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AXIOMA STUDIES IN PHILOSOPHY OF NATURE

AND IN PHILOSOPHY AND HISTORY OF SCIENCE

Antonio Augusto Passos Videira

Por que os Físicos Acreditam


que as Coisas Existem?
Breves Comentários a Respeito das
Relações entre Ciência e Metafísica
AXIOMA STUDIES
IN PHILOSOPHY OF NATURE AND IN PHILOSOPHY AND HISTORY OF SCIENCE

Volume 2

Equipa Editorial / Editorial Team

Director / Editor 

ÁLVARO BALSAS, SJ
(Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, UCP – Braga, Portugal)

Director Adjunto / Adjunct Editor

ANTONIO AUGUSTO PASSOS VIDEIRA


(Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brazil)

Conselho Científico / Editorial Advisory Board

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(Universidad Complutense de Madrid y Universidad Pontificia de Comillas, Spain)

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(Pontificia Università Gregoriana, Italy)

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(Universidad de Sevilla, Spain)

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(Pontificia Università Gregoriana, Italy)

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(GTU, Dominican School of Philosophy & Theology, Berkeley, USA)

OSVALDO PESSOA JR.


(Universidade de São Paulo, Brazil)

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(Vatican Observatory, Rome, Italy)

RICARDO LOPES COELHO


(Universidade de Lisboa, Portugal)

TATIANA ROQUE
(Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil)
Sobre a Série

Axioma Studies in Philosophy of Nature


and in Philosophy and History of Science

A série Axioma Studies in Philosophy of Nature and in


Philosophy and History of Science – uma iniciativa de professores de
filosofia, história da ciência e áreas afins, de Portugal e do Brasil –,
pretende contribuir para a divulgação de obras nestas áreas do
conhecimento, de modo a fortalecer o diálogo interdisciplinar, não
apenas filosófico ou historiográfico, mas também numa perspectiva
cultural ampla, entre aqueles que acreditam que a ciência, nos seus
múltiplos aspectos, pode ser um elemento de ligação entre diversos
âmbitos da sociedade contemporânea. Os seus autores, bem como
os seus leitores, podem ser oriundos quer das ciências humanas –
em sentido amplo, de modo a incluir, por exemplo, a teologia e a
antropologia –, quer das ciências naturais.
Reconhecendo que a ciência, sobre a qual incide o seu foco de
interesse, passou – como passa ainda – por inúmeras transformações
ao longo do tempo, a série Axioma Studies assenta nos pressupostos
basilares de que o pluralismo e o respeito pela diferença teórico-
metodológica são elementos essenciais, não apenas para o diálogo
académico, mas igualmente para a reunião entre as diferentes
especialidades e o público culto em geral. Acreditamos que a riqueza
da ciência somente pode ser percebida e vivida, caso seja analisada
sob múltiplos pontos de vista, interessados em compreendê-la como
um fenómeno humano em contínuo processo de desenvolvimento.
Os textos, publicados nesta série, em inglês, português e
espanhol, devem ser críticos, não dogmáticos e informativos. Os
editores da série Axioma Studies esperam, assim, contribuir para que
os esforços de colaboração entre diferentes especialistas se tornem
realidade. Em particular, almejam ver superadas as barreiras que
impedem a colaboração entre cientistas naturais, de um lado, e
filósofos e historiadores, de outro.

Álvaro Balsas, SJ (Braga, Portugal)


Antonio A. P. Videira (Rio de Janeiro, Brasil)
About the Series

Axioma Studies in Philosophy of Nature


and in Philosophy and History of Science

The Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy


and History of Science series – a initiative of professors of philosophy,
history of science and related fields, from Portugal and Brazil  –,
aims to contribute to the dissemination of works in these fields of
knowledge in order to strengthen the interdisciplinary dialogue, not
just philosophical or historiographical, but also in a wide cultural
perspective, among those who believe that science, in its multiple
aspects, can be a link between different spheres of contemporary
society. Its authors, as well as its readers, may come from either the
humanities – in a broad sense, to include, for example, theology and
anthropology – or the natural sciences.
Recognizing that science, on which points its focus of interest,
has passed  – and still passes  – through many changes over time,
the Axiom Studies series is based on the basic assumptions that
pluralism and respect for theoretical and methodological differences
are essential elements, not only for the academic dialogue, but also
for the meeting between the different specialties and the interested
general public. We believe that the wealth of science can only
be perceived and lived, if analyzed from multiple points of view,
interested in understanding it as a human phenomenon in progress.
The texts published in this series, in English, Portuguese
and Spanish, should be critical, not dogmatic and informative.
The editors of Axiom Studies series hope thus to contribute to
the collaborative efforts of different specialists become reality. In
particular, aspire to see overcome the barriers that prevent the
collaboration between natural scientists, on the one hand, and
philosophers and historians, on the other.

Álvaro Balsas, SJ (Braga, Portugal)


Antonio A. P. Videira (Rio de Janeiro, Brazil)
Acerca de la Serie

Axioma Studies in Philosophy of Nature


and in Philosophy and History of Science

La serie Axioma Studies in Philosophy of Nature and in


Philosophy and History of Science  – una iniciativa de profesores
de filosofía, historia de la ciencia y áreas afines, de Portugal y
Brasil  –, tiene como objetivo contribuir a la difusión de obras en
estos campos del conocimiento, con el fin de fortalecer el diálogo
interdisciplinario, no sólo filosófico o historiográfico, sino también
en una perspectiva cultural más amplia, entre los que creen que la
ciencia, en sus múltiples aspectos, puede ser un elemento de vínculo
entre diferentes ámbitos de la sociedad contemporánea. Sus autores,
así como sus lectores, podrán proceder de las humanidades  –
en un sentido amplio, que incluye, por ejemplo, la teología y la
antropología – o de las ciencias naturales.
Reconociendo que la ciencia, en la que centra su foco de
interés, ha pasado – y pasa todavía – a través de inúmeros cambios a
lo largo del tiempo, la serie Axioma Studies se basa en los supuestos
fundamentales de que el pluralismo y el respeto por las diferencias
teóricas y metodológicas son elementos esenciales, no sólo para
el diálogo académico, sino también para el encuentro entre las
diferentes especialidades y el público culto en general. Creemos que
la riqueza de la ciencia sólo puede ser percibida y vivida, si se analiza
desde múltiples puntos de vista, interesados en comprenderla como
un fenómeno humano en proceso de desarrollo.
Los textos publicados en esta serie, en inglés, portugués y
español, deben ser críticos, no dogmáticos e informativos. Los
editores de Axioma Studies esperan de este modo contribuir para que
los esfuerzos de colaboración entre diferentes especialistas se hagan
realidad. En particular, anhelan por ver superadas las barreras que
impiden la colaboración entre los científicos naturales, por un lado,
y los filósofos e historiadores, por el otro.

Álvaro Balsas, SJ (Braga, Portugal)


Antonio A. P. Videira (Rio de Janeiro, Brasil)
AXIOMA STUDIES
IN PHILOSOPHY OF NATURE AND IN PHILOSOPHY AND HISTORY OF SCIENCE

Por que os Físicos Acreditam


que as Coisas Existem?
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Antonio Augusto Passos Videira
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, CNPq (Brasil)

Por que os Físicos Acreditam


que as Coisas Existem?

Breves comentários a respeito das relações entre


ciência e metafísica

Axioma - Publicações da Faculdade de Filosofia


Universidade Católica Portuguesa
Braga – 2017
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Título : Por que os Físicos Acreditam que as Coisas Existem? Breves comentários a respeito das
relações entre ciência e metafísica
Autor: Antonio Augusto Passos Videira
Publicação: Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy and History of Science
®
Axioma - Publicações da Faculdade de Filosofia
DOI 10.17990/Axistudies
®
Junho 2017
Edição, Propriedade  Aletheia – Associação Científica e Cultural
e Venda: Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais
Praça da Faculdade de Filosofia, 1
4710‑297 Braga (PORTUGAL)
Tel. 253 208 080 / Fax 253 213 940
E-mail: rpf.aletheia@gmail.com • aletheia.ffcs@braga.ucp.pt
http://www.publicacoesfacfil.pt/ • https://doi.org/10.17990/Axistudies
ISSN: 2183-900X
eISSN: 2183-9018
ISBN: 978-972-697-280-8 (Paperback)
ISBN: 978-972-697-281-5 (Pdf)
Depósito Legal: 427358/17
DOI: 10.17990/Axistudies/2017_02

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Capa: Aletheia - Associação Científica e Cultural


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e Ebook: NovaSintaxe (Portugal) • http://www.novasintaxe.com/
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British Library Cataloguing in Publication Data / Available

Catalogação na Fonte: Videira, Antonio


Por que os Físicos Acreditam que as Coisas Existem? Breves comentários a respeito das relações entre ciência e metafísica
Antonio Videira – Braga: Axioma - Publicações da Faculdade de Filosofia, 2017.
xx, 178 p.; 16 x 23 cm
(Axioma Studies, 2)

DOI: 10.17990/AxiStudies/2017_02 / ISBN: 978-972-697-280-8 (Paperback) / eISBN: 978-972-697-281-5 (Pdf)


ISSN: 2183-900X / eISSN: 2183-9018

1. Filosofia da Física 2. Metafísica. 3. História da Ciência 4. Filosofia da Natureza I. Videira, Antonio II. Título
udc: 53.01; udc: 11; udc: 001(091); udc: 113/119
ddc: 530.1; ddc: 110; ddc: 509; ddc: 113
Índice

Prefácio............................................................................................................. xv

Introdução
Seria o realismo uma “propriedade”
insubstituível da ciência moderna?............................................................. 3
1. Alguns pressupostos 5
2. A cisão entre ciência e filosofia 9
3. Realismo 12
4. Objetividade 14
5. Desantropomorfização 14
6. Valores e prática científica 16
Capítulo 1
Em que medida um cientista, ou um especialista,
pode refletir de forma autônoma sobre a sua própria prática?............. 21

Capítulo 2
Planck e o realismo metafísico..................................................................... 29

Capítulo 3
Einstein e o realismo harmônico................................................................. 51

Capítulo 4
Bohr e o realismo comunicável.................................................................... 81

Capítulo 5
Heisenberg e o realismo desubstancializado............................................. 99

Capítulo 6
Schrödinger e o realismo axiológico........................................................... 115
Capítulo 7
Born e o realismo simbólico......................................................................... 133

Capítulo 8
Síntese: Existência e necessidade do realismo........................................... 153

Considerações finais....................................................................................... 167

Algumas Sugestões de Leitura (em português)............................................ 171

Referências Bibliográficas............................................................................. 175


Introdução
Introdução

Seria o realismo uma “propriedade”


insubstituível da ciência moderna?

O
principal objetivo deste texto, propositadamente
escrito em tom informal, consiste em discutir a
natureza da realidade investigada pela ciência, a partir
do conjunto de textos filosóficos, redigidos e publicados por
físicos profissionais, atuantes principalmente nas primeiras
cinco décadas do século passado.
Concentrar-me-ei num conjunto de físicos-filósofos, os
quais podem justificadamente ser considerados como respon-
sáveis por alguns dos mais importantes desdobramentos
pelos quais passou a sua ciência. A bem da verdade, esta
escolha não deve ser entendida como se eu implicitamente
considerasse que os textos filosóficos de físicos menos reno-
mados seriam desinteressantes ou superficiais. Não penso
assim. Se, neste momento, a escolha recai sobre textos de
físicos percebidos como tendo dado contribuições impor-
tantes para a constituição daquilo que, hoje em dia, é deno-
minado física moderna (mecânica quântica e suas aplicações)
por uma razão ‘prática’: alguns de seus artigos e livros podem
ser encontrados em português (Ver sugestões de leitura).

3-18
4 Antonio Augusto Passos Videira

De forma resumida, o que pretendo com o uso relati-


vamente livre de algumas ideias desses físicos-filósofos é
mostrar que elas são extremamente interessantes e úteis
quando se trata de compreender a natureza da ciência, o que
somente é factível caso se recorra explicitamente àquela parte
da filosofia preocupada em discutir a noção de realidade (ou
natureza ou real ou, ainda, mundo externo). Não necessaria-
mente à filosofia acadêmica, concretizada nas obras dos filó-
sofos profissionais, mas, sim, naquele tipo de reflexão radical
que se origina e se alimenta da insatisfação típica da prática
científica. A falta de vontade de fazer filosofia à maneira de
um filósofo profissional é explícita em todos esses cientistas.
Em muitas ocasiões, essa falta foi interpretada como exibindo
um fosso entre a filosofia e a ciência, concretizando um desin-
teresse mútuo pelo o que o outro lado fazia. Eu mesmo aceitei
essa opinião durante muitos anos; hoje o meu ponto de vista
é outro e creio mesmo que essa interpretação é equivocada.
Ao menos até à segunda metade do século XX, não eram
poucos os físicos que reconheciam a relevância da filosofia
para a física. Em que pese tal reconhecimento, já era evidente
que nem toda a reflexão filosófica seria interessante ou útil,
sendo imperativo que a necessidade de se dedicar à filosofia
saísse da própria prática científica. As palavras de Einstein
são exemplares a esse respeito:

Foi dito frequentemente e com certeza não sem razão que o


cientista seria um mau filósofo. Por que não haveria então
de ser o mais correto também para o físico deixar o filo-
sofar para os filósofos? Isto talvez se aplique em épocas nas
quais os físicos crêem possuir um sólido e inquestionável
sistema de conceitos e leis fundamentais, mas não nos dias
atuais, quando os fundamentos da Física como um todo
se tornaram problemáticos. Nestas épocas [Este texto é
de meados da década de 1930], nas quais a experiência o
obriga a buscar uma base nova e mais sólida, o físico não
pode simplesmente relegar à Filosofia a análise crítica dos
Seria o realismo uma “propriedade” insubstituível da ciência moderna? 5

fundamentos, uma vez que apenas ele sabe e sente melhor


que ninguém onde o sapato lhe aperta; na busca por novos
fundamentos é mister que ele procure se esclarecer o melhor
possível acerca da necessidade e legitimidade dos conceitos
por ele usados (Einstein, 2006, p. 9).

Há ainda um segundo objetivo a ser cumprido por este


texto, a saber, sugerir, ou fortalecer, junto aos professores de
física do ensino médio o uso em sala de aula dessa literatura.
Esses textos são, sob vários aspectos, úteis. Eles permitem
que sejam discutidos temas como a natureza da ciência, mas
também outros igualmente relevantes, como a presença e a
influência de valores na prática científica, a natureza e a neces-
sidade do ethos científico, o que é o método científico (caso
ele exista), que concepção de realidade é a dominante entre
os físicos, além de possibilitar a apresentação de conteúdos
propriamente científicos, ou seja, pode-se aprender alguma
coisa de ciência lendo esse tipo de literatura.
Também a história e, em particular a história da ciência,
podem ser ensinadas, uma vez que, em geral, é importante
contextualizar as épocas e os locais em que tais textos foram
produzidos, o que nos leva quase que imediatamente a pensar
qual o papel e o valor que a história poderá desempenhar
entre os cientistas naturais em sua busca pela compreensão
da natureza da ciência e das motivações da sua prática.

1. Alguns pressupostos

A opção por investigar as considerações filosóficas de


um número relativamente grande de físicos (meia dúzia) é
consciente, uma vez que somente dessa maneira será possível
compreender as transformações por eles mesmos produzidas
nas suas reflexões sobre a natureza da ciência. Já existe, nos
dias de hoje, um número considerável de trabalhos acadê-
micos (artigos, livros e monografias) sobre cada um dos
6 Antonio Augusto Passos Videira

cientistas aqui escolhidos. No entanto, são pouquíssimas


as obras que procuram compreendê-los comparativamente.
Uma exceção é o livro Die Philosohie der Physiker de Erhard
Scheibe (Scheibe 2010). A dificuldade de comparação se deve
ao fato de que nenhum deles pretendeu organizar um pensa-
mento com o mesmo nível de concatenação como aquele
usualmente encontrado entre os filósofos.
Não se deve esquecer, por outro lado, que muitas das
ideias defendidas pelo grupo de físicos escolhidos ou bem
foram desenvolvidas por eles próprios ou bem foram aprimo-
radas através do diálogo com seus colegas. Estes também se
preocupavam com as mesmas questões, como nos mostram
os exemplos das polêmicas entre Mach e Planck, ou ainda
entre Einstein e Bohr. Desse modo, tentar compreender o
pensamento de um deles conduz inevitavelmente a analisar e
entender as ideias daquele que lhe serviu de influência ou de
opositor.
Com relação à periodização escolhida, devo mencionar
que o período justifica-se pelo fato de que foi nele que a
física tentou resolver os sérios problemas herdados do
século XIX através das duas teorias revolucionárias elabo-
radas no primeiro quartel do século passado: a relatividade
e a mecânica quântica. Já o período final desta periodização
aponta, ainda que implicitamente, para um evento importante
para o entendimento da diminuição na produção de escritos
filosóficos por parte dos físicos: a ascensão do nazismo e a
eclosão da Segunda Guerra Mundial que levaram à desinte-
gração da comunidade alemã de físicos, o que teve notórias
consequências sobre a física, sendo talvez a principal a dimi-
nuição na produção de textos filosóficos pelos físicos, uma vez
que os físicos anglófonos eram bastante menos propensos a
se ocuparem com preocupações filosóficas.
A partir do final do conflito mundial, a física passou a ser
praticada de modo bastante diferente daquele que era comum
Seria o realismo uma “propriedade” insubstituível da ciência moderna? 7

até então. Uma modificação, sempre apontada, é a dissemi-


nação do modo big science de se fazer física, com o recurso
a grandes laboratórios, os quais exigem enormes somas de
dinheiro investido, além de requisitarem uma estrutura orga-
nizacional em uma escala também muito diversa (Videira,
1998).
No entanto, não é esta a modificação que me interessa
assinalar no presente contexto. Aquela que aqui atrai o meu
interesse também é conhecida, ainda que menos pesquisada
é a das modificações das relações entre ciência e filosofia,
passando esta última a ser percebida ou como desnecessária
ou mesmo como um obstáculo para o cultivo da chamada
boa ciência. Como exemplo dessa atitude, creio ser suficiente
recordar a famosa declaração do físico teórico norte-ame-
ricano Steven Weinberg (prêmio de Nobel de Física em 1979),
que, em 1986 por ocasião de uma comissão constituída por
parlamentares norte-americanos com o propósito de discutir
a continuidade do financiamento para a construção do super
colisor no estado do Texas  – financiamento que acabou por
ser interrompido, afirmou que a filosofia da ciência seria tão
importante para os cientistas quanto a ornitologia o era para
os pássaros.
Como era comum achar que a ciência devia o seu
sucesso ao método que adotara desde o seu início, a filo-
sofia da ciência, ainda que isso não tenha sido aceito, mesmo
por aqueles que a iniciaram, reduziu-se progressivamente a
discussões metodológicas, o que levou a que fosse confundida
com a metodologia. Essa confusão permaneceu até que o
“método científico” começasse a sofrer os seus primeiros
reveses justamente no último quartel do século XIX. Esses
reveses foram transformados em derrocadas completas no
primeiro quartel do século XX com as criações da teoria da
relatividade e da mecânica quântica.
8 Antonio Augusto Passos Videira

O período histórico por mim escolhido para delimitar


os marcos temporais deste trabalho corresponde a uma nova
tentativa de se reconfigurar as relações entre física e filosofia
a partir de uma ótica positiva. Em outras palavras, no período
histórico escolhido, a filosofia ainda era vista como elemento
que poderia contribuir positivamente à prática dos físicos;
contudo, essa perspectiva otimista não era ingênua.
Entre os seis físicos aqui incluídos persistiu uma
profunda desconfiança com relação às análises e às conclusões
formuladas pelos filósofos acadêmicos, aqueles que prati-
cavam e produziam filosofia em situações institucionais
específicas e em contato direto principalmente com outros
filósofos. Penso que essa desconfiança decorre de os físicos
não conseguirem se reconhecer nessas análises e conclusões.
Por exemplo, e retomando o tema de se existe método cien-
tífico, a obediência a um único método raramente foi levada a
sério por cientistas profissionais (Videira, 2006). Outro tema,
igualmente muito frequente nas agendas dos filósofos profis-
sionais, é o da formação de conceitos. Esse já tinha sido um
tema descartado na passagem do século XIX para o seguinte
pelas mentes mais argutas dentre os cientistas naturais.
Einstein, seguindo Ludwig Boltzmann e Henri Poincaré,
recorrentemente afirmava que os conceitos, leis, modelos ou
teorias eram livres criações do espírito humano:

Conceitos nada mais são do que construções livres, associados


intuitivamente a complexos de experiências sensíveis com
um grau de segurança suficiente para uma dada aplicação,
de modo a não restar dúvidas quanto à aplicabilidade ou não
de uma lei para um particular caso vivenciado (experimento)
(Einstein, 2006, p. 11).
Seria o realismo uma “propriedade” insubstituível da ciência moderna? 9

2. A cisão entre ciência e filosofia

De início, deve ser apontado que o período em questão –


grosso modo, a primeira metade do século XX  – é precisa-
mente o período em que a física teórica consegue consolidar
a sua autonomia frente à física experimental (Jungnickel
e McCormack 1986). Em segundo lugar, penso que a física
teórica manteve durante muito tempo uma relação ambígua
com a filosofia natural, vista habitualmente como sendo a sua
antecessora. Em termos breves, o que se questiona aqui é se a
física teórica não teria sido criada para afastar a física da filo-
sofia. Parto do pressuposto de que a física teórica foi criada
para afastar da ciência aquelas questões filosóficas (quase
todas de natureza metafísica) que podem ser entendidas como
impossíveis de serem respondidas pelos métodos da ciência e
que, portanto, poderiam atrapalhar e prejudicar o progresso
da ciência. Este pressuposto, que não exclui outros motivos
para explicar tal afastamento, é defendido aqui por consi-
derarmos relevante acentuar que nem todas as perguntas
cabíveis podem ser respondidas pela ciência, aquelas
questões que dizem respeito, por exemplo, aos seus métodos
e propósitos: como é construída uma teoria científica? Como
ela é comprovada? Para que se faz ciência? No entanto, os
exemplos de Planck, Einstein, Heisenberg, Schrödinger, Born
e Bohr mostram que essa tentativa não deu certo.
Creio que, ainda hoje, a física teórica é ambígua na sua
relação com a filosofia, na medida em que, ao contrário do
que se pensa normalmente, a física não excluiria as chamadas
tradicionais questões metafísicas, sendo até da opinião de que
a física teórica pretende propor respostas para elas. Contudo,
isso é feito de modo indireto e, quase sempre, quando instado
a responder às velhas questões metafísicas: o que é o mundo?;
o que é o homem?; qual o lugar do homem no mundo?. O
físico teórico, em geral, e principalmente a partir da segunda
metade do século passado, nega qualquer interesse por elas.
10 Antonio Augusto Passos Videira

As relações entre física e filosofia são bem conhecidas


desde o surgimento da ciência moderna em fins do século
XVI e começos do seguinte. Já é lugar comum afirmar que a
elaboração de uma nova física, através dos trabalhos de filó-
sofos naturais como Galileu, Descartes, Huygens, Leibniz e
Newton – para ficarmos com os mais conhecidos e citados –,
foi um dos elementos fundamentais para o surgimento de uma
nova concepção de investigação dos fenômenos naturais com
profundas implicações sobre questões como conhecimento,
verdade, natureza e mesmo sobre a concepção do que seria
o homem, sem que se esqueça a antiga questão metafísica de
saber qual seja o lugar do homem no universo.
É muitíssimo bem conhecido que um dos momentos
mais relevantes da filosofia em toda a sua história também
é devedora dessa nova física. Refiro-me ao pensamento
elaborado por Kant, especialmente de 1781, ano em que
publicou a primeira edição da sua Crítica da Razão Pura.
É certo que não se pode atribuir apenas à nova física (i.e.,
a newtoniana) a fase crítica de Kant. Contudo, e como ele
mesmo reconhece no prefácio à segunda edição da Crítica da
Razão Pura, os resultados de Torricelli, entre outros, foram
importantes para que ele se conscientizasse da necessidade de
reformular a filosofia como um todo.
A partir de finais do século XVIII, as relações entre física
(isso poderia ser generalizado para a ciência como um todo,
ao menos aquela que procurava se pautar pelo método empí-
rico-matemático da física clássica) e filosofia começaram a
viver uma fase turbulenta. Iniciou-se, então, uma reação
promovida por autores como Schelling, Goethe, Novalis
e Hegel aos usos irrestritos da matemática e daquilo que
frequentemente é associado a esta última: a mensuração e a
quantificação. Segundo esses autores, a ciência moderna seria
parcial e excludente: o ser humano não poderia ser integrado
à natureza. Esta última seria distante e fria, não guardando
Seria o realismo uma “propriedade” insubstituível da ciência moderna? 11

lugar para o homem. Para que a objetividade pudesse ser


alcançada, seria imprescindível que o homem procurasse se
afastar da natureza para não “contaminá-la” com seus desejos
e aspirações.
As críticas formuladas por esses filósofos, usualmente
classificados de românticos ou idealistas, foram rechaçadas
a partir das primeiras décadas do século XIX, período que
testemunha a atuação de um grupo de cientistas praticantes,
como Hermann von Helmholtz, preocupados em restabe-
lecer uma relação profícua entre ciência e filosofia (Videira,
2013). O principal resultado da atividade de Whewell, Ampère
e Herschel foi a criação da uma filosofia concernente com a
legitimação daquele tipo de conhecimento concretizado na
ciência moderna. Essa filosofia, que receberia a denominação
de filosofia da ciência, deveria justificar, com argumentos
sólidos e fundados na história da própria ciência, a auto-
nomia da ciência frente à filosofia, à religião e à sociedade
(Miguel e Videira, 2011).
Nos próximos itens, descreverei, de forma sintética, as
teses relativas ao realismo, à objetividade, à desantropomor-
fização e aos valores defendidas por Bohr, Einstein e Planck,
de modo a esclarecer melhor de que modo filosofia (em
sentido amplo) e ciência poderiam estabelecer uma interação
profícua.
Com relação a vários dos temas presentes na literatura
filosófica desses três físicos, é possível encontrar um elevado
grau de concordância com relação a muitas teses. No entanto,
é necessário mencionar que os temas que esses físicos-filó-
sofos discutem podem ter relevância diferente entre eles.
Assim, por exemplo, ainda que todos eles sejam realistas, para
alguns deles esse tema é menos relevante do que qualquer
outro, como a objetividade. Bohr, em particular, parece
considerar a objetividade mais importante e interessante do
que a realidade, talvez por que ele considerasse que se pode
12 Antonio Augusto Passos Videira

dizer mais sobre como a objetividade é constituída do que a


realidade o possa ser.

3. Realismo

É certo que praticamente todos os físicos são realistas,


ou seja, admitem a existência de uma realidade externa,
ainda que subsistam diferenças visíveis e não negligenciáveis
em cada um dos diferentes tipos de realismo que defendem.
Planck e Einstein claramente defendem um realismo de tipo
metafísico1, em regra do mesmo tipo daquele que foi consi-
derado como válido durante todo o período da chamada
física clássica entre Galileu e o próprio Planck. Ao aceitarem
o realismo, o que fazem quase sempre de forma explícita,
afirmam igualmente que o objetivo maior da ciência é tentar
descrever e explicar essa realidade:

Desde que existe uma ciência da natureza, nós lhe atribuímos


como maior finalidade agrupar numa síntese sistemática a

1. Uma definição desse realismo metafísico poderia ser dada da


seguinte maneira: ‘Existe uma realidade externa, cuja existência e
inteligibilidade são independentes do ser humano, ainda que este
possa almejar conhecê-las, sem que este conhecimento possa, algum
dia, ser considerado como completo ou definitivo.’ O Dicionário de
Filosofia de Nicola Abbagnano diz que as quatro teses fundamentais
do Realismo Metafísico são: “a) o mundo é constituído por uma
totalidade fixa de objetos independentes da mente; b) a verdade
comporta uma relação de correspondência entre o mundo e a
linguagem; c) existe uma única descrição verdadeira do mundo; d)
todo enunciado da linguagem é verdadeiro ou falso, e por isso vale
incondicionalmente o princípio do terceiro excluído (a tese de que
todas as teorias têm um valor de verdade e de que entre elas algumas
são efetivamente verdadeiras, ainda que nós não o saibamos, é o
chamado Realismo semântico).” Sacchetto, Mauro. In: Abbagnano,
Nicola. Dicionário de Filosofia. [verbete: Realismo] Bosi, Alfredo
(Trad.). Martins Fontes, São Paulo, 2007, pág. 981. Nesse verbete,
explica-se que nem todos aceitam a tese ‘c’.
Seria o realismo uma “propriedade” insubstituível da ciência moderna? 13

prodigiosa diversidade dos fenômenos físicos e até, se possível,


condensá-la numa fórmula única (Planck, 2012, p. 59).

E ainda:

Temos de nos aproximar de uma concepção estável do


Universo, objetivo da verdadeira ciência. É legítimo afirmar,
desde já, que a nossa concepção atual do Universo, embora
ainda apresente tons variados de acordo com a individua-
lidade dos cientistas, contém certos traços definitivos que
nunca serão destruídos por nenhuma revolução, nem da
natureza, nem do espírito humano. Esse núcleo imutável e
independente de toda individualidade, seja a do homem ou
a de qualquer outro ser inteligente, é o que chamamos real
(Planck, 2012, p. 86).

No caso de cada um deles, ser realista significa rejeitar cabal-


mente o solipsismo2:

O problema não consistia em diferenciar o objetivo do


subjetivo, senão em compreender em termos gerais como
pode se chegar às formulações objetivas partindo do subjetivo.
Quero antecipar imediatamente que não encontrei em
nenhum filósofo uma resposta satisfatória, senão que através
de meu trabalho em física, e nas ciências com ela aparen-
tadas, consegui, na última fase da minha vida uma explicação
que parece aceitável em certo grau. (Born, 1968, pp. 118-119.
A tradução é minha).

2. “Solipsismo (do latim “solu-, «só» +ipse, «mesmo» +-ismo”.)


é a concepção filosófica de que, além de nós, só existem as
nossas  experiências. O solipsismo é a consequência extrema de se
acreditar que o conhecimento deve estar fundado em estados de
experiência interiores e pessoais, não se conseguindo estabelecer
uma relação direta entre esses estados e o conhecimento  objetivo
de algo para além deles.” (Blackburn, Simon. Dicionário Oxford de
Filosofia, Jorge Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1997. (p. 367))
14 Antonio Augusto Passos Videira

4. Objetividade

Além da posição favorável ao realismo, a atitude filo-


sófica desses físicos-filósofos inclui a crença na capacidade
intrínseca da ciência em ser objetiva. Entre os três físicos
escolhidos, Bohr é claramente aquele que mais se interessa
em analisar e, se possível, determinar quais são as condições
que tornam objetivo o conhecimento científico. Bohr elabora
uma noção de objetividade em muito dependente da capa-
cidade humana de se comunicar por meio da linguagem.
Segundo o físico dinamarquês, sem linguagem, não haveria
conhecimento objetivo:

Posto que a meta da ciência é aumentar e ordenar a nossa


experiência, toda análise das condições do conhecimento
humano deve assentar-se em considerações sobre o caráter
e o alcance dos nossos meios de expressão. A nossa base,
é claro, é a linguagem desenvolvida para a orientação em
nosso meio e para a organização das comunidades humanas.
Repetidamente, porém, a ampliação da experiência suscitou
questões quanto à suficiência dos conceitos e ideias incorpo-
rados na linguagem cotidiana. Em virtude da relativa simpli-
cidade dos problemas físicos, eles se prestam especialmente
para investigar o uso dos nossos meios de expressão. De fato,
o desenvolvimento da física atômica nos ensinou como é
possível criar um arcabouço suficientemente amplo para uma
descrição exaustiva de novas experiências, sem abandonar a
linguagem comum (Bohr, 1995, pp. 111-112).

5. Desantropomorfização

O tema da objetividade está diretamente vinculado


àquele da desantropomorfização, isto é, durante o processo
de construção do conhecimento científico, os elementos
subjetivos (ou seja, aquelas informações que os observadores
apreendem pelos seus sentidos sem que estes últimos sejam
Seria o realismo uma “propriedade” insubstituível da ciência moderna? 15

treinados por algum método) foram, bem como ainda devem


ser, progressivamente abandonados, uma vez que a ciência
almeja formular afirmações com validade universal sobre o
comportamento dos fenômenos naturais. Esse processo é
deliberado, ou consciente, e se presta a ser empregado como
critério para a avaliação do grau de maturidade alcançado
por uma ciência específica. Os defensores da busca por um
conhecimento livre de elementos antropomórficos, no qual a
referência direta ao ser humano seria peça fundamental para
que o conhecimento fosse possível ou compreensível, reco-
nhecem, também explicitamente, que é impossível atingir
um grau zero, o qual corresponderia a uma situação em
que elementos antropomórficos estariam completamente
ausentes. Afinal, o processo de obtenção do conhecimento se
inicia com a observação ou deve, em algum momento, refe-
rir-se explicitamente a sensações. Uma vez mais, a questão da
desantropomorfização nos permite perceber a existência de
uma certa hierarquia temática entre os físicos. Essa questão
era crucial para Planck, que lhe devotou muitos parágrafos
em seus escritos (Fragozo e Videira, 2012):

Quão diferente é hoje o conjunto doutrinal formado pelas


teorias da física! Primeiro, esse conjunto tem um aspecto de
unidade bem mais acentuado. O número das áreas parciais
que compõem a física diminuiu, pois cada cantão anexou
um cantão vizinho: a acústica foi englobada pela mecânica,
o magnetismo e a óptica entraram no âmbito da eletrodi-
nâmica. Essa simplificação sempre foi acompanhada por
uma regressão correspondente do elemento antropomórfico,
herança do passado. Haverá hoje um físico que pense no
âmbar friccionado quando fala de eletricidade e na mina da
Ásia Menor de onde se extraíram os primeiros imãs naturais
quando fala de magnetismo? Na acústica, na ótica, foram
eliminadas as sensações que correspondem a cada um desses
termos. As definições físicas de som, de cor e de temperatura
nada mais têm a ver com percepções sensíveis imediatas
(Planck, 2012, pp. 61-62).
16 Antonio Augusto Passos Videira

6. Valores e prática científica

Uma preocupação clara entre esses físicos-filósofos


diz respeito à centralidade das motivações e dos valores que
deveriam configurar a prática científica. Em outros termos,
é visível a preocupação em discutir e responder à questão:
Por que fazer ciência? Ou ainda: Por que se dedicar à ciência,
tarefa que exige esforço, concentração e mesmo dedicação
abnegada? Uma vez mais, Einstein é um exemplo interessante
de ser referido. Segundo ele, a ciência é uma possibilidade
de se escapar ao cotidiano, movendo-se em direção a uma
transcendência. Nessa fuga das agruras cotidianas, os cien-
tistas se assemelhariam aos artistas, posto que as motivações
de ambos os grupos são muito semelhantes:

Contudo, em primeiro lugar, com Schopenhauer, imagino


que uma das mais fortes motivações para uma obra artística
ou científica consiste na vontade de evasão do cotidiano com
seu cruel rigor e monotonia desesperadora, na necessidade
de escapar das cadeias dos desejos pessoais eternamente
instáveis (Einstein, 1981, p. 138).

E mais à frente, no mesmo texto de homenagem aos sessenta


anos de vida de Planck, como que complementando a neces-
sidade intrínseca de fuga, Einstein afirma:

O homem procura formar, de qualquer maneira, mas segundo


a própria lógica, uma imagem simples e clara do mundo. Para
isso, ultrapassa o universo de sua vivência, porque se esforça
em certa medida por substituí-lo por essa imagem. A seu
modo é esse o procedimento de cada um, quer se trate de um
pintor, de um poeta, de um filósofo especulativo ou de um
físico. A essa imagem e à sua realização consagra o máximo
de sua vida afetiva para assim alcançar a paz e a força que
não pode obter nos excessivos limites da experiência agitada
e subjetiva (Einstein, 1981, pp. 138-139).
Seria o realismo uma “propriedade” insubstituível da ciência moderna? 17

Essa posição de Einstein também era aceita por Planck, ainda


que este a aproximasse mais de uma perspectiva religiosa:

As preocupações econômicas foram os últimos motivos que


levaram esses homens [Copérnico, Kepler, Newton, Huygens e
Faraday] a travar duras batalhas contra as ideias tradicionais
e as autoridades de seu tempo. O que lhes dava coragem era
a fé na conformidade de suas concepções do Universo com a
realidade, e essa fé se apoiava em bases estéticas ou religiosas.
É um fato que não pode ser contestado (Planck, 2012, p. 87).

Reencontramos aqui o realismo metafísico de Einstein e


Planck, uma vez que é a busca pela compreensão da realidade
que leva o cientista a afastar-se do cotidiano, a mover-se em
direção a uma transcendência. Sempre seguindo os passos
desses físicos, essa busca implica o desaparecimento (não
radical) da individualidade, o que para Bohr é igualmente
impossível de ser alcançado, sem que ele se comprometa a
aceitar o realismo metafísico, posição que ele via como sendo
muito obscura. Para o físico dinamarquês, a individualidade
não deve ser ocultada: “somos atores e espectadores do espe-
táculo da vida”.

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