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ARQUÉTIPOS AGRÁRIOS: Uma categorização dos modos de

produção agrária quanto ao tamanho da propriedade versus objetivo


econômico

ARQUETIPOS AGRARIOS: Una categorización de los métodos de


producción agrícola segundo el tamaño de la propiedad frente al
objetivo económico

Gustavo Lopes de Oliveira Santos


Universidade Federal do Mato Grosso, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Cuiabá, MT, Brasil
gustavolopes@planoemfoco.com

Resumo

O presente artigo propõe um modelo esquemático para auxiliar na análise e permitir


comparações mais eficientes sobre os diversos modelos de produção agrária, usando para
isso a instituição de tipos ideais abstratos (arquétipos) derivados da combinação de duas
variáveis: o tamanho da propriedade agrária e os objetivos econômicos da propriedade
quanto à produção de excedente, mais especificamente, a quem a vantagem da produção
de excedentes irá alcançar. Os arquétipos derivados das alterações das variáveis formam
uma matriz onde é possível alocar qualquer tipo potencial de produção agrícola. Uma vez
definidos os arquétipos e associados a eles modelos reais ou hipotéticos de produção
agrária, são realizadas algumas comparações para, da análise, se extrair algumas
conclusões preliminares.

Palavras-chave: Arquétipos, matriz, modo de produção, excedente, agricultor familiar,


camponês, desenvolvimento.

Resumen

El presente artículo propone un modelo para auxiliar en el análisis y permitir


comparaciones más eficientes sobre los diversos modelos de producción agraria,
utilizando para ello la institución de tipos ideales abstractos (arquetipos) derivados de la
combinación de dos variables: el tamaño de la propiedad agraria y los los objetivos
económicos de la propiedad en cuanto a la producción de excedente, más
específicamente, quien la ventaja de la producción de excedentes alcanzará. Los
arquetipos derivados de los cambios de las variables forman una matriz donde es posible
asignar cualquier tipo potencial de producción agrícola. Una vez definidos los arquetipos
y asociados a ellos modelos reales de producción agraria, se realizan algunas
comparaciones para, del análisis, si extrae algunas conclusiones preliminares.

Palabras clave: Arquetipos, matriz, modo de producción, excedente, agricultor familiar,


campesino, desarrollo.

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Introdução

Neste artigo, a expressão “arquétipos agrários” é usada para representar os tipos


gerais de economia agrária de um Estado tendo como base duas variáveis: tamanho das
propriedades agrárias e o objetivo de sua existência, quanto ao direcionamento de seus
excedentes – isto é, se a produção de excedente for um objetivo consciente. São seis os
arquétipos que são definidos neste artigo, para fins didáticos.
A matriz desses arquétipos possui duas linhas, que representam os valores da
variável que trata do tamanho das propriedades rurais: 1) se são grandes, isto é,
latifúndios, o que implica em alta concentração agrária, ou 2) se são pequenas
propriedades, o que significa uma baixa concentração agrária. A matriz também possui
três colunas, que representam o objetivo de tais propriedades, a saber: 1) se não há o
objetivo de produção de excedentes, mas apenas da produção para subsistência, para a
manutenção do status quo; 2) se o objetivo é a produção de excedente, o que significa que
um aumento econômico é um objetivo, e os resultados do aumento econômico irá ser
direcionado para o dono privado (pessoa física, pessoa jurídica) da sociedade, ou, ainda
3) se o objetivo é a produção de excedente (aumento econômico), sendo que este será
direcionado ao Estado; implicitamente há a ideia de “desenvolvimento” na nação; tendo
em vista que, se a produção de excedente é proposital, e é transferido para a nação, os
resultados serão redistribuídos para a sociedade em formas de políticas públicas. Pelo
menos, em tese.

Arquétipos agrários

A Figura 1 faz uma separação em nível conceitual, com fins meramente didáticos,
para auxílio na organização intelectual que embasará a discussão neste artigo.
Sem excedentes como Excedentes para a Excedentes para a
objetivo dono de propriedade sociedade

Grande propriedade
A B C
Alta concentração

Pequena propriedade
D E F
Baixa concentração

Figura 1. Representação dos arquétipos agrários

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A matriz exibe seis arquétipos de ideologia ou política para uma economia agrária.
O tipo “A”, que equivale a uma economia dominada por grandes propriedades
agrárias (latifúndios) o que consequentemente gera alta concentração de terras, não teria
objetivos econômicos ao qual iremos nos referir por enquanto a “capitalistas”. Isto é, não
objetivam ter excedentes. Esse arquétipo assemelha-se ao modo de produção dos Incas,
que gerou um tipo de economia pré-colombiana para subsistência altamente sustentável,
descoberta e encampada pela coroa espanhola após a “conquista” para servir a fins
mercantilistas, segundo (MURRA, 2012). Se bem que havia um excedente, porém, esse
excedente não era nem usado para benefício do dono das grandes propriedades, que em
verdade era o Monarca, tampouco para aumento da qualidade de vida da sociedade (em
termos materiais). Antes, o excedente era usado para fins religiosos, isto é, rituais.
O arquétipo “B” representa grandes propriedades privadas, ou seja, latifúndios,
que tem como objetivo a produção de excedentes que está a serviço de interesses
individuais do proprietário, seja este excedente in natura, ou então transformado em valor
financeiro. O arquétipo “B” é o mais comum no capitalismo de nações subdesenvolvidas
ou em desenvolvimento que, ao aderir ao capitalismo mundial sem um devido controle
ou tutela do Estado, direcionador que deveria ser, da economia, acabam por ter o modo
de produção e relações daí decorrentes formatadas de acordo com pretensões de Estados
estrangeiros.
O Brasil, com sua alta concentração fundiária e produção direcionada à
exportação, com benefício aos poucos donos da terra e do poder, é um exemplo do
arquétipo “B”. Analisando por outro prisma, a implantação de modos de produção em
uma cultura crua, sem adaptação ou melhor análise, pode acarretar em distorções sociais
graves; enquanto tecnologias e princípios implementados em países como Estados Unidos
refletem em uma organização agrária pouco discrepante, ainda que a serviço da produção
de excedente como valor econômico por pequenos proprietários, e implementação errada
das mesmas técnicas acarretou no caso do Brasil em altíssima concentração fundiária.

“Outra característica do pensamento econômico dominante


é que ele se considera universalmente válido, o que lhe
confere na realidade um caráter a-histórico e utópico. Na
prática, tal atitude nada mais é senão negar um campo
próprio para as teorias do desenvolvimento e sustentar,
contra tudo e contra todos, que a transposição mimética das
experiências dos países industrializados para o resto do
mundo constitui a via acertada que leva ao
desenvolvimento.” (SACHS, 1995, p. 42)
O arquétipo “B” é bastante criticado por Sachs, implicando em ser o resultado de
uma implementação cega, seguindo cartilhas “neoliberais” receitas-de-bolo que em
verdade formatam países como o Brasil de uma maneira que resulta em altos custos
sociais:

“A escolha de uma nova estratégia inspirada pela ilusão de


que fosse possível implantar imediatamente o capitalismo e
o reino soberano da economia de mercado parece ter

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aumentado os custos e, até mesmo, prolongado sua duração
além do necessário.” (SACHS, 1995, p. 34)
Sachs também faz a incisiva observação – correta – de que “é simplesmente
impensável reproduzir-se nos países do Sul os modelos do Norte” (SACHS, 2001, p. 39).
O arquétipo “C” representa grandes propriedades coletivas, a serviço do Estado,
que tencionam produzir excedentes, isto é, produzir propositalmente além do necessário
para a subsistência, e este excedente, ainda que em forma de produtos crus provindos da
terra, seriam direcionados para o crescimento econômico do Estado, e,
consequentemente, se o Estado estiver a serviço do bem estar de todos os seus
cidadãos, esse arquétipo se traduz em desenvolvimento social. Esse arquétipo de fato
existiu, tendo sido implementado, por exemplo, na URSS de Stálin:

“Eis onde reside a grande importância revolucionária das


leis agrícolas soviéticas, que destruíram a renda absoluta do
solo, abolindo a propriedade privada da terra e decretando
sua nacionalização.” (STÁLIN, 1929)
Todavia, o suposto estar “a serviço do bem-estar de todos os seus cidadãos” pode
muito facilmente se deteriorar no benefício de uma minoria governante, de uma
oligarquia. O estado, então, seria usado a serviço da classe dominante, a em verdade
constituiria uma realidade ironicamente contrária aos pressupostos marxistas que seus
implementadores (ex.: Stálin) dizem apoiar: uma exploração velada da mais-valia por
elites políticas, utilizando-se para isso da máquina estatal, pretensamente operada para
fins sociais. Além disso, tendo em vista que toda a propriedade é estatal, é fácil descambar
para o totalitarismo:

“O que aqui nos interessa é que nossa experiência prática,


nossa realidade, contribui com novos argumentos contra
essa (...). Refiro-me, ao dizer isto, à experiência prática da
destruição da propriedade privada da terra, à experiência
prática da nacionalização da terra em nosso país, que
emancipou o pequeno camponês, do apego servil ao seu
punhado de terra, facilitando assim a passagem da pequena
economia camponesa à grande economia coletiva.”
(STÁLIN, 1929)
O arquétipo “D” reflete o tipo de economia constituída de muitos pequenos
proprietários sem fins de produção de excedente. Isso significa que o objetivo dos
pequenos proprietários nesse arquétipo é a subsistência, ainda que tal subsistência tenha
algum tipo de pequena melhoria. É o tipo Chayanov de pequenas propriedades privadas
com objetivo de subsistência:

“Seu modelo partia do grupo doméstico individual, cujo


objetivo básico seria garantir a satisfação de suas
necessidades, e não a realização do lucro, razão pela qual o
campesinato não deveria ser considerado como uma forma
de capitalismo incipiente” (WOORTMANN, 2001, p. 3)

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Sahlins, interpretando Chayanov – embora tenha uma opinião final distinta - não
ignora que, existam trocas de mercadorias naquilo que definimos neste artigo como
arquétipo “D”, porém tais trocas são orientadas para a subsistência; é uma economia de
valores de uso, implementação da simples implementação de mercadorias do modelo
teórico marxista (WOORTMANN, 2001, p. 14). Esse modelo é pejorativamente
denominado “estabilidade da pequena economia camponesa” por Stalin, que acusa de
serem burgueses quem depende tal argumento (STÁLIN, 1929). O erro de Stalin no seu
julgamento consiste em propositalmente ignorar que não é a produção de lucro, antes, a
subsistência que orienta os camponeses nesse modelo de produção.
No Brasil existem modelos de produção do arquétipo “D” que coexistem em um
Estado predominantemente “B”:

“A prática da pesca profissional artesanal nas comunidades


pantaneiras se mostra como um indicador de permanência
de um aspecto cultural e, também, como alternativa
econômica para pessoas com baixa perspectiva de
empregabilidade devido à pouca escolaridade e restrita
qualificação profissional para outras atividades
econômicas.” (ROSSETTO e TOCANTINS, 2015)
O arquétipo “E” representa pequenas propriedades privadas, cujos proprietários
são normalmente famílias de agricultores familiares, que possuem como objetivo a
produção de excedentes na sua terra que refletirão em resultados econômicos para seus
proprietários. Esse é o modelo primordialmente defendido por uma das linhas do
Paradigma do Capitalismo Agrário (ABRAMOVAY, 2007), embora possa haver uma
coincidência no se que refere à melhoria de vida do agricultor familiar: embora o
camponês não tenha o objetivo de ter lucro, ele poderia também aproveitar-se de eventual
excedente para melhorar sua qualidade de vida além da subsistência. A questão é que
Abramovay tolera a proletarização do agricultor familiar, em alguns cenários que podem
significar uma perigosa e lenta transição do arquétipo “E” para o arquétipo “B”.
Finalmente, o arquétipo “F” representa a pequena propriedade a serviço da
sociedade, isto é, um estado em tese financiador e consumidor da totalidade da produção
excedente de pequenas propriedades, podendo estas serem privadas ou públicas. O estado
então centralizaria a aquisição total da produção de pequenos agricultores – que, diferente
do que acontece no arquétipo “C”, não operam em grandiosas propriedades estatais – e
redistribuiria os resultados, em forma de produtos mesmos ou em serviços derivados
talvez de exportação da produção excedente, em benefício social e consequentemente, em
desenvolvimento. Devido ao escopo limitado da pesquisa deste artigo, não foram
encontrados exemplos reais deste tipo de produção, sendo então considerado, no presente
artigo, um modelo puramente hipotético.
Agora, objetivando aprofundar a construção da ideia, passaremos a realizar uma
análise comparativa entre os arquétipos.

Pág. 5
Análise comparativa dos arquétipos

Muito embora o modo de produção representado pelo arquétipo “A” possua um


objetivo de subsistência e culto, que contém, intrínseco à infraestrutura social de provê a
sustentação do sistema, um alto potencial para a produção de excedentes – que por sinal
já existem – para fins econômicos; ou seja, o arquétipo “A” pode-se transformar no
arquétipo “B” muito facilmente, tão-somente mudando-se o proprietário dos recursos
agrários, isto é, da terra.
Mudando-se o proprietário, aproveita-se imediatamente o excedente já existente,
e produzido no seio do modo de produção nacionalmente cooperativo, desvirtuando o
direcionamento cultual para um direcionamento econômico; a infraestrutura, a princípio,
pode permanecer a mesma, embora ao longo do tempo o detentor do poder irá objetivar
sua modificação para aumento da eficiência produtiva, objetivando ganhos econômicos
para si. A preservação da infraestrutura do arquétipo “A” não é desejável sob uma
encampação pelo “alto comando estratégico” do arquétipo “B”, que tende, depois de um
período, a formatar toda a infraestrutura econômica para ser plenamente uma
implementação ao arquétipo “B”. O arquétipo “B” é expansionista. Isso foi o que
aconteceu quando a sociedade Inca (arquétipo A) entrou em contato involuntário com a
coroa espanhola (arquétipo B), mercantilista:

“Tanto no império inca como no asteca, uma multidão de


tribos rivais haviam sido postas sob alguma forma de
controle central (...) Isso também significou que, uma vez
derrubado o poder central, os espanhóis passariam a ser os
senhores de populações já habituadas a um certo grau de
subserviência”. (ELLIOTT, 2012, p. 161)

“O objetivo da captura de Atahualpa [imperador Inca


quando da chegada de Pizarro no Peru] (...) era transferir a
autoridade suprema para as mãos espanholas com um único
golpe decisivo. Depois, (...) a intenção era usar a estrutura
administrativa existente para canalizar para os espanhóis os
lucros do domínio”. (ELLIOTT, 2012, p. 172)
Em outras palavras, uma relação parasitária, pois na biologia, sabe-se que o
parasita necessita manter a vítima viva para ele mesmo poder sobreviver; a diferença é
que, no caso da coroa espanhola, a relação parasitária iria paulatinamente se tornando em
predatismo.
O arquétipo “D”, no modelo proposto neste artigo, pode coexistir, como de fato
acontece no Brasil, com o arquétipo do tipo “B”. Obviamente isso gera contradições, pois
os donos do poder, característicos do “B”, explorarão e tencionarão diminuir tanto a

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autonomia. Em outras palavras, um estado “B” fagocita1 toda a sociedade, sendo
antagônica aos pequenos produtores de subsistência do arquétipo “D”:

“existe[m] dois subsistemas, o superior composto pelos


grandes empreendimentos comerciais, bancários e
industriais que utilizam vultuosas somas de capital e
tecnologia avançada e o inferior caracterizado pelo uso
intensivo de mão de obra, pouco capital, baixas
remunerações e não raro, são intermitentes, temporários.
(...) tais circuitos se relacionam dialeticamente a partir da
complementaridade, subordinação e concorrência. Os
pescadores profissionais artesanais da BAP integram o
circuito inferior da economia” (ROSSETTO e TOCANTINS,
2015, p. 174)

“não existe um sistema público de gestão desse setor


econômico que, gradativamente perde espaço para a
aquicultura e a pesca empresarial, tendendo a desaparecer
dos circuitos produtivos” (ROSSETTO e TOCANTINS, 2015,
p. 187)
O arquétipo “E”, no modelo apresentado neste artigo, reflete o que é explicado e
defendido de diversas formas por Ignacy Sachs. Além de ele se posicionar claramente
contra o que ele chama de “grande agricultura patronal voltada para a exportação”
(SACHS, 2001, p. 7) – que equivale ao arquétipo “B” neste artigo – e isso mostra um
distanciamento específico de Abramovay, que tolera, ainda que veladamente, uma
paulatina transformação de uma economia de arquétipo “E” em arquétipo “B”, Sachs
também é contra qualquer tipo de grande propriedade, seja em termos Stalinistas ou em
termos dos Paradigmas do Capitalismo Agrário – quando este paradigma tolera o
arquétipo "B":

“Sempre ouvi dizer que café e cacau tem que ser grande
plantação. Vai na África, café e cacau são atividades da
pequena produção familiar. Ou seja, não há nenhum produto
agrícola que não seja compatível com a agricultura
familiar” (SACHS, 2001, p. 8)
A crítica de Sachs ao modelo econômico e social representado pelo arquétipo “B”,
que no Brasil é uma implementação clara do Agronegócio, são contundentes:

“A agricultura patronal adotou uma equação que não


corresponde às condições sociais deste país” (SACHS, 2001,
p. 8)

1
Fagocitar: destruir ou absorver. Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa, https://www.priberam.pt/dlpo/fagocitar [consultado em 25-06-2018].

Pág. 7
Justiça seja feita à uma convergência dessa opinião com uma das linhas dos
Paradigmas do Capitalismo Agrário, que também prefere a pequena propriedade
produtora de excedentes em detrimento ao grande latifúndio (ABRAMOVAY, 2007). A
diferença é que Sachs tem menor tolerância à proletarização do produtor rural, sendo a
favor de uma maior autonomia.
O arquétipo hipotético “F” diferencia-se do arquétipo “E” porque o produto do
excedente não é gerenciado diretamente pelo agricultor familiar. Em verdade o pequeno
agricultor confia toda a sua produção ao estado, que então retribuiria em forma de serviços
sociais de qualidade e, consequentemente, melhoria de vida (desenvolvimento social).
Assemelha-se o arquétipo “F”, de fato, ao arquétipo “C”, exceto pela ausência da
megalomaníaca ideia de grandiosos centros de produção à moda Stálin, que representa,
em verdade, um tipo curioso de proletarização do Estado do pequeno agricultor.
Além disso, o arquétipo “F” diferencia-se do arquétipo “A” pelo duplo fato de
que, no “A”, 1) o excedente capturado pelo Estado (no caso dos Incas, pela pessoa do
monarca-sacerdote) não traduz-se em desenvolvimento social, havendo uma anulação
para este fim específico; o objetivo de tal sociedade em verdade não é a produção de um
excedente com valor “econômico”, mas antes, a produção de ofertas para fins sacrificiais,
que não são enxergados pelo agricultor Inca ou pelo monarca como excedentes tal qual
no presente artigo atribuímos significado; e 2) em tal modelo as propriedades são sempre
pertencentes ao monarca e, subsequentemente, há um único grande proprietário, e no
modelo “F” permite-se que hajam pequenas propriedades privadas, cujo acesso “ao
mercado” é que seria monopólio estatal.
Se porventura o Estado fosse o único comprador – e assegurador direto da
subsistência – dos pequenos agricultores do arquétipo “D”, e o excedente, gerenciado
pelo Estado, fosse traduzido em desenvolvimento social, então teríamos na prática o
arquétipo “F” implementado de fato. Parece-nos, todavia, que o arquétipo “F” implica em
retirada de autonomia real do pequeno agricultor, devido à dependência estatal. A grande
expectativa de Sachs parece tanto ser implementável sob um modo de produção
representativo do arquétipo “E”, como também, no arquétipo “F”.
Em outras palavras, nos parece que se o Estado monopolizar a orientação e a
implementação de uma economia agrária de pleno emprego, garantindo por meio de um
gerenciamento forte a existência dos pequenos agricultores, isso pode ocasionar em um
excedente para todos os pequenos agricultores, sendo que eles gerenciariam esse
excedente – arquétipo “E” – ou, então, que os agricultores recebam do estado o suficiente
para sua subsistência, sendo que o Estado gerenciaria a totalidade do excedente
exportando (provavelmente) e transformando o resultado do comércio em
desenvolvimento social. Todavia, essa elucubração2 é privativa do autor deste artigo:
Sachs muito provavelmente tinha em mente a implementação de uma política agrária de
pleno emprego naquilo que este artigo define como arquétipo “E”. É pouco provável que

2
Elucubração: reflexão baseada em dados hipotéticos ou imaginários. Dicionário Priberam da
Língua Portuguesa. https://www.priberam.pt/dlpo/elucubração [consultado em 25-06-2018].

Pág. 8
Sachs tenha em mente o arquétipo “D”, sem produção de excedentes com fins
econômicos, visto que, segundo ele:

“A agricultura (...) [pode] assumir papel motor no


desenvolvimento, pelo menos em certos países da Ásia,
África e América Latina, com a condição de concentrarem-
se em culturas que necessitam de numerosa mão-de-obra e
de praticar manejo cuidadoso dos solos, dos micronutrientes
e da água, com a ajuda de tecnologias intensivas ligadas a
conhecimentos científicos. Um complemento a tal estratégia
consiste em explorar a biodiversidade e a diversidade
cultural para encontrar novos recursos e gerenciá-los de
forma socialmente útil e ecologicamente prudente, de modo
que seja aumentada, em base duradoura, a capacidade dos
ecossistemas, pressupondo que se recorra simultaneamente
aos conhecimentos acumulados pelas populações, assim
como às conquistas da ciência moderna” (SACHS, 1995, p.
53) – ênfases nossas.
Os “novos” recursos referem-se à exploração da terra com objetivos não
alimentares, como por exemplo, biodiesel; o “encontrar novos recursos” e o
gerenciamento feito para aumentar a “capacidade dos ecossistemas” implicitamente
define o objetivo de produção do excedente. Isso fica mais explícito no seguinte trecho:

“Se os 100 milhões de hectares de terra que o país ainda


possui forem destinados para a soja, isso vai gerar menos de
dois milhões de empregos. Se fosse teoricamente possível
transformar isso em plantações de café, seriam 30 milhões
de empregos. Se fosse em hortigranjeiros, seriam 100
milhões de empregos. E se fosse em floricultura, seria 1,5
bilhão de empregos, teriam que importar todos os chineses e
ainda faltaria mão-de-obra” (SACHS, 2001, p. 8) – ênfases
nossas.
Se é necessário “importar” chineses, significa uma produção muito além de
subsistência, cujos resultados refletirão no desenvolvimento social. O foco realmente é o
pleno emprego agrário com fins de excedente de perfil econômico por parte de cada
agricultor.
Existe certo nível de intersecção do modo de produção implementado pelos
arquétipos “D” e “E”, embora no “D” os camponeses não objetivem excedentes cujo fim
será econômico, embora, de maneira muito interessante, possa haver potencial para isso:

“[Para Sahlins] o próprio modo [camponês] de produção -


em face de demandas modestas - não realiza o excedente
econômico que poderia realizar se os fatores de produção
fossem plenamente utilizados. Há como que uma
"capacidade ociosa" nesse modo de produção.”
(WOORTMANN, 2001, p. 14)

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Capacidade ociosa é um termo interessante para explicar o relacionamento do
camponês com a terra, segundo perspectiva da Chayanov. Existe uma distinção
importante do agricultor familiar do arquétipo “E”, e o camponês do arquétipo “D”. O
agricultor familiar “E” aproveita-se o máximo possível do potencial de sua terra, enquanto
que o camponês “D” prefere estabilidade (conservação) de seu modo de vida, não
objetivando excedente econômico. Em vez disso, pode até mesmo trabalhar menos, tendo
em vista a relativa desimportância dos excedentes para o seu modo de vida:

“Outra especificidade derivada do caráter familiar da


produção é dada pelo fato de que melhores condições de
mercado ou melhor localização da propriedade familiar
trazem consigo uma redução de dias de trabalho. Essa
especificidade, também derivada do princípio de equilíbrio
entre satisfação de demanda e penosidade do trabalho, isto
é, derivada da chamada "lei de Chayanov", conduz a uma
subutilização dos recursos produtivos da ‘family farm’”
(WOORTMANN, 2001, p. 6)
Logo, o modo de produção “E” implica finalmente em maior produtividade da
terra do que o modo de produção “D”, sendo que o arquétipo “E” é um indutor mais forte
do desenvolvimento social.

Considerações finais

O presente artigo teve como objetivo apresentar uma maneira de organizar de


forma sistemática os vários modos de produção agrária. Não se alcançou ainda uma
conclusão sobre qual é o melhor arquétipo a ser implementado no Brasil, mas esforço está
sendo dedicado a isso. A análise aqui apresentada não tencionou ser exaustiva, mas
objetivou prestar uma pequena contribuição, especialmente na melhoria da análise de
situações abstratas, coisa que é deveras complicado.
Após a elaboração de uma matriz pretensamente – embora apenas a nível abstrato
– contempladora de diversos modos de produção, foi realizada uma análise comparativa,
entrando em alguns detalhes e conciliando ideias compatíveis com aquilo que se julgou
ser o arcabouço de cada arquétipo. Antagonismos foram apresentados, bem como alguma
coincidência de objetivos entre os arquétipos.
Arquétipos podem mudar, podem ter convergências, e pode significar o
desenvolvimento ao a ruína de uma nação. Necessário se faz realizar uma análise dos
mecanismos para a implementação dos arquétipos, assim como uma análise de como o
desenvolvimento social chega em arquétipos que priorizam o desenvolvimento
individual: seria o desenvolvimento social decorrência indireta do desenvolvimento
privado? Seria o desenvolvimento diretamente social (arquétipos da primeira linha,
exceto o “A”) algo possível de ser pragmaticamente implantado? Deixamos as respostas
para cientistas sociais mais capazes.

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Agradecimentos

Não poderia deixar de agradecer à professor da disciplina de Geografia Agrária, profª.


drª. Onélia Carmem Rossetto. A professora é uma pessoa incrível, que orientou o autor deste
artigo quando o mesmo se encontrava perdido em seus próprios pensamentos. A leitura indicada
foi esclarecedora, salvadora, até, deste artigo, embora o autor reconheça que, frente à autoridade
intelectual da professora, este artigo não passa de um rascunho de uma criança no primário,
falando ainda suas primeiras sílabas de geografia agrária. Ainda assim, a professora Onélia, com
sua educação e paciência, me inspirou a sair do lugar-comum da alienação e tentar entender como
o cenário social está estruturado. Meu agradecimento a ela é realmente sincero, e certamente não
sou capaz de tributar o que a dignidade dessa ilustre pesquisadora e excelente pessoa exige.

Referências

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Paulo: Edusp, 2007.
ELLIOTT, J. H. A Conquista Espanhola e a Colonização da América. In: BETHELL, L.
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Brasileiro: Socioeconomia e Conservação da Biodiversidade. 1ª. ed. Porto Alegre:
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SACHS, I. Em busca de novas estratégias de desenvolvimento. Estudos Avançados, São
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Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 4, p. 1-10, Agosto
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STÁLIN, J. V. Sobre os Problemas da Política Agrária na URSS, 1929. Disponivel em:
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WOORTMANN, K. O Modo de Produção Doméstico em Duas Perspectivas:
Chayanov e Sahlins. Brasília: UnB, v. 293, 2001.

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