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IX EPEA Encontro Pesquisa em Educação Ambiental

Educação ambiental na experiência das ecovilas:


integrando as dimensões da sustentabilidade
Maria Accioly Dias (UFRJ)
Carlos Frederico Loureiro (UFRJ)

Resumo
Diante das dificuldades envolvidas nas atuais práticas de educação ambiental, ações
concretas de construção de alternativas societárias sustentáveis podem ajudar a pensar
novos caminhos. As ecovilas são comunidades que realizam diversas práticas voltadas à
sustentabilidade e procuram influenciar a sociedade através de ações de cunho
educativo, como a promoção de visitas, cursos, palestras, workshops, conferências,
programas de estágio, além do engajamento em projetos institucionais. Dessa forma,
apesar de algumas limitações decorrentes das contradições existentes na sociedade, as
ações das ecovilas vêm gerando uma certa difusão de ideias e práticas alternativas que
encerram um forte caráter crítico em relação à cultura capitalista dominante,
subvertendo alguns de seus aspectos. Especialmente relevante é o fato de que essas
comunidades tratam a sustentabilidade em suas múltiplas dimensões, e estas de maneira
interdependente – perspectiva que pode trazer importantes contribuições para o
desenvolvimento de uma educação ambiental mais crítica e engajada.

Palavras-chave: ecovilas, sustentabilidade, educação ambiental

Abstract
Face to the difficulties involved in the actual practices of environmental education,
concrete actions on the construction of sustainable societal alternatives may help to
think new paths. Ecovillages are communities which carry out many practices towards
sustainability and aim to influence society through actions with an educational character,
like the promotion of visits, courses, lectures, workshops, conferences and internships, and
also the engagement in institutional projects. Therefore, despite some limitations due to the
existent contradictions of society, ecovillages’ actions have been generating a certain
diffusion of alternative ideas and practices which enclose a strong critical character
about the dominant capitalist culture, subverting some of its aspects. Specially relevant is
the fact that these communities treat sustainability in its multiple dimensions, and in an
interdependent manner – perspective that may bring important contributions for the
development of a more critic and engaged environmental education.

Keywords: ecovillages, sustainability, environmental education

Introdução
Diante da severa crise ecológica e social contemporânea relacionada ao modelo
civilizatório capitalista, questões relativas à sustentabilidade tornaram-se ubíquas nos
discursos públicos e pessoais, incluindo-se aí o reconhecimento da necessidade, cada
vez mais urgente, de uma educação ambiental universalista enquanto direito e eficaz na
realização de seus objetivos. Mas de que sustentabilidade e que educação ambiental
tanto se está falando? Pois a noção de “sustentabilidade”, frequentemente utilizada
como sinônimo de “desenvolvimento sustentável” (SARTORI; LATRÔNICO;

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CAMPOS, 2014), encontra-se largamente apropriada pelo capitalismo, o que, na prática,
acaba favorecendo um inquestionado crescimento econômico em detrimento da
sustentabilidade ecológica e social. Na verdade, alcançar de fato formas de vida mais
sustentáveis está muito longe de ser algo comum – o que parece se relacionar também
ao fato de a sustentabilidade comumente ser tratada apenas em âmbito tecnológico. A
educação ambiental, nesse cenário, tende a ficar também bastante comprometida, pois
falta-lhe muitas vezes um potencial crítico e emancipatório, associado a um debate mais
amplo sobre sustentabilidade (LOUREIRO, 2013; 2014).
Torna-se claro, então, que são necessários novos caminhos para se pensar e
praticar a sustentabilidade e a educação ambiental na contemporaneidade, abrindo-se
espaço para se questionar inclusive – e, fundamentalmente – as próprias bases de
funcionamento da sociedade capitalista. Nesse contexto, ações concretas de construção
de alternativas societárias sustentáveis podem trazer importantes elementos. Dentre elas,
destacamos aqui as ecovilas, que são comunidades que vêm realizando diversas práticas
voltadas à sustentabilidade em suas múltiplas dimensões, com um enfoque pronunciado
em ações educativas, tendo se tornado especialmente visíveis ao se articular como
movimento social, em 1995, com a criação da GEN (Global Ecovillage Network).
Apesar de elas poderem ser muito heterogêneas entre si (DAWSON, 2015), é
interessante considerar a definição “oficial” de ecovila que figura hoje (março de 2017)
no site da GEN: “uma comunidade intencional ou tradicional que utiliza processos
participativos para integrar holisticamente as dimensões ecológica, econômica, social e
cultural da sustentabilidade, buscando regenerar os ambientes social e natural” (GEN,
2017)1,2. Tal definição aponta para alguns aspectos importantes na compreensão das
ecovilas e de suas ações visando à sustentabilidade: a ideia de comunidade; as
estratégias participativas (relacionadas a uma autogestão equitativa); a visão integral de
sustentabilidade, constituída por múltiplas dimensões; e a ideia de regeneração
ecológica e social, que implica um passo além em relação a apenas “sustentar”. Tais
aspectos, como veremos, se refletem de várias formas nas práticas das ecovilas.

Objetivo e Metodologia
O objetivo deste ensaio foi analisar, a partir da literatura existente
(majoritariamente internacional), a natureza e o potencial educativo das ações das
ecovilas em sua busca por sustentabilidade. Para isso, foram levantados, principalmente
no portal de periódicos da CAPES, os artigos científicos (publicados até julho de 2015)
que utilizavam o termo “ecovila” no título ou no resumo (busca feita em português,

1
Livremente traduzido de “An ecovillage is an intentional or traditional community using local
participatory processes to holistically integrate ecological, economic, social, and cultural dimensions of
sustainability in order to regenerate social and natural environments.”
2
É importante ressaltar que está implícita aqui uma distinção bem clara entre dois grandes tipos de
ecovilas, correspondentes à principal divisão socioeconômica e política mundial: as comunidades
intencionais são tipicamente pequenas e representam as chamadas “ecovilas do norte global”; e as
comunidades tradicionais são tipicamente redes de vilas e vilarejos que representam as chamadas
“ecovilas do sul global” (DAWSON, 2013). Exemplos dessas redes de comunidades do sul global incluem
Sarvodaya, no Sri Lanka, com 15 mil comunidades rurais, e Colufifa, no oeste africano (principalmente
Senegal), com 350 comunidades (LITFIN, 2014). Vale notar que tal divisão não reflete necessariamente a
localização geográfica: muitas ecovilas existentes em países do sul global têm, na verdade, padrão de
ecovilas do norte global.

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inglês e espanhol). Dentre eles, selecionaram-se aqueles com enfoque mais social (não
tecnológico), em especial os que continham dados empíricos. Foram utilizados também
alguns livros (inclusive de insiders ao movimento de ecovilas) como apoio3 – pois estes
contêm muitas informações importantes que estão ausentes nos artigos. Para fins de
descrição e problematização, foram considerados então os temas mais recorrentes nos
estudos, relacionando-os às diversas dimensões da sustentabilidade e às questões
educativas. É importante ressaltar que a maior parte dos estudos disponíveis refere-se às
chamadas “ecovilas do norte global” 4 , e, por isso, o presente artigo tem um foco
principalmente nestas.

Algumas práticas ecológicas em ecovilas


As ecovilas, como o nome sugere, têm na sustentabilidade ecológica uma
preocupação central. A maioria delas desenvolve uma organização voltada para
preservar (ou regenerar) espaços verdes, maximizar a eficiência energética e otimizar o
uso do espaço e dos materiais (KASPER, 2008) – o que muitas vezes se baseia na
permacultura (LITFIN, 2014), um sistema filosófico e de design que fornece princípios,
diretrizes e técnicas para criar culturas sustentáveis através da imitação de sistemas
naturais (VETETO; LOCKYER, 2008).
Dentre as práticas ecológicas das ecovilas, podemos destacar, como padrões
mais gerais: o compartilhamento (de instalações e recursos); a redução (e
conscientização) do consumo e da geração de resíduos; e a relocalização de alguns
processos (como a produção de alimentos e energia, o tratamento de resíduos e o
consumo de produtos locais/regionais). Um exemplo interessante de compartilhamento
é o design de moradias em cohousing (bastante comum em ecovilas europeias e dos
EUA), que promove a concentração da área construída e um alto grau de
compartilhamento de instalações (LITFIN, 2014) – cozinha, banheiros, escritórios,
lavanderia, biblioteca, espaços de recreação etc. Mas, mesmo onde não há cohousing,
costuma existir sempre algum grau de compartilhamento, gerando considerável
economia de recursos naturais.
A redução dos padrões de consumo em ecovilas (MEIJERING; HUIGEN; VAN
HOVEN, 2007) reflete diretamente sua crítica ao hiperconsumismo capitalista e
costuma estar associada também a um consumo mais consciente (compra preferencial
de produtores locais, responsáveis ecológica e socialmente). Com isso, há também uma
sensível redução da geração de resíduos. É frequente, ainda, uma diminuição do uso de
transportes poluentes, evitando-se carros (ou compartilhando seu uso) e incentivando-se
bicicletas e transportes coletivos.
Na busca por reduzir os gastos de recursos (especialmente os não renováveis), os
processos de relocalização em ecovilas incluem a produção local (agroecológica) de
alimentos (LITFIN, 2014) e, em alguns casos, também de energia limpa e renovável
(LOCKYER, 2010b). O que não produzem, as ecovilas tipicamente procuram obter o
mais perto possível, muitas vezes desenvolvendo redes locais/regionais, como por
exemplo os modelos de agricultura sustentada pela comunidade (Community Supported
Agriculture - CSA), em que se criam parcerias com agricultores locais responsáveis

3
Note-se que as referências bibliográficas contidas no presente trabalho não refletem a totalidade dos
trabalhos levantados, devido à limitação de tamanho.
4
Ver nota de rodapé 2.

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social e ecologicamente – como observado por Kirby (2003), Litfin (2014),
Cunningham (2014), Newman e Nixon (2014) e Lockyer (2010b).
A partir das diversas práticas e tecnologias alternativas adotadas, as ecovilas,
como seria esperado, tendem a apresentar estilos de vida ecologicamente bem mais
sustentáveis que a sociedade mainstream – até mesmo em comparação com cidades
consideradas das mais sustentáveis do mundo (como sugerido pelo estudo de Mulder,
Costanza e Erickson, 2006). De fato, sua pegada ecológica média costuma ser 10-50%
inferior à média de seus países (LITFIN, 2014), o que não necessariamente implica
perda de qualidade de vida, como se poderia pensar; parece se dever, sim, a um grande
conjunto de práticas alternativas, não apenas ecológicas, que modificam todo o seu
estilo de vida.

Algumas práticas sociopolíticas em ecovilas


Em geral, ecovilas costumam promover uma intensificação das interações
sociais (CHITEWERE, 2010; NEWMAN; NIXON, 2014; KIRBY, 2003; KASPER,
2008; LITFIN, 2014) – o que é favorecido também pela existência de espaços
compartilhados. Diversas formas de encontros sociais são estimulados, sejam formais
ou informais (KASPER, 2008; KIRBY, 2003) – o compartilhamento de refeições
(KASPER, 2008) e de trabalho (por exemplo, na agricultura) (BROMBIN, 2015)
parecem ser bastante centrais nesse sentido. Práticas de expressão cultural (rituais e
celebrações envolvendo música e outras artes) são também importantes na construção
de coesão social (LITFIN, 2014).
As ecovilas parecem estar, portanto, buscando criar um certo senso de
comunidade. Mas viver em comunidade está longe de constituir algo trivial. É preciso,
por exemplo, aprender a balancear compartilhamento comunitário e privacidade
(LITFIN, 2014), e, ainda assim, o surgimento de conflitos é inevitável. De acordo com
Christian (2003), eles são o principal motivo pelo qual muitas comunidades fracassam
em perdurar. Para tentar evitá-los, muitas ecovilas elaboram coletivamente regras e
políticas explícitas (KASPER, 2008), incluindo regras de associação (KUNZE, 2012) –
isto é, relativas à “admissão” de membros –, mas isso em geral não é suficiente (e, na
verdade, se forem rígidas demais, podem acabar até criando conflitos). Na verdade,
grande parte das ecovilas vêm percebendo a necessidade de aprender a lidar com os
conflitos, e pra isso vêm adotando ou até desenvolvendo técnicas de comunicação e
resolução de conflitos (KASPER, 2008)5.
Outro aspecto sociopolítico importante das ecovilas é que em geral elas são
autogestionadas, adotando sistemas de governança participativos, com uma distribuição
de poder horizontal (lideranças circulares e hierarquias funcionais, não estruturais). Isso
é feito através de sistemas complexos como a Sociocracia, em comunidades populosas,
ou de forma mais simples em comunidades menores, frequentemente através de uma
divisão em grupos de trabalho. Outras possibilidades são, por exemplo, a existência de
ferramentas como constituição, código de conduta, associação de moradores e Conselho
de Trustees (SWILLING; ANNECKE, 2006). Algumas ecovilas utilizam formas mais
tradicionais de governança (às vezes até por conta de questões culturais), como, por

5
Por exemplo, o conjunto de práticas chamado Technakarto, de Damanhur (Itália), o método de Fórum
social, desenvolvido por Zegg (Alemanha) e Tamera (Portugal), e a Comunicação Não Violenta (CNV),
desenvolvida pelo psicólogo Marshall Rosenberg e utilizada em muitas ecovilas.

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exemplo, a eleição periódica de “king guides” ou até votações por maioria simples
(LITFIN, 2014).
Um elemento central para a autogestão são os processos de tomada de decisão,
que em ecovilas pequenas (ou em subgrupos de trabalho em ecovilas maiores) são
muitas vezes feitos por consenso (KASPER, 2008) ou consentimento 6 . O consenso
trata-se de um método complexo, bastante custoso em termos de tempo, em que todos
os envolvidos têm oportunidade de se expressar, e a partir daí se procura adequar as
demandas de forma que todos se sintam contemplados (SARGISSON, 2004). Isso não
significa que todos têm que concordar em tudo, mas apenas que as pessoas têm que
estar suficientemente satisfeitas para não “bloquear” (vetar) as decisões (LITFIN, 2014).
Apesar das dificuldades envolvidas, ferramentas como o consenso vêm se mostrando
bastante valiosas para a autogestão, já que favorecem uma participação social genuína.
O principal ideal subjacente aos processos de consenso (e à autogestão
participativa como um todo) em ecovilas, é, claramente, o de igualdade – o que se
expressa, por exemplo, no uso ubíquo de arranjos circulares nas reuniões (LITFIN, 2014;
KASPER, 2008). No entanto, exercer a igualdade não é tão simples. Hierarquias com
frequência acabam se estabelecendo, ainda que implicitamente – por exemplo, em favor
de membros mais antigos (MEIJERING; HUIGEN; VAN HOVEN, 2007; CHRISTIAN,
2003), membros mais ativos (CHRISTIAN, 2003), ou, ainda, de acordo com o gênero
(FLORES e TREVIZAN, 2015)7. Além disso, em algumas ecovilas há uma estrutura de
donos e inquilinos (LITFIN, 2014), o que gera inevitavelmente desbalanços de poder. O
ideal de horizontalidade, então, expresso na utilização do método de consenso, parece
depender crucialmente de estruturas de propriedade compartilhadas (KUNZE, 2012,
CHRISTIAN, 2003) – o que nos leva a considerar mais detalhadamente a dimensão
econômica da sustentabilidade.

Algumas práticas econômicas em ecovilas


As ecovilas vêm adotando uma série de práticas econômicas alternativas àquelas
hegemônicas associadas ao modelo capitalista. Por exemplo, costuma haver algum grau
de comunalismo econômico, que pode variar bastante: algumas poucas ecovilas
apresentam um comunalismo total, não apenas de propriedade, mas também de renda,
como observado por Kasper (2008) e Litfin (2014); em outro extremo, há uns poucos
casos em que existe compartilhamento apenas de uso de instalações e de atividades (não
de propriedade); na maioria dos casos, existe um grau considerável de
compartilhamento de propriedade, mas às vezes isso ocorre apenas entre uma parte dos
moradores, gerando uma estrutura de classes (LITFIN, 2014), como vimos acima.
Como já dito acima, é bastante comum haver em ecovilas um baixo padrão de
consumo, associado a uma ideia de vida mais simples – o que não necessariamente
implica perda de qualidade de vida. Segundo Litfin (2014), em países afluentes, muitas

6
Parece existir certa imprecisão associada ao conceito de “consenso”: por vezes ele é entendido como
sinônimo de “consentimento”, por vezes como algo distinto. Quando entendidos como processos
distintos, o consentimento constitui um método um pouco mais simples, que exige menos
aprofundamento das discussões.
7
Para minimizar os problemas de dominância nos processos de consenso, por exemplo, existem
estratégias diversas relacionadas à estrutura dos encontros (p. ex., tempo ou número de contribuições
limitado por pessoa, sistema de cartas, mediação por facilitador imparcial, etc.) (SARGISSON, 2004).

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ecovilas vivem confortavelmente com rendas consideradas até abaixo da linha de
pobreza. De fato, como mostra o estudo de Mulder, Costanza e Erickson (2006),
qualidades de vida superiores podem ser alcançadas com rendas inferiores à da
sociedade mainstream. É preciso considerar, claro, que a ideia de qualidade de vida
carrega um grau considerável de subjetividade, pois depende da percepção sobre as
necessidades de consumo. Mas este é justamente um ponto muito interessante: as
ecovilas costumam promover uma reavaliação das necessidades reais, o que vai de
encontro à cultura de hiperconsumismo fomentada pelo sistema capitalista – que vem a
ser um dos principais fatores geradores de insustentabilidade ecológica.
A redução do consumo em ecovilas costuma vir acompanhada também de uma
cultura de consumo consciente, levando a práticas de comércio justo e economia
solidária, na medida em que se prioriza a compra, a preços justos, de produtos de
procedência conhecida e idônea. Em ecovilas urbanas (mas não apenas), é comum
também a criação de grupos de compras cooperativas de alimentos, abertos à
comunidade como um todo (como observado por Boyer, 2015).
Outro aspecto típico de ecovilas são as atividades de relocalização econômica,
como a agricultura local e orgânica, as redes de trabalho biorregionais e o uso de
moedas alternativas (LOCKYER, 2010b). Ao produzir localmente uma parte de seus
alimentos, as ecovilas deixam de precisar comprar tantos produtos duvidosos em
supermercados, por exemplo. Além disso, as práticas de produção de alimentos são
meios privilegiados para estabelecer redes econômicas de compartilhamento e
solidariedade (BROMBIN, 2015), seja entre os próprios moradores-membros-donos da
propriedade ou entre um espectro mais amplo de atores sociais. Como já vimos,
diversas ecovilas, de fato, criam e fomentam em suas regiões redes de economia
solidária como a CSA, subsidiando a produção agroecológica local, ao dividir o risco
com os agricultores.
Em busca de sustentabilidade financeira, as ecovilas em geral procuram
desenvolver economias internas (LITFIN, 2014) a partir de uma variedade de atividades
que podem gerar renda e/ou produzir bens, ao mesmo tempo evitando gastos. São
diversos produtos e serviços, em geral alinhados aos ideais dos membros, como, por
exemplo, educação, agricultura agroecológica, energias renováveis, bioconstrução, artes,
ecoturismo, técnicas de crescimento pessoal, comunicação e autogestão. Dependendo da
comunidade, a economia interna pode ser mais ou menos diversificada e dinâmica, e ter
diferentes níveis de formalização. Algumas ecovilas “incubam” organizações e
“indústrias caseiras” como empresas de energia renovável, viveiros orgânicos,
fornecimento de sementes, suplementos herbáceos artesanais, produção de vidraçaria,
móveis, cerâmica, tecidos etc. (LITFIN, 2014).
Para auxiliar o funcionamento de sua economia alternativa, muitas ecovilas
possuem moedas locais (Litfin, 2014), que favorecem a circulação interna, e em alguns
casos há até mesmo bancos comunitários (que não visam ao lucro) que dão empréstimos
a pessoas de baixa renda (ver estudo de Swilling e Annecke, 2006). Algumas práticas
econômicas sem o envolvimento de dinheiro (permutas) também ocorrem, como na
ecovila estudada por Brombin (2015), que fornece alimentos para uma escola próxima
em troca da redução das taxas escolares de suas crianças.
Litfin propõe, então, que as ecovilas vêm desenvolvendo uma “nova cultura
econômica” que pode ser resumida em cinco princípios que correspondem a uma
reformulação dos elementos básicos da economia (consumo, produção, propriedade,
moeda e satisfação de necessidades), respectivamente: considerar os custos totais, o que

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implica pagar preços justos pelos produtos, coerentes com o ganho dos trabalhadores
envolvidos e com um uso responsável dos recursos naturais; “viver corretamente”, que
envolve a promoção do bem-estar humano dentro dos limites ecológicos, a partir da
ideia de que a economia é um “subconjunto” do ecossistema, e não o inverso; repensar
a propriedade, buscando superar a “norma” da propriedade privada, combinando-a com
formas de propriedade coletiva; relocalizar o dinheiro, colocando-o a serviço das
pessoas e ecossistemas, desmistificando-o enquanto a ficção social que representa; e
repensar as verdadeiras necessidades, o que envolve desvinculá-las do dinheiro e
satisfazer-se com o suficiente.
A sustentabilidade econômica, no entanto, ainda constitui uma importante
limitação para as ecovilas (LITFIN, 2014). Gerar economias internas robustas (e anti-
hegemônicas)) pode ser bastante difícil, especialmente com pequeno número de pessoas
(LITFIN, 2014). Em geral, boa parte dos membros precisam trabalhar fora ao menos
uma parte do ano (KASPER, 2008, LITFIN, 2014), alguns até em empregos
mainstream (MEIJERING; HUIGEN; VAN HOVEN, 2007) – o que é visto como um
problema por alguns, mas também como uma saudável interação com o exterior por
outros (LITFIN, 2014). Dois grandes desafios financeiros se relacionam aos custos da
terra e à falta de opções de financiamento (CHRISTIAN, 2003), e a localização
geográfica tem grande influência nesse aspecto, pois em áreas urbanas os custos
costumam ser bem maiores que em áreas rurais (KASPER, 2008; ERGAS, 2010,
LITFIN, 2014). Construir comunidades requer, de fato, amplas habilidades de
planejamento financeiro, e muitas podem fracassar simplesmente por causa disso,
(CHRISTIAN, 2003). O próprio comunalismo econômico pode se tornar também um
importante fator de conflitos, gerando tensões financeiras que, como se sabe, já
desfizeram muitas comunidades (LITFIN, 2014).

Sustentabilidade multidimensional e a dimensão cultural


Apesar da clara importância da sustentabilidade ecológica nas ecovilas, a análise
de suas práticas torna evidente que esta é geralmente buscada em conjunto com uma
série de ações voltadas para a sustentabilidade social (sociopolítica e econômica). A
sustentabilidade ecológica, na verdade, parece depender crucialmente da
sustentabilidade social. Afinal, como sustenta Litfin (2014), até onde se sabe, “nenhuma
comunidade jamais colapsou por falta de banheiros secos, mas muitas falharam quando
as relações humanas se romperam” (p. 20) 8 . De fato, como observaram Mulder,
Costanza e Erickson (2006), a alta qualidade de vida relatada pelos membros de
ecovilas tem ligação não apenas com a vida ecologicamente sustentável, mas também
com o suporte gerado pela vida comunitária; na verdade, o valor do capital natural se
mostra fortemente correlacionado com o capital social. Parece existir também, como
vimos, uma ligação inextrincável entre a qualidade das relações sociais e a possibilidade
de desenvolvimento de uma autogestão genuinamente participativa. Além disso, os
diferentes graus de comunalismo econômico em ecovilas também têm profundas
implicações sociais, pois dependem fundamentalmente de cooperação entre as pessoas
(LOCKYER, 2010a).

8
Um exemplo interessante de como a sustentabilidade ecológica depende da sustentabilidade social é o
de Masdar City (Emirados Árabes Unidos), que, apesar das melhores práticas em sustentabilidade
ambiental (não gera lixo, não utiliza carros e é neutra em emissões de carbono), falhou em muitos
âmbitos por ter desconsiderado as necessidades sociais das pessoas (Woodcraft et al., 2012).

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As diversas dimensões da sustentabilidade parecem ser tratadas,
conscientemente, pelas ecovilas, como interdependentes. Isso fica bem claro na
observação de que a maioria das práticas têm, simultaneamente, funções ecológicas,
sociopolíticas e econômicas. Por exemplo, a compostagem de resíduos orgânicos, ao
mesmo tempo evita o envio desses resíduos para aterros sanitários, gera adubo para
enriquecer o solo e evita despesas com a compra de fertilizantes; o desenvolvimento de
redes de economia local e consumo consciente (entre elas os sistemas de CSA) ao
mesmo tempo promove formas de produção ecológica e socialmente responsável e gera
proximidade e solidariedade social; o compartilhamento de recursos e propriedade ao
mesmo tempo reduz o consumo de recursos naturais e os custos de vida e cria um senso
de coletividade/comunidade. Dessa forma, os próprios limites entre as dimensões da
sustentabilidade se tornam difusos. Isso fica bastante evidente, também, ao observar que
as práticas destacadas nas dimensões ecológica e econômica no presente artigo foram
basicamente as mesmas: compartilhamento, redução e conscientização do consumo e
relocalização (revalorização do local).
Pode-se sugerir que se trata, portanto, de uma abordagem sistêmica colocada em
prática. O desenvolvimento dessa abordagem em ecovilas parece se relacionar ao fato
de que existe nelas uma base mais ou menos bem definida de valores e princípios
compartilhados que regem suas práticas. Por exemplo, se uma ecovila decide produzir e
vender compotas de frutas, poderíamos presumir que ela compraria materiais de
produtores locais, ecológica e socialmente responsáveis; daria um tratamento adequado
aos resíduos gerados; estabeleceria uma divisão equitativa do trabalho e dos ganhos; no
caso de contratar empregados, não desenvolveria uma relação de exploração; dentre
outras questões..
Os membros de ecovilas, de fato, parecem dar grande importância a questões de
valor. É comum, por exemplo, que pratiquem técnicas diversas de autoconhecimento,
que induzem à reflexão. Em última instância, parece se tratar de uma busca por
coerência entre seus ideais e suas ações – e é provavelmente devido a isso que alguns
deles realizam transformações bastante radicais de estilo de vida, por exemplo,
abandonando trabalhos mainstream bem pagos para se engajar em trabalhos voluntários
ou mal pagos, mas alinhados com seus ideais (como bem ilustrado pelo estudo de Ergas,
2010). Claro que isso pode ser bastante complicado, e alguns, até por necessidade,
acabam voltando aos padrões anteriores; mas muitos seguem nesse caminho, tomando
desvios consideráveis em relação ao que a sociedade capitalista costuma demandar.
Tais observações nos levam a considerar, finalmente, então, a mais intangível (e
frequentemente ignorada) dimensão da sustentabilidade: a cultural. Ora, os padrões
culturais perpassam toda a questão da sustentabilidade e engendram fortes limitações
para mudanças de estilo de vida porque implicam modificações na nossa forma de
pensar – o que, por sua vez, determina nossos hábitos. Nesse âmbito, as ecovilas
parecem vir promovendo uma considerável transformação cultural, divergindo
fundamentalmente dos padrões hegemônicos típicos da sociedade capitalista como o
hiperconsumismo e o hiperindividualismo. De acordo com o estudo de Mulder,
Costanza e Erickson (2006), membros de comunidades intencionais sustentáveis como
as ecovilas tendem, por exemplo, a substituir o capital financeiro e humano pelo capital
social, e a converter bens privados em bens públicos – fatores que podem se constituir
como chaves nas estratégias que buscam a sustentabilidade.

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O potencial educativo das ações das ecovilas
Se há poucas décadas atrás as ecovilas tendiam a se posicionar “fora” ou “em
oposição” ao mainstream (DAWSON, 2013), buscando alcançar o maior grau de
autossuficiência possível, atualmente elas parecem estar mais voltadas para estreitar
relações com a sociedade, valorizando a interdependência (LITFIN, 2014). Assim, além
de criar um estilo de vida sustentável para si, a maioria das ecovilas vêm explicitando
também um objetivo de “alcance” (outreach), no sentido de trocar experiências com o
mundo (KASPER, 2008). Na verdade, isso se reflete especialmente em um desejo de
influenciar a sociedade através da contraposição, ao mainstream, de estilos de vida mais
sustentáveis, funcionando como “modelos”, “exemplos”, “laboratórios de
sustentabilidade” ou “comunidades de demonstração” (ERGAS, 2010; BOYER, 2015;
BOSSY, 2014; LITFIN, 2014; LOCKYER, 2010b). Conquanto tal objetivo seja
bastante ambicioso, expressa-se por meio de uma série de ações concretas, em escalas
diversas: desde o estreitamento de relações com vizinhos e com as cidades em que se
inserem até a participação em grandes projetos institucionais (governamentais ou não)
em nível nacional ou transnacional.
É interessante notar o cunho altamente educativo desse posicionamento das
ecovilas. Muitas delas promovem cursos, palestras, workshops, programas de estágio e
conferências (KASPER, 2008) sobre temas afins a seus ideais, como permacultura,
bioconstrução, técnicas de comunicação e resolução de conflitos, educação infantil,
crescimento pessoal, entre outros. Quase todas incentivam o (eco)turismo, recebendo
visitantes regularmente (LITFIN, 2014) – o que está também associado a atividades
educativas informais, pois as visitas geralmente visam à “demonstração” de um estilo de
vida mais sustentável. Há muitos casos, ainda, em que hóspedes e visitantes participam
de atividades internas como voluntários, em troca do aprendizado (BROMBIN, 2015).
É claro que tais atividades servem também como importante fonte de renda para as
ecovilas, mas isso não tira seu valor educativo.
Numa escala mais ampla, a própria GEN tem feito importantes investimentos em
educação, particularmente através da parceria com o Gaia Education, que desenvolveu
um currículo que foi endossado pela UNITAR e reconhecido pela UNESCO como
contribuição oficial à Década de Educação e Desenvolvimento Sustentável da ONU
(2005-2014) (DAWSON, 2013). Tal currículo envolve quatro dimensões de
sustentabilidade e vem sendo aplicado através dos Programas EDE (Ecovillage Design
Education) – sendo que desde 2006 já foram ministrados mais de 240 programas em 43
países nos seis continentes, alcançando mais de 12.000 pessoas (GAIA EDUCATION,
2017). Um aspecto social importante envolvido aí é que tal currículo está disponível
gratuitamente, e que as entidades organizadoras dos cursos com frequência angariam
fundos para poder oferecer bolsas a pessoas de baixa renda.
Pode-se sugerir, então, que as ações das ecovilas vêm gerando certa propagação
(“ripple effect”) na sociedade (LITFIN, 2014) através dessa difusão educativa de ideias
e práticas alternativas – que, por sua vez, podem ser apropriadas de maneiras bem
variáveis por diferentes grupos societários. Como nos sugere Litfin (2014), não é
preciso criar uma ecovila ou tornar-se membro de uma para adotar um estilo de vida
semelhante, pois diversos de seus elementos têm potencial para ser incorporados a
outros tipos de comunidade ou à sociedade em geral. A autora propõe cinco princípios
gerais que podem ser transpostos para quaisquer outros contextos e escalas humanas, a
saber: pensamento sistêmico, subsidiariedade (levando à relocalização),
compartilhamento, “design para o futuro” (planejamento responsável) e o que a autora

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chama de “o poder do sim” (ações autônomas). Tais princípios podem ser traduzidos em
práticas diversas, adaptadas de acordo com a escala.
De fato, parece vir ocorrendo uma certa “exportação” ou “tradução” de
elementos das ecovilas para outros contextos sociais. O exemplo mais ilustrativo disso
talvez seja o Movimento Cidades em Transição, fundado em 2005, em Totnes, Reino
Unido, com inspiração direta no livro “The Transition Handbook”, de Rob Hopkins, um
antigo morador de ecovilas e permacultor (LITFIN, 2014). Tal movimento abrange hoje
centenas de cidades que se preparam para as mudanças climáticas e o declínio
energético em consequência do pico do petróleo barato. É interessante também notar
que o movimento de cohousing – uma importante inspiração das ecovilas (DAWSON,
2015; CHITEWERE, 2010) –, embora originalmente se baseasse mais em preocupações
relacionadas à formação de vínculos comunitários, recentemente vem se reorientando
também em direção à responsabilidade ambiental (SANGUINETTI, 2012). Parece vir
ocorrendo então uma certa convergência e articulação em rede dos movimentos
contemporâneos voltados para a sustentabilidade, o que tende a potencializar bastante
seu alcance. Nesse contexto, as ecovilas parecem vir funcionando, essencialmente,
como “nós” dessas redes de engajamento pela sustentabilidade, atuando como
catalisadores para transformações biorregionais (DAWSON, 2013).
Evidentemente, há uma série de desafios e limitações envolvidas na busca das
ecovilas por sustentabilidade, tanto internamente quanto na tentativa de influenciar a
sociedade. Uma das questões refere-se ao seu grau de isolamento: algumas ecovilas
podem acabar se configurando como enclaves isolados (LITFIN, 2014), o que ocorre
principalmente por serem rurais ou por precisarem se dedicar a demandas internas de
construção de comunidade; em alguns casos, pode existir também uma postura
isolacionista ou escapista, uma busca por um “idílio rural”, como uma forma de recusa
de participação na sociedade (MEIJERING; HUIGEN; VAN HOVEN, 2007). No
entanto, ao menos no âmbito do movimento global, tais tendências
isolacionistas/escapistas, associadas também a um apoliticismo, parecem ser exceção. É
importante considerar ainda que algum grau de isolamento tem uma importante função
ao possibilitar mudanças mais radicais no estilo de vida; mas é claro que, ao pensar a
sustentabilidade em âmbito global, as comunidades precisam se articular com a
sociedade mais ampla.
Outra limitação importante se relaciona à existência de um elitismo no
movimento (apenas nas ecovilas do norte global, evidentemente)9. A despeito de um
frequentemente expresso interesse na diversidade, o perfil étnico e socioeconômico dos
membros de ecovilas costuma ser bastante homogêneo: pessoas de classe média ou
média alta (ERGAS, 2010; CUNNINGHAM, 2014; CHITEWERE, 2010; MEIJERING;
HUIGEN; VAN HOVEN, 2007), etnia “branca” (ERGAS, 2010; CHITEWERE, 2010)
e nível educacional elevado (CHITEWERE, 2010, MEIJERING; HUIGEN; VAN
HOVEN, 2007). Faz-se evidente aí que, estando imersas no sistema capitalista, as
ecovilas inevitavelmente acabam reproduzindo alguns de seus padrões. Embora esse
caráter elitista seja esperado e compreensível, uma vez que o movimento em si surgiu
em um contexto do norte global, também é necessário questioná-lo, especialmente

9
Nas ecovilas do sul global o cenário é bem diferente, já que estas se concentram essencialmente na
luta contra a pobreza (LITFIN, 2014). Nelas, os líderes locais buscam fundamentalmente retomar o
controle sobre seus recursos culturais, ecológicos e econômicos (DAWSON, 2013), através, por exemplo,
da reapropriação de meios de produção a partir do trabalho coletivo feminino (BURKE; ARJONA, 2013).

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considerando que o movimento explicita preocupações com justiça e inclusão social –
fatores, estes, essenciais para a sustentabilidade. Algumas ecovilas (do norte global)
vêm buscando alternativas para promover maior igualdade, principalmente de forma
indireta, através, por exemplo, do fomento a práticas econômicas alternativas. Mas esta
ainda é uma difícil tarefa.
Apesar das dificuldades e limitações, seria insensato negar os avanços das
ecovilas em direção à sustentabilidade, assim como o valor educativo de suas ações. A
própria experiência concreta e imersiva dessas comunidades, ao construir alternativas
voltadas para a sustentabilidade, tem um grande valor pedagógico, já que a educação,
afinal, ocorre em grande medida pelo exemplo – e bons exemplos podem ser
extremamente inspiradores. Além disso, se o cerne da educação ambiental, como sugere
Loureiro (2013), é “a problematização da realidade, de valores, atitudes e
comportamentos em práticas dialógicas” (p. 66), então as ecovilas parecem estar
atuando diretamente nesse sentido, na medida em que criticam aspectos importantes da
cultura capitalista como o individualismo, o consumismo, a competição e a lógica do
lucro a qualquer custo, procurando subvertê-los em suas práticas cotidianas.

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