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Formação Econômica do Brasil

Texto 1: Fragoso e Florentino: “O arcaísmo como projeto”


Hipótese do texto: a reprodução do sistema econômico se imbricava
organicamente na contínua reiteração de uma hierarquia social fortemente
excludente. Como o produtor direto era cativo de outrem, o poder era a condição
de existência para a concretização do processo produtivo.
A estrutura social portuguesa tramaria contra a estabilização e o enraizamento
do capital mercantil metropolitano. Os negociantes da Colônia monopolizavam
as atividades mais rentáveis, e aos outros agentes econômicos cabiam atividades
menos lucrativas, sobretudo a agricultura. Esse quadro geral sugere um
enriquecimento da elite mercantil e contínua pobreza das camadas mais baixas.
A economia colonial era tardia e arcaica, fundada na contínua reconstrução da
hierarquia excludente.

Existem 3 vertentes que estudam a história econômica do brasil:


Teoria dos ciclos: engenhos de açúcar, mineração, café, borracha, etc. É uma
análise conjuntural, de cada momento.
Sentido da Colonização: vertente inaugurada por Caio Prado, continuada por
Celso Furtado e Fernando Novais.
Modo de Produção escravista colonial: Ciro Cardoso e Jacob Gorender.

Sentido da Colonização: “nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco... é com


tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a
considerações que não fossem de interesse daquele comércio, que se
organizaram a sociedade e a economia brasileira. A economia era
agroexportadora. Os traços definitivos do período colonial eram:
 grande propriedade;
 monocultivo;
 trabalho escravo.
Há uma preponderância do capital mercantil metropolitano, que apropria e
transfere o excedente gerado no Brasil e, por isso mesmo, há limitações
estruturais para a constituição de um mercado interno de peso na Colônia
(pouco monetizado, para subsistência). A principal característica desse período
era a dependência.
Furtado: a economia colonial, por ser apêndice de sistemas maiores, era
desprovida de ritmos próprios, com suas flutuações determinadas pelas do
mercado internacional. Para ele, como as atividades eram voltadas para o
mercado internacional, seu crescimento necessariamente implicaria o
crescimento de setores coloniais ligados ao abastecimento, quando de
desenvolveria um mercado interno colonial, que tinha seus limites. O Antigo
sistema colonial aparece, em seus estudos, no Pacto Colonial, que seria a
expressão máxima do capitalismo comercial.
Novais: o regime do comércio colonial, ou seja, o exclusivo metropolitano, se
processava pela apropriação dos lucros, tornando o sistema colonial uma peça
da acumulação primitiva de capitais do capitalismo mercantil europeu. Da
mesma forma que para Caio Prado e Furtado, para ele a hegemonia da plantation
resultaria num mercado interno reduzidíssimo. A economia colonial estaria
dividida em dois setores básicos, a da plantation para exportação; e da
subsistência para atender o consumo local naquilo que não se importa a
metrópole.

Modo de produção escravo: Ciro Cardoso. A escravidão mercantil deveria ser


apreendida como a base de uma verdadeira sociedade, determinada não
somente pelo fato colonial, mas também por vicissitudes que lhe seriam
próprias. Características do modelo:
 dois setores agrícolas: sistema escravista produtor de bens exportáveis;
camponês, produtor de alimentos;
 uso extensivo dos recursos naturais e da mão-de-obra;
 lógica do sistema e do capital mercantil inseparáveis;
 rentabilidade da empresa escravista dependeria da redução dos custos de
produção (mão-de-obra e insumos), buscando a autossuficiência;
 principais mecanismos de reprodução seriam o tráfico de africanos e
diversos fatores extra-econômicos.
Há possibilidade de acumulação no interior da formação colonial, resultante da
atividade agrícola e ou comercial.

Para todos esses autores, a escassez de braços nativos na escala exigida pela
produção é o que levaria à adoção da escravidão mercantil, ou seja, para todos
eles a demanda precede à oferta de braços. Exceto para Novais, que acreditava
que, ao passássemos ao tráfico de africanos, teríamos que a alta lucratividade
desta atividade é o que levaria à utilização dos africanos pelas empresas
escravistas coloniais.

Mercado Interno: teoria apontada por Fragoso e Florentino, em busca de uma


nova abordagem. Para entender a economia colonial é antes necessário entender
a economia e sociedade lusitanas do Antigo Regime.
Formação de Portugal: a política externa era de neutralidade em função de seu
tamanho e da proximidade com Castela. A agricultura era incapaz de prover os
recursos necessários à manutenção da sociedade. A colonização ultramarina em
busca de mercados foi a solução para não ficar à margem da sociedade europeia.
O papel da transferência da renda colonial para a Metrópole foi a manutenção de
uma estrutura parasitária, baseada na hipertrofia do Estado, na hegemonia dos
grandes aristocratas .
Ao longo dos séculos XIV e XV, com o crescimento das cidades (comerciantes e
mercadores) e o fim da Reconquista cristã no século XIII, criaram um cenário
para a nobreza, caracterizado pela ameaça de diminuição de seus privilégios e de
seu predomínio social. Sem contar que a formação do Estado nacional sob a
jovem dinastia Abis (1383-1385) deixava Portugal sempre prestes a sucumbir à
Castela. A expedição de 1415 para Ceuta foi uma decisão tomada por D. João I a
fim de direcionar para o Marrocos a aristocracia em crise, garantindo a
estabilidade social interna e postergando os problemas com Castela. A expansão
para além-mar surgia como possibilidade de fortalecer o Estado e afirmar a nova
dinastia.
Portugal era um país de terras pobres, e, por isso, os grandes fidalgos recebiam
do ultramar, por intermédio da coroa, parte significativa de seus ganhos.
Outro fator importante do Antigo Regime português era o Sistema de Mercês,
onde o rei concedia , sobretudo à aristocracia, terras e privilégios (como o direito
de arrecadar os impostos) em recompensa por serviços prestados. Assim, a
Coroa criava e recriava uma hierarquia social fortemente desigual, baseada em
privilégios.
A expansão marítima serviu ao fortalecimento da autoridade estatal. A
redefinição da acumulação mercantil como elemento de sustentação da posição
aristocrática tradicional traduzia-se numa política contrária à constituição de
companhias monopolísticas que pudessem favorecer as posições dos grandes
comerciantes. Havia ainda uma aliança tácita entre fidalgos e o pequeno
comércio, no sentido de prevenir o crescimento dos grandes mercadores. Enfim,
prevaleciam valores não capitalistas, para os quais ascender na hierarquia social
necessariamente implicava tornar-se membro da aristocracia. Pode-se assumir
também que o atraso português no século XVIII não era mera incapacidade de
acompanhar o destino manifesto capitalista europeu, mas sim esse arcaísmo era
um verdadeiro projeto social. O capital mercantil português se baseia em
comprar barato e vender caro, e por isso o monopólio é o seu veículo. A atividade
comercial lusitana tinha por fim último a permanência de uma sociedade arcaica.
Recente historiografia relata que, na segunda metade do século XVIII, tal cenário
começaria a mudar, com o fortalecimento de um grupo empresarial burguês e o
crescimento da produção manufatureira. Contudo, mesmo esse crescimento se
faria tendo como pano de fundo o Império. Essas novidades burguesas não se
assentaram em mudanças estruturais como a formação de um mercado interno
capaz de sustentar uma crescente produção industrial.

Em meio a uma frágil divisão social do trabalho, implicava uma débil circulação
de numerário e bens, o que, por sua vez, redundava na rarefação dos
mecanismos de crédito. Estava dado o contexto inicial para a preeminência do
capital mercantil residente, que, ao deter a liquidez do sistema, controlava a
própria reprodução da economia. Assim podemos perceber que é possível que or
grandes comerciantes constituíssem a verdadeira elite colonial. Uma economia
marcada pelo controle interno dos fatores baratos de produção desfrutava de
uma relativa autonomia em face das flutuações do mercado internacional. A
empresa escravista não poderia estar completamente à mercê das flutuações do
mercado internacional; caso contrário, a cada fase B (queda) corresponderia
uma verdadeira revolução nas relações sociais vigentes. Daí a incessante busca
das empresas por expandir-se também em meio às conjunturas desfavoráveis,
seja incrementando o volume da produção, seja pela adoção de novos produtos.
Desse movimento dependia a manutenção do poder das elites coloniais.

Texto 2: Alencastro, “O trato dos viventes”


Quando os portugueses chegam no Brasil, e depois de dizimar parte das
comunidades litorâneas, os moradores encaram outros tupis, mais hostis. Cada
dia se vão perdendo e despovoando engenhos com mortes de muitos moradores
e escravarias que continuamente matam e comem outros índios que nunca
tiveram conversação nem paz com os portugueses. Assim, as autoridades
procuram fazer pactos com tribos do litoral para barrar a ofensiva dos indígenas
hostis do interior, por um lado, e por outro proteger os portos contra corsários
europeus. Outro fator que limitou as hostilidades contra os indígenas foi a
ameaça interna advinda dos escravos negros. O temor gerado no Brasil pelos
“alvoroços” dos escravos da Ilha de São Tomé induziu ao uso de índios na
captura de quilombolas. Os governadores zelavam pela boa vizinhança com os
índios, a fim de constituir tropas contra os inimigos europeus e contra os negros
de Guiné, escravos dos portugueses, que cada dia se rebelavam, e só não faziam
pior com medo dos índios.
O vasto território da América portuguesa podia propiciar trocas regulares de
escravos índios entre uma e outra capitania, o que reduziria os riscos de fuga,
incutindo uma maior dessocialização dos nativos. Índios não parariam de fugir a
não ser que se trocassem de capitanias. Alexandre Rodrigues Ferreira escreveu:
“assentemos que se os pretos não fogem para a África não por falta de vontade,
mas pela de meios para atravessarem tantos e tão distantes mares.” Solução
ilusória porque:
 irregularidade do transporte marítimo norte-sul, ao longo da costa
brasileira, era mais trabalhosa que a rota Leste-Oeste;
 não existia nenhuma rede mercantil apta a empreitar, de maneira rápida e
em larga escala, a venda de índios de uma capitania para outra;
 os traficantes de índios não conseguiam exportar os produtos das
fazendas, os quais (na ausência de circulação monetária) serviam de
pagamento às compras de escravos nativos. Deveriam, portanto, recorrer
aos negociantes das praças marítimas para efetuar as exportações. Porém
esses exportadores eram traficantes de escravos africanos. Quando é
impossível fechar o circuito comercial, também se torna impossível fechar
o negócio.
 A acumulação proporcionada pelo trato de escravos índios se mostrava
incompatível com o sistema colonial. Esbarrava na esfera mais dinâmica
do capital mercantil (investido no negócio negreiro), na rede fiscal da
Coroa (também acoplada ao tráfico africano), na política imperial
metropolitana (fundada na exploração complementar entre América e
África) e no aparelho ideológico do Estado (privilegia a evangelização dos
índios).
Outros fatores que levaram a substituição da mão-de-obra indígena pela
africana:
- Fatores econômicos do tráfico negreiro;
- Unificação microbiana: fora o contato com doenças desconhecidas (que os
africanos já tinham contato por estarem inseridos há mais tempo, além de
possuírem as suas), havia um choque entre medicina europeia e indígena
(índios se recusavam a tomar x medicamento);
- Fugas: busca de voltar à sua região, sendo mais fácil para os índios.
*dessocialização: indivíduo é capturado e apartado de sua comunidade
nativa;
*despersonalização: cativo é convertido em mercadoria. Escravo é
igualado a animal/instrumento;
* personalização: redefinição da identidade do escravo pelo seu trabalho.
Judiar animal e destruir os instrumentos.
- fragilidade dos caciques;
- menor adaptabilidade nas atividades canavieiras: eram caçadores e
coletores;
- nomadismo;
- questão religiosa: busca de fiéis pela reforma/teriam alma;
- proibição do tráfico interprovincial pela coroa;
- resistência;

Formas de burlar a proibição da escravização:


 Resgates: compra de indígenas que haviam sido capturados por outras
tribos e estavam em situação de morte eminente, que trabalhavam por 10
anos e depois eram libertos;
 Cativeiro: guerra justa como motivo de escravização de tribo perdedora,
se definido pela autoridade régia. Esses índios poderiam ser vendidos,
mas o dono seria vitalício;
 Descimentos: índios utilizados na defesa e ataques externos pelos
portugueses e captura dos quilombolas.
Obs: apesar da expulsão dos jesuítas em 1759, o Marquês do Pombal proíbe
definitivamente o cativeiro indígena.

Reprodução social dos escravos:


A dinâmica do comércio atlântico negreiro torna a reprodução mercantil dos
escravos mais rápida e mais efetiva que a reprodução demográfica. Convinha
mais fazer açúcar para vender na Europa e obter meios de compra de escravos,
ou cultivas tabaco e fabricar cachaça para trocar por africanos adultos, do que
investir na produção de alimentos, estimular união entre os cativos, preservar as
mulheres grávidas e as crianças nos engenhos e nas fazendas na expectativa de
recolher, a médio prazo, novos trabalhadores cativos nascidos e criados no local.

Texto 3: “O Antigo Regime nos Trópicos”


Estudo dos Engenhos no Rio de Janeiro. Em 1583, a região contava com três
engenhos, em 1612 este número passaria para 14 e, 17 anos depois, para 60.
O início da montagem da sociedade colonial no Rio de Janeiro ocorreu em um
ambiente caracterizado por uma viragem estrutural do Império ultramarino
português. A partir da metade do século XVI o Império luso passaria a ser
atacado nas suas diversas fronteiras. Em 1548 a Coroa fecha sua feitoria em
Antuérpia, marcando com isso o recuo do Estado na economia e o avanço de
poderosos banqueiros-mercadores transnacionais. Toda a sociedade do Antigo
Regime português dependia do império comercial. Ao longo do século XVI, o
preço do trigo vendido em Lisboa aumentava em mais de 800%, o que se
traduziu em fomes frequentes. O Império ultramarino decidiu se basear
prioritariamente na América portuguesa, pois a Índia “não rendia coisa que com
ela não se tornasse a gastar”, apesar disso, a Ásia continuou sendo o foco, o o
Brasil só se tornou base no ultramar no século XVIII. Ou seja, as três primeiras
décadas coloniais do RJ foram marcadas por um Império e uma metrópole às
voltas com problemas militares e financeiros. Foi nesse ambiente que se deu a
acumulação primitiva da economia de plantation e o ponto de partida de 60% da
elite senhorial do RJ.
A origem social dos conquistadores da Guanabara era provavelmente de
originários da nobreza do sul de Portugal, devido a superpopulação na
metrópole, a lei de que o primogênito recebia tudo, e por terem se tornado
nobreza falida. Vieram ao receber cargos da Coroa no sistema de mercês. São
Vicente forneceu ao RJ um grupo de conquistadores cuja origem era de uma elite
social, porém local. A origem das “melhores famílias do Rio de Janeiro” está em
homens que fogem da pobreza, procedentes da pequena fidalguia ou egressos da
“elite” de uma capitania pobre. A questão é definir de onde surgiu o dinheiro
para a montagem dessa economia colonial.
Não foram encontrados dados que apoiassem a hipótese de Celso Furtado do
capital holandês no Rio de Janeiro. A hipótese da acumulação pela proximidade
do porto também não é corrobada, pelo caráter incipiente do núcleo urbano e do
grupo mercantil no RJ oitocentista.
¼ das famílias vieram de São Vicente, o que sugere que parte dessa futura elite
senhorial tinha, provavelmente, ligações com o negócio bandeirante do
apresamento de índios. Provavelmente, tal negócio, além de ter fornecido
escravos “da terra” aos primeiros engenhos da Guanabara, deve ter contribuído
para o acúmulo de recursos para a primeira elite. Outra via de acumulação foi o
comércio negreiro, aliado ao comércio. Além disso, a própria produção de
alimentos e de cana. Na condição de conquistadores ou de primeiros povoadores,
essa elite também desempenhou outros papéis, principalmente de administração
da vida pública. As “melhores famílias da terra” (como gostavam de ser
chamados) eram produto das práticas e instituições do Antigo Regime
português, presentes também em outras partes do ultramar, quais sejam: a
conquista, a administração real e a câmara municipal.
Através do sistema de mercês se formava uma nobreza não tanto constituída por
grandes proprietários (como visto na Inglaterra e França), mas principalmente
por beneficiários dos favores do rei. Como remuneração por tais serviços, ela
recebia novas concessões régias que poderiam ser acumuladas e ainda adquirir a
forma de novos serviços, como a administração de outros bens da coroa ou de
postos de maior prestígio. Essas práticas tendiam a ser transmitidas ao ultramar.
No Rio de Janeiro, o alcaide-mor tinha o privilégio, concedido pelo Rei, de
transportar 10% de seu açúcar nas frotas do Reino, sem custo. Essa prática era
estendida também aos não nobres, como forma de remuneração aos serviços
prestados ao Rei.
Além disso, o pagamento de “propina” era o mais rentoso para essa elite, que
controlava determinadas concessões. O provedor da fazenda do Rio de janeiro
recebia dos cofres da Coroa apenas 80$000 por ano, contudo, somando as
propinas e, principalmente, aos emolumentos (taxas remuneratórias de serviços
públicos, devendo ser paga pelo requerente), chegada em algo estimado a
800$000. Os postos no Império e suas possibilidades permitiam a formação de
fortunas. Para alguns dos que ficaram no recôncavo da Guanabara, a distribuição
de mercês viabilizou uma acumulação de riquezas que mais adiante se
transformaria em engenhos de açúcar. As Câmaras intervinham no mercado
controlando os preços e serviços ligados ao abastecimento da cidade.
Diferentes partes do Império compartilharam um conjunto de mecanismos
econômicos que poderíamos chamar de economia do bem comum. O rei, no
interesse do bem comum, concede mercês a pessoas que incidam sobre a vida
social no reino e no ultramar. O conceito de economia de bem comum se dá num
mercado imperfeito, regulado pela política. Uma pessoa que tivesse o posto de
governador de Angola, e, com isso, a possibilidade de comerciar escravos sem
pagar impostos, possuía maiores condições de auferir lucros do que um simples
traficante. Essa economia também gerava uma hierarquia social excludente, e se
baseava numa rede de reciprocidade e alianças. A combinação da conquista com
o sistema de mercês e as prerrogativas da câmara contribuiu decisivamente para
a montagem da economia de plantation e para a afirmação da primeira elite
senhorial.
A conquista e o mando político lhes davam um sentimento de superioridade, que
justificaria o uso e a apropriação para fins privados de bens e serviços públicos.
Essas famílias estavam preocupadas em garantir sua hegemonia sobre a
sociedade colonial, e suas estratégias matrimoniais mudavam conforme as
conjunturas históricas. Entre 1601 e 1630, a montagem da plantation fora o
norte das preferências matrimoniais das famílias, que se traduziam em
casamentos com esposos forasteiros à cidade. Além disso, outro expediente do
referido bando fora o fornecimento de serventias, por exemplo: os cargos de
provedor da fazenda e de juiz de órfãos passaram pelas mãos de outros
integrantes do mesmo grupo, fortalecendo as alianças, ou a fim de atrair novos
aliados, ou ainda para selar a paz com velhos adversários.
Continuavam a existir redes de alianças que ultrapassavam as fronteiras do Rio
de Janeiro e chegavam à sede administrativa da América portuguesa, e que
envolviam algumas das principais autoridades coloniais. Um dos resultados
dessas redes internas e externas ao Rio fora o envolvimento, em alguns
ingredientes da economia do bem comum, como a arrematação de impostos,
para fins próprios.
Nas últimas décadas do século a nobreza adquire maior maturidade como grupo
social, ao se verem ameaçados pela decadência do açúcar pela perda do
monopólio.
Ao lidarem com o gentio da terra, a subordinação não era feita apenas pelas
armas, ela envolvia também negociações. Essa capacidade de estabelecer
reciprocidade com o “gentio da terra” surge como momento essencial da
legitimidade social da nobreza da terra.

Mercado dominado por bandos: 42% a 50% do valor total dos engenhos
transacionados foram negociados por pessoas conhecidas entre si; ou seja,
compradores e vendedores eram parentes sanguíneos, afins ou integrantes de
um mesmo bando. Devido à natureza dos laços entre esses compradores e
vendedores, tais valores não eram dados somente pela oferta e procura. Com
essas vendas, familiares e aliados resolviam problemas de caixa sem colocar em
risco a posição social e política de suas famílias ou de seu bando diante da
sociedade. As famílias senhoriais também tiveram a capacidade de criar seus
próprios mecanismos de empréstimo e, nesse sentido, provavelmente os
financiamentos estavam a sabor dos jogos políticos do grupo senhorial. Essa
sociedade sobreviveu ao declínio da plantation no Rio. A persistência do Antigo
Regime nos trópicos talvez explique uma transição sem maiores traumatismos
entre uma acumulação de riquezas centrada em particular na economia do bem
comum para outra mais mercantil, e com ela a passagem da hegemonia
econômica de uma nobreza da República para um grupo de grandes negociantes
baseado no comércio interno e no Atlântico.

Conclusão: fazendo uso de deus cargos e redes de alianças, eles construíram


engenhos e com isso se transformaram na elite senhorial da sociedade colonial
no Rio. O sistema de mercês, a câmara e a conquista de terras e homens criaram
uma nobreza da república de origem “pobre”, não é de se estranhar que, nas
melhores famílias do Rio se encontrem mercadores, sertanistas, médicos,
cristãos-novos. A Guanabara tinha suas bases na conquista e no mando político,
na apropriação da economia do bem comum. Essa economia era formada por
bens e serviços públicos sob a jurisdição do senado e do rei, administrado por
poucos eleitos, porém custeados por todos os colonos. Esse mermo ambiente
gerou um mercado também influenciado pela política, e era nele que os
comerciantes, vinculados ou não às famílias, viviam. A prática de exclusão social
do público, para além dos escravos, continuaria como uma das chaves para a
acumulação de riquezas na mão de um pequeno grupo de pessoas.

Texto 4: Niguerói “Elementos da escravidão no Rio Grande do Sul”


Objetivo: demonstrar que o trabalho escravo esteve presente em solo gaúcho
apesar da ausência de latifúndios escravistas à maneira das fazendas de café de
São Paulo e do Rio de Janeiro, ou dos engenhos de açúcar e fazendas de cana do
litoral do Nordeste. Caio Prado e Celso furtado afirmam que, dado o caráter da
pecuária extensiva, o emprego de mão-de-obra escrava era impossível. Para Luiz
Roberto Targa, nas estâncias os escravos eram mão-de-obra auxiliar da mão-de-
obra livre, ocupando-se de tarefas domésticas, assim como a produção de
alimentos. Mas o Rio Grande do Sul não se resumia às estâncias de criação. No
final do século XVIII o português emigrado do Ceará fundou a primeira
charqueada gaúcha. O setor charqueador foi o que produziu as maiores fortunas
do Rio Grande do Sul no século XIX, e empregava intensivamente escravos. Além
das estâncias e charqueadas, havia o setor mini fundista na Serra Gaúcha,
desenvolvida por imigrantes alemães e italianos, também no século XIX, numa
zona de pequenos proprietários fiéis ao Império, pois se duvidava da fidelidade
dos grandes proprietários da região sul do Rio Grande do Sul.
A questão da fronteira: muitos argumentam que, devido a indefinição da mesma,
havia dificuldade de emprego da mão-de-obra escrava na pecuária e incerteza
dos direitos de propriedade, em virtude das relações internacionais entre
Portugal e Espanha. Também argumentam que o peso da escravidão no Brasil
era diferente daquele no Prata, sendo, os países dessa região, suposto local de
fuga dos escravos do RS. Ou seja, afirmava-se que o RS era distinto do Brasil das
plantations por não comportar grandes propriedades produtoras de
mercadorias exportáveis empregando mão-de-obra escrava. A economia do RS
era, portanto, no século XIX, formada por grandes propriedades onde escravos
tinham papel secundário por fatores técnicos e políticos. Por fim, as colônias
alemãs e italianas mini fundistas e poli cultoras destoavam radicalmente do resto
do país.
O texto põe em dúvida a ideia de que a escravidão era incompatível com a
pecuária extensiva. Com base nos dados que tiveram acesso, demonstram que os
escravos foram usados na lida direta com o gado. Além disso, foram encontrados
89 escravos marinheiros, 6 canoeiros e 6 capitães, e poucas fugas. Um número
considerável dos escravos nas amostras utilizadas tinha, por ofício, o trabalho
direto com o gado.
Em relação aos problemas políticos, os autores vão contra porque:
 houve escravidão na Argentina e no Uruguai;
 apesar de abolida, a escravidão continuou no Uruguai até 1846;
 os estancieiros brasileiros e uruguaios conviviam com uma fronteira
indefinida e porosa, o que levava uns e outros a possuírem, de ambos os
lados da atual fronteira, propriedades rurais com escravos trabalhando;
 charqueadas uruguaias também utilizavam escravos.
Por tudo isso, é um equívoco supor que a fronteira era uma região onde a
propriedade escrava corria sérios riscos de fuga.
Risco de fuga: dos dados encontrados, uma porcentagem de 0,37% dos escravos
registrados foram declarados fugidos. Há uma diferença dignificante entre Bagé
e as demais comarcas, provavelmente por sua proximidade por o Uruguai. Esses
dados parecem corroborar a hipótese de que a fronteira facilitava a fuga, algo
que os autores não discordam. Depois de uns cálculos lá, os preços dos cativos de
primeira linha (sadios, homens, entre 20 e 30 anos de idade) de Bagé mantêm-se
iguais aos do resto do RS até 1850, quando então passam a ser menores, isso
ocorre pela modificação do risco de fuga, possível de ser calculado, devido à
abolição da escravidão no Uruguai. Antes de 1850 as diferenças não são
significativas.
Os resultados obtidos são coerentes com a hipótese de que a fronteira se torna u
local inseguro para a propriedade escrava apenas depois de abolida
definitivamente a escravidão no Uruguai, o que refuta a ideia de que era
inevitável ter escravos na fronteira desde sempre/.

Conclusões:
 ao contrário do imaginado, a escravidão não era incompatível com a
criação de gado;
 a fronteira com o Uruguai não impedia a existência de escravos;
 ter escravos homens na fronteira, após 1850, significava um aumento do
risco de perda de tal ativo.
 A escravidão do século XIX e de séculos anteriores, mais une do que
separa o Rio Grande do Sul do restante do Brasil. As diferenças entre a
sociedade gaúcha e o restante do Brasil devem ser buscados em outros
elementos e em períodos menos remotos.
Ou seja, as diferenças entre o RS e o resto do Brasil podem ser vistos a partir de
1889, com a Proclamação da República, quando ocorrem as revoluções
federalista (1893-1895) e libertadora (1923)

Adendo: Revolução farroupilha (1825-1845): Imposto do charque latino


(produzido e vendido mais barato, provavelmente por causa da mão-de-obra ser
assalariada); estancieiros queriam que se aumentasse a taxa de imposto ao
charque concorrente; Império não concordou pois, como o charque era alimento
dos escravos, isso aumentaria os custos de produção dos cafeicultores.

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