Resumo
A sustentabilidade ou a proposta do capitalismo sustentável diz que as empresas devem
manter o equilíbrio entre as dimensões social, econômica e ambiental. Assim, este artigo
apresenta uma caracterização da sustentabilidade empresarial na construção civil, que faz
parte de uma pesquisa maior desenvolvida em nível de doutorado, segundo a caracterização
da estrutura de mercado e pressões incidentes sobre as empresas, conduta empresarial
adotada e o desempenho obtido frente as três dimensões da sustentabilidade: econômica,
social e ambiental.
Palavras chave: Desempenho, Sustentabilidade, Construção Civil.
1. Introdução
Segundo Elkington (1998), sustentabilidade é o princípio que assegura que nossas ações hoje
não limitem o alcance das opções econômica, social e ambiental para as futuras gerações. A
avaliação do desempenho na construção civil, de uma maneira geral, possui poucos
antecedentes ao se analisar a sustentabilidade de uma forma integrada.
Este artigo tem como objetivo caracterizar a sustentabilidade das empresas de construção civil
segunda a estrutura industrial, a conduta empresarial e o seu desempenho nas dimensões
econômica, social e ambiental. Mais especificamente pretende-se caracterizar, na medida do
possível, a indústria para a região de Florianópolis – SC. Na falta de dados regionais, serão
utilizados dados nacionais ou mesmo internacionais.
Considera-se neste artigo que o fator crítico do sucesso para alcançar um desempenho
sustentável seja o equilíbrio entre o desempenho e condutas adotadas nas dimensões
econômica, social e ambiental. Ainda, o desempenho da empresa sofrerá influência da
estrutura da indústria na qual está inserida e dos choques externos ocorridos sobre a
estrutura industrial. A seguir, cada item mencionado acima será caracterizado.
2. Caracterização choques, pressões e da estrutura industrial
Para o SEBRAE (2000) o mercado de construção pode ser considerado concorrencial, no
entanto, para alguns segmentos especializados deste mercado, a concentração industrial é
elevada enquanto que em outros ela é reduzida.
Ao se considerar toda a cadeia produtiva da construção civil, observa-se comportamentos
distintos em relação ao desempenho e nível de competitividade. Há um grande número de
indústrias e setores prestadores de serviços, cada qual com sua estrutura e natureza
provocando distinções tanto do ponto de vista econômico como no industrial.
Segundo o MCT (2000), quanto ao segmento de edificações, “[...]há uma completa escassez
de estudos que possam efetivamente medir a competitividade do setor por critérios como
produtividade, custos, absorção de tecnologia de produto e processo ou outros. A dicotomia
entre geração de emprego e modernização do setor é ainda pouca analisada, pois o
desenvolvimento tecnológico do setor é por excelência voltado à passagem de um processo
produtivo artesanal ou manufatureiro para um processo industrializado em toda a cadeia “
(MCT, 2000, p. 11).
Figura 1: Pesquisa 500 maiores empresas do Brasil Indústria da Construção e Resultado Agregado. Fonte: CBIC
(1999).
Na lista do IPEA (2002 a) das 300 maiores empresas da região sul, pode-se observar que
3,6% são empresas atuantes no setor da construção civil. Todas as empresas listadas tem a sua
sede no Paraná (em total de nove) ou no Rio Grande do Sul (em total de duas) e nenhuma
delas apareceu no ranking das maiores do país. Com exceção de duas empresas, todas as
demais tem uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido menor do que 6%, sendo a maioria
dos valores próximos de zero ou negativos. A participação do Estado de Santa Catarina no
ranking é no mínimo preocupante, pois demonstra uma heterogeneidade do mercado em nível
nacional e necessidade de avaliações específicas por região.
De acordo com a II Sondagem Conjuntural (CBIC, 2000) a região sul apresentou em
novembro de 1999 um desempenho das empresas construtoras menor do que todas as outras
regiões brasileiras (à exceção se faz para a região centro-oeste), empregando menos pessoal,
atuando com o segundo menor volume de negócios (abaixo da média nacional) e
apresentando mais dificuldades financeiras. No entanto, a região sul é a que apresenta o
menor custo para financiamentos.
Scherer e Ross (1990) definem quatro metas econômicas para que uma empresa/indústria
possa atingir bom desempenho. Em resumo estas metas envolvem a eficiência produtiva
(minimização de desperdícios e atendimento da demanda de forma qualitativa e quantitativa),
agregar o máximo de valor aos produtos e melhorar continuamente, estabilidade no emprego
dos recursos, utilização plena da capacidade e equidade através da distribuição de renda.
Em relação ao desperdício na construção civil, embora não esteja nos níveis alarmantes
divulgados pela mídia no país, pode ser reduzido. Existem perdas associadas a várias etapas
do processo. O quadro 1 apresenta um resumo das principais perdas e suas origens dentro do
processo construtivo para a região de Florianópolis.
Existem outras perdas que ainda não foram mensuradas, como nas atividades do pessoal de
escritório e inseridas na própria concepção dos projetos. Nesta última, dados de MCT (2000)
informam que poderia ocorrer uma significativa redução dos custos da construção e melhoria
da qualidade final dos produtos pela simples introdução de coordenação modular e
padronização dos projetos.
Existe uma parcela do custo do produto da construção civil, que é atribuída geralmente de
forma arbitrária, que alcança valores bem mais elevados do que a porcentagem das perdas de
materiais e mão-de-obra, indicando um possível ponto para melhorias: os custos
administrativos.
Segundo Castro et. al. (1997) uma redução das perdas de material, embora expressiva,
apresentaria menores benefícios, do que o controle e gerenciamento dos custos
administrativos. Conforme o autor, observando a pouca importância dada aos custos indiretos
administrativos – representada pela inexistência de uma prática de levantamento real dos
custos indiretos e respectiva atribuição às diversas obras – e sua participação nos custos totais,
verifica-se que uma gerência mais eficaz se faz necessária (CASTRO et. al., 1997).
Em relação ao atendimento da demanda qualitativamente e quantitativamente a construção
civil também tem deixado a desejar. Em termos qualitativos e quantitativos as pesquisas de
comparação entre os tipos de imóveis ofertados e demandados demonstram uma incrível não
conformidade entre oferta e demanda, embora alguns aspectos sejam coincidentes. (Freitas et.
al. (1998), Fernandez e Hochheim, 2000; Ilha e Heineck, 1998; Oliveira et al., 2000; e Berger
e Canever, 2002)
Em paralelo as pesquisas regionalizadas para caracterização de demanda e oferta imobiliária,
a Fundação João Pinheiro (2001) conduziu estudos sobre o Déficit Habitacional no Brasil para
o ano de 2000. Os resultados mostram um déficit de 6.656.526 novas moradias,
principalmente para o meio urbano. Em contraponto, o relatório enfatiza a existência de um
número equivalente a cerca de 10,3% do déficit habitacional em estoque de domicílios
particulares vagos ou desocupados no momento de realização do senso fato que reforça a
teoria da incompatibilidade entre oferta e demanda no Brasil.
Quanto à melhoria contínua e agregação de valor, meta definida por Scherer e Ross (1990),
tem-se observado na construção certos níveis de melhoria refletidas no comprometimento de
empresas do setor com a qualidade (certificações ISO9000 e participação no PBQP-H).
6. Considerações finais
A construção civil continua a ser um dos setores que mais contribui para a formação do
Produto Interno Bruto Nacional, dada a contribuição de empresas de menor porte, presentes
principalmente no segmento de edificações. Assim sendo, o setor industrial e o segmento
onde esta pesquisa foi aplicada exerce um papel importante, senão vital, para a economia
nacional e bem-estar da população brasileira.
No que se refere a sustentabilidade das empresas da construção civil nas três esferas
(econômica, social e ambiental), algumas considerações devem ser elaboradas. O desempenho
econômico da indústria está fortemente vinculado ao desempenho da economia nacional. Os
dados existentes sobre o desempenho setorial são insuficientes e não permitem uma análise
aprofundada e, aqueles que trazem a visão empresarial, são, até certo ponto, divergentes das
estatísticas principalmente na esfera econômica.
No âmbito social as empresas da construção civil já tem demonstrado a preocupação de
inserir a responsabilidade social em suas condutas e algumas ações puderam ser constatadas
neste sentido.
Quanto às questões ambientais, as condutas são bem mais acentuadas internacionalmente,
principalmente na avaliação do desempenho ambiental dos produtos. Em nível nacional, essas
questões ainda são incipientes. De uma forma geral, tanto nas questões sociais e ambientais
existe uma insuficiência de dados que permitam fazer uma análise aprofundada sobre o
desempenho sustentável das empresas da indústria da construção civil.
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