Anda di halaman 1dari 4
wo Vilém Flusser. 4 Como explicar a arte. (Gabriel Borba, Galeria Paulo Figueiredo). 7 (1) Explicar a produg3o. (Palestra de 28/10) © homem armazena informagoes adquiridas, e procura tranemit{-las a outros ho! mens. Dois problemas diferentes estao involvidos nisto. © armazenamento involve reprocessamento das informagoes, j4 que estas deven ser adaptadas 2 estrutura do ar mazen e 58 informagSes j6 armazenades. A transtissao involve a expreesao da informe So processada a partir do aruazem, e sua impressdo sobre un objeto que sirva de me-| dium rumo ao,outro. Tais dois problemas caracterizam toda produgao, e, com caracte-| rfsticos espec{ficos, também a produgao chamada "arte". 0 problema do processamento, (© qual resulta em informagao nova, se tiver sucesso, e conhecido sob o termo mistifi. cador de “criatividade". Eo problema da expressio-impressao, (o qual resulta em "ot ra"), & conhecide sob o termo igualuente mistificedor de "produtividade", terefa | da orftica desmistificar tal "aura" que encobre os problemas. A complexidade do armazem para informapdes adquiridas, ( memoria), fez com que o processanento seja processo mal comprendido e dif{cilmente analizavel. 0 corpo inteiro funciona como armazem: a pele por exemplo arnazena feridas adquiridag sob a forma de cicatrizes. Sem dévida cabe ao sistema nervoso, e sobretudo ao néo-cortex, fungao armazenadora preponderantes Mas grande parte das informagdes, a parte mais interessante, é adquirida sob forma codada. De maneira que a meméria deve decifra- las antes de poder arnazend~las. Ngo se conhece ainda bem o método pelo qual 0 cé- rebro executa tal deciframento, embora 0 nosso conhecinonto esteja progredindo. © | pois prudente, no estagio atual do nosso conhecimento, de deixar o probkama do pro~ cessamento, da “criatividade", em suspenso, mas de insistir, nao obstante, que toda | atktude glorificadora da criatividade sdmente podera obstruir o caminho da compren- sa0 do problema. : Mas uma coisa pode desde ja ser afirmada: 0 processamento nao @ independente fee ~ 7 54D ee que, para imprimir informago sobre objeto, devo té-1% processado, nao @ menos ver | da expressao, a "criatividade" nfo ¢ independente da "produtividadel Se 6 verdade | dade que processo informagdes em fungao de determinado objeto © ser por mim informa— do. Com efeito: o feed-back entre processamento ¢ expressao corre em dois sentidos. | Adquiro as informagdes codadas em fungao de determinados objetos, (livros, quadros, paredes de edificios, vibragdes sonoras). H as adquiro em fungao de outros objetos | a serem por wim informados, (fitas de filme, papel branco, bléco de marmore, o ar | que posso fazer vibrar falando). De modo que a considerasao do problema da expressag ode angar também alguna luz sobre o problema do processamento. Le, ov Ao encontrar-me no mundo, encontro-me cercado por objetos que me barram 0 ca~ minho. Meu caminho se dirige rumo a minha morte, 0s objetos tapam minha morte. Ha outros no mundo que estZo caminhando como eu. Reconhego-me nelese Se pudesse cami- nhar junto com eles, poderiamos, juntos, fazer face a morte. Depois da minha morte haveré sempre um outro que poderé armazenar na sua memoria minha passagem pelo mun— do. Serei imortal na meméria dos outros. Mas os objetos barram meu caminho rumo aos outros. De maneira que preciso modificar os objetos para que deixen de serem varreiras, e passem a serem media de informagées entre mim e os outros. Preciso imprimir informagao sobre os objetos, afim de torna=los transparentes para 0 outro. © motivo da express3o, da "produtividade", @ minha imortalizagao na meméria do outros foes z= oY Os objetos que me cercam, ¢ que deven ser transformaios de tarreiras en mediagdes, resistem ao meu esforgo. Sado inertes, A incrcia objetiva, a "pert{- dia da materia", 6 extremamente variada: cada tipo de objeto ope resisténcia es- pecffica ao meu esforgo informador, e exige estratégia espec{fica para ser venci- da. A fita f{lmice resEey ° dleco de marmore racha, o algod%o cede, o ar ecda. cada tipo de objeto decaffa, 5 cua maneira, a minha intensdo de transpassé-lo afin de alcangar, atravéz ele, 0 outro. Tais desafkos provocam o meu interesse pelo ob- jeto. as provocagsea dos objetes sao cone que véz0s que me chamam « dominar 0 ob- jeto. B tais vozes encontram éco no meu especttico estar-no-mundo: hi pessoas que respondem @ provocagao da fita filmica, outras 3 do bloco de marmore, mais outras 2 da folha de papel branco. A "vocagao" de uns © informar fitas, de outros blécos, de mais outros folhas. E t&0 forte @ a vocapio, a co-vibrasio da existéhcia humana com determinade tipo de resistencia objetiva, que a vida téda passa a se concentrar sobre ela. Tédas as minhas vivéncias, desejos, sonhos, pensamentos, sofrimentos ¢ atos passam a ser a fita, o bléco, a folha por centro. Na medida em que tal lute minha contra a resisténcia de determinedo tipo de objeto vai progredindo, vou esquecendo minha intengo original de transformar o ob- jeto em mediagao cou 0 outro, 0 objeto passa a fascinar-me, Guero conhecé-1o sen- pre melhor, tanto gragas & minha praxis, como com a ajuda de teorias. "Realizo- met na luta como objeto. De maneira que, subrept{ciamente, nao mais viso imorta lizar-me na memoria do outro por intermédio do objeto, mas viso a imortalidede no proprio objeto informado, na obra. Engajo-me, nao mais no outro atravéz a fita, mas na propria fita. Desta maneira qux o conjunto dos objetos informades, 0 con junto da cultura, passa a constituir espécie de menoria objetiva, arangonadora das infornagSes adquiridas pela husanidade no curso dos Watimos dez mil anos. Mas tal invers&o do interesse existencial de inter-subjetivo em objetivo nao estrutura apenae a expressao da informapao, mas igualmente o seu processamento. Na medida em que vivo en fungi do objeto, parte apreciavel das informagSes adquiri- des por mim proven do proprio objeto a ser informado. Sao informagces relativas ace coracteristicos da fita f{lmica, aos caracter{sticos cristalinos do marnore, aos caracter{sticos da lingua que vou querer inscrever na folha. Em outros ter- nos: si infornag8es que vou aprendendo © comprendendo na medidaydue vou manipu- Lando © objeto. E teis informagses edo processadas para permitir estratégia sen- pre meis eficaz na lute contra 0 objeto, De mancira que, so Longo do feed-back entre 2 minha intengéo de informar 0 objeto ea resistencia que o objeto me opce, vou processando os dados adquiridos om fungéio da expresso, © vou exprimindo em fungo da aquisigao de mais dados. Este 0 significado da _sitevre afirmepzo que © tena de tédo poema & pooma precedente, © seu proposito @ poems subsequente. © que acabo de esbogar &o historia da cultura enquanto produgao de obras. E impifcitamente, tamben a histdria da aquieisao de informagces pela hunanidade por certo: a histéria da cultura art{stica, da produgiio das obras de arte, @ capftulo de tal historia geral, e requer _gonsiderepio mais "especializada". & informagZo impressa sobre obres de arte é de tipo diferente de impressa sobre obras cient{ficas, (tratados, instrumentos), ou obras polfticas, (insti tuipoes, leis, estados). No entento, tel especificidade da produgio artistice nao deve iat 3 ser exagerada. Por duas razdes complementares: (1) todo objeto manipulado pelo hoe nen passe # ser portador de informaces epistenoldgicas, polfticas e art{sticas, jo que estes trés tipos de informagio se co-implicam. Bn sentido amplo, téda obra @ ob- ra de arte, seja ela uma teoria cientifica, uma instituigdo polft: (tica, ou um quadro, (aya distingéo entre ciéncia, polftica e arte refere-se apenas as obras ocidentais nodernas, e & inoperativa, se aplicada 4s demais culturas. Em tal sentido no ha obras de arte fdra do Ocidente moderno. De maneira ave a explicapio | sugerida da produgSo humana om geral, 6 aplicavel, sem mais acréscimos, a produgso das obras de” arte, E pode ser resumida da seguinte forma: Obras‘ao produzidas pela impressao de” informagées adquiridas e processadag sobre objetos, com a intengao original de guar- darem tais informacdes para outros, e com a intengko adicional de servirem de arma- zens de informagdes a proprio titulo. No entanto, tudo que acaba de ser dito deve ser repensado sob a luz da re- volugao dos meios de conunicagao atualmente em curso. Tal revolugio, (também co~ nhecida sob a denominagao "segunda revolugao industrial), consiste, no fundo, no seguinte: Est&o sendo elaborados métodos que permitem imprimir as informagdes ad- quiridas sobre objetos tao efémeros que nao mais merecem o nome "objeto", (por ex- emplo fotografias, imagens televisionadas ou cartées perfurados). E estde sendo e~ laboradas memérias artificiais aptas de armazenar as informagoes contidas em tais objetos efemeros com fidelidade e capacidade superior ‘as das memorias humanas, (por exemplo computadores, videotécas ou microfilmes). Trata-se de revolugao de impacto t8o profundo que suas consequencias futuras ainda nao foram concientizadas. Na situagao anterior 3 atual revolusso os objetos fascinavam, absorviam o interesse, porque era preciso passar por eles,afim de alcangar o outro. Atualmen- te o outro pode ser alcangado gracas a media quase nao-objetivos, os objetos po~ dem ser desprezados. Na situagso anterior 2 atual revolusio o objeto informado, a obra, se constituiu em meméria rigida, entreposta entre o expressor e o receptor da mensagem. Atualmente as memérias artificiais sao elasticas e podem ser reprocessa= das tanto pelo emissor quanto pelo receptor da mensagem. = tais memorias artifici- ais, de mais em mais miniaturizadas, eficientes e barates, podem ser instaladas en ' néquines que imprinen as informages guards nas mencrias sobre objetos en series astrondmicamente grandes, e que o fazem automaticamente. De maneira que, atualmen- te, as informacdes adquiridas podem ser processadas "imediataniente” em memorias ar= © a expressao tificias,e transmitidas "quasi imediatamente" as memorias dos outros. de teis informasbes pode ser relegada as maquinas ¢ aos aparelhos. A “oriativide- de" esta se divorciando ia Mprodutividade™. Una das consequencias disto 6 0 desprezo pela obra. A obra & desprezivel, por ser desnecessaria para a transmissao da mensagem, e por ser produzivel automa- ticamente. A obre se desvaloriza, passa a ser gadget, (canta plastica, casa pré- fabricada, fotografia automAtica, opiniao polf{tice pré-fabricada). "Cultura da mac- sa" isto. 0 desprezo da obra implica desprezo da produgao e da propriedade de objetos. 0 “operdrio" e o "proprietario dos meios de producao" passam a ser formas de vida ultrapassedas. & obra vai sendo vivenciada como objeto a ser consumido ra~ pidamente, até que se gaste a informagao nele contida, j& que o "original" de tal informagho est@ guardado alhures, (na meméria do aparelho). oan ee . be t Outra consequencia da atual revolugao e a concentragao do interesse sobre © processamento das informagoes, sobre a "criatividade". Libertado da necessidade de vencer a inércia do objeto eo seu esforgo de expressar informagdes, 0 homem po~ de concentrar-se sobre as estruturas da informapao, as regras que ordenam o arma- zenamento des informagdes, e estas passam a ser o seu "objetd: Libertado da neces= sidgde de analisar e sintetisar objetos, o homem pode passar a analisar e sinteti- ser dados. Libertado da necessidade de martelar pedras, o homem pode passer a mo~ delar sistenss. A socicdade posterior & revolugao atual, a sociedade "pés-industri- al" sada na elaborapao e no armazenamento de informagoes novas. A "moral de produgao e sera sociedade desinteressada em producao e propriedade de objetos, ¢ interes- do armazenamento de bens" serd substituida por "moral comunicativa".s Mae seria prenaturo querer deduzir que tal sociedade future sera mais proxina da utopia que a nossa. Que nela o interesse existencial se re-inverterd, e pessara. a ser inter-subjetivo. Podemos desde ja observar os primeiros sintomas da socieda- de futura: abandono da moral de produgéo e da propriedade, invasao da cena por ob- jetos som valor estereotipados, consumo febril de tais objetos, interesse voraz por informasdes trenenitidas por media eféneros, e instalago de uendriae artificiais « armazenaren es informages emitidas. Pois tais sintomas sugerem que a libertaséo do homem da tarefa produtora, e a relegagdo de tal tarefa sobre aparelhos automaticos, no resulta necessariamente em sociedade dedicada a criatividade. Que a superagao do operdrio e proprietério, do proletariado e da burguesia, nao resulta necessaria~ mente em sociedade emancipada da divisao do trabalho, em sociedade mais "socialis- ta, Pelo contrario: os sintomas sugerem que a libertagéo da tarefa produtora pode levar & vida programada, e 3 superapao do proletariado e de burguesia pode levar a sociedaie de funcionéries progremados. Néo a inter-subjetividade, portanto, mas & transformagao do homen em objeto. : a explicagéo deste perigo inerente a atual revolugao ¢ que a "oriatividade" enquanto jogo com informestes aiquirides, eo exteriorizar-se, so passar-se em mend~ rise artificiais, passa a adquirir cardter mecanico e calculével. Se me emancipo da necessidade de manipular objetos, e passo a processar informagoes como um jogo nao estou, a rigor, "criando", mas "programandot £ se nado mais processo as infor- magdes em funpao de determinado objeto, fago-o en fungao de deterninade programa. De maneira que a superapso da produsao pode levar a transformagae da "criatividade” en programagao de menorias artificais, para que estas programem aparalchos a infor~ maren objetos, inclusive os objetos "homen" e "scciedad De maneira que a situagio atuel parece querer abrir duas alternativas: a0 euancipar-nos da necessidade de produzirmos, pode libertar-nos para criatividade por Gra inimaginavel, como pode transformar-nos em robos programados. Isto por certo 6 desafio a ser ponderado tedricamente e a ser enfrentado pela praxis. Quer me parecer que, até agora, pouces se mostram & altura do desaf{o, provavelmente por- que as alternatives abertas sao ambas diffckis e serem imeginadas. Mas @ precisa~ mente en tal contexto que deven ser vistas ae atuais "produgées artisticas", quer sejam expericncias para digerir a desvalorizacao da obra, quer sejam, pelo contras rio, tentativas para preservar a obra do desprezo que « aneapae

Anda mungkin juga menyukai