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distribuição gratuita

O TRANCA RUA
editores
amarílis anchieta
bárbara gontijo
mariangela andrade jornal de boca a boca
piero eyben
ano 1 brasília, 21 de março de 2018 n. 0
e-mail
otrancaruajornal@gmail.com

lutar • em um momento em que já não é possível ter forças pra lutar • contra a vontade de estar só • pra não desistir • pra não
lutar só por mim • lutar pela vontade de estar junto • de estar • em grupo • de estar em diferença • • de não precisar representar
papéis • e poder se preocupar em apenas ser • ser máquina desejante e desejo puro de viver • da vontade de ser arte • de ficar
no mundo • por mais um dia • • num agora em que só vemos • barricadas • impedimentos • • é pra fazer sozinho? • você pode
ajudar? • pfv • • eu não sei fazer sozinho • • é preciso escrever só • • nunca me senti tão abandonada • ou só daquela primeira
vez? • • preciso aprender a reler • a rever • a acreditar • no que não sei fazer • • nem a mancha eu posso te mostrar • é difícil ser
louco • • o eu que tão cheio de multiplicidades já não é visível • que precisa se entorpecer • entorpecer o corpo que não mostra,
que não se mostra • fale você • é gol porra • eu que não quero incomodar os que estão em luta • mas que quero chamar • gritar
• ainda que não encontre a voz • ainda que não tenha a voz • • mas tenho aqui o desejo de trazer todos comigo • de não deixar
ninguém pra trás • que às vezes não consegue ver além da barricada • • no fim das contas, não faço só • nunca farei • mesmo
que não faça com você • fazendo • se fazendo • • tudo o que grita na cabeça • nunca nesse mundo se está sozinho • o mundo
me machuca • e arranca orelhas • • a primeira responsabilidade é comigo • mas que eu? • e que responsabilidade é essa? • •
tô vendo história • e eu talvez não volte ao normal • venho pra provocar • provocar rebuliços • provocar amores • provocar dores
• deixar vivo • ainda que naturalmente natimorto • há tristeza mesmo no dono do melhor bar de brasília • que menciona que
não há nenhum dono feliz • eles não estão felizes • não há normal • • esbarram nas minhas barricadas • e querer sair • daqui
são nicolau

imagem juliana lama


quarta-feira, 21 de março de 2018 o tranca rua 2 quarta-feira, 21 de março de 2018 o tranca rua 3

ekin do meio eta jarrai o caminho uma barricada de aberlardos


por camarada b. por camarada m.
como se todos os dias fossem apenas um andando ainda estranhava a cor das paredes pelas quais passava
Um país em que ninguém sobrevive apenas, ninguém deambula apenas, ninguém precisa violentar para
um braço mais fraco carregava um garfo o outro uma sacola com nacos de borracha
sobreviver e ninguém é atingido por essa violência: bem-vindo a Pindorama.
com o garfo se come o que escapa das mãos, escreveu no chão terroso que encontrou no centro da cidade
– Mal podemos acreditar na sua história, camarada. Como é lá? Violência policial? Gente matando gente,
despachou o peso da borracha em uma linha reta e contínua disse o que tinha escrito em voz alta tirou a
por causa da cor da pele? Do modo como vive? Por que precisava comer? Por puro ódio de existir onde
[cartola ergueu o braço tantos podem tanto e muitos, nada.
os outros quase tantos gritavam descompassados
– Por tantos motivos, mas num vi um que matasse porque não havia justiça social. Tá... às vezes, um
com o garfo se come o que da boca escapa ou outro aparecia com ideias libertárias e alguns desses eram bélicos. Não havia consenso. A morte, a
as veias querendo saltar depender do sujeito, do local onde vivia, era mais ou menos importante. A morte, porque a vida, em certos
a decisão está tomada lugares, não tinha a menor importância.
com o garfo não se come a língua a partir de hoje – Aqui em Pindorama, não. Não há mal que nos aflija. Talvez seja algo difícil de explicar. Mas essas coisas,
escreve certamente não existem. Tem lá uns bichinhos, umas plantas, pode ser até que tenha veneno, num se
a decisão está tomada sabe, mas não há relatos de violências. E olha, que certas violências são difíceis de identificar. Até parecem
com o garfo a língua será comida a língua a partir de hoje se inscreve carinho, mas quando você vê... esqueceu o que era ser você, tem quem deixe de dançar, eu ouvi dizer.
Aliás, andei lendo umas coisas sobre os humanos desse seu lugar, que faz terra tremer, só de imaginar. O
a partir de hoje a rua está trancada e continua
que aconteceu com vocês pra se afastarem tanto assim de coisas simples?
leva teu fogo contigo primeiro concurso A rua, por exemplo... era pra ser o lugar comunitário, por excelência. Pode tudo, é de todos, então por que
com a tua língua faz dos silêncios o perigo
vai sair nos jornais
d’o tranca rua precisa pedir licença pro dono? Aliás, quem é o dono mesmo? A rua é sua, é minha também, vamos ter
que desligar o som, porque o outro dono ali não gosta e porque uns e outros se reuniram e escreveram
com tridentes os do lado de lá corrompem a saída umas leis, e porque a gente tá aqui, a lei vale pra gente que não fez a lei, não deu opinião, mas colocou o
com tridentes eles dizem barbaridades qual é a instituição mais falida do brasil? voto lá na urna e aceitou, e aceita, o que quer que a gente da lei faça. Não em Pindorama. Em Pindorama
o som ininteligível .................. nunca nem precisou porque o mal não entrou. Porque isso da gente isolado em casa, tentando proteger
não se entende o que eles dizem enviar à redação patrimônio, sem querer ouvir o vizinho ou o som da rua, me parece estratégia de guerra. Separar pra
conquistar, né. •
não queremos saber
eles querem
e gritam
barricadas uma mulher descerá o morro a manhã seguinte
ekin do meio eta jarrai do caminho até lá • como se descesse de uma estrela
à execução de
em
Estamos no 3º ato. Terceiro ato de O rei corpo dos nossos desejos todos. Ele ficou uma mulher seus olhos iluminados
tão extenso que se estriou. Na esteira
marielle franco
da vela. Os dois Abelardos discutem um suas mãos pulsando vida e luta
suicídio autêntico, a vida que não durará desse estiramento, os Abelardos todos sob seus pés a velha serpente

três atos por micheliny verunschk


muito além desta peça e que, no entanto, romperam as barricadas e todas as estu- [a baba as armas a covardia de sempre].
tem durado. Dura demasiado. Eles dizem dantes / morreram de susto. Tudo o que
a si: ABELARDO II: Me matas? A que se move acaba desertando, só nos restaria por camarada p. uma mulher descerá o morro
ABELARDO I responde: Para quê? Outro mesmo manter a barricada, que fecha as inúmeras escadarias do morro
abafaria a banca. Somos... uma barricada o caminho pra poder abrir. Houve tanta caram / todas as estudantes / continuam os muros arames que separam o morro
de Abelardos! Um cai, outro o substitui, noite luzidia que foi morta pelos postes a morrer / sem uniformes entre o branco
enquanto houver imperialismo e diferença amarelos do meu país. Só as árvores não e o preto / não há sequer um telefonema e pisará o chão desse país sem nome
de classes... E nunca cessou de haver, e desertam, até quando? O céu vai cair e seu / só meu corpo não deserta / dessa desse país que ainda não existe
é como se ainda fosse possível ouvir Zé ainda ficamos no #FORA inócuo. Quero noite de quando. Iniciemos pois o 3º ato. desse país que interminavelmente não há
Celso dizendo a Silvio Santos: você é o a síncope de Oswald tentando imaginar a O primeiro, aquele do alumno de poesia
Abelardo! Ah! Sim! Ele disse não há muito Praça da República sem pássaros, sem es- Oswald. O segundo, teatro oficina, 1968, uma mulher descerá o morro
tempo. Os meninos na rua me colocam tudantes, sem telefonistas. Uma Praça em tropicálias, AI-5, greves. Os Abelardos o seu vestido é a tempestade uma mulher descerá o morro
comovido, enquanto se está preocupado que a República seja apenas árvores. Bem, pedem a sua extinção. Não desertemos e ainda que seu sangue caia
com o é preciso dormir cedo, a lei do não há por aqui essa praça republicana. quando a noite luz. Só morremos de susto ferida incessante no asfalto do Estácio
silêncio, a roupa da menina, a virilidade Há o branco sem sombra. Ou seja, meu porque nosso tempo, hoje, depende de e ainda que anunciem sua morte
do menino. Ficaram sonhando um novo amor: todos os urubus da colina / estan- uma só ação: ocupa-a-rua-e-ouve. • [e sim, ainda que a comemorem]
esta mulher ninguém poderá parar. •

nas próximas edições correspondências inéditas da biblioteca invisível dos camaradas oswald e pagú

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