de 2018: ADORAÇÃO, SANTIDADE E SERVIÇO: Os princípios de Deus para a Sua Igreja em Levítico
ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Neste trimestre, teremos mais um trimestre bíblico, desta feira estudando o livro
de Levítico.
Por isso mesmo, é, sem dúvida, o livro de menor índice de leitura e o de mais difícil
compreensão do Pentateuco, havendo, mesmo, quem, diante do seu conteúdo altamente cerimonial, entenda
que nada se teria de aprender com a sua leitura, já que estamos na dispensação da graça.
Nada mais equivocado, porém. Como disse o escritor aos hebreus, a lei é a sombra
dos bens futuros (Hb.10:1) e todos os rituais e regras constantes do livro de Levítico são mandamentos que
indicam os princípios divinos para a santidade, princípios estes que, por serem provenientes do Senhor, são
imutáveis e válidos em todos os tempos e em todas as dispensações.
Daí porque se dizer que todo o livro de Levítico se resume numa expressão que é
repetida por três vezes no terceiro livro da Bíblia Sagrada (Lv.11:44,45; 20:7): “Sede santos, porque Eu, o
Senhor vosso Deus, sou santo”. E esta santidade não está adstrita à dispensação da lei, pois é repetida pelo
apóstolo Pedro para a Igreja em I Pe.1:15,16.
Esta “lavagem da água”, que era indispensável para que o sacerdote pudesse
ministrar (Ex.30:17-21) simboliza a “lavagem da água” produzida pela salvação em Cristo Jesus, o
“nascimento da água” (Jo.3:5), a santificação pela Palavra de Deus (Ef.5:26), a regeneração e a renovação
do Espírito Santo (Tt.3:5).
Por isso mesmo, o apóstolo Paulo afirma que a santificação tem seu nascedouro no
espírito, passando pela alma e, só então, atingindo o corpo (I Ts.5:23), como também Tiago diz que a
“limpeza de mãos” é resultado de uma anterior aproximação a Deus e fruto de uma purificação do coração
(Tg.4:8).
Após uma lição introdutória, em que teremos uma visão geral sobre o livro de
Levítico (lição 1), temos um primeiro bloco, em que estudaremos os principais parâmetros do culto levítico
(lições 2 a 6) e, depois, teremos a aplicação propriamente dita deste culto à vida cristã (lições 7 a 14).
INTRODUÇÃO
- Neste trimestre, estudaremos o livro de Levítico, o terceiro livro do Pentateuco, escrito por Moisés e
que é um verdadeiro “código de santidade”, “código de culto”, visto que o livro é, essencialmente, o
conjunto de regras para cerimônias e rituais do culto divino na dispensação da lei.
- Exatamente por ser um livro que contém, com todas as suas minúcias, todos os rituais das cerimônias de
culto da lei, tais como os tipos de sacrifícios e as normas relacionadas com a santidade e com as coisas
sagradas, é, via de regra, o livro que é menos lido e compreendido de todos os livros da lei, havendo,
mesmo, quem entenda que sua leitura seria inócua ou dispensável, já que diz respeito à chamada “lei
cerimonial”, que não está mais em vigor desde a morte e ressurreição de Cristo Jesus.
- No entanto, tal pensamento não tem qualquer base bíblica, pois, como dizem as próprias Escrituras, “tudo
que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras
tenhamos esperança” (Rm.15:4) e, quando diz “tudo”, é “tudo mesmo”, ou seja, abrange, também, os
mandamentos concernentes ao culto da antiga aliança que estão no livro de Levítico.
- Mas, como entender isto, já que a “lei cerimonial” não deve mais ser seguida na dispensação da graça?
Simples. Como afirma o escritor aos hebreus, tem “a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata
das coisas” (Hb.10:1), de modo que, embora não seja mais o caso de observar os rituais e cerimônias
constantes do livro de Levítico, sua leitura é indispensável para que possamos entender os princípios divinos
que estão por detrás destes rituais e cerimônias, que saibamos o que significa ser santo, pois a santidade não
é algo que se requeria apenas na dispensação da lei, mas algo que devemos perseguir incansavelmente,
porquanto Deus é santo e somente os que forem santos poderão com Ele conviver para sempre.
- Talvez como em nenhum outro livro das Escrituras Sagradas, a leitura de Levítico deve ser feita sob
o aspecto da tipologia bíblica. Mas o que é tipologia bíblica? É o estudo do tipo bíblico. Mas, o que vem a
ser tipo?
- Tipo vem da palavra grega “typos” (τύπος), cujo significado é marca de um golpe; impressão, a marca
feita com um cunho (daí o sentido de figura, imagem); modelo ou padrão. Na Bíblia, tem-se a
correspondência entre duas situações históricas (Adão e Cristo, por exemplo, como em Rm.5:12-21) ou a
correspondência entre o padrão celestial e seu equivalente terrestre (v.g., o original divino por trás do
tabernáculo celeste - At.7:44; Hb.8:5; 9:24).
- Podem ser tipos pessoas (Adão, Melquisedeque), eventos (dilúvio, serpente de bronze, libertação de Israel
no Egito), instituições (festas), objetos (altar de holocaustos, arca) e ofícios (rei, profeta, sacerdote). "A
tipologia bíblica, portanto, envolve uma correspondência análoga em que eventos, pessoas e lugares
anteriores na história da salvação tornam-se padrões por meio dos quais eventos posteriores, pessoas, etc.
são interpretados" (G. R. Osborne).“…os tipos são um conjunto de quadros, diretamente da mão de Deus
pelo qual Ele ensinaria para o Seu povo coisas incompreensíveis.” (O que é um tipo? Disponível em:
http://www.jesusnet.org.br/tabernaculo/tipologia.htm Acesso em 19 jun. 2009).
- Pois bem, quando adotamos este viés na leitura de Levítico, podemos, então, entender a riqueza do seu
estudo, ainda mais quando sabemos que a santificação é um elemento indispensável para a vida cristã, visto
que devemos manter o estado de santidade em que fomos postos pelo Senhor quando de nossa salvação, pois
para isto fomos salvos (Ef.1:4; Cl.1:21,22; I Ts.3:13; I Pe.1:15,16).
- Temos de ser santos, porque Deus é santo (Lv.11:44,45; 19:2; 20:7; I Pe.1:15,16). A santidade é a
qualidade divina que é incessantemente proclamada diante de Seu trono (Is.6:3) e, sem ela, jamais
poderemos contemplar o Senhor (Hb.12:14). É uma qualidade tão necessária e cara ao servo de Deus, que o
próprio Senhor Jesus, intercedendo por nós em Sua oração, pediu ao Pai que fôssemos santificados
(Jo.17:17) e, por isso mesmo, trata-se de tema que tem de ter prioridade em nossa meditação nas Escrituras
e, para tanto, o livro de Levítico se apresenta como uma porção particularmente importante.
- Vivemos dias difíceis e um dos temas que mais tem desaparecido dos púlpitos é a santificação, a
necessidade de mantermos uma vida santa, até porque, nestes dias trabalhosos, muitos estarão a procurar
doutores conforme as suas próprias concupiscências, tendo comichão nos ouvidos, não suportando a sã
doutrina (II Tm.4:3). Daí porque o estudo do livro de Levítico se afigura como oportuno e necessário, para
que, através dele, aprendamos o que é a santidade e como podemos obtê-la, já que as marcas do culto
levítico indicam como deve ser o culto da nova aliança, como devemos adorar e servir ao Senhor.
II – O LIVRO DE LEVÍTICO
- O livro de Levítico é o terceiro livro do Pentateuco. Seu nome em hebraico é “Vayicrá” ()ויקךא, que
significa “e chamou”, que são as primeiras palavras do livro (Lv.1:1). Na Septuaginta (a versão grega do
Antigo Testamento, a primeira tradução do texto bíblico, feito, segundo a tradição, por setenta escribas, daí
o nome “septuaginta”, que vem de “setenta”), recebeu o título de “Levítico”, precisamente porque trata dos
rituais e das cerimônias que deveriam ser realizados pelos sacerdotes no culto a Deus, sacerdotes estes que
eram todos descendentes de Arão, da tribo de Levi, que foi escolhida para ser a tribo sacerdotal após o
episódio do bezerro de ouro, por terem “ficado do lado do Senhor” (Ex.32:25-29; Dt.10:8,9).
- Os doutores da lei denominaram o livro de “Sefer Torat Cohanim”, ou seja, o “Livro da Lei dos
Sacerdotes”, exatamente para demonstrar uma inexatidão com relação ao título dado pela Septuaginta, visto
que o livro trata mais pormenorizadamente da ação dos sacerdotes, só esporadicamente falando dos levitas,
vez que nem todo levita é sacerdote, embora todo sacerdote seja levita.
- O livro de Levítico é um livro essencialmente legislativo, por isso terem os doutores da lei dito que ele
era “repleto de leis”, em virtude de ele conter mais informações de caráter legal e menos narrativa do que
qualquer outro dos livros do Pentateuco, motivo por que, desde os tempos dos israelitas, ter sido considerado
o “mais difícil dos livros de Moisés”.
- O fato de ter sido posto logo após o livro de Êxodo e antes do livro de Números, ou seja, após a
inauguração do tabernáculo e antes do início da saída do povo do sopé do monte Sinai, para dar início à
jornada em direção à Terra Prometida, é um fator que indica ter tido Moisés recebido toda a revelação do
código da santidade depois que havia descido do monte com as segundas tábuas da lei, antes da inauguração
do tabernáculo pelo povo.
- Entendem alguns, entretanto, que a revelação se deu quando Moisés estava no monte, para onde subiu após
o episódio do bezerro de ouro, que é a posição que parece ser seguida pelos cronologistas bíblicos Frank
Klassen e Edward Reese em sua Bíblia em ordem cronológica.
- No entanto, o texto bíblico diz que Deus chamou Moisés e falou com ele da tenda da congregação
(Lv.1:1), tenda esta que foi erguida por Moisés ao descer do monte com as segundas tábuas (Ex.33:7-
10), razão pela qual entendemos que tenha sido nesta oportunidade que se deu a revelação do livro de
Levítico, que foi reduzido a escrito pelo próprio Moisés, isto por volta do ano 1.462 a.C. Além do mais,
ilógico imaginar que o tabernáculo fosse inaugurado antes que o Senhor determinasse, minudentemente,
como se daria o culto.
- Tal circunstância, ainda, é reforçada pelo fato de, com o episódio do bezerro de ouro, ter se tornado
impossível que Israel exercesse o papel de reino sacerdotal que assumira no pacto firmado no Sinai
(Ex.19:5-8), de sorte que deveriam ser, então, devidamente regulamentados os rituais e cerimônias que
serviriam apenas de sombra para a realidade espiritual que fora postergada para a “posteridade de Abraão”
(Gl.3:16-19).
- O livro de Levítico foi escrito por Moisés, como deixa claríssimo o livro, que, logo em seu início, afirma
que toda a regulamentação do culto divino foi ditada por Deus a Moisés que, assim, apenas reduziu a escrito
o quanto determinado, a nos mostrar que quem determina como deve ser o culto é o próprio Deus, pois é Ele
o Senhor e nós, apenas, Seus servos. Isto é muito importante porque, em nossos dias, há aqueles que, a
exemplo de Caim, querem cultuar a Deus da sua maneira, do seu jeito, como se isto fosse possível, inclusive
criando uma tal de “adoração extravagante”.
- Neste particular, aliás, é providencial lermos o capítulo 10 de Levítico, que, inclusive será objeto de uma
lição própria (lição 7), em que os sacerdotes Nadabe e Abiú são mortos pelo Senhor precisamente porque
ousaram trazer fogo estranho à presença de Deus, sendo fulminados por isso (Lv.10:1,2).
- Como dizem os doutores da lei, o livro de Levítico é “repleto de leis”, ou seja, são mandamentos, ordens
dadas pelo Senhor ao Seu povo, que devem ser observadas sem questionamento, pois não compete ao
homem dizer como e o que deve fazer para adorar a Deus.
- Segundo Finis Jennings Dake (1902-1987), o livro de Levítico tem 27 capítulos, 859 versículos, 24.541
palavras, 3 questões, 58 versículos com profecias cumpridas, seis versículos de profecias não cumpridas,
799 versículos de história, 795 mandamentos, 26 promessas, 125 predições e 35 mensagens de Deus.
- O livro de Levítico é o terceiro livro das Escrituras, correspondente à terceira letra do alfabeto hebraico
“guimel”, que está relacionada à ideia de “oferta”, de “dádiva”, de “recompensa”, sendo o livro que diz
como deve ser feita a adoração ao Senhor, como deveria Israel cultuar a Deus, quais as ofertas que Lhe
deveriam ser dadas.
- O livro de Levítico cuida dos rituais e das cerimônias que deveriam ser observados no culto a Deus.
Por isso, é um livro que nos fala tanto de adoração quanto de serviço ao Senhor, até porque adoração é
serviço, tanto que, em inglês, a palavra “culto” é “service”.
- Como já dito supra, o livro de Levítico já começa com um chamado de Deus a Moisés para que o líder
israelita transmitisse ao povo quais seriam os sacrifícios e o modo como deveriam ser realizados. “Em
Levítico, ‘o Senhor falou’ 36 vezes: 1. A Moisés para falar a Israel – 15 vezes (Lv.1:1; 4:1; 7:22,28; 12:1;
18:1; 20:1; 23:1,9,23,33,; 24:1,13; 25:1; 27:1); 2. A Moisés, sozinho – 7 vezes (Lv.5:14; 6:1,19; 8:1; 14:1;
22:26; 23:26); 3. A Moisés, para falar a Arão e os filhos – 5 vezes (Lv.6:8,24; 17:1; 22:1,17); 4. A Arão
sozinho – 1 vez (Lv.10:8); 5. A Moisés e a Arão para falarem a Israel – 2 vezes (Lv.11:1; 15:1); 6. A Moisés
e Arão juntos – 2 vezes (Lv.13:1; 14:33); 7. A Moisés para falar a toda a congregação de Israel – 1 vez
(Lv.19:1); 8. A Moisés para falar a Arão – 2 vezes (Lv.16:1; 21:16); 9. A Moisés para falar aos sacerdotes,
os filhos de Arão – 1 vez (Lv.21:1)” (Bíblia de Estudo Dake, CPAD/Atos, nota 1.1d, p.189).
- Este início do livro já estabelece que é Deus quem determina as regras do culto, as normas de
adoração, sendo algo que não se encontra na disposição ou no arbítrio do ser humano.
- O livro de Levítico já se inicia, portanto, indicando que é o Senhor quem diz como deve ser adorado e, por
isso, chama Moisés para que ele falasse aos filhos de Israel como deveria agir quem quisesse oferecer oferta
ao Senhor.
- Outro ponto importante que vemos aqui no limiar do livro de Levítico é que a adoração, embora tenha suas
regras e normas fixadas pelo Senhor, deve ser sempre um ato voluntário, ou seja, o homem tem de querer
adorar a Deus, não pode fazer algo por obrigação, necessidade ou constrangimento. O Senhor foi bem claro
azo afirmar que “quando algum de vós oferecer oferta ao Senhor” (Lv.1:2), ou seja, trata-se de algo que
decorre da vontade do adorador.
OBS: “Todo culto a Deus e meios de buscar a reconciliação com Ele são e sempre foram de acordo com o livre-arbítrio. Mesmo onde certas
coisas foram ordenadas, o indivíduo não era forçado a obedecer (v.3) [Lv.1:3 – observação nossa]” (Bíblia de Estudo Dake, CPAD/Atos, nota
1.3a, p.189)
- A palavra “adoração” vem do latim “ad oratio”, que remete, assim como as palavras grega e hebraica
utilizadas nas Escrituras, ao ato de beijar a mão de uma determinada autoridade. O beijo é um ato que
simboliza o reconhecimento da autoridade de alguém. A pessoa serva se prostrava diante da autoridade e
beijava a sua mão, querendo, com isto, dizer que estava “sob a mão” daquela outra pessoa, debaixo de seu
poder, de seu senhorio. É exatamente isto que significam as palavras “hishtahªwâ”, em hebraico e
“proskyneo”, em grego, que é “…manifestarem temor reverente e admiração e respeito próprios da atitude
de adoração…” (THOMSON, J.G.S.S. Adoração. In: DOUGLAS, J.D. (org.). O novo dicionário da Bíblia,
p.35).
- A palavra " adoração" vem do latim "ad orare", que significa "para ser feito com a boca", ou seja, "beijar".
Esta expressão deve ser entendida na cultura da Antigüidade, ainda hoje seguida em alguns segmentos
sociais (como a Igreja Romana, por exemplo), em que o beijo é um gesto de reconhecimento da autoridade
de alguém. Assim, "adorar" é reconhecer a autoridade de uma pessoa e se inclinar diante dela, curvar-se a
seu senhorio e a sua superioridade. Adoraremos a Deus, portanto, quando reconhecermos a Sua autoridade, a
Sua supremacia, quando agirmos de forma a mostrarmos às pessoas que é Deus quem manda em nossas
vidas. Quando o diabo pediu a Jesus para ser adorado (Mt.4:9), estava, precisamente, pedindo que Jesus
reconhecesse uma superioridade do diabo sobre Sua vida, o que, como bem mostrou nosso Senhor, era um
rotundo absurdo (Mt.4:10).
- Esta ideia contida na palavra latina, que deu origem a nossa palavra na língua portuguesa, é, precisamente,
o mesmo sentido que possui os termos originais hebraico e grego nas Escrituras. Sempre há a ideia de
homenagem, de reconhecimento de soberania e supremacia de Deus sobre a vida daquele que está a adorar a
Deus. É este, aliás, o sentido que vemos no Sl.2:12, quando o salmista fala "beijai o Filho".
- O homem deve adorar a Deus, porque Deus o fez e Ele tudo deve a este Deus. A adoração estabelece
os parâmetros corretos do relacionamento entre Deus e o homem, exatamente porque é através da adoração
que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como Seu servo.
- O livro de Levítico exsurge como todo um código pelo qual o povo de Israel poderia se achegar ao seu
Deus e, assim, ser realmente o Seu povo, a Sua propriedade peculiar dentre os povos. Ainda que débil e
frágil, ainda que tivesse falhado no pacto firmado com o Senhor, Deus tomava a iniciativa de estabelecer os
parâmetros pelos quais o povo israelita poderia adorar ao Senhor e, com Ele, estabelecer um relacionamento.
Deus jamais abandona o homem, sempre está disposto a travar um relacionamento com sua criatura, apesar
da pecaminosidade humana.
- O primeiro motivo para adorarmos a Deus está no fato de que Deus, o Senhor de todas as coisas, é o
Criador de tudo, inclusive do próprio homem. Quando adoramos a Deus, reconhecemos que Ele é o nosso
Criador e manifestamos tal reconhecimento através da adoração. Todo homem é apresentado a Deus como
sendo Sua criatura (Rm.1:20,21) e, através desta apresentação, deve o ser humano adorar a seu Criador.
Quando não o faz, desprezando a Deus, a Bíblia ensina-nos que são tais pessoas abandonadas pelo Senhor à
sua própria sorte, gerando um sem-número de males e problemas para a humanidade rebelde, que se recusa a
adorar o seu Criador (Rm.1:24-32).
- Por isso, o livro de Levítico faz questão de sempre ressaltar que Deus era o Senhor de Israel e que,
portanto, os israelitas deveriam adorá-l’O (Lv.11:44,45;18:2,4,6,21,30;
19:3,4,10,12,14,16,18,25,28,30,31,32,34,36,37;20:7,8,24;21:12,15,23;22:2,3,8,9,16,30-33;
23:22.43;24:22;25:17,38,55;26:1,2,13,44,45)..
- O segundo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos ama, de, apesar de ser o
Criador, jamais desampara o homem, mas, muito pelo contrário, o ama e tem prazer em estar na companhia
do ser humano. Por amar o homem, Deus enviou Seu Filho para morrer por nós, quando ainda éramos
pecadores (Rm.5:8). Jesus é a prova suprema deste amor, pois morreu por nós na cruz do Calvário
(Jo.15:13). Deus nos amou primeiro (I Jo.4:19) e, em gratidão a este tão grande amor, reconhecemos Sua
supremacia e procuramos render-Lhe culto, bem como fazemos o que Ele nos manda.
- No livro de Levítico, temos a demonstração do amor divino, porquanto, mesmo dizendo que o povo de
Israel Lhe desobedeceria e, por conta de tal desobediência, sofreria as penalidades já previstas na própria lei,
por amor o Senhor não haveria de rejeitar Israel e o restabeleceria apesar de seus pecados (Lv.26:45).
- Além do mais, é no livro de Levítico que encontramos aquele que o Senhor Jesus diria ser o segundo e
grande mandamento, ou seja, o amor ao próximo (Mt.22:39), como podemos ler em Lv.19:18.
- O terceiro motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele nos salvou. Deus não somente
amou o homem, mas providenciou a sua salvação através da pessoa de Jesus Cristo. Em Cristo, temos
novamente acesso a Deus, pois os nossos pecados são perdoados e não há mais separação entre nós e Deus
(Rm.5:1; Ef.2:13,14). Assim, tendo em vista a salvação de nossas almas, temos um caminho que nos
introduz à presença de Deus, o que torna possível a adoração direta e individual, o que, antes, não era
possível ao homem pecador (Hb.10:19-22). Podemos adorar a Deus, sem obstáculo, tendo como único
mediador a Cristo Jesus (I Tm.2:5). Graças a salvação, temos uma comunhão eterna com o Senhor, como
antes do pecado dos nossos primeiros pais, comunhão esta que perdurará para sempre na nova Jerusalém
(Ap.21:2-4).
- No livro de Levítico, a salvação é demonstrada pela expiação dos pecados quando oferecidos os sacrifícios.
Logo no limiar do livro, vemos todo o cerimonial a respeito dos holocaustos, em que o ofertante colocava a
mão sobre a cabeça da vítima do sacrifício para expiação (Lv.1:4). Era a demonstração cabal de que Deus
desejava salvar o homem, retirar-lhe o pecado e, para tanto, dispunha de um substituto para o pecador,
substituto este tipificado nos animais indicados no cerimonial e que apenas eram sombra do Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29).
- O quarto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que Ele precisa ser conhecido dos
homens que ainda não O conhecem como Senhor e Salvador de suas vidas. A missão principal dos
servos de Deus neste mundo é anunciar a toda criatura o evangelho (Mc.16:15), ou seja, a boa notícia de que
o reino de Deus é chegado e que os homens devem nele entrar através do arrependimento de seus pecados
(Mc.1:14,15). Deus somente será conhecido dos homens se nós O revelarmos através de nossas vidas e isto
só será possível mediante a visibilidade da adoração. Pela adoração, os homens poderão ver Deus em nós
(Mt.5:16; At.6:15; II Co.3:18). Como diz conhecido cântico, devemos adorar o Senhor de modo que o
"mundo possa ver a glória do Senhor em nossos rostos brilhar."
- Todo o cerimonial e todos os rituais do culto levítico tinham por objetivo mostrar a todos os povos o único
e verdadeiro Deus. Muitas das disposições cerimoniais e ritualísticas eram, inclusive, extensivas ao
estrangeiro que vivesse com os israelitas, como, por exemplo, a guarda do dia da expiação (Lv.16:29), a
proibição de consumo de sangue (Lv.17:12), a pureza sexual (Lv.18:26), a pureza das vítimas de sacrifício
(Lv.22:25), a punição pela blasfêmia (Lv.24:16).
- O estrangeiro, também, deveria ser objeto do amor, tanto que era beneficiado pela lei da respiga (Lv.19:10;
23:22), tinha direito à novidade da terra do ano sabático (Lv.25:6) como também não poderia sofrer opressão
por parte dos israelitas (Lv.19:33), devendo ser tratado com amor e sem qualquer discriminação em relação
aos filhos de Israel (Lv.19:34). Através do culto levítico, portanto, o nome do Senhor se fazia conhecido
entre todas as nações.
- O quinto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que o necessário crescimento espiritual
do crente depende da sua vida de adoração. A vida espiritual é uma vida dinâmica, uma vida de contínuo
desenvolvimento, pois não é possível haver uma vida estacionária, parada no campo espiritual. Se não
avançamos espiritualmente, estaremos, necessariamente, regredindo. Por isso, o escritor da epístola aos
Hebreus diz que devemos correr com paciência a carreira que nos está proposta (Hb.12:1) e o apóstolo Paulo
afirma, somente ao final de sua vida, que tinha encerrado a sua carreira (II Tm.4:7). Sendo uma vida
espiritual algo dinâmico, precisamos estar em contínuo relacionamento com Deus, precisamos orar em todo
o tempo, mantermos uma vigilância sem qualquer trégua ou interrupção, o que somente é possível se
adorarmos a Deus a todo instante, a todo momento. São estes os adoradores que Deus está buscando
(Jo.4:23).
- A simples existência do livro de Levítico é a demonstração da necessidade que o povo tinha de adorar a
Deus para poder ser verdadeiramente o povo do Senhor. O desejo de Deus era de que, com a adoração, não
só Ele fosse glorificado e santificado (Lv.10:3), como também o próprio povo obtivesse a santificação
(Lv.22:32). Disposições como as normas relacionadas à lepra (Lv.13-14) e aos fluxos corporais (Lv.15)
reforçam a necessidade da contínua santificação do povo e a necessidade de se manter a pureza como a
característica que distinguiria o povo de Deus das demais nações.
- O sexto motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós temos fé em Deus, porque
confiamos n’Ele. Fé é o elo que nos une a Deus, a um Deus que nós não vemos, é uma certeza sem provas,
é uma convicção sem provas, sem garantias (Aprenda a ter uma grande fé - pregação radiofônica difundida
em 25.11.2003). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6) e, portanto, para que possamos adorar a
Deus, render-Lhe culto e louvor, é indispensável que creiamos que Ele existe e é galardoador dos que O
buscam. Nunca nos esqueçamos que Jesus, em muitas oportunidades, ao se dirigir às pessoas que O ouviam,
fazia alguma observação a respeito da fé que elas possuíam.
- Toda a ritualística e todos os cerimoniais instituídos no livro de Levítico somente seriam levados a cabo e
cumpridos se o povo de Israel cresse em Deus e, por conseguinte, Lhe prestasse obediência, o que não
ocorreria, como o próprio Senhor deixou consignado no chamado “pacto palestiniano”, que se encontra em
Lv.26.
- O sétimo motivo pelo qual devemos adorar a Deus é o fato de que nós amamos a Deus. Somente se
amarmos a Deus poderemos adorá-l’O. Quando amamos alguém, queremos estar sempre ao seu lado,
queremos estar, constantemente, na sua companhia. Ora, se amamos a Deus, desejamos estar sempre ao Seu
lado, estar sempre em Sua companhia e não há outra forma de o fazermos senão através de uma contínua
adoração a Ele. A igreja anseia pela contínua companhia de seu Noivo, de seu amado: " o meu amado é meu
e eu sou dele" (Ct.2:16a).
- Somente o amor a Deus poderia fazer com que se cumprissem todos os mandamentos constantes do livro
de Levítico, porquanto só quando amamos ao Senhor fazemos o que Ele nos manda (Jo.15:14).
- Esta adoração a Deus, logo no limiar do livro de Levítico isto se vê, somente poderia ser feita se
houvesse santidade, ou seja, Deus somente aceitaria a adoração que viesse de alguém que estivesse
disposto a ser puro, a se separar do pecado, a ter uma vida irrepreensível diante do Senhor.
- Mas, também, se exigia pureza por parte do ofertante, “in casu”, o sacerdote. Havia todo um regramento a
respeito dos sacerdotes, para que eles também, ao apresentar a oferta, estivessem cerimonialmente puros.
Aliás, não só deveria o sacerdote ser santo, puro, como também deveria fazer distinção entre o santo e o
profano (Lv.10:8-11).
- Tal exigência não só aponta para Cristo, que é o sumo sacerdote eterno que oficia perante Deus em favor
da humanidade (Sl.110:4; Hb.5:6; 6:20; 7:21), como também para os próprios integrantes do povo de Deus,
uma vez que tanto Israel quanto a Igreja são povos sacerdotais (Ex.19:6; I Pe.2:9). Assim como deveria
haver cuidados especiais dos sacerdotes para poderem ministrar, de igual maneira, devemos nós, no serviço
a Deus, também nos cercarmos da santificação, pois somente podemos nos apresentar diante do Senhor com
verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado
com água limpa (Hb.10:22).
- A adoração e o serviço ao Senhor, portanto, estão umbilicalmente relacionados com a santidade. Não
se pode falar em adoração e serviço a Deus sem que se fale em santificação, pois a santidade é um
pressuposto para que se possa relacionar com Deus, que é santo, qualidade esta que é a única que é
proclamada incessantemente na glória celestial (Is.6:3). O livro de Levítico é conhecido como “o livro da
santidade” (ou, pelo menos, como vimos supra, uma de suas porções), precisamente por causa desta
indissociável relação.
- A santidade é uma exigência, tanto que a expressão considerada chave do próprio livro de Levítico é a que
se repete por quatro vezes no livro, em que se diz que o povo deveria ser santo porque Deus o é. Como
afirma a Bíblia de Estudo Plenitude: “ O Livro de Levítico tem uma poderosa aplicação contemporânea e
pessoal para a vida da Igreja atualmente. A santidade de Deus é Seu grande desejo de comunhão com Seu
povo são claramente vistos nas descrições do sistema de sacrifícios. A santidade, o ser separado para uma
vida santa em comunhão com Deus, é o assunto primário para o povo de Israel, bem como o é para o povo
de Deus hoje em dia.” (Aplicação pessoal, p.110).
- Tem-se, pois, aqui, um profundo ensinamento que o livro de Levítico nos traz e que devemos seguir com
todo o rigor, já que, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14). Eis, portanto, a importância do
estudo deste livro neste trimestre e que, ao término dele, estejamos mais próximos do Senhor, sabendo que
quem é santo, deve se santificar ainda (Ap.22:11).