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Território, Paisagem e Turismo Cultural

Marcelo Antonio Sotratti1

O objetivo central das pesquisas atuais que buscam uma aproximação entre a
geografia e os bens culturais é demonstrar a importância da análise das dinâmicas
territoriais em que tais bens estão associados diretamente ou indiretamente. Assim, para
qualquer gestor de bens culturais, a identificação e a apreensão das categorias espaciais
estudadas pela geografia permitem compreender as formas de apropriação dos espaços
dos bens culturais, as relações de poder envolvidas e seus limites, bem como as formas
materiais e simbólicas expressas pela paisagem configurada por tais bens.

Essas categorias internacionalmente conhecidas e estudadas são: o espaço


geográfico, o território, a paisagem e o lugar. O espaço geográfico pode ser compreendido
como o resultado da interação entre o homem e o meio em que vive, prodizindo-o e
transformando-o permanentemente. Esse espaço geográfico é composto, segundo o
geógrafo Milton Santos (1999), por um sistema integrado entre objetos materiais e ações
humanas. Percebemos que o homem ao produzir espaços constrói objetos, cria técnicas,
organiza novos usos e imprime suas marcas no espaço e no tempo.

Importante notarmos que a produção do espaço geográfico prescinde de relações


de poder entres os agentes envolvidos na sua dinâmica. As relações de poder, configuram
os territórios (RAFFESTIN, 1993), expressando os interesses, as disputas, as hierarquias
e os conflitos entre os diversos grupos sociais presentes nesse território.

Dessa forma, a gestão de bens culturais deve atentar para o fato que os bens
culturais não se limitam ao objeto ou expressão cultural em si, mas estão associados
diretamente a uma complexa e diversificada rede de relações sociais que apropriam e
influenciam esses bens, transformando-os ou submentendo-os aos interesses de grupos
hegemônicos que ali atuam.

Dentro dessa mesma lógica, devemos perceber que a paisagem expressa por tais
bens pode ser compreendida como um texto, ou seja, revela o significado de todo o
processo que envolve a dinâmica territorial. Composta de uma materialidade (aquilo que é

1 Professor adjunto do curso de turismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ – e docente do
Mestrado em Preservação do Patrimônio do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – PEP/IPHAN.
Contato marcelo.sotratti@gmail.com .
visto e percebido) e de uma dimensão simbólica (construída pelas suas formas, usos ou
processos ideológicos) a paisagem supera o olhar reducionista e estético que muitas
vezes atribuímos àquilo que vemos.

Assim, a gestão de paisagens culturais (concebidas como uma categoria de


patrimonialização) não deve desprezar o universo simbólico e as dinâmicas
socioespaciais e territoriais que compõem as paisagens, considerando as representações,
os signos, as transformações, os interesses e os conflitos ali presentes.

Quando a geografia humanista discute a categoria lugar, se refere à relação de


pertencimento, de identificação e de envolvimento permanente de determinados grupos
com o espaço (TUAN, 1983). O sentido de lugar pode ser observado e aplicado às
expressões culturais imateriais e sua relação com o território e a paisagem. Essa análise
nos permite identificar as territorialidades (SOUZA, 1995) que tais bens culturais exercem
sobre o território, conferindo-as visibilidade e valorização.

Dentro de todas as pesquisas e discussões que a geografia estabelece


aproximando os bens culturais de suas questões centrais, é notório a presença do turismo
como uma atividade importante e merecedora de análises e cuidados específicos. A
relação entre as viagens e os bens que compõe os patrimônios culturais é antiga. A
aproximação das viagens motivadas por interesses culturais com a estrutura e dinâmica
do turismo moderno começa a se estabelecer com o conhecido Grand-Tour e evolui para
uma forma de turismo organizada e alinhadas com os interesses do capital.

Mesmo que em sua fase inicial o turismo moderno voltado aos bens culturais tenha
enaltecido o valor educativo, cívico, nacionalista e mesmo político, em breve ele assumiria
um papel extremamente importante na lógica de reprodução de capital. A expansão do
turismo mundial observado após a segunda guerra mundial impactou de forma
significativa o campo da preservação do patrimônio e dos bens culturais em geral. A
experiência européia na obtenção de recursos financeiros e na consagração de grandes
monumentos históricos como importantes destinos turísticos foram observados por
organizações importantes como a UNESCO, que passaram a defender o turismo em
centros urbanos detentores de bens patrimoniais onde os recursos financeiros advindos
desta atividade poderiam amenizar ou mesmo sanar a falta de recursos públicos na
manutenção do patrimônio cultural nacional.
Ainda, as conhecidas Cartas Patrimoniais, documentos referentes a reuniões sobre
a proteção do patrimônio cultural e ocorridas em diversas partes do mundo, abriram um
grande espaço em suas agendas para discutir a importância da atividade turística na
garantia da integridade dos patrimônios culturais preservados frente ao acelerado
crescimento das cidades e da pressão exercida pelos interesses capitalistas industriais.
As Normas de Quito, reunião da OEA – Organização dos Estados Americanos em 1967,
bem como a carta do Turismo Cultural de 1979 ressaltam a necessidade da conservação
e utilização dos monumentos e lugares de interesse histórico e artístico e reconhece o
valor econômico promovido pelo turismo e sua importância na proteção dos bens
culturais.

Os efeitos desastrosos da apropriação econômica excessiva do patrimônio cultural


pelo turismo acarretou, a partir do final dos anos setenta, num posicionamento
preocupante dos técnicos dos órgãos de preservação internacionais em relação à
importância da atividade para as políticas de preservação. O turismo torna-se alvo de
críticas e crescem os debates sobre seus efeitos negativos sobre o patrimônio cultural.

Nas cidades atuais, por exemplo, a paisagem torna-se um poderoso elemento que
orienta o processo de turistificação e de mercantilização do território, uma vez que por
meio de seu conteúdo simbólico alcançam com maior eficácia os resultados econômicos
pretendidos em tais áreas. As paisagens turistificadas, repletas de objetos novos e
antigos, inovações arquitetônicas, elementos tecnológicos e cenários criativos, expressam
as representações simbólicas de interesse das lideranças hegemônicas, na tentativa de
induzir formas de apropriação e consumo intensivo que se adequem aos objetivos do
sistema capitalista globalizado.

Os inúmeros debates acadêmicos em tornos dos efeitos negativos da apropriação


turística em centros históricos internacionais e nacionais, como a turistificação, a
mercantilização e a espetacularização dos bens culturais levaram a novas reflexões e à
adoção de novas posturas em relação ao papel desta atividade nas políticas de
preservação e nos programas de desenvolvimento de áreas patrimonializadas.

A colaboração entre a UNESCO e a OMT na década de noventa ao estabelecer


ações e programas voltados a um desenvolvimento turístico próximos dos interesses
locais e discutidos entre os diferentes agentes envolvidos com a preservação e com o uso
sociocultural dos bens culturais começa a ganhar contornos expressivos e influenciar as
novas políticas de patrimônio internacionais. A orientação mundial mais significativa dessa
aproximação é sublinhada pela Carta do Turismo Sustentável de 1995, onde seu
conteúdo alerta a ambivalência da relação entre a atividade turística e patrimônio natural
e cultural e aponta para um desenvolvimento baseado na proteção, no planejamento e na
cooperação partilhada e integrada entre todos os agentes envolvidos com tais bens.

Esse novo olhar do turismo em destinos patrimoniais vai ser reafirmado e tomado
como referência mundial em 1999, por meio da Carta Internacional sobre o Turismo
Cultural, resultado da assembléia geral do ICOMOS no México. Nesse documento
constata-se a mudança conceitual da antiga forma de pensar o turismo cultural,
construindo uma nova prática da atividade com base na proteção, conservação,
interpretação e valorização da diversidade cultural em tempos de globalização. Nessa
carta o papel do turismo em áreas patrimonializadas é novamente visto como uma
instrumento positivo e potencializador de desenvolvimento local e passa novamente a
compor a agenda das políticas públicas de patrimônio mundiais e brasileiras.

Ao pensarmos na gestão de bens culturais devemos, primeiramente, compreender


sua inserção e seu papel na dinâmica territorial que o envolve ou o influencia, analisando
ainda as outras categorias espaciais presentes nessa dinâmica, como a paisagem e o
sentido de lugar. Como os bens culturais são produtos do espaço geográfico, os usos
sociais e econômicos, como o turismo, devem ser cuidadosamente estudados.

As experiências recentes de turismo sustentável ou de base local apontam que o


caminho para um possível equilíbrio entre os interesses econômicos do turismo e a
preservação e valorização dos bens devem ser discutidas por todos os grupos sociais
envolvidos, criando um sistema de gestão partilhada que objetive o desenvolvimento e
proteção global desses bens culturais.

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