Cunha
April 2011
Mesmo pensando que Brotero só dará a sua primeira aula no início de 1829,
ficaria nos anais que a primeira lição constitucional afinal foi dada em português, e na
América. Não por acaso ao sol do Novo Mundo...
É que o Direito Constitucional – tal não foi visto durante demasiado tempo – é
realmente, quando bem entendido, um novo mundo no Direito, não um novo
continente (as metáforas da continentalidade jurídica tiveram o seu tempo), mas
inequivocamente o caminho para um novo paradigma. Mesmo o próprio Direito
Constitucional em si, aparentemente “clássico”, o saído do constitucionalismo
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moderno. Não falamos agora do Direito Constitucional natural, histórico, que também
nos dá lições interessantíssimas, mas não propriamente deste âmbito.
Deste ensino ficou-nos pelo menos uma obra, sintética, como era timbre dos
trabalhos universitários da época (“e que saudades, Deus meu!” desse aticismo por
vezes até um tanto avaro de referências, com rodapés muito livres de erudição),
precisamente com título “misto”: A Filosofia do Direito Constitucional (ed. de São
Paulo, Malheiros, 2007, Introd. de José Afonso da Silva).
Vale a pena revisitar esta obra, e desde logo admirar o seu autor pelo
desassombro e coragem de muitas observações democráticas, que não seriam
politicamente corretas, pelo menos em muitos setores poderosos da época.
irreprimivelmente coloca o factor determinante de uma nova feição neste Direito: não
só ramo, mas ainda tronco, raiz e copa da árvore jurídica.
Como, aliás, ocorre um pouco hoje. Quando é cada vez mais complicado
invocar-se autonomamente um Direito Natural, por exemplo, sem o vincular aos
Direitos Humanos, aos Princípios Fundamentais e até aos Valores políticos que
Declarações de Direitos e Constituições já interiorizam. Mas também vice-versa:
quando Direitos Humanos, Princípios, Valores e Constituições não podem de modo
algum legitimar-se (para além dos votos, legitimação politicamente imprescindível
em democracia, mas axiologicamente formal) se não se firmarem numa
fundamentação filosófica. Cuja linguagem hoje é outra, na maior parte das vezes, mas
não vemos como possa prescindir da mesma preocupação pela Justiça.