Resumo
Resumen
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Introdução
Arquétipos agrários
A Figura 1 faz uma separação em nível conceitual, com fins meramente didáticos,
para auxílio na organização intelectual que embasará a discussão neste artigo.
Sem excedentes como Excedentes para a Excedentes para a
objetivo dono de propriedade sociedade
Grande propriedade
A B C
Alta concentração
Pequena propriedade
D E F
Baixa concentração
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A matriz exibe seis arquétipos de ideologia ou política para uma economia agrária.
O tipo “A”, que equivale a uma economia dominada por grandes propriedades
agrárias (latifúndios) o que consequentemente gera alta concentração de terras, não teria
objetivos econômicos ao qual iremos nos referir por enquanto a “capitalistas”. Isto é, não
objetivam ter excedentes. Esse arquétipo assemelha-se ao modo de produção dos Incas,
que gerou um tipo de economia pré-colombiana para subsistência altamente sustentável,
descoberta e encampada pela coroa espanhola após a “conquista” para servir a fins
mercantilistas, segundo (MURRA, 2012). Se bem que havia um excedente, porém, esse
excedente não era nem usado para benefício do dono das grandes propriedades, que em
verdade era o Monarca, tampouco para aumento da qualidade de vida da sociedade (em
termos materiais). Antes, o excedente era usado para fins religiosos, isto é, rituais.
O arquétipo “B” representa grandes propriedades privadas, ou seja, latifúndios,
que tem como objetivo a produção de excedentes que está a serviço de interesses
individuais do proprietário, seja este excedente in natura, ou então transformado em valor
financeiro. O arquétipo “B” é o mais comum no capitalismo de nações subdesenvolvidas
ou em desenvolvimento que, ao aderir ao capitalismo mundial sem um devido controle
ou tutela do Estado, direcionador que deveria ser, da economia, acabam por ter o modo
de produção e relações daí decorrentes formatadas de acordo com pretensões de Estados
estrangeiros.
O Brasil, com sua alta concentração fundiária e produção direcionada à
exportação, com benefício aos poucos donos da terra e do poder, é um exemplo do
arquétipo “B”. Analisando por outro prisma, a implantação de modos de produção em
uma cultura crua, sem adaptação ou melhor análise, pode acarretar em distorções sociais
graves; enquanto tecnologias e princípios implementados em países como Estados Unidos
refletem em uma organização agrária pouco discrepante, ainda que a serviço da produção
de excedente como valor econômico por pequenos proprietários, e implementação errada
das mesmas técnicas acarretou no caso do Brasil em altíssima concentração fundiária.
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aumentado os custos e, até mesmo, prolongado sua duração
além do necessário.” (SACHS, 1995, p. 34)
Sachs também faz a incisiva observação – correta – de que “é simplesmente
impensável reproduzir-se nos países do Sul os modelos do Norte” (SACHS, 2001, p. 39).
O arquétipo “C” representa grandes propriedades coletivas, a serviço do Estado,
que tencionam produzir excedentes, isto é, produzir propositalmente além do necessário
para a subsistência, e este excedente, ainda que em forma de produtos crus provindos da
terra, seriam direcionados para o crescimento econômico do Estado, e,
consequentemente, se o Estado estiver a serviço do bem estar de todos os seus
cidadãos, esse arquétipo se traduz em desenvolvimento social. Esse arquétipo de fato
existiu, tendo sido implementado, por exemplo, na URSS de Stálin:
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Sahlins, interpretando Chayanov – embora tenha uma opinião final distinta - não
ignora que, existam trocas de mercadorias naquilo que definimos neste artigo como
arquétipo “D”, porém tais trocas são orientadas para a subsistência; é uma economia de
valores de uso, implementação da simples implementação de mercadorias do modelo
teórico marxista (WOORTMANN, 2001, p. 14). Esse modelo é pejorativamente
denominado “estabilidade da pequena economia camponesa” por Stalin, que acusa de
serem burgueses quem depende tal argumento (STÁLIN, 1929). O erro de Stalin no seu
julgamento consiste em propositalmente ignorar que não é a produção de lucro, antes, a
subsistência que orienta os camponeses nesse modelo de produção.
No Brasil existem modelos de produção do arquétipo “D” que coexistem em um
Estado predominantemente “B”:
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Análise comparativa dos arquétipos
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autonomia. Em outras palavras, um estado “B” fagocita1 toda a sociedade, sendo
antagônica aos pequenos produtores de subsistência do arquétipo “D”:
“Sempre ouvi dizer que café e cacau tem que ser grande
plantação. Vai na África, café e cacau são atividades da
pequena produção familiar. Ou seja, não há nenhum produto
agrícola que não seja compatível com a agricultura
familiar” (SACHS, 2001, p. 8)
A crítica de Sachs ao modelo econômico e social representado pelo arquétipo “B”,
que no Brasil é uma implementação clara do Agronegócio, são contundentes:
1
Fagocitar: destruir ou absorver. Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa, https://www.priberam.pt/dlpo/fagocitar [consultado em 25-06-2018].
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Justiça seja feita à uma convergência dessa opinião com uma das linhas dos
Paradigmas do Capitalismo Agrário, que também prefere a pequena propriedade
produtora de excedentes em detrimento ao grande latifúndio (ABRAMOVAY, 2007). A
diferença é que Sachs tem menor tolerância à proletarização do produtor rural, sendo a
favor de uma maior autonomia.
O arquétipo hipotético “F” diferencia-se do arquétipo “E” porque o produto do
excedente não é gerenciado diretamente pelo agricultor familiar. Em verdade o pequeno
agricultor confia toda a sua produção ao estado, que então retribuiria em forma de serviços
sociais de qualidade e, consequentemente, melhoria de vida (desenvolvimento social).
Assemelha-se o arquétipo “F”, de fato, ao arquétipo “C”, exceto pela ausência da
megalomaníaca ideia de grandiosos centros de produção à moda Stálin, que representa,
em verdade, um tipo curioso de proletarização do Estado do pequeno agricultor.
Além disso, o arquétipo “F” diferencia-se do arquétipo “A” pelo duplo fato de
que, no “A”, 1) o excedente capturado pelo Estado (no caso dos Incas, pela pessoa do
monarca-sacerdote) não traduz-se em desenvolvimento social, havendo uma anulação
para este fim específico; o objetivo de tal sociedade em verdade não é a produção de um
excedente com valor “econômico”, mas antes, a produção de ofertas para fins sacrificiais,
que não são enxergados pelo agricultor Inca ou pelo monarca como excedentes tal qual
no presente artigo atribuímos significado; e 2) em tal modelo as propriedades são sempre
pertencentes ao monarca e, subsequentemente, há um único grande proprietário, e no
modelo “F” permite-se que hajam pequenas propriedades privadas, cujo acesso “ao
mercado” é que seria monopólio estatal.
Se porventura o Estado fosse o único comprador – e assegurador direto da
subsistência – dos pequenos agricultores do arquétipo “D”, e o excedente, gerenciado
pelo Estado, fosse traduzido em desenvolvimento social, então teríamos na prática o
arquétipo “F” implementado de fato. Parece-nos, todavia, que o arquétipo “F” implica em
retirada de autonomia real do pequeno agricultor, devido à dependência estatal. A grande
expectativa de Sachs parece tanto ser implementável sob um modo de produção
representativo do arquétipo “E”, como também, no arquétipo “F”.
Em outras palavras, nos parece que se o Estado monopolizar a orientação e a
implementação de uma economia agrária de pleno emprego, garantindo por meio de um
gerenciamento forte a existência dos pequenos agricultores, isso pode ocasionar em um
excedente para todos os pequenos agricultores, sendo que eles gerenciariam esse
excedente – arquétipo “E” – ou, então, que os agricultores recebam do estado o suficiente
para sua subsistência, sendo que o Estado gerenciaria a totalidade do excedente
exportando (provavelmente) e transformando o resultado do comércio em
desenvolvimento social. Todavia, essa elucubração2 é privativa do autor deste artigo:
Sachs muito provavelmente tinha em mente a implementação de uma política agrária de
pleno emprego naquilo que este artigo define como arquétipo “E”. É pouco provável que
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Elucubração: reflexão baseada em dados hipotéticos ou imaginários. Dicionário Priberam da
Língua Portuguesa. https://www.priberam.pt/dlpo/elucubração [consultado em 25-06-2018].
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Sachs tenha em mente o arquétipo “D”, sem produção de excedentes com fins
econômicos, visto que, segundo ele:
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Capacidade ociosa é um termo interessante para explicar o relacionamento do
camponês com a terra, segundo perspectiva da Chayanov. Existe uma distinção
importante do agricultor familiar do arquétipo “E”, e o camponês do arquétipo “D”. O
agricultor familiar “E” aproveita-se o máximo possível do potencial de sua terra, enquanto
que o camponês “D” prefere estabilidade (conservação) de seu modo de vida, não
objetivando excedente econômico. Em vez disso, pode até mesmo trabalhar menos, tendo
em vista a relativa desimportância dos excedentes para o seu modo de vida:
Considerações finais
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Agradecimentos
Referências
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