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sinifica essencialmente uma expressão do pensamento, há uma explicação e,

sobretudo, a interpretação do mesmo

a interpretação é uma voz significante que significa algo em si


mesmo.
Interpretação se refere, na sua opinião, a frase declarativa, que pode ser
descrita como a verdade ou falsidad.

As expressões são interpretadas a ser considerada como expressiones


simbólico uma realidade que temos de 'enter' através da exegese

mas dá sentido para aqueles que utilizam um Processo inevitavelmente


circular, muito típico de compressão como um método específico das ciências
humanas

A pré-compreensão e a
compreensão na experiência
hermenêutica
Texto extraído do Jus Navigandi
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3711

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1. INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende discutir a pré-compreensão e a compreensão, a partir


dos ensinamentos de Martin Heidegger ("Ser e Tempo") e Hans-Georg Gadamer
("Verdade e Método").

Heidegger e Gadamer nos remetem a um universo em que a hermenêutica se


refere ao mundo da experiência, ao mundo da pré-compreensão, em que já somos e nos
compreendemos como seres a partir da estrutura prévia de sentido.

Destarte, a compreensão é ligada ao contexto vital do existente humano e o ato


de compreender é uma realidade existencial. A interpretação não é uma questão de
método. É, sim, uma questão relativa à existência do intérprete.

As obras de Heidegger e Gadamer propiciaram o nascimento de uma nova


hermenêutica em que o processo interpretativo não decorre da descoberta do "exato" ou
do "correto" sentido do texto ou da norma, mas do exame das condições em que ocorre
a compreensão.

2. A HERMENÊUTICA TRADICIONAL E A HERMENÊUTICA


CONTEMPORÂNEA: O SURGIMENTO DE UM NOVO PARADIGMA
HERMENÊUTICO

A hermenêutica é tida, hoje, como uma teoria ou filosofia de interpretação,


capaz de tornar compreensível o objeto de estudo mais do que sua mera aparência ou
superficialidade.

A questão do significado está intimamente relacionada com a hermenêutica,


palavra cuja origem grega é "hermeneia", estando atrelada à figura de Hermes, o
tradutor da linguagem dos Deuses, tornando-a acessível aos homens. O Deus Hermes
vinculava-se a uma função de transmudação, isto é, transformava aquilo que a
compreensão humana não alcançava em algo que esta compreensão pudesse alcançar.

O verbo "interpretar", segundo nosso dicionarista mais conhecido, significa


"ajuizar a intenção, o sentido de; explicar, explanar ou aclarar o sentido de (palavra,
texto, lei, etc.)" (1) A hermenêutica, porém, visa a revelar, descobrir, esclarecer qual o
significado mais profundo que está oculto, não-manifesto, não apenas de um texto ou
norma, mas também da linguagem. Pode-se afirmar que, por meio da hermenêutica,
chega-se a compreender o próprio homem, o mundo em que vive, sua história e sua
existência.

Daí a necessidade de se implementar uma mudança na questão hermenêutica,


ultrapassando-se a visão tradicional, que a tem como um problema normativo e
metodológico (isto é, um conjunto de métodos e técnicas destinado a interpretar a
essência da norma), para chegar-se à visão contemporânea, que a tem como um
problema universal (isto é, filosófico e ontológico, que afeta em geral toda a relação
entre o homem e o real).
Com a nova hermenêutica, a interpretação deixa de ser vista sob a perspectiva
normativo-metodológica, mas como algo inerente à totalidade da experiência humana,
vinculado à sua condição de possibilidade finita, sendo uma tarefa criadora, circular,
que ocorre no âmbito da linguagem.

Abandonando a interpretação de cunho tradicional, que trabalha na perspectiva


de que o processo interpretativo possibilita que se alcance a "interpretação correta", "o
sentido exato da norma", "o verdadeiro significado da palavra", etc., a hermenêutica
contemporânea, assentada principalmente nos trabalhos de Martin Heidegger (‘Ser e
Tempo’) e de Hans-Georg Gadamer ("Verdade e Método’), direciona-se para a
compreensão como totalidade e a linguagem como meio de acesso ao mundo e às
coisas.

Neste sentido, é oportuna a observação de Lenio Luiz Streck:

"(...) Os contributos da hermenêutica filosófica para o direito


trazem uma nova perspectiva para a hermenêutica jurídica, assumindo
grande importância as obras de Heidegger e de Gadamer. Com efeito,
Heidegger, desenvolvendo a hermenêutica no nível ontológico, trabalha
com a idéia de que o horizonte do sentido é dado pela compreensão; é
na compreensão que se esboça a matriz do método fenomenológico. A
compreensão possui uma estrutura em que se antecipa o sentido. Ela se
compõe de aquisição prévia, vista prévia e antecipação nascendo desta
estrutura a situação hermenêutica. Já Gadamer, seguidor de Heidegger,
ao dizer que ser que pode ser compreendido é linguagem, retoma a idéia
de Heidegger da linguagem como casa do ser, onde a linguagem não é
simplesmente objeto, e sim, horizonte aberto e estruturado. Daí que,
para Gadamer, ter um mundo é ter uma linguagem. As palavras são
especulativas, e toda interpretação é especulativa, uma vez que não se
pode crer em um significado infinito, o que caracterizaria o dogma. A
hermenêutica, desse modo, é universal, pertence ao ser da filosofia,
pois, como assinala Palmer, a concepção especulativa do ser que está
na base da hermenêutica é tão englobante como a razão e a linguagem."
(2)

3. A PRÉ-COMPREENSÃO E A COMPREENSÃO NA EXPERIÊNCIA


HERMENÊUTICA

3.1. A CONTRIBUIÇÃO DE MARTIN HEIDEGGER

Martin Heidegger foi o grande impulsionador de uma mudança de paradigma em


relação à hermenêutica de cunho tradicional. Com sua obra "Ser e Tempo", propõe uma
hermenêutica ontológica, fundamental mais tarde para o desenvolvimento da obra de
Hans-Georg Gadamer, "Verdade e Método" .

Ao buscar o sentido do "ser", Heidegger verifica que o "ser" só pode ser


determinado a partir de seu sentido como ele mesmo. No entanto, na busca incessante
por se definir o "ser", cada vez mais se compreende que o "ser" não pode ser
aprisionado numa definição, porque o "ser" não pode dissociar-se do tempo de seu
sentido.
Igualmente, Heidegger não se descuidou de analisar a linguagem, pois, ao falar
do "ser" e do "ser e seu sentido" na correspondência histórica de sua verdade, verifica-se
uma grande oferta de palavras e gramática que exige grande esforço do Autor.

Afinal, a compreensão se elabora em forma e essa elaboração é chamada


compreensão. De modo que a interpretação se funda existencialmente na compreensão e
nesse passo as palavras e seus significados têm relevância.

O que ocorre é que o intérprete já possui uma pré-compreensão daquilo que vai
interpretar, inclusive das palavras que irá usar. Essa pré-compreensão está adstrita à
circunvisão dele mesmo e, à medida que se chega ao compreendido (aquilo que se abre
na compreensão), este torna-se de tal forma acessível que pode explicitar-se em si
mesmo "como isso ou aquilo" e este "como" constitui a própria estrutura da explicitação
do compreendido, a interpretação.

Assim, toda perspectiva que se tem à vista já é em si mesma uma compreensão e


interpretação. E ambas partem de uma estrutura prévia caracterizada (posição prévia,
visão prévia, concepção prévia) adstrita à circunvisão do intérprete.

Como afirma Heidegger:

"A interpretação de algo como algo funda-se, essencialmente,


numa posição prévia, visão prévia e concepção prévia. A interpretação
nunca é a apreensão de um dado preliminar isenta de pressuposições.
(...) Em todo princípio de interpretação, ela se apresenta como sendo
aquilo que a interpretação necessariamente já "põe", ou seja, que é
preliminarmente dado na posição prévia, visão prévia e concepção
prévia." (3)

Assim, em sendo o homem uma conjugação dele mesmo mais a sua vida, as suas
impressões prévias, a sua cultura prévia, enfim, todos os seus preconceitos, vão
impregnar a sua interpretação.

De tal forma que ao aplicador do direito, para fazê-lo, deve interpretar e ao


interpretar estará fazendo a partir de sua circunvisão, de sua perspectiva, que parte de
uma compreensão, que só subsiste a partir de uma pré-compreensão.

Nesse passo, entende-se que até a essência daquilo que se vai interpretar é a
essência na perspectiva do intérprete e como a interpretação depende dos fatores
supracitados, a própria essência pode ser discutida.

Destarte, o "ser" do intérprete contamina a interpretação que ele fará, porque, em


sendo ele um indivíduo inserido num contexto social, histórico, lingüístico, etc, a
interpretação feita estará, necessariamente, associada às suas impressões anteriores, à
sua pré-compreensão.

Ao tentar dissecar a essência do "ser", Heidegger contribui de forma efetiva para


a hermenêutica contemporânea, pois nos leva a concluir que não há interpretações
definitivas, elas hão de ser estudadas à luz do tempo em que foram concebidas e tendo
em vista as possíveis pré-compreensões do intérprete, de maneira que nós mesmos ao
lê-las, a partir de nossas pré-compreensões, dentro de nossas circunvisões, também
estaremos abrindo um novo sentido, uma nova possibilidade de interpretar.

A compreensão, para Heidegger, opera no interior de um conjunto de relações já


interpretadas, num todo relacional, vale dizer, que atua dentro de um "círculo
hermenêutico", inseparável da existência do intérprete. Não se pode conceber a
compreensão fora de um contexto histórico e social.

3.2.A CONTRIBUIÇÃO DE HANS-GEORG GADAMER

Nesta linha de abandono da hermenêutica de cunho tradicional, situa-se Hans-


Georg Gadamer que, na sua obra "Verdade e Método", contribuiu sobremaneira para o
desenvolvimento da nova hermenêutica, a qual, nas palavras de Antonio Osuna
Fernández-Largo:

"(...) describirá el comprender como "el carácter óntico


original de la vida humana misma," o, lo que es lo mismo, "la forma
originaria de realización del estar ahí." La comprensión engloba toda
la experiencia y autoconciencia que es capaz de asumir el existente
humano, derivadamente e su apertura al mondo y enraizada en su
condición de "posibilidad" finita." (4)

A interpretação, para Gadamer, "começa sempre com conceitos prévios que


serão substituídos por outros mais adequados. Justamente todo esse constante reprojetar
que perfaz o movimento de sentido do compreender e do interpretar, é que constitui o
processo que Heidegger descreve." (5)

No entanto, aduz Gadamer, "face a qualquer texto, nossa tarefa é não introduzir,
direta e acriticamente, nossos próprios hábitos lingüísticos" (6), mas "o que se exige é
simplesmente a abertura à opinião do outro ou à do texto". (7)

Entra em jogo aqui a noção de alteridade do texto exposta por Gadamer, pois
"quem quer compreender um texto, em princípio, tem que estar disposto a deixar que
ele diga alguma coisa por si. Por isso, uma consciência formada hermeneuticamente tem
que se mostrar receptiva, desde o princípio, para a alteridade do texto. Mas essa
receptividade não pressupõe nem neutralidade com relação à coisa nem tampouco auto-
anulamento, mas inclui a apropriação das próprias opiniões prévias e preconceitos,
apropriação que se destaca destes." (8)

A compreensão, para Gadamer, ocorre a partir de nossos preconceitos (ou pré-


juízos), que são muito mais do que meros juízos individuais, mas a realidade histórica
do nosso ser.

Tais preconceitos, que estruturam a compreensão, não são arbitrários. Diz


Gadamer:

"A compreensão somente alcança sua verdadeira possibilidade,


quando as opiniões prévias, com as quais ela inicia, não são
arbitrárias. Por isso faz sentido que o intérprete não se dirija aos
textos diretamente, a partir da opinião prévia que lhe subjaz, mas que
examine tais opiniões quanto à sua legitimação, isto é, quanto à sua
origem e validez." (9)

Põe-se em relevo aqui a noção gadameriana de tradição, pois, como esclarece


Manfredo Araújo de Oliveira:

"Compreendemos e buscamos verdade a partir das nossas


expectativas de sentido que nos dirigem e provêm de nossa tradição
específica. Essa tradição, porém, não está a nosso dispor: antes de
estar sob nosso poder nós é que estamos sujeitos a ela. Onde quer que
compreendamos algo, nós o fazemos a partir do horizonte de uma
tradição de sentido, que nos marca e precisamente torna essa
compreensão possível." (10)

O círculo hermenêutico, ensina Gadamer, "não é de natureza formal. Não é nem


objetivo nem subjetivo, descreve, porém, a compreensão como a interpretação do
movimento da tradição e do movimento do intérprete" (11). A relação do intérprete com a
tradição é instaurada por ele mesmo enquanto compreende, enquanto participa do
acontecer da tradição, que é continuamente determinada a partir dele próprio. Daí por
que Gadamer entende o círculo hermenêutico não no sentido tradicional, sob uma
perspectiva metodológica, mas como algo que descreve um momento estrutural
ontológico da compreensão.

Note-se, pois, a importância que Gadamer atribui à tradição, entendida como o


objeto de nossa pré-compreensão. Como esclarece Lenio Luiz Streck:

"(...) O legado da tradição vem a nós através da linguagem, cujo


papel é central/primordial na teoria gadameriana. A linguagem não é
somente um meio a mais dentre outros, diz ele, senão que guarda uma
relação especial com a comunidade potencial da razão; (...) a
linguagem não é um mero fato, e, sim, princípio no qual descança a
universalidade da dimensão hermenêutica. Por evidente, destarte, que a
tradição terá uma dimensão lingüística. (...) A experiência
hermenêutica, diz o mestre, tem direta relação com a tradição. É esta
que deve anuir com a experiência. A tradição não é um simples
acontecer que se possa conhecer e dominar pela experiência, senão que
é linguagem, isto é, a tradição fala por si mesma. O transmitido
continua, mostra novos aspectos significativos em virtude da
continuação histórica do acontecer. Através de sua atualização na
compreensão, os textos se integram em um autêntico acontecer. Toda
atualização na compreensão pode entender a si mesma como uma
possibilidade histórica do compreendido. Na finitude histórica de
nossa existência, devemos ter consciência de que, depois de nós,
outros entenderão cada vez de maneira diferente. Para nossa
experiência hermenêutica, é inquestionável que a obra mesma é a que
desdobra a sua plenitude de sentido na medida em que vai transformando
a sua compreensão." (12)

Para Gadamer, toda experiência hermenêutica pressupõe uma inserção no


processo de transmissão da tradição. Há um movimento antecipatório da compreensão,
a pré-compreensão, que constitui um momento essencial do fenômeno hermenêutico e é
impossível ao intérprete despreender-se do círculo da compreensão.

Por último, o que deve ser ressaltado na hermenêutica gadameriana é que não há
diferença entra a interpretação e a compreensão, pois compreender é sempre interpretar.
Aliás, Gadamer entende como processo hermenêutico unitário a compreensão, a
interpretação e a aplicação, inclusive, (13) e o trabalho do intérprete se dá a partir de uma
fusão de horizontes, porque compreender é sempre o processo de fusão dos horizontes
presumivelmente dados por si mesmos. Compreender uma tradição implica projetar um
horizonte histórico que vai originar um novo horizonte presente. Um texto histórico
somente é interpretável a partir da historicidade do intérprete.

À realização dessa fusão de horizontes Gadamer denomina "tarefa da


consciência da história efeitual" (14), que é, em primeiro lugar, a consciência de uma
situação hermenêutica, isto é, de uma situação em que nos encontramos em face da
tradição que queremos compreender.

A fusão de horizontes se dá, pois, pela interpretação. O ato de interpretar implica


a produção de um novo texto, mediante a adição de sentido que lhe fora dada pelo
intérprete dentro de uma concepção dialógica. Essa adição de sentido decorre da
consciência da história efeitual do intérprete. Daí por que a hermenêutica deve atentar
para o aspecto construtivista da história, não podendo, quando se deparar com um texto,
ficar limitada à intenção do autor ou o primeiro significado, mas considerar sobretudo o
influxo operado no decurso da história.

4. CONCLUSÃO

Ao fim e ao cabo deste artigo, temos por firmado o seguinte:

a)As contribuições de Martin Heidegger e Hans-Georg Gadamer inauguram um


novo paradigma, em que a hermenêutica não é um simples método das ciências do
espírito, mas um modo de compreendê-las através da interpretação dentro da tradição.

b)A interpretação é a forma explícita da compreensão e ambas partem de uma


estrutura prévia caracterizada (posição prévia, visão prévia e concepção prévia) adstrita
à circunvisão do interprete.

c)A compreensão opera no interior de um conjunto relacional que se manifesta


na forma de transmissão da tradição por meio da linguagem.

d)A interpretação começa sempre com conceitos prévios que serão substituídos
por outros mais adequados, pois os pré-juízos do intérprete são constituidores de sua
realidade histórica e intransponíveis.

e)O intérprete deve deixar que o texto lhe diga algo por si: não pode impor-lhe
sua pré-compreensão, mas confrontá-la criticamente com as possibilidades nela
contidas.

f)O ato de compreender implica projetar um horizonte histórico que, uma vez
realizado pelo intérprete, origina um novo horizonte no presente. A realização dessa
fusão de horizontes decorre da consciência da história efeitual possuída pelo intérprete.

g)O intérprete, que é dotado de uma personalidade composta por fatores


biológicos, psíquicos e socioculturais, que se interagem, tem seu próprio ponto de vista,
a partir de uma perspectiva, sendo certo que a realidade de cada coisa a interpretar se
apresenta sob diferentes perspectivas.

h)A hermenêutica gadameriana tem contribuído sobremodo para a formulação


do método concretista da interpretação do Direito. Assim, Konrad Hesse, partindo de
Gadamer, propõe que o teor da norma (texto) somente se complementa no ato
interpretativo. A concretização da norma pelo intérprete vai pressupor sempre uma pré-
compreensão desta; essa compreensão pressupõe uma pré-compreensão.

NOTAS

1. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o


dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999, pág. 1127.

2. STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) crise: uma exploração


hermenêutica da construção do Direito. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2000,
págs. 165-6.

3. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis, Vozes, 1988, I, pág. 207.

4. FERNÁNDEZ-LARGO, Antonio Osuna. La hermenêutica jurídica de Hans-


Georg Gadamer. Valladolid, Universidad de Valladolid, 1991, pág. 42.

5. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Petrópolis, Vozes, 1997, pág.


42.

6. GADAMER, Hans-Georg, ob. cit., pág. 403.

7. GADAMER, Hans-Georg, ob. cit., pág. 404

8. GADAMER, Hans-Georg, ob. cit. Pág. 405

9. GADAMER, Hans-Georg, ob. cit., pág. 403

10. OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Linguístico-Pragmática. São


Paulo, Loyola,1996, pág. 228.

11. GADAMER, Hans-Georg, ob. cit. pág. 439.

12. STRECK, Lenio Luiz, ob. cit., pág. 192.

13. GADAMER, Hans-Georg, ob. cit., pág. 460

14. GADAMER, Hans-Georg, ob. cit, pág. 451


BIBLIOGRAFIA

FERNÁNDEZ - LARGO, Antonio Osuna. La hermnéutica jurídica de Hans-


Georg Gadamer. Valladolid, Universidad de Valladolid, 1991.

______________________________El debate filosófico sobre hermenéutica


jurídica. Valladolid, Universidad de Valladolid, 1995.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o


dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Petrópolis, Vozes, 1997.

___________________. O problema da consciência histórica. Rio de Janeiro,


Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo, Parte I. Petrópolis, Vozes, 1988.

MENDES, Gilmar Ferreira, COELHO, Inocêncio Mártires e BRANCO,Paulo


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2000.

MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Martins Fontes,1998.

OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Lingüístico-Pragmática. São


Paulo, Loyola, 1996.

STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) crise: uma exploração


hermenêutica da construção do Direito. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2000.

Sobre o autor
Amandino Teixeira Nunes Junior
E-mail: Entre em contato

Sobre o texto:
Texto inserido no Jus Navigandi nº62 (02.2003)
Elaborado em 08.2002.
Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado
em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
NUNES JUNIOR, Amandino Teixeira. A pré-compreensão e a compreensão na
experiência hermenêutica . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 62, fev. 2003.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3711>. Acesso em:
23 ago. 2010.
Fato que só recentemente se concretizou, foi no século XX que o movimento hermenêutico ganhou o
status de uma teoria filosófica de interpretação, visto que somente a partir de Heidegger a ontologia se
mescla a hermenêutica. De fato, foi após a contribuição de Heidegger a hermenêutica deixou de lado a
pura orientação metodológica para uma orientação filosófica.

As teorias e métodos hermenêuticos se desenvolveram de tal modo que ficou para trás o hermeneuta, o
Dasein (a pre-sença) no ocupar-se de uma interpretação de um discurso, assim como o Dasein no
ocupar-se da autoria de um discurso. Estas subjetividades foram ofuscadas pelo predomínio do objeto e
do método hermenêuticos.

A filosofia hermenêutica em relação às teorias hermenêuticas, pode ser caracterizada como o resgate de
um a priori a qualquer interpretação: a própria interpretação do Dasein (da pre-sença). Redireciona-se a
teoria, seu método e sua forma de objetivação do interpretado, para a necessária análise transcendental,
que através da interpretação do Dasein (da pre-sença), examina a constituição de qualquer compreensão
a partir da existência. “A pre-sença é um ente que, na compreensão de seu ser, com ele se relaciona e
comporta. Com isso indica-se o conceito formal de existência. A pre-sença existe” (Heidegger, 1986/1998,
pág. 90).

Enquanto a teoria hermenêutica pretendia alcançar esta descrição das condições existenciais do autor e
do intérprete, na conclusão de uma seqüência de aplicação de seu método, a filosofia hermenêutica
afirma que só o reconhecimento desse a priori existencial de um autor, de um intérprete, de um discurso
entre os dois, e até mesmo de um método hermenêutico, como condição de partida de uma
hermenêutica, pode assegurar algum sucesso, no sentido de que algo se suceda, como no caso uma
interpretação. Segundo Jean_Grondin (2003), a concepção heideggeriana da hermenêutica é ela mesma
um affaire bastante complexo, na medida em que começam a se publicar os cursos de Heidegger logo
após a primeira grande guerra. Desta maneira, Jean_Grondin propõe três grandes concepções da
hermenêutica em Heidegger, que se entrelaçam:

• a primeira, denominada “hermenêutica da facticidade”, que antecede a obra “Ser e Tempo”;

• a segunda, a “hermenêutica do Dasein” proposta em Ser e tempo;

• a terceira, mas tardia, a hermenêutica da história da metafísica.

Farei uma breve reflexão dos dois primeiros movimentos, visto que estes foram os que mais contribuíram
para a tradição que se seguiu com Ricouer e Gadamer. Então, a partir do primeiro movimento
hermenêutico citado, o que é exatamente a “hermenêutica da facticidade”? Como hermenêutica ela busca
uma interpretação, mas desta feita não de obras ou discursos, mas deste fato que sou, enquanto ato ou
fato humano. A facticidade designa para Heidegger o caráter próprio a nosso Dasein, que não pode ser
apreendido como objeto, como “algo posto diante de mim”, pois isto seria como ver meu olho sem um
espelho. A pre-sença não é cotidianamente um objeto de contemplação, ela é ocupação em um fato ou
um ato, ela vive na “cura”. Esta é a facticidade a ser interpretada por uma hermenêutica da facticidade.

Em continuidade da hermenêutica da facticidade porém com tonalidade peculiares a hermenêutica


exposta por Heidegger em sua obra Ser e Tempo, se distingue primeiro por uma ênfase no Dasein (pre-
sença) segundo uma perspectiva mas existencial, e segundo por sua associação forte com a questão do
ser, que domina esta obra.

Embora a questão do ser desponta-se desde a origem do pensamento de Heidegger, foi em Ser e Tempo
que ela ganhou seu estatuto que irá marcar sua reflexão filosófica, sendo a hermenêutica determinante
para a abordagem desta questão de origem aristotélica, sob a formulação da busca necessária pelo
sentido do ser.

Essa tonalidade que diferencia a hermenêutica do Dasein da anterior se anuncia de imediato na obra Ser
e Tempo: em seu conteúdo, a fenomenologia é a ciência do ser dos entes é ontologia. Ao se esclarecer
as tarefas de uma ontologia, surgiu a necessidade de uma ontologia fundamental, que possui como tema
a pre-sença, isto é, o ente dotado de um privilégio ôntico ontológico. Pois somente a ontologia
fundamental pode-se colocar diante do problema cardeal, a saber, da questão sobre o sentido do ser em
geral. Da própria investigação resulta que o sentido metódico da descrição fenomenológica é
interpretação. O logos da fenomenologia da pre-sença possui o caráter de hermeneuein. Por meio deste
hermeneuein proclamam se o sentido do ser a as estruturas ontológicas fundamentais da pre-sença para
a sua compreensão ontológica constitutiva. Fenomenologia da pre-sença é hermenêutica no sentido
originário da palavra em que se designa o ofício de interpretar. Na medida, porém, em que se desvendam
o sentido do ser a as estruturas fundamentais da pre-sença em geral, abre se o horizonte para qualquer
investigação ontológica ulterior dos entes não dotados do caráter da pre-sença. A hermenêutica da pre-
sença torna se também uma "hermenêutica" no sentido de elaboração das condições de possibilidade de
toda investigação ontológica. E, por fim, visto que a pre-sença, enquanto ente na possibilidade da
existência, possui um primado ontológico frente a qualquer outro ente, a hermenêutica da pre-sença como
interpretação ontológica de si mesma adquire um terceiro sentido específico - sentido primário do ponto
de vista filosófico - a saber, o sentido de uma analítica da existencialidade da existência. Trata se de uma
hermenêutica que elabora ontologicamente a historicidade da pre-sença como condição ôntica de
possibilidade da história fatual. Por isso é que, radicada na hermenêutica da pre-sença, a metodologia
das ciências históricas do espírito só pode receber a denominação de hermenêutica em sentido derivado.
(Heidegger, 1986/1998, pág. 68)

Segundo Jean_Grondin (2003), nesta longa citação de Ser e Tempo distinguem-se quatro grandes
significações do termo hermenêutica, nesta etapa do pensamento de Heidegger. A hermenêutica
enquanto logos do termo fenomenologia é mais relevante na medida em que por ela o Dasein é
reconhecido em termos do sentido autêntico do ser que manifesta e das estruturas fundamentais que o
sustentam em uma manifestação autêntica do ser. Este novo direcionamento, diferencia a hermenêutica
do Dasein em relação à hermenêutica da facticidade, pela tarefa bem definida de esclarecer “o sentido
verdadeiro do ser”. Ao mesmo tempo, que a formulação dos existenciais, como elementos das estruturas
fundamentais do Dasein, nos indica a tentativa de uma universalização das reflexões anteriores sobre a
facticidade individual. A hermenêutica ganha uma orientação ontológica segundo “o sentido de uma
analítica da existencialidade da existência”.

Por outro lado Dasein é caracterizado por sua compreensão do ser, ou seja o sentido do ser neste caso
só pode ser interpretado a partir de uma pré-compreeensão. O ponto adotado pela filosofia
transcendental, o cogito ergo sum de Descartes, se situa agora no existencial ser-no-mundo, que
caracteriza a pre-sença. As condições de possibilidade de conhecimento são dadas pela compreensão do
ser da pre-sença, única capaz de pro-ver a compreensão que se busca por exemplo de um discurso.

O termo hermenêutica tem sua própria história. Usado pela primeira vez em Aristóteles, como título de
seu tratado de lógica do juízo e da proposição, Peri Hermeneia, foi também utilizado pelos sofistas numa
referência a necessária interpretação de Homero e dos mitos gregos. A emergente teologia cristã do
século III, na Alexandria, enfrentou a questão hermenêutica em relação à exegese bíblica. Santo
Agostinho em seu tratado “Da Doutrina Cristã” nos oferece um primeiro ensaio de uma teoria da
interpretação escrituraria e teológica.

Nos tempos modernos foi Schleiermacher (1768–1834) quem marcou a hermenêutica em seu sentido de
exegese de escrituras sagradas, partindo de princípios rigorosamente metodológicos, este autor
contribuiu ao dar os primeiros passos ao aproximar a hermenêutica da filosofia. O projeto de
Schleiermacher de uma hermenêutica universal se baseia na noção de compreensão.

Foi sob influência decisiva deste teólogo que a hermenêutica se apresentou como uma prática
metodológica de interpretação no interior desses domínios. Este autor, ainda que sua filosofia não tenha
exercido a mesma influência que outros filósofos de sua época, como Kant, Hegel e outros, foi com
certeza um dos mais interessantes de seu período. Não sendo somente teólogo, mas também filósofo, a
maior parte de seu trabalho se concentra no que se chamaria hoje, filosofia da religião, mas é sobretudo
sua hermenêutica (teoria da interpretação) e sua teoria da tradução que merecem mais atenção.

Embora ligado intensamente à tarefa religiosa, Schleiermacher tinha por pretensão expandir seus
métodos e técnicas interpretativas a toda expressão humana. Ora, já podemos dimensionar os problemas
que o nosso autor encontrou diante de ousada empreitada. A começar pelos diferentes tipos de discurso,
e suas especificidades; assim como a variedade de áreas de conhecimento à que a hermenêutica se
propunha a ser inserida. Tamanha ousadia tinha seus fundamentos, visto que através da aplicação
metodológica da hermenêutica na exegese bíblica, foi possível constatar as possibilidades de expansão
daquele método, visto que as Escrituras Sagradas contêm em si certas similitudes e princípios de textos
históricos e jurídicos, o que implicou numa ampliação de seus métodos à outras áreas da expressão
humana.
É preciso entender que para este autor todos os problemas de interpretação são, na verdade, problemas
de compreensão, e por isso desenvolveu uma verdadeira doutrina da arte de compreender, não se atendo
somente a uma agregação de observações inoperáveis. Sua contribuição significa algo realmente novo,
visto que a dificuldade da compreensão e do mal-entendido (termo usado por Schleiermacher), já não são
mais levados em conta só como momentos ocasionais de uma leitura, mas como problemas que devem
ser eliminados de antemão.

Schleiermacher chegou a afirmar que a “hermenêutica é a arte de evitar o mal-entendido”. (Verdade e


Método I, pág 255). Segundo ele, a resolução da hermenêutica está na idéia de um “cânon de regras
gramaticais e psicológicas de interpretação que se afastam completamente de toda ligação dogmática de
conteúdo, inclusive na consciência do intérprete”.

É correto afirmar que Schleiermacher não foi o primeiro a restringir a tarefa da hermenêutica em tornar
compreensível a intenção de discursos e textos, mas sua contribuição original foi, sem dúvida,
precisamente isolar o procedimento do compreender. Sua tarefa maior foi a de torná-lo autônomo, com
uma metodologia própria, o que determinou um afastamento da essência da hermenêutica em seus
predecessores.

Schleiermacher expandiu a tarefa hermenêutica ao colocar ao lado da interpretação gramatical a


interpretação psicológica. A partir de agora, o que deve ser compreendido não é somente a literalidade
das palavras e seu sentido objetivo, mas também a individualidade de quem fala ou do autor. Para
Schleiermacher um pensamento só pode ser entendido se retrocedido até sua gênese. O que para alguns
é um caso extremo de busca do sentido de um discurso, para ele é caso normal, além de constituir a
pressuposição de sua teoria da compreensão.

A hermenêutica abrange ambas as artes interpretativas: a gramatical e a psicológica. Mas o que há de


mais original na filosofia hermenêutica de Schleiermacher é sem dúvida sua reflexão acerca da
interpretação psicológica. Para ele é um movimento para dentro da constituição completa do autor, um
conceber o decurso interno de feitura da obra.

Dilthey (1833-1911) fez reviver o movimento iniciado por Schleiermacher direcionando-o como método de
compreensão necessário às ciências humanas (ou, na linguagem de Dilthey, ciências do espírito). Foi
Dilthey que tomou conscientemente a hermenêutica romântica ampliando e transformando-a numa
historiografia, o texto a ser interpretado é a própria realidade humana no seu desenvolvimento histórico,
um “conceber a partir da vida” (Verdade e Método I, pág 341), que serviu mais tarde como ponto de
partida para a hermenêutica da facticidade de Heidegger.

Se as ciências históricas são compreensivas, ou interpretativas, como conceber através de seus


enunciados, uma validade? Questão legitimada ainda na época de Dilthey na consagrada máxima de
Nietzsche “não existem fatos, somente interpretações”, a questão da compreensão e da interpretação é
empurrada ao centro de suas investigações: a compreensão exige uma misteriosa participação do
interpretante à vida psíquica do outro (interpretado). Suas pesquisas mais avançadas procuram separar
as ciências humanas dessa submissão à psicologia e dar ao movimento interpretativo uma compreensão
mais objetiva.

A questão da história junto à hermenêutica em Dilthey está em sua interessante reflexão acerca dos
conceitos de compreensão e explicação. O eixo central da filosofia diltheyana é a questão da história, da
capacidade cognitiva da história, e para Dilthey é necessária uma aplicação ao estudo da ação histórica,
da intenção do agente, sobretudo em conexão com a compreensão da realidade humana em seu
desenvolvimento histórico. Daí o uso da hermenêutica a fim de interpretar as ações humanas. O discurso
a ser interpretado é o próprio decurso de ações humanas em seu interior, a intenção que guiou o agente.
Dilthey caracteriza suas intenções ao afirmar: “A riqueza da nossa experiência permite-nos imaginar, por
uma espécie de transposição, uma experiência análoga exterior a nós e compreendê-la...”. Ou seja, é
somente através de uma transposição analógica de minhas experiências, que posso compreender as
ações alheias.

Dilthey se apropria da teoria hermenêutica enquanto caminho para constituição de uma “Crítica da Razão
Histórica”, tão cobiçada pelas “ciências do espírito”, após a formalização filosófica da Crítica de Kant,
como fundamento da ciência newtoniana. Dilthey recorre à filosofia romântica e ao significado da
“Erlebnis”, da experiência vivida. A palavra proferida ou escrita, que relata o evento, implica em uma
distância em relação ao evento: uma perda entre o originário da expressão na impressão.

“Se a exegese de um texto tem por finalidade exprimir o sentido contido no texto, como se espreme um
suco de um fruto, a revivescência do sentido deveria coincidir com a repetição de Erlebnis a partir da qual
se formulou o documento” (Gusdorf, 1988, pág. 234).

Ainda em Dilthey o grande problema de aplicação do movimento hermenêutico junto às ciências históricas
não é esclarecido. Sua filosofia parece sustentar uma conexão entre a escola histórica com a
hermenêutica romântica. Mas o esquema do todo pelas partes ainda encontra rejeição, sobretudo entre
os historiadores, onde seu objeto não é um texto individual, mas a história universal. E foi Gadamer quem
colocou o problema com grande clareza:

“não somente a história não chegou ao fim - nós mesmos, enquanto compreendemos a história, nos
encontramos nela como membros condicionados e finitos de uma cadeia que continua a avançar. E
partindo-se dessa situação precária do problema da história universal, parecem surgir facilmente dúvidas
quanto a se saber se a hermenêutica está realmente em condições de servir de base para a
historiografia” (Verdade e Método I, pág 273)

Se toda compreensão é a busca de sentido do que se fala ou escreve, e se a hermenêutica para Dilthey,
é como para Schleiermacher, a “arte da compreensão”, como achá-lo numa obra não acabada, mas sim
aberta e disposta a mudanças repentinas. Como fica o papel do interpretante que jamais poderá ser-lhe
dado o todo?
Schleiermacher segundo Ricoeur

É difícil precisar com exatidão a data do seu primeiro momento de aplicação, mas certamente foi sobre as
sagradas escrituras que o movimento hermenêutico reconheceu seu primeiro ato, ainda enquanto técnica
de leitura. Ainda que durante a maior parte de sua história, ela tenho sido essencialmente uma disciplina
técnica e normativa que se exercia no domínio da exegese bíblica, da filologia clássica e da
jurisprudência, tal movimento tomou outro rumo no século XVII, quando a filosofia hermenêutica começou
a tomar o rumo de uma ciência.

Na Modernidade foi sob influência decisiva do teólogo protestante Friedrich Schleiermacher (1768-1834)
que a hermenêutica se apresentou como uma prática metodológica de interpretação no interior desses
domínios. Este autor, ainda que sua filosofia não tenha exercido a mesma influência que outros filósofos
de sua época, como Immanuel Kant (1724-1804) , G.W.F. Hegel (1770-1831) e outros, foi com certeza
um dos mais interessantes de seu período. Não sendo somente teólogo, mas também filósofo, a maior
parte de seu trabalho se concentra no que se chamaria hoje, filosofia da religião, mas é sobretudo sua
hermenêutica (teoria da interpretação) e sua teoria da tradução que merecem mais atenção.

Embora ligado intensamente a tarefa religiosa, Schleiermacher tinha por pretensão expandir seus
métodos e técnicas interpretativas a toda expressão humana. Ora, já podemos dimensionar os problemas
que o nosso autor encontrou diante de ousada empreitada. A começar pelos diferentes tipos de discurso,
e suas especificidades; assim como a variedade de áreas de conhecimento à que a hermenêutica se
propunha a ser inserida. Tamanha ousadia tinha seus fundamentos, como já mencionamos
anteriormente, foi através da aplicação metodológica da hermenêutica na exegese bíblica, que pode-se
constatar as possibilidades de expansão daquele método, visto que as Escrituras Sagradas contêm em si
certas similitudes e princípios de textos históricos e jurídicos, o que implicou numa ampliação de seus
métodos à outras áreas da expressão humana.

Fortemente influenciado pelos pensamentos de Friedrich_Schlegel (vide Wikipedia em inglês


Karl_Wilhelm_Friedrich_Schlegel) (moraram na mesma casa durante algum tempo) e
Johann_Gottfried_von_Herder, a filosofia hermenêutica de Schleiermacher encontra seus pilares
fundamentais nas seguintes afirmações:

• “o pensamento é essencialmente dependente, ligado e talvez até idêntico à linguagem”;

• “existem profundas diferenças lingüísticas e conceituais entre os indivíduos”

Parece óbvio que o último conceito descrito acima trás severos desafios a qualquer tipo de doutrina de
interpretação ou tradução, desafios estes que se transformaram na principal tarefa da filosofia de
Schleiermacher. Sua contribuição para o movimento hermenêutico não pode ser esquecida, foi através de
sua orientação que a atenção sobre a interpretação chegou ao autor, não somente o texto. Busca-se
agora um diálogo como o autor, a fim de alcançar sua intenção. Alguns dizem que suas limitações
filosóficas o impediram de dar um passo maior e necessário, a fim de tornar a hermenêutica mais do que
uma pura orientação metodológica, mas uma Teoria Filosófica da Interpretação.

Dilthey segundo Ricoeur

A originalidade de Dilthey está sobretudo em sua genialidade de expandir, com perfeição, a hermenêutica
as demais áreas da expressão humana. Através de uma supervalorização do homem histórico, Dilthey
coloca a hermenêutica num novo plano, o texto a interpretar é a realização do homem em seu decurso
histórico. Seus preconceitos, sua formação, o autor em sua história particular. Dilthey afirma que “a
riqueza da nossa experiência permite-nos imaginar, por uma espécie de transposição, uma experiência
análoga exterior a nós e compreendê-la...”. Se nos é possível compreender o outro, é porque temos a
possibilidade de imaginar uma outra vida, em seu interior, a partir da nossa própria, por uma transposição
analógica.

Na proposta de Dilthey vigora a experiência vivida como método de interpretação da história, mas
separando de forma clara o intérprete do interpretado, o sentimento vivido da unidade objetiva da história.

Foi a partir da reflexão de Heidegger sobre a facticidade, que Gadamer retomou a hermenêutica sobre
novas bases, unificando no ser humano a realidade histórica e sua interpretação. Enuncia-se assim a
hermenêutica contemporânea, de natureza filosófica. Uma hermenêutica filosófica aplicável às temáticas
da filosofia, das ciências humanas e das ciências da natureza. Mas Gadamer não é o único a enveredar
por esta senda. Os italianos Emilio Betti e Luigi Pereyson, os franceses Paul Ricoeur e Jacques Derrida, e
os alemães J. Habermas e Karl Otto-Apel abrem também seus próprios caminhos na reflexão
contemporânea sobre a hermenêutica.

Segundo Josef Bleicher (1980), a hermenêutica contemporânea pode ser caracterizada por perspectivas
conflitantes, no tocante ao fato de que as expressões humanas de qualquer gênero podem ser
reconhecidas como tal por qualquer ser humano e transpostas para seu próprio sistema de valores e
significados. Como este processo se dá e como é possível “se dar conta” de sentidos subjetivos aplicados
ao reconhecimento de um ato ou fato, o que prejudicaria de forma absoluta a capacidade de
compreensão deste, é o que discorre cada caminho hermenêutico em sua especificidade, e Bleicher cita
três caminhos que se consagraram: a teoria hermenêutica, a filosofia hermenêutica e a hermenêutica
crítica.
A teoria hermenêutica focaliza a problemática de uma teoria geral da interpretação como uma possível
metodologia para as ciências humanas. Pela análise da “compreensão” como método apropriado de re-
experimentar ou re-pensar o que um autor originalmente viveu ao se expressar, sob qualquer modalidade
discursiva espera-se ganhar um entendimento do processo de compreensão, em geral, permitindo assim
transpor a complexidade de sentidos de um discurso expresso por um autor, para nossa compreensão de
nós mesmos, de nosso mundo e do texto ou fato “lido”.

Nesta última já se delineava um reconhecimento da linguagem como meio universal da humanidade


presente na primeira versão do círculo hermenêutico como todo em relação ao qual, partes individuais
ganham seu sentido. A razão maior da aplicação da teoria hermenêutica se caracteriza como um esforço
por “evitar os mal-entendidos”.

Esta busca por uma base metodológica e até científica para a interpretação é justamente o que a
chamada hermenêutica filosófica rejeita como “objetivismo”. Isto porque fere um de seus princípios,
originários da filosofia existencial de Heidegger. Um contexto de tradição envolve ambos e a obra, o que
implica na impossibilidade de neutralidade em qualquer processo de interpretação. A compreensão de
uma obra não é apenas, por conseguinte, uma reprodução instruída do original, mas um diálogo contínuo
entre as partes em questão.

A filosofia hermenêutica, por sua vez, parte do reconhecimento do hermeneuta como Dasein ocupado na
interpretação de um ato ou fato humano, em sua situação temporal e histórica.

Segundo Gadamer, o problema da interpretação segundo a formulação dada pela hermenêutica filosófica,
parte da “virada lingüística” na filosofia, para reconhecer que a comunicação entre o autor de um discurso
e o intérprete do mesmo deve tomar a forma de um diálogo que resulte na “fusão de horizontes” de suas
existências.

Em resumo a filosofia hermenêutica não pretende substituir a teoria hermenêutica, mas sim direcioná-la
segundo princípios que admitam a condição de “ser-no-mundo” do intérprete em seu ocupar-se
hermenêutico.

Por mais exaustiva que seja a pesquisa que explora o contexto do texto, sua compreensão não se esgota
aí, pois segue se dando e renovando no diálogo com o texto. Existem mal-entendimentos mas também
mais do que uma justa interpretação do texto, o próprio texto estabelece os limites de sentido que admite,
não é um questão subjetiva, a pesquisa histórica e lingüística permite uma aproximação do sentido
original, garantindo certa neutralidade, mas neste afã é mais importante reconhecer os pré-conceitos que
ditam o viés de uma interpretação do que tentar transcendê-los ou eliminá-los.

Neste sentido a filosofia hermenêutica iniciada por Heidegger, e sustentada por Gadamer, parece se
impor diante das frustrações de uma teoria hermenêutica que pretende suprimir o caráter subjetivo das
interpretações, visto que dada a significância do texto (o que significa para um intérprete) e dado o
significado original do texto (seu sentido próprio), o primeiro condiciona sempre o segundo, que é deste
modo inalcançável.

Da problemática oriunda do movimento descrito no parágrafo acima, surge o círculo hermenêutico que
representa a projeção do sentido atribuído pelo intérprete ao texto, que resiste ou confirma, segundo o
intérprete, impondo uma reciclagem da interpretação, até a fusão de horizontes entre autor e intérprete do
texto. Esta concepção põe de lado uma noção de método ou cânon a ser seguido, pois cada situação de
interpretação põe em diálogo um intérprete e um texto, e a compreensão alcançada só pode ser descritiva
e não prescritiva, donde diferentes pontos de vista são aceitáveis e apenas atestados, aqui o texto supera
seu autor.

A HERMENÊUTICA

J.-M. BESSE e A. BOISSIÈRE, Précis de philosophie. Paris:


Nathan, 1998, p. 52-53

A hermenêutica é a arte de compreender, de interpretar, de traduzir de maneira clara


signos inicialmente obscuros. A primeira função da hermenêutica foi entregar aos
profanos o sentido de um oráculo. A hermenêutica progressivamente penetrou no
domínio das ciências humanas e da filosofia.

A hermenêutica como técnica de leitura


A hermenêutica é, originariamente, uma disciplina filológica, isto é, uma técnica de leitura,
orientada para a compreensão das obras da Antiguidade clássica (Homero) e dos textos
religiosos (a Bíblia). As operações filológicas de interpretação desenvolvem-se em função de
regras rigorosamente determinadas: explicações lexicais e gramaticais, rectificação crítica dos
erros dos copistas, etc., e ainda interpretação alegórica e moral destinada a colocar em
destaque o carácter de exemplaridade do texto. O horizonte desta técnica é o da restituição de
um texto ou de uma palavra, mais fundamentalmente de um sentido, considerado como perdido
ou obscurecido. Numa tal perspectiva, o sentido é menos para construir do que para
reencontrar, como uma verdade que o tempo teria encoberto.

Hermenêutica e ciências humanas


– No início do século XIX, com o teólogo protestante Friedrich Schleiermacher (1768-1834),
assiste-se a uma generalização do uso da hermenêutica. Esta, embora conservando os seus
laços privilegiados com os estudos bíblicos e clássicos, visa a partir de agora todo o campo da
expressão humana. A atenção está cada vez mais orientada não apenas para o texto mas para
o seu autor. Ler um texto, é dialogar com um autor e esforçar-se por reencontrar a sua
intenção, é procurar compreender um espírito por intermédio da decifração das obras nas quais
ele se exprimiu.

– É, entretanto, com a obra do filósofo alemão Wilhelm Dilthey (1833-1911) que a


hermenêutica assume o estatuto de um método de conhecimento especialmente apto para dar
conta do facto humano, irredutível em si mesmo aos fenómenos naturais. O texto a interpretar
é a própria realidade humana no seu desenvolvimento histórico. Aplicado ao estudo da acção
histórica, o acto hermenêutico deve permitir restituir por assim dizer “do interior” a intenção que
guiou o agente no momento em que ele tomava tal decisão, e permitir assim alcançar a
significação desta acção. Dilthey introduz com efeito um postulado: “A riqueza da nossa
experiência permite-nos imaginar, por uma espécie de transposição, uma experiência análoga
exterior a nós e compreendê-la...”. Se nos é possível compreender o outro, é porque temos a
possibilidade de imaginar a sua vida interior a partir da nossa, por uma transposição analógica.

A hermenêutica como situação humana


O filósofo alemão Hans Georg Gadamer (nascido em 1900) mostra, em Verdade e Método (1ª
ed., 1960), que a interpretação, antes de ser um método, é a expressão de uma situação do
homem: o intérprete que aborda uma obra está já situado no horizonte aberto pela obra (é o
“círculo hermenêutico”). A interpretação é antes de mais a elucidação da relação que o
intérprete estabelece com a tradição de que provém.
DA EXEGÉSE À EXISTÊNCIA

O sentido da hermenêutica cristã


A hermenêutica cristã atribui-se a tarefa de restituir o sentido oculto da Bíblia. É assim que, a
partir da Idade Média, se constitui a distinção de quatro níveis de significação, cuja exegese
deve permitir aos fiéis aceder a uma verdadeira compreensão da mensagem divina:

– o sentido literal, ou sentido histórico, que circunscreve a significação primeira das palavras e
estabelece os dados factuais;

– o sentido alegórico, onde se restitui o conteúdo espiritual escondido sob a letra, onde se
revela que os textos sagrados dizem uma coisa diferente da que dizem à primeira vista;

– o sentido tropológico, ou moral, impõe-se a partir do momento em que a Bíblia é escolhida


como livro de vida, quer dizer, orientado para a conversão do coração;

– o sentido anagógico, ou místico, que reenvia para o movimento da alma em direcção à


transcendência, para o além, e a inscreve no horizonte da salvação, que constitui as raízes da
doutrina cristã.

Entretanto, este percurso dos diferentes planos de significação não é uma simples técnica de
leitura. Deve ser ainda entendido como o aprofundamento de um exercício de meditação no
seio do qual o leitor, que é também um fiel, acede progressivamente à compreensão da palavra
divina.

Heidegger: uma hermenêutica da existência


Heidegger opera duas rupturas em relação à concepção de hermenêutica desenvolvida por
Dilthey:

1. A hermenêutica não é já entendida no quadro de uma teoria do conhecimento. Ela não é


simplesmente um problema de metodologia das ciências humanas. Não se trata já, como em
Dilthey, de opor o acto de compreensão própria das ciências humanas ao movimento da
explicação característica das ciências da natureza. A compreensão não é mais entendida, com
Heidegger, como o acto cognitivo de um sujeito descomprometido com o mundo, mas antes
como uma dimensão essencial da existência. Compreender é um modo de estar antes de ser
um método científico.

2. Correlativamente, a questão da compreensão já não está, em Heidegger, ligada ao problema


do reencontro do outro. Com Heidegger, a interrogação hermenêutica considera menos as
minhas relações com o outro do que a relação que eu estabeleço com a minha situação no
mundo. O horizonte da compreensão é a captação e a elucidação de uma dimensão primordial,
que precede a distinção sujeito/objecto: a do ser-no-mundo do homem. A hermenêutica, como
dimensão da existência, está antes de mais orientada para o “mundo do eu” [no original:
“monde du soi”].

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