Anda di halaman 1dari 11

A Reconvenção no âmbito do Processo Laboral

Por Alexandre Marques de Carvalho

Abreviaturas

Ac. RC - Acórdão da Relação de Coimbra


Ac. RG - Acórdão da Relação de Guimarães
Ac. RL - Acórdão da Relação de Lisboa
Ac. RP - Acórdão da Relação do Porto
C.C - Código Civil
C.P.C – Código de Processo Civil
C.P.T - Código de Processo do Trabalho
C.R.P - Constituição da República portuguesa
C.T - Código do Trabalho
L.O.S.J – Lei de Organização do Sistema Judiciário
R.P - Relação do Porto
S.T.J - Supremo Tribunal de Justiça

1. A Reconvenção

A reconvenção consiste na formulação pelo réu de um pedido que é distinto do


pedido normal de defesa, a absolvição do pedido, e cuja procedência é requerida contra o
autor1.
O réu formula um pedido autónomo (reconvencional) contra o autor, obrigando-o
a tomar uma posição defensiva2.
LUÍS MIGUEL MESQUITA3 avança uma noção bastante completa – a
reconvenção consiste numa acção declarativa (condenatória, constitutiva ou de mera
apreciação) intentada, através da contestação, pelo réu (reconvinte) contra o autor
(reconvindo), assente em factos materiais e causadora, quando admissível, de uma
acumulação, no âmbito de um processo pendente, de acções cruzadas e sincrónicas.
A reconvenção encontra justificação nos princípios da igualdade e de economia
processual.

1
SOUSA, Miguel Teixeira de, As Partes, o Objecto e a Prova na Acção Declarativa, Editora LEX, Lisboa, 1995, pág. 168. Ac. RP de
02-10-1990 (Cardoso Lopes), in www.dgsi.pt.
2
VALLES, Edgar, Prática Processual Civil com o Novo CPC, 8.ª edição, Almedina, Coimbra, 2014, pág. 203.
3
MESQUITA, Luís Miguel de Andrade, Reconvenção e excepção no processo civil: o dilema da escolha entre a reconvenção e a
excepção e o problema da falta de exercício do direito de reconvir, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 99 e 100.

1
Cabe traçar a distinção entre reconvenção e excepção peremptória, que assenta
fundamentalmente tendo em conta os seus efeitos, objecto e ónus.
Em primeiro lugar, na reconvenção o réu visa obter um efeito positivo, que pode
ser a apreciação de um facto ou de um direito, a condenação da contraparte na realização
de uma prestação ou a constituição de uma situação jurídica; ao passo que na excepção
peremptória o efeito pretendido é negativo – obviar à procedência do objecto apresentado
pelo autor4.
Em segundo lugar, a reconvenção implica a apreciação de um objecto autónomo
e independente; enquanto a excepção peremptória circunscreve-se ao objecto apresentado
pelo autor5.
Por fim, a formulação de um pedido reconvencional é uma faculdade, só ficando
precludida no caso de a procedência da acção ser incompatível com a procedência do
objecto que poderia ter sido alegado através da reconvenção6. Por seu turno, a dedução
da excepção peremptória é um ónus, não sendo deduzida na contestação fica precludida
a sua invocação em momento posterior ou em acção autónoma (artigo 573.º, n.º 2, do
C.P.C).

2. Admissibilidade

A reconvenção deve ser deduzida separadamente na contestação (artigo 583.º, n.º


1, do C.P.C).
No entanto, o réu pode limitar-se a juntar pedido reconvencional7, o que implica
a admissão por acordo dos factos alegados pelo autor que não estejam em contradição
com aqueles (574.º, n.º 1 e 2, do C.P.C). Devendo ser apresentado no prazo determinado
para a contestação.
A reconvenção deve ser equiparada a uma petição inicial8, sendo-lhe aplicável o
regime previsto no artigo 552.º, do C.P.C.

4
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 168.
5
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 168.
6
Tratando-se de uma pretensão incompatível com o pedido do autor, a reconvenção torna-se necessária, já que o trânsito em julgado
atribuído àquela, impede o réu de propor uma acção autónoma. A doutrina intitula esta situação de reconvenção necessária -
MARQUES, J. P. Remédio, Acção Declarativa à luz do Código Revisto, Coimbra Editora, Coimbra, 2011, pág. 470 e ss. MESQUITA,
Luís Miguel de Andrade, ob. cit., pág. 443.
7
Discordando deste entendimento - CARDOSO, Álvaro Lopes, Manual de processo do trabalho, Petrony, Lisboa, 1994, pág. 75.
8
Ac. RP de 03-02-1994 (Coelho da Rocha), in www.dgsi.pt.

2
A dedução de reconvenção produz os efeitos gerais da pendência da acção9. Sendo
um dos principais efeitos a interrupção da prescrição do direito alegado (artigo 323.º, n.º
1, do C.C) 10.
Cabe aludir a dois tipos de reconvenção - interveniente11 e incidental12.
A primeira corresponde a uma reconvenção que é acompanhada pela intervenção
principal de um terceiro na acção (artigo 266.º, n.º 4, do C.P.C)13. Podendo revestir três
modalidades - dedução da reconvenção pelo réu contra um terceiro, que intervém por
iniciativa do réu (316.º, n.º 1, do C.P.C); dedução da reconvenção pelo réu contra o autor
da acção e contra um terceiro (316.º, n.º 1, do C.P.C); dedução da reconvenção pelo réu
e pelo terceiro contra o autor da acção (316.º, n.º 1, do C.P.C).
No tocante ao segundo tipo de reconvenção, a reconvenção incidental consiste no
pedido do réu para que, sobre uma questão prejudicial ou incidental, recaia uma decisão
com valor de caso julgado material (artigo 91.º, n.º 2, do C.P.C).
Afirma REMÉDIO MARQUES14 ser discutível se, na falta de regulamentação
legal, deve ser aplicado a disciplina da reconvenção stricto sensu, prevista no artigo 266.º,
do C.P.C, ou deve ser aplicada a disciplina própria das excepções.
Em nossa opinião, a reconvenção incidental requer o preenchimento dos
pressupostos exigíveis na generalidade das acções e da aplicação das normas previstas
para a reconvenção stricto sensu.
Por outro lado, a apreciação da reconvenção pode estar na dependência da
procedência15/improcedência da causa (artigo 266.º, n.º 6, do C.P.C).
Cabe referir a compensação de créditos eventual ou subsidiária. Defende LUÍS
MIGUEL MESQUITA16 que o tribunal pode, após rejeitar a compensação, condenar o
autor.

9
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 180.
10
Ac. STJ de 18-02-1993 (Sá Couto), in www.dgsi.pt - “I - A resolução do contrato tem como efeito que as partes contratantes sejam
reconduzidas à situação que existia no momento em que celebraram o negócio. II - Interrompe a prescrição o pedido reconvencional
de resolução do contrato e o seu conhecimento pelas pessoas a quem o seu decurso aproveitaria”. Ac. RP de 31-10-1994 (Leitão
Santos), in www.dgsi.pt.
11
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 178. MARQUES, J. P. Remédio, ob. cit., pág. 467.
12
Ac. RP de 04-10-2011 (Fernando Samões), in www.dgsi.pt.
13
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 180.
14
MARQUES, J. P. Remédio, ob. cit., pág. 467, nota 2.
15
Reconvenção a título subsidiário - Ac. RP de 17-02-2003 (Marques Pereira), in www.dgsi.pt. Ac. RP de 22-02-2011 (Fernando
Samões) in www.dgsi.pt. Reconvenção a título cautelar ou eventual – Ac. RP de 20-01-1998 (Emídio Costa), in www.dgsi.pt. Ac. RP
de 08-04-2013 (Fonte Ramos), in www.dgsi.pt. Ac. RP de 16-04-2002 (Rapazote Fernandes), in www.dgsi.pt. Ac. RP de 13-07-1993
(Oliveira Barros), in www.dgsi.pt. Ac. RP de 10-03-1998 (Pelayo Gonçalves), in www.dgsi.pt.
16
MESQUITA, Luís Miguel de Andrade, ob. cit., págs. 116.

3
Divergimos desta posição, o réu ao invocar a compensação reconhece o crédito
do autor, não sendo admissível, consequentemente, a invocação condicional da
compensação17.
Não se verificando a procedência ou improcedência da acção de que depende o
pedido reconvencional, assistimos à inutilidade superveniente da lide reconvencional18.
Assim, a desistência do pedido formulado pelo autor não afecta o pedido
reconvencional, excepto se este estiver dependente da procedência da causa.

3. Pressupostos

A dedução de pedido reconvencional depende do preenchimento de todos os


pressupostos processuais exigíveis na generalidade das acções.
Além dos pressupostos processuais gerais, a reconvenção exige a conexão entre o
objecto apresentado pelo autor e o pedido reconvencional (conexão objectiva)19, assim
com a compatibilidade processual com o objecto definido pelo autor (compatibilidade
processual)20.

3.1. Conexão objectiva

3.1.1. Pedido reconvencional emergente de causa de pedir invocada pelo autor

Nos termos do artigo 266.º, alínea a), 1.ª parte, do C.P.C., o pedido reconvencional
tem de resultar da mesma causa de pedir21 (ou de parte da mesma causa de pedir22) que
serve de fundamento à acção ou à defesa.
No âmbito do processo laboral a reconvenção só é admissível quando o pedido do
réu emerge de facto jurídico (causa de pedir) que serve de fundamento à acção (artigo

17
Ac STJ de 09-09-2010 (Barreto Nunes), in www.dgsi.pt.
18
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 176.
19
Para alguns Autores - condições materiais de admissibilidade da reconvenção. MARQUES, J. P. Remédio, ob. cit., pág. 478.
20
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 173.
21
Ac. RP de 17-02-2003 (Marques Pereira), in www.dgsi.pt - "do facto jurídico que serve de fundamento à acção, tem o sentido de a
reconvenção se basear na mesma causa de pedir invocada pelo autor”. Ac. RC de 28-01-2009 (Francisco Caetano), in www.dgsi.pt.
Ac. RC de 15-01-2008 (Silva Freitas), in www.dgsi.pt. Ac. STJ de 08-07-1993 (Sá Couto), in www.dgsi.pt. FREITAS, José Lebre de/
ALEXANDRE, Isabel, Código de Processo Civil Anotado, 3.ª edição, Coimbra Editora, Coimbra, 2014, pág. 517.
22
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 170. MESQUITA, Luís Miguel de Andrade, ob. cit., pág. 148. FREITAS, José Lebre de/
ALEXANDRE, Isabel, ob. cit., pág. 517. Ac. RP de 17-02-2003 (Marques Pereira), in www.dgsi.pt.

4
30.º, n.º 1, do CPT), ou seja, num facto concreto constitutivo da situação jurídica
alegada23.
A doutrina e a jurisprudência24 entendem que a expressão quando o pedido do réu
emerge do facto jurídico que serve de fundamento à acção tem o sentido de a reconvenção
se basear na mesma causa de pedir invocada pelo autor.
No entanto, existem divergências no tocante à noção de causa de pedir, para
efeitos de reconvenção25.

Adoptou-se um conceito restrito de causa de pedir, exigindo-se que o facto jurídico concreto em que se
fundamenta o pedido reconvencional seja o mesmo de onde emerge directa e imediatamente a pretensão deduzida pelo
autor na acção26.

No caso em apreço, a autora pede que se declare a licitude da resolução do seu contrato de trabalho. Já
quanto ao pedido reconvencional, a ré pretende obter da autora o pagamento da quantia de € 50.000,00, a título de
indemnização pelos alegados danos causados à sua imagem, crédito e bom-nome, originados, ilícita e culposamente
pela autora. Ora, o pedido reconvencional formulado pela ré nada tem a ver com o fundamento da acção — justa
causa de resolução do contrato de trabalho —, antes se alicerça em prejuízos causados à ré por alegada conduta
ilícita e culposa da autora, consubstanciada na divulgação de factos atinentes à cessação do contrato de trabalho27.

Na verdade, a causa de pedir é o contrato de trabalho e a resolução desse mesmo contrato com justa causa
pelo autor; por sua vez, na reconvenção, a ré fundamentando-se embora na resolução do contrato operada pelo A.,
valora-a como denúncia ad nutum o que impunha ao A. a concessão do aviso prévio legal (cfr. art. 447º do CT), o que
não sucedeu. Aliás, como já se decidiu por advir do facto jurídico da rescisão unilateral do contrato, é admissível o
pedido reconvencional da ré a reclamar a indemnização correspondente à retribuição de base do período do aviso
prévio não concedido28.

O tribunal do trabalho e incompetente em razão da matéria para conhecer do pedido reconvencional


deduzido, em acção emergente de contrato individual de trabalho se a fundamenta-lo se invocam prejuízos resultantes
de actividade delituosa do trabalhador e, por isso, determinantes de responsabilidade civil extracontratual29.

Sendo o fundamento da acção a inexistência de justa causa de despedimento, não é de admitir o pedido
reconvencional em que a ré pede o valor de determinadas acções de sociedade ou a compensação do seu valor30.

Encontrando-se suspenso o contrato de trabalho em virtude de baixa médica por doença do trabalhador há
mais de três anos, e tendo o mesmo usufruído, durante esse tempo, de habitação, água e luz, beneficiou indevidamente

23
Para MARTINS, Alcides, Direito do Processo Laboral, 2.ª edição, Almedina, Coimbra, 2015, pág. 137. Estamos perante uma
manifestação do favor laboratoris, que normalmente assume a posição de autor e, portanto, de reconvindo.
24
Ac. RP de 01-10-2007 (Paula Leal de Carvalho), in www.dgsi.pt.
25
Ac. RP de 08-02-2010 (Albertina Pereira), in www.dgsi.pt. Ac. RP de 01-07-1992 (Abel Saraiva), in www.dgsi.pt. Ac. STJ de 03-
05-2006 (Pinto Hespanhol), in www.dgsi.pt.
26
Ac. RE de 18-05-2004 (Chambel Mourisco), in www.dgsi.pt.
27
Ac. STJ de 17-04-2008 (Pinto Hespanhol), in www.dgsi.pt.
28
Ac. RP de 16-02-2009 (Fernandes Isidoro), in www.dgsi.pt.
29
Ac. STJ de 06-03-1981 (Santos Victor), in www.dgsi.pt.
30
Ac. RP de 22-04-1996 (José Gonçalves), in www.dgsi.pt.

5
destas regalias correspondentes à prestação de trabalho. II - Baseando-se o pedido reconvencional no usufruto de tais
regalias no dito período de suspensão, usufruto esse avaliado em - 30000$00 -, e sendo a causa de pedir invocada pelo
trabalhador o próprio contrato de trabalho, evidente é que aquele pedido reconvencional emerge de facto jurídico que
serve de fundamento à acção31.

Conforme assinala a jurisprudência, a causa de pedir, para efeitos do artigo 30.º,


na maioria dos casos não é integrada pelo contrato de trabalho. Temos de atender ao facto
jurídico concreto e específico invocado pelo autor para fundamentar a sua pretensão32.

3.1.2. Pedido reconvencional acessório, complementar ou dependente da acção

A questão reconvencional tem de ter uma relação de conexão com a acção, por
acessoriedade, complementaridade ou dependência (artigo 126.º, n.º 1, alíneas n) e o), da
L.O.S.J, ex vi artigo 33.º, n.º 1, do C.P.T33). Especificando o artigo 126.º, n.º 1, alínea n),
da L.O.S.J, que a questão reconvencional deve ter uma relação de conexão com a relação
de trabalho34.
Cabe precisar os termos acessoriedade, complementaridade e dependência.
A acessoriedade pressupõe que o pedido tem de estar objectivamente subordinado
ao pedido principal, sendo dele dependente35.
Na complementaridade ambas as relações são autónomas pelo seu objecto, mas
uma delas é convertida, por vontade das partes, em complemento da outra36. Ou seja, não
existe subordinação, mas interligação37.
A dependência supõe a existência de uma relação, embora autónoma, entre os dois
pedidos, constituindo o pedido principal o suporte imprescindível do outro38. O nexo entre
ambas é de tal ordem que a relação dependente não pode viver desligada da relação
principal39.

31
Ac. RP de 21-01-1991 (José Correia), in www.dgsi.pt.
32
Assim, Ac. RC de 11-12-2014 (Ramalho Pinto), in www.dgsi.pt - facto de que emerge directa e imediatamente a pretensão que na
acção se pretende fazer valer.
33
Interpretação actualista – face à entrada em vigor da Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto.
34
Ac. RP de 04-01-2010 (Ferreira da Costa), in www.dgsi.pt – “a referida alínea o) estabelece como elemento de conexão relevante
para a admissibilidade da reconvenção a relação jurídica de trabalho e não a concreta causa de pedir do autor”.
35
BAPTISTA, Albino Mendes, Código de Processo do Trabalho Anotado, Quid Juris, Lisboa, 2000, pág. 76.
36
Ac. RC de 22-03-2007 (Azevedo Mendes), in www.dgsi.pt.
37
Ac. STJ de 22-11-2006 (Maria Laura Leonardo), in www.dgsi.pt.
38
BAPTISTA, Albino Mendes, ob. cit., pág. 76.
39
Ac. RP de 04-01-2010 (Ferreira da Costa), in www.dgsi.pt.

6
Assim, as figuras mais próximas são a acessoriedade e a dependência 40. Tanto o
pedido acessório como o dependente estão objectivamente subordinados a esse pedido
(principal). Todavia, a diferença reside na intensidade do nexo de subordinação41.

3.1.3. Reconhecimento de um crédito, seja para obter a compensação seja para obter
o pagamento do valor em que o crédito invocado excede o do autor (artigo 266.º,
alínea c), do C.P.C.)

Prescreve o artigo 126.º, n.º 1, alínea o), in fine, da L.O.S.J, que se o réu invocar
a compensação não será necessário que entre a acção e a reconvenção exista uma relação
de acessoriedade, complementaridade ou dependência42, nem é necessário que o pedido
do réu emirja do facto jurídico que serve de fundamento à acção 43. Salientado o artigo
30.º, n.º 1, in fine, que a compensação é admissível desde que o valor da causa exceda o
valor da alçada do tribunal44.
No domínio do anterior Código de Processo Civil a admissibilidade da
compensação na reconvenção foi uma vexata quaestio. Confrontavam-se duas correntes,
as chamadas tese compensação-excepção e tese compensação-reconvenção.
Começando pela teoria da compensação-excepção. Entendia a doutrina e
jurisprudência maioritárias45 que a reconvenção só deveria ser utilizada para a obtenção
da condenação do autor quanto ao excesso do crédito do réu relativamente ao crédito do
autor. Ou seja, se o contracrédito do réu fosse do mesmo montante ou de montante inferior
ao crédito do autor, o réu deveria limitar-se a invocar a compensação como excepção
peremptória
Para outra parte da doutrina46 e para a minoria da jurisprudência47, a compensação
invocada pelo réu seria sempre objecto de um pedido reconvencional, ainda que não
excedesse o montante do crédito reclamado pelo autor.

40
Ac. STJ de 22-11-2006 (Maria Laura Leonardo), in www.dgsi.pt. Ac. RC de 12-02-2009 (Felizardo Paiva), in www.dgsi.pt.
41
Ac. RP de 04-01-2010 (Ferreira da Costa), in www.dgsi.pt – “claro está que quando se refere que a conexão objectiva pressupõe
uma causa dependente de outra, estamos a reportar-nos à dependência imediata, sob pena de ficarmos sem saber quais os limites que
deveriam ser impostos à dependência mediata”.
42
Ac. RL de 28-01-2004 (Guilherme Pires), in www.dgsi.pt. Ac. STJ de 19-02-1982 (Santos Victor), in www.dgsi.pt.
43
Ac. RP de 17-02-2003 (Sousa Peixoto), in www.dgsi.pt. Ac. RP de 24-11-1997 (Machado da Silva), in www.dgsi.pt.
44
Ac. RP de 22-04-1985 (António Macedo), in www.dgsi.pt.
45
Ac. RL de 03-11-1994 (Diniz Roldão) , in www.dgsi.pt. Ac. RL de 30-09-1998 (Soares de Andrade) , in www.dgsi.pt. Ac. STJ de
24-05-2006 (Sousa Grandão), in www.dgsi.pt. Ac. STJ de 20-03-2002 (Emérico Soares), , in www.dgsi.pt. Ac. STJ de 22-11-1995
(Torres Paulo), in www.dgsi.pt. Ac. RP de 26-04-1993 (Guimarães Dias), in www.dgsi.pt. Ac. RC de 08-07-2008 (Hélder Roque), in
www.dgsi.pt.
46
MENDES, João Castro, Direito Processual Civil, Volume III, AAFDL, Lisboa, 1985, págs. 15 e ss. SOUSA, Miguel Teixeira de,
ob. cit., pág. 173.
47
Ac. STJ de 16-04-1971 (Ludovico da Costa), in www.dgsi.pt.

7
Com a redacção do artigo 266.º, n.º 2, do C.P.C, o legislador tomou posição,
seguindo a tese compensação-reconvenção.
A invocação do contracrédito tem de satisfazer os requisitos da compensação
previstos no artigo 847.º, do C.C48, assim como tem de ser formulada a declaração de
compensação (artigo 848.º, n.º 1, do C.C)49.

3.1.4. Processo especial de impugnação judicial da regularidade e ilicitude do


despedimento

Nos termos do artigo 98.º-L, n.º 3, poderá o trabalhador deduzir reconvenção, bem
como peticionar créditos emergentes do contrato de trabalho50, independentemente do
valor da acção.
O referido preceito parece excluir a aplicação do artigo 30.º, já que remete
exclusivamente para o artigo 266.º, n.º 2, do C.P.C51, ampliando desta forma os casos em
que é admissível a reconvenção.
Deste modo, a reconvenção é admissível quando o pedido do trabalhador emerge
de facto jurídico que serve de fundamento à acção do autor ou do seu articulado ou quando
pretenda a obtenção do mesmo efeito jurídico que o empregador visou alcançar52.
Refere alguma doutrina53 que o empregador poderá deduzir reconvenção.
Acrescentando ABÍLIO NETO54 que a reconvenção somente será possível se o juiz a
autorizar, nos termos dos artigos 555.º, n.º 1, e 37.º, n.º 2, ambos do C.P.C.

48
Ac. RP de 16-02-2009 (Fernandes Isidoro), in www.dgsi.pt – i) a existência de dois créditos recíprocos; ii) a exigibilidade do crédito
ao autor da compensação; iii) que as obrigações sejam fungíveis e da mesma espécie e qualidade; iv) a não exclusão da compensação
por lei. Ac. RC de 03-07-2007 (Barateiro Martins), in www.dgsi.pt – “quando num processo a compensação é, por via reconvencional,
invocada, os requisitos do art. 847.º do CC têm de verificar-se no momento da sentença e não no momento da propositura da acção
e/ou no da dedução da defesa/reconvenção”.
49
Ac. STJ de 22-11-2006 (Maria Laura Leonardo), in www.dgsi.pt. Ac. STJ de 06-03-1981 (Santos Victor), in www.dgsi.pt. Ac. RP
de 17-02-2003 (Sousa Peixoto), in www.dgsi.pt. Ac. STJ de 13-05-2004 (Fernandes Cadilha), in www.dgsi.pt. Ac. RP de 16-11-1998
(César Teles), in www.dgsi.pt.
50
A título exemplificativo - diferenças salariais, trabalho suplementar, compensação por dias de formação em falta. Ac. RL de 20-11-
2013 (José Eduardo Sapateiro)
51
Interpretação actualista.
52
Ac. RL de 28-09-2011 (José Feteira), in www.dgsi.pt – “da análise destes normativos (artigo 266.º, n.º 2, do C.P.C) - verificamos
que, não tendo verdadeira aplicação no processo laboral a situação prevista na al. b) deste último preceito, excedendo o valor da causa
a alçada do tribunal, o trabalhador, na contestação que formule à motivação de despedimento apresentada pelo empregador, pode
deduzir reconvenção quando pretenda formular contra ele pedido ou pedidos que decorram do facto jurídico que serve de fundamento
à motivação, ou quando pretenda alcançar o mesmo efeito jurídico que o empregador se proponha obter, assim como pode, na
contestação e independentemente do valor da acção, peticionar créditos emergentes do contrato de trabalho”.
53
MARTINS, Alcides, ob. cit., pág. 183. NETO, Abílio, Código de Processo do Trabalho Anotado, 5.ª edição, Edição Ediforum,
2011, pág. 287.
54
NETO, Abílio, ob. cit., pág. 287.

8
A jurisprudência tem entendido que não é admissível a dedução de reconvenção
pelo empregador, quer em sede do articulado inicial55, como do articulado de resposta à
contestação56.

O empregador poderá então - e só então - fazer incidir a sua atenção e abordagem sobre outras
matérias que não as estritamente ligadas ao despedimento, nos moldes já acima sintetizados, muito embora
não possa, para além de responder às eventuais exceções deduzidas pelo trabalhador, formular por sua
vez, um (segundo) pedido reconvencional, não só por que o regime especial desta ação não o prevê, como
ainda porque a aplicação das regras especiais e gerais - artigos 30.º do Código do Processo do Trabalho
e 274.º do Código de Processo Civil - não o consentem57.

Em nossa opinião, poderá o empregador deduzir reconvenção, nos termos do


artigo 30.º, já que o regime previsto nos artigos 98.º-J e 98º-L não exclui tal possibilidade.
Ora, os preceitos previstos no processo comum (artigo 51.º e seguintes) só não serão
aplicáveis caso uma norma prevista para os processos especiais expressamente ou
implicitamente58 exclua a sua aplicação.
Destarte, discordamos igualmente de ABÍLIO NETO59 quando afirma que a
reconvenção deduzida pelo empregador necessita de autorização do juiz.

3.1.5. Falta de conexão objectiva

A inadmissibilidade da dedução da reconvenção por falta de conexão objectiva


constitui uma excepção dilatória inominada, implicando a absolvição do autor da
instância (artigos 278.º, n.º 1, alínea e), e 576.º, n.º 2, do C.P.C).

3.2. Compatibilidade processual

Uma primeira exigência diz respeito à competência do tribunal. Nos termos do


artigo 93.º, n.º 1, do C.P.C, o tribunal da acção deve ser internacional, material e
hierarquicamente competente para apreciar o pedido reconvencional.

55
Ac. RL de 07-03-2012 (Leopoldo Soares), in www.dgsi.pt – numa acção especial de impugnação judicial da regularidade e licitude
do despedimento não é admissível que a entidade patronal ab initio no articulado que deve apresentar , nos termos do preceituado
no artigo 98º, nº 1 – J do CPT deduza pedido reconvencional.
56
Ac. RL de 20-11-2013 (José Eduardo Sapateiro), in www.dgsi.pt.
57
Ac. RL de 20-11-2013 (José Eduardo Sapateiro), in www.dgsi.pt.
58
i.e, incompatíveis com a índole da forma de processo.
59
NETO, Abílio, ob. cit., pág. 287.

9
Note-se que se o tribunal deixar de ser competente em razão do valor, em virtude
da reconvenção, deve o juiz oficiosamente remeter o processo para o tribunal competente
(artigo 93.º, n.º 2, do C.P.C).
Uma segunda exigência diz respeito à identidade de formas de processo. Impõe o
artigo 30.º, n.º 2, em consonância com o artigo 266.º, n.º 3, do C.P.C, que não é admissível
a reconvenção quando ao pedido do réu corresponda uma espécie60 de processo diferente
da que corresponde ao pedido do autor.
Portanto, o pedido reconvencional não é admissível se a um dos objectos
corresponder processo comum e ao outro processo especial61 ou se a ambos os objectos
corresponderem processos especiais distintos62.
Conforme estatui a parte final do n.º 3 do artigo 266.º do C.P.C, pode o juiz
autorizar a formulação de pedido reconvencional, desde que as tramitações de ambas as
formas de processo não sigam uma tramitação manifestamente incompatível e haja
interesse relevante ou a apreciação conjunta das pretensões seja indispensável para a
justa composição do litígio.
Na senda JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA63, consideramos que o juiz, ao
abrigo do disposto nos artigos 547.º e 4.º, do C.P.C, deverá determinar a notificação das
partes para, querendo, se pronunciarem.

3.2.1. Falta de compatibilidade processual

A incompatibilidade processual do pedido reconvencional provém da


incompetência absoluta do tribunal da acção ou da inadequação da forma de processo64.
A incompetência absoluta do tribunal para apreciar o pedido reconvencional
determina a absolvição do autor da instância (artigo 93.º, n.º 1, in fine, do C.P.C).
Por fim, a incompatibilidade das formas de processo corresponde a uma excepção
dilatória inominada, implicando a absolvição do autor da instância (artigos 576.º, n.º 2, e
278.º, n.º 1, alínea e), ambos do C.P.C).

4. Valor da causa

60
As espécies de processo no âmbito laboral vêm previstas no artigo 21.º.
61
MARQUES, J. P. Remédio, ob. cit., pág. 474. Ac. STJ de 26-01-1999 (Martins da Costa), in www.dgsi.pt.
62
MARQUES, J. P. Remédio, ob. cit., pág. 474.
63
PEREIRA, Joel Timóteo Ramos, Prontuário de Formulário e Trâmites, Volume III, 2.ª edição, Quid Juris, 2009, pág. 845, nota
1121.
64
SOUSA, Miguel Teixeira de, ob. cit., pág. 173.

10
A formulação do pedido reconvencional só é admissível se o valor da causa
exceder a alçada do tribunal (artigo 30.º, n.º 1, in fine). Ressalva feita à reconvenção
prevista na acção de impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento
(artigo 98.º-L, n.º 3).
Cabe relembrar que o valor da alçada dos tribunais de primeira instância é de
€5000 (artigo 44.º, n.º 1, da L.O.S.J).
O valor do pedido reconvencional soma-se ao valor do pedido formulado pelo
autor quando os pedidos sejam distintos (artigo 299.º, n.º 2, do C.P.C) 65.
Nos termos do n.º 3 do artigo 530.º do C.P.C, não se considera que o pedido seja
distinto, designadamente, quando o réu pretenda conseguir o mesmo efeito jurídico que
o autor ou quando a parte pretenda obter a mera compensação de créditos.
Todavia, o valor da causa, para efeitos de determinação da admissibilidade da
reconvenção, é o valor indicado na petição inicial66.

5. Resposta à reconvenção

Decorrente da reforma do C.P.C, a réplica só é admissível em duas situações -


para o autor deduzir defesa quanto ao pedido reconvencional (artigo 584.º, n.º 1, do
C.P.C); nas acções de simples apreciação negativa, para o autor impugnar os factos
constitutivos alegados pelo réu ou para alegar factos impeditivos ou extintivos do direito
invocado por este (artigo 584.º, n.º 2, do C.P.C)
Deste modo, o autor pode contestar, na réplica, o pedido reconvencional, estando
vedada a possibilidade de opor nova reconvenção67 (artigo 584.º, n.º 1, 2.ª parte, do C.P.C)

65
Ac. RL de 28-10-1992 (Ventura de Carvalho), in www.dgsi.pt - “II - Se o trabalhador pretende obter da entidade patronal quantia
certa em dinheiro e esta pede, em reconvenção, a condenação daquele, também, em quantia certa, o valor da causa deve corresponder
à soma desses valores”.
66
Ac. RP de 17-02-2003 (Sousa Peixoto), in www.dgsi.pt. QUINTAS, Paula/QUINTAS, Hélder, Manual de Direito do Trabalho e de
Processo do Trabalho, 3.ª edição, Almedina, Coimbra, 2014, pág. 334. MARTINS, Alcides, ob. cit., pág. 136. CARDOSO, Álvaro
Lopes, ob. cit., pág. 74.
67
reconventio reconventionis non admittitur.

11

Anda mungkin juga menyukai