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XPDDQiOLVHFRPSDUDGDHPGXDVYLODVGH%HOR+RUL]RQWH
por
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FRPRUHTXLVLWRSDUFLDOSDUDDREWHQomR
GR JUDXGH0HVWUHHP6RFLRORJLD
3URI'U)UDQFLVFR&RHOKRGRV6DQWRV
Orientador
$*5$'(&,0(1726
com paciência e disposição tratou os dados sobre violência que estão neste
Wilson “pato” Cruz, que com coragem e afinco me ajudaram na coleta dos
dados na Vila Cafezal; com certeza uma grande ajuda! À amiga de mestrado e
da vida, Célia, pelas longas conversas... a Cirene pela presteza nas soluções
Ao Centro de Pesquisa René Rachou, que me possibilitou novos conhecimentos e me mostrou o quanto é
gratificante fazer ciência, e aos colegas “de René” Cecília, Ivana, Daniel, Denise e Karina pela agradável
Agradeço ao professor Antônio Tomasi pelo apoio não só a mim, como a todos os alunos da sociologia do
trabalho, que se viram “órfãos” com a morte do professor Vinícius Caldeira Brant. Confesso que este
apoio apenas consolidou a nossa percepção sobre a grandeza de seu espírito ...
À URBEL pela liberação dos cadastros dos domicílios das duas vilas estudadas e à senhora Edna, líder
comunitária da Vila Novo Ouro Preto, que nos mostrou todos os meandros da região.
9LUJtQLD7RUUHV6FKDOO, que com a sua vontade de produzir ciência, com a sua disposição para o trabalho
e sua alegria de viver, não deixou que eu desanimasse. Agradeço também a sua confiança em mim, a sua
9LQtFLXV &DOGHLUD %UDQW (LQ PHPRULDQ), que com seu espírito crítico, sua verve científica, sua postura
política, sua ética, me inspiraram e me inspiram... No início professor e depois amigo... É com muita
saudade que agradeço a ele todos os momentos felizes, profissionais e pessoais, que me marcaram e
Como é de praxe, todos os erros, equívocos e eventuais falhas neste trabalho é de total responsabilidade
minha.
4
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&DStWXOR±$JrQFLDHPXGDQoDVRFLDOS
±7HRULDVGDDJrQFLDSULQFLSDLVFRUUHQWHVS
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&DStWXOR±&RQVLGHUDo}HVILQDLVS
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$QH[RVS
5
,1752'8d2
Por que algumas localidades têm altas taxas de criminalidade e outras não? Esta
pergunta há muito vem sendo feita não só por pesquisadores e administradores públicos,
mas por toda a população leiga que, principalmente na última década, vem assistindo o
oficiais e promessas eleitorais, notamos que todos buscam por explicações e possíveis
soluções para este grande drama nacional que é a violência, seja ela no espaço urbano
ou rural.
destacar algumas escolas sociológicas que trabalharam com o conceito de agência. Por
ao cerne deste trabalho, optamos por acolher as análises de Piotr Sztompka, em sua obra
$ 6RFLRORJLD GD 0XGDQoD 6RFLDO, por acreditar que ela nos fornece subsídios
consistentes aos nossos objetivos e, claro, sem nos esquecermos que outros pontos de
1
O conceito de capital social que utilizamos tem como matiz Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert
Putnam.
2
Entre as mais diversas categorias de crimes, elegemos, como alvo do estudo, os crimes contra a pessoa.
6
vista são relevantes e necessários para o avanço do debate em torno da mudança social,
últimos autores, pois foram eles que nos forneceram as idéias principais para a
SPSS, analisamos o comportamento distinto das duas comunidades diante das situações
postas.
análises que nos permitisse perceber alguma associação entre o volume de capital social
brasileiro.
7
&$3Ë78/2
$*Ç1&,$(08'$1d$62&,$/
Desde os primórdios que o homem, com sua curiosidade inata, procura compreender o
mundo a sua volta; esta preocupação advém da busca das causas últimas dos eventos,
das forças que movimentam os fenômenos e dos processos que no final influenciam seu
destino.
condicionada, desde cima, pelo equilíbrio entre restrições e limitações por um lado;
recursos e facilitadores propiciadas pelas estruturas por outro; e desde baixo, pelas
Em uma etapa posterior da história do homem, a agência desce dos céus para habitar
da sociedade.
posterior, temos a correlação entre a agência e o homem, ainda que não a qualquer
mãos destas pessoas que, com seu carisma inato, dado “geneticamente”, promoviam a
mudança social. Neste momento histórico, temos a humanização da agência mas ainda
sociedade) estaria nas mãos dos indivíduos que se rebelam contra o HVWDEOLVKPHQW .
Este aspecto é assim descrito por Dahrendorf: ³RV GHVYLRV RFRUUHP SRU UD]}HV
TXH YHP GDV SURIXQGH]DV GD SVLTXH LQGLYLGXDO RX GDV UHJL}HV QHEXORVDV GR PXQGR
3
É necessário destacar que este movimento de transformação social acontece independente da teoria.
9
sociologia como ciência, há uma reviravolta na percepção da agência; neste caso ela é
socializada e despersonalizada.
vista como um corpo social tendo uma totalidade que auto-regula e auto-transforma; a
HVSHFtILFR PDV QmR DQDOLVDGR DGPLWLGD D SULRUL FRPR DOJR TXH VH PDQLIHVWD
QHFHVVDULDPHQWH QD YLGD H QD PXGDQoD VRFLDO GH PDQHLUD GLUHFLRQDO H LUUHYHUVtYHO´
Esta visão grandiosa, de um poder acima do bem e do mal, coordenando as vidas dos
homens, acompanhou o pensamento social por muitos anos; produzindo uma sociedade
"sem homens"4. Após anos dominando a teoria sociológica, esta percepção da agência
cai em desuso. A agência torna-se parte indissociável das ações dos indivíduos, neste
A figura individual retorna ao cenário social como agente transformador mas com
poderes delegados pela sociedade e não mais pela genética ou coisa que o valha. Na
10
realidade, estes indivíduos são a expressão maior das ³WHQV}HV HVWUXWXUDLV kQLPRV
GH HVWUXWXUDUUHODo}HVVRFLDLVGHDOWHUDURµWLSRGHMRJR¶HPTXHVHHQJDMDPRVDWRUHV
GH PDQLSXODU RX PRGLILFDU D GLVWULEXLomR GRV UHFXUVRV H FRQGLo}HV TXH JRYHUQDP DV
LQWHUDo}HVRXWURFDVHQWUHRVDWRUHVHQYROYLGRV´ (Sztompka1998[1993]p.329)
Com o avanço da sociologia, a agência afasta-se dos “líderes sociais” e aproxima-se das
das funções.
novamente passa por transformações, sendo que a maior delas é a extensão da agência
PLQ~VFXOR SRGHU GH GHFLVmR QD PXGDQoD VRFLDO PDV DR PHVPR WHPSR TXH D
PXGDQoDVRFLDOGHYHVHUWUDWDGDFRPRUHVXOWDGRFRPELQDGRGDTXLORTXHID]HPWRGRVRV
SRGHURVRV´(1998[1993]p.329)
4
Esta percepção acompanhou diversas matizes do evolucionismo e desenvolvimentismo, transformando-
11
múltiplas decisões podem ser tomadas por múltiplos atores sociais; quanto à lingüistica,
avanços, temos Merton(1976) com sua noção de efeitos latentes, não pretendidos, da
ação humana. Com esta teoria, a mudança social se consolida como um ³UHVXOWDGR
DJUHJDGR H KLVWRULFDPHQWH DFXPXODGR GDTXLOR TXH ID]HP WRGRV RV PHPEURV GD
VRFLHGDGH FRP EDVH HP VHXV SUySULRV PRWLYRV SDUWLFXODUHV H SURSyVLWRV HJRtVWLFRV´
(Sztompka,1998[1993],p. 330).
Apesar desta ênfase mertoniana nos aspectos individuais e não pretendidos, devemos
ressaltar que nem todas as pessoas atuam de maneira isolada; pois a noção de mudança
individualidade e coletividade, faz com que a agência seja materializada nos agentes
indivíduos). Neste cenário, temos mudanças realizadas de cima para baixo, como no
caso das ações governamentais, das grandes organizações, etc. Na outra ponta temos
outros. ³$ FRPSOH[D LQWHUDomR HQWUH HOHV IRUPD R FHQiULR SROtWLFR GDV VRFLHGDGHV
GRV DWRUHV LQGLYLGXDLV OHYDGDV D FDER QR FHQiULR GD YLGD FRWLGLDQD ,QGLYtGXRV H
FROHWLYLGDGHIRUPDPMXQWRVSRUWDQWRRFXUVRVLQXRVRGDKLVWyULDKXPDQD´ (Sztompka,
1998[1993],p.330)
Assim temos o combustível que faz mover a sociedade: a relação íntima entre atores
7HRULDVGD$JrQFLD3ULQFLSDLV&RUUHQWHV
2 FRQFHLWRGHPRUIRJrQHVHHP:DOWHU%XFNOH\
³2 PRGHOR VXS}H XP VLVWHPD GH FRPSRQHQWHV LQWHUDWLYRV HP SHUPDQHQWH DWLYLGDGH
Transformadas)
FRP XPD IRQWH LQWHUQD GH WHQVmR HVWDQGR R FRQMXQWR HQYROYLGR HP WUDQVDo}HV
FRQWtQXDVFRPRVHXYDULiYHODPELHQWHH[WHUQRHLQWHUQRGHWDOPRGRTXHHVWH~OWLPR
13
PRUIRJrQHVHVHUHILULUijTXHOHVSURFHVVRVTXHWHQGHPDDSHUIHLoRDURXPRGLILFDUXPD
GDGD IRUPD HVWUXWXUD RX HVWDGR GR VLVWHPD´ (Buckley DSXG Sztompka, 1998[1993],
p.331)
social, mas ao mesmo tempo reafirma certos automatismos dos modelos orgânicos e
$ VRFLHGDGHDWLYDGH$PLWDL(W]LRQL
Etzioni inicia a discussão sobre a agência propondo uma “sociedade ativa”, cuja
essência está na noção de mobilização e ativação social. Partindo deste ponto, o autor
PHGLGD HP TXH VH PRELOL]D XPD XQLGDGH VRFLDO WHQGH D PRGLILFDU D VXD SUySULD
HVWUXWXUDHOLPLWHVEHPFRPRDHVWUXWXUDGDVXSUDXQLGDGHGDTXDOID]SDUWH´(Etizioni
coletiva.
5
6RFLRORJ\DQG0RGHUQ6\VWHPV7KHRU\(QJOHZRRG&OLIIV3UHQWLFH+DOO
14
³8PD WHRULD GR GLUHFLRQDPHQWR S}H D TXHVWmR GH FRPR XP GDGR DWRU GLULJH XP
SURFHVVR H GH FRPR HOH PRGLILFD D HVWUXWXUD H OLPLWHV GH XPD XQLGDGH $ WHRULD GR
GLUHFLRQDPHQWRVRFLHWiULRS}HDOpPGLVVRDTXHVWmRGHFRPRXPDGDGDHVWUXWXUDIRL
PRGHODGD FRPR p PDQWLGD FRPR SRGH VHU DOWHUDGD RQGH VH ORFDOL]DP RV IRFRV GH
SRGHUTXHPFRPDQGDRFRQKHFLPHQWRHTXHPWHPFDSDFLGDGHGHGHWHUPLQDU´(Etzioni
DSXGSztompka, 1998[1993],p.332)
$ODLQ7RXUDLQHHDFRQWULEXLomRIUDQFHVD
sociológica.
Era preciso trazer o homem novamente a cena, como agente da história, transformador
da realidade social. Nesse sentido, a sociedade torna-se fruto dos esforços humanos, não
produto da ação coletiva, tendo para o pensador francês, os movimentos sociais como
YH] TXH D UHDOLGDGH KLVWyULFD p FRQVWUXtGD DWUDYpV GRV FRQIOLWRV H QHJRFLDo}HV GH
PRYLPHQWRVVRFLDLVTXHFRQIHUHPXPDIRUPDVRFLDOHVSHFtILFDjVRULHQWDo}HVFXOWXUDLV´
industrial.
atores sociais, tornado-os produtos de sua própria ação. A escola francesa6 rejeita o viés
respondem aos problemas e desafios que enfrentam na vida diária. As soluções são
³$WLYLGDGHV FROHWLYDV GHVVH JrQHUR VmR LQHUHQWHPHQWH FULDWLYDV GHYLGR DR PHFDQLVPR
FDUDFWHUtVWLFDV GR VLVWHPD VmR PRGLILFDGDV SRGHQGR UHVXOWDU QD WUDQVIRUPDomR GRV
$QWKRQ\*LGGHQVHDWHRULDGDHVWUXWXUDomR
dos atores.
totalmente contingente da realidade social; ele destaca que o único substrato ontológico
são as ações e interações dos sujeitos humanos. A partir deste ponto, Giddens sugere a
impremeditados. As regras e recursos usados pelos atores são reformulados pelo próprio
uso, ³DVSURSULHGDGHVHVWUXWXUDLVGRVVLVWHPDVVRFLDLVVmRWDQWRPHLRTXDQWRSURGXWR
na teoria da estruturação; são suas ações cotidianas que constituem o cerne da teoria. De
6
Esta corrente da escola francesa é centrada em Crozier e Friedberg, cuja a problemática é relacionada às
organizações, destacando a interdependência entre atores e sistemas.
17
conhecimento de todas as motivações dos atos bem como a total consciência destes atos,
por parte dos atores sociais. Admite-se que em algum momento não há o conhecimento
das condições e que alguns resultados das ações não são previstos.
Como resultado temos que, apesar da história ser construída a partir da contingência da
produzidas pelos indivíduos, ela não é um projeto premeditado, mas sim o resultado de
Outro aspecto relevante destacado por Giddens, e muito pouco relevado pelos
espaço na ação humana. Esta relação é fundamental para uma análise acerca da teoria da
agência, como destaca Giddens, ³D FRUSRUDOLGDGH LPS}H OLPLWDo}HV HVWULWDV VREUH DV
na conduta cotidiana das pessoas comuns, quase sempre sem a preocupação reformista,
$ HVFRODGH8SSVDODDWHRULDGRVVLVWHPDVQRUPDWLYRV
distinta de Giddens; eles afirmam que não são os atores que conformam, mas as
estruturas que são conformadas, sendo vistas como um complexa rede de relações.
18
Para a escola sueca7, toda e qualquer atividade humana, em toda a sua magnitude, é
corrente foi a sofisticada análise das regras sociais, que produzem as estruturas da
história humana.
Burns e Flam (1987) dividem a estrutura em três grupos: sistemas, regimes e gramáticas
sociais; os regimes normativos são decisivos, já que estão apoiados nas sanções sociais
e redes de poder e controle, tornando-se assim, algo externo ao homem; os regimes são
que são cooptadas pelos atores sociais para estruturar e regular as transações mútuas na
esfera social.
significado dado a ela por Durkheim(1995[1893]), é construída pela ação humana; são
³2V VLVWHPDVVRFLDLVQRUPDWLYRVRUJDQL]DPHUHJXODPDVWUDQVDo}HVVRFLDLVWDLVFRPR
TXDLV WUDQVDo}HV VmR DSURSULDGDV RX OHJtWLPDV RQGH H TXDQGR DV WUDQVDo}HV SRGHP
VHUHIHWXDGDVFRPRVmRHIHWXDGDVHDVVLPSRUGLDQWH$RPHVPRWHPSRRVSURFHVVRV
Para a escola sueca, os atores sociais transformam através de suas ações as próprias
TXHVWmRGDDJrQFLD
A autora inglesa entra no debate propondo uma nova noção de agência, para isto
7
A escola sueca tem origem na ontologia normativa do mundo social elaborada por Torgny
Segerstedt(1966), onde a interação e cooperação pressupõem normas comuns.
20
Para Archer o dualismo analítico destaca-se ao propor uma relação constitutiva entre
ação e estrutura, que impede uma clara descrição da influência de um pelo outro; este
argumento refere-se ao fato de que a ação e a estrutura são de fato distintas, pois o
R DSHUIHLoRDPHQWRFXOWXUDOpRIXWXURIRUMDGRQRSUHVHQWHHODERUDGRFRPDKHUDQoDGR
Dentro deste espectro, Archer termina sua análise destacando que a estrutura é o meio
&RQFOXV}HVDFHUFDGDUHODomRDJrQFLDHPXGDQoDVRFLDO
social (mesmo que de forma sucinta) alguns aspectos tornam-se relevantes e até mesmo
entre a ação e a estrutura sempre foi alvo da análise sociológica; partindo da oposição
coletividades sociais; o sentido, o objetivo e a velocidade são ditadas pela disputa entre
os diversos agentes, sendo motivos de lutas e disputas; a ação ocorre em uma estrutura
produzidos); por fim, a relação entre a ação e a estrutura é dada no tempo, alternando
A contribuição da idéia de capital social é significativa por que há uma preocupação dos
sociologia é possível a mudança social através das ações positivas, que são sustentadas
outros.
dentro de uma estrutura pré-estabelecida. Há, como destacou Archer(1988), uma relação
dialética entre a ação e a estrutura, e nesta interação, o capital social seria importante,
É nesta direção que centramos nossa análise; pois queremos avaliar o real impacto do
políticas? A qualidade de vida de um dado local estaria diretamente ligada aos aspectos
Assim, a nossa pesquisa procura identificar uma associação entre o capital social e as
criminalidade?
teóricos que trabalham com a questão: Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert
Putnam.
23
&$3Ë78/2
&$3,7$/62&,$/&21&(,726('(),1,d®(6
Coleman (1990) define o capital social como os recursos produzidos pela interação
credibilidade. Estes recursos, quando disponíveis, facilitam a ação social seja dos
comunidade. Coleman destaca que o conceito de capital social não é uma entidade
única, ele possui uma variada gama de manifestações que encontram-se na estrutura
social e que facilitam a ação dos indivíduos dentro desta estrutura. ³'LIHUHQWHPHQWHGH
RXWUDV IRUPDV GH FDSLWDO R FDSLWDO VRFLDO VLWXDVH QD HVWUXWXUD GDV UHODo}HV HQWUH DV
SHVVRDV GH XPD FRPXQLGDGH (OH QmR VH HQFRQWUD QHP QRV LQGLYtGXRV QHP QRV
Robert Putnan (1996 [1993]) em seu estudo sobre a comunidade e democracia na Itália
moderna, ressalta a intensa relação entre capital social e cultura cívica10, para ele a única
8
Bourdieu (1986) acredita que o capital social é a somatória dos recursos reais ou virtuais, produzidos pelas
redes de relacionamentos de mútuo entendimento e reconhecimento, à disposição dos indivíduos ou grupos.
9
Embora Coleman reconheça a presença de capital social em grupos e comunidades, centra a sua análise no
indivíduo.
10
Putnam caracteriza a cultura cívica a partir da atuação dos cidadãos, imbuídos de espírito público; por
relações políticas igualitárias e estruturas sociais baseada na confiança e na colaboração.
24
forma de capital social. Isto nos impede de detectar outras formas de capital social,
estar presentes em comunidades com uma estrutura social sem uma tradição cívica
mais forte. 11
comunitárias, uma boa relação entre a vizinhança, dentre outros. De acordo com a
relação ao conceito.
3LHUUH%RXUGLHX
contemporânea do conceito de capital, nesse sentido, autores que serão aqui trabalhados,
11
Devemos destacar que nem sempre o capital social resulta em efeitos positivos na comunidade
(Paxton,1999), como ressalta Onyx et al. (1997) a Klu Klux Klan pode ter sido resultado do capital social
disponível para a comunidade branca do sul dos E.U.A.
25
Para Bourdieu, o mundo social é um retrato fiel da história humana, com todos os seus
maneira privada, seja por agentes ou por grupos constituídos, possibilita a apropriação
da energia social, seja em forma reificada do trabalho, seja em forma do trabalho vivo.
Esta visão reduzida é questionada por Bourdieu, pois tanto o capital cultural quanto o
capital social podem ser, em algum momento, intercambiados para a esfera econômica.
26
³2FDSLWDOSRGHVHDSUHVHQWDUGHWUrVPDQHLUDVIXQGDPHQWDLVFRPRFDSLWDOHFRQ{PLFR
TXH pLPHGLDWDPHQWHHGLUHWDPHQWHFRQYHUWLGRHPGLQKHLURHSRGHVHULQVWLWXFLRQDOL]DGR
VRE D IRUPD GH GLUHLWR GH SURSULHGDGH FRPR FDSLWDO FXOWXUDO TXH p FRQYHUWLGR VRE
FHUWDV FRQGLo}HV HP FDSLWDO HFRQ{PLFR H SRGH VHU LQVWLWXFLRQDOL]DGR QD IRUPD GH
FRQYHUWLGRVREFHUWDVFRQGLo}HVHPFDSLWDOHFRQ{PLFRSRGHQGRVHULQVWLWXFLRQDOL]DGR
Apesar dos três tipos de capital relatados por Bourdieu12, destacaremos apenas o capital
&DSLWDO6RFLDOHP%RXUGLHX
latentes, que estão presentes nas relações sociais mais ou menos institucionalizadas,
intensidade das conexões que ele efetivamente mobiliza a seu favor, aliado à presença
com isto, que o capital social não é totalmente independente de outras formas de capital.
Bourdieu destaca que as redes de relações sociais não são dadas naturalmente, mas são
contingentes, como por exemplo a vizinhança, o local de trabalho, etc. Tais relações
amizade, etc.) que criam e potencializam o capital social. Nesse aspecto, Bourdieu
transformação.
-DPHV&ROHPDQ
ação social.
segundo grupo concorda com os paradigmas das ciências econômicas, que defende a
12
É importante destacar que no livro ‘Practical Reason” (1998[1994]) Bourdieu amplia o leque de capital,
destacando, dentre outros, o capital burocrático.
28
Dentro desta disputa teórica por uma melhor explicação da realidade social, Coleman
acredita na possibilidade de uma terceira via, unindo aspectos da teoria da ação racional
sociais particulares pode contribuir para a compreensão não apenas de ações individuais
organizações sociais.
É neste contexto que James Coleman propõe uma nova ferramenta conceitual para a
análise social, a qual ele chama de capital social. Para ele, o capital social pode ser
confiança, dentre outros) utilizados pelos indivíduos para realizar seus interesses.
Na concepção estrutural, o ator não é o motor da ação; ele é formado pelo meio
ambiente no qual vive , estando à margem dos processos de escolha, pouca ou nenhuma
alternativa é dada aos indivíduos. A concepção racional, por sua vez, procura construir
seus argumentos a partir da realidade empírica; onde as ações individuais são formadas,
13
Este princípio tem propiciado o crescimento e a consolidação de correntes filosóficas filiadas ao utilitarismo,
29
concepção da ação racional temos alguns teóricos que se auto intitulam “economistas
IULHQGV IDPLO\ DQG ILUP) onde utiliza uma bibliografia centrada na antropologia, na
institucionalistas, argüindo que eles falham por não reconhecerem a importância das
de introduzir na análise econômica dos sistemas sociais e das relações sociais, uma
funcionamento dos sistemas econômicos e não uma estrutura como plataforma para o
Coleman diferencia-se das correntes acima, pois acredita nos princípios da ação racional
para a análise dos sistemas sociais, mas acredita também ser necessária a extensão desta
análise para além das fronteiras dos sistemas econômicos, incluindo assim, em sua
análise, a compreensão da organização social. Com isto ele elege o conceito de capital
$V%DVHVGR&RQFHLWRGH&DSLWDO6RFLDO
Para Coleman, uma das grandes deficiências ao introduzir a teoria da troca na sociologia
Trabalhando a princípio com a teoria da ação racional, onde os atores têm certa
conceito de capital social é uma espécie de recurso particular utilizado no momento das
escolhas. Aqui ele é definido como uma função que possibilita e facilita a ação dos
e humano (qualificação profissional, formação escolar formal, etc.), o capital social não
pode ser medido ou aferido facilmente, mas é possível especificá-lo utilizando como
O capital social é apontado como facilitador de certas ações que podem ser úteis ou não
para a comunidade. Diferentemente de outros tipos de capital, o capital social surge das
Centrando sua análise nas relações entre pessoas, Coleman demonstra como o capital
Em Nova Iorque este comércio está basicamente centrado nas mãos da comunidade
judaica, o que permite uma real avaliação das peças e uma garantia da qualidade do
de seu país. Como observa o jornal, os estudantes são, em sua grande maioria,
escola, pela vizinhança ou pela igreja facilitou a fundação de círculos de estudos na qual
busca de paz e liberdade para seus filhos, muda para Jerusalém. De acordo com
Coleman, o grau de capital social presente nas duas comunidades pode explicar as
diferenças de comportamento das pessoas que, em último caso, gera a paz e a segurança
questões locais, procuram, de uma maneira geral, cuidar do seu bairro, auxiliar as
crianças nas praças e parque etc., o que não é possível, ou pelo menos não é detectado
32
qualidade de vida, são explicadas, para Coleman, pelo nível de capital social presente
em cada comunidade; quanto mais alto o nível de capital social maior a participação e
Egito. Estes mercados são caracterizados pela presença dos laços familiares, os quais se
procurada, pela troca de dinheiro, etc. enfim, pela criação de obrigações e expectativas.
elos familiares, proporcionando uma forte estrutura social capaz de auxiliar seus
2V$VSHFWRVGR&DSLWDO6RFLDO
conceito de capital social refere-se aos aspectos da estrutura social que proporciona aos
sem utilizar uma análise mais acurada da estrutura social, ou seja, através das ações
investigar os detalhes das estruturas sociais para a análise sociológica, mesmo para
explicar casos particulares; a maneira como a estrutura estaria agindo nos casos
particulares. O que o autor deseja com o seu conceito de capital social é destacar cada
$V5HODo}HV6RFLDLVHD3URGXomRGH&DSLWDO
modelo teórico desenvolvido por ele. Se $ realiza alguma coisa para % e acredita que %
O FUHGLWVOLS pode ser comparado ao capital financeiro, onde alguns detêm o crédito que
pode ser recuperado a qualquer momento quando necessário; isto se não houver uma
quebra do acordo, mesmo que este seja implícito, como a maioria das transações
informais presentes na vida social. Este aspecto de capital social depende de dois
34
dos grupos . Para Geertz (1962) esta é uma eficiente forma de ativação do
parecidas seriam impensadas em mercados de grandes áreas urbanas com altos índices
Estas diferenças podem aparecer por diversas razões. A primeira pode ser creditada à
&DQDLVGHLQIRUPDomR
sociedade é fundamental ter em mente os fatos e eventos que estão acontecendo para
nos pautarmos dentro de uma expectativa, digamos, social. Ou seja, nossas ações são
pautadas por informações e expectativas balizadas pelas relações sociais. Como analisa
social.
informações.
Para Coleman, se as normas existentes são efetivas, produzem capital social, embora
algumas vezes mostram-se bastante frágeis, não há infalibilidade nas normas no sentido
de produzir capital social. Coleman aponta que pode haver efeitos perversos, como por
O autor destaca as normas prescritivas dentro da coletividade, que para ele constituem
uma importante fonte de capital social, já que pode atender aos interesses individuais e
da coletividade.
36
É importante ressaltar o papel das normas prescritivas, pois elas podem facilitar a
seja,
ela é um agente facilitador das ações sociais. Nesse sentido, podemos encontrar muitas
ações coletivas em busca de metas em comum, sendo respaldada pelas sanções internas
ou externas que possibilitam o domínio dos problemas que colocam em risco os bens
As normas constituem uma importante fonte de capital social. Como destaca Coleman,
as normas sociais podem facilitar certas ações mas podem dificultar outras,
Como destacava Merton (1968), se por um lado as normas podem facilitar as ações, por
outro lado podem inibir soluções mais viáveis para a resolução dos problemas postos.
Para Coleman, toda estrutura social e relação social, de algum modo, facilitam o
aparecimento de algum aspecto de capital social, sendo que o ator social mantém esta
relação enquanto obtém algum benefício. Mas, como destaca Coleman, devemos estar
atentos, pois, algumas estruturas sociais, de maneira muito especial, facilitam de modo
Uma propriedade presente nas relações sociais e que é essencial para as normas efetivas
é o que Coleman chama de elos fechados. Para ele, o fechamento da estrutura social é
importante não somente para a existência de normas efetivas mas também para a criação
criação do capital humano. Para corroborar esta afirmação, o autor procura destacar a
O capital financeiro é medido pela renda familiar; que no caso da educação consiste em
O capital social, como aponta Coleman, é distinto das duas formas acima descritos. Para
o autor, o capital financeiro e humano são de extrema importância, mas não são
aprendizado dos filhos. É esta atitude que caracteriza o capital social. Mesmo com um
baixo capital financeiro e humano, podemos ter sucesso desde que tenhamos um alto
modelo para outras análises. Ou seja, uma família realmente unida e participativa pode
positiva entre pais e filhos. É interessante notar a importância da presença física dos
pais. Coleman destaca este ponto assinalando que esta falta provoca uma deficiência
estrutural no capital social familiar, seja esta falta provocada por morte, separação ou
O capital financeiro, como foi dito anteriormente, está vinculado aos aspectos materiais
esforços somados das comunidades, ganhos sociais importantes para todas as pessoas.
social sem a necessidade da participação efetiva do estado como agente portador das
idéias e soluções para a transformação social; com o capital social, a sociedade mune-se
5REHUW3XWQDP
um grande estudo realizado na Itália, cujo objetivo foi analisar os impactos da reforma
HQJDMDPHQWR FtYLFR LQIOXHQFLDP WDQWR DV SHUVSHFWLYDV GH XP JRYHUQR HILFD] H
UHVSRQViYHO H SRU TXH DV WUDGLo}HV FtYLFDV VH PDQWrP HVWiYHLV SRU WDQWR WHPSR´ (
coletiva e no conceito de capital social, e é este ponto que nos interessa: como Putnam
trabalha o conceito de capital social e como ele é utilizado para a análise da realidade
social?
A partir destes estudos, Putnam desenvolveu uma série de análises dentro da realidade
Putnam inicia sua análise sobre o capital social discutindo as questões referentes à ação
análises da teoria dos jogos. Em diversos momentos, estes teóricos criam situações e
41
o dilema do prisioneiro.
Este dilema consiste em colocar dois cúmplices em salas diferentes e dizer para ambos
saber qual a versão que cada um dará para combinarem as ações, logo, a melhor saída é
delatar o outro.
Com este exemplo, Putnam destaca que se houvesse uma mútua cooperação, todos os
Transportando esta análise para questões mais próximas das sociedades modernas,
Putnam ressalta que é necessário uma fonte de informação confiável e uma efetiva
Como diz o autor, ³(P XP PXQGR KDELWDGR SRU VDQWRV WDOYH] RV GLOHPDV GD DomR
FROHWLYD QmR H[LVWLVVHP PDV R DOWUXtVPR XQLYHUVDO p XPD SUHPLVVD TXL[RWHVFD SDUD
TXDLVTXHUDo}HVRXWHRULDVVRFLDLV´ (Putnam,1996[1993]p.174)
Ao perceber que não habitamos o “reino dos céus”, Putnam retorna a Hobbes, que
diante de tanta barbárie, propõe a coerção de um terceiro. Para esse último, se houver
42
UHTXHUHULD XPD SDUWH QHXWUD TXH SXGHVVH VHP {QXV DYDOLDU RV DWULEXWRV GH XP
FRQWUDWRHWDPEpPVHP{QXVID]HUFXPSULURVDFRUGRVGHPRGRDTXHDSDUWHLQIUDWRUD
VHPSUH WLYHVVH TXH LQGHQL]DU D SDUWH OHVDGD GH WDO IRUPD TXH OKH UHVXOWDVVH RQHURVR
YLRODURFRQWUDWReyEYLRTXHQRPXQGRUHDOVHULDGLItFLOVHQmRLPSRVVtYHOSUHHQFKHU
WDLVFRQGLo}HV´ (1996[1993]p.175)
A coerção é onerosa e o uso da força mostra-se mais ineficiente, nas relações mais
imparcialidade da coerção, pois se cria o mesmo dilema que ela quer resolver; quem
garante que os ocupantes do estado são confiáveis? Quem garante que não utilizarão o
América Latina, África, Ásia e países mediterrâneos da Europa. Nesse sentido, algumas
soluções são propostas para a resolução dos dilemas da ação coletiva, mais viáveis que a
solução hobbesiana.
confiança e comunitarismo: ³QXP PXQGR RQGH H[LVWHP GLOHPDV GR SULVLRQHLUR DV
43
Buscando soluções para os dilemas da ação coletiva, Putnam acredita que um bom
resultado depende diretamente do contexto social onde o “jogo” é jogado. Para ele,
³$TXL R FDSLWDO VRFLDO GL] UHVSHLWR D FDUDFWHUtVWLFDV GD RUJDQL]DomR VRFLDO FRPR
FRQILDQoDQRUPDVHVLVWHPDVTXHFRQWULEXDPSDUDDXPHQWDUDHILFLrQFLDGDVRFLHGDGH
Para Putnam, o capital social facilita a cooperação espontânea; como exemplo, ele
comunidade.
riscos existem, mas a reputação de honestidade e confiabilidade dos membros são uma
coletiva podem ser resolvidos com aspectos do capital social. Como o capital
convencional utilizado nas relações sociais “oficiais”, o capital social serve de garantias
Em geral, como destaca Putnam, as relações sociais do tipo das associações de crédito
social (em todas as suas vertentes: confiabilidade, normas, cadeias de relações sociais,
etc.) se caracteriza pelo uso ou não uso destes recursos. Quanto mais utilizado, mais
capital convencional, que normalmente é um bem privado. Como diz Coleman, ³SRUVHU
XP DWULEXWR GD HVWUXWXUD VRFLDO HP TXH VH LQVHUH R LQGLYtGXR R FDSLWDO VRFLDO QmR p
SURSULHGDGHGHQHQKXPDGDVSHVVRDVTXHGHOHVHEHQHILFLDP´(1988,p.315)
A confiança, ³YLVWD FRPR XP PHFDQLVPR TXH SHUPLWH XPD PRELOL]DomR FROHWLYD H D
fundamental para o capital social. Em sua análise da realidade italiana, Putnam detecta o
45
baixo nível de confiança na Itália meridional, o que para ele seria um dos fatores do
baixo nível de capital social da região, sendo uma das possíveis causa de
SUySULDFRRSHUDomRJHUDFRQILDQoD$SURJUHVVLYDDFXPXODomRGHFDSLWDOVRFLDOpXPD
1996[1993]p.180)
Esta confiança que Putnam trata em seus estudos, não é uma confiança cega, mas uma
confiança amparada pela previsão, onde o ator agirá de forma a visar o bem comum não
por que ele é bom por natureza, mas porque será melhor agir assim, pois as
conseqüências negativas serão muito custosas para todos se ele optar por uma solução
cujo benefício seja individual. Assim, a questão levantada por Putnam é a seguinte:
Baseado em Coleman(1988), Putnam destaca que nas regras sociais, o ator transfere
para outrem o direito de controlar uma ação, onde as regras são incutidas tanto por
Um exemplo claro desta relação está nas regras de convivência dos habitantes dos
subúrbios americanos. Com a chegada do outono, é comum a queda das folhas das
46
árvores nos gramados das casas, como também é comum a valorização dos gramados
dos jardins; ou seja, nestas comunidades é de vital importância um jardim bem tratado.
Mesmo se eu não me importar com estas questões estéticas dos jardins, sou impelido a
cuidar do meu, pois as sanções a que sou passível de sofrer, mesmo sendo informais,
têm um custo bastante alto, pois meu ambiente na comunidade ficará bastante afetado14.
Para Putnam são atitudes assim que fortalecem a confiança social, pois reduzem os
custos das transações e facilitam a cooperação. Para ele, o mais importante destas
mútuas de que em um futuro este desequilíbrio seja acertado. Como exemplo, Putnam
regra de reciprocidade generalizada é uma fonte inesgotável de capital social, por isto
³1XP VLVWHPDGHUHFLSURFLGDGHWRGRDWRLQGLYLGXDOJHUDOPHQWHVHFDUDFWHUL]DSRUXPD
FRPELQDomRGRTXHVHSRGHULDFKDPDUGHDOWUXtVPRDFXUWRSUD]RHLQWHUHVVHSUySULRD
ORQJR SUD]R HX WH DMXGR DJRUD QD H[SHFWDWLYD SRVVLYHOPHQWH YDJD LQFHUWD H
LPSUHPHGLWDGDGHTXHPHDMXGDUiVIXWXUDPHQWH$UHFLSURFLGDGHpIHLWDGHXPDVpULH
14
Este exemplo é bastante contraditório se tivermos em mente a perspectiva durkheimiana de coerção,
que consiste basicamente na ação da estrutura social sobre os indivíduos. Putnam relega esta percepção
47
GHDWRVTXHLVRODGDPHQWHVmRDOWUXtVWLFRVDFXUWRSUD]REHQHILFLDPRXWUHPCDFXVWDGR
DOWUXtVWD PDV TXH WRPDGRV HP FRQMXQWR QRUPDOPHQWH EHQHILFLDP WRGRV RV
intercâmbio social, que no âmbito geral, acaba facilitando a solução dos dilemas da ação
coletiva.
Outro aspecto importante analisado por Putnam refere-se à participação cívica. Para ele,
os sistemas de participação cívica são uma forma essencial de capital social; quanto
mais desenvolvidos forem esses sistemas numa comunidade, maior será a probabilidade
por quê?
WUDQVDomR LQGLYLGXDO 2 RSRUWXQLVPR S}H HP ULVFR RV EHQHItFLRV TXH HOH
HVSHUDREWHUHPWRGDVDVGHPDLVWUDQVDo}HV1RMDUJmRGDWHRULDGRVMRJRV
GRVMRJRV
destacando que a relação entre os vizinhos assume uma postura individual; são com as relações
48
VyOLGDV UHJUDV GH ERP FRPSRUWDPHQWR H GH WUDQVPLWLU XQV DRV RXWURV VXDV
UHIRUoDGDV SHOD FDGHLD GH UHODFLRQDPHQWRV TXH GHSHQGHP GR JR]R GD
UHSXWDomR GH PDQWHU SURPHVVDV H DFDWDU DV UHJUDV GH FRPSRUWDPHQWR GD
FRPXQLGDGH
FRQILDELOLGDGHGRVLQGLYtGXRV2VVLVWHPDVGHSDUWLFLSDomRFtYLFDSHUPLWHP
FRPSRUWDPHQWRSUHJUHVVRHRVDWXDLVLQWHUHVVHVGHYLUWXDLVSDUWLFLSDQWHVDR
SDVVRTXHDLQFHUWH]DUHIRUoDRVGLOHPDVGDDomRFROHWLYD$VVLPPDQWLGDV
DVGHPDLVFRQGLo}HVTXDQWRPDLRUIRUDFRPXQLFDomRWDQWRGLUHWDTXDQWR
LQGLUHWD HQWUH RV SDUWLFLSDQWHV PDLRU VHUi D VXD FRQILDQoD P~WXD H PDLV
IDFLOLGDGHHOHVWHUmRSDUDFRRSHUDU
DVVLPXPPRGHORFXOWXUDOPHQWHGHILQLGRSDUDIXWXUDVFRODERUDo}HV2ILOWUR
FXOWXUDOHVWDEHOHFHXPDFRQWLQXLGDGHQDPHGLGDHPTXHDVROXomRLQIRUPDO
HVWHQGHUVHDRSUHVHQWHWRUQDQGRVHHVVDVOLPLWDo}HVLQIRUPDLVLPSRUWDQWHV
IDWRUHV GH FRQWLQXLGDGH QR SURFHVVR GH PXGDQoD VRFLDO D ORQJR SUD]R´
(Putnam,1996[1993],p.183)
individuais que se produz a confiança e fortalece a comunidade. É uma inversão da teoria durkheimiana.
49
Na realidade não podemos dissociar estas duas vertentes, pois elas coexistem e em
³2 IDWR GH DV DUWLFXODo}HV YHUWLFDLV VHUHP PHQRV ~WHLV GR TXH DV DUWLFXODo}HV
KRUL]RQWDLVSDUDVROXFLRQDURVGLOHPDVGDDomRFROHWLYDWDOYH]VHMDXPDGDVUD]}HVSRU
TXH RFDSLWDOLVPRPRVWURXVHPDLVHILFLHQWHGRTXHRIHXGDOLVPRQRVpFXOR;9,,,HSRU
TXH D GHPRFUDFLD UHYHORXVH PDLV HILFD] GR TXH D DXWRFUDFLD GR VpFXOR ;;´
(Putnam,1996[1993]p.184)
Putnam aponta para a importância da família para a solução dos dilemas da ação
coletiva; para ele, os laços de sangue são comparados aos aspectos horizontais do
engajamento cívico mas, como ressalta o autor, os sistemas de participação cívica são
FRRSHUDomR GHQWUR GH FDGD JUXSR PDV RV VLVWHPDV GH SDUWLFLSDomR FtYLFD TXH
HQJOREDPGLIHUHQWHVFDWHJRULDVVRFLDLVSURPRYHPXPDFRRSHUDomRPDLVDPSOD(VVDp
WDPEpP XPD GDV UD]}HV SHODV TXDLV RV VLVWHPDV GH SDUWLFLSDomR FtYLFD VmR SDUWH WmR
LPSRUWDQWHGRHVWRTXHGHFDSLWDOVRFLDO´(Putnam,1996[1993]p.185)
desempenho governamental. Esta teoria, onde Putnam destaca os efeitos benéficos dos
Olson afirma que não há motivos para que pequenos grupos optem para um trabalho
comunitário, no sentido de buscar soluções ótimas para o bem coletivo, pois para o
autor, qualquer forma de trabalho neste sentido é oneroso e ineficiente. Como resultado
deste movimento, temos cada vez mais grupos que sufocam a inovação e o
estudos na Itália, ele nos mostra que as regiões mais desenvolvidas em todos os sentidos
DWLYDVJDUDQWLDGHLQVWLWXLo}HVS~EOLFDVHILFD]HV
HPVLVWHPDVKRUL]RQWDLVGHSDUWLFLSDomRFtYLFDIDYRUHFHRGHVHPSHQKRGRJRYHUQRHGD
HFRQRPLD H QmR R RSRVWR VRFLHGDGH IRUWH HFRQRPLD IRUWH VRFLHGDGH IRUWH (VWDGR
IRUWH´ (Putnam,1993[1996]p.186)
Bem, neste ponto da exposição das idéias de Putnam a respeito do capital social, e de
idéias.
Em princípio, Putnam destaca que o dilema da ação coletiva é o grande obstáculo nas
relações de auxílio mútuo; ou seja, os dilemas da ação coletiva impedem ações eficazes
em prol do bem comum. Soluções baseadas na coerção não são satisfatórias, podendo
ocasionar danos maiores que os já causados pelo dilema da ação coletiva. Para Putnam,
Putnam. Aqui temos duas realidades concretas que se apresentam em diversos lugares
segunda realidade temos uma sociedade mais debilitada, na esfera cívica pelo menos,
que levaria a escolha hobbesiana para a solução dos problemas da ação coletiva (
coerção, exploração e dependência); apesar de ser uma solução inferior à solução dada
pelo capital social, é infinitamente superior ao estado anárquico de todos contra todos.
coletiva tomam nas sociedades modernas. Esta dimensão é potencializada por causa da
“viável” para se evitar a guerra de todos contra todos sem vislumbrar uma ação em
para Putnam, mais satisfatório nos dilemas da ação coletiva. Este equilíbrio é mais
satisfatório porque em uma sociedade com ampla participação cívica, onde as normas
cívicas são respeitadas, se não por todos pela maioria, é mais fácil identificar e punir o
transgressor, o delito torna-se um tanto mais arriscado e ao mesmo tempo com pouco ou
PDQWHU XQLGD D VRFLHGDGH PDV FRP GLIHUHQWHV QtYHLV GH HILFLrQFLD H GHVHPSHQKR
LQVWLWXFLRQDO 8PD YH] LQVHULGRV QXP GHVVHV GRLV FRQWH[WRV RV DWRUHV UDFLRQDLV WrP
PRWLYRV SDUD DJLU FRQIRUPH VXDV UHJUDV $ KLVWyULD GHWHUPLQD TXDO GHVVHV GRLV
HTXLOtEULRVHVWiYHLVLUiFDUDFWHUL]DUXPDGDGDVRFLHGDGH´ (Putnam,1996[1993]p.188)
8PDYLVmRFUtWLFDGRFRQFHLWRGHFDSLWDOVRFLDO
Como foi destacado nos tópicos anteriores, o conceito de capital social é bastante
conservadores, os quais, através do uso do capital social propõem soluções viáveis para
outras áreas que demandam propostas urgentes de solução. Para estes políticos, em tese
comunidade.
Nossa percepção acerca dos dilemas da ação coletiva vem da obra de Mancur
que cada prisioneiro busca seu auto-interesse isolado, levando a todos os envolvidos a
terminarem com um resultado menos satisfatório, resultado este que poderia ser
interesses individuais.
A partir desta constatação, Olson generaliza essa situação para organizações que
aprender que existem benefícios e ganhos coletivos que resultarão, de maneira não-
diversas posições estruturais, como por exemplo, o capital e trabalho assalariado, para
Estas ponderações, quanto à ação coletiva, vai ao encontro das idéias sobre o capital
social, e as possibilidades que ele fornece para a solução dos dilemas acerca da
participação ou não participação na vida social. O capital social não abandona a força da
estrutura, mas prega a efetiva atuação dos indivíduos nas questões referentes à
ação coletiva. Assim, podemos destacar algumas dúvidas levantadas quanto a real
eficácia do conceito.
Outro aspecto levantado pelos críticos, e talvez mais procedente, está na omissão,
voluntária ou não, dos efeitos perversos que o próprio capital social pode vir a produzir.
Muitos exemplos podem ser dados, como os dos estados totalitários, o da máfia, o da NX
NOX[NODQ, o dos VNLQKHDGV, dentre outros exemplos. Grupos marginais podem também
sociais, políticas e educacionais podem influenciar diretamente nos tipos e objetivos das
ações dos grupos. Tal discussão perpassa pela filosofia e pela definição do que seja o
Uma terceira crítica, mais direcionada a Putnam, está em sua “obsessão” em relacionar
o capital social com a cultura cívica; de modo que outras formas de capital social
e ao atraso econômico permanente, pois não percebe que grande parte dos problemas da
regimes autoritários.
fenômeno do capital social e de suas conseqüências, como também percebem que não é
só a ausência de capital social que pode causar danos às comunidades, mas o próprio
excesso, que acaba produzindo ganhos sociais, econômicos e políticos. Estes ganhos
fazem com que as pessoas não participem, pois os dilemas já estão praticamente
de participação cívica.
Enfim, o conceito de capital social ainda está em construção, como também ele está
aberto e cheio de lacunas que, algumas vezes, o deixa mais fragilizado. Mas, como
mais para as soluções dos dilemas da ação coletiva. Além disso, faz-se necessário maior
&DSLWDOVRFLDOHYLROrQFLD
teóricos a respeito deste assunto, propõe-se aqui uma discussão mais próxima da
58
A apresentação destes estudos permite ilustrar o princípio que norteia esta pesquisa,
que tem, como um dos seus objetivos, identificar a correlação entre o volume de capital
(678'2$±6RFLDO&DSLWDO,QFRPH,QHTXDOLW\DQG)LUHDUP9LROHQW
&ULPH±.HQQHG\%HWDO
Este primeiro estudo tem como objetivo correlacionar a criminalidade violenta com a
diferença entre ricos e pobres produz na coesão social, aqui tratada de capital social, e
Para a medição do capital social, foi produzido um questionário baseado nas teorias de
do F.B.I.
grau de pobreza não é suficiente e o resultado global não é satisfatório. Não há,
Os autores alertam que não são contra investimentos em áreas pobres da cidade, mas
destacam que, mais importante que isto e, também, mais importante que políticas de
já que eles encontraram uma forte correlação entre capital social, distribuição de renda e
Tendo uma comunidade com uma alta coesão social e um sentimento de cooperação é
(VWXGR%±1HLJKERUKRRGVDQG9LROHQW&ULPH$0XOWLOHYHO6WXG\RI
&ROOHFWLYH(IILFDF\±6DPSVRQ5HWDO
O segundo estudo tem como hipótese a eficácia coletiva, definida aqui como coesão
social entre vizinhos, combinado com a boa vontade em participar das ações
60
demográficas individuais.
O estudo trata o controle social como a capacidade do grupo em regular seus membros
análises realizadas pela pesquisa, é ela ( a comunidade) que responde pelo bem-estar da
população; quando não há ou quando são reduzidos, os serviços públicos essenciais para
problemas coletivos da comunidade. Assim, mais uma vez, aspectos como confiança e
para a implementação do capital social e, neste caso, o capital social como instrumental
1RYDVWHQGrQFLDVGDDQiOLVHGDFULPLQDOLGDGH
De acordo com Beato Filho (1997), a análise espacial da criminalidade tem uma longa
Beato Filho, 1997) percebem uma tendência nas grandes cidades americanas onde a
a ocorrência de delitos. Evans (1995), Murray (1995) e Eck (1997) têm trabalhado na
criminalidade; já Messner (1980), Loftin e Hill (1974) e Blau e Blau (1982) procuram
Para Beato Filho (1997), ³D OLWHUDWXUD VREUH SROtWLFDV S~EOLFDV GH FRPEDWH D
FRQWH[WRVHVSHFtILFRVGHVXDRFRUUrQFLD´ (p.2).
15
Para uma discussão pormenorizada acerca das matizes sociológicas para a interpretação do fenômeno da
62
&$3Ë78/2
0(72'2/2*,$
$VSHFWRVUHOHYDQWHVSDUDDGHILQLomRGRFDSLWDOVRFLDO
capital social que foram utilizados na construção do questionário. Estes aspectos foram
eleitos a partir dos diversos trabalhos sobre o capital social produzidos nos E.U.A e
(1988/1990).
violência e criminalidade ver o texto de Luiz Antônio Paixão, &ULPH'HVYLRH6RFLRORJLD, mimeo ,(1990).
63
livremente. Deve-se destacar que o capital social não pode ser generalizado como sendo
5HFLSURFLGDGHA reciprocidade prevista pelo capital social não pode ser comparada à
pura troca econômica ou a um contrato de negócios, mas deve ser percebida como uma
para outros ou age em benefício de outros tendo um custo pessoal; mas, a expectativa
geral, é que sua ação produza um bônus, podendo ser resgatado quando houver
H[SHFWDWLYD TXH DSDUHFH GHQWUR GH XPD FRPXQLGDGH UHJXODU KRQHVWD H FRP XP
UHSUHVHQWDU TXHVW}HV SURIXQGDV HP UHODomR j RULJHP GR EHP RX GD MXVWLoD RX SRGHP
HVWDUUHODFLRQDGDVDRVFyGLJRVGHFRPSRUWDPHQWR´(Fukuyama,1995,p.26).
Para Misztral (1996), confiança envolve elos familiares, vínculo de amizades e crenças
e valores comuns que, em conjunto, produz uma colaboração em nível coletivo sem a
talvez por uma falha na estrutura formal da sociedade que não acompanha as mudanças
sociais produzidas pela modernidade. Geralmente, as normas sociais não são escritas
mas, são entendidas e compreendidas por todos ou, pelo menos, pela grande maioria que
com Reno, Cialdini e Kallgreen (1993) a consolidação das normas sociais podem gerar
(1996[1993]) afirmam que, em comunidades com um alto grau de capital social, temos
públicas formais. Para Fukuyama (1995), comunidades com baixo grau de confiança e
poucas normas sociais as ações são realizadas apenas nos sistemas formais que, via de
motivado a agir mas, não por um sentimento utilitarista de interesse próprio em busca
sociabilidade, normas e reciprocidade produz uma comunidade forte, criando uma rede
de relações com um profundo grau de recursos comunitários que são utilizados por
todos na busca do bem comum. Como aponta Onyx e Bullen (1997), onde o HWKRVda
65
pessoais e coletivas. O desenvolvimento do capital social requer ação e boa vontade dos
capital social ) mas o capital social refere-se ao indivíduo como criador e não como uma
vítima.
$&RQVWUXomRGRTXHVWLRQiULR
postas, visto que é um conceito relativamente novo e sem muitos estudos realizados, o
testou e aprovou um questionário para medida de capital social (Onyx e Bullen, 1997).
Coleman(1990).
foram feitas a partir de uma escala de 1 a 4, onde o menor valor representava uma
discordância total e o maior valor uma concordância total com a situação colocada.
1997. Para a análise dos dados foram utilizados os programas SPSS e Statistica; a
seleção destes dois programas teve como objetivo identificar os elementos de capital
trabalho.
67
Utilizando da análise denominada rotação ortogonal, onde cada fator é analisado como
relações entre os fatores $ ± ', & ', ( ± +; acima de .40. Os índices obtidos
correlação representativa das perguntas com os fatores de capital social. Após este
objetivo.
Pesquisas René Rachou, Belo Horizonte (MG) da Fundação Oswaldo Cruz e a Escola
semelhante. O projeto incluiu quatro áreas, sendo: Brasil ( Belo Horizonte e Rio de
pesquisas em conjunto na área de saúde dos três países. (Ferreira-Pinto HWDO, 2001)
16
Número arredondado, já que em algumas localidades ouve uma pequena variação nesta divisão. (Ver
68
levantamento realizado nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, assim como no
instrumento, seja através do entendimento das questões por parte da população, seja
em Saúde (LABES).
Para ilustrar tais conclusões , demonstraremos alguns dados produzidos pelo pré-teste
(76%), mas quando indagados sobre a sua própria participação nos problemas da
onde moram, apenas 20% e 29%, respectivamente, dado relevante, já que, é no espaço
mais próximo das pessoas, a cidade e o bairro, onde se constrói e potencializa o Capital
Algumas questões foram excluídas por estarem distantes da realidade brasileira, outras
entendimento esperado.
70
Com estas ressalvas e com o acréscimo dos itens relacionados com a questão da
(anexo1)17
2SODQHMDPHQWRDPRVWUDO
de informações fornecidas pelas polícias militar e civil de Minas Gerais, pela Fundação
João Pinheiro, prefeitura municipal de Belo Horizonte, IBGE, dentre outros; o banco de
dados da Urbel é fornecido pelo IBGE e por pesquisas próprias na área de habitação.
espaços urbanos de Belo Horizonte com taxas de criminalidade violenta18 distintas. Esta
opção deveu-se a nossa expectativa de detectar a influência do capital social nas taxas
de criminalidade.
Para a escolha das duas comunidades a serem trabalhadas, utilizamos os dados sobre a
17
O disco foi desenvolvido para evitar desvios por prioridade de ordens.
18
A criminalidade violenta abrange diversos tipos de delito, sendo eles: homicídio, homicídio tentado,
(crimes contra pessoa) roubo, roubo a mão-armada, (crimes contra patrimônio); no banco de dados do
Crisp, o estupro e o roubo de veículos não são trabalhados, (mesmo pertencendo a categoria da
criminalidade violenta), porque a coleta dos dados não é confiável.
71
dos delitos a cada raio de 200 metros, produzindo assim os nichos de criminalidade em
Belo Horizonte.(anexo 2)
$VFRPXQLGDGHVHVFROKLGDV
Vila Novo Ouro Preto , localizada na regional Pampulha. A escolha das duas
Outro fator que ponderou a escolha foi a relativa facilidade de acesso às vilas. Por meio
200
150
100
50
0
Vila C afezal Vila Nov o O uro Preto
&ULVS8)0*
72
&DUDFWHUL]DomR+LVWyULFD
9LOD&DIH]DO
vilas (Vila Cafezal, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora Aparecida, Nossa
Senhora da Conceição, Vila Marçola, Novo São Lucas e Fazendinha) que formam a
O aglomerado da serra faz divisa com diversos bairros de Belo Horizonte, como: Serra,
São Lucas, Santa Efigênia, Paraíso e Novo São Lucas; também faz divisa com o Parque
das Mangabeiras e o Hospital da Baleia. Apesar desta limitação geográfica, sua área de
Segundo a Fundação João Pinheiro, a ocupação da Vila Cafezal foi planejada por
ficaria responsável pela escolha das pessoas que ocupariam a área, por dar nomes às
ruas e entregar os lotes àqueles escolhidos. Apenas em 1981 que o poder público entrou
melhorias urbanas; neste mesmo período foi fundada a associação dos moradores que
19
Programa de Desenvolvimento de Comunidades/ Secretaria Estadual de Planejamento.
73
hoje, a Vila Cafezal conta com um centro de saúde, uma escola estadual de ensino
9LOD1RYR2XUR3UHWR
A Vila Novo Ouro Preto situa-se dentro dos limites do bairro Ouro Preto, na regional
A situação da vila é de risco, tendo cerca de 48% das habitações em situação de risco
destes equipamentos ocorre no bairro Ouro Preto, que oferece duas escolas municipais,
20
Dados fornecidos pela Urbel.
74
potencializado pela total falta de espaço físico compatível para uma ocupação segura,
visto que as áreas livres têm mais de 47% de clivagem; consideradas impróprias para
edificações.
'HILQLomRGDDPRVWUD
A amostra foi calculada tendo, como base, a população maior de 18 anos, foco de nossa
pesquisa. A amostra da Vila Cafezal foi fixada em 130 pessoas e da Vila Novo Ouro
Preto, em 100 pessoas, com uma margem de erro de 3,46% sob o nível de confiança de
95%. Isto significa que em 100 estimativas amostrais, 95 delas estarão compreendidas
dentro do intervalo de confiança, podendo variar em 5% para mais ou para menos, com
Após definirmos o número de entrevistados, optamos por cotificar a amostra por faixa
'LVWULEXLomR(WiULDGD3RSXODomR
75
Temos consciência de que a amostra por cota não garante a mesma representatividade
da amostra aleatória, mas esta escolha se deveu pelos parcos recursos para a realização
mundial de 50% para cada sexo, a distribuição dos questionários entre homens e
'LVWULEXLomRGD$PRVWUDSRU*rQHURH)[(WiULD
1VDEVROXWRV
9LOD&DIH]DO 9LOD1RYR2XUR3UHWR
)[(WiULD 0DVFXOLQR )HPLQLQR 0DVFXOLQR )HPLQLQR
18-24 19 20 12 11
25-35 19 20 19 19
36-55 19 20 12 13
Mais de 55 6 7 7 7
Total 63 67 50 50
,%*(
aleatório probabilístico simples dos domicílios para abranger de maneira mais completa
problemas da amostragem por cotas. Caso no domicílio sorteado não houvesse pessoas
76
Para realizar o campo na Vila Novo Ouro Preto, fizemos um contato com da ONG
contato foi realizado sem maiores complicações, sendo a referida senhora nossa guia
por alguns dias no trabalho de campo. A aplicação dos questionários foi realizada pelo
trabalhos comunitários na vila. Estas pessoas nos apresentaram a região e alguns de seus
O campo foi realizado pelo autor deste trabalho, que contou com a ajuda de três
&$3Ë78/2
$1È/,6('26'$'26
Este capítulo apresenta uma análise do banco de dados construído a partir da coleta das
informações na Vila Novo Ouro Preto e Vila Cafezal. Esta análise está baseada em
procedimentos estatísticos utilizados por outros autores que têm usado instrumentos de
Dividiremos este tópico em duas partes: a primeira consistirá em uma análise descritiva
dos dados, onde são apresentados as tendências obtidas para cada vila e ao mesmo
que é amplamente usado para variáveis nominais, e a significância. A partir deste ponto,
análise está baseada em estudos realizados na Austrália e E.U.A, por Bullen & Onyx e
$QiOLVH'HVFULWLYD
±'DGRVGHPRJUiILFRVHVyFLRHFRQ{PLFRV
78
A variável ocupação foi agregada em dois tipos básicos; classificados como atividade
Na Vila Novo Ouro Preto, 59% das pessoas entrevistadas realizavam algum tipo de
trabalho remunerado, enquanto na Vila Cafezal estavam 37,6% ocupadas. Quanto aos
Vila Novo Ouro Preto e na Vila Cafezal. Uma grande diferença é observada na
população sem rendimento; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 34% dos
Outra variável que agregamos foi a renda. Na Vila Cafezal 75,4% dos entrevistados têm
renda de até 4 salários mínimos; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 81% dos
Vila Cafezal e 17% na Vila Novo Ouro Preto; acima de 10 salários mínimos temos
21
Esta taxa é bastante alta para os padrões médios brasileiro. Acreditamos ser necessário uma
desagregação nos dados para que possamos saber, na real medida, o comportamento ocupacional destas
populações; como por exemplo: se recebe ajuda financeira de alguém; se é mantido pelo cônjuge; etc.
79
A variável educação também foi agregada, tendo sido encontrado na Vila Cafezal
27,7% de analfabetos e pessoas que só assinam o nome; 48,5% de pessoas com até a 4ª
série completa, 20,7% de pessoas com até a 8ª completa e 3,1% com até o 2º grau
completo; na Vila Novo Ouro Preto encontramos 10% de analfabetos, 43% de pessoas
com até a 4ª série completa, 37 % com até a 8ª completa e 10% com até o 2º grau
completo. O que nos chama a atenção com relação a esses fatores são os extremos da
distribuição: encontramos uma correlação inversa entre a Vila Cafezal e a Vila Novo
Ouro Preto; enquanto temos uma taxa alta de analfabetismo na Vila Cafezal, temos uma
taxa bem menor na Vila Novo Ouro Preto, quando observamos a presença de pessoas
com escolaridade de 2º grau; há uma inversão em favor da Vila Novo Ouro Preto. Este
comportamento aponta para os dados levantados pelo Crisp; onde observa-se uma
Vila Cafezal.
7$%(/$±7HPSRGH0RUDGLDSRU&RPXQLGDGH
7$%(/$±7LSRGH0RUDGLDSRU&RPXQLGDGH
Oitenta por cento dos moradores da Vila Novo Ouro Preto são proprietários das casas
onde moram, o restante, 20%, alugam ou tem a casa cedida; na Vila Cafezal 70,8% são
proprietários dos imóveis onde residem e 29,2% aluga ou tem a casa cedida.
7$%(/$±(VWDGR&LYLOSRU&RPXQLGDGH
Aqui temos uma preponderância de pessoas casadas na Vila Novo Ouro Preto, 57%,
contra 44,6% na Vila Cafezal; temos ainda na Vila Cafezal uma superioridade de
respectivamente na Vila Novo Ouro Preto. Esta tendência remete a Durkheim, que em
sua obra “O Suicídio” (1996[1897]), apontava para a inserção mais familiar como uma
das causas de uma maior estabilidade social. Evidentemente que não podemos daí
81
delitos, mas com certeza essa ausência de obrigações familiares e conjugais acaba
facilitando a exposição das pessoas nas ruas, o que as deixam mais próximas de
possíveis conflitos.
7$%(/$±$3UHVHQoDGH)LOKRVSRU&RPXQLGDGH
Esta tabela aponta para uma distribuição equitativa nas duas vilas; como nos mostra a
Em síntese, a Vila Novo Ouro Preto apresenta melhores condições de renda, emprego e
'DGRVVREUHFDSLWDOVRFLDO
Assim, dividiremos em seis tópicos as medidas de capital social, para melhor visualizar
Serão eles:
3. Comportamento cívico;
6HQWLPHQWRVGHFUHGLELOLGDGHHFRQILDQoDQDYL]LQKDQoD
7$%(/$±4XDOpDVXDRSLQLmRVREUHDVHJXLQWHDILUPDWLYD³1yVSRGHPRV
FRQILDUQDVSHVVRDVTXHPRUDPDTXLQDYL]LQKDQoD´
Esta tabela nos mostra claramente que, em relação à credibilidade nos vizinhos, o
comportamento dos moradores das duas vilas é distinto; 75% dos entrevistados na Vila
Novo Ouro Preto concordam ou concordam muito com a afirmativa que diz que os
moradores são confiáveis contra apenas 27,7% dos moradores da Vila Cafezal, uma
7$%(/$±&RPRYRFrVHVHQWHDRDQGDUQDVUXDVGHVHXEDLUURDSyVWHU
HVFXUHFLGR"
vila. Dos moradores da Vila Novo Ouro Preto, 64% , acreditam ser a vila um lugar
seguro, contra 11,5% dos moradores da Vila Cafezal. Destacamos que cerca de 42,3%
dos moradores da Vila Cafezal não souberam precisar se a região era segura ou não.22
7$%(/$±$OJXPDVSHVVRDVGHVWHEDLUURGLVVHUDPTXHYLYHUDTXLpFRPRVH
HVWLYHVVHHPFDVD2TXHYRFrDFKDGHVWDRSLQLmR"
Vila Concordo Concordo Concordo Não N/S Total
Muito Pouco Concordo
22
Este comportamento revelou-se uma alternativa "diplomática" para responder sobre as questões de
segurança da Vila Cafezal. De maneira mais objetiva notamos que esta forma de responder tinha como
fim a isenção; embora temos 46,2% de pessoas que responderam que a Vila Cafezal não é um lugar
seguro.
84
dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto, 78%, afirmaram ser a região bastante
acolhedora, (agrupando quem concorda muito e concorda), ao passo que na Vila Cafezal
eles representam 37,7%. Destacamos que 62,3% dos respondentes da Vila Cafezal
estivesse em casa; o que nos remete a um cenário muito hostil da vila. A correlação 3KL
&UDPHU
V e significância encontrada foi respectivamente 0,501 e 0,000. Mais uma vez
que consideramos indicador de confiança, 70% dos pesquisados na Vila Novo Ouro
Preto emprestariam, contra 37,7% na Vila Cafezal. Destacamos que na Vila Cafezal
seja, de acordo com as falas dos próprios moradores, dependeria muito da pessoa que
85
encontrada foi respectivamente 0,364 e 0,000. Mais uma vez obtemos uma forte
correlação.
7$%(/$±6HDiJXDGHVHXYL]LQKRDFDEDUHHOHSUHFLVDUGHWRPDUXPEDQKR
YRFr GHL[DULDHOHXVDUVHXEDQKHLUR"
Ao colocarmos outra situação para medir a confiança nos vizinhos, mais uma vez os
respondentes da Vila Novo Ouro Preto mostram-se mais confiante, com 83%
&RQH[}HVFRPDYL]LQKDQoD
86
vilas entrevistadas. Assim sendo, mais uma vez colocamos situações cotidianas para
7$%(/$±9RFrFRVWXPDFRQYHUVDUFRPVHXVYL]LQKRV"
Na tabela 10, observamos que 49% dos moradores da Vila Novo Ouro Preto sempre
conversam com os vizinhos, ao passo que na Vila Cafezal apenas 26,2% dos
entrevistados fazem o mesmo; 36.9% na Vila Cafezal e 36% Na Vila Novo Ouro Preto
Moradores que raramente ou nunca conversam com seus vizinhos são 37% na Vila
7$%(/$±2TXHYRFrDFKDGDRSLQLmRGHTXHRVYL]LQKRVGHVWHEDLUURVmR
PXLWRSUHVWDWLYRVTXDQGRYRFrRXRXWURPRUDGRUGDTXLSUHFLVDGHOHV"
49 102 61 18 230
Total
21,3% 44,3% 26,5% 7,8% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
moradores das vilas estudadas. Enquanto na Vila Novo Ouro Preto 83% concordam ou
concordam muito com aquela opinião, na Vila Cafezal 52,3% concordam ou concordam
muito. Apesar da maioria na Vila Cafezal concordar, quando comparamos com a Vila
Novo Ouro Preto, a diferença é bastante grande. Da mesma forma notamos uma grande
diferença nos dados que demostram a pouca concordância ou a não concordância com a
afirmativa destacada pela tabela 12. Enquanto 17% das respostas da Vila Novo Ouro
Preto vão nesta direção, na Vila Cafezal temos 47,7%; mais uma vez a diferença é
7$%(/$±2TXHYRFrDFKDGDVUHODo}HVHQWUHRVYL]LQKRVGHVHXEDLUUR"
Preto, elas são muito boas ou boas para 77% dos respondentes, enquanto apenas 33,9%
dos respondentes da Vila Cafezal acham as relações entre os vizinhos boas ou muito
boas. No outro extremo, 20,8% dos respondentes da Vila Cafezal acham as relações
entre os vizinhos ruins ou péssimas, contra 6% dos respondentes da Vila Novo Ouro
para a variável da tabela 12, mais uma vez indicando uma diferença significativa entre
as duas vilas.
&RPSRUWDPHQWRFtYLFR
fundamental para a produção de capital social Na tabela número 13, 63,0% dos
associação, seja ela local ou não. Na Vila Cafezal apenas 38,5% dos respondentes
7$%(/$±9RFrSDUWLFLSDGHDOJXPDRUJDQL]DomRRXFOXEHORFDOFRPRSRU
H[HPSORWLPHGHIXWHERODVVRFLDomRGHEDLUURLJUHMDHWF"
Vila Sim Não Total
50 80 130
Cafezal
38,5% 61,5% 100,0%
63 37 100
Novo Ouro Preto
63,0% 37,0% 100,0%
113 117 230
Total
49,1% 50,9% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
7$%(/$±9RFrFRVWXPDSDUWLFLSDUGDVUHXQL}HVGDDVVRFLDomRFRPXQLWiULDGH
VHXEDLUUR"
Ouro Preto, 39%23 dos respondentes afirmaram participar freqüentemente das reuniões;
ao passo que 46,2% dos respondentes da Vila Cafezal afirmaram nunca participar das
encontrada: 3KL&UDPHU
V 0,562 e significância 0,000.
7$%(/$±1RV~OWLPRVWUrVDQRVYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWRGDVXD
FRPXQLGDGH"
Vila Sim Não Total
37 93 130
Cafezal
28,5% 71,5% 100,0%
86 14 100
Novo Ouro Preto
86,0% 14,0% 100,0%
123 107 230
Total
53,5% 46,5% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
da vila; notamos, mais uma vez, que a comunidade da Vila Novo Ouro Preto é mais
23
Devemos destacar que a porcentagem que participa das reuniões freqüentemente na Vila Novo Ouro
Preto nos surpreendeu; pois de acordo com um artigo publicado no jornal O Tempo, de Belo Horizonte,
de autoria do cientista político Fábio Wanderley Reis, é notória a baixa participação dos moradores na
associação de bairro no Brasil. Para avaliar esta controvérsia seria necessário uma avaliação das atas das
um trabalho de conscientização dos moradores da Vila Novo Ouro Preto, no sentido de reciclar o lixo e
cuidar das nascentes presentes na região; que é uma das formadoras da bacia da Pampulha. Acreditamos
ser esta a principal causa do alto índice de participação da comunidade em projetos sociais.
90
7$%(/$±(PDOJXPPRPHQWRGDVXDYLGDYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWR
SDUDPHOKRUDUDVXDYL]LQKDQoD"
aumento na participação nas duas vilas; 33,1% na Cafezal e 91% na Novo Ouro Preto.
significativa.
&RPSRUWDPHQWRGLDQWHGDYLROrQFLDHFULPLQDOLGDGH
7$%(/$±6HYRFrYHUXPFULPHDFRQWHFHQGRHPVXDYL]LQKDQoDYRFrFKDPDD
SROtFLD"
76 93 53 5 3 230
Total
33,0% 40,4% 23,0% 2,2% 1,3% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Ao observarmos a tabela acima, notamos uma forte tendência dos respondentes da Vila
Novo Ouro Preto em denunciar para a polícia os crimes que porventura lá aconteçam:
41%; e 31% ponderam a possibilidade de acionar a polícia. Na Vila Cafezal 26,9% dos
polícia militar e civil. A correlação estatística desta variável foi 0,306 3KL&UDPHU
V e
0,000 significância, revelando mais uma vez uma diferença significativa entre as duas
comunidades estudadas.
7$%(/$±$OJXPDYH]HPVXDYLGDYRFrMiOLJRXSDUDDSROtFLDSDUDGHQXQFLDU
DOJXPFULPH"
tabela 17, onde temos uma possível tomada de atitude dos respondentes. A porcentagem
de pessoas que acionaram a polícia cai drasticamente. Tanto na Vila Novo Ouro Preto
como na Vila Cafezal é notória a baixa atitude real diante do crime; mesmo assim,
temos que na Vila Novo Ouro Preto a porcentagem é maior que na Vila Cafezal; 27% e
92
0,000.
7$%(/$±2VFULPHVTXHDFRQWHFHUDPHPVHXEDLUURIRUDPFRPHWLGRVSRU
SHVVRDVGDVXDSUySULDYL]LQKDQoD"
Às
vezes
Vila Sim Não sim, às N/S N/R Total
vezes
não
24 58 26 10 12 130
Cafezal
18,5% 44,6% 20,0% 7,7% 9,2% 100,0%
Novo Ouro Preto 54 26 15 5 100
54,0% 26,0% 15,0% 5,0% 100,0%
78 84 41 15 12 230
Total
33,9% 36,5% 17,8% 6,5% 5,2% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
A tabela 19 procura destacar a percepção dos moradores quanto a autoria dos crimes na
região onde moram. Mais uma vez há uma diferença comportamental entre as vilas. Na
Vila Novo Ouro Preto 54% dos respondentes afirmaram que os delitos foram cometidos
pelos próprios moradores; na Vila Cafezal apenas 18,5% são da mesma opinião. Um
destaque a ser levantado refere-se à relutância em responder a tal questão. Quase 17%
dos entrevistados da Vila Cafezal responderam não saber ou não responderam, contra
5% dos respondentes da Vila Novo Ouro Preto.25 A correlação encontrada foi 3KL
&UDPHU
V0,401 e significância 0,000, mais uma vez com uma alta significação.
25
Tal fato pode ser explicado pela lei do silêncio em vilas e favelas, quando o assunto é criminalidade.
Quando aplicamos o questionário na Vila Cafezal, percebemos um tom de ironia quando os moradores
diziam que não eram os seus vizinhos que cometiam crimes ocorridos na região. Aqui não há a intenção
de relacionar pobreza e crime, muito menos reproduzir o preconceito contra os moradores e vilas e
favelas, dizendo que são marginais; mas de acordo com relatos policiais, os delitos na Vila Cafezal,
principalmente contra a pessoa, são cometidos por moradores da região; principalmente quando a questão
do tráfico é colocada em jogo. Assim, acredito que os dados da tabela 19 estejam deturpados, retratando,
na realidade, uma preocupação de sobrevivência dos moradores. Uma pesquisa em andamento no Crisp,
sob coordenação do prof. Cláudio Beato, aponta para uma proximidade espacial entre a vítima e
criminoso (no caso, homicídios),principalmente nas vilas e favelas, este fato corrobora as nossas dúvidas,
principalmente no caso da Vila Cafezal, onde os moradores negaram as autorias dos delitos aos vizinhos.
93
7$%(/$ ± 9RFr GRDULD XPD TXDQWLD HP GLQKHLUR SDUD WHU PDLV VHJXUDQoD H
WUDQTLOLGDGHHPVHXEDLUUR"
etc. Podemos ver que na Vila Novo Ouro Preto, 52% dos respondentes estariam
dispostos a contribuir com alguma participação pecuniária para ter mais segurança na
região Na Vila Cafezal a opinião é mais dividida, 39,2% concordam em contribuir, mas
3DUWLFLSDomRIDPLOLDUQDHGXFDomRGRVILOKRV
filhos, sendo que os respondentes sem filhos ou com filhos já adultos não responderam
26
Muitos entrevistados na Vila Cafezal alegaram falta de dinheiro, desconfiança no Estado e na polícia,
para se negarem a contribuir para a segurança; na Vila Novo Ouro Preto também houve estas indagações,
mas estão dispostos a contribuírem financeiramente para conter o avanço da violência, os moradores desta
vila parecem temer mais a consolidação da violência na região, o que poderia ser uma explicação para tal
comportamento; já na Vila Cafezal há, historicamente, um convívio mais próximo com a violência, o que
pode produzir um comportamento mais conivente com as atitudes violentas, diria mesmo uma
reestruturação social para o convívio com a violência; um processo de adaptação.
94
participação familiar na escola vai ao encontro da idéia de que as pessoas têm uma
vida melhor. De acordo com Putnam (2000), há uma correlação entre educação e
7$%(/$±9RFrFRVWXPDLUjVUHXQL}HVGDHVFRODGHVHXVILOKRV"
Não
Vila Sempre Às Rara- Nunca se Total
vezes mente aplica
45 31 10 6 38 130
Cafezal
34,6% 23,8% 7,7% 4,6% 29,2% 100,0%
32 25 8 3 32 100
Novo Ouro Preto
32,0% 25,0% 8,0% 3,0% 32,0% 100,0%
77 56 18 9 70 230
Total
33,5% 24,3% 7,8% 3,9% 30,4% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
reuniões da escola dos filhos. Na Vila Cafezal temos 34,6% dos respondentes que
sempre comparecem nas reuniões, e na Vila Novo Ouro Preto 32%. Com um menor
respondentes na Vila Novo Ouro Preto. A baixa participação nas reuniões escolares foi
representada por 4,6% dos respondentes da Vila Cafezal e 3% dos respondentes da Vila
27
É fato que no Brasil, como um todo, é muito baixo o números de anos que as pessoas passam na escola,
cerca de 4,7 anos em média, de acordo com o IBGE; apesar disto acreditamos que o comportamento das
pessoas em relação à educação, apesar dos diversos motivos que a impediram de estudar, é relevante para
a produção do capital social.
95
7$%(/$±9RFrFRVWXPDDMXGDUVHXVILOKRVQDVWDUHIDVHVFRODUHV"
Não
Vila Freqüen- Às Rara- Nunca se Total
temente vezes mente aplica
39 34 9 10 38 130
Cafezal
30,0% 26,2% 6,9% 7,7% 29,2% 100,0%
36 22 6 4 32 100
Novo Ouro Preto
36,0% 22,0% 6,0% 4,0% 32,0% 100,0%
75 56 15 14 70 230
Total
32,6% 24,3% 6,5% 6,1% 30,4% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Na tabela 22, continuamos a analisar a postura dos respondentes diante das exigências
escolares dos filhos. O comportamento das duas vilas foi bastante semelhante; sendo
que mais de 50% dos respondentes ajudam os filhos na realização das tarefas
7$%(/$±9RFrGHL[DULDGHFRPSUDUXPDWHOHYLVmRRXXPDURXSDQRYDSDUD
LQYHVWLUQDHGXFDomRGHVHXVILOKRV"
28
Apesar do baixo nível de escolarização dos pais, elas procuram ajudar os filhos na realização das
tarefas escolares, se não diretamente, procuram alternativas como aulas de reforço junto aos filhos mais
velhos ou vizinhos.
96
Esta tabela é bastante interessante, pois coloca à prova a relação entre bens materiais e
bens culturais. Na Vila Novo Ouro Preto, a totalidade dos respondentes abririam mão de
algum conforto para propiciar uma educação melhor para seus filhos, 87,7% dos
respondentes na Vila Cafezal teriam o mesmo comportamento, 8,5% não abririam mão
0,001.
7$%(/$ ± 9RFr FRVWXPD GDU RSLQL}HV H VXJHVW}HV QDV TXHVW}HV UHIHUHQWHV j
HVFRODGHVHXVILOKRV"
Vila
Sim Não Não se Aplica Total
54 38 39 130
Cafezal
41,5% 29,2% 29,2% 100,0%
38 30 32 100
Novo Ouro Preto
38,0% 30,0% 32,0% 100,0%
92 68 70 230
Total
40,0% 29,6% 30,4% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Podemos perceber um comportamento bastante semelhante nas vilas pesquisadas. Em
ambos os casos, temos uma tendência à participação nas diretrizes da escola, mas
questão “não se aplica”. A correlação estatística encontrada foi 0,033 e 0,884 para 3KL
&UDPHU
V e significância respectivamente, atestando não haver diferença significativa
3DUWLFLSDomRQDVTXHVW}HVGDVD~GH
Este tópico foi incluído com o intuito de perceber a participação direta dos entrevistados
questões referentes à saúde, o que para nós demonstra uma preocupação tanto com o
capital social.
7$%(/$±9RFrHVWiRXMiHVWHYHHQYROYLGRFRPDOJXPSURJUDPDFRPXQLWiULR
VREUHVD~GH"
relacionados à saúde é bastante baixa; a Vila Cafezal conta com apenas 9,2% dos
respondentes, e a Vila Novo Ouro Preto com 27%. Apesar de considerarmos esta
participação baixa, a Vila Novo Ouro Preto , em relação a Vila Cafezal, tem uma
participação bem superior29. A correlação estatística encontrada foi 0,235 para 3KL
&UDPHU
V e 0,000 de significância.
63,8% dos respondentes da Vila Cafezal, a população local ajuda nas campanhas de
29
conscientização da comunidade em relação ao lixo doméstico. Esta ONG está presente na vila há mais de
4 anos, o que justifica, em nossa análise, uma maior participação dos moradores da Vila Novo Ouro Preto
em programas comunitários de saúde. Devemos ainda destacar que os governos municipal, estadual e
federal, não realizam, em
Belo Horizonte pelo menos, programas sistemáticos na área de saúde, o que dificulta, ainda mais, uma
grande mobilização popular em prol de uma melhor saúde.
98
combate e prevenção às doenças; na Vila Novo Ouro Preto 84%31 dos respondentes
prevenção à doenças. 32
7$%(/$ ± 1D VXD RSLQLmR RV PRUDGRUHV GHVWH EDLUUR SDUWLFLSDP GDV
FDPSDQKDV GH FRPEDWH jV GRHQoDV FRPR SRU H[HPSOR D GHQJXH H D IHEUH
DPDUHOD"
Vila Sim Não N/S Total
83 44 3 130
Cafezal
63,8% 33,8% 2,3% 100,0%
84 14 2 100
Novo Ouro Preto
84,0% 14,0% 2,0% 100,0%
167 58 5 230
Total
72,6% 25,2% 2,2% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
7$%(/$±4XDQGRYRFrHVWiGRHQWHRTXHYRFrQRUPDOPHQWHID]SDUDWUDWDU"
30
números da Vila Novo Ouro Preto. No contato com a população local e com as lideranças locais,
observamos uma real preocupação com a qualidade de vida local, principalmente em relação ao que fazer
com lixo e esgoto. De acordo com os técnicos da URBEL, a comunidade local é realmente participativa e
preocupada com os rumos da vila.
32
Apesar que na Vila Cafezal 33,8% dos respondentes acreditem que a população local não participa das
campanhas de prevenção e combate às doenças, as taxas positivas são bastante expressivas, o que nos faz
crer que se houvesse campanhas mais efetivas do poder público em envolver a população nos projetos
sociais, poderíamos ter respostas satisfatórias para os problemas que estão postos na realidade brasileira.
99
80 15 4 1 100
Novo Ouro Preto
80,0% 15,0% 4,0% 1,0% 100,0%
173 40 13 4 230
Total
75,2% 17,4% 5,7% 1,7% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
De acordo com os dados da tabela 27, temos um comportamento bastante parecido entre
os dois universos pesquisados; a grande maioria dos respondentes nas duas vilas utiliza
o serviço público de saúde: 71,5% na Vila Cafezal e 80% na Vila Novo Ouro Preto. Um
nas duas vilas para encontrar a cura para algum mal físico; 26,1% na Vila Cafezal e
19% na Vila Novo Ouro Preto. A relação estatística encontrada neste cruzamento foi
7$%(/$±3DUDYRFrTXDOpDSULQFLSDOFDXVDGDYLROrQFLDHPVHXEDLUUR"
Desem Falta
Vila Drogas Álcool prego Pobre- de N/S Total
za estudo
Cafezal 89 19 17 3 2 130
68,5% 14,6% 13,1% 2,3% 1,5% 100,0%
58 31 8 1 2 100
Novo Ouro Preto
58,0% 31,0% 8,0% 1,0% 2,0% 100,0%
147 50 25 3 3 2 230
Total
63,9% 21,7% 10,9% 1,3% 1,3% 0,9% 100,0%
3HVTXLVD&DSLWDO6RFLDO
Como era de se esperar, para a população das duas vilas estudadas, a grande causa da
violência são as drogas; a percepção é mais intensa na Vila Cafezal (68,5%), onde, de
acordo com relatos policiais, as drogas estão instaladas há muito tempo e há o problema
crônico do tráfico de drogas, na Vila Novo Ouro Preto temos 58%. É interessante notar
Novo Ouro Preto ele é causador da violência para 31% dos respondentes, contra 14,6%
Preto. Não há, por parte dos respondentes, uma relação entre anos de estudo e violência,
criminalidade violenta nas favelas de Belo Horizonte, como podemos ver no gráfico
abaixo:
7D[DGHDQDOIDEHWLVPRSRUWLSRGHIDYHOD
11,9
1tYHOGHYLROrQFLD
Não Violentas
23
Violentas
12,7
Todas
0 5 10 15 20 25
3HUFHQWXDOPpGLRVLJ
Crisp/UFMG - 2001
estudadas.
Em síntese, a Vila Novo Ouro Preto mostrou-se mais dotada de características que
pessoas apresentam maior confiança nos vizinhos, no poder público (polícia, sistema de
101
Cafezal, a população parece não apresentar a mesma confiabilidade nos vizinhos, como
no poder público. Apenas quanto ao investimento na educação dos filhos, esta vila
importância da escola.
Diante destas evidências, podemos afirmar que os moradores da Vila Novo Ouro Preto
possuem um investimento maior nas questões que Putnam e Coleman classificam como
cívico dos moradores da Vila Novo Ouro Preto do que os moradores da Vila Cafezal.
$QiOLVHIDWRULDOGRVGDGRV
Destacamos que os fatores não são FOXVWHUV. Os FOXVWHUV são mais concretos,
Eles são definidos levando em consideração uma relativa contiguidade dos pontos no
espaço e não como os fatores que são definidos por sua distribuição nos eixos Y e X, o
definição dos fatores, fica, em média, nos 60% da variância total, índice considerado
seleção das variáveis significativas que irão compor os fatores. Partimos de uma análise
com Hair, Jr HWDO. (1987[1984]), loadings acima de .30 são considerados VLJQLILFDWLYRV,
acima de .40 são PXLWR LPSRUWDQWHV, igual ou maior que .50 são considerados “muito
fator criado.
dados. Para Hair,Jr HWDO (1987[1984]). Numa amostra de tamanho 20 e com 5 fatores,
podemos trabalhar com ORDGLQJV de ± .292; para uma amostra de tamanho 50 e com 5
fatores, podemos trabalhar com ORDGLQJV de ± .267; para uma amostra de 20 variáveis e
.274. A construção dos fatores obedece uma lógica bastante simples a partir da tabela
selecionadas temos a opção de não usar nenhuma definição para o fator. Quando ocorre
uma situação como esta, temos a indicação de que há uma derivação entre as variáveis e
ao mesmo tempo uma indefinição interna do fator. Como ressalta Hair HW DO
103
(1987[1984]), apenas os fatores com relações expressivas entre as variáveis devem ser
interpretados, tal como em estudos anteriores de capital social, nos quais os autores
(Ferreira-Pinto HW DO, 2001, dentre outros) selecionaram apenas os fatores com forte
associação.
programa SPSS que fez o corte no componente com o valor acumulado da variância de
69,924% na Vila Novo Ouro Preto e 74,742% na Vila Cafezal. A seleção das variáveis
para compor os fatores levou em consideração os valores dos ORDGLQJV acima de ± .50,
0pWRGRGH(VWLPDomR&RPSRQHQWHV3ULQFLSDLVURWDomR9DULPD[
9LOD&DIH]DO
)DWRU
/RDGLQJV
Você costuma ajudar seus filhos nas tarefas escolares?
.980
Você costuma dar opiniões e sugestões nas questões referentes à escola de seus filhos?
.979
(% da variância: 14,403)
)DWRU
Como você se sente ao andar nas ruas de seu bairro após ter escurecido?
.885
Algumas pessoas deste bairro disseram que viver aqui é como se estivesse em casa. O
que você acha desta opinião?
.835
104
Qual é a sua opinião sobre a seguinte afirmativa: Nós podemos confiar nas pessoas que
moram aqui na vizinhança.
.516
(% da variância: 11,635)
)DWRU
Nos últimos 3 anos você participou de algum projeto para melhorar a sua
comunidade?.899
Em algum momento da sua vida você participou de algum projeto para melhorar a sua
vizinhança?
.863
(% da variância: 10,398)
)DWRU
O que você acha da opinião de que os vizinhos deste bairro são muito prestativos
quando você, ou outro morador daqui necessita deles?
.776
(% da variância: 8,212)
)DWRU
Você emprestaria dinheiro para algum vizinho que estivesse precisando?
.853
Você acha que a sua vizinhança pode ser classificada como um lugar seguro?
.754
(% da variância: 6,137)
)DWRU
Alguma vez em sua vida você já ligou para a polícia para denunciar algum crime?
.787
(% da variância: 5,603)
)DWRU
105
Os crimes que aconteceram em seu bairro foram cometidos por pessoas da sua própria
vizinhança?
.738
(% da variância: 5,251)
)DWRU
Você está ou já esteve envolvido com algum programa comunitário sobre saúde?
.560
Quando você está doente o que você faz normalmente para se tratar?
.821
(% da variância: 4,651)
)DWRU
Na sua opinião os moradores deste bairro participam das campanhas de combate às
doenças, como por exemplo a dengue e a febre amarela?
.728
Você doaria uma quantia em dinheiro para ter mais segurança e tranqüilidade em sua
comunidade?
.519
(% da variância: 4,342)
)DWRU
Para você, qual é a principal causa da violência em seu bairro?
.884
(% da variância: 4,109)
9LOD1RYR2XUR3UHWR
)DWRU
/RDGLQJV
Você costuma ir às reuniões da escola de seus filhos?
.991
Você costuma dar sugestões nas questões referentes à escola de seus filhos?
.991
(% da variância: 14,399)
106
)DWRU
Você costuma participar das reuniões da associação comunitária de seu bairro?
.693
Em algum momento da sua vida você participou de algum projeto para melhorar a sua
vizinhança?
.905
(% da variância: 11,088)
)DWRU
Como você se sente ao andar nas ruas de seu bairro após ter escurecido?
.509
Os crimes que aconteceram em seu bairro foram cometidos por pessoas da sua própria
vizinhança?
.585
(% da variância: 7,172)
)DWRU
Você emprestaria dinheiro para algum vizinho que estivesse precisando?
.785
Você participa de alguma organização ou clube local, como por exemplo time de
futebol, associação de bairro, igreja, etc.?
.611
(% da variância: 6,497)
)DWRU
Qual é a sua opinião sobre a seguinte afirmativa: Nós podemos confiar nas pessoas que
moram aqui na vizinhança.
.765
(% da variância: 5,844)
)DWRU
107
Você acha que sua vizinhança pode ser classificada como um local seguro?
.747
(% da variância: 5,521)
)DWRU
Se a água de sue vizinho acabar e ele precisar de tomar um banho você deixaria ele usar
o seu banheiro?
.534
(% da variância: 5,320)
)DWRU
Você costuma conversar com seus vizinhos?
.712
O que você acha da opinião de que os vizinhos deste bairro são muito prestativos
quando você, ou outro morador daqui necessita deles?
.776
(% da variância: 5,069)
)DWRU
Alguma vez você já ligou para a polícia para denunciar algum crime?
.613
Você doaria uma quantia em dinheiro para ter mais segurança e tranqüilidade em sua
comunidade?
.511
(% da variância: 4,538)
)DWRU
108
Algumas pessoas deste bairro disseram que viver aqui é como se estivesse em casa. O
que você acha desta opinião?
.902
(% da variância: 4,475)
Com o estabelecimento dos dez fatores, fica mais clara a identificação das dimensões do
capital social nas duas comunidades. Como destaca Babbie (1999[1997]), a análise
Estes padrões são consistentes ao observarmos as variáveis componentes dos fatores nas
duas comunidades. Há, em certo sentido, uma compatibilidade entre elas, apesar de em
experimento.
As tendências obtidas através deste índice de capital social podem ser importantes
&$3Ë78/2
&216,'(5$d®(6),1$,6
taxas de criminalidade contra a pessoa. Buscamos uma associação por que não nos foi
possível provar uma relação de causa-efeito. Esta dificuldade se deveu em parte pela
amostra utilizada, (aleatória simples para a seleção dos domicílios e por cota na seleção
dos entrevistados) que nos impediu a generalização dos resultados, e em parte pela
Ouro Preto obteve resultados mais positivos que a Vila Cafezal. Nos seis tópicos
questões da saúde, apenas nos dois últimos tópicos (5 e 6) as duas vilas tiveram um
comportamento parecido, nas quatro restantes (de 1 a 4), talvez as mais representativas
do capital social, tendo em vista as questões colocadas por Putnam e Coleman, a Vila
110
Novo Ouro Preto obteve resultados positivos, muitas vezes mais significativos que os
resultados obtidos na Vila Cafezal. Apesar desta constatação, não podemos afirmar
categoricamente que as taxas de violência mais baixas da Vila Novo Ouro Preto sejam
habitantes e que na Vila Cafezal as pessoas definitivamente não queiram participar para
afirmativa, pois a violência na sociedade tem várias causas, como podemos ver em
envolvendo disputas de ponto de venda de drogas. Neste período ficou claro o medo da
De acordo com a fala de um morador da Vila Cafezal, homem, 45 anos, que trabalha
HX VDtD SDUD WUDEDOKDU H WRPDYD XPDV WUrV µGXUDV¶ DWp FKHJDU QR SRQWR GH {QLEXV
WLQKDVHJXUDQoDDTXL´
Na Vila Novo Ouro Preto encontramos um ambiente bem mais tranqüilo, com os
9LOD 6mR -RVp XPD IDYHOD SUy[LPD ORFDOL]DGD DR ILQDO GD DYHQLGD 3HGUR ,, H TXH
111
WHUPLQD SUy[LPR DR EDLUUR 2XUR 3UHWR H &DVWHOR TXH SRVVXL XPD DOWD WD[D GH
FULPLQDOLGDGHHTXHWHPXPKLVWyULFRSDUHFLGRFRPD9LOD&DIH]DOQRTXHVHUHIHUHDR
WUiILFRGHGURJDV YHQKDSDUDUDTXLSRLVWHPRVXPFDPLQKRTXHQRVOHYDDWpOiSRU
LVWRWHPRVTXHILFDUDWHQWRVDRPRYLPHQWRDTXLGHQWURGDYLOD´
Esta distinção entre as duas vilas pesquisadas não nos possibilita, mais uma vez, afirmar
que o capital social aja como um fator de inibição das ações criminosas nas
comunidades com pouco capital social um futuro sem perspectivas. Apesar destas
Putnam, que enxergava nesta característica social um agente facilitador das iniciativas
do capital social; sem uma efetiva participação da população, eles não percebem a
Estado.
112
Para Abu-El-Haj, referindo-se a John Dewey, ³2 HQJDMDPHQWR FtYLFR HUD SRVVtYHO
FRPSDUWLOKDQGRXPDUHODWLYDLJXDOGDGHGHFRQGLo}HVHXPDPLVVmRSROtWLFDFRPXP$
YHUWLFDOL]DomRGDSROtWLFDPRGHUQDQRVSDUWLGRVROLJiUTXLFRVHQRVULWRVLQVWLWXFLRQDLV
IRUPDLVDQLTXLODRDWLYLVPRFtYLFR&UHVFHQWHPHQWHDSROtWLFDSHUGHVHXVHQWLGRS~EOLFR
No caso das duas vilas estudadas, uma diferença interessante foi detectada quanto ao
outras intervenções estatais. A Vila Novo Ouro Preto não possui uma estrutura urbana
organizada. Poucas vielas são urbanizadas e não há presença de aparelhos estatais como
postos de saúde, sacolão municipal, creches, etc. Apesar desta ausência de ação do
Estado, como podemos perceber na análise estatística, a comunidade da Vila Ouro Preto
é muito mais organizada. A ONG. Cidadania pelas Águas tem feito um trabalho de
estatal presentes no local foi, em grande medida, pensada de cima para baixo, sem uma
à violência urbana. O Estado "adota" o espaço degradado, com altas taxas de violência,
Vila Cafezal, estas intervenções não estão surtindo os efeitos esperados; ao contrário, a
a participação popular como na Vila Ouro Preto. É a confluência destas atuações que
%,%/,2*5$),$
114
UFMG.
1997.
BLAU,J. & BLAU,P. “The Cost of Inequality: Metropolitan Structure and Violence
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Civilização Brasileira.
TOURAINE,A . “Social Movements and Social Change”, LQOrlando Fals Borda (ed.),
$1(;26
122
$1(;2
48(67,21È5,2
&DSLWDOVRFLDO
4XHVW1BBBBBBBBBBB'DWDBBBBBBBB
9LOD&DIH]DO9LOD1RYR2XUR3UHWR
)LOWUR 9RFr PRUD QHVWH EDLUUR" 6H VLP FRQWLQXH VH QmR DJUDGHoD H HQFHUUH D
HQWUHYLVWD
)LOWUR9RFrWHPDQRVRXPDLV"6HVLPFRQWLQXHVHQmRDJUDGHoDHHQFHUUHD
HQWUHYLVWD
9DULiYHLV'HPRJUiILFDV
36H[R
1- Masculino 2- Feminino
34XDOpDVXDLGDGH"BBBBBBBBBDQRV
3)DL[DHWiULD
1- 18 a 24 anos 2- 25 a 35 anos 3- 36 a 55 anos 4- mais de 55 anos 88- N/S
99- N/R
34XDOpRVHXHVWDGRFLYLO"
1- Casado(a) 2- Solteiro(a) 3-Separado(a)/divorciado(a) 4- Viúvo(a) 5-
Outro__________
88- N/S 99- N/R
39RFrWHPILOKRV"
1- Sim 2- Não
39RFrHVWXGRXDWpTXHDQRGDHVFROD"
1- Analfabeto/assina o nome
2- 1ª a 4ª série incompleta
3- 1ª a 4ª série completa
4- 5ª a 8ª incompleta
5- 5ª a 8ª completa
6- 2º grau incompleto
7- 2º grau completo
8- Superior incompleto
9- Sup. Completo
10- Pós-graduação (especialização/mestrado/doutorado)
88- N/S
99- N/R
123
34XDOpDVXDUHQGDIDPLOLDU"VDOiULRPtQLPR5
1- Até 1 s/m
2- De 1 a 4 s/m
3- De 5 a 7 s/m
4- De 8 a 10 s/m
5- De 11 a 15 s/m
6- De 16 a 20 s/m
7- mais de 20 s/m
34XDOpDVXDRFXSDomR"
1- Assalariado com carteira assinada
2- 2- Assalariado sem carteira assinada
3- 3- Autônomo
4- Autônomo paga iss
5- Profissional liberal
6- Free-lancer/bico
7- Estudante
8- Aposentado/pensionista
9- Não exerce atividade remunerada
10- Desempregado
88-N/S
99- N/R
3+iTXDQWRWHPSRYRFrPRUDHPVHXEDLUUR"
1- Menos de 1ano 2- De 1 a 3 anos 3- De 3 a 5 anos 4- De 5 a 10 anos 5- Mais
de 10 anos 88- N/S 99- N/R
0(','$6'(&$3,7$/62&,$/
$ 6HQWLPHQWRVGHFUHGLELOLGDGHHFRQILDQoDQDYL]LQKDQoD
34XDOpDVXDRSLQLmRVREUHDVHJXLQWHDILUPDWLYD1yVSRGHPRVFRQILDUQDV
SHVVRDVTXHPRUDPDTXLQDYL]LQKDQoD
1- Concordo muito 2- Concordo 3- Concordo pouco 4- Não concordo 88- N/S
99- N/R
3&RPRYRFrVHVHQWHDRDQGDUQDVUXDVGHVHXEDLUURDSyVWHUHVFXUHFLGR"
1- Muito seguro 2- Seguro 3- Pouco seguro 4- Inseguro 88- N/S 99- N/R
39RFrDFKDTXHVXDYL]LQKDQoDSRGHVHUFODVVLILFDGDFRPRXPOXJDUVHJXUR"
1- Sim 2- Não 3- Mais ou menos 88-N/S 99-N/R
3$OJXPDVSHVVRDVGHVWHEDLUURGLVVHUDPTXHYLYHUDTXLpFRPRVHHVWLYHVVHHP
FDVD2TXHYRFrDFKDGHVVDRSLQLmR"
124
39RFrHPSUHVWDULDGLQKHLURSDUDDOJXPYL]LQKRTXHHVWLYHVVHSUHFLVDQGR"
1- Sim 2- Não 3- Talvez 88- N/S 99- N/R
3 6H D iJXD GH VHX YL]LQKR DFDEDU H HOH SUHFLVDU GH WRPDU XP EDQKR YRFr
GHL[DULDHOHXVDUVHXEDQKHLUR"
1- Sim 2- Não 3- Talvez 88- N/S 99- N/R
% &RQH[}HVFRPDYL]LQKDQoD
39RFrFRVWXPDFRQYHUVDUFRPVHXVYL]LQKRV"
1- Sempre 2- Às vezes 3- Raramente 4- Nunca 88- N/S 99-N/R
3 2 TXH YRFr DFKD GD RSLQLmR GH TXH RV YL]LQKRV GHVWH EDLUUR VmR PXLWR
SUHVWDWLYRVTXDQGRYRFrRXRXWURPRUDGRUGDTXLQHFHVVLWDGHOHV"
1- Concordo muito 2- Concordo 3- Concordo pouco 4- Não concordo 88- N/S
99- N/R
32TXHYRFrDFKDGDVUHODo}HVHQWUHRVYL]LQKRVGHVHXEDLUUR"
1- Muito boas 2- Boas 3- Regulares 4- Ruins 5- Péssimas 88-N/S 99-N/R
& &RPSRUWDPHQWRFtYLFR
39RFrSDUWLFLSDGHDOJXPDRUJDQL]DomRRXFOXEHORFDOFRPRSRUH[HPSORWLPH
GHIXWHERODVVRFLDomRGHEDLUURLJUHMDHWF"
1- Sim 2- Não
3 9RFr FRVWXPD SDUWLFLSDU GDV UHXQL}HV GD DVVRFLDomR FRPXQLWiULD GH VHX
EDLUUR"
1- Freqüentemente 2- algumas vezes 3- Raramente 4- Nunca participo 88-
N/S 99-N/R
31RV~OWLPRVDQRVYRFrSDUWLFLSRXGHDOJXPSURMHWRGDVXDFRPXQLGDGH"
1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R
3 (P DOJXP PRPHQWR GD VXD YLGD YRFr SDUWLFLSRX GH DOJXP SURMHWR SDUD
PHOKRUDUDVXDYL]LQKDQoD"
1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R
'&RPSRUWDPHQWRGLDQWHGDYLROrQFLDHFULPLQDOLGDGH
3 6H YRFr YLU XP FULPH DFRQWHFHQGR HP VXD YL]LQKDQoD YRFr FKDPDULD D
SROtFLD"
1- Sim 2- Não 3- Talvez 88-N/S 99-N/R
3 $OJXPD YH] HP VXD YLGD YRFr Mi OLJRX SDUD D SROtFLD SDUD GHQXQFLDUDOJXP
FULPH"
125
3 2V FULPHV TXH DFRQWHFHUDP HP VHX EDLUUR IRUDP FRPHWLGRV SRU SHVVRDV GD
VXDSUySULDYL]LQKDQoD"
1- Sim 2-Não 3- às vezes sim, às vezes não 88-N/S 99-N/R
3 YRFr GRDULD XPD TXDQWLD HP GLQKHLUR SDUD WHU PDLV VHJXUDQoD H
WUDQTLOLGDGHHPVXDFRPXQLGDGH"
1- Sim 2- Não 3- Talvez 88-N/S 99-N/R
((GXFDomRHSDUWLFLSDomRIDPLOLDU
39RFrFRVWXPDLUjVUHXQL}HVGDHVFRODGHVHXVILOKRV"
1- Sempre 2- Às vezes 3- Raramente 4- Nunca 88-N/S 99-N/R
100- Não se aplica
39RFrFRVWXPDDMXGDUVHXVILOKRVQDVWDUHIDVHVFRODUHV"
1- Sempre 2- Às vezes 3- Raramente 4- Nunca 88-N/S 99-N/R
100- Não se aplica
39RFrGHL[DULDGHFRPSUDUXPDWHOHYLVmRRXXPDURXSDQRYDSDUDLQYHVWLUQD
HGXFDomRGHVHXVILOKRV"
1- Sim 2- Não 3- Talvez 88- N/S 99- N/R
39RFrFRVWXPDGDURSLQL}HVHVXJHVW}HVQDVTXHVW}HVUHIHUHQWHVjHVFRODGHVHXV
ILOKRV"
1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R 100-Não se aplica
) 6D~GHHFDSLWDOVRFLDO
3 9RFr HVWi RX Mi HVWHYH HQYROYLGR FRP DOJXP SURJUDPD FRPXQLWiULR VREUH
VD~GH"
1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R
3 1D VXD RSLQLmR RV PRUDGRUHV GHVWH EDLUUR SDUWLFLSDP GDV FDPSDQKDV GH
FRPEDWHjVGRHQoDVFRPRSRUH[HPSORDGHQJXHHDIHEUHDPDUHOD"
1- Sim 2- Não 88-N/S 99-N/R
34XDQGRYRFrHVWiGRHQWHRTXHYRFrQRUPDOPHQWHID]SDUDVHWUDWDU"
1- Vai ao posto de saúde/médico
2- Usa remédios caseiros
3- Procura ajuda espiritual/religiosa
4- Outro__________________________________
33DUD YRFr TXDO p D SULQFLSDO FDXVD GD YLROrQFLD HP VHX EDLUUR" PRVWUDU R
FDUWmR
1- Drogas
2- Álcool
3- Desemprego
126
4- Pobreza
5- Falta de estudo
6- Distúrbio mental
7- Problemas conjugais
8- Outros_______________________________
88- N/S
99- N/R
127
DROGAS
A
O
EZ
D
T U DE
BR
S
E LTA
PO
FA
CO
PR NJUG DE S E MP R
OB EGO
LEMAIS DI
AS M ST
Á
E N ÚR
L
TA BI
C
L O
O OL
128