LINHAS GERAIS
Surgido na França do pós-Guerra e associado ao movimento
cinematográfico da Nouvelle Vague, o autorismo é produto de
uma formação cultural que que tinha na cinefilia uma de suas
atividades centrais, amparada por uma rede de espaços que
incluia:
- Revistas de cinema;
- Cineclubes;
- Cinemateca Francesa;
- Festivais de cinema.
Henri Langlois
A política dos autores nunca
chegou a se apresentar
enquanto uma “teoria dos
autores”. A reivindição de uma
teoria que buscava sistematizar
em termos conceituais o conjunto
Acossado, JLG (1960) de ideias do movimento foi
lançada a partir dos anos 1960
pelo crítico americano Andrew
Sarris, mas de forma bastante
contestada.
Encabeçada por um grupo
de críticos conhecido como os
“jovens turcos”, o movimento
do autorismo reunia nomes
como François Truffaut, Jean-
Luc Godard, Agnès Varda, Cléo de 5 às 7, Agnès Varda (1962)
Jacques Rivette, Claude
Chabrol, Alain Resnais e Eric
Rohmer, entre outros.
O grande sono, Hawks, 1946 No tempo das diligências, Ford, 1939 Relíquia macabra, Huston, 1941
NASCIMENTO DE UMA NOVA VANGUARDA: A
CAMÉRA-STYLO
No artigo de 1948, Alexandre Astruc
sustenta que o cinema estava se
transformando em um novo meio de
expressão, análogo à pintura ou ao
romance. O cineasta, afirmava Astruc,
deveria ser capaz de dizer “eu” como o
romancista ou o poeta. A fórmula da
caméra-stylo (“câmera caneta”)
valorizava o ato de filmar: o diretor não
era mais um mero serviçal de um texto
preexistente (romance, peça), mas um
artista criativo de pleno direito.
“Após ter sido sucessivamente uma atração de feiras, uma diversão análoga ao teatro
de boulevard, ou um meio de conservar imagens da época, o cinema se torna, pouco a pouco, uma
linguagem. Uma linguagem, ou seja, uma forma na qual e pela qual um artista pode exprimir seu
pensamento, por mais que este seja abstrato, ou traduzir suas obsessões do mesmo modo como
hoje se faz com o ensaio ou o romance. É por isso que eu chamo a esta nova era do cinema
a Caméra stylo.”
A meu ver, o diretor é o único membro da equipe cinematográfica que não tem o direito de se
queixar ou se julgar ludibriado; cabe-lhe conhecer-se suficientemente para se avaliar em seu justo
valor e decidir se é capaz de aceitar esta ou aquela exigência e aproveitá-la em benefício
próprio.
O interesse de um filme, que se deve fundir com o interesse do diretor, pode bater de frente com
interesses individuais: o roteirista verá suas intenções se suavizarem, fragmentos de diálogos
desaparecerem, o cenarista perceberá que só estão utilizando parte de seus cenários, um
trechinho da partitura musical “pulará” na mixagem, as exigências da montage darão fim aos
efeitos de um ator cujo único erro, por sua vez, terá sido o de “dar um fim” a algumas réplicas do
texto. Em suma, cada membro da equipe talvez tenha boas razões para se julgar ludibriado ou
mal utilizado, mas o essencial é o filme terminado, bem ou mal, mas terminado.
Dez anos depois da jeune critique, os produtores finalmente
praticam a “política dos autores” e tomam consciência da
seguinte verdade: um filme vale o que vale quem o faz. Enfim,
um filme identifica-se com seu autor, e compreende-se que o
sucesso não é a soma de elementos diversos – boas estrelas,
bons temas, bom tempo –, mas liga-se exclusivamente à
personalidade de seu condutor; o talento torna-se um valor
reconhecido e, como me dizia há pouco tempo um produtor,
“isso não custa nada e pode render muito”.
“Um cineasta que tenha feito
grandes filmes no passado pode “O pior filme de um grande
cometer erros, mas os erros que diretor pode ser mais
ele comete tem toda a interessante do que o melhor
probabilidade, a priori, de ser filme de um diretor razoável
mais apaixonantes que os êxitos ou médio”, Andrew Sarris, The
de um artesão”, Jacques Rivette, American Cinema.
Cahiers du Cinéma.