João 16.7: “Todavia, digo-vos a verdade: que vos convém que eu vá, porque, se eu
não for, o Consolador não virá a vós; mas, se eu for, enviar-vo-lo-ei.”
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O PAPEL DO ESPÍRITO NO PROCESSO DA NOSSA SALVAÇÃO
Nas palavras da Confissão de fé de Westminster, o Espírito Santo é "o único agente
eficiente na aplicação da redenção". Paulo ensina que Deus nos salva, não por causa da
justiça dos nossos atos, mas pelo "lavar regenerador e renovador" do Espírito Santo (Tito 3.5);
- Paulo assegura aos gálatas que vivemos pelo Espírito (querendo dizer não só vida física,
mas, especialmente, “vida espiritual” – possuímos a vida espiritual, Gálatas 5.25: “se
vivemos no Espírito, andemos também no Espírito”. O termo para “viver” é o verbo grego za,w
(dzaō) “plenitude absoluta de vida, tanto essencial como ética, que pertence a Deus e a Cristo”.
A palavra “plenitude” no grego é o termo plh,rwma (plerōma) “o estado de se achar cheio” - o
corpo do crente, como sendo aquilo que se enche da presença, poder, agência e riquezas de
Deus e de Cristo.
- Jesus mesmo disse aos seus discípulos que o “Espírito é o que vivifica” - João 6.63. o
termo “vivificar” no grego é zw|opoie,w (dzōopoieō) “dar vida, fazer viver”. Efésios 2.5: “nos deu
vida juntamente com Cristo” – sunezwopoie,w (sunezōopoieō) “gerar vida junto Cristo”.
- O Espírito é aquele que aplica a redenção ao nosso coração concedendo a nova vida,
passando a viver ou habitar em nós (João 14.17; Romanos 8.9; 1Coríntios 3.16; 2Tm 1.14).
II. REGENERAÇÃO
Não ficamos surpresos ao descobrir que todos os principais elementos no processo de
salvação são tidos como de autoria do Espírito Santo. A “regeneração ou novo
nascimento” é obra do Espírito Santo: João 3.5: “Em verdade, em verdade te digo (disse Jesus
a Nicodemos): quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”. A
declaração de Paulo em Tito 3.5, de que Deus salva-nos “mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo” igualmente atribui ao Espírito a regeneração ou novo nascimento.
III. CONVERSÃO
E quanto à conversão? A conversão, ou voltar-se para Deus, é comumente vista
envolvendo dois aspectos: arrependimento e fé. Ambos os aspectos são descritos na Bíblia como
dons do Espírito Santo. Em Atos 11.15 Pedro, falando aos crentes em Jerusalém sobre a
conversão de gentios Cornélio, é citado assim: “Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito
Santo sobre eles [Cornélio e sua família], como também sobre nós, no princípio”. A resposta da
Igreja de Jerusalém (constituída de judeus cristãos) é dada no verso 18: “E, ouvindo eles estas
coisas, apaziguaram-se e glorificavam a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi concedido
o arrependimento meta,noia (metanoia) para vida.” Deus concedeu a esses gentios o
arrependimento por meio do Espírito que veio sobre eles.
IV. FÉ
A fé é também um dom do Espírito. Em 1Coríntios 2 Paulo indica que Deus revela-nos
sua sabedoria somente por meio do seu Espírito (v. 10), para que possamos entender o que nos
tem sido dado gratuitamente por Deus (v. 12), isto é, as verdades sobre Cristo que os
dominadores desta era não entenderam quando crucificaram o Senhor da glória (v. 8). O mesmo
ponto está explícito em 1Coríntios 12.3: “Ninguém pode dizer: Senhor Jesus! [palavras que só
podem ser confessadas por um crente], senão pelo Espírito Santo”.
V. SEGURANÇA DE SALVAÇÃO
O Espírito também nos dá a segurança de salvação, que é uma das marcas mais
importantes da fé saudável. Paulo diz em Romanos 8.16: “O próprio Espírito testifica ao nosso
espírito que somos filhos de Deus.”
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O termo grego para “testificar” é summarture,w (symmartyréō) que significa: comprovar,
atestar, mas também como “assegurar”. Uma vez que o tempo verbal da palavra grega
traduzida como “testifica” - é presente, implicando continuidade, concluímos que esse
testemunho do Espírito não é apenas uma ocorrência ocasional ou algo que acontece de uma
vez por todas, mas continua ao longo da vida do crente.
VI. JUSTIFICAÇÃO
O Novo Testamento indica que a justificação, comumente entendida como uma obra
de Deus, o Pai, mas também é associada com o Espírito Santo - de várias maneiras. Como somos
justificados pela fé, o fato de a fé ser um dom do Espírito, conforme demonstramos supra,
claramente liga essa bênção à terceira Pessoa da Trindade. Nenhuma passagem no Novo
Testamento liga a justificação mais diretamente ao Espírito Santo do que 1Coríntios 6.11, onde,
vindo de Paulo, lemos:
“E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados,
mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do
nosso Deus.”
Essas frases concludentes (referentes a Jesus e ao Espírito) aplicam-se aos três verbos
precedentes: “lavados”, “santificados” e “justificados”. No original grego cada uma dessas frases
começa com a palavra evn (en), que é usualmente traduzida como “em”; podemos, portanto,
traduzir a segunda frase assim: “no Espírito de nosso Deus”. O significado é: “em união com”
ou “em conexão com” o Espírito. Nossa justificação, então, é inseparável da obra do Espírito
Santo.
VII. ADOÇÃO DE FILHOS
Um dos benefícios da justificação é a nossa “adoção como filhos de Deus”. Essa
bênção, também, está intimamente ligada ao Espírito Santo. Lemos sobre isso em Gálatas 4.4-
6. Deus enviou seu Filho, Paulo nos informa, “a fim de que recebêssemos a adoção de filhos (v.
5). A palavra grega fundamental nessa frase é ui`oqesi,a (huiothesia), termo empregado nos
papiros usados pelos cristãos do século I para denotar o “ato legal de adoção de alguém como
filho”. Paulo, então, se adianta e diz: “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o
Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (v. 6). É o Espírito Santo, em outras palavras, quem,
vivendo em nós, clama por Deus Pai, assegurando-nos, verdadeiramente, que não somos mais
escravos, somos filhos e filhas de Deus.
Romanos 8.15 afirma o mesmo, Paulo diz: “Recebestes o Espírito de “adoção” ui`oqesi,a
(huiothesia), baseados no qual clamamos: Aba, Pai!”. Aqui ele mostra especificamente que
somos nós, os crentes, que chamamos por Deus Pai, ainda que o façamos pelo ou por meio do
Espírito. Não somente isso, mas é segundo a direção do Espírito que aprendemos a
viver como filhos: “Pois todos que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (v.
14).
VIII. SANTIFICAÇÃO
Que nossa santificação seja atribuída também ao Espírito não nos surpreende. De
fato, o próprio nome "Espírito Santo" já sugere que o Espírito é associado com santidade ou
santificação. Em 2Tessalonicenses 2.13, Paulo dá graças a Deus por seus leitores “Deus vos
escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”. Em
Romanos 15.16, Paulo fala de si mesmo como ministro de Cristo aos gentios "de modo que a
oferta deles [os gentios] seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo". Paulo não é o
único a atribuir a santificação ao Espírito Santo. Pedro inicia sua primeira epístola tratando os
seus leitores como aqueles que haviam sido “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em
santificação no Espírito [ou em santificação do Espírito]” (1.2). Concordando com essa
passagem, a Confissão de fé de Westminster chama o Espírito Santo de “o Espírito Santificador
de Jesus Cristo”.
IX. PRESERVAÇÃO OU PERSEVERANÇA
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O Espírito Santo está também indispensavelmente envolvido com nossa preservação
ou perseverança na fé. Duas figuras bíblicas nos convidam a uma reflexão: “selo” e
“penhor”. O Espírito é o selo de nossa final redenção em Efésios 4.30: “E não entristeçais o
Espírito de Deus, no qual [ou com o qual] fostes selados para o dia da redenção”. Nos dias do
Novo Testamento usava-se um selo como “marca de propriedade”; ser selado com o Espírito
significa ser separado como alguém que pertence a Deus. Nessa passagem, ser selado com o
Espírito significa também que o Espírito nos guardará em comunhão com Deus até o dia final da
redenção.
X. PENHOR E SELO
Igualmente, em Efésios 1.13-14, Paulo encoraja-nos, dizendo: “Tendo nele também
crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança até
ao resgate da sua propriedade”. A palavra traduzida aqui como “penhor” é o termo grego
avrrabw,n (arrabōn) [depósito de garantia], que também pode ser traduzida como “promessa” -
o “penhor” é o que garante o cumprimento de um dever ou obrigação. Se temos o Espírito em
nós, Paulo afirma, temos a segurança de que o futuro de glória, que é nossa herança em Cristo,
um dia será nosso - nada poderá nos tirar essa herança! A palavra avrrabw,n (arrabōn) em
relação ao Espírito, é usada em duas outras passagens. Aprendemos em:
2Coríntios 1.22 que Deus “nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração".
Ele nos deu seu Selo de propriedade e pôs um Depósito em nosso coração;
2Coríntios 5, Paulo nos diz que Deus, que está preparando para nós “um edifício, casa
não feita por mãos, eterna, nos céus” (v. 1), outorgou-nos “o penhor do Espírito”. O Espírito
Santo, em outras palavras, de maneira misteriosa, porém maravilhosa, habilita-nos a perseverar
no caminho cristão até o dia no qual entraremos na posse final da herança numa nova terra
glorificada.
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