os escribas e fa-
riseus se vestiam de forma elegante.
Jesus os condenou, chamando-os de
“sepulcros caiados” (Mt 23.27).
Temos experimentado e visto um
cristianismo de interesses pessoais,
de amizades com um foco mera-
mente mercantilista. Estamos mais
comprometidos com o ter (teologia
da prosperidade) do que com o ser
(teologia do compromisso com Cristo
Educação Teológica
às raias da morte). Somos conheci-
dos pelos cursos que temos, nossos
títulos, as posições da esposa e dos
filhos, nutrimos amizades com um
potencial descartável. É impressio-
nante o número de pessoas vazias,
ocas, sem conteúdo que entram e
saem dos nossos templos. Pessoas
sem conhecimento bíblico prático ou
vivencial. Que não dão testemunho
entusiasta da sua fé em Cristo Jesus.
Líderes e membros de um modo ge-
ral fazendo apologia de igrejas seg-
mentadas, de classe média, alta e
de grupo específicos. Um cristianis-
mo de estratos sociais e da moda.
Temos visto que ser evangélico é
chique. Para muitos, status. Não há
compromisso com a cruz. Um cris-
tianismo de direitos. Um sistema de
conchavos seja com clubes de servi-
11
Temos experimentado e
visto um cristianismo de
interesses pessoais, de
amizades com um foco
meramente mercantilista
ço e comprometimentos políticos com
benefícios pessoais. Percebemos cla-
ramente um sistema religioso em que
as pessoas não têm mais tempo para o
Senhor, sua Palavra, oração e testemu-
nho fidedigno do evangelho de Cristo
(Rm 1.16). Membros de igrejas que se
sentem desconfortáveis diante daque-
les que pregam e vivem o evangelho
da graça. Parece um contrassenso, mas
é a puríssima verdade. É o diagnóstico
que Paulo faz para o jovem pastor Ti-
móteo (2Tm 3.1-5). O apóstolo traça
aqui as marcas deste tempo tão difícil.
Cristianismo como sistema reli-
gioso, que lástima! Que deixa os seus
feridos para trás. Que não se impor-
ta com os que sofrem, com os sim-
ples, os “chatos” e os marginalizados.
Reflitamos seriamente sobre esta
verdade! Não podemos chamar de
cristianismo puro e simples, quando
temos membros de igreja vivendo o
legalismo (que tem prazer em julgar
as pessoas, falar mal dos que erram)
ou o liberalismo (frouxidão moral ou
falta de compromisso ético), quando
não há uma ética comprometida com
Mas o Cristo antes deste cristia-
nismo nominal e institucionalizado
é o Senhor que nos chama à função
diacônica, ao serviço amoroso e cen-
trado nele. Ele nos convoca ao dis-
cipulado, ao compartilharmento da
fé evangélica, que brota da Palavra
de Deus (Rm 10.17). Uma fé a partir
da sua obra completa na cruz e na
ressurreição. Ele chamou 12 homens,
os treinou para que pregassem o ge-
nuíno evangelho da graça. Ele nos
chama ao compromisso com a sua
igreja, coluna e firmeza da verdade.
As promessas do Antigo Testamento
ou antigo pacto apontam para o Se-
nhor Jesus, o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo (Jo 1.29). O
cristianismo preconizado pelo Mes-
tre é o do relacionamento que traz
crescimento mútuo, transformação do
homem e, consequentemente, da so-
ciedade, culminando com a glória
de Deus Pai. O Cristo antes deste
cristianismo divorciado da vida ple-
na em comunidade nos chama a vi-
vermos um estilo de vida marcado
pela obra da cruz, pela humildade,
pelo quebrantamento, pelo serviço e
pelo amor. Ele nos chama à respon-
sabilidade de sermos “sal da terra e
luz do mundo”, a revelarmos os seus
ensinos, a sua verdade aos homens
e em profunda convicção de amor
(Mt 5.13-16). Fomos salvos pela graça
A vida do evangelho traz atitudes e
atos do evangelho, dos ensinos do Educação Teológica
Mestre. O Senhor nos chama à obe-
diência incondicional da sua Palavra.
Devemos, sob a orientação do Espíri-
to Santo, desenvolver dons e talentos
a serviço do próximo, da construção
de uma comunidade comprometida
com o serviço amoroso, autêntico
e despido de interesses pessoais. E
tudo para a glória de Deus.
O cristianismo
preconizado pelo Mestre é
o do relacionamento que
traz crescimento mútuo,
transformação do homem
e, consequentemente, da
sociedade, culminando
com a glória de Deus Pai
A igreja de Jesus Cristo antes do
cristianismo de aparência, do culto
sem vida, de atitudes e atos incoe-
rentes e tantos outros sentimentos
ruins, nos chama ao cristianismo
primitivo caracterizado pelo com-
promisso com o ensino da Palavra,
com a doutrina ortodoxa, com a co-
munhão, com as orações, com o te-
mor, com os milagres de Jesus, com
a unidade, com a liberalidade, com
a justiça, com a ajuda mútua, com
a perseverança no meio das grandes
tribulações, com a alegria em Deus,

Obediência
as Escrituras. Neste mundo pós-mo- mediante a fé para as boas obras, nas com a simplicidade do coração e
derno temos observado o pragma- quais devemos andar cada dia e com com o louvor sincero ao Senhor So-
tismo (o resultado pelo resultado), a profunda alegria no Espírito Santo (Ef berano, nosso Pai (At 2.42-47; 4.32-

ditadura do sentimento, o isolacio-
nismo, o individualismo e a prática
do agradar o “cliente” que entra no
templo. Um movimento gospel, vol-
tado para a tietagem e para uma vida
voluntária
2.8-10). Cristãos inconformados com 37). Sigamos e sirvamos o Senhor
o mundo, mas conformados com Jesus.
toda a vontade de Deus em Cristo
Jesus, nosso Senhor.
O Senhor Jesus antes deste cristia- Oswaldo Luiz Gomes Jacob,

de aparência, para as vantagens co-
merciais, não pode ser chamado de
cristianismo. Vivemos como igrejas
do medo, dentro de quatro paredes
e insensíveis para com o perdido,
com o marginalizado, na contramão
de tudo o que Jesus viveu e ensinou.
Temos aqui uma comunidade forte-
mente ensimesmada, cuidando dos
seus interesses e sua comodidade
meramente religiosa.
nismo antropocêntrico que domina
muitas igrejas, nos chama a valorizar-
mos o nosso próximo. A nos compro-
metermos com ele. A caminharmos a
segunda milha. Somos convidados a
repartir o pão, o teto, a abençoar as
pessoas a partir do coração centrado
nele. Ele quer que edifiquemos a sua
igreja como comunidade da aceita-
ção, do perdão e da festa, em que a
graça opera de maneira esplêndida.
pastor da Segunda Igreja Batista em
Barra Mansa, RJ. Bacharel em Teologia
pelo Seminário Teológico Batista do
Sul do Brasil. Convalidação do curso
teológico pela Universidade Metodista
de São Paulo. Mestrando em Missiologia
pelo Southeastern Baptist Theological
Seminary, USA. Foi missionário na África
do Sul pela Junta de Missões Mundiais da
CBB. É professor no Seminário Teológico
Batista Sul Fluminense, Volta Redonda,
RJ. Articulista do Jornal Batista.
E
m sua Carta aos Romanos, o
apóstolo Paulo apresenta um
longo e profundo arrazoado so-
bre temas fundamentais da fé
cristã. É ali que ele nos fala da justi-
ficação pela fé, da superioridade da
graça sobre a lei, além da revelação
geral que, ao ser dada aos seres hu-
manos, torna-os indesculpáveis dian-
te de Deus; sem esquecer, contudo,
de enfatizar que quem segue o Se-
nhor Jesus Cristo deve demonstrar
sua fé por meio de um padrão de
comportamento moldado na vonta-
de de Deus.
E em meio a essa exposição de
argumentos, Paulo afirma que o peca-
do não mais terá domínio sobre aque-
les que estão debaixo da graça (Rm
É certo que a liberdade
cristã que advém da
graça é verdadeira
e completa, mas em
hipótese alguma isto
desconsidera que nossos
atos e decisões trazem
consigo desdobramentos
históricos

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