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Centro de Estudos Estratégicos e 28 de Março de 2017 Nº.

2ª edição
Internacionais

Policy Paper
DESAFIOS E PERSPECTIVAS DE MOÇAMBIQUE NA SUA
COOPERAÇÃO COM A CHINA
Vasco Banze

SUMÁRIO EXECUTIVO
O presente Policy Paper tem como objectivo a presentar desafios e perspectivas da Cooperação Moçambique-
China. Baseada na análise documental, constatou-se que nos últimos anos, a China tornou-se
excepcionalmente activa em África e em Moçambique em particular. Esse activismo se verifica no aumento
das visitas de alto nível, grandes investimentos e empréstimos bem como a presença massiva de empresas e
cidadãos chineses. Esta situação provoca apreensão nos parceiros tradicionais do país receosos de um efeito
adverso da presença chinesa para moçambique e para si. Assim, concluiu-se que:
 O engajamento chinês em Moçambique visa satisfazer, acima de tudo, os interesses geopolíticos,
geoestratégicos e geoeconómicos da China;
 A presença chinesa pode abrir um leque de oportunidades que podem ser aproveitadas por
Moçambique para promover o crescimento económico, a redução da pobreza e o desenvolvimento;
 O aumento da cooperação entre Moçambique e China só será proveitoso se Moçambique superar
os desafios relacionados com a corrupção, a má-governação e a falta de políticas públicas
consistentes.

Partindo destas conclusões, é possível desenhar algumas recomendações chave:


 O governo moçambicano deve trabalhar no sentido de atrair investimento chinês para áreas e
sectores que respondam ao interesse nacional e orientadas para o desenvolvimento económico;
 Moçambique deverá trabalhar de forma pragmática, no sentido de tirar o máximo proveito das
oportunidades e benefícios da cooperação com a China ao mesmo tempo que adopta medidas
necessárias para reduzir os riscos, as ameaças e prejuízos que a cooperação com a China acarreta;
 Moçambique deverá adoptar políticas que melhorem o ambiente de negócios, que reduzam os
índices de corrupção, que protejam o trabalhador nacional e que imponham penalidades a práticas
nefastas ao meio ambiente e aos direitos humanos.

Av. Dos Desportistas, Nº 833


Prédio JAT V-1
Maputo, Moçambique
Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais 1
Cel: (+258) 823066468
Email: ceei.isri@gmail.com
www.isri.ac.mz
INTRODUÇÃO principal investidor no continente africano,
ultrapassando os EUA e a União Europeia,
A Cooperação Moçambique-China remonta desde os principais credores de África. De igual modo, no
anos 60, período da Luta de Libertação Nacional, primeiro semestre de 2016, a China figurou-se no
dirigida pela Frente de Libertação de Moçambique topo dos principais investidores em Moçambique
(FRELIMO). Durante este período, a China prestou com 154 milhões de dólares, quase 60% do total do
apoio logístico a FRELIMO e foi o primeiro país a investimento directo estrangeiro5.
reconhecer o recém-formado Estado moçambicano,
simbolizando, assim, o seu cometimento com a causa Contudo, este engajamento da China em África
nacional e abrindo-se para cooperação em diversos suscita intensos debates nos círculos académicos, na
domínios 1 . Este desiderato não conheceu avanços sociedade civil, entre outros segmentos
significativos devido ao apoio que a China populacionais, produzindo, assim, duas correntes de
proporcionava a UNITA2 em detrimento do MPLA3 pensamento. Na visão, de críticos de lentes
congénita da FRELIMO e também devido a ocidentais, a presença chinesa em África representa
bipolarização do poder no sistema internacional. um risco para a construção e consolidação do
Entretanto, o Fim da Guerra Fria abriu espaço para processo da democracia dos Estados africanos. Esta
o regresso da China à África e à Moçambique em visão funda-se na ideia de que a China coopera com
particular. regimes ditatoriais, autocratas e corruptos como os
do Sudão, Zimbabwe e Angola, respectivamente.6 Os
A criação do Fórum de Cooperação Sino-África críticos desta visão olham ainda a cooperação Sino-
(FOCAC), em 2000, marca o início do processo de Áfricana como uma reprodução das antigas relações
revitalização e refortalecimento da relação entre a verticais Norte-Sul que se baseiam na articulação
China e o continente africano 4 . Este Fórum entre recursos naturais e bens acabados (Chichava,
constituiu a plataforma para o desenvolvimento de 2010). De facto, a China exporta produtos
uma aliança estratégica Sul-Sul fundamentada na manufacturados e importa matéria-prima. África
igualdade política, confiança recíproca, cooperação exporta matéria-prima e importa produtos
económica e intercâmbio cultural, fundados no manufacturados – facto que resulta na deterioração
princípio de ganhos mútuos, tornando assim a de termos de troca.
cooperação China-África cada vez mais relevante
para muitos países africanos, incluindo Moçambique. Grande parte do cepticismo ocidental em relação a
Assim, a China passou a ser um parceiro estratégico presença chinesa resulta do receio de perder a
para a reconstrução de um continente empobrecido tradicional influência que exercia sobre o continente
palas incursões imperialistas, esmagado pelo peso da africano. De acordo com Brautigam (2009) a opinião
dívida externa e devastado pelas guerras civis. A ocidental em relação a China envolve outras ideias
título de exemplo, em 2009, a China tornou-se o preconcebidas tais como: 1) a China só se interessa
por petróleo e outros recursos naturais africanos; 2) a
1MACAUHUB
China baseia-se muito em subsídios injustos, tais
(2016) China foi om maior Investidor em
Moçambique no 1º Semestre, http://www, como empréstimos subsidiados ou créditos à
macauhub.com.mo/pt2016\08\10\china, consultado no exportação; 3) as empresas chinesas negligenciam ou
dia 14 de Março de 2016. ignoram os valores ambientais e sociais; e 4) os
2 A União Nacional para a Independência Total de
empréstimos chineses aos países africanos aumentam
Angola, mais conhecida por seu acrónimo UNITA, é um
partido angolano, fundado em 1966, por dissidentes da a insustentabilidade da dívida.
FNLA e do GRAE (Governo de Resistência de Angola no
Exílio), de que Jonas Savimbi, fundador da UNITA, era Contrariamente ao pessimismo ocidental, boa parcela
ministro das relações exteriores.
3 O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) das elites políticas africanas no poder vê a China
é um partido político de Angola, que governa o país desde
sua independência de Portugal em 1975. 5 Bila, A (2007) Chinese Capital in Mozambique: Critical
4 IV Simpósio de Pós-Graduação em Relações Assessment of Chinese Assistence to Mozambique: Africa
Internacionais do Programa "San Tiago Dantas" (UNESP, Forum on Debt and Development: AFRODAD
UNICAMP e PUC/SP) de 05 a 08 de Novembro de 2013 6 (Human Rights Watch: 1 de Novembro de 2006).

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como um parceiro fiável e, principalmente, menos 1. O QUE DIZ A LITARATURA
interventiva nas discussões atinentes à resolução de SOBRE A PRESENÇA CHINESA
seus problemas internos (Chichava, 2010). De facto, EM MOÇAMBIQUE?
uma das condições básicas definidas pela China para
o estabelecimento de quaisquer tipos de relações A literatura sobre a presença da China em África e
políticas e económicas com África, é a defesa do em Moçambique em particular apresenta duas visões
princípio de “Não Ingerência nos Assuntos controvérsias. Existe uma visão que mostra que a
Domésticos” 7 . Este grupo, vê ainda a presença coopearação Moçambique-China é uma reprodução
chinesa em África como uma alternativa para das relações Norte-Sul que empurra o Sul a
diversificação de parcerias de cooperação. Alguns especialiazar-se na produção de máterias-primas e o
dados sustentam esta afirmação, por exemplo, entre Norte em produtos manufacturados. Este
2000 e 2006, as trocas comerciais desta cooperação mecanismo de cooperação perpetua a dependência
multiplicaram-se por dez (Beuret & Michel, 2008:49); de África em relação ao Norte, colocando o
o stock do investimento directo chinês em África continente na periferia do quadro da economia-
passou de 49 milhões de dólares americanos em 1990 mundo capitalista. Os críticos desta visão acreditam
para 2,6 biliões de dólares em 2006, tendo a China, que embora a cooperação sino-africana esteja
se transformado no terceiro parceiro económico da trazendo vantagens conjunturais para vários países
África, depois da União Europeia e dos Estados africanos, como projectos de assistência técnica,
Unidos (Besada et al., 2008). ajuda para o desenvolvimento e mesmo
investimentos em infraestruturas locais (incluindo
Assim, tendo em conta este debate corrente e escolas, hospitais), ela processa-se nos mesmos
recorrente da presença chinesa em África e em mecanimos. O aspecto crítico é o facto de os
particular em Moçambique, o presente policy paper investimentos chineses concentrar-se em sectores
tem como objectivo apresentar os desafios e as estratégicos (recursos naturais) e dedicados em
perspectivas de Moçambique na sua cooperação com importação de força de trabalho da própria China, o
a China. O estudo baseia-se, fundamentalmente, na que causa e vem causando ressentimento em vários
revisão da literatura através da recolha de países, incluindo Moçambique8.
informações e dados estatísticos que versam sobre a
cooperação Moçambique-China. As nossas De facto, é recorrente, hoje, ouvir-se dizer que a
recomendações basear-se-ão na análise do SWOT China está se aproximando silenciosamente para um
que consiste na identificação das Forcas, Fraquezas, domínio do tipo colonização, que a China é um mau
Ameaças e Oportunidades dentro da cooperação doador, etc. Diz-se que da cooperação Moçambique-
entre os dois Estados e mostrar as possibilidades da China, o que se vê, é a exploração desenfreada de
sua superação. O trabalho reveste-se de uma peculiar madeira, dos mariscos e outros recursos naturais para
importância na medida em que visa dissipar além da exploração quase escrava, da mão-de-obra
equívocos despoletados no debate entre os “pros e moçambicana em todas as actividades em que esteja
contra” da cooperação Moçambique-China e ao a operar9.
mesmo tempo proporcionar um pacote de medidas
que possam ser implementadas pelo governo A outra visão é bastante optimista. Esta visão olha a
moçambicano de modo a optimizar os ganhos nesta cooperação Moçambique-China como alternativa
cooperação irreversível. A nossa visão parte do para diversificar as fontes de investimentos, sob a
pressuposto de que qualquer tipo de cooperação alsada da cooperação Sul-Sul, dentro de princípios de
envolve constrangimentos e sensibilidades, ou seja, solidariedade. Autores desta visão, têm a percepção
tem uma base pragmática e solidária; cabendo, desde de que, face ao abandono a que foi submetida a
modo, ao país saber articular essas duas realidades. África desde os anos 1980, a maior conexão com a

7 (Ministry
of Foreign Affairs of the People’s Republic 8 Michel (2008), Lumumba-Kasongo (2011), (Caniglia
China, MFAPRC, 12 de Janeiro de 2006). (2011), Renard (2011), Ajakaiye (2006), entre outros.
9 Jossias, Pesquisador do CEEI (2017)

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economia chinesa representa uma oportunidade de geoestratégico. A China procura reduzir a sua
avanço económico (Ouriques, 2014). Por exemplo, vulnerabilidade em relação ao engajamento
do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) de cada americano no extremo oriente e no sudoeste asiático
um dos países dos BRICS em Moçambique, China é bem como a necessidade de contornar o poder da
o segundo maior investidor depois da África do Sul Índia na Região do Oceano Índio (Pham, 2006).
(Jansson e Kiala, 2009:8). Assim, o continente africano torna-se um espaço
privilegiado para a projecção da ambição geopolítica
Em 2008, o comércio era de 442.7 milhões de da China.
dólares e em 2012 estava na cifra de 1.224 milhões
de dólares. Este crescimento de relações comerciais Em segundo lugar, salientam-se razões políticas. O
tornou a China como segundo maior investidor, interesse por detrás do engajamento Chinês é a
depois de África do Sul 10 . Em 2013 a China necessidade de aumentar sua influência política de
continuava como o segundo maior investidor em modo a garantir apoio dos países africanos nas suas
Moçambique com um volume de investimento pretensões nos principais fóruns internacionais,
estimado em 228,927,373 USD e no primeiro principalmente nas Nações Unidas. Não podemos
semestre de 2016 tornou-se também no maior esquecer que o regime político chinês é alvo de
investidor em Moçambique com uma participação de críticas da maioria dos países ocidentais que vêem
quase 60% do total do investimento directo pressionando Pequim para uma abertura
estrangeiro. Estes dados mostram a crescente democrática. O apoio político dos países africanos é
importância da presença chinesa no país. importante quando se deve decidir sobre assuntos de
interesse da China. Um dos assuntos de maior
As duas visões expressam opiniões extremas. interesse da China é a One China Policy que promove
Contudo, o trabalho não adopta nem uma e nem o isolamento internacional de Taiwan e nega a
outra, a nossa percepção sobre a cooperação independência daquele território considerado Chinês.
Moçambique-China é intermédia, onde procuramos Moçambique alinha na política Chinesa e defende a
mostrar os pontos pragamáticos e de sensibilidades, posição da China sobre o assunto (Pham, 2006).
pois tal como referido anteriormente, qualquer tipo
de cooperação envolve constrangimentos e Em terceiro lugar, sobresaiem razões económicas.
sensibilidades, cabendo, desde modo, ao país saber Sendo a China uma economia em ascensão e com
articular essas duas realidades. limitações em matérias-primas estratégicas, ela
precisa garantir o acesso, o controlo e a
2. O PANORAMA DA COOPERAÇÃO comercialização dos recursos que necessita. A esse
MOÇAMBIQUE-CHINA respeito, a melhor forma de controlar toda essa
cadeia de producão é a presença física nos territórios
Quais são as reais motivações da presença chinesa onde esses recursos abundam. A perda de acesso e
em Moçambique? Embora seja difícil mencionar as controlo desses recursos pode significar um preço
reais motivações da presença da China em bastante alto que a China não gostaria de pagar. A
Moçambique destacam-se alguns pontos que nos África representa uma retaguarda segura para a
fazem perceber com clareza a razão da sua presença eventualidade de um conflito comercial entre o
em Moçambique: ocidente e a China. Ao mesmo tempo, a China
precisa do mercado africano para a sua produção
Em primeiro lugar, destacam-se razões geopolíticas e manufactureira. O interesse chinês inclui também
geoestratégicas como responsáveis pela aproximação oportunidades de emprego para os trabalhadores
da China ao continente africano e em Moçambique chineses e contratos de serviços para empresas
em particular. A China é um país que se sente chinesas em projectos de infra-estruturas que a China
ameaçado pelo ocidente e seus aliados e, portanto, financia.
busca aliados estratégicos fora do seu entorno
Quais são os níveis de investimentos da China em
10 (Centro de Promoção de Investimentos, 2013:8) Moçambique e em que sectores esses investimentos

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são alocados? A cooperação Moçambique-China (2010), num investimento avaliado em 700 milhões
tornou-se mais atrativa a partir dos anos 2000. de dólares americanos12. A China apoia também na
Durante este período, os dois países assinaram vários formação de quadros nacionais dando bolsas de
acordos de cooperação, sobretudo nas áreas de (i) estudos.
defesa e segurança, (ii) educação, (iii) comércio e (iv)
infra-estruturas. No âmbito comercial, a cooperação Moçambique-
China também regista avanços significativos. Em
Na realidade, a cooperação Moçambique-China 2001, os dois países assinaram dois acordos:
estende-se para além das áreas acima mencionadas. Comércio e Promoção e Protecção Recíproca do
(a) no campo político por exemplo, ela envolve: Investimento (MFAPRC, 2009). Entre 2001 e 2007
visitas de alto nível, intercâmbios entre órgãos estes acordos atingiram cerca de 280 milhões de
legislativos, intercâmbios entre partidos políticos, dólares americanos (CPI:2009). No seio dos países
consultas em fóruns internacionais, cooperação em africanos de Língua Portuguesa (PALOP),
assuntos internacionais, e intercâmbios entre Moçambique é o segundo maior parceiro da China,
governos locais/municipais. (b) no campo depois de Angola, e o quarto no seio dos países da
econômico ela se estende desde: o comércio, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
investimento, cooperação financeira, cooperação (CPLP), depois do Brasil, Portugal e Angola (Correia
agrícola, desenvolvimento de infra-estrutura, (2010: 48). A cooperação Moçambique-China
cooperação em matéria de exploração de recursos consiste também no perdão da dívida. A China
minerais e energéticos, cooperação no domínio do perdoou 22 milhões de dólares da dívida pública
turismo, redução da dívida e alívio, assistência externa de Moçambique, correspondentes a 69% da
económica e cooperação multilateral. (c) no campo dívida pública total deste país com a China (People’s
da Educação, ciência, cultura, saúde e aspectos Daily 2001).
sociais a cooperação estende-se desde a cooperação
no desenvolvimento de recursos humanos e No sector de infra-estruturas, estima-se que um terço
educação, cooperação em ciência e tecnologia, das estradas moçambicanas, estão sendo
intercâmbios culturais, cooperação médica e (re)construídas por empresas chinesas (Emmy Boost:
sanitária, cooperação consular. (d) no campo da 2008). Além disso, a China financia e participa na
defesa e Segurança ela envolve, a cooperação militar reabilitação ou construção dos sistemas de
e a cooperação judiciária e policial11. abastecimento de água em algumas capitais
provinciais, nomeadamente, Maputo e Beira;
Na área de defesa e segurança, o país conta com a financiou e participou, igualmente, na construção do
China na modernização e profissionalização do Estádio Nacional do Zimpeto avaliado em 57
sector, seriamente afectado durante os dezasseis anos milhões de dólares; na reabilitação e modernização
de guerra civil. A construção de um bairro militar do principal aeroporto de Moçambique, Mavalane,
nos arredores de Maputo, a assistência técnica e avaliado em 70 milhões de dólares e o financiamento
logística (viaturas, equipamento electrónico, de 2,3 biliões de dólares americanos, da barragem de
uniformes, formação, etc.) às forças armadas e à Mpanda Nkuwa, projectada para ser uma das mais
polícia moçambicanas e, por fim, o programa de importantes de África 13 . Neste sector, destacam-se
desminagem (em 2001) são resultados da cooperação ainda a construção do novo edifício do parlamento
bilateral entre os dois países (Chichava, 2010). moçambicano, do Centro de Conferências Joaquim
Chissano, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e
No sector da educação, ciência e tecnologia, da Ponte Maputo-Katembe, entre outros projectos.
destacam-se a instalação de dois centros de
investigação agrária, em Umbelúzi (2008) e Moamba

11Youngman, Frank (2013) em Strengthening Africa-China 12 Notícias Online (2017), “China apoia projectos de
Relations: A Perspective From Botswana, apresenta de forma investigação agrária em Moçambique
extensive os vários sectores de engajamento Chinés em 13 Departamento Económico e Comercial da Embaixada

África. da China em Maputo (8 de Maio de 2008)

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3. DESAFIOS DA COOPERAÇÃO desenvolvimento ainda permanece muito abaixo
MOÇAMBIQUE-CHINA daquilo que é a participação dos parceios tradicionais
do ocidente. Em termos gerais, o volume de
Os benefícios da cooperação Moçambique-China são investimentos chineses em África situa-se muito
inegáveis. Estes vão desde financiamentos de abaixo dos investimentos feitos por aquele país na
projectos públicos de âmbito social e cultural, até aos Ásia, Europa, Médio Oriente e América Latina. A
investimentos em sectores que a maioria dos África só se posiciona acima da Oceania. Os pacotes
investidores tradicionais (ocidentais) não aposta, de investimento e/ou ajuda que a China declara
como é o caso do sector agrícola e de infra- investir em África não chegam a ser executados na
estruturas. Entretanto, o governo moçambicano metade (Dollar, 2016). Este padrão de
enfrenta, igualmente, grandes desafios para comportamento não se difere do padrão ocidental,
transformar as fraquezas e ameaças decorrentes da isto é, a política externa declartória nem sempre anda
cooperação em forças e oportunidades de “mãos dadas” com a política externa real.
respectivamente. Dentre tantos desafios, salientamos
os seguintes: (i) transformar o crescimento Proteger a Indústria Manufactureira Local
económico em desenvolvimento; (ii) aumentar o
volume do investimento chinês em Moçambique; (iii) Os produtos importados da China são, geralmente,
proteger a indústria manufactureira local; (iv) garantir mais baratos do que os bens produzidos em
que os produtos chineses tenham a qualidade Moçambique ou em outras paragens de África como
desejável; (v) garantir a diversificação do é o caso de maquinarias, veículos, electrónicos
investimento chinês; (vi) reduzir a importação da (telemóveis, computadores, disco duro externo e
mão-de-obra e das empresas chinesas; (vii); atrair o outros), têxteis e roupas (Ajakaiye, 2006). Para um
turismo chinês; (viii) combater a corrupção e país em que a população possui baixa renda e
actividades ilegais; (ix) estender a cooperação para portanto fraca capacidade de compra, a
novos sectores. acessibilidade desses produtos constitui uma
oportunidade para melhorar as suas condições de
Transformar o crescimento económico em vida, reduzindo a pobreza extrema. Entretanto, isto
desenvolvimento levanta um risco de Dumping, que pode ameaçar o
estabelecimento de uma indústria manufactureira e a
Naturalmente, a China investe em sectores que capacidade competitiva dos produtos nacionais. A
interessam a própria China e não por considerações possibilidade dos produtos chineses virem a
desenvolvimentistas. A ascensão económica da monopolizar o mercado nacional e inviabilizar o
China e o engajamento chinês contribuiu nascimento de uma indústria manufactureira
sobremaneira para o crescimento económico de nacional é ao mesmo tempo um desafio e uma
vários países africanos, incluíndo Moçambique. Com ameaça. Visto por este prisma, a China pode
efeito, a demanda chinesa por produtos africanos provocar a desindustrialização de Moçambique
favoreceu o aumento das exportações e dos preços a (Zeleza, 2014). A abundância de produtos chineses
nível internacional (Dollar, 2016). No entanto, países pode ter um efeito adverso na atracção de
como Moçambique ainda precisam transformar o investidores pois nenhum quererá competir contra
volumoso crescimento económico em produtos chineses baratos e em abundância
desenvolvimento, na melhoria do nível de vida das (Ajakaiye, 2006).
populações e, acima de tudo, na redução da pobreza.
Garantir que os Produtos Chineses tenham a
Aumentar o volume do investimento chinês em Qualidade Desejável
Moçambique
Grande parte dos produtos importados da China não
Apesar do crescente investimento chinês em África e passa pelo crivo da qualidade. Por força disso,
em Moçambique em particular, a participação abundam produtos chineses no mercado
chinesa em vários sectores-chave para o moçambicano de baixa qualidade e fora dos padrões

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internacionais. A proliferação de produtos manutenção desses empreendimentos, traduzindo-se
contrafeitos ou pirateados representa não só uma numa reprodução de mecanismos de dependência
ameaça para o consumidor final, mas também para o técnica entre os dois países. Para além disso,
produtor nacional, que vê suas marcas replicadas e conforme nota Robinson), existe sempre o risco de
mais baratas, concorrendo para sua falência. Não violação dos direitos laborais dos trabalhadores
existe uma avaliação dos riscos de saúde em relação moçambicanos, por parte dos empreiteiros chineses,
aos materiais usados dos produtos chineses e muito através da falta de condições de trabalho,
menos se leva em consideração os riscos ambientais discriminação racial, carga laboral excessiva e, outras
dos resíduos desses produtos. irregularidades sob as quais os moçambicanos são
submetidos (Ibid).
Garantir a Diversificação do Investimento
Chinês Combater a Corrupção e Actividades Ilegais

Até hoje, grande parte do investimento chinês tem-se Moçambique é um dos principais fornecedores de
concentrado nas indústrias extrativas, infraestruturas madeira para a China. Entretanto, grosso modo
públicas e infraestruturas de transportes orientadas dessa exportação ocorre fora dos registos
para exportação. O empresariado chinês não produz estabelecidos pela lei moçambicana. A prática ilegal
localmente, importa todas componentes da China. da exportação de madeira é provavelmente um dos
Pouco investe para o aumento da produção maiores desafios da presença chinesa em
manufactureira no país 14. Este mecanismo de troca Moçambique. Conforme nota Roque (2009), um
empurra o país a especializar-se na indústria vasto número de empresas privadas chinesas fazem
extractiva, enquanto a China na indústria parcerias com os locais para este efeito. As
manufactureira. Como consequência, o país perde o províncias de Zambézia, Cabo Delgado e Nampula
controlo de toda cadeia de produção e fica são os maiores focos de escoamento de madeira, boa
vulnerável às oscilações dos preços das commodities no parte ilegal, em conivência com os cidadãos locais,
mercado internacional e exposto a maldição dos alguns membros do regime do dia. Da mesma forma,
recursos naturais. existe o desafio eminente que decorre da actividade
de pesca ilegal, na qual navios chineses fazem a pesca
Reduzir a Importação da mão-de-obra e de tubarões e tartarugas, espécies protegidas pela lei
empresas chinesas moçambicana (Haifang, 2009). Contudo, estes factos
reforçam o desafio que o Estado tem na busca de
Boa parte da cooperação Moçambique-China capacidade de controlo efectivo do seu território
concentra-se nas infra-estruturas, tal como explanado tanto terrestre como marítimo e no fortalecimento
na secção sobre o panorama da cooperação entre os de instituições públicas. Assim, os governos
dois países. Entretanto, o trabalho de construção africanos são desafiados a desenhar estratégias que
destas infra-estruturas está sempre sob o encargo de possam garantir que as empresas estrangeiras
empreiteiros chineses e são abastecidos por materiais subscrevam a Iniciativa de Transparência das
de construção fornecidos, também, directamente Indústrias Extrativas (ITIE) como condição prévia
pela China (Robinson, 2012). Parece legítimo que os para concessão de licenças de mineração.
trabalhadores e materiais de construção chineses
dominem o mercado de construção, uma vez que Reduzir o impacto nefasto do investimento
estes detêm da técnica e da capacidade tecnológica chinês
que tanto o país precisa. Todavia, a médio e longo,
prazos, isto implica um risco para a transferência de O investimento chinês em Moçambique e em grande
tecnologia e desenvolvimento da capacidade humana parte da África está orientado para a extracção e
e, por consequência, o país terá dificuldades na exploração de recursos naturais. A aquisição de terras
para a produção agrícola é uma tendência bastante
14http://wits.worldbank.org/CountryProfile/en/Country evidente no engajamento chinês em África. O risco
/MOZ/Year/2014/TradeFlow/Export/Partner/CHN/P
roduct/All-Groupo
da poluição, da degradação ambiental, da perda da

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biodiversidade resultante seja do desmatamento, da cooperação no domínio judicial; 3) intercâmbios
emissão de poluentes no ar e na terra, da deposição culturais; 4) cooperação no domínio da média e
de lixo tóxico em cursos de água e do uso televisão; 5) cooperação para o fortalecimento da
insustentável dos recursos deve ser reduzido através estrutura administrativa, principalmente a infra-
da adopção de políticas orientadas para controlo e estruturação dos órgãos locais do estado; 6)
fiscalização das operações dos investidores chineses cooperação para a defesa ambiental; e a cooperação
em todo o país. A devastação florestal (exploração de para enfrentar desastres naturais e fornecer ajuda
madeira) é já uma experiência negativa cujo impacto humanitária.
incide directamente para as comunidades.
4. PERSPECTIVAS DE
Mabey e McNally (1999), referem que alguns países COOPERAÇÃO MOÇAMBIQUE-
preferem não agravar a legislação ambiental de modo CHINA
a não perder investidores para países concorrentes
com legislações permissivas. Para aqueles Os parceiros tradicionais de África mostram um sinal
pesquisadores, alguns países decidem de recuo no seu relacionamento com o continente. O
“deliberadamente” desinvestir na fiscalização novo slogan ’’America First’’ de Donald Trump, mostra
ambiental pelos mesmos motivos. Aliás, referem que claramente este afastamento. E a União Europeia
grande parte de indústrias poluentes tem interesse também enfrenta problemas internos. Este recuo
em se implantar em países onde a regulação permitirá o engajamento mais intenso das potências
ambiental é branda. Moçambique deve tomar uma emergentes com África. Assim, a China continuará a
postura diferente; deve fortalecer sua legislação manter uma forte presença económica em África,
ambiental, resistir a entrada de indústrias poluentes e especialmente, em Moçambique, como um parceiro
aumentar a capacidade de fiscalização. estratégico para o desenvolvimento do país. O
engajamento da China continuará mais notável nos
Atrair o Turismo chinês recursos naturais para o abastecimento do seu parque
industrial em franco crescimento. A eminência da
O crescimento da economia chinesa está a exploração de gás de Rovuma constitui outro factor
proporcionar grandes oportunidades para a atractivo para a permanência da China em
população chinesa fazer turismo a nível global. Moçambique. E por sua vez, o governo
Existe hoje uma explosão de turistas chineses em moçambicano está mais interessado em cooperar
várias partes do mundo e em alguns mercados com a China, uma vez que, as suas relações são
africanos (Kaplinsky, at al 2008). Moçambique ainda horizontais e revelam ganhos mútuos. Portanto, a
não consegue atrair essa enorme massa de turistas cooperação Moçambique-China mostra-se
primeiro por falta de um marketing internacional importante e irreversível apesar das percepções
agressivo e segundo, por falta de uma infra-estrutura controvérsias.
logística orientada para o turismo de massas. Se
Moçambique for capaz de atrair turistas chineses A “não-imposição de condicionalismos” é também
poderá dinamizar sectores económicos como a um factor importante para o incremento da
restauração, hotelaria, produção alimentar, de cooperação Moçambique-China. Os financiamentos
bebidas, indústria de artesanato e provedores de provenientes da China para vários projectos
diversos serviços moçambicanos são, geralmente, concedidos em
forma de ajuda externa, empréstimos de longo-
Estender a Cooperação para novos sectores prazo, ou mesmo em forma de doações.
Diferentemente dos parceiros tradicionais, a China
A cooperação Moçambique- China ainda pode ser não controla os mecanismos de transparência,
mais abrangente pois existem várias áreas que ainda prestação de contas e a monitoria dos projectos por
não foram efectivamente exploradas como por ela financiados. Por isso, a ausência destes
exemplo: 1) a cooperação em operações de resolução mecanismos constitui per se uma oportunidade, pois
de conflitos e de manutenção da paz; 2) a permite ao governo de Moçambique identificar as

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áreas que constituem prioridades para o oportunidades que surgem em virtude dessas
desenvolvimento socioeconómico do país e, assim, dinâmicas. A capacidade de tirar proveito das
proceder com o respectivo investimento, sem oportunidades e minimizar as ameaças é o mais
necessariamente depender das opções do importante. Para aqueles autores, os países devem
financiador. desenvolver capacidades de pesquisa, capacidades de
formulação estratégica e capacidades de
Todavia, ainda sim, Moçambique deve sempre ter implementação dessas estratégias. Os autores
em vista a previsão das intenções futuras da China, referem ainda que há uma capacidade adicional que é
pois tal como observa Keohane (1984), a cooperação necessária – antecipar as oportunidades e ameaças
pressupõe a perseguição de interesses próprios pelos futuras. Em nossa opinião, isso implica um
actores estatais. Na verdade, a China não está para investimento sério em instituições de pesquisa
desenvolver Moçambique, pelo contrário, está vocacionadas.
preocupada em abastecer o seu parque industrial. Daí
que a China fará todos os arranjos possíveis para Por fim, Anderlinil (2007), diverte-nos que a China
permitir que a cooperação continue a garantir o continuará a insistir no emprego do modelo da ajuda
fornecimento da matéria-prima para a sua indústria. ligada em África apesar de ser uma prática que não
O interesse pelas matérias-primas centradas nos reúne consensos e ser rejeitada por vários países
recursos naturais é um risco para o país, pois esses africanos. A ajuda ligada tem sido uma característica
recursos são esgotáveis, e a questão que fica no ar da assistência europeia, americana e japonesa às
qual será o futuro da cooperação Moçambique-China nações pobres por décadas. No entanto, vários países
com o esgotamento desses recursos naturais, que são europeus vêem abandonando está prática por vários
foco da cooperação? motivos dentre os quais a sua ineficácia. Na maior
parte de sua ajuda à África, Pequim exige que a
Kaplinsky, at al (2008), entretanto, sublinha que a construção de infra-estrutura seja feita por empresas
busca incessante por recursos naturais por parte da chinesas, que empregue trabalhadores chineses e que
China traz oportunidades e benefícios claros para os use material chinês. Esta situação não estimula o
países africanos dotados de recursos naturais desenvolvimento de indústrias locais para aquelas
valiosos. O mais óbvio benefício é o aumento das actividades.
exportações e receitas derivadas destas exportações.
A crescente demanda chinesa irá garantir, por um 5. RECOMENDAÇÕES PARA
longo período de tempo, um nível de preços de MOÇAMBIQUE
commodities relativamente alto em relação ao passado e
a disponibilidade de divisas em Moçambique. As A cooperação Moçambique-China é marcada
perspectivas futuras indicam por isso uma crescente suspostamente pela ideia de relações horizontais e de
presença chinesa e um interesse permanente da solidariedades entre os povos do sul. Por exemplo,
cooperação Moçambique-China. Apesar do os investimentos chineses não têm condicionalismos
investimento actual chinês indicar para uma e os créditos são reembolsados a longo prazo, isto é,
concentração em sectores extractivos, tudo indica período de graça. Entretanto, essas concessões têm a
que o futuro será marcado por uma maior base pragmática. Moçambique é obrigado a comprar
diversificação do portfólio. Entretanto, a pressão produtos manufaturados na China e as obras de
para essa diversificação dependerá do governo grande engenharias são ganhas pelas empresas
moçambicano, das condições do mercado doméstico chinesas. Este é o lado pragmático da cooperação
e internacional e das necessidades internas da China. Moçambique-China. Assim, Moçambique deve tratar
a China com pragmatismo e não se deixar atrelado
Nota-se ainda que as relações económicas e políticas nos esquemas da solidariedade; ou seja, Moçambique
entre a China e a África Subsariana estão a mudar deve olhar a China como um país com interesses
muito rapidamente (Kaplinsky, at al 2008). Perante próprios virados para o desenvolvimento do seu
estas mudanças, os Estados africanos devem ser parque industrial. Por isso, recomenda-se que
capazes de acompanhar as novas ameaças e Moçambique adopte as seguintes medidas:

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A nível político e militar formação de joint ventures de negócios entre
empresas africanas e chinesas que culminará
 Moçambique deve continuar a reforçar a no empoderamento do empresariado
cooperação com a China no sector da defesa africano.
com vista a impulsionar a revitalização da  Moçambique poderá tirar proveito do
capacidade das Forças Armadas de Defesa investimento chinês para materializar o
de Moçambique (FADM) através do desejo de promover a integração económica
reaparelhamento, formação e reconstrução nacional por meio de ferrovias e estradas;
das suas infraestruturas militares para  Mecanismos para evitar a ‘ajuda ligada’ (tied
melhor enfrentar os novos tipos de ameças, aid) devem ser considerados e negociados.
tais como a pirataria, o terrorismo, a pesca
ilegal, imigração ilegal e o tráfico (de drogas,
pessoas e minerios). A nível legislativo
 A necessidade do reforço da cooperação
militar com a China deve se estender a áreas  O governo de Moçambique é encorajado a
críticas como o compartilhamento de continuar a criar um bom ambiente e
inteligência para responder às ameaças atrativo de negócios para o país, contudo
domésticas e externas à segurança; aprimorar os mecanismos de fiscalização de
contrabando e de corrupção que destorce o
A nível económico sentido de cooperação para o
desenvolvimento. Recomenda-se ainda a
 Moçambique deve continuar a atrair necessidade de capacitação institucional em
investimentos chineses para sectores que matérias de cooperação e insvestimentos
garantem a geração de emprego e estrangeiros às instituições públicas e
transferência de tecnologia para o país. O privadas.
contínuo investimento no sector primário  Implementar os princípios do
baseado em commodities não logrará alcançar desenvolvimento sustentável e impor regras
esse desiderato. Por isso, é necessário atrair de segurança ambiental nos acordos de
cada vez mais manufactureiras chinesas para exploração assinados entre empresas
investirem em Moçambique. Isso permitiria chinesas;
a geração de mais empregos para os  Impor regras de responsabilidade social nos
moçambicanos e o controlo de toda cadeia investimentos chineses por forma a motivar
produtiva; um maior engajamento destas empresas nas
 O país deve continuar a estreitar as suas comunidades onde se implantam;
parcerias com os investidores tradicionais,  Regras sobre o capacity building da força de
pois, embora a China seja uma parceira trabalho nacional devem ser publicados em
estratégica para o desenvolvimento do país lei onde seja mandatório formar a força de
ainda não é suficiente para substituir ajuda e trabalho, seja por programas ‘on the job
o financiamento de parceiros tradicionais de trainnning’ ou dando formação específica;
Moçambique, nomeadamente, EUA e a  Exigir um nível mínimo de conteúdo local
Uniao Europeia. como requisito de concessão de licenças de
 Transferência de tecnologia. A crescente exploração, produção industrial e construção
modernização da economia chinesa abre civil, ao abrigo da legislação comercial ou
oportunidades para que os países africanos outro documento. Moçambique pode
partilhem tecnologias induzir o aumento do conteúdo local através
 O aumento da concorrência de empresas de requisitos estabelecidos por lei ou por
chinesas interessadas em investir em África cada contratos assinado.;
poderá ser aproveitado para criação e

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 Moçambique deve acautelar-se para não se para construir infraestruturas que se
endividar muito com a China. Os transformam em auténticos ‘elefantes
empréstimos devem ser aplicados em brancos’. Urge que se tomem medidas e
projectos economicamente viáveis e que acções concretas que promovam redes de
produzam retornos crescentes no curto e estradas e linhas férreas necessárias ao
médio prazo. O elevado endividamento comércio;
pode constragir a soberania do Estado na  Moçambique precisa captar investimento
tomada de decisões de política externa; chinês para aumentar a capacidade nacional
de produção de energia. A atracção de
A nível do sector social investimentos para a produção de energia
hídrica e renováveis, pois a energia é por sí
 Aproveitar o engajamento chinês para só um motor de desenvolvimento e uma
activar, reactivar e dinamizar sectores sociais inestimável fonte de receitas;
através do investimento em escolas,
hospitais, ao mesmo tempo que se deve A nível da orientação política e estratégica
reduzir o investimento em obras de grande
invergadura sem grande impacto social;  Existe uma necessidade do Estado financiar
 Tirar proveito do avanço científico e estudos de base para avaliar o impacto social
tecnológico chinês através de acordos de e económico do investimento chinês em
formação de quadros nacionais em Moçambique; estudos para determinar a
universidades chinesas nas mais diversas capacidade de competitividade das empresas
áreas do conhecimento; nacionais; Estudos para determinar o
 Moçambique deve saber regular o fluxo de impacto do investimento chinês no bem-
trabalhadores chineses que vêem agregados estar do consumidor, na distribuição de
aos projectos chineses e fazer o maior renda e nos níveis de pobreza. Conforme
controlo da situação dos imigrantes avisam Kaplinsky, McCormick e Morris
chineses. O impacto da mão-de-obra chinesa (2008), é preciso preencher as lacunas no
no mercado de emprego nacional deve ser nosso conhecimento em relação ao real
sempre considerado na pauta de todas as impacto da China em África. Na opinião
negociações entre Moçambique e a China; deles, algumas dessas lacunas resultam da
 Actualmente, as relações entre moçambique falta de dados.
e China reservam-se ao nível da relação
governo-governo ou mesmo partido- CONSIDERAÇÕES FINAIS
partido. Para dessipar equivocos, promover
um melhor entendimento, reduzir O objectivo do presente policy paper era apresentar os
desconfianças mútuas e aumentar a desafios e as perspectivas da cooperação
cooperação, os dois países precisam erguer Moçambique-China. Ao longo desta abordagem
canais que permitam a comunicação povo- constatámos que a cooperação Moçambique-China é
povo quer seja através do itercâmbio cultural vista em duas visões: existe uma perspectiva que vê a
ou outra actividade afim; presença da China em Moçambique como um risco
para o desenvolvimento sustentável do país uma vez
A nível das infraestruturas que ela se concentra na exploração e exportação de
matérias-primas. Este facto, empura Moçambique a
 Grande parte do subdesenvolvimento da especializar-se no sector primário de recursos
África resulta da pobre rede de estradas que naturais e China no sector secundário. E a outra
liguem o continente ao mercado nacional, visão vê a China como um parceiro relevante na
regional e internacional. Todavia, países medida em que não se envolve nos assuntos
como Moçambique usam o capital chinês internos do país e apresenta uma cooperação
horizontal de igual para igual sem condicionalismos

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políticos e nem económicos. Perante essas duas termos de troca entre os dois países não são
correntes, o nosso posicionamento foi neutro. No compatíveis embora se reconheça que a matéria-
nosso entender qualquer tipo de cooperação envolve prima é até este momento a única commodite para
constrangimentos e sensibilidades, daí que inserir o país na ecnonomia global, Moçambique
concluímos recomedando o pragamatismo na precisa de emigrar deste sector para o sector
cooperação entre os dois países. secundário. Caso o país não adopte medidas
necessárias corre um verdadeiro risco de
O Policy paper apresentou o panorama da cooperação insustentabilidade e precocidade dos seus recursos, o
Moçambique-China e constatou-se um forte que a longo prazo significará o recuo da cooperação.
engajamento da China no desenvolvimento do país
através dos seus investimentos em sectores- chave, Assim, pode-se concluir que a cooperação
tais como defesa e segurança, infra-estruturas, Moçambique-China, é muito positiva, entretanto, é
educação, ciência e tecnologia e naturalmente o ameaçada pelo nível de corrupção que se observa
comércio. No entatanto, constatou-se também que nos negócios que envolvem empresas chinesas. A
estes investimentos constituem ao mesmo tempo um esse respeito, constituem reais desafios, (i) o reforço
desafio para o governo moçambicano. Dentre tantos das instituições públicas e privadas para que tenham
desafios gritantes, o trabalho frisou a questão de capacidade de lidar com todos os intervenientes no
importação de componentes e mão-de-obra chinesas processo de cooperação; (ii) garantir que os
para Moçambique, facto que coloca em risco a investimentos provenientes desta cooperação
sobrevivência das pequenas e médias empresas proporcionem empregos fiáveis e seguros e que
moçambicanas e mão-de-obra local. O caso contribuam para a prosperidade dos moçambicanos.
“Operação Tronco” levado acabo pelo Ministério de É, também, desafio do governo, adoptar políticas
Terra e Ambiente revelou-se gritante. que possam proteger as pequenas e médias empresas
nacionais da competição das empresas estrangeiras,
A cooperação Moçambique-China revela-se nomeadamente chinesas que entram no mercado
consistente e importante para os dois países, nacional com produtos baratos.
entretanto o governo moçambicano precisa de
melhorar e aprimorar os mecanismos de troca. Os

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SOBRE OS AUTORES
COORDENADOR:
Vasco Banze é Pesquisador do Departamento de Economia e Estudos de Desenvolvimento do
CEEI, divisão de investigação e pesquisa do Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI).
É Doutorando em Estudos Estratégicos Internacionais e Mestre em Diplomacia, Direito e
Negócios.
COLABORADORES NESTE NÚMERO:
Loide Sambo é Pesquisadora do Departamento de Relações Internacionais e Política Externa . É
Mestre em Diplomacia, Direito e Negócios.
Jorge Palamussa é Pesquisador do Departamento de Estudos Socio-Políticos. É Mestre em
Diplomacia, Direito e Negócios.
Égna Rachel Sidumo é pesquisadora do Departamento de Relações Internacionais e Política
Externa. É Mestre em Estudos Sociais e Políticos da América Latina.
Domício Laurentina Chongo é pesquisador do Departamento de Economia e Estudos de
Desenvolvimento , É Licenciado em História.
Jossias Filipe é pesquisador do Departamento de Economia e Estudos de Desenvolvimento. É
mestre em Estudos Africanos.
Énio Chingotuane é pesquisador do Departamento de Paz e Segurança. É Doutorando em
Estudos Estratégicos Internacionais e Mestre em Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança.

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INTERNACIONAIS

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